A Memoria Emocional Em Homens e Mulheres
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UNIVERSIDADE DE BRASLIA
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
DEPARTAMENTO DE PROCESSOS PSICOLGICOS BSICOS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DO COMPORTAMENTO
A MEMRIA EMOCIONAL EM HOMENS E MULHERES
NELSON ROCHA DE OLIVEIRA
Braslia
2009
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UNIVERSIDADE DE BRASLIA
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
DEPARTAMENTO DE PROCESSOS PSICOLGICOS BSICOS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DO COMPORTAMENTO
A MEMRIA EMOCIONAL EM HOMENS E MULHERES
NELSON ROCHA DE OLIVEIRA
Orientador: Prof. GERSON AMRICO JANCZURA, Ph.D.
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de
Ps-Graduao em Cincias do Comportamento
do Departamento de Processos Psicolgicos
Bsicos do Instituto de Psicologia, Universidade
de Braslia como requisito parcial para a
obteno do diploma de Doutor em Cincias do
Comportamento rea de Concentrao:
Cognio e Neurocincias do Comportamento.
Braslia, Novembro de 2009
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3
Sumrio
Banca examinadora................................................................................................................. 7
Dedicatria.............................................................................................................................. 8
Agradecimentos ...................................................................................................................... 9
Resumo ................................................................................................................................. 10
Abstract ................................................................................................................................. 11
Introduo ............................................................................................................................. 12
Medidas de Memria ................................................................................................... 15
Memria e Carga Afetiva dos Estmulos ..................................................................... 18
Memria e Induo do Humor..................................................................................... 20
Memria e Congruncia do Humor ............................................................................. 22
Memria e Emoo ...................................................................................................... 25
Memria, Sexo e Emoo ............................................................................................ 27
Memria, Humor Disfuncional e Sexo ........................................................................ 33
Experincia Subjetiva da Emoo e Sexo ................................................................... 36
Memria, Sexo e Organizao Neuropsicolgica das Emoes ................................. 40
Metodologia .......................................................................................................................... 46
Problema ...................................................................................................................... 46
Experimento 1 ............................................................................................................. 50
Hipteses ............................................................................................................ 51
Mtodo ................................................................................................................ 53
Participantes .............................................................................................. 53
Delineamento ............................................................................................. 54
Materiais .................................................................................................... 54
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4
Procedimentos ........................................................................................... 56
Resultados ........................................................................................................... 60
Discusso ............................................................................................................ 63
Experimento 2 ............................................................................................................. 65
Hipteses ............................................................................................................ 66
Mtodo ................................................................................................................ 66
Participantes .............................................................................................. 66
Delineamento ............................................................................................. 67
Materiais .................................................................................................... 67
Procedimentos ........................................................................................... 68
Resultados ........................................................................................................... 70
Discusso ............................................................................................................ 71
Experimento 3 ............................................................................................................. 72
Hipteses ............................................................................................................ 73
Mtodo ................................................................................................................ 74
Participantes .............................................................................................. 74
Delineamento ............................................................................................. 74
Materiais .................................................................................................... 75
Procedimentos ........................................................................................... 76
Resultados ........................................................................................................... 76
Discusso ............................................................................................................ 78
Discusso Final ..................................................................................................................... 80
Referncias Bibliogrficas .................................................................................................... 86
Anexos ................................................................................................................................ 102
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Anexo 1 Termo de consentimento livre e esclarecido ............................................. 103
Anexo 2 Instrues para induo do humor triste ................................................... 104
Anexo 3 Instrues para induo do humor alegre ................................................. 106
Anexo 4 Instrues para a medida reconhecimento ................................................ 108
Anexo 5 Figuras do IAPS utilizadas na fase de treino do Experimento 1............... 109
Anexo 6 Figuras do IAPS utilizadas no Experimento 1 .......................................... 110
Anexo 7 Instrues para a medida completar fragmentos de palavras.................... 113
Anexo 8 Lista de estmulos dos Experimentos 2 e 3 ............................................... 114
Anexo 9 Fragmentos de palavras utilizados nos Experimentos 2 e 3 ..................... 116
Anexo 10 Lista de figuras distratoras do experimento 2 ......................................... 117
Anexo 11 Escala para medida de humor (Medida 1) .............................................. 119
Anexo 12 Medida de alegria (Medida 2) ................................................................. 121
Anexo 13 Lista de figuras do Experimento 3 .......................................................... 122
Anexo 14 Parecer do Comit de tica ..................................................................... 123
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6
Lista de Tabelas
Tabela 1 Mdias, amplitudes e DP das figuras alvo .................................................. 55
Tabela 2 Mdias, amplitudes e DP das figuras distratoras ........................................ 55
Tabela 3 Mdias e DP das medidas de humor 1 e 2 .................................................. 61
Tabela 4 Amplitudes, mdias e DP das palavras positivas e negativas ..................... 67
Tabela 5 Mdias e DP das medidas de humor 1 e 2 .................................................. 70
Tabela 6 Amplitudes, mdias e DP das palavras positivas e negativas ..................... 75
Tabela 7 Mdias e DP das medidas de humor 1 e 2 .................................................. 77
Lista de Figuras
.
Figura 1 Sequncia de etapas do experimento reconhecimento ................................ 56
Figura 2 Sequncia de etapas do experimento completar fragmentos de palavras ... 68
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7
UNIVERSIDADE DE BRASLIA
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
DEPARTAMENTO DE PROCESSOS PSICOLGICOS BSICOS
PROGRAMA DE PS-GRADUAO EM CINCIAS DO COMPORTAMENTO
BANCA EXAMINADORA
Professor Gerson Amrico Janczura, Ph.D. Presidente
Departamento de Processos Psicolgicos Bsicos Universidade de Braslia
Professor Dr. Orlando Francisco Amodeo Bueno Membro Externo
Departamento de Psicobiologia Universidade Federal de So Paulo
Professora Dra. Vera Lcia Decnop Coelho Membro Externo
Departamento de Psicologia Clnica Universidade de Braslia
Professor Dr. Antnio Pedro de Mello Cruz Membro Interno
Departamento de Processos Psicolgicos Bsicos Universidade de Braslia
Professora Dra. Goiara de Castilho Mendona Membro Interno
Departamento de Processos Psicolgicos Bsicos Universidade de Braslia
Dr. Tin Po Huang Membro Externo
Suplente
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Dedico este trabalho ao meu pai
Antnio Leite pela vida e pelo que hoje sou.
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AGRADECIMENTOS
Agradeo ao meu orientador Gerson Amrico Janczura, de quem nunca se pode
duvidar da seriedade com que conduz o trabalho, pelo amor que dedica pesquisa e pela
retido moral que pauta todas as suas relaes.
Agradeo minha famlia que compreendeu os momentos de minha ausncia, e que
me ofereceu todo o suporte emocional para a consecuo do trabalho de tese.
Agradeo aos meus pais, Antnio Leite de Oliveira e Clvia Isabel Rocha
de Oliveira pelo que hoje sou.
Agradeo aos meus inesquecveis amigos Weber de Lima Bonfim e Luiz
Signates cujas mentes brilhantes so minha inspirao de trabalho.
Agradeo aos muitos participantes dos experimentos que so os responsveis diretos
pela consecuo da pesquisa.
Agradeo Karla Patrcia Miranda Rocha, Stephanie Ferreira de Melo Santos e
Patrcia Passos de Carvalho Ramos que colaboraram na coleta de dados.
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Resumo
O presente trabalho investigou como palavras e figuras com cargas afetivas
positivas e negativas influenciam a memria de homens e mulheres em que foram
induzidos os humores triste ou alegre. Foi utilizada uma medida explcita, o teste de
reconhecimento de figuras, e uma medida implcita, o completar fragmentos de palavras.
No Experimento 1, 58 participantes decidiram se as figuras do teste haviam sido vistas ou
no na fase de estudo. Os estmulos foram figuras positivas, negativas e neutras do
International Affective Picture System (IAPS). Os resultados revelaram que a lembrana
das mulheres superior a dos homens, independente da valncia do material e do humor
induzido. Os homens, por sua vez, geraram mais erros de memria e as figuras distratoras
neutras tiveram maior probabilidade de rejeio correta que as negativas e essas mais que
as positivas. Os experimentos 2 e 3 utilizaram uma medida implcita de memria e um total
de 131 participantes. Palavras com cargas afetivas positivas e negativas foram vistas na fase
de estudo e corresponderam a fragmentos de palavras na fase de teste. Palavras positivas
foram lembradas mais que as negativas em ambas as condies de induo do humor. Esses
resultados replicaram Oliveira e Janczura (2004) que postularam um sistema implcito de
manuteno do humor. Alm disto, o desempenho da memria das mulheres foi melhor que
dos homens. Esse achado foi interpretado como indicativo de que as mulheres apresentam
um mecanismo de busca na memria mais extenso quando sob um determinado estado de
humor e quando o item a ser buscado tiver uma carga afetiva.
Palavras-chave: memria, emoo, sexo, carga afetiva, induo do humor.
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Abstract
The present work investigated how words and pictures with positive and negative
valence influence memory of men and women under two induced humor conditions
(happiness, sadness). Both, an explicit measure (picture recognition test), and an implicit
measure (fragment word completion) were used. In Experiment 1, 58 participants judged
whether pictures had been presented during the study phase. Stimuli were positive, negative
and neutral pictures from the International Affective Picture System (IAPS). The results
revealed that womens memory were better than men, regardless of materials valency and
induced humor. Men generated more memory errors. Neutral distractors showed higher
probability of correct rejection than negative and those higher than positive ones.
Experiments 2 and 3 used an implicit measure of memory and tested 131 participants.
Positive and negative words presented in the study phase corresponded to word fragments
in the test phase. Positive words were more likely remembered than negative, regardless of
humor state. These results replicated Oliveira and Janczura (2004) that postulated an
implicit system for humor maintenance. Also, women's memory performance was better
than men. It is suggested that women present a more extensive search mechanism in
memory under induced humor conditions for affective items.
