A Marcha Das Vadias e Os Novos Modos de Ser Mulher

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  • Anais do III Simpsio Gnero e Polticas Pblicas, ISSN 2177-8248

    Universidade Estadual de Londrina, 27 a 29 de maio de 2014

    GT9 - Gnero e Movimentos Sociais Coord. Renata Gonalves

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    A Marcha das Vadias e os novos modos de ser mulher

    Gisah Christine Salloum*1

    ThaysaZubek Valente2

    Resumo: A Marcha das Vadias configura-se como um lugar em que se expressam asvisibilidades e dizibilidades vinculadas s prticas de resistncia contemporneas da

    mulher. Para reconhecer estas prticas na mobilizao social referida, empreendemos uma

    pesquisa documental, por meio da anlise do documentrio (intitulado Art. 5) resultante da Marcha que ocorreu em 11 de agosto de 2012 no municpio de Ponta Grossa-PR. A

    anlise teve como referencial terico as produes de Michel Foucault e seus

    desdobramentos e objetivou contribuir com as discusses sobre as novas formas de

    sociabilidade das mulheres. As prticas de resistncia da mulher visibilizadas na Marcha das Vadias produzem deslocamentos nas visibilidades (nos modos de ver/ler) e nas dizibilidades (nos modos de dizer/discursar) das subjetividades e dos lugares sociais das

    mulheres.

    Palavras-chave: Marcha das Vadias, prticas de resistncia, processos desubjetivao,

    Michel Foucault

    1. Introduo

    Para entender a relao entre os modos de subjetivao da mulher e as suas prticas

    de resistncia na sociedade contempornea preciso recordar os entrecruzamentos,

    estabelecidos por Foucault, entre saber, poder e subjetividade. No que tange s questes de

    gnero, tais formulaes estaro ligadas ao que ele denominou dispositivo de

    sexualidade.

    Foucault (1988) discorre sobre a composio do dispositivo da sexualidade, como

    aquele que emerge do/no biopoder e da/na biopoltica, e composto de linhas possveis e

    tticas de saber-poder-subjetividade. Assim, tal dispositivo possui dimenses estratgicas

    de operao: os discursos e prticas sobre o sexo/a sexualidade, que o fazem agir;e um

    invlucro estratgico: explicado na figura das instituies, das prticas disciplinares e

    1*Graduada em Psicologia pela Instituio de Ensino Superior SantAna de Ponta Grossa-PR; e-mail:

    [email protected] 2Docente do curso de bacharelado em Psicologia da Instituio de Ensino Superior SantAna (IESSA-PR),

    mestre em Psicologia pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC)

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    regulamentadoras, que congregam discursos e intervenes sobre a sexualidade - seu

    controle, vigilncia e gesto.

    por meio das prticas no-discursivas (das relaes de saber-poder), que

    constituem o dispositivo da sexualidade, portanto, que modos de ser homem e modos de ser

    mulher se esboam e se afirmam numa sociedade heteronormativa.

    Sobre as relaes de poder, Dreyfus e Rabinow (1995) elucidam que esta relao

    um modo de ao de alguns sobre os outros (p.242). Sendo, o poder, concretizado nas

    relaes entre sujeitos, nas prticas sociais atravessadas por discursos e tcnicas de manejo,

    controle e vigilncia dos corpos-espaos-sujeitos.

    Diretamente ligadas - como posturas ou foras - s relaes de poder, esto as

    resistncias. Elas se apresentam como algo necessrio, planejado, possvel, espontneo e

    agem como um interlocutor irredutvel nos pontos, nos ns, das prticas no-discursivas

    (FOUCAULT, 1988). por meio das resistncias que os sujeitos encontram brechas, linhas

    de fuga, diante das capturas a que esto expostos nas relaes de saber-poder.

    A histria de lutas das mulheres (por uma ampla gama de direitos)ocorre ancorada

    em prticas de resistncia, que perduram at os dias atuais e que esto em constante

    evidncia, de maneira a produzir deslocamentos nos modos de ser mulher (processos de

    subjetivao), no que possvel dizer e saber sobre elas (dimenso discursiva) e nas

    prticas sociais (relaes de poder).

    Como mobilizao que se apoia nas lutas feministas, a Marcha das Vadias uma

    prtica atual que derivou domovimento Slutwalk originado em Toronto, no Canad em

    2011. Tal movimento rene aes coordenadas com o objetivo de protestar contraa crena

    deque as mulheres vtimas de estupro provocam os atos de violnciasexual em decorrncia

    da vestimenta que usam, sendo comum em tais protestos asmulheres usarem roupas tidas

    como provocantes (Pinheiro, 2012, s.n.).

