A mundialização da sociologia contemporânea diálogos entre a sociologias na América Latina, na...

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  • Revista Sociedade e Estado - Volume 30 Nmero 1 Janeiro/Abril 2015 243

    A mundializao da sociologia contempornea: dilogos entre as sociologias na Amrica Latina, na ndia e na China*

    Jos Vicente Tavares dos Santos,Alex Niche Teixeira,

    Rochele Fellini Fachinetto &Vitor Eduardo Alessandri Ribeiro**

    Resumo: O texto prope uma reflexo acerca das contribuies que a sociologia na Amrica La-tina, China e ndia podem oferecer ao pensamento social na etapa da mundializao das confli-tualidades sociais. Propomos uma interlocuo mltipla, que tenha como base a historicidade dos diversos processos de construo da sociologia, evidenciando que os conceitos, assim como os percursos de construo do conhecimento, possuem uma histria que no universal nem homognea, mas refletem as lutas sociais, as contradies locais e contextos heterogneos. Essa reconstruo aproxima caminhos epistemolgicos da sociologia na Amrica Latina, China e ndia. Ao problematizar tal percurso a partir de uma epistemologia do Sul, nos termos de Boaventura de Sousa Santos, colocamos em dilogo a diversidade das prticas e dos saberes mundiais sob a perspectiva de um dilogo horizontal entre estes conhecimentos.

    Palavras-chave: epistemologia, mundializao, conflitualidades, sociologia, Amrica Latina, socio-logia latino-americana, China, sociologia chinesa, ndia, sociologia indiana, historicidade.

    Introduo

    A sociologia tem expressado as profundas transformaes das sociedades contemporneas, acompanhando a emergncia de novas questes sociais, as quais produzem significativo impacto global. Tais desafios, e seus impac-tos nas diferentes realidades sociais (locais, regionais e globais), devem ser incorpo-rados s tarefas da sociologia em todo o mundo.

    A Era da Mundializao das Conflitualidades, iniciada em 1991, pode ser compreen-dida como o fim da ordem global bipolar, era na qual as sociedades experimentam osurgimento de novos tipos de violncias e conflitos (Hobsbawm, 1994; Arrighi, 2007; Tavares dos Santos, 2009).

    A reflexo sociolgica latino-americana, valendo-se de seu caracterstico interna-cionalismo, seu hibridismo, sua abordagem crtica dos processos e dos conflitos e mantendo o compromisso social por parte dos socilogos, expande o escopo de sua interlocuo: busca ampliar seu dilogo internacional rumo a novas fronteiras, em-

    * Uma primeira verso deste texto foi apresentada no GT26 Pensamento social latino-americano da Associao Nacional de Ps-Graduao e Pesquisa em Cincias Sociais (Anpocs), em outubro de 2012.

    ** Jos Vicente Tavares dos Santos professor titular do Departamento e do Programa de Ps-Graduao em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. Membro do Conselho Universitrio da UFRGS. Pesquisador do CNPq (nvel I-A), diretor do Instituto Latino-Americano de Estudos Avanados (Ilea) da UFRGS, coordenador do Grupo de Pesquisa Violncia e Cidadania, desde 1995.Alex Niche Teixeira professor adjunto do Departamento de Sociologia e do Programa de Ps-Graduao em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Pesquisador associado ao Instituto Nacional de Cincia e Tecnologia em Violncia, Democracia e Segurana Cidad CNPq e do Grupo de

    Recebido: 11.06.13

    Aprovado: 21.01.14

    Gisele HigaTexto digitadoDOI: 10.1590/S0102-69922015000100014

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    penhando-se numa abordagem compreensiva dos complexos dilemas trazidos pela emergncia de novas questes sociais em mbito mundial.

