A MÃE FRENTE À DOENÇA ONCOLÓGICA DO FILHO FRONT … · 3 A MÂE FRENTE À DOENÇA ONCOLÒGICA...
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¹Psicóloga Clínica. Presta serviços voluntários na AAPEC (Associação de Assistência a Pessoas com
Câncer) na cidade de Governador Valadares – MG. Trabalha com o Projeto Girassol (Serviço de Apoio a
Alunos com Dificuldades Acentuadas de Aprendizagem Escolar – Dislexia; Déficit Atenção com
Hiperatividade, etc.) da Prefeitura Municipal de Governador Valadares.
A MÃE FRENTE À DOENÇA ONCOLÓGICA DO FILHO
FRONT FOR THE MOTHER'S SON CANCER
AUTORA :¹SOLANGE MARIA ALVES DE PAULA
Artigo Científico para obtenção do título de Especialização
em Psicanálise, Teoria, Interfaces e Aplicações. Apresentado
à Universidade Vale do Rio Doce. UNIVALE Faculdade de
Ciencias Humanas – FHS. Orientadora : Profª MS Maria
Luíza M. R. Valle.
UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE. UNIVALE.
FACULDADE DE CIÊNCIAS HUMANAS. FHS.
CURSO DE POS-GRADUAÇÃO EM PSICANALISE, TEORIA,
INTERFACES E APLICAÇÕES.
Governador Valadares
2009
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RESUMO
Neste estudo buscou-se compreender a elaboração da dor da mãe ao receber o diagnóstico de
câncer do filho, as alterações ocorridas nos planos de vida, a angústia, e efeitos que indicam a
relação entre o desejo e o gozo. Nesse caso, os processos de alienação e separação do sujeito em
face ao objeto a. O câncer, doença crônica, grave, compromete a vida a curto/ longo prazo. Na
criança pode ser mais grave, considerando-se que é um organismo em evolução, e fragil. Buscou-se
verificar os aspectos afetivos e fantasmáticos e o sentido dado pela mãe diante da dor de um
diagnóstico. Nesta discussão surge uma contribuição para a oncologia através da psicanálise,
possibilitando uma visão ao plano real das problemáticas focalizadas, e às dimensões imaginária/
simbólica. Neste artigo refletiu-se sobre o vínculo mãe/ filho, articulando a castração, as pulsões, a
alienação, a separação e representações diante do vazio da dor de um diagnóstico. Conclui-se que o
sentido é dado pela mãe a partir de suas representações feitas no momento em que vislumbra a
eminência de perder o filho. Com auxílio da Psicanálise, espera-se poder ajudar a se ter um novo
olhar nas questões da dor, do medo, das angústias e incertezas e dos vários tipos de lutos
vivenciados especialmente pela mãe. Espera-se que tenha contribuido para o campo da oncologia
via psicanálise, pois esta nos possibilita estar atentos ao plano real das problemáticas focalizadas, e
também, às dimensões imaginária e simbólica.
Palavras-chaves: Diagnóstico de Câncer Infantil; Díade Mãe/filho; Psicanálise; Elaboração da dor.
ABSTRAT
This study sought to understand the development of pain of the mother to receive a diagnosis of
cancer of the child, changes in the plans of life, anxiety, and effects that indicate the relationship
between desire and enjoyment. In this case, the processes of alienation and separation of the subject
because the object a. The cancer, chronic disease, serious, committed to life in the short / long term.
The child may be more serious, considering that it is an evolving organism, and fragile. We tried to
verify the affective aspects and phantasmagoric and direction given by the mother before the pain of
a diagnosis. This discussion is a contribution to the oncology through psychoanalysis, to allow for a
real plan of problem focused, and the dimensions imaginary / symbolic. This article reflects on the
relationship mother / son, articulating the castration, the drives, the alienation, separation and
representation before the emptiness of a pain diagnosis. It follows that the direction is given by the
mother from their representations made at the time it sees the eminence of losing a child. With the
aid of psychoanalysis, it is expected to help to take a new look at the issues of pain, fear, the
anxieties and uncertainties and various types of grief experienced by the mother especially. Is
expected to have contributed to the field of oncology by psychoanalysis, because it enables us to be
attentive to the real problems of focus, and also the imaginary and symbolic dimensions.
Keywords: Diagnosis of childhood cancer; Díade mother / Child; psychoanalysis; Elaborations of
pain.
A MÃE FRENTE À DOENÇA ONCOLÓGICA DO FILHO.
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A MÂE FRENTE À DOENÇA ONCOLÒGICA DO FILHO
De acordo com Rezende (2000), atualmente, está em evidência revelar como se processam
os mecanismos psicossomáticos, ou seja, como se organiza a relação mente–corpo. No século XIX,
a visão de homem era dualizada em corpo e espírito, hoje, sobre o fenômeno humano busca-se
resposta dentro de uma perspectiva da totalidade de fatores integrados em um sistema.
Sabe-se que toda perda é considerada uma das grandes causas de ansiedade, depressão e
suicídio de que se tem conhecimento segundo Rezende (2000).
O câncer é uma doença crônica que se inclui nesse caso. Visto como tabu, influenciado por
diversos fatores; é estigmatizado, considerado como uma doença grave que compromete a vida do
doente a curto, ou longo prazo; dependendo do metabolismo e desenvolvimento da pessoa
acometida pela enfermidade.
Ele corresponde a um grupo de doenças que têm em comum a proliferação descontrolada de
células anormais e que pode ocorrer em qualquer local do organismo. De acordo com Rezende
(2000), diferentemente do câncer em adulto, onde afeta as células do epitélio, que recobre os
diferentes órgãos; o na criança geralmente afeta as células do sistema sangüíneo e os tecidos de
sustentação.