Key words: memory, emotion, gender, stimulus valence, humor induction.
.
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Introduo
A emoo deixou de ser assunto exclusivo dos amantes e poetas. A hiptese
positivista da neutralidade caiu por terra para dar lugar a uma viso do homem que sente e
influenciado emocionalmente pelos eventos que ocorrem ao seu redor. Tratar de emoo
como evento que influencia a memria significa reconhec-la como fora altamente
construtiva da experincia humana e, como tal, merecedora de investigao cientfica
meticulosa (Cacioppo & Gardner, 1999).
Os sentimentos humanos so variados e derivam de um culminar adaptativo que
preparou os membros de nossa espcie para interaes mais complexas com os semelhantes
e a natureza do que as demais espcies. Amor, alegria, choro, tristeza, saudade, felicidade,
paixo, raiva, susto, medo, desespero, tdio, teso, surpresa, cimes e prazer so
sentimentos vivenciados pelas pessoas diariamente.
Muitos estmulos ambientais so capazes de produzir tais respostas emocionais
(Russel, Bachorowiski & Fernndez-Dols, 2003 para uma reviso). Testemunhar acidentes,
ver animais doentes, ganhar presentes ou perder algo significativo podem ser interpretados
emocionalmente pelo organismo. Sentenas que possuem contedo emocional tambm tm
constante aparecimento em estmulos ambientais. O telejornal, o dilogo com amigos, a
conversa ao lado, trechos de uma obra de Machado de Assis, so exemplos de
circunstncias em que as informaes veiculadas podem carregar contedos ricos em
emocionalidade. A lembrana de eventos com carga afetiva tem maior chance de
influenciar o comportamento em vrias situaes da vida diria dos indivduos do que as de
carga neutra (Blaney, 1986), alm do que estados emocionais influenciam fortemente a
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recuperao de eventos, a percepo social e o aprendizado de novos materiais (Bower,
1981; Teasdale, 1983).
O que afinal a emoo? Como ela influencia a memria? O que diferencia homens
e mulheres em seu funcionamento e em sua expresso em uma tarefa de memria? De que
forma ela participa da organizao mental da memria? O estado emocional influenciaria
diferencialmente a memria de acordo com o sexo? Essas e outras perguntas tm sido feitas
por pesquisadores de diversas reas da psicologia, biologia, inteligncia artificial, filosofia,
economia, antropologia, cincias da sade, entre outras. A proposta de trabalho apresentada
aqui visa, de um lado, recorrer literatura para buscar respostas s quatro primeiras
questes, de tal forma a delinear o estado da arte da pesquisa e da produo intelectual
em memria e emoo. Por outro lado, necessrio proceder a uma investigao para que a
ltima questo tenha resposta. A tese defendida pelo presente trabalho que mulheres
teriam um processamento da informao emocional mais extenso, o que resultaria em
lembrana dessemelhante com relao aos homens. Se houver um processamento
diferencial da memria entre homens e mulheres, de tal maneira que pudesse ser
identificado pela manipulao experimental, quais procedimentos seriam sensveis o
suficiente para captur-lo? O caminho que se seguiu para responder a essa questo incluiu a
realizao de testes diferentes de memria e manipulaes que envolveram estmulos e
estados emocionais induzidos.
Nesta reviso da literatura so apresentadas as razes que justificam o esforo
presente. Parte-se de elementos definidores sobre medidas de memria, carga afetiva,
induo do humor e emoo. Posteriormente, so delineadas diferenas cognitivas e
emocionais entre homens e mulheres, de modo a traar um panorama descritivo que
oferecer suporte e ajudar a delimitar o trabalho de pesquisa, e feita uma reviso das
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diferenas encontradas nas suas memrias para a sustentao da proposta
terico/experimental.
So descritos, a seguir, os tipos de medidas de memria envolvidos no delineamento
experimental e que so elementos bsicos para este trabalho, j que os mesmos constituem
os paradigmas adotados como forma de investigar a questo. Posteriormente se descreve a
funo da carga afetiva dos estmulos nos processos de memria e como eles interferem nos
mesmos. Logo em seguida, a pesquisa sobre induo do humor, seus pressupostos e
achados relevantes, alm das manipulaes utilizadas por tericos da rea so apresentados.
Na sequncia se descreve o fenmeno da congruncia do humor que se refere lembrana
de itens relacionados ao estado afetivo do indivduo durante a codificao. No item
memria e emoo so apresentadas pesquisas que utilizaram a manipulao do humor
como elemento influenciador da lembrana. Subsequentemente feita uma reviso de como
sexo, emoo e carga afetiva afetam a memria conjuntamente. A seo memria, humor
disfuncional e sexo evidencia o papel do estresse, da ansiedade e da depresso sobre a
mulher, o que indicaria um possvel diferencial na lembrana entre sexos. No item a
experincia subjetiva da emoo e sexo explorada a vivncia emocional de homens e
mulheres de tal forma a contextualizar e justificar a direo do esforo terico empreendido
neste trabalho. Por fim, memria, sexo e organizao neuropsicolgica das emoes faz um
apanhado dos achados obtidos atravs das mais modernas tcnicas de imageamento
cerebral sobre a morfologia das emoes, as correntes tericas advindas desse novo
conhecimento e como crebros de mulheres e homens se diferenciam quando o assunto
emoo.
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Medidas de Memria
O contedo da memria inclui o conjunto das representaes mentais armazenadas
pelo sistema cognitivo. Estas representaes estariam organizadas por ligaes que
possuiriam um peso ou uma fora e que influenciariam na probabilidade de sua utilizao.
Concebe-se a existncia de representaes cujo acesso ou ativao pode ser intencional ou
explcito e representaes de acesso no intencional ou implcito e que distinguem entre
maneiras diferentes de lembrana de eventos passados: memria explcita e memria
implcita (Graf & Schacter, 1985). A memria explcita se refere evocao de
experincias anteriores a partir de uma demanda consciente, em que haveria uma ao
deliberada do indivduo em recuperar ou reconhecer fatos do seu passado. A memria
implcita revelada por uma facilitao no desempenho do indivduo quando um evento
armazenado influencia o seu comportamento na ausncia de uma deliberao consciente
para o acesso informao. A memria explcita tem sido subdividida em memria
episdica (referente a experincias pessoais que envolvem contexto) e memria semntica
(que diz respeito ao conhecimento geral do mundo). Quanto ao tempo de reteno, a
memria tem sido subdividida em memria sensorial de armazenamento brevssimo pelos
rgos sensoriais; memria de curto prazo com poucos minutos de durao; e memria de
longo prazo de durao indeterminada. A memria inclui os processos de codificao,
armazenamento ou consolidao e lembrana da informao (Tulving & Craik, 2000).
Este trabalho emprega paradigmas experimentais de memria explcita e implcita,
para investigar como o fator emocional e o sexo interferem na lembrana. As medidas de
memria avaliam quantitativa ou qualitativamente os dados lembrados. Desde Ebbinghaus,
a testagem experimental da memria tem envolvido, na maioria dos paradigmas
experimentais, dois momentos bsicos: uma fase de estudo e uma fase de teste. Na fase de
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estudo os estmulos so disponibilizados ao participante e vrios controles so utilizados
para que o experimentador se certifique que o indivduo realmente se manteve atento aos
estmulos. As pessoas testadas se encontram em um contexto espao-temporal especfico,
no qual entram em contato com o objeto de investigao requerido pelo pesquisador,
geralmente em um ambiente de laboratrio. Esse objeto pode ser uma lista de palavras,
figuras, sentenas (Richardson-Klavehn & Bjork, 1988) ou outro fato especfico de suas
vidas, incluindo aprendizado motor e regras para resoluo de problemas. A fase de teste
usada para se medir a quantidade e finalidade da lembrana que o indivduo tem da fase de
estudo. Quando as instrues oferecidas ao participante fazem referncia direta
informao a ser lembrada, trata-se de uma medida direta. J em uma medida indireta as
instrues despistam do objetivo de se medir a memria. Ao longo dos anos, vrias
denominaes para os testes diretos de memria foram utilizadas: so chamados de
autobiogrficos, diretos, episdicos, explcitos, intencionais e locais, j os indiretos foram
chamados de implcitos, no intencionais ou semnticos (Jacoby, 1984 apud Richardson-
Klavehn & Bjork, 1988; Johnson & Hasher, 1987; Graf & Schacter, 1985; Schacter, 1987;
Jacoby & Dallas, 1981).
Entre os paradigmas que utilizam medidas diretas esto a recuperao livre, a
recuperao com pista e o reconhecimento. Para que haja reconhecimento solicita-se ao
participante que discrimine estmulos vistos anteriormente na fase de estudo de outros
apresentados somente na fase de teste (Luo, 1993; Mandler, 1980, MacKee & Squire,
1993). No caso da recuperao com pista estmulos que servem como pistas apresentam
uma maior probabilidade na evocao do evento alvo e podem ser intralista, quando as
pistas aparecerem durante as fases de estudo e teste (Borowsky & Besner, 1993); ou
extralista, quando elas figuram apenas durante o teste (Schreiber & Nelson, 1998). Elas
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podem se relacionar com o evento de forma grafmica, fonmica ou semntica entre outros.
Na recuperao livre o investigador solicita ao sujeito que se lembre de tudo o que lhe for
solicitado sobre o alvo.