    Podemos identificar seis perodos na sociologia da Amrica Latina e do Caribe:

    1. a herana intelectual da sociologia (sculo XIX at incio do sculo XX);

    2. a sociologia da ctedra (1890-1950);

    3. o perodo da sociologia cientfica e a configurao da sociologia crtica (1950-1973);

    4. a crise institucional, a consolidao da sociologia crtica e a diver-sificao da sociologia (1973-1983);

    5. a sociologia do autoritarismo, da democracia e da excluso (1983-2000);

    6. atualmente, vivenciamos o sexto perodo desta longa histria inte-lectual: a consolidao institucional e a mundializao da sociologia.

    Este perodo representa uma nova etapa da internacionalizao da sociologia da Amrica Latina, o que nos leva a enunciar um conjunto de questes bastante perti-nentes que orientam nosso esforo:

    q Qual o papel que a sociologia na Amrica Latina pode desempe-nhar na etapa de mundializao de conflitualidades sociais?

    q Como desenvolver uma interlocuo mltipla em um espao--tempo mundial, mirando mltiplas sociologias, do Norte e do Sul, do Ocidente e do Oriente?

    q Como expressar a diversidade social e cultural latino-americana, chinesa e indiana em novas questes sociais mundiais?

    Adiante, analisaremos a periodizao da sociologia na ndia e na China. Antes, cabe problematizar, desde a Amrica Latina, as questes sociolgicas mundiais.

    A sociologia contempornea na Amrica-Latina

    A contemporaneidade da sociologia na Amrica Latina salienta alguns problemas sociolgicos mundiais, os quais devero ser respondidos em uma perspectiva que abarque o dilogo entre outras sociologias:

    Pesquisa Violncia e Cidadania UFRGS/CNPq. Rochele Fellini Fachinetto professora adjunta do Departamento de Sociologia/UFRGS; pesquisadora do Grupo de Pesquisa Violncia e Cidadania/UFRGS.Vtor Eduardo Alessandri Ribeiro mestre e doutorando em sociologia no Programa de Ps-Graduao em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGS-UFRGS) e membro do Grupo de Pesquisa em Violncia e Cidadania (GPVC).

    Email do Grupo de Pesquisa Violncia e Cidadania/UFRGS: .

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    1. historicidade do conhecimento, com processos no lineares;

    2. perspectiva de uma ecologia dos saberes, criticando a colonialida-de dos saberes;

    3. mundializao do conhecimento, marcado pela diversidade, dife-renciao e transculturao;

    4. nova morfologia do social, com agrupamento de classe social com-binados com relaes de gnero, relaes raciais, grupos etrios;

    5. relaes entre poderes, saberes, culturas e fluxos de informao;

    6. novas questes sociais mundiais.

    Diante de tais questes, temos um novo desafio intelectual: como construir as epistemologias do Sul no apenas na Amrica Latina? Ao propor uma interlocuo mltipla que tenha como base a historicidade dos diversos processos de construo da sociologia, a abordagem coloca em dilogo os caminhos epistemolgicos da so-ciologia na Amrica Latina, ndia e China.

    Pretendemos problematizar tal percurso a partir das epistemologias do Sul, a qual busca reconhecer a diversidade das prticas e saberes do mundo, sob a perspecti-va de um dilogo horizontal entre estes conhecimentos (Sousa Santos & Meneses, 2010). Tal perspectiva busca evidenciar que os conceitos, assim como os percur-sos de construo do conhecimento, tm uma histria que no universal nem homognea, mas que reflete lutas sociais, contradies e contextos heterogneos. Trata-se de reconhecer que no fazemos parte de uma histria nica, pois houve um silenciar de uma multiplicidade de prticas e contextos sociais, produzindo uma homogeneizao dos mltiplos lugares de enunciao de saberes.

    Boaventura de Sousa Santos e Paula Meneses salientam que este processo de silen-ciamento tornou possvel a imposio de uma epistemologia dominante que no reconhece outras prticas sociais e formas de saber. Parte da premissa de que qual-quer conhecimento vlido sempre contextual e de que as experincias sociais so constitudas por vrios conhecimentos. Os autores questionam:

    [por que] nos ltimos dois sculos, dominou uma epistemologia que eliminou da reflexo epistemolgica o contexto cultural e po-ltico da produo e da reproduo do conhecimento? (Sousa San-tos & Meneses, 2010: 9-10).