Na criança, consoante Rezende (2000), a doença pode se tornar mais grave, levando-se em
consideração que se trata de um organismo ainda em evolução, além dos vários procedimentos
invasivos/agressivos: cirurgia, injeções, cateteres, quimioterapia, radioterapia, entre outros.
A partir dessa discussão, pode vir a surgir alguma contribuição para o campo da oncologia,
pela via da psicanálise, pois esta nos possibilita estar atentos ao plano real das problemáticas
focalizadas, ou seja, aquilo que não foi simbolizado, e também, às dimensões imaginária e
simbólica. A dimensão imaginária, é aquela da identificação, como também, a simbólica, é tudo o
que dá sentido.
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Considerando tal perspectiva, elaboraram-se reflexões sobre o relacionamento mãe -
―criança com câncer‖, e os aspectos afetivos e fantasmáticos presentes neste relacionamento.
A psicanálise hoje em dia é bem diferente daquela que Freud exercia em seu tempo. Tanto a
prática como o contexto mudaram. Lacan, porém, nunca deixou de recorrer a Freud e a seus
ensinamentos, sempre deles partindo para então propor algo novo.
Desde as Conferências Introdutórias à Psicanálise (1916-17), Freud considera a tentativa de
descrever o ego como a ‗tarefa maior‘ ou a ‗conquista maior‘ da psicanálise, mais, portanto, do que
a descrição das vicissitudes da libido. Todavia os métodos de abordagens utilizados pela psicanálise
são diferentes.
A partir de 1920, Freud introduz a segunda tópica e conceitua o EGO (Eu) como uma
instância psíquica, no contexto de uma segunda tópica que abrangia outras duas instâncias: o
superego e o id. O ego tornou-se então, em grande parte, inconsciente.
Do ponto de vista tópico, o ego está numa relação de dependência tanto para com as
reivindicações do id, como para com os imperativos do superego e exigências da realidade. Embora
se situe como mediador encarregado dos interesses da totalidade da pessoa, a sua autonomia é
apenas relativa.
Do ponto de vista dinâmico, o ego representa eminentemente, no conflito neurótico, o pólo
defensivo da personalidade; põe em jogo uma série de mecanismos de defesa, estes motivados pela
percepção de um afeto desagradável (sinal de angústia).
Do ponto de vista econômico, o ego surge como um fator de ligação dos processos
psíquicos; mas, nas operações defensivas, as tentativas de ligação da energia pulsional são
contaminadas pelas características que especificam o processo primário: assumem um aspecto
compulsivo, repetitivo, desreal.
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A teoria psicanalítica procura explicar a gênese do ego em dois registros relativamente
heterogêneos, quer vendo nele um aparelho adaptativo, diferenciado a partir do id em contato com a
realidade exterior, quer definindo-o como o produto de identificações que levam à formação no seio
da pessoa de um objeto de amor investido pelo id. Relativamente à primeira teoria do aparelho
psíquico, o ego é mais vasto do que o sistema pré-consciente-consciente, na medida em que as suas
operações defensivas são em grande parte inconscientes. Freud, (1920) descreveu o ego como uma
parte do id, que por influência do mundo exterior, ter-se-ia diferenciado. No id reina o princípio de
prazer. Ora, o ser humano é um animal social e, se quiser viver com os seus, não pode se instalar
nessa espécie de nirvana, que é o princípio de prazer, ponto de menor tensão, assim como lhe é
impossível deixar que as pulsões se exprimam em estado puro.
Lacan (1936) aparece no meio psicanalítico com uma tese diferente de Freud. Apresenta o
artigo ―Estádio do Espelho‖. O eu, escreveu ele, constrói-se à imagem do semelhante e
primeiramente da imagem que me é devolvida pelo espelho ―este sou eu‖.
A mãe deseja ter um filho, engravida, e ao nascer dá-lhe um nome. Para a psicanálise, o
―falo‘‘ (falta) da mãe é completado com o nascimento do filho.
Quando uma criança é gerada, ela já é significada no imaginário e no discurso dos pais,
antes mesmo de ser concebida, marcando sua posição nesta família. Para a teoria psicanalítica, a
causa do tornar-se sujeito não reside no orgânico. Há, no entanto, quem insista em desconhecer os
pontos nos quais o orgânico incide na construção do aparelho psíquico e, portanto, na constituição
do sujeito. (MANNONI, 1967).
A partir do ―Estádio do Espelho‖ a idéia é que o bebê só conseguirá encontrar solução para
seu desamparo por intermédio de uma ―precipitação‖ pela qual ele ―antecipará‖ o amadurecimento
de seu próprio corpo, graças ao fato de sua projeção na imagem do Outro (figura materna). Este
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movimento no Outro, leva o bebê a uma alienação, e é a mãe que se torna a depositária destas
funções, pois esta é ‘‘ suposta‘, é a que‘ sabe e entende as necessidades do filho. (LACAN, 1936).
Segundo Brun (1996), a cura física diz respeito somente à criança, mas a cura psíquica
implica principalmente os pais. Ou seja, não é suficiente que a criança receba alta para que os
temores principalmente da mãe "sarem".
Por vezes as crianças permanecem por tão longas internações que nos momentos de alta
hospitalar os pais não mais anseiam pelos filhos em casa temendo não serem capazes de cuidar de
um ser tão pequenino, acreditando que o saber científico sobre o corpo prematuro possa ser capaz
de suplantar o afeto parental. (BRUN, 1966).
O saber científico é de suma importância em casos de prematuridade, mas ainda não é
exclusivo na escala de importância vital. O ser humano continua precisando de contato, de toque, de
vínculo afetivo para se desenvolver física e psiquicamente.