O universo dos testes indiretos de memria mais amplo. Nestes testes a instruo
no informa que a memria do participante est sendo testada e dissocia fase de estudo de
fase de teste, tendo a particular funo de evitar a associao consciente entre elas. Eles so
classificados de acordo com a tarefa a ser desenvolvida. Quando uma tarefa orienta para a
lembrana de itens de conhecimento geral, para gerao de membros de uma categoria
semntica ou de palavras associadas, confirmao de membros de categoria e categorizao
de estmulos so nomeados como conceptuais ou factuais. Quando pedido que o
participante tome uma deciso lxica, pronuncie palavras, complete radicais de palavras ou
fragmentos de palavras e soletre homfonos apresentados auditivamente a tarefa chamada
de lexical. Se envolverem a percepo classificam-se como identificao de figuras, faces e
palavras, nomeao de figuras e identificao de fragmentos de figuras. Se h um
procedimento envolvido pode-se fazer a leitura de textos geometricamente transformados,
utilizar um rotor de perseguio e quebra-cabea tipo Torre de Hani. Uma ltima categoria
seriam os fisiolgicos em que medidas autonmicas so feitas durante a apresentao de
estmulos (Richardson-Klavehn e Bjork 1988).
comum que, em testes indiretos, estmulos sejam apresentados durante a fase de
evocao de modo a facilitar a lembrana (Roediger, Weldon, Stadler & Gregory, 1992). O
desempenho para os itens estudados tende a ser melhor do que em situaes em que tais
estmulos no so apresentados. Tais testes mostram que houve uma pr-ativao do
estmulo original de forma a facilitar a lembrana (MacNamara, 1994).
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Nesse estudo, a memria foi investigada a partir de um teste direto
(reconhecimento) e um indireto (completao de fragmentos de palavras) em homens e
mulheres para verificao de possveis diferenas no desempenho entre esses grupos.
Como nos testes ser manipulada a carga afetiva dos estmulos nas medidas
reconhecimento, completao de fragmentos e associao livre, as bases para a realizao
dos procedimentos com tais estmulos so descritas a seguir.
Memria e Carga Afetiva dos Estmulos
A carga afetiva dos estmulos um fator que, demonstradamente, interfere na
codificao, armazenamento e evocao de informaes da memria, o que indica que a
configurao de itens emocionais dependente da carga afetiva dos mesmos (Schmidt,
1994; Breslow, Kocsis & Belkin, 1981; Snyder & White, 1982; Ellis & Hunt, 1993). E,
devido a isso, diversas condies experimentais buscam avaliar a influncia desse fator no
desempenho das pessoas (Breslow, Kocsis & Belkin, 1981; Calev & Edelist, 1993; Ceitlin,
Santos, Parisotto, Zanata & Chaves, 1995).
Estudos diversos investigaram o desempenho da memria para palavras com carga
afetiva em indivduos sob induo da depresso (Pietromonaco & Markus, 1985; Finkel,
Glass & Merluzzi, 1982; Ingram, Smith & Brehm, 1983; Kuiper & Derry, 1982; Kuiper,
Olinger, MacDonald & Shaw, 1985; Mathews & Bradley, 1983). Por exemplo, Gotlib e
McCann (1984) testaram a memria de estudantes universitrios deprimidos para palavras
com contedo neutro, manaco ou depressivo e verificaram que o desempenho era melhor
para as palavras que estavam de acordo com o humor; sendo assim, aquelas de contedo
depressivo foram lembradas com maior probabilidade que as outras. Utilizando ainda uma
tarefa de Stroop modificada, seus resultados indicaram maior latncia de resposta para
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palavras com contedo depressivo que as outras citadas, levando-os a concluir que essas
pessoas mantinham esquemas negativos durante a depresso, corroborando a teoria
sustentada por Beck (1967, 1976).
Outros, entretanto, buscaram direcionar a pesquisa a sujeitos normais, sem nenhuma
induo do humor. Por exemplo, Ceitlin, Santos, Parisotto, Zanata e Chaves (1995)
avaliaram o efeito do tono afetivo de estmulos classificados como agradveis,
desagradveis e neutros em um teste de memria auditiva, para verificar possveis
diferenas sobre a codificao e recordao da informao. Verificaram maior recuperao
de palavras com carga desagradvel, sendo seguidas das agradveis e das neutras.
Diferentemente, Oliveira e Janczura (2004) compararam palavras agradveis e
desagradveis em uma medida direta e outra indireta e verificaram que palavras agradveis
foram lembradas mais que as desagradveis na tarefa completar fragmentos de palavras,
enquanto que na tarefa de recuperao livre no foram encontradas diferenas.
Ao investigar o efeito da emoo sobre a lembrana em pessoas normais e
esquizofrnicos, utilizando listas de palavras contendo emoes neutras, agradveis e
desagradveis, Calev e Edelist (1993) relataram que todos lembravam menos das palavras
neutras, em seguida as agradveis e por fim as desagradveis. Constataram que, entre
aqueles do grupo controle, as palavras agradveis e desagradveis foram lembradas com
probabilidades semelhantes. Os esquizofrnicos recuperaram as palavras desagradveis
com maior sucesso, havendo menor probabilidade de recuperao das palavras agradveis e
neutras.
Utilizando o reconhecimento e recuperao livre, Silberman, Weingartner, Laraia,
Byrnes e Post (1983) verificaram que pessoas deprimidas e indivduos normais lembram
mais de palavras com carga emocional alta em relao quelas que tm carga emocional
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baixa. Em um estudo com pacientes deprimidos, Danion, Kauffmann-Muller, Grang,
Zimmermann e Greth (1995) contrastaram medidas indiretas com medidas diretas para
avaliar a memria para palavras com carga afetiva. Eles verificaram que os indivduos
lembraram de forma semelhante palavras agradveis e desagradveis.
O presente trabalho utilizou fotografias e palavras como estmulos nos
experimentos. As palavras foram classificadas quanto s dimenses valncia, alerta,
concretude e frequncia (Oliveira, Janczura & Castilho, manuscrito no publicado;
Janczura e cols., 2007; LAEL, 2006) e as fotografias quanto valncia, alerta e dominncia
(Ribeiro, Pompia & Bueno, 2004, 2005; Porto, 2005). Busca-se, com isso, verificar a
interao entre o tono afetivo do material apresentado, o estado de humor e o sexo do
participante. O delineamento experimental foi voltado para investigar se o valor afetivo dos
estmulos influenciaria diferencialmente a evocao de informaes da memria de homens
e mulheres, de acordo com um humor previamente induzido.
Antes de testar a memria para o material afetivamente carregado, os participantes
foram induzidos a uma mudana no estado de humor. A prxima seo explora as
possibilidades desse procedimento.
Memria e Induo do Humor
A induo de estados emocionais temporrios permite a manipulao experimental
dos estados emocionais como classes de variveis independentes (Teasdale & Taylor, 1981;
Teasdale & Russell, 1983; Snyder & White 1982; Rholes, Riskind & Lane, 1987; Ellis &
Hunt, 1993). Nesses casos, um humor peculiar induzido no sujeito e na sequncia ele
exposto a um determinado material (p.ex., verbal, auditivo, visual). Aps a manipulao do
humor, a memria para esse material testada no mesmo estado de humor ou em outro
-
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diferente. A partir disso, cunharam-se os termos dependncia de estado e congruncia do
humor. Para a primeira proposta, a lembrana que ocorre em um humor especfico seria
determinada, em parte, pelo aprendizado prvio naquele mesmo humor, no importando a
valncia do material. Na segunda hiptese, a probabilidade de codificao e lembrana de
material afetivo estaria vinculada repetio do estado de humor do indivduo nesses dois
momentos. Os estudos sobre a congruncia do humor e sobre a dependncia de estado
mostram que o estado emocional pode influenciar os processos cognitivos de vrias
maneiras, que sero descritas adiante (Blaney, 1986).
Vrios procedimentos foram propostos para a induo do humor. Um recurso o
uso da msica (Balch, Myers & Papotto, 1999) que, devido ao seu reconhecido efeito
emotivo, facilita a aquisio de estados de felicidade ou tristeza. Podem-se empregar,
ainda, sentenas de auto-referncia (Velten, 1968) as quais so lidas pelos sujeitos e
expressam diretamente idias positivas ou negativas sobre eles mesmos. A hipnose outra
estratgia metodolgica usada, e pela sugesto verbal a pessoa levada ao humor triste ou
alegre (Bower, Monteiro & Gillian, 1978). Estados de dor podem ser aproveitados tambm
para se testar a memria nos indivduos, j que so acompanhados de sensaes
desagradveis (Pearce, Isherwood, Hrouda, Richardson, Erskine & Skinner, 1990). O
humor desejado pode ser conseguido por meio de eliciao da memria; neste caso,
pedido ao sujeito que entre no humor requerido dando nfase a uma experincia pessoal do
seu passado (Nasby & Yando, 1983). Um jogo de computador, apesar de ser um recurso
questionado (Blaney, 1986), foi sugerido como indutor do humor do sujeito, na medida em
que ele pode perder ou ganhar (Isen, Shalker, Clark & Karp, 1978). Por fim, tambm se
pode usar o mtodo da postura (Riskind, 1983) no qual o indivduo solicitado a se ajustar
a um humor especfico. Por exemplo, quando pessoas so solicitadas a gerar uma expresso
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facial que demonstrariam ao sentir determinada emoo, elas relatam produzir nveis
significativos de vivncia subjetiva associada quela emoo especfica. Alm disso,
reaes autonmicas peculiares caractersticas de emoes positivas e negativas so
observadas em populaes especializadas (como atores e jornalistas) e no especializadas,
em homens e mulheres, bem como em delineamentos entre grupos e em dados individuais
(Levenson, Ekman & Friesen, 1990).