    Este episdio mobilizou mulheres de todo o mundo, caracterizando manifestaes

    de reprovao da desigualdade de gnero que ocorre de forma discriminatria e expressa

    de diversos modos nas prticas cotidianas das sociedades atuais. Ocorrida a primeira

    manifestao em Toronto, em 3 de abril de 2011, a Marcha das Vadias percorreu o Brasil:

    acontecendo, primeiramente, em So Paulo, em 4 de junho do mesmo ano e, em seguida,

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    nas diversas capitais: Salvador, Curitiba, Rio de Janeiro, Fortaleza, Belo Horizonte, Vitria,

    Recife, dentre outras (PINHEIRO, 2012; RASSI, 2012). Chegando Ponta Grossa-PR, no

    ano de 2012.

    2. Procedimentos metodolgicos

    A partir da visibilidade que a Marcha das Vadias obteve nas principais cidades

    brasileiras, em 2012, no municpio de Ponta Grossa-PR, um grupo de ativistas feministas se

    organizou para mobilizar a populao da cidade. Deste modo, a marcha da referida cidade

    ocorreu no dia 11 de agosto de 2012, contando com a participao de aproximadamente

    500 pessoas, de diversos gneros e idades. A marcha foi registrada, alm de fotografias, por

    meio de um vdeo que documentou (congregando fotos e imagens em movimento) todo o

    momento da passeata, sendo posteriormente editado e resumido em aproximadamente 28

    minutos de durao.

    Intitulado Artigo 5, o documentrio foi divulgado como um material

    independente, libertrio e anti-sexista. Ele aborda os principais momentos da semana pr-

    marcha3 e da realizao da manifestao. O material foi produzido pelo Coletivo Feminista

    Corina Portugal (tambm da cidade de Ponta Grossa), fundado em 2012. Este documentrio

    apresentou-se a ns como uma fonte importante para aprofundar o estudo sobre os

    processos de subjetivao e as prticas de resistncia da mulher, uma vez que dele podem

    ser destacados discursos e enunciados pelos quais objetivamos chegar aos modos de

    operao das inter-relaes de saber-poder-subjetividade, na medida em que as prticas de

    resistncia so atravessadas por eles, compondo linhas de fuga aos processos de

    subjetivao da mulher. Estes ltimos perpetrados por prticas de disciplinarizao,

    vigilncia e controle dos corpos.

    Optamos por selecionar cenas que tiveram maior destaque na edio do

    documentrio e sob o nosso olhar analtico, assim como aquelas que condisseram com o

    nosso objeto de estudo. Portanto, depreenderam-se, do documentrio, cenas e imagens

    3 A qual contou com eventos preparatrios, tais como palestras, oficinas, caf comunitrio, mostra e curtas

    feministas e oficina de batucada (preparao dos gritos e confeco de instrumentos tambores para a marcha).

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    fotogrficas, sendo estas tratadas como discursos e/ou enunciados (expressos ou no pelos

    corpos dos sujeitos que marcharam) no decorrer da anlise.Desta forma, tais recortes

    permitem analisar as visibilidades de um campo histrico no qual se constituem as lutas

    feministas e as prticas de resistncia da mulher. Nos detivemos, metodologicamente, em

    investigar, nas sries/fragmentos discursivos e enunciativos, aqueles que rompem e/ou

    transformam constituies de saberes e incitam novas prticas de subjetivao da mulher

    (LEMOS et al., 2010).

    3 As prticas de resistncia da mulher visibilizadas na Marcha das Vadias

    As inscries enunciativas e discursivas em corpos e cartazes foram tratadas com

    base em alguns eixos temticos apreendidos das cenas do documentrio e de registros

    fotogrficos feitos durante a manifestao e posteriormente divulgados. Alguns destes eixos

    sero aqui apresentados de forma no-linear, uma vez que eles se atravessam e configuram

    prticas sociais diversas que compem os processos de subjetivao da mulher. As prticas

    de resistncia estiveram ancoradas na oposio ou luta contra as prticas sociais que

    operam pela disciplinarizao (heteronormativa) do corpo feminino e dos modos de ser

    mulher, pela violncia contra a mulher, pela discriminao, pela excluso, etc.

    Por ter sido a motivao inicial da Marcha das Vadias, tal qual esta mobilizao

    ficou conhecida no Brasil, a violncia contra a mulher foi o tema mais visibilizado durante

    a manifestao; sendo ela domstica ou praticada em qualquer outro mbito social. Das

    produes discursivas, dois cartazes (figuras 1 e 2) podem ser destacados, por visibilizarem

    esta prtica social, convocando as mulheres a denunciarem esta violncia.

