A memória das formas - Vertigo e suas releituras (resumo)

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II Jornada Programa de Pós-graduação em Meios e Processos Adiovisuais 14 de outubro de 1 UNIVERSIDADE DE S Ã O PAULO ESCOLA DE COMUNICAÇÕES E ARTES A memória das Formas: Vertigo e suas releituras Luiz Carlos Gonçalves de Oliveira Júnior [email protected] Orientação: Ismail Norberto Xavier Nível: Doutorado Linha de Pesquisa: História, Teoria e Crítica Palavras-chave: Estética e estilística cinematográficas, História do cinema, Hitchcock Resumo A história do cinema está repleta de repetições, retornos, reciclagens, reposições (para não falar nos remakes, prática comum desde os primórdios do cinematógrafo). Algumas obras em particular forneceram verdadeiros modelos, ou motivos (no sentido que a palavra possui nas artes plásticas: uma ideia, padrão, imagem ou tema que retorna constantemente, numa mesma obra, numa série de obras de um mesmo autor ou em diferentes obras de diferentes autores). De todos os inventores de formas do período clássico, Alfred Hitchcock foi certamente o que mais motivos colocou à disposição dos cineastas (e videoartistas) que vieram depois dele, de Brian De Palma a Chantal Akerman, passando por Gus Van Sant, Larry Cohen, John Carpenter, Dario Argento, José Luis Guerín, Pierre Huyghe, Douglas Gordon e tantos outros. Filmes como "Janela Indiscreta" (Rear Window, 1954), "Um Corpo que Cai" (Vertigo, 1958), "Psicose" (Psycho, 1960) e "Os Pássaros" (The Birds, 1963) foram retomados, em cenas isoladas ou mesmo em narrativas inteiras, por diversos realizadores desde os anos 1960. As imagens hitchcockianas parecem naturalmente destinadas à repetição, ao eterno retorno. Um filme em particular, "Vertigo", tem sido ao longo das décadas objeto privilegiado de releituras, de reflexões estéticas ou mesmo de ensaios fílmicos (a exemplo do que Chris Marker faz em “Sem Sol” ou Godard em “Histoire(s) du Cinéma”). Fundado no caráter cativante e ilusório das aparências, “Vertigo” é um filme que tem por objeto a Ideia, “no sentido nobre, platônico do termo”, segundo a fórmula precisa de Éric Rohmer. O enredo do filme já é pautado na repetição, no retorno de uma imagem que obceca – a imagem da mulher que fascina o personagem de James Stewart. Igualmente fascinados com o filme, diversos diretores vêm dando, nas últimas décadas, sua leitura particular de “Vertigo”. Podemos mesmo dizer que

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1 U N I V E R S I D A D E D E S Ã O P A U L O E S C O L A D E C O M U N I C A Ç Õ E S E A R T E S

A memoria das Formas: Vertigo e suas releituras

Luiz Carlos Gonçalves de Oliveira Júnior

[email protected]

Orientação: Ismail Norberto Xavier

Nível: Doutorado

Linha de Pesquisa: História, Teoria e Crítica

Palavras­chave: Estética e estilística cinematográficas, História do cinema, Hitchcock

Resumo

A história do cinema está repleta de repetições, retornos, reciclagens, reposições (para não falar nos remakes, prática comum desde os primórdios do cinematógrafo). Algumas obras em particular forneceram verdadeiros modelos, ou motivos (no sentido que a palavra possui nas artes plásticas: uma ideia, padrão, imagem ou tema que retorna constantemente, numa mesma obra, numa série de obras de um mesmo autor ou em diferentes obras de diferentes autores). De todos os inventores de formas do período clássico, Alfred Hitchcock foi certamente o que mais motivos colocou à disposição dos cineastas (e videoartistas) que vieram depois dele, de Brian De Palma a Chantal Akerman, passando por Gus Van Sant, Larry Cohen, John Carpenter, Dario Argento, José Luis Guerín, Pierre Huyghe, Douglas Gordon e tantos outros. Filmes como "Janela Indiscreta" (Rear Window, 1954), "Um Corpo que Cai" (Vertigo, 1958), "Psicose" (Psycho, 1960) e "Os Pássaros" (The Birds, 1963) foram retomados, em cenas isoladas ou mesmo em narrativas inteiras, por diversos realizadores desde os anos 1960. As imagens hitchcockianas parecem naturalmente destinadas à repetição, ao eterno retorno. Um filme em particular, "Vertigo", tem sido ao longo das décadas objeto privilegiado de releituras, de reflexões estéticas ou mesmo de ensaios fílmicos (a exemplo do que Chris Marker faz em “Sem Sol” ou Godard em “Histoire(s) du Cinéma”). Fundado no caráter cativante e ilusório das aparências, “Vertigo” é um filme que tem por objeto a Ideia, “no sentido nobre, platônico do termo”, segundo a fórmula precisa de Éric Rohmer. O enredo do filme já é pautado na repetição, no retorno de uma imagem que obceca – a imagem da mulher que fascina o personagem de James Stewart. Igualmente fascinados com o filme, diversos diretores vêm dando, nas últimas décadas, sua leitura particular de “Vertigo”. Podemos mesmo dizer que

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“Vertigo” se tornou uma imagem-matriz, um modelo formal que atravessa a história recente do cinema pedindo constante reatualização. Pretendo destacar de que modo "Vertigo" engendrou inúmeras releituras e diálogos – "Trágica Obsessão" (Obsession, De Palma, 1975), "Dublê de Corpo" (Body Double, De Palma, 1984), "Special Effects" (Larry Cohen, 1984), "A Prisioneira" (La Captive, Chantal Akerman, 2000), "Cidade dos Sonhos" (Mulholland Dr., David Lynch, 2001), “Conto de Cinema” (Hong Sang-soo, 2005), "Na cidade de Sylvia" (En la ciudad de Sylvia, Guerín, 2007), entre outros – a partir dos quais podemos traçar toda uma história das formas cinematográficas dos últimos cinquenta anos.

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Bibliografia

ARAÚJO, Inácio. Alfred Hitchcock. O mestre do medo. São Paulo: Brasiliense, 1982.

AUMONT, Jacques, “Alfred Hitchcock tel que je l'imagine”, in Matière d'images, Paris: Éditions Images Modernes, 2005.

BONITZER, Pascal, “Le suspense hitchcockien”, in Le champ aveugle: essais sur le réalisme au cinema, Paris: Éditions Cahiers du Cinéma, 1999. pp. 35-52.

DOUCHET, Jean. Hitchcock. Paris: Ed. Cahiers du Cinéma, 1999, 2006.

LAGIER, Luc. Les mille yeux de Brian De Palma. Paris: Cahiers du Cinéma, 2008.

PANOFSKY, Erwin. Idea: a evolução do conceito do Belo. 2a ed. São Paulo: Martins Fontes, 2000.

ROHMER, Éric. Le goût de la beauté. Paris: Éditions de l'Étoile/Flammarion, 1989.

XAVIER, Ismail. O olhar e a cena. São Paulo: Cosac & Naify, 2003.