A distância entre a cura psíquica e a cura física de acordo com Lacan (1968), pode ser
explicada pelo retorno à circulação de determinadas representações recalcadas ou ocultadas pelas
preocupações relativas ao câncer. Essas representações ao serem privadas do seu suporte real
fornecido pela doença manifestam-se através de medos e de dificuldades que impedem o "lidar"
com a cura física. Podendo ser entendida dentro da noção de separação, sucedida pela travessia do
fantasma, como forma que emerge no período de representar a relação entre o sujeito, o objeto que
causa e a cadeia significante.
Segundo Mannoni (1967) ―uma criança é marcada, não somente pela maneira como é
esperada antes de nascer, mas, também, pelo que ela vai representar para os pais em função da
história de cada um‖ (p. 65). Se ela nasce com uma disfunção, ou durante seu crescimento, aparece
uma doença crônica, como o câncer, quebra-se a cadeia simbólica e imaginária que vinha sendo
sustentada na relação com os pais, especialmente pela mãe.
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As implicações nesta relação vão desde a dificuldade de se identificar narcisicamente com o
filho, até a impossibilidade de reconhecer na criança ―doente‖, o filho imaginado. Pode acontecer
que os pais, em especial a mãe, tornem-se alternativamente ―mártires ou vítimas de um castigo,
missionários reparatórios, (...) e orgulhosamente guerreiras sociais por seus filhos‖ (p. 102)
A possibilidade do estabelecimento de um vínculo simbiótico entre mãe e filho, pode vir a
impedir que sejam buscadas outras formas de investimento no filho, podendo ter chances de existir
nesta relação dual o amor e o ódio que ficam confundidos. Pode-se encontrar especialmente no
discurso da mãe, mecanismos de defesa como negação e projeção. Tais representações consoante
Mannoni (1967), não são dirigidas à criança real. Estão associadas à criança que os pais "foram".
Este estudo se alicerçou na psicanálise e teve o objetivo de compreender a dor da mãe ao
receber o diagnóstico de câncer de seu filho sendo este uma criança.
A partir da psicanálise, pretendeu-se construir reflexões a respeito das representações feitas
por mães na eminência da separação de seu filho, do vazio e da dor que aparece diante do
diagnóstico de câncer, e entender a elaboração, o processo, as representações e vínculo com a
doença. Os laços construídos na díade mãe-filho são fortes, e complexos. A partir desses laços
formulou-se a questão central. Como se dá o sentido na díade mãe/filho no momento de dor ao
receber o diagnóstico de câncer em um filho ainda criança, e quais são os aspectos afetivos e
fantasmáticos, presentes no relacionamento primordial dessa díade?
A doença oncológica tem um impacto negativo na vida das pessoas sobre vários aspectos
como: sua repercussão social e econômica, especialmente pelo sofrimento do paciente e sua família.
De acordo com algumas pesquisas realizadas na área da oncologia, 80% dos casos de
neoplasias são diagnosticadas tardiamente, quando os recursos disponíveis para o tratamento são só
paliativos. Esta situação limita a esperança de vida, contribui com a deterioração da auto-imagem e
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sustenta o estigma no imaginário popular de que o câncer é uma doença incurável, visto como causa
de finitude rápida, sofrimento entre outros significados.
Segundo Zago (2001), o surgimento do câncer em qualquer família é sempre uma catástrofe,
devido às mudanças profundas que abalam a vida diária de cada um de seus integrantes.
Consoante Antunes (1996), a incidência de neoplasias na infância é menor do que na idade
adulta. Porém, por se tratar de um ente, cuja vida ainda se está iniciando, esta patologia assume
maior complexibilidade. Na criança, quando surge uma doença crônica degenerativa obriga quase
sempre os pais alterarem os planos que fizeram para o seu futuro. O diagnóstico faz submergir em
muitas famílias uma crise emocional que afeta profundamente todos os seus elementos.
O câncer é visto como uma condição crônica. E uma doença complexa, de longa duração,
que compromete significativamente a vida dos indivíduos no âmbito de seu funcionamento
biológico, social e afetivo, exigindo assistência especializada por diferentes profissionais. (OMS
Organização Mundial de Saúde, 2005).
Após o primeiro impacto ao receberem o diagnóstico, o enfrentamento da doença dependerá
de alguns atributos pessoais de cada membro da família como: saúde e energia, sistema de crenças,
metas de vida, auto-estima, autocontrole, conhecimento, capacidade de resolução de problemas e
práticas e apoio sociais. Neste estudo sobre o processo de enfrentamento diante de um câncer
infantil é primordial considerar as características sócio-culturais desta família. (LIMA, 1993).
A indecisão e discordância entre os membros, em comunicar o diagnóstico à criança, o
medo da perda e de ver sofrer a criança, bem como o sentimento de se acharem incapazes de lidar
com a doença e cuidar da criança, são fatores que podem se instalar na estrutura familiar.
(ANTUNES, 1996).
Na experiência do câncer infantil, as angústias de separação envolvidas na relação mãe-filho
se revestem de grande relevância. De acordo com Lima (1993), no contexto oncológico vê-se
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acontecer uma existência mais forte e angustiante sobre as questões em relação à morte. Estas, são
vivenciadas e sentidas de forma mais intensa e com muita dor, principalmente pela mãe, diante da
eminência da perda, ou da aniquilação física do filho. Somada à questão psíquica com a da
separação física, quando ocorrem as internações, e os tratamentos agressivos, que são impostos pela
doença, que demandam freqüentes deslocamentos em busca de métodos avançados.
Na expectativa de mudança do diagnóstico, os famíliares buscam tudo o que é oferecido.