Memria e Congruncia do Humor
Um fenmeno que tem sido observado por alguns pesquisadores da memria e
emoo o da congruncia do humor. Pessoas que no apresentam transtornos do humor
so expostas a material carregado de emocionalidade negativa ou positiva e so induzidas a
entrar no estado de humor sugerido. provvel verificar diferenas na lembrana quando
o indivduo estudou o material alvo afetivamente relevante, durante um estado de humor e
testado fora dele. Ou, ainda, quando estudo e teste deste material so realizados em um
mesmo estado emocional. A eficincia do processo mnemnico polarizada pela
congruncia entre o humor e o tom afetivo do material envolvido (Blaney, 1986). Quando
suas memrias so testadas por medidas diretas, como recuperao livre ou recuperao
com pista, mais provvel ser observado o fenmeno da congruncia do humor (Denny &
Hunt, 1992). O mesmo no ocorre com testes implcitos ou no intencionais, como no
completar fragmentos de palavras e completar radicais de palavras. Nessa manipulao
ocorreria uma transferncia da informao, mas o participante no teria conscincia que sua
memria estaria sendo testada (Roediger III & McDermott, 1992). Observa-se, ento, que
as diferenas na reteno, como funo do tipo de material, tendem a desaparecer. Portanto,
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a congruncia do humor no encontrada em medidas implcitas (Watkins, Mathews,
Williamson & Fuller, 1992; Hertel & Hardin, 1990; Bazin, Perruchet & Fline, 1996).
Investigando a congruncia do humor em pessoas portadoras de depresso, Breslow,
Kocsis e Belkin (1981) verificaram que h menor chance de recordao para palavras
positivas com relao s palavras negativas ou neutras em um paradigma de recuperao de
histria. Eles hipotetizaram que os problemas seletivos de memria em pacientes
deprimidos podem ser resultado de uma desateno seletiva aos aspectos positivos de uma
determinada situao. Esta, talvez, pode ser a caracterstica determinante da congruncia da
memria ao estado emocional.
O contedo lembrado durante um humor especfico determinado, em parte, pelo
que se aprende quando se est previamente naquele humor. Quando o indivduo se encontra
em outro estado, h decaimento da lembrana. Neste caso, o contedo da carga afetiva
irrelevante (Balch, Myers & Papotto, 1999).
Embora parea simples o processo de prever que determinada informao facilitaria
a memria quando uma pessoa testada nas mesmas condies de humor da codificao,
h certa dificuldade na obteno do efeito de dependncia do humor. Muitos estudiosos tm
falhado em obter esse resultado (Bower, Monteiro & Gilligan, 1978; Bower, Gillian &
Monteiro, 1981; Schare, Lisman & Spear, 1984). Para Isen (1984, apud Blaney, 1986) tais
efeitos podem ocorrer com maior probabilidade quando o material a ser lembrado
ambguo ou impreciso, como nos paradigmas de interferncia na aprendizagem. Leight e
Ellis (1981) afirmam que eles dependem da natureza do material a ser aprendido que, pela
sua organizao, podem ser acessados mais rapidamente, ou ainda, que o papel do humor
seria de pista contextual (Oliveira & Janczura, 2004). Mayer e Bower (1985) afirmam
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mais provvel que esse efeito ocorra quando o estado de humor percebido como
causalidade inicial do material a ser lembrado (p. 398).
Isen, Shalker, Clark e Karp (1978) sugerem que uma pessoa em um estado de bom
humor lembra com maior probabilidade do material agradvel do que desagradvel da
memria. Alm disso, o acesso a estmulos agradveis afeta o processo de tomada de
deciso como, por exemplo, induzindo o comportamento de filantropia. Eles sugerem que
os pensamentos associados ao bom humor ou um evento de induo de humor podem servir
como pista para outro material agradvel na memria, da mesma forma que um membro de
uma categoria lembrado quando ao indivduo apresentado como pista outro membro da
mesma categoria. Para eles haveria uma acessibilidade diferencial ao item dependendo do
humor da pessoa. A tendncia para lembranas agradveis durante o estado de bom humor
leva o indivduo a ter expectativas mais positivas, o que no significa que haver uma
distoro grosseira quanto ao julgamento das consequncias do comportamento. Alm
disso, as pessoas, durante o bom humor, tendem a estimar as situaes vividas de forma
mais positiva que as outras e se comportam de acordo com tais estimativas.
No presente estudo se considera que, alm do papel que o humor desempenha na
acessibilidade informao, a carga afetiva das palavras tambm atuaria como contexto
emocional intrnseco interferindo na acessibilidade (Johnson & Hasher, 1987). Tanto a
carga afetiva do material como o humor do indivduo funcionariam como pistas contextuais
para a lembrana, de tal maneira que a lembrana de itens agradveis e desagradveis seria
determinada pelo contexto emocional produzido no momento da codificao do material
estudado, havendo a reproduo do fenmeno da congruncia do humor. Postula-se, ainda,
que o padro de lembrana entre homens e mulheres seria influenciado pela diferena na
acessibilidade ao item que, nesse caso, est associado a um processamento diferenciado do
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estmulo. Para esta proposta de pesquisa, sugerimos que mulheres teriam maior
acessibilidade ao item emocional, o que poderia redundar em um desempenho especfico
diferente dos homens. Tal hiptese se sustenta no amplo espectro de diferenas cognitivas
entre homens e mulheres, como descrito nas sees memria e emoo e memria, sexo e
emoo a seguir.
Memria e Emoo
Elementos com carga emocional auxiliam na organizao da memria (Schmidt,
1994; Breslow, Kocsis & Belkin, 1981) e podem influenciar as mais diversas decises, das
simples s complexas. Isen et al. (1978) sugerem que o humor modula diferencialmente as
lembranas dos indivduos. Um estado de bom humor possibilita a lembrana de eventos
relacionados a sentimentos de felicidade, enquanto um humor deprimido tende a se manter
pela recorrncia de pensamentos de tristeza. Essa congruncia entre estado de humor e
pensamentos agradveis ou desagradveis revelaria a existncia de um loop cognitivo
positivo ou negativo. Seria um sistema de retroalimentao do humor que processaria
melhor a informao da memria relacionada com as cognies existentes ou com o estado
de humor.
Frank e Tomaz (2000) apresentaram uma histria, visual e auditivamente, com duas
verses, uma emocional e a outra no, a pessoas normais. Dez dias depois foi apresentado
um questionrio de mltipla escolha sobre a mesma. A funo dos participantes da pesquisa
era discriminar os itens vistos na histria daqueles que no estavam presentes e recontar a
mesma. Os autores observaram um aumento da memria declarativa de longo prazo para a
histria emocional com relao verso no emocional. Alguns estudos tm demonstrado
que a habilidade em adquirir informao declarativa declina com a idade, mais agudamente
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aps a sexta dcada (Horn, 1982, apud Denburg, Buchanan, Tranel & Adolphs, 2003). Em
contrapartida a uma diminuio geral da capacidade de lembrar dos idosos em relao aos
jovens, o material emocional mais lembrado para ambos os grupos (Denburg et. al.,
2003). O decrscimo na memria declarativa, pelos idosos, poderia advir em decorrncia de
uma diminuio da funo do hipocampo nessa fase do desenvolvimento, resultado do
decrscimo na sua massa celular. J os eventos emocionais parecem estar mais preservados
que as informaes com baixo contedo afetivo porque a amdala, um ncleo modulador de
processos de memria emocional, se encontra mais preservada nessa fase (Packard &
Cahill, 2001; Par, Collins & Pelletier, 2002; Hamann, 2001).
Em uma reviso que analisou cinco artigos sobre memria autobiogrfica com o
interessante ttulo Life Is Pleasant and Memory Helps to Keep It That Way, Walker,
Skowronski e Thompson (2003) verificaram que h uma tendncia maior das pessoas
lembrarem eventos de vida agradveis (mdia = 59,5) que os desagradveis (mdia = 25,8)
e neutros (mdia = 14,7). Os autores argumentam que os afetos relacionados a histrias
desagradveis teriam uma probabilidade de decaimento maior que aqueles associados s
agradveis. Eles denominaram esse fenmeno de tendncia ao decaimento do afeto.
Haveria um fator bsico na gnese desse evento: as pessoas tendem a evitar experincias
negativas e buscam aquelas que so positivas. Sendo assim, um tom afetivo positivo da
vida predominaria entre as populaes derivado do maior peso de longo prazo conferido
pelas experincias positivas. Indivduos com humor disfrico teriam um padro
diferenciado de lembranas.
Tambm foi investigado como falsas memrias so produzidas quando o humor
levado em considerao. Wright, Startup e Mathews (2005) agregaram, na recuperao
livre, o paradigma de Deese-Roediger-McDermott (DRM) que utiliza grupos de palavras
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associadas e induo do humor pela msica, para verificar a possvel interao desses
fatores. Eles constituram dois grupos e deram instrues diferentes para a lembrana das
palavras. Pedia-se aos participantes do primeiro grupo que recuperassem tantas palavras
quanto pudessem e aos do segundo grupo quantas eles sentissem que pudessem.
Verificaram que aqueles em estado de tristeza produziam mais falsas memrias na primeira
condio, enquanto que pessoas na segunda condio e no estado de alegria tinham maior
chance de lembrana de itens no apresentados.
Portanto, verifica-se que quando um fator emocional est envolvido a memria
sofre sua influencia seletiva. O que se defende no trabalho experimental realizado aqui
que essa seletividade seria dessemelhante quando se considera o sexo como um fator.
Seguindo essa linha de raciocnio so descritos, na seo abaixo, procedimentos que
manipularam sexo e emoo para verificar como interagiam com a memria. Ela busca
qualificar os papis desses fatores de maneira a associ-los ao delineamento do presente
estudo.
Memria, Sexo e Emoo
Miller e Bichsel (2004) no encontraram diferenas entre sexo quando mediram
memria de trabalho visual e auditiva em pessoas que apresentavam ansiedade para testes
de matemtica, apesar de o procedimento ter sido disruptivo para o desempenho global
dessas memrias, ou seja, houve diminuio na lembrana dos itens do teste. Contudo,
Canli, Desmond, Zhao e Gabrieli (2002), ao testar a memria de reconhecimento para
figuras emocionais verificaram, trs semanas aps a apresentao dos estmulos, maior
desempenho entre as mulheres que entre os homens, sendo que apenas as figuras mais
intensamente negativas foram lembradas diferencialmente. Mas em situaes em que no
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h induo do humor, a falha da memria no percebida pelas pessoas como relacionada
ao sexo (Erber, Szuchman & Rothberg, 1990).