    Tambm foram visibilizadas prticas que subjugam as mulheres a lugares sociais de

    puta, vadia e vagabunda (figura 3); enunciados estes que procuram ser descontrudos

    (inclusive por uma marcha que faz uso desta denominao), mas que persistem na

    construo dos modos de visibilidade e dizibilidade sobre/da mulher.

    Os direitos da mulher frente proteo social com relao violncia,

    particularmente a domstica e familiar, pretendem ser assegurados por meio de dispositivos

    jurdico-legais. Dentre eles, a Lei Federal (BRASIL, 2006) n 11.340 de 2006: Lei Maria da

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    Penha. Esta lei decorreu de lutas feministas e da visibilizao das condies de muitas

    mulheres que sofreram violncias fsicas, psicolgicas, sexuais, etc. A referida lei

    representa um marco da conquista e do reconhecimento da vulnerabilidade social da

    mulher; o que levou discusso e elaborao de polticas pblicas especficas para efetivar

    o amparo e proteo a esta parcela da populao.

    Pela importncia do artigo 5 da lei citada, quanto visibilidade deste tipo de

    violncia e o modo como as mulheres esto e vem sendo expostas a ele, sublinhamos que

    tambm o documentrio intitulado pelo enunciado Artigo 5. Na marcha, ele aparece na

    forma enunciativa (figura 4): Hey, voc que tem um pinto, respeite o artigo 5; indicando

    o homem como o agressor frequentemente envolvido nestes casos, e reafirmando, uma vez

    mais, o modo como o discurso machista legitima esta prtica.

    Assim sendo, os corpos femininos podem ser apropriados pelos homens uma vez

    que as mulheres so impossibilitadas de terem autonomia sobre seu prprio corpo, este

    ltimo, institudo e disciplinado procriao da espcie humana (SWAIN, 2007). Este

    saber-poder biologicista coloca o homem em uma posio privilegiada em relao ao corpo

    da mulher, legitimando prticas sociais de violncia contra a mesma, de forma a perpetuar a

    sociedade patriarcal e machista nas sociedades contemporneas.

    Uma vez que, como apontado, os discursos machistas e sexistas acabam por

    produzir prticas de violncia, discriminao, excluso e estigmatizao da mulher, a luta

    feminista tambm se pauta na oposio a estes, a fim de romper com estas verdades,

    deslocar o lugar e as marcaes sociais das mulheres e, assim, produzir prticas de

    resistncia normatividade de gnero. A luta pela igualdade de gneros tem destaque neste

    contexto.

    Na marcha, homens (figura 5) se unem s mulheres e se mostram a favor da

    equidade de direitos, com o intuito de desconstruir os discursos heteronormativos,

    machistas e patriarcais que contribuem para a legitimao de prticas sexistas.

    A questo da sexualidade e dos direitos reprodutivos, por sua vez, pautada por

    meio de inscries enunciativas em corpos e cartazes e de gritos de guerra, que defendem

    a ideia de que nem a vestimenta da mulher nem a ingesto de bebida alcolica (figura 6)

    pelo homem podem ser utilizadas como justificativas para estupro/abuso sexual. Eu s

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    quero ser feliz, andar tranquilamente com a roupa que eu escolhi, e poder me assegurar,

    de burca ou de shortinho todos vo me respeitar.

    Os corpos (semi)nus, bem como os enunciados cantados e escritos/inscritos (meu

    corpo no ertico - figura 7), buscam deslocar as visibilidades e dizibilidades

    (erotizadas) do corpo da mulher, situando-os para alm da carne. Portanto, uma das

    principais caractersticas da marcha o seio mostra (figura 8), uma afirmao de

    resistncia que pretende visibilizar a deserogenizao do corpo da mulher - para alm e

    muito mais do que um objeto sexual de prazer.

    Fazendo parte de uma histria scio-poltica e cultural, os processos de subjetivao

    da mulher esto em constante transformao, sendo passveis conformao de prticas de

    resistncia e performaes subjetivas pautadas na diferena, em oposio norma e s

    identidades heteronormativas - tal qual se propem as lutas feministas e a Marcha das

    Vadias. Deste modo, esta (re)construo dos modos de ser mulher passa a ser anloga ao

    tempo e a constante mudana das tecnologias de gnero (de disciplinarizao e

    pedagogizao dos corpos, sujeitos e sexualidades) empregadas em nossa sociedade e a

    forma como elas so invertidas e/ou aceitas nas prticas sociais.