Neste processo, são em especial as mães que sempre acompanham os filhos ; carregam muita
esperança e expectativas que são acompanhadas pela dor, medo e insegurança do novo método não
proporcionar uma melhora ou até mesmo, a cura da doença.
Algumas famílias, quando recebem o diagnóstico do câncer em seus filhos passam a viver
numa busca de algo que cure a criança, como um ―milagre‖. Esta procura torna-se mais intensa por
parte da mãe. Na luta por outro diagnóstico, a mãe sente temor ou a sensação de que não vai
conseguir realizar sua ―parte‖ durante o tratamento do filho. Desta forma, podem ocorrer
sentimentos de culpa, cobranças internas, como também, a mãe pode vir a se defrontar com seus
sentimentos de vunerabilidade ao se deparar com o enfrentamento do diagnóstico, confrontando-se
com suas limitações pessoais.
Quando a mãe insiste em falar apenas em seu nome, parece pertinente buscar em seu
discurso, a criança. Na tentativa de restabelecer a homeostase. Como também, criar um espaço para
que possa ocorrer a elaboração dos conteúdos intrapsíquicos, não esquecendo que, os aspectos
fantasmáticos e imaginários são inerentes ao relacionamento da díade mães/filho, e interferem nas
estratégias de enfrentamento.
Conforme, Resende & Araújo, (1999), as transformações que ocorrem no discurso destas,
podem ser atribuídas em função do teor deste, e da posição do sujeito.
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Lacan, (1957), propicia diretrizes claras sobre o processo interpretativo. O que ocorre é que
este ―ganho‖ apóia-se em uma teoria insatisfatória do sujeito. O sujeito dividido pela linguagem na
cadeia significante, tendo em sua causa o objeto a.
Algumas teorias psicológicas trouxeram suas contribuições em direção a uma
reinterpretação dos mecanismos da dor. Freud em seu texto "O Problema Econômico do
Masoquismo", (1924), insere o princípio de Nirvana na pulsão de morte. O máximo de prazer está
na ausência de tensão. Do princípio de Inércia (1895) ao princípio de Constância (1920), Freud
considera como uma tendência inerente ao sistema nervoso, para poder reduzir totalmente a
oscilação entre este último conhecido também, como princípio de Nirvana (1924). Este serve para
tentar manter as constantes excitações presentes no aparelho psíquico, de modo a mantê-lo em
equilíbrio. Estes princípios são correlativos ao impacto desestabilizador causado pela irrupção do
conceito de pulsão de morte, e passa quase despercebido, pois, esta oscilação entre constância e
nirvana é sintoma de tensão.
Em 1926, Freud considera todo processo mental de forma dinâmica, topográfica e
econômica, havendo duas classes de pulsões (de Vida e de Morte) e três instâncias psíquicas: o ego
representante da realidade; o id reservatório dos instintos de conteúdos inconscientes e o superego,
juiz, censor do ego.
Para Freud, dor, luto e ansiedade seriam reações a uma perda ou a uma ameaça de perda de
um objeto de amor, ou ainda à perda do amor deste objeto. Nasio, (1997), acrescenta que o objeto
de amor pode ser a própria pessoa (auto-estima), partes do corpo, um filho ou outra pessoa, isto não
importa, pois a amputação brutal de qualquer desses objetos amados trará uma desarmonia psíquica.
Sendo esta traduzida por dor, não há distinção entre dor física/psíquica, posto que "a dor é um
fenômeno misto que surge no limite entre corpo e psique".
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A sociedade, de certa forma, ganha quando em seu seio encontra profissionais que possuem
um olhar onde valoriza o auxílio às família considerando como um coadjuvante na melhora do
tratamento da criança. Tal auxílio contribui quando há a ocorrência de recaída, sendo necessária
uma nova hospitalização, ou diante de um quadro de melhora ao retornar ao seio familiar, onde
deverá continuar recebendo todos os cuidados necessários. Segundo Antunes, (1993), a família deve
ser vista e considerada como parte integrante da doença, portanto não pode ser esquecida.
Portanto, os dados oferecidos por esta investigação, dentro da visão psicanálista, onde a
mesma ao trabalhar com o inconsciente, como seu objeto de estudo, poderá ajudar a se ter um novo
olhar nas questões da dor, do medo, dos vários tipos de lutos vivenciados pelo sujeito, nas
angústias, e incertezas. No sujeito dividido na cadeia significante. Entendendo que não é apenas a
pessoa com câncer que vivencia todas estas questões. Existe ai um universo de sentimentos que se
encontram e desencontram a partir do diagnóstico de um câncer, sendo este, em especial em um
filho, ainda uma criança. Os problemas derivados a partir do diagnóstico devem ser muito bem
entendidos e compreendidos, tanto pela sociedade, e também, pelos profissionais da área da saúde.
A psicanálise para trabalhar com a relação mãe e filho, é necessário que sejam utilizados
alguns conceitos psicanaliticos, como: Complexo de Édipo, Castração, Pulsões de vida e de morte,
Sexualidade Infantil, Alienação, Separação, entre outros.
De acordo com a teoria psicanalítica em um de seus primeiros estudos Freud refere-se sobre
a questão da sexualidade infantil e esta tem sua origem através dos fenômenos psicossomáticos
dentro da relação com os pais, principalmente com a mãe.
É na relação mãe-filho que são vivenciadas as diversas fases que uma criança precisa passar.
Em algumas dessas relações não é deixado nenhum comprometimento grave, porém, em outras,
podem ser encontrados relacionamentos desta díade onde pode se chegar até a uma psicose na
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criança. É nesta relação que a psicanálise tem muito a oferecer. Podendo ajudar em uma melhor
compreensão sobre diversos aspectos referentes à díade, mãe-filho.