Em um trabalho que utilizou a induo do humor atravs da msica, aps a
codificao dos estmulos, Clark e Teasdale (1985) verificaram como 24 substantivos
abstratos e palavras de trao de personalidade influenciariam a memria em um paradigma
de recuperao incidental. Utilizando 64 voluntrios normais com idade mdia de 19,1 anos
foram testados quatro grupos: mulher deprimida, homem deprimido, mulher alegre e
homem alegre. Seus resultados indicaram que mulheres recuperam mais palavras
agradveis que as desagradveis em um humor alegre e mais palavras desagradveis que as
agradveis em um humor triste. Por outro lado, a lembrana dos homens para o tom afetivo
dos estmulos no apresentou uma variao significativa nas condies testadas. Seus
resultados foram interpretados com base nos modelos de rede associativa do humor
(Bower, 1981; Clark & Isen, 1982; Teasdale, 1983). De acordo com tais modelos, essa
ativao diferencial dos conceitos, observada entre homens e mulheres, seria devido a uma
maior ocorrncia destes em mulheres que em homens, em um estado de humor congruente.
Utilizando, com os mesmos participantes, uma medida subjetiva de frequncia de uso das
palavras de trao de personalidade, eles obtiveram apoio hiptese de que as mulheres
classificariam as palavras estudadas como mais frequentes que os homens. No entanto,
possvel que tal medida de frequncia no expresse a origem dos resultados, e sim um fator
contingencial do grupo estudado, dado o nmero amostral pequeno e a no utilizao de
uma medida objetiva de frequncia.
Em um extenso estudo sobre diferenas de sexo na recuperao de experincias
afetivas pessoais passadas, Seidlitz e Diener (1998) investigaram o papel da intensidade do
afeto no momento da recuperao e da codificao, o papel do ensaio, a quantidade de
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detalhes relatados em cada evento e a influncia da motivao, habilidade verbal e rapidez
na escrita. Utilizando um total de 606 pessoas, em trs experimentos, verificaram que as
mulheres lembraram mais de eventos de vida emocionalmente relevantes, com valncia
positiva e negativa, que os homens, sendo que a lembrana sobre humor vivenciado era
invarivel entre os dois grupos. Elementos como a motivao, habilidade verbal e escrita
rpida no influenciaram os resultados, sendo medidos e comparados posteriormente.
Como eventos neutros da vida diria tambm foram lembrados diferencialmente entre os
grupos, sugeriu-se que a intensidade da emoo no participa do processo de lembrana,
pelo contrrio, homens relataram, em dirio, vivenciar mais intensamente as emoes
relacionadas aos eventos positivos que as mulheres (junto com as anotaes dos eventos
emocionais foi feita uma classificao da intensidade daquela emoo). No entanto, um
fator importante das medidas sobressaiu: os homens tenderam a anotar eventos repetidos
mais frequentemente que as mulheres. Segundo os autores, poderia haver um vis na
codificao dos eventos pelos homens que seria refletido na anotao apenas do aspecto
principal, deixando de fora detalhes especficos dos mesmos. Esse fator teria repercusso
no momento da recuperao, j que menos pistas seriam geradas, produzindo uma
lembrana de tipo geral onde instncias mais especficas no teriam participao. Como as
mulheres geraram menos repeties e produziram mais detalhes, provavelmente foram
beneficiadas por um maior nmero de pistas.
Os odontlogos Eli, Baht, Kozlovsky e Simon (2000) investigaram a expectativa da
dor e a memria de sua intensidade em pessoas submetidas cirurgia oral. Foram feitas
quatro avaliaes para realizao das medidas: a primeira consistiu em um exame inicial
em que foi aplicado o questionrio de ansiedade dental, colhido o relato do estado de
ansiedade por uma escala de analogia visual e a expectativa da dor; a segunda ocorreu no
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dia da cirurgia, quando foram reaplicadas as duas ltimas medidas; a terceira, em uma
semana de ps-operatrio (remoo da sutura), em que foi coletado novo relato de
ansiedade e realizada a medida de memria da dor; a ltima, quatro semanas aps a cirurgia
(rotina de avaliao), em que se repetiu a medida de ansiedade e da memria para a dor
cirrgica. Dentre os resultados, verificou-se que as mulheres predisseram menor
intensidade de dor antes do ato cirrgico, mas sua memria para a dor no ps-operatrio foi
maior que nos homens. Os autores concluram que os homens tendem a supervalorizar a
expectativa da dor no pr-operatrio e minimiz-la no ps-operatrio, provavelmente
devido reduo da ansiedade nesse perodo e o retorno sua atitude de macho,
somando-se a isso o fato de que uma mulher conduziu o experimento. Segundo Levine e De
Simone (1991) os homens tendem a minimizar seu relato de dor diante de uma
experimentadora.
Diferenas sexo-especficas na memria autobiogrfica de jovens e idosos no
foram reproduzidas por Rubin, Schulkind e Rahhal (1999). Eles testaram a memria de 40
idosos e 20 jovens. A tarefa dos mesmos era, inicialmente, relacionar substantivos a um
evento de suas vidas. Aps isso foi disponibilizado um histograma com 5 blocos desses
eventos para ambos os grupos e pedido para que os participantes fizessem descries
similares s memrias daqueles eventos. Na anlise de dados a nica diferena de memria
observada entre homens e mulheres foi a lembrana de eventos relacionados ao baseball.
Os autores concluram que, se tivessem sido realizadas medidas de vividez e
emocionalidade, possvel que as diferenas tivessem surgido, como parte da literatura
aponta. possvel, tambm, que se a tarefa fosse exclusivamente relacionar eventos
positivos, negativos e neutros, poderiam aparecer diferenas nos resultados, o que no foi
feito.
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Em um estudo que comparou a memria para estrias emocionais (Cahill, Gorski,
Belcher & Huynh, 2004) um ms aps a apresentao dos estmulos, verificou-se que os
itens perifricos eram lembrados de forma semelhante entre os participantes, mas a
informao central foi lembrada mais por homens que por mulheres. Esses achados foram
discutidos em termos de influncias na recuperao das informaes enquanto vis
relacionado ao sexo.
Canli et al. (2002) coletaram imagens por ressonncia magntica funcional (IRMf)
ao apresentarem figuras com alto contedo afetivo a diversas pessoas. Aps o
procedimento verificaram claras diferenas entre sexo na ativao dos circuitos neurais que
envolvem as amdalas. Os homens ativaram mais circuitos que envolvem a amdala direita,
enquanto que as mulheres ativaram significantemente menos circuitos que envolvem a
amdala esquerda. Apesar disso, elas apresentaram um padro de ativao cerebral maior,
ou seja, mais estruturas foram vistas envolvidas no processamento emocional e na
memria. Ao testarem a memria de reconhecimento para figuras altamente emocionais,
trs semanas aps a apresentao do estmulo, verificaram melhores resultados para
mulheres que para homens.
Considerando os estudos acima, possvel pensar que um componente intrnseco e
diferencial entre homens e mulheres seja subjacente aos resultados observados. Assim, esse
trabalho pretendeu investigar a possibilidade desse componente estar na diferena de
desempenho da memria entre homens e mulheres em funo da emoo. O mecanismo
pelo qual isso ocorreria seria o processamento diferenciado do estmulo emocional. As
mulheres utilizariam recursos mais amplos que os homens quando a informao
emocional, tendo em vista os achados que mostram que elas percebem e experienciam a
emoo de forma mais intensa. Tanto nas pginas anteriores desta tese como nas que se
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seguem, h indicaes de vrios estudos que apontam uma visvel diferena nos aspectos da
percepo e expresso emocional, bem como do processamento desse tipo de informao
em funo do sexo do indivduo. tambm possvel verificar que a experincia subjetiva
da emoo pode depender de aspectos intrnsecos do sistema de processamento da
informao que modulam a memria emocional e outras funes responsveis pela
avaliao e resposta a estmulos ambientais carregados afetivamente. O ponto de encontro
das pesquisas descritas acima com esse trabalho, est em sugerir o mecanismo pelo qual
ocorrem as diferenas na memria para itens emocionais. Uma diferena funcional, mais do
que estrutural, menos dependente da cultura e de outros aspectos relacionais ou aprendidos
(embora no completamente), associado a um sistema organizado para compor diferenas
entre homens e mulheres, conjunto no qual a memria est inserida.
Diferente dos estudos apresentados, o estudo atual avana por contrastar um teste
direto com um indireto, medir a memria de curto prazo no teste de reconhecimento,
associar vrios procedimentos de induo do humor de modo a tornar a induo mais
confivel, testar a hiptese do loop cognitivo positivo implcito e utilizar figuras e palavras
nos testes de memria.
A seo seguinte descreve como o estresse, a depresso, a ansiedade e as sndromes
disfricas pr-menstruais so moduladas pelo sexo, aqui consideradas como diferenciaes
desadaptativas do processamento da informao emocional. Para fins de entendimento da
presente argumentao terica, as diferenas na expresso e experincia emocional seriam
possveis em funo de um substrato neurocognitivo especfico que as modulasse
diferencialmente entre homens e mulheres. Ou seja, um processamento diferencial
subjacente ao comportamento emocional.