    Indica sobretudo o processo de descontextualizao da produo de conhecimento de uma epistemologia que acabou impondo-se nos mais variados contextos sociais,

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    como se fora produto de um nico espao-tempo, estabelecendo determinados modos e contextos da produo de conhecimentos como mais vlidos ou mais re-conhecidos do que outros.

    O contexto de construo dessa epistemologia dominante no poder ser com-preendido sem considerar a incidncia de dois processos interligados: o capitalis-mo e o colonialismo, este entendido no apenas em suas dimenses polticas, mas como forma de dominao epistemolgica.

    Para alm de suas dimenses econmicas e polticas, observam-se mltiplas for-mas de dominao associadas a estes processos, que adentram subjetividade e ao modo de produzir conhecimento dos contextos colonizados (Sousa Santos, 2000), impondo a viso de uma nica histria a histria dos dominadores, dos coloniza-dores. O colonialismo na leitura do autor constitui-se como forma de dominao epistemolgica que acarreta a supresso de mltiplas formas de saber que foram sendo construdas ao longo da histria.

    Ao considerar que toda prtica social produz e reproduz conhecimento expande sua anlise no apenas aos saberes, mas s prprias prticas sociais submetidas a este processo de imposio, configurado no mbito das relaes coloniais no es-pao-mundo (Sousa Santos & Meneses, 2010: 9), parte de duas ideias principais: no h epistemologias neutras; a reflexo epistemolgica deve incidir nas prticas de conhecimento e nos seus impactos em outras prticas sociais (Sousa Santos & Meneses, 2010: 7).

    Tornar-se inteligvel traduz uma ideia de existncia: como um passar a existir ou, ao contrrio, permanecer numa no existncia. A constituio desta epistemolo-gia dominante est assentada numa dupla diferena: a diferena cultural do mundo moderno cristo ocidental e a diferena poltica do colonialismo e do capitalismo.

    Said traz para o debate a construo epistemolgica do Oriente pelo Ocidente, na qual este acaba situando aquele como o lugar do extico, do diferente, do outro (Said, 2004). Tal operao realiza-se mediante um processo de comparao a partir de um ponto central, que possibilita a identificao do outro como algo di-ferente.

    A grande contribuio da corrente ps-colonial, cujos fundamentos tiveram origem na dcada de 1980, assumir que toda enunciao vem de algum lugar e isso ex-plicita uma posio poltica, demanda um posicionamento, j que os discursos ex-pressam algo sobre o lugar do qual se fala. Os estudos ps-coloniais fazem uma importante crtica ao conhecimento cientfico que privilegia um modelo, um centro

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    do qual partem os discursos que acabam construindo percepes e representaes acerca daquilo que no est nesse centro, como o prprio Oriente, por exemplo.Essa construo de um mundo ocidental cristo em oposio ao lugar do extico, do outro, reivindica uma pretenso de universalidade que veio a se plasmar na cincia moderna: resultado de uma interveno epistemolgica que s foi possvel com base na fora com que se imps a interveno poltica, econmica e militar do colonialismo e do capitalismo moderno aos povos e culturas no ocidentais e no crists (Sousa Santos & Meneses, 2010: 10).

    Este processo de colonizao do saber (Quijano, 2005) tentou homogeneizar o mundo e desacreditar tanto os conhecimentos como as prticas sociais que o en-gendram, configurando um processo de aniquilamento das diferenas culturais, bem como o desperdcio das mais variadas experincias sociais.

    Em alternativa epistemologia dominante, Boaventura de Sousa Santos situa-nos no debate acerca das epistemologias do Sul, propondo uma ecologia dos saberes:

    As epistemologias do Sul so o conjunto de intervenes episte-molgicas que denunciam essa supresso, valorizam os saberes que resistiram com xito e investigam as condies de um dilogo horizontal entre conhecimentos (Sousa Santos & Meneses, 2010: 13).