Este estudo visou esclarecer pontos que venham servir para melhor compreensão das reações
das mães frente a um diagnóstico de cãncer em seu filho, desta forma, auxiliar, à sociedade no
conhecimento da necessidade de se ter um olhar holístico, ou seja, um olhar não somente
direcionado ao doente, mas também, à todos que são envolvidos, ou seja, as famílias.
Na tentativa de encontrar respostas às questões levantadas, é que se torna pertinente um
conhecimento teórico mais amplo dentro da visão psicanalítica.
Como objetivo geral, pretendeu-se verificar os aspectos afetivos e fantasmáticos, e o sentido
dado pela mãe à sua dor ao ter o diagnóstico que seu filho, uma criança, está com câncer.
Para a realização deste, fez-se um estudo bibliográfico, sendo um trabalho comparativo em
relação às diferentes formas de cada sujeito elaborar sua dor dentro das diversas perspectivas de
alguns autores que trabalham com a psicanálise tendo como base e suporte as teorias de Freud e
Lacan. Realizou-se uma pesquisa bibliográfica. A importância deste modelo reside na possibilidade
de entender os diversos pensamentos dos autores estudados. Todos os que trabalham sob uma
mesma abordagem, possuem um olhar próprio, o que lhes permite uma interpretação também
própria, ainda que a análise se dê sobre um mesmo tema. A revisão de literatura nos permite saber o
que falam outros autores de abordagens diferentes. Se existe algo em comum, devida as diferenças
de abordagens, mesmo que o estudo seja o mesmo, o ser humano. As divergências existidas são
devidas ao método utilizado por cada uma, onde se tem o olhar diferenciado de homem. Segundo
Pimenta, (1999), muitas trabalham com este homem vendo-o apenas sua carga biológica,
fisiológica e o ambiente ao qual está inserido. Outras valorizam as questões psíquicas e emocionais,
mas não trabalham de forma tão profunda como a psicanálise
Na psicanálise, de acordo com Zimerman, (1999), não há receitas para a felicidade. Não há
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somente a culpa do outro, ela nos leva a entender que cada ser humano deve se responsabilizar por
suas ações e permissões dadas ao longo da vida.
O CÂNCER
O Instituto Nacional de Câncer - INCA (2000) descreve a formação das neoplasias da
seguinte forma:
As células dos diversos órgãos do nosso corpo estão constantemente se
reproduzindo, isto é, uma célula adulta divide-se em duas, (...) havendo o
crescimento e a renovação das células durante os anos (...) controladamente dentro
das necessidades do organismo. Porém, em determinadas ocasiões e por razões
ainda desconhecidas, certas células reproduzem-se com uma velocidade maior,
desencadeando o aparecimento de massas celulares denominadas neoplasias ou,
mais comumente, tumores.
Segundo a OMS (Organização Mundial da Saúde), (2005), a gênese do câncer é variada e
seus fatores podem ser externos ou internos estando inter-relacionados. Os fatores externos
relacionam-se ao meio sociocultural, hábitos e costumes próprios. Os internos são, geralmente,
geneticamente determinados e ligados à capacidade do organismo de se defender das agressões
externas. Os fatores ambientais, denominados cancerígenos, alteram o DNA das células e estão
relacionados com 80% dos casos de câncer.
O Instituto Nacional de Câncer (INCA), (2000), é referência nacional de qualidade na área
da assistência em suas cinco unidades e, desenvolve extenso trabalho nas áreas de prevenção,
controle, pesquisa e ensino. E assim, a função nas definições das diretrizes de abordagem do câncer
em todo o território nacional. Desde o lançamento da Política Nacional de Atenção Oncológica
(PNAO), em dezembro de 2005, todo o empenho foi voltado para a promoção de ações integradas
entre governo e sociedade.
Tais ações pretendem implementar uma nova política, que reconheça o câncer como
problema de saúde pública e estruture a realização das ações para o seu controle no Brasil através
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da Rede de Atenção Oncológica. Tal política conta com a participação direta e indireta do Governo
Federal; Secretarias Estaduais e Municipais de Saúde; universidades; serviços de saúde; centros de
pesquisa; organizações não governamentais e da sociedade de forma geral.
MENTE E CORPO E A PSICANÁLISE
A ligação mente-corpo já era citada por Freud (1923/1997) em sua segunda tópica,
postulando que o id, como instância psíquica originada pela atividade corporal, ao entrar em contato
com a esfera social, propicia o aparecimento do ego, que faz a mediação dos mundos interno e
externo. Freud mostra, portanto, que o indivíduo é uma unidade psíquica, social e orgânica; diante
disso, pode-se dizer que suas doenças físicas derivam não só de uma disfunção orgânica, como
também, do ambiente social e da sua vida psíquica, com seus afetos e relações objetais.
Na perspectiva da psicanálise, segundo Dolto, (1988), as fases da criança acontecem de
diversas maneiras e estas, podem ser distinguidas na criança, desde o nascimento, são elas: a fase
oral, a anal, e a fálica conhecida como fases pré-genitais.
Na fase oral, zona erógena bucal, o prazer sentido pelo bebê através da sucção independe
das necessidades alimentares, constitui-se em um prazer auto-erótico. Freud (apud Dolto, 1988)
denomina essa fase de prazer narcisista primário, ou auto-erotismo original, pois o sujeito ainda não
possui a noção de um mundo à parte dele. Em todos os momentos em que se produz a sensação
voluptuosa, como o banho, o embalo, o tato e o mamar, o bebê estará ligado à mãe e esta se
converte num objeto de amorosidade.