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Memria, Humor Disfuncional e Sexo
Estresse. De uma forma geral, h evidncias de que o estresse aumenta a memria
para material emocional (Ghika-Schimid, Ansermet & Magistretti, 2001), enquanto o
estresse agudo e corticosterides tm efeito deletrio sobre a memria declarativa
(Buchanan & William, 2001) e sobre a ateno (Braunstein-Bercovitz, Dimentman-
Ashkenazi, & Lubow, 2001). O transtorno de estresse ps-traumtico, um processo
patolgico que pode se iniciar aps a ocorrncia de um evento emocionalmente intenso e
negativo, caracterizado pela ocorrncia de memrias intrusas e carregadas de contedo
indesejado (Quevedo, Feier, Agostinho, Martins & Roesler, 2003). A memria do fato
danoso pode prejudicar o desempenho social e diminui o bem estar da pessoa afetada. As
mulheres, de uma forma geral, reagem mais intensamente a eventos traumticos que os
homens segundo Allen e Haccoun (1976), e isso poderia se refletir em vrias instncias no
processamento da informao. Lipp (2002) verificou que homens e mulheres diferem
significativamente em uma das fases do estresse, chamada de resistncia, com um prejuzo
maior para elas.
Depresso. Pessoas deprimidas mostram perda de interesse, diminuio de energia,
sentimentos de culpa, idias suicidas, dificuldade de concentrao, alteraes de apetite e
de sono, desinteresse sexual e diminuio de funes cognitivas. A depresso uma
patologia que acomete mais frequentemente o sexo feminino e pode ocorrer em um
episdio nico ou apresentar um padro recorrente (Nunes, Bueno & Nardi, 2000). Uma
alterao cognitiva central da depresso a ocorrncia dos pensamentos negativos
recursivos, pessimistas ou de auto-acusao e a memria para eventos negativos aumentada
(Clark & Teasdale, 1985).
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Ansiedade. Pensamentos negativos com relao a eventos futuros e a circularidade
de idias desagradveis so uma caracterstica dos estados ansiosos. Hembree (1990)
encontrou que a ansiedade para matemtica provoca maior prejuzo no desempenho de
homens do que de mulheres, resultado no confirmado por Miller e Bichsel (2004) que no
encontraram diferenas sexo-especficas para o desempenho em testes de matemtica,
apesar de a ansiedade ter sido preditora da queda do desempenho das pessoas. Mulheres
adoecem mais de transtornos de ansiedade como transtorno do pnico, agorafobia e
transtorno de ansiedade generalizada (Nunes et al., 2000). Ao comparar indivduos com
altos e baixos nveis de ansiedade, Green e McKenna (1996) verificaram no haver
diferenas na memria incidental para palavras negativas, positivas ou neutras quando
inseridas em frases contendo ou no auto-referncia. No entanto, eles demonstraram que
indivduos com altos traos de ansiedade fazem julgamentos semnticos de palavras
negativas mais rapidamente que de palavras neutras, enquanto que palavras positivas so
julgadas mais rapidamente que as neutras independentemente do nvel de ansiedade. A
ansiedade pode tambm gerar respostas hemisfricas diferentes em mulheres quando
submetidas a uma tarefa de Stroop emocional. Van Strien e Valstar (2004) submeteram 54
mulheres a um procedimento de leitura de palavras com valncia emocional e nas cores
vermelho, verde amarelo e azul, no campo visual direito ou esquerdo e constataram que,
entre as participantes com altos escores de trao de ansiedade, as palavras positivas tiveram
maior interferncia pelo hemisfrio direito (campo visual esquerdo), enquanto que naquelas
com baixos escores de trao de ansiedade o hemisfrio esquerdo (campo visual direito)
mostrou significativa interferncia para palavras negativas. Segundo Zald (2003) isso
poderia ser um indicativo de vis na orientao pr-consciente em indivduos ansiosos.
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Essa maior tendncia em mulheres apresentarem transtornos de depresso e
ansiedade, estados que afetam diretamente a memria e outras cognies, revela um fator
importante: um processamento sexo-especfico mais extenso das emoes. A extenso
deste processamento caracteriza especificidades comportamentais tpicas do feminino,
desde o humor saudvel at manifestaes desadaptativas. Portanto, a diferena que se
espera encontrar na memria de homens e mulheres apenas parte da coorte de
manifestaes desse processamento distinto.
Transtorno Disfrico Pr-Menstrual, Sndrome Pr-Menstrual e Tenso Pr-
Menstrual. Uma categoria de humor disfrico recorrente especfica do sexo feminino
aquela correlacionada ocorrncia do ciclo-menstrual. A gravidade dos sintomas pode
variar de um desconforto, passando pelo prejuzo das atividades dirias at severos
problemas familiares e sociais. Dependendo da gravidade, o conjunto de sintomas recebe
um nome especfico transtorno, sndrome ou tenso. Quarenta por cento das mulheres em
idade reprodutiva apresentam, em algum grau, sintomas relacionados variao hormonal
mensal e 5% sua forma mais grave (Daugherty, 1998). Podem ocorrer sintomas afetivos,
cognitivos e somticos que variam desde depresso ou tristeza, passando por irritabilidade,
tenso, dor muscular, ansiedade, raiva, tremores, sensao de abandono, mudanas no
interesse sexual, instabilidade do humor, dificuldade de concentrao, confuso,
esquecimento, evitao social, temperamento explosivo, aumento das mamas, ganho de
peso, reteno de lquido, fadiga, nuseas e insnia (Bhatia & Bhatia, 2002; Taylor, 2005).
No DSM IV o transtorno disfrico pr-menstrual classificado como transtorno
depressivo sem outra especificao (Bhatia & Bhatia, 2002). Segundo Dickerson, Mazyck
e Hunter (2003) mais de 200 sintomas j foram relatados, sendo mais frequentemente
descritas a irritabilidade, tenso e disforia. Os prejuzos cognitivos e afetivos apareceriam
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em decorrncia de um conjunto de alteraes metablicas em que o eixo hipotlamo-
pituitrio-tireideo estaria envolvido. Deficincias de minerais, vitaminas e do cido
linolico foram relatadas em pessoas portadoras dos transtornos (Daugherty, 1998). Estas
extensas manifestaes sintomticas sexo-especficas apontam que haveria um fator
fisiolgico de quebra do equilbrio afetivo, interrompendo a expresso emocional
adequada e causando prejuzos psicolgicos, familiares e sociais.
Em uma generalizao do que proposto nesta tese, a maior extenso do
processamento emocional possibilitaria maior sucesso na lembrana e, adversamente, maior
probabilidade de desenvolvimento de doenas do afeto. Essa maior extenso do
processamento reflete um mecanismo de busca que envolve mais itens emocionais a serem
ativados durante a lembrana, e se esses itens tiverem carga negativa, sua influncia pode
romper o equilbrio assimtrico (que tende positividade) do sistema de regulao
emocional e gerar o humor disfrico transitoriamente ou patologicamente.
A prxima seo explora a questo das diferenas de sexo no processamento da
informao emocional. Ela estende a compreenso sobre como se organiza e desenvolve a
emoo e sua funo individual e social em homens e mulheres.
Experincia Subjetiva da Emoo e Sexo
Alguns autores tm avanado na construo de hipteses para explicar o fenmeno
emocional. Por exemplo, Bradley, Codispoti, Cuthbert & Lang (2001) propuseram a
existncia de dois sistemas de organizao da emoo: um apetitivo e outro defensivo. Eles
teriam a funo de promover a sobrevivncia dos indivduos e das espcies ou lidar com
ameaas a esses. Na cultura ocidental h um pensamento corrente que a mulher mais
emocional que o homem (Fischer & Manstead, 2000, apud Bradley, Codispoti, Sabatinelli
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& Lang, 2001) e reage mais intensamente a eventos desagradveis, principalmente os
traumticos (Allen & Haccoun, 1976; Kring & Gordon, 1998). Por outro lado, sabe-se que
a incidncia de transtornos afetivos maior em mulheres que em homens (Nolen-
Hoeksema, 1987; Sachs-Ericsson & Ciarlo, 2000). No entanto, contrabalanando essa
maior reatividade afetiva negativa feminina, Brody (1996) descobriu que mulheres relatam
experienciar mais alegria e prazer que homens, enquanto que para Fujita, Diener e Sandvik
(1991) mulheres experienciam as emoes, de uma forma geral, mais intensamente que os
homens, ou seja, com maior contentamento ou contrio, alm de maior concordncia
quanto ao sentimento de alegria e bem estar (Wood, Rhodes & Whelan, 1989). Esse padro
diferencial, expresso pelas mulheres, em sentir e manifestar emoes tanto de maneira
saudvel como patolgica pode indicar que, cognitivamente, o funcionamento do humor em
humanos varia de acordo com o sexo. Deve-se salientar que indivduos em vrias culturas
(seno em todas) tm, intuitivamente, manifestado conhecimento dessas diferenas, embora
algumas apontadas sejam produtos do preconceito e provenientes de anlises superficiais
do comportamento (Kraft, 2005).
Evocar e perceber a informao emocional podem ser diferentes dependendo do
sexo. Por exemplo, h maior relutncia para mulheres em demonstrar raiva (sentimento
menos caracteristicamente feminino), enquanto so mais expressivas em externalizar
alegria, aparentando um estilo prprio de regulao da expresso emocional (Pennebaker,
1985). Outro dado que aponta para o mesmo caminho que h maior probabilidade de
mulheres adoecerem de depresso e transtornos de ansiedade (Nunes et al., 2000), o que
indica uma regulao particular. Alm do mais, estudos com neuroimagem tm revelado
diferenas funcionais na ativao de reas do sistema lmbico entre mulheres e homens, o
que tambm poderia ser, em maior proporo, reflexo do aprendizado do que da expresso
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gnica. Diferenas de sexo so tambm evidenciadas quando figuras agradveis e
desagradveis, de contedos diversos, so mostradas aos indivduos. Demonstrou-se que h
uma ativao diferencial entre homens e mulheres quanto motivao defensiva e
apetitiva. Para a mulher, as figuras desagradveis eliciam a motivao de defesa mais
fortemente que para os homens. Elas apresentam maior reatividade a esses estmulos em
medidas de eletromiografia facial. O contrrio se d em relao aos homens. Para esses,
figuras erticas so interpretadas de forma mais intensa e linear (Bradley, Codispoti,
Sabatinelli & Lang, 2001).