    O Sul concebido como metfora que busca evidenciar as prticas e saberes que foram silenciados historicamente pelo capitalismo em sua relao colonial com o mundo. Boaventura no prope apenas uma sobreposio com o Sul geogrfico, tendo em vista que os processos que expressam as consequncias do capitalismo e do colonialismo pelo mundo so muito desiguais e, portanto, h situaes de opres-so e dominao no Norte, bem como, pequenas Europas e elites locais que se beneficiaram da dominao capitalista no Sul.

    Em obra recente, o mesmo autor salienta a importncia de se desenvolver uma so-ciologia das ausncias e uma sociologia das emergncias, entendendo aquela como as dimenses da sociedade que foram obscurecidas pelo pensamento eurocntrico e esta como as novas questes que se colocam com vigor nas sociedades do Sul (Sousa Santos, 2006).

    Traz, em seu conjunto, conceitos importantes para esta tentativa de comparao entre tradies sociolgicas de trs continentes. Estamos indicando uma ausncia a falta de comunicao entre tradies sociolgicas do Sul e uma emergncia: o necessrio dilogo em devir de tais experincias intelectuais.

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  • 248 Revista Sociedade e Estado - Volume 30 Nmero 1 Janeiro/Abril 2015

    O necessrio dilogo entre as sociologias latino-americana, indiana e chinesa

    O estabelecimento de dilogos com a sociologia indiana e a sociologia chinesa tor-na-se um novo patamar da internacionalizao da sociologia crtica latino-ameri-cana. Ciente das dificuldades antepostas pelas diferenas culturais e lingusticas a serem superadas num esforo de grupo, este texto um primeiro passo de um am-plo projeto que pretende fomentar o dilogo entre as sociologias latino-americana, chinesa e indiana, bem como refletir sobre os caminhos de outra sociologia mundial no sculo XXI.

    Nestas sociedades de histrias diversas e temporalidades distintas, as cincias so-ciais so importantes aliadas para o enfrentamento de desafios ao desenvolvimento econmico, social e humano.

    Guardadas as enormes diferenas culturais e lingusticas, Brasil, China e ndia guar-dam semelhanas em importantes aspectos naturais e humanos: com grandes diversidades de domnios morfoclimticos e com a presena de imensas bacias hdricas muito relevantes para o desenvolvimento histrico , so pases de gigan-tescas dimenses territoriais, de vastas populaes e imensos mercados internos. Tanto suas especificidades como os traos comuns so responsveis por conformar realidades mpares, as quais, diante da emergncia de novas questes sociais na contemporaneidade, enfrentam enormes desafios sociais. Tais desafios fornecem um campo riqussimo investigao sociolgica.

    A sociologia na China

    A China, no transcurso de sua longa histria, testemunhou significativas transforma-es1 polticas, econmicas e sociais2. Do perodo moderno contemporaneidade, desafios em suas relaes com o mundo externo a trouxeram necessidade de mudanas mais profundas (Fenby, 2008).

    A China experimentou, no ps-Segunda Guerra Mundial, um perodo de grande pe-nria, mas logrou estabelecer, em curto espao de tempo, as bases iniciais da urba-nizao e da industrializao. Durante o perodo de 30 anos, a partir da Revoluo Socialista de 1949, a China elaborou um sistema poltico totalitrio tpico, com a apropriao da economia pelo Estado e com a centralizao do planejamento. A partir das reformas introduzidas por Deng Xiaoping, iniciadas em 1978, o pas inicia uma trajetria que o conduz para o crescimento econmico e sua insero soberana no rol das grandes naes (Jabbour, 2010: 68).

    1. Danielle Elisseeff (2011): China has fascinated Europe for centuries because its culture, philosophy and social systems are so different to our own. Yet its most essential notion remains unfamiliar: transformation. This notion is base on the principle that life of which death is just one aspect is expressed through incessant changes. This cycle is an invitation for an excursion through the many representations of this idea images that try to give a shape to that which, in fact, is devoid of any lasting form. Ver ainda Yves Chevrier, Alain Roux & Xiaohong Xiao-Planes (2010).