Consoante Dolto, (1998), para entender em que fase a criança se inscreve basta a
observação. A fase anal é quando a criança, não dissimula o prazer sentido durante a evacuação. É a
partir desta fase que a criança descobre sua conquista em emitir as fezes de forma disciplinada, ela
passa a ter a noção do poder sobre suas fezes, que ela oferece ou não à mãe, isto depende se a
criança se sente em harmonia com a mãe ou não.
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Desde a fase oral, de acordo com Dolto, (1998), pode-se ver o despertar da zona erógena
fálica, seja através do pênis, ou clitóris, a excitação é natural e pode surgir como causa fortuita, na
ocasião da micção e do contato no momento dos cuidados da higiene. A partir desta fase, ocorre o
desinteresse pelas fezes, e surge o interesse de forma concentrada na zona erógena fálica, com o
aparecimento da masturbação.
De acordo com Épinay, (1988), é na primeira infância que se encontram as origens dos
fenômenos psicossomáticos, dentro da relação com os pais, principalmente com a mãe. A pesquisa
em psicossomática segundo Ferraz, (1997), tem encontrado nas relações mãe-bebê, a base de
perturbações que influenciam a estruturação das defesas.
Zimermam, (1999) afirma ser consenso que a ―gênese da predisposição psicossomática
reside nas vivências emocionais, narcísicas e sensuais que caracterizaram os primitivos vínculos do
bebê com a sua mãe" (P.249).
Conforme Perestrello(1996), por ser o homem um ser em seu todo psicossomático, todas as
doenças são psicossomáticas.
Dentro do cotidiano da família segundo Carter, (2001), está presente a dificuldade em lidar
com os sofrimentos, os medos, o desespero e a impotência, podendo estar associada a esta
dificuldade, o prejuízo na capacidade de representar psiquicamente as pulsões e de como manejá-
las, levando à produção do fenômeno psicossomático.
A psicossomatização pode ocorrer em qualquer indivíduo diante de uma carga excessiva de
afetos, que ele não consegue manejar. Segundo Volich, (1997/1998.), há a "possibilidade de
qualquer indivíduo manter o equilíbrio psíquico por meio de somatizações, quando as defesas
neuróticas e psicóticas (...) falham ou tropeçam em seu funcionamento" (P.135).
De acordo com Fonseca (2002), (apud Ferreira & R. Thompson 2002) na vida adulta,
possuímos uma imagem corporal que recobre o corpo real, como um invólucro, uma capa. Em
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situações difíceis (dor, doença, onde a integridade do corpo é ameaçada), a imagem será muitas
vezes o recurso que o sujeito lança mão para se proteger, se refugiar.
A família, ao receber um diagnóstico de câncer em um filho ainda criança, passa por um
grande impacto, alterando toda a estrutura familiar. De acordo com Nascimento, (2003), a criança e
sua família se deparam com várias situações desconhecidas, entre elas, a falta de informações sobre
como cuidar da criança, a mudança da imagem corporal, sendo esta uma das conseqüências do
tratamento oncológico.
Portanto, a imagem corporal é um processo contínuo de construção e desconstrução,
formado sobre o esquema corporal, através da vivência/ experiência adquirida. Segundo Leshan,
(1992), toda experiência vem carregada de significados afetivos e emocionais que determinam o
corpo motor e o estado psíquico, revelando assim, a relevância da atenção e da intervenção na
imagem corporal do paciente e também, sobre a família no momento do adoecimento em virtude de
sua influência no processo e na busca da cura.
Capisano, (1992) aponta para o fato de que as imagens são modificadas e transformadas de
forma contínua, podendo ser lenta e difícil a adaptação da nova imagem corporal do filho,
especialmente para a mãe.
Segundo Cailliet (1999), a dor e o medo de perder um ente querido tem em seu caráter
subjetivo, seja o sentimento de culpa. A não aceitação da doença em um filho, a cobrança ao outro,
assim, são inúmeras situações que podem ocorrer no momento em que a mãe se depara frente a um
diagnóstico de câncer. Ao longo da história da humanidade, o sofrimento e a dor eram
compreendidos e explicados de forma mítica, mística ou religiosa. Eram socialmente justificados
como castigos merecidos pela provocação da cólera dos deuses ou da ira divina, e ainda eram vistos
como martírios necessários para a purificação e a salvação da alma.
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Tais conceitos parecem ter de algum modo se fixado no imaginário coletivo, posto que, a
mãe aqui ocupará o primeiro lugar, procurando saber o que fez de errado para merecer que seu
filho, um inocente, tenha sido acometido por tal enfermidade. E não raro se pergunta como e o que
fará para carregar a sua dor.
Freud observou que mesmo as dores físicas mais intensas deixavam de surgir quando havia
um desvio psíquico ocasionado por outro foco de interesse e que a ansiedade realística (devida a
perigos externos) podia mesclar-se à ansiedade neurótica (devida a perigos internos), manifestando-
se de forma mais comedida ou desmedida (FREUD, 1926)
Na tentativa de explicar não somente a etiologia, como também a manutenção de sintomas
observados nas neuroses, Freud, (1926), teoriza que um determinado impulso instintual geraria um
desprazer, levando o ego a tentar suprimir tal impulso. Caso o ego falhasse, em maior ou menor
escala, este impulso ainda tentaria ser admitido no sistema consciente, e para tal, encontraria um
substituto, "mais reduzido, inibido e deslocado". Isto é, o sintoma, que seria um compromisso entre
o impulso inconsciente e as exigências defensivas, reduzindo assim, a situação de conflito. O
sintoma seria uma fuga para a doença, um benefício (ganho) primário, tendo a qualidade de uma
compulsão.