Timmers, Fischer & Manstead (1998), ao investigar as razes das diferenas de
sexo na expresso social da emoo, descobriram que h uma maior preocupao das
mulheres em relacionamentos, e essas so menos hesitantes em demonstrar emoes que
indicam menos poder, enquanto os homens so mais motivados a permanecer no controle e
tendem a expressar emoes que refletem seu poder ou domnio.
Cramer (1979) sustenta que, antes do incio da adolescncia, os meninos comeam a
externalizar o conflito utilizando a projeo ou at da agresso direta como reao
defensiva. J as garotas tendem a internalizar o conflito, de maneira a inverter o vetor ou a
direo da agresso (Diehl, Coyle, & Labouvie-Vief, 1996). Para ele as escolhas dos
mecanismos de defesa, relacionadas ao sexo, se tornam mais fortes durante o perodo da
adolescncia. Ele testou essa hiptese utilizando um paradigma de histria. Aps induzir
raiva em adolescentes, Cramer (1991) demonstrou que uma crtica feita por uma mulher
evocava maior resposta de defesa em homens do que em mulheres.
Com a idade, a diferena da resposta emocional entre sexos parece desaparecer.
Mulheres jovens apresentam maior reatividade cardaca que homens jovens para raiva e
medo, aps induo do humor atravs de memrias autobiogrficas, diferena no
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encontrada entre homens e mulheres idosos. possvel que tais resultados sejam derivados
de mudanas na regulao emocional em indivduos idosos, especificamente com respeito
internalizao versus externalizao da expresso emocional (Labouvie-Vief, Lumley, Jain
& Heinze, 2003). Haveria uma tendncia, por parte de adultos jovens, em dar mais nfase
informao negativa na formao da impresso (Kanouse & Hanson, 1972, apud Charles,
Mather & Carstensen, 2003) e carga de deciso (Tversky & Kahneman, 1991). Alm disso,
a informao negativa teria um processamento mais completo sendo mais difcil sua
desconfirmao (Rozin & Royzman, 2001).
A partir das evidncias apresentadas de que mulheres e homens apresentam
diferenas significativas quanto ao processamento e experienciao da emoo, fator que
tem um peso considervel no funcionamento humano normal e patolgico, razovel supor
um mecanismo sexo-especfico que regulasse a memria emocional. Tais evidncias,
correlacionadas ou de analogia direta, nos levam a hipotetizar que a lembrana de itens
emocionais apresenta um vis segundo o sexo, sendo que os escores das mulheres
tenderiam a serem superiores aos dos homens. Essa maior sensibilidade feminina ao tom
hednico revelaria uma diferena fundamental que dever ser manifestada na memria das
pessoas quando submetidas a um procedimento de induo do humor. Mulheres seriam
capazes de lembrar, com maior acurcia que homens, de estmulos com carga afetiva em
congruncia com o estado de humor induzido. No entanto, tais diferenas apareceriam em
quais procedimentos experimentais? Testes diferentes produziriam resultados diferentes na
avaliao da memria de homens e mulheres? O que eles poderiam indicar? Para a
demonstrao da tese proposta, dois delineamentos foram propostos e sero expostos na
seo Metodologia. Eles investigaram se as memrias explcita e implcita seriam
influenciadas pelas variveis estudadas.
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A seguir so descritos estudos que mapearam regies cerebrais associadas ao
comportamento emocional e diferenas de sexo na localizao de tais regies.
Memria, Sexo e Organizao Neuropsicolgica das Emoes
Pesquisas utilizando neuroimagem e outras tcnicas de investigao do crebro
identificaram um extenso corpo de evidncias sobre organizao, processamento e
expresso emocional diferenciados entre homens e mulheres, inclusive com relao
memria autobiogrfica. Estes resultados esto de acordo com a tese proposta aqui de
diferenas no processamento da informao emocional.
Borod (1993a) define emoes como estados fundamentados em substratos
biolgicos que so compostos de percepo, experincia, nveis de ativao fisiolgica,
atividade dirigida a alvo e expresso. Para Davidson (1993) a emoo uma instncia
dimensional ou categrica que incluiria a relao entre expresses faciais da emoo e
estados emocionais e diferenciao psicolgica entre emoes. LeDoux (1996), baseado em
estudos neuropsicolgicos com indivduos portadores de leso cerebral, designa a emoo
to somente como um estado biolgico do sistema nervoso, marcando uma clara diviso do
enfoque biolgico das teorias puramente psicolgicas. Para Hamann e Canli (2004) as
diferenas individuais constituem regra para que o processamento emocional esteja
presente, alm de afirmarem que um estmulo emocional tem o poder de disparar uma srie
de respostas que podem ser a chave para o entendimento de como o sexo feminino e o
masculino lidam com as diversas valncias dos estmulos.
H vrias propostas neuropsicolgicas de organizao da emoo que incluem
componentes ou estruturas corticais, subcorticais e lmbicas (Bowers, Bauer & Heilman,
1993; Heller, 1993; Davidson, 1993; Buck, 1993). As teorias que buscam caracterizar as
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emoes no crebro tm apontado para uma assimetria funcional, e vrias so baseadas em
estudos com pessoas que apresentaram leses provenientes de acidente vascular cerebral,
tumor, exciso tecidual ou trauma. Os componentes emocionais so, ento, organizados
segundo sua localizao inter-hemisfrica crebro direito e esquerdo, e intra-hemisfrica
anterior e posterior (Borod, 1993b para uma reviso). Dessa forma, Buck (1993) localiza
na regio frontal a expresso emocional e na regio parietotemporal a percepo emocional.
O lobo lmbico, composto por estruturas que esto na extremidade inferior do neocrtex,
tem sido chamado de sede da emoo devido seu importante papel evolucionrio entre os
mamferos. Ele est situado s margens do telencfalo e parte do neuroeixo e suas
estruturas esto envolvidas na modulao da experincia, expresso e regulao da emoo.
As estruturas lmbicas que notadamente esto relacionadas com a emoo so: tlamo,
hipocampo, rea septal, estria medular do tlamo, giro do cngulo, stimo do giro do
cngulo, giro subcalosal, amdala, corpos mamilares, uncus, formao hipocampal e
formao reticular do tronco cerebral (Patterson & Schimidt, 2003). Canli e colaboradores
(2002) diferenciaram essas reas no crebro de homens e mulheres, aps uma tarefa de
memria para figuras emocionais altamente alertantes, e verificaram que mulheres
ativavam mais regies lmbicas que os homens. Enquanto eles tinham o giro frontal inferior
direito e o giro do cngulo anterior esquerdo iluminados, elas ativavam o lobo frontal
(superior, mediano e medial esquerdos), giro temporal superior direito da nsula, giro do
cngulo anterior esquerdo, amdala esquerda e hipocampo bilateralmente. Os autores
contrapem idia que a funo afetiva estaria lateralizada direita e afirmam que as
diferenas na lateralidade entre os sexos em tarefas de memria emocional pela amdala
poderiam indicar diferentes estratgias de codificao.
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Em um estudo com neuroimagem sobre o amor romntico, Bartels e Zeki (2000)
mostraram a voluntrios a foto da pessoa amada e de trs outras do mesmo sexo com
aproximadamente a mesma idade e durao da amizade. Eles identificaram reas que se
ativaram e outras que se desativaram apenas diante do indivduo alvo da paixo. O nvel de
oxignio sanguneo dependente do sinal de duas reas afastadas do crtex visual esteve
aumentado; a primeira esquerda: a nsula medial e, bilateralmente, o crtex cingulado
anterior, o ncleo caudado e o putamen. As reas desativadas foram aquelas envolvidas
com o processamento de emoes negativas: o giro do cngulo posterior e a amdala
bilateralmente, os crtices pr-frontal, parietal e temporal mdio direita. Os autores ainda
salientam a possibilidade da ligao entre o amor romntico e os estados eufricos, j que
achados anteriores relacionaram as mesmas reas ativadas no amor romntico euforia
provocada por cocana e agonistas mu-opiides indutores de euforia (Breiter et al., 1997;
Schlaepfer et al., 1998).
Wood, Heitmiller, Andreasen e Nopoulos (2007) identificaram variaes de
tamanho no crtex frontal entre homens e mulheres. Essa rea identificada como a sede
de funes cognitivas superiores, fazendo parte do sistema lmbico e modulando respostas
emocionais, e mais volumosa em mulheres. A amdala, por sua vez, apresenta um volume
maior entre homens (Cahill, 2005).
A partir das descobertas da especializao inter-hemisfrica surgiram duas teorias
concorrentes para a emoo (Borod, 1993b). A primeira, denominada hiptese inter-
hemisfrica, estabelece que o hemisfrio direito evoluiu para o processamento emocional,
indiferente da valncia (Borod, 1992). A segunda chamada de hiptese da valncia e
possui duas vertentes. Uma assegura que o hemisfrio direito processa a emoo negativa e,
o hemisfrio esquerdo, a emoo positiva (Silberman & Weingartner, 1986). A outra
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sustenta uma especializao assimtrica para a experincia e a expresso emocional, mas a
percepo das valncias seria exclusiva do hemisfrio direito (Hirschman & Safer, 1982).