    2. Para aprofundamento e mais detalhes sobre a histria da China, ver: Patrcia Buckley Ebrey (2010).

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  • Revista Sociedade e Estado - Volume 30 Nmero 1 Janeiro/Abril 2015 249

    A transio social experimentada pela China no decurso das transformaes realiza-das indita pela imensido da populao envolvida, pela vitalidade do processo e pela profundidade das mutaes que se produzem em sincronia: de uma sociedade tradicional para uma sociedade moderna; de uma sociedade rural para uma socie-dade urbana; e de uma sociedade planificada para uma sociedade sob regulao de mecanismos de eficincia e de preos. As mudanas sofridas pela China nos ltimos 30 anos equivalem s transformaes na histria da modernizao mundial de 1840 at os tempos atuais (Li Peilin, Guo Yuhua & Liu Shiding, 2008: 84), visto que, na China, todas as etapas so mais curtas e ocorrem em um mesmo tempo histrico. A sincronicidade e a profundidade dos impactos daquelas mudanas na sociedade chinesa levaram a um ganho de vigor na produo de pesquisas sociais.

    Segundo o professor Huang Ping3, o incio da produo sociolgica na China remon-ta aos fins do sculo XIX e princpios do sculo XX, quando uma primeira gerao de estudiosos e acadmicos chineses realizava intercmbios acadmicos em pases oci-dentais, majoritariamente Reino Unido e Estados Unidos. No ano de 1952, a prtica da sociologia foi proibida pelo governo chins, mas continuou a ser praticada ainda que clandestinamente. Durante os anos da Revoluo Cultural (de 1966 a 1976) as cincias sociais foram quase extintas e eram raramente ensinadas nos ambientes acadmicos do pas.

    Aps o incio do processo de abertura ps-1978, as cincias sociais foram resgatadas e receberam, segundo o professor Ping, o mandato oficial para apoiar o processo de reforma4. A partir de 1979, a China engendrou esforos para liberar a economia da iniciativa estatal exclusiva e reorganiz-la segundo os princpios da regulao atravs do mercado. Essas reformas permitiram a edificao de um sistema econmico de socialismo de mercado e deram lugar ao aumento sem precedentes da riqueza nacional (Shen Yuan, 2008: 299-305).

    A sociologia recebeu a incumbncia de formar especialistas que pudessem auxiliar e apoiar o Estado na formao de polticas pblicas, a partir da aprendizagem de experincias no exterior, por isso passou a incrementar a capacidade nacional de produo de pesquisas em cincias sociais atravs de uma agenda voltada ao desen-volvimento, o que foi possvel graas capacidade crescente de financiar estudos (Li Peilin, Guo Yuhua & Liu Shiding, 2008: 84). A preocupao era a realizao de pesquisas para a compreenso das dificuldades produzidas pelo crescimento eco-nmico; o incremento de intercmbios internacionais foi fundamental.

    No primeiro momento, ao longo da dcada de 1980, as problemticas trazidas pe-los estudos sociolgicos chineses enfocavam muitos dos desafios sociais impostos pela rpida modernizao. Investigaes em temas como as unidades produtivas

    3. Doutor em sociologia pela London School of Economics (LSE), diretor geral do Instituto de Estudos Americanos da Academia Chinesa de Cincias Sociais e vice-presidente do Instituo Internacional de Sociologia (IIS), alm de editor geral de grandes publicaes como Current Sociology e Comparative Sociology.

    4. Ver: . Acessado em: Jun. 2013).

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    rurais, o superpovoamento das cidades, os problemas de poluio ambiental, o d-ficit de infraestrutura urbana, estudos de famlias, a evoluo da situao matrimo-nial, estudos institucionais, estudos de governana e de temas de segurana pbli-ca tornaram-se