A literatura infantil e a crítica

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Nelly Novaes Coelho

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Trabalho apresentado na Disciplina O texto e as práticas pedagógicas no Programa de Pós-graduação da FACED/UFBA.

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Nelly Novaes Coelho

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Leitura, análise, interpretação e conclusão (ou julgamento) das obras

• Onde estão os parâmetros do que é positivo ou negativo?

• Do certo ou errado?

Nesses tempos de transformações

aceleradas e de incertezas, quais são os parâmetros para estudo e compreensão da obra literária em sua “sintonia” com o tempo a que pertence?

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A crise da literatura e da crítica no inicio do sec XX

Deterioração dos padrões estéticos, herdados da tradição e contestados pelos movimentos vanguardistas que surgiram na Europa nos anos 10 e 20 (Cubismo, Futurismo, dadaísmo, Surrealismo)

Rompimento com os velhos modelos herdados para abrir espaço para o novo

A crise de valores que eram os alicerces da sociedade: burguês-liberal-cristão-patriarcal-individualista. Uma nova maneira de pensar, agir ou de viver

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A crise da literatura e da crítica no inicio do sec XX

Poesia de vanguarda – tem como características a fragmentação, a desordem. Pretende agredir ou desafiar os homens, para despertá-los para o novo mundo.

Prosa – romance, novela ou conto – desaparece o enredo com inicio, meio e fim. Já não obedece essa estrutura linear. Os personagens já não tem mais caracteres bem definidos.

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O descompasso entre a Literatura infantil e a vanguarda

A LIJ surge em meados do século XIX – meio de divertir e educar as crianças, no sentido de lhes oferecer “modelos” de bom (ou mau) comportamento

Não era terreno propício às revoluções vanguardistas: devido a natureza de seus destinatários; por ser um agente de transmissão de valores consagrados por uma sociedade; linguagem precisa ser familiar ao pequeno leitor

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Manifestações críticas

Com a reforma educacional no inicio do século para valorização da língua e dos valores cívicos de cada nação para além dos valores morais e familiares. Traduções de livros da Literatura de Portugal.

Domínio da língua – dificuldade de

leitura dos livros que eram traduzidos do português de Portugal. Distância entre os dois falares (português do Brasil e de Portugal)

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A revolução crítico-literária lobatiana As estórias de Lobato eram

sintonizadas com o novo mundo. Com um espírito critico, riso e alegria de viver, ajudaram a formar o espírito de várias gerações.

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E a crítica da Literatura Infantil?

No âmbito da educação, do ensino e da moral. Era exercida por aqueles que escolhiam os livros para as crianças (orientadores educacionais, professores, pais e bibliotecários), com parâmetros bem definidos.

A natureza didática ou não dos textos ou livros;

Seu grau de informações e sua exemplaridade

Criança vista como adulto em miniatura

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A LIJ crítica e questionadora Põe em xeque os padrões de

comportamento consagrados pela Tradição: contesta a interpretação maniqueísta (certo/errado, bom/mau/belo/feio).

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Tendências da crítica da LIJ (anos 70-80) Desaparecimento da antiga diretriz

pedagógica – da exemplaridade, da moralidade etc.

Atitudes críticas, a maioria, preocupada com o extraliterário do que a matéria literária: a literatura está intimamente ligada à formação de sua mente e personalidade

As críticas giram em torno dos preconceitos ligados a moral, questionando o vocabulário mais livre, gírias, títulos ambíguos

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Síntese das manifestações críticas (anos 70-80)

Notícias bibliográficas Comentários breves informativos sobre o que acontece no livro.

Artigos Textos noticiando apenas o aparecimento da obra elogiando-a ou reprovando-a.

Análise estruturalista Apenas uma abordagem descritiva, visa revelar apenas o mecanismo interno da obra. Não se preocupa com a dimensão simbólica.

Análise de cunho psicanalítico Procura mostrar os valores ou desvalores da LIJ em relação ao psiquismo da criança.

Análise de cunho mítico Busca destacar a presença e a importância do mito e do imaginário, da fantasia, como elementos fundamentais da obra.

Análise de caráter pedagógico ou sociológico

Procuram detectar e denunciar valores defasados ou já superados em nosso sistema social, mas que ainda perpertuam nos livros.

Análises de diferentes naturezas, em geral situadas na confluência dos objetivos da Sociologia, da Didática e da Literatura

Abordam os diferentes interesses que convergem na criação literária destinada aos novos, em seus vários estágios de crescimento.

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A crítica da LIJ no limiar do século XXI: ideias-bases1. A valorização da literatura como experiência humana

A literatura atua como uma ponte entre a experiência individual e o mundo de experiências contido no livro. Vivências que passam a “dirigir” a vida real.

2. A descoberta do poder da palavra

A palavra como construtora do real. Preocupação com o como narrar se sobrepõe a o que narrar. Poder criador palavra-imagem.

3. Dialética entre razão e imaginação

A LIJ se revela como objeto-novo: caminhos para o pequeno leitor lidar dialeticamente com as duas forças de seu ser (razão e imaginação).

4. O conhecimento do eu em interação com o outro

Na LIJ está presente em narrativas (ou poemas) divertidas ou poéticas ou dramáticas que têm como centro uma personagem que passa por certa aprendizagem através das relações com o outro.

5. O caos moderno: fenômeno de transformação

O da busca das origens (resgate do passado ou resgate do sagrado); o da crítica à atual engrenagem social, consumista e desumanizante; e o das relações humanas em crise (no âmbito do amor, das afeições, dos sentimentos, das carências e da injustiça que está na base do sistema vigente.

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O caos moderno: o fenômeno em transformaçãoO da busca das origens Resgate do maravilhoso:

contos de fada, contos maravilhosos, novelas de cavalaria, contos folclóricos, lendas. Sátira, poesia, drama

Crítica à atual engrenagem social, consumista e desumanizante

Se manifesta sob formas de sátiras, paródia, ficção do cotidiano, ficção dramática etc.

Relações humanas em crise (no âmbito do amor, das afeições, dos sentimentos, das carências e da injustiça que está na base do sistema vigente

A literatura, para além de fonte emocional, tem a tarefa conscientizadora sob formas satíricas, jocosas, romanescas ou dramáticas.

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Conclusão Como não podemos estabelecer padrões

definidos, há apenas alguns guias para a nossa avaliação crítica das obras.

A sintonia com as ideias da época a que pertence a obra, revela maior ou menor consciência crítica do autor e maior grau de autenticidade como experiência humana e criação literária, consciente do tipo de leitor a que ela se destina.

Essas ideias ajudarão os leitores a discernirem os valores ou a problemática que dá sustentação à obra.

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Referência

COELHO, Nelly Novaes. Literatura: arte, conhecimento e vida. São Paulo: Petropólis, 2000. p. 143-159.