Segundo Freud, (1933), as mulheres são as que se encontram na posição de substituir o
desejo do pênis pelo desejo de um homem, que poderá oferecer-lhes um filho, substituto para o tão
prezado órgão. Essas resolvem o problema falicizando o filho, complementando-se com ele,
enquanto as mesmas, por outro lado, são falicizadas pelo homem.
Em "O Mal-estar na civilização", Freud, (1930), considera que os homens são os
representantes da cultura, e as mulheres retardam o trabalho civilizatório, puxando os homens para a
forma primária do amor e levando-os a afastarem-se da forma de amor dirigido a todos, forma esta
em que se canaliza a tendência homossexual. Nesse texto, Freud coloca a questão de que a família
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se constitui a partir da recusa da separação: do homem em relação a seu objeto de amor; da mulher
em relação ao filho. Daí pode concluir-se que a mulher, por estar próxima do amor inicial, é
contrária à civilização e não tem capacidade de sublimar ; o homem é quem faz as tarefas da
civilização. Sendo que, nessas, a capacidade de produção intelectual, decorrente da capacidade de
sublimação, é menor e menos importante.O trabalho de sublimação encontra-se do lado dos
homens, enquanto as mulheres fracassam na sublimação de suas pulsões. Conclui Freud:
―Dessa maneira, a mulher se descobre relegada ao segundo plano pelas exigências da
civilização e adota uma atitude hostil para com ela, chegando a ser um empecilho para as
produções culturais - sublimações - que o homem empreende" (FREUD, 1929: 124).
Para Lacan (1959-60), a saída das mulheres pelo lado do ter implica uma posição a favor dos
semblantes masculinos. Há uma atitude de prudência e uma subjetividade de superioridade
ameaçada. A saída especificada por Freud como a da mulher-mãe, é redefinida por Lacan como a da
mulher à procura de bens, a mulher ―burguesa‖. A mulher-mãe, ao casar-se, faria recair o valor
fálico sobre certos complementos, como o marido, os filhos, os bens, que adquirem valor de fetiche.
Se, para os homens, o fetiche pode ser considerado uma defesa contra o real da castração,
para as mulheres, possuir um homem com direito de usufruto exclusivo do seu órgão sexual, e
ainda, com direito a ter um filho dele, poderia ocultar um fetichismo, já que colocado no próprio
órgão sexual masculino como um véu que mascara a castração. Nestas mulheres, o fato de possuir é
fundamental.
Na segunda metade do século XX, de acordo com Pimenta, (1999), as teorias cognitivo-
comportamentais, em oposição à Psicanálise, afirmam que o comportamento poderia ser modelado,
alterado, enfraquecido ou fortalecido como resultado direto do ambiente, sendo a dor sensorial,
"respondente", distinta da dor "operante", esta motivada por necessidades psicológicas. Ao
contrário dos psicanalistas, os behavioristas acreditavam na simples causalidade existente entre a
manutenção da dor e as influências ambientais, e que a dor seria reforçadamente mantida apenas
pelo ganho secundário através dela obtido, sendo desconsiderada a psicodinâmica da dor.
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O trabalho da Psicologia Hospitalar é realizado em hospitais, clínicas e em todas as áreas da
saúde como diz o seu próprio nome. Mas especificamente estamos referindo à Psicologia
Oncológica, que é o tema em estudo, ou seja, a psicologia especializada no tratamento de pacientes
com câncer e tudo que acarreta na vida de quem é acometido pela doença, como também, da família
deste. O câncer é uma doença que afeta de modo geral o estado emocional, a auto-estima da pessoa,
levando à depressão, traz dificuldades na relação com a doença, interfere na postura do sujeito
frente à vida e à doença.
Consoante Forgaro & Sebastini (1996), é de grande importância ressaltar que a Psicologia
Hospitalar, ainda se encontra em fase de estruturação, sendo bem vinda qualquer contribuição. Pois,
esta virá aprimorar e complementar saberes, onde o psicólogo com as suas contribuições venha
somar e com isto, o benefício não será apenas dos profissionais, mas, das pessoas que se encontram
doentes com diagnóstico de um câncer. Esta, trabalha com o objetivo de que seja vista a
importância do acompanhamento da família junto ao seu ente doente. E se debruça sobre a
investigação e a intervenção nas perturbações psicossociais associadas ao diagnóstico do doente e
de sua família.
É uma área que oferece certo número de ferramentas para orientar ao doente e a família,
através da intervenção psicoterapêutica, que abarca as diferentes fases da doença. Também visa
reconstruir a trajetória da família do doente com câncer enfocando o cuidador e as mudanças
ocorridas no modo de inserção desses junto aos familiares e nas formas de atendimento destas na
atualidade. (CAMON, 1996).
Dentro destas intervenções psicoterapêuticas, encontramos a Psicanálise. Porém, essa tem
como objeto de estudo o inconsciente. Conforme Zimermam, (1999), ela trabalha com as questões
externas e internas, a subjetividade e a singularidade de cada sujeito, suas demandas, angústias,
tensões e medos que formam o sintoma.
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A vida da família e do doente de acordo com Leshan, (1992), passa por várias
transformações em decorrência do diagnóstico de câncer. Em vista disso, eles são levados a se
adaptar a uma nova rotina, na qual as exigências e demandas do tratamento passam a fazer parte do
cotidiano familiar. Estes procuram visualizar a possibilidade de cura, mas, devido aos efeitos
colaterais provocados pelo tratamento da doença, as dúvidas, incertezas, sentimentos de culpa,
medo da morte, otimismo, depressão, esperança e desesperança acabam por aparecer e
acompanham toda a família, e um, ou outro desses sentimentos aparecem em maior destaque,
conforme o sucesso ou insucesso do tratamento.
Conforme Carter (2001), o diagnóstico de câncer em um filho, provoca muita dor na família,
e é na mãe, onde é percebido um sofrimento mais intenso, devido às ligações maternas existentes.