Plutchik (1984) descreve quatro componentes que compreenderiam o
processamento emocional: avaliao ou percepo, comportamento expressivo, alerta
fisiolgico e experincia subjetiva (sentimentos). J para Davidson (1993) o espao afetivo
deve conter dois elementos fundamentais, um para o comportamento de aproximao,
localizado na regio frontal esquerda e outro para a esquiva, no crtex frontal direito. Em
seu modelo da organizao emocional no crebro, Heller (1993) inclui o que considera
serem os aspectos principais da funo emocional normal: um componente avaliador da
informao relevante, a experincia subjetiva da emoo e a simultaneidade somtica e
autonmica de diferentes estados emocionais. Esses aspectos teriam um papel modulador
nos estados autonmicos e nveis de alerta comportamental que produzem respostas
adaptativas aos estmulos ambientais. Para ela (Heller, 1990) haveriam dois sistemas
neurais envolvidos na modulao emocional. O primeiro localizado nos lobos frontais,
bilateralmente, seria responsvel pela variao entre o desagradvel e o agradvel
determinando, assim, a valncia; o segundo, presente na regio parietotemporal direita,
estaria envolvido na modulao do nvel de ativao autonmica. De acordo com sua
teoria, diversos estados emocionais teriam padres especficos na ativao cerebral
regional. Por exemplo, a alegria seria caracterizada por uma alta ativao frontal esquerda e
parietotemporal direita; na depresso se notaria alta ativao frontal direita e baixa ativao
parietotemporal direita.
Para Buck (1993) as respostas emocionais podem ser divididas em trs classes:
resposta adaptativa e homeosttica a qual ele chama de emoo I, comportamento
espontneo e expressivo denominado de emoo II e leitura afetiva experiencial alcunhada
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de emoo III, esta ltima inspirada na teoria perceptual ecolgica de Gibson (Gibson,
1966, 1979, apud Buck, 1993). Ele prope que a experincia subjetiva do estado de certos
sistemas emocionais e motivacionais evoluram para prover o organismo com o
conhecimento de eventos corporalmente relevantes auto-regulao. Nos seres humanos,
esses leitores subjetivos so denominados de afetos. O autor argumenta que a experincia
afetiva subjetiva pode ser considerada como conhecimento direto de uma realidade interna
uma ecologia interna do corpo1 (pp. 490). Afetos puros ou comportamentos qualia
seriam os elementos irredutveis da emoo que propiciam as propriedades experienciais
das coisas tornadas possveis por neurohormnios peptdios.
Considerando as diferenas cognitivas e neuropsicolgicas descritas acima,
incluindo probabilidades diferentes de lembrana de itens ou eventos emocionais,
questiona-se quais procedimentos que avaliam a memria seriam sensveis a essas
diferenas. Entretanto, como se viu anteriormente, no h concordncia na literatura sobre
dessemelhanas na memria entre homens e mulheres. Se realmente o processamento da
memria emocional das mulheres difere dos homens em algumas instncias, seria possvel
identificar quais paradigmas so sensveis a essas diferenas e quais no so. possvel que
a manipulao da valncia do estmulo e do estado emocional do participante contribuam
para os resultados esperados. Como mulheres processariam as emoes com uma amplitude
maior, a combinao desses fatores modificaria a acessibilidade ao item emocional de
forma a revelar maior probabilidade de lembrana congruente com o humor. Manipulaes
que manejam a fora associativa tenderiam a mascarar o fenmeno devido a influncia da
associao inter-item na memria. Para a demonstrao desta tese, trs estudos foram
1 Traduo livre do autor.
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propostos: o primeiro combinou as variveis sexo, humor e valncia do estmulo em um
teste de reconhecimento de imagens emocionais; o segundo e o terceiro contrastaram a
valncia e o sexo em um teste de completar de fragmentos de palavras, e verificaram a
influncia do fator emocional quando no existe a intencionalidade ao recordar. A seguir
descrita a metodologia utilizada para a testagem das expectativas desta investigao.
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Metodologia
Atualmente h um crescente interesse sobre como variveis pessoais e contextuais
dos estados afetivos atuam nos processos de memria como, por exemplo, se a felicidade e
a depresso influenciariam na lembrana de eventos. Partindo-se de observaes que o
processamento das informaes emocionais seria, em algumas instncias, diferente entre
homens e mulheres e que o estado de humor poderia interagir com a carga emocional e
produzir respostas diferentes na memria em funo do sexo, propomos investigar como o
fator emocional influencia a memria de pessoas de ambos os sexos aplicando os
paradigmas de reconhecimento e completao de palavras. Aponte-se, ainda, que a carga
afetiva dos estmulos pode funcionar como pista contextual, facilitando ou prejudicando a
recordao do material estudado (Johnson & Hasher, 1987).
Problema
Informaes emocionais so lembradas com maior probabilidade que informaes
neutras (Blaney, 1986). Em adio sabe-se que a lembrana de itens pode ser
potencializada ou prejudicada quando um determinado procedimento realizado antes ou
aps a tarefa de memria como, por exemplo, estresse agudo, administrao de frmacos,
induo de determinado humor, diviso dos recursos da ateno (Deary, Capewell,
Hajducka & Muir, 1991; Bower, 1981).
Diferenas entre sexo na percepo e evocao de informaes emocionais tm sido
encontradas. Tais diferenas mostram que mulheres processam estmulos emocionais e
reagem a esses diferentemente dos homens. Segundo a hiptese da inibio da expresso
emocional (Pennebaker, 1985), mulheres podem ser mais relutantes em expressar raiva,
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refletindo um estilo interno de regulao emocional. Mulheres tambm so mais
susceptveis em apresentar depresso e transtornos de ansiedade, o que poderia ser
consequncia desse tipo de regulao especfica (Sachs-Ericsson & Ciarlo, 2000). Nessa
linha de raciocnio, Nolen-Hoeksema (1987) hipotetizou que as mulheres amplificariam os
pensamentos depressivos pela ruminao de idias negativas que interfeririam na ateno,
na iniciao de comportamentos instrumentais e, finalmente, amplificariam a depresso e
aumentariam a probabilidade do indivduo levar em considerao explicaes
depressognicas para eventos comuns da vida. A percepo social de que a mulher mais
emocional que o homem (Fischer & Manstead, 2000, apud Bradley, Codispoti, Sabatinelli
& Lang, 2001) pode no ser apenas um vis da cultura, pois se verifica que ela apresenta
uma reao mais forte a eventos desagradveis, principalmente os traumticos (Allen &
Haccoun, 1976; Kring & Gordon, 1998), alm de relatarem experienciar mais alegria e
prazer que homens (Brody, 1996) vivenciando os sentimentos com maior intensidade
emocional (Fugita, Diener & Sandvik, 1991).
Alm do mais, estudos com neuroimagem tm revelado diferenas funcionais na
ativao de reas do sistema lmbico entre mulheres e homens, o que tambm poderia ser,
em maior proporo, reflexo da diferenciao entre sexos sugerida aqui. Mulheres ativam
significantemente mais regies cerebrais que esto correlacionadas com uma avaliao
contnua da experincia emocional e com a memria para figuras mais intensamente
emocionais (Canli et al., 2002). Isso sugere um funcionamento sexo-diferencial que, como
postulamos, pode ter consequncias sobre a evocao de memrias emocionais de uma
maneira geral.
Testes de recuperao livre mostram desempenho similar entre sexos, no entanto, h
escassez de estudos que investiguem induo do humor e memria entre homens e
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mulheres (Rothkopf & Blaney, 1991; Popovski & Bates, 2004). A memria para
experincias e estmulos emocionais pode diferir de acordo com o sexo. Eventos
autobiogrficos so lembrados em maior quantidade e mais rapidamente por mulheres que
por homens em que h limite de tempo para a lembrana; elas relatam maior vividez das
imagens e maior intensidade na experincia da emoo (Fugita et al., 1991; Larsen, Diener
& Emmons 1986; Canli et al., 2002). Sabe-se que um mesmo estmulo pode ter
interpretao diferencial particular entre os indivduos devido natureza e contedo dos
seus construtos. Assim, duas ou mais pessoas podem ter a mesma imagem mental, mas sua
probabilidade de lembrana no seria a mesma (Higgins, King & Mavin, 1982; Basden &
Higgins, 1972).
Se o sexo feminino realmente experiencia e expressa maior intensidade emocional
que o masculino como consequncia a eventos peculiares, razovel hipotetizar a
existncia de uma diferena na forma de processamento da informao emocional entre os
dois, estando essa informao mais acessvel lembrana em funo do sexo.
Portanto, diferenas na memria para itens emocionais realmente ocorreriam em
funo de um melhor acesso ao item dependente do sexo, de tal forma que mulheres
apresentariam uma maior probabilidade de lembrana de itens emocionais? sempre
necessria uma modificao no humor para haver diferenas na memria entre homens e
mulheres? Quais paradigmas de memria seriam sensveis para captar tais diferenas? Um
delineamento voltado a investigar a possvel diferena na acessibilidade poderia esclarecer
tal questo, evidenciando uma diferena cognitiva que teria por base o processamento da
experincia emocional. A presente tese visou, ento, responder essas questes atravs da
manipulao do humor de homens e mulheres em trs experimentos que utilizaram
estmulos emocionais e os paradigmas do reconhecimento e completao de fragmentos de
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palavras. O teste de reconhecimento foi utilizado tendo em vista que a memria de
reconhecimento mais susceptvel aos efeitos do contexto (Tulving & Tompson, 1971).
Essa susceptibilidade ao contexto poderia aumentar a probabilidade da lembrana de itens
cuja valncia estaria relacionada ao humor, como se espera no fenmeno da congruncia do
humor. O contexto foi produzido com fotografias que expressam carga afetiva positiva ou
negativa, o que deve evocar imagens mentais complexas e possivelmente semelhantes a
eventos vistos anteriormente pelos participantes. O teste completar fragmentos de palavras
pode ajudar a compreender como o fator emocional processado de acordo com o sexo em
uma medida implcita de memria. Esse ltimo teste tambm visa estender para palavras o
teste feito com imagens e verificar se os resultados da interao entre carga afetiva e humor
influenciam a memria em funo do sexo do participante. Alm disto, sabe-se que os
estados emocionais desencadeados por palavras podem servir como pistas para a lembrana
de eventos associados com o respectivo estado (Johnson & Hasher, 1987) e, em
experimentos em que se estudou a dependncia do humor, verificou-se a influncia do