    Figura 1Figura 2Figura 3 Figura 4

    Figura 5 Figura 6 Figura 7 Figura 8

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    Fonte: Documentrio Artigo 5

    4 Consideraes Finais

    O movimento feminista, desde a sua origem, buscava e ainda busca a

    horizontalidade das relaes sociais, primeira e especialmente entre homens e mulheres,

    seja no mbito poltico ou social. Isto , na luta pelo direito da mulher quanto ao exerccio

    da sua cidadania (e que este se d de forma igualitria a dos homens), e na produo de

    novos modos de ser mulher em uma sociedade sexista, machista e heteronormativa. Na

    medida em que, por meio de prticas de resistncia provocam o deslocamento das

    visibilidades e dizibilidades da e sobre a mulher.

    Deste modo, por meio e para alm desse movimento social, as mulheres

    (des)ocuparam lugares sociais e discursos scio-culturalmente organizados. isto que a

    Marcha das Vadias, enquanto uma mobilizao social, d a ver, pelas lutas e conquistas

    travadas no cotidiano de cada uma das mulheres; bem como de outros segmentos

    populacionais (particularmente LGBTT) que a ela se juntam em meio identificao e/ou

    apoio contra as mesmas prticas sociais a que esto expostas (de violncia de gnero, de

    discriminao, de objetificao, mercantilizao e erotizao do corpo, etc.). Tais

    visibilidades indagam a sociedade, sobre as suas estruturas normativas e disciplinares, e o

    Estado, sobre as prticas governamentais - na figura das polticas pblicas - que precisam

    responder s problemticas sociais especficas enfrentadas por elas.

    Atualmente, o movimento feminista tem se organizado no mundo todo protestando

    contra a crena de que as mulheres vtimas de violncia/abuso sexual so responsveis por

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    este crime devido ao modo como se vestem; de forma mais contundente, devido ao direito

    que tm - e que, por vezes, lhe negado - sobre o prprio corpo. Como vimos, a Marcha

    das Vadias (originalmente denominada SlutWalk) foi estendida a vrias partes do mundo,

    revelando o lugar comum que a mulher convidada a ocupar nas sociedades que se

    conformam, histrica e politicamente, de maneira heteronormativa, mediante relaes e

    prticas sociais sexistas e machistas.

    A violncia contra a mulher, o processo de deserogenizao dos corpos femininos, a

    objetificao e a mercantilizao do corpo da mulher, juntamente com a luta pela igualdade

    de gneros, foram as principais pautas da Marcha das Vadias realizada em Ponta Grossa-

    PR e analisada, neste trabalho, a partir de registros fotogrficos e do documentrio dela

    produzido (Artigo 5). Essas pautas fazem parte de prticas de resistncia da mulher,

    como dito, e puderam ser visibilizadas, por intermdio dos sujeitos que marcharam nas

    inscries discursivas e enunciativas presentes nos cartazes e corpos que ali estavam. Eram

    palavras escritas, vozes e silncios gritando: denunciando prticas normalizadoras e

    disciplinarizadoras, e se apresentando como linhas de fuga frente s capturas

    cotidianamente presentes na vida das mulheres. Buscando, deste modo, novos lugares

    sociais, novas formas de se subjetivar enquanto mulher - com relao ao seu corpo, a sua

    sexualidade, a sua orientao sexual, etc.

    Os discursos machistas e sexistas arraigados na sociedade e (re)produzidos pelas

    verdades produzidas sobre o que ser mulher e como se deve ser mulher e pelas relaes

    de poder presentes nas prticas sociais, normatizam e disciplinam as condutas das mulheres

    impondo-lhes a forma de como vestir-se, portar-se, etc. A oposio a esses discursos pode

    ser percebida no documentrio e destacada com um dos vieses das prticas de resistncia.

    As prticas de resistncia, tal como as visibilizadas na marcha, realizam

    movimentaes na produo de saberes e fazeres, nas prticas (no)discursivas que

    constituem as mulheres e seus territrios existenciais, realocando lugares sociais

    normatizados e normalizados dentro de uma dimenso histrico-poltica. A luta em forma

    de protesto torna visvel uma ou vrias causas, convida a sociedade a olhar, debater,

    combater e pensar sobre as prticas heteronormativas de violncia, opresso, discriminao

    e excluso.

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    Assim sendo, a Marcha das Vadias prope e evidencia novos modos de ser

    mulher, novos modos de a sociedade pensar a mulher, alargando suas possibilidades de

    ocupao de lugares sociais, suas possibilidades de relao com os outros e com os espaos

    socialmente organizados. Enfim, visibilizando os espaos de liberdade que so produzidos

    cotidianamente por sujeitos - mulheres ou no - que buscam romper com os cerceamentos e

    capturas normativas e disciplinadoras presentes nas prticas sociais (no)discursivas.

    Referncias Bibliogrficas

    BRASIL. Lei n 11.340, de 07 de agosto de 2006. Lei Maria da Penha. Disponvel em:

    . Acessoem: 9

    de novembro de 2013.

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    . Acesso em: 06 de junho de 2013.