Surgem as incertezas e o medo sobre o futuro do filho, podendo também, ser percebidas a
intensidade da dor, da angústia e do sofrimento na criança.
A psicanálise de acordo com Zimerman, (1999), não tem a oferecer remédio para todos os
males. Não pretende oferecer substância milagrosa através da qual possam ser dissipados as
angústias e o medo da morte. Ela não poderá prometer efeitos deslumbrantes. Porém, oferece
instrumentos para compreender o sentido da falha que se tentou evitar, mas que teima em
manifestar-se. Também, pode ajudar aos profissionais da saúde, a perceberem a importância de
conhecer a si mesmo, de descobrir as identificações que os aprisionam aos mesmos ideais da
ciência. Ideais que, por muitas vezes, nem a genética poderá explicar, pois, o sujeito, não é somente
orgânico, é também, psíquico/emocional e em algumas situações vivenciadas, pode ocorrer que
estes, se tornem impedidos de superar a sua dor, medo e angústia.
Freud, em ―Construções em análise‖ (1937), compara o ofício do psicanalista ao de um
arqueólogo em seu trabalho de escavação no que se refere à capacidade de construção e
reconstrução, chegando a concluir que a principal diferença entre os dois é que o psicanalista possui
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no seu trabalho de reconstrução a condição inicial para o tratamento e não o seu fim.
Portanto, a psicanálise segundo Nasio, (1989), pode assim, revelar a todo aquele que se
dispõe a entrar em contato com o sofrimento humano, a importância da função do inconsciente no
desenvolvimento humano, na experiência do bem estar e da doença. O inconsciente é uma instância
onde fica aquilo que o sujeito não consegue suportar. Novos campos de estudos, tem sido abertos
pela Psicanálise, a qual possui sua origem na clínica, a partir de Freud, cuja finalidade terapêutica é
ajudar o sujeito a se auto-confrontar, assumir suas limitações e responsabilidades em suas ações.
Enfatiza a relevância das dimensões erógena e imaginária do corpo, implicadas em toda vivência e,
manifestação biológica do sujeito, sempre presentes no relato do paciente.
CONCLUSÃO
Considerando a problemática principal deste estudo, buscou-se compreender como a mãe dá
sentido à sua dor frente a um diagnóstico de câncer em seu filho, sendo este ainda criança, como
também, procurou identificar os aspectos afetivos e fantasmáticos existentes nesta relação.
De acordo com Mannoni (1967), o sentido é dado pela mãe a partir das representações feitas
por ela, no momento em que vislumbra a eminência de perder o filho. Esta, frente ao vazio e a dor
ao receber o diagnóstico de que seu filho está com câncer, pode vir a estabelecer um vínculo
simbiótico entre mãe/ filho, que poderá impedir que outras formas de investimento neste filho,
sejam buscadas. Como também, há a possibilidade de vir a existir algumas chances dentro desta
relação dual, ou seja, uma mistura entre o amor e o ódio que acabam por se confundir. É
especialmente no discurso da mãe que pode ser encontrado alguns mecanismos de defesa em
relação à dor e ao vazio causados pelo diagnóstico, como a negação e a projeção.
Sabe-se que a doença oncológica tem um impacto negativo na vida das pessoas sobre vários
aspectos e especialmente aquele que se refere ao sofrimento causado não somente à pessoa doente,
também, á toda a sua família.
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Dentro deste universo de dor, do vazio, do medo da morte ou da perda, das elaborações,
podem ser observadas, como principalmente as mães reagem ao conviver com toda esta
problemática. Este estudo se alicerçou na psicanálise e teve o objetivo de compreender a dor da mãe
ao receber o diagnóstico de câncer de seu filho sendo este uma criança.
Foi a partir de estudos dentro da visão psicanalítica, que foi possível construir reflexões a
respeito dos vínculos com a doença e representações feitas por mães, a elaboração, e todo o
processo que ocorre a partir de um diagnóstico de câncer em seu filho.
Conforme, Resende & Araújo, (1999), mesmo sem a existência de um diagnóstico de câncer
de seu filho, já são fortes os laços na díade mãe/ filho. Desta forma, a partir do recebimento do
diagnóstico, tais laços tornam-se mais fortes, mais complexos, podendo interferir nas formas e
estratégias de enfrentamento e nos aspectos afetivos e fantasmáticos presentes neste
relacionamento.
Portanto, este estudo, com auxílio da Psicanálise, poderão vir a ajudar a se ter um novo olhar
nas questões da dor, do medo, dos vários tipos de lutos vivenciados pelo sujeito, nas angústias, e
incertezas. Entendendo que não é apenas a pessoa com câncer que vivencia todas estas questões.
Existe ai um universo de sentimentos que se encontram e desencontram a partir do diagnóstico de
um câncer, sendo este, em especial em um filho, ainda uma criança. De acordo com Dolto, (1988),
os problemas derivados a partir do diagnóstico devem ser muito bem entendidos e compreendidos,
especialmente por se tratar da relação mãe-filho, pois nesta díade é que são vivenciadas as diversas
fases que uma criança precisa passar.
É na tentativa de encontrar respostas às questões levantadas, neste estudo que se tornou
pertinente um conhecimento mais teórico, mais amplo dentro da visão psicanalítica, onde podem ser
melhor compreendidos os conceitos que fazem parte desta questão específica, ou seja, a
complexidade existente na relação mãe/filho. Como também, segundo Dolto, (1988), as questões
23
envolvidas dentro da sexualidade infantil, sendo que esta tem sua origem através dos fenômenos
psicossomáticos na relação com os pais, em especial com a mãe.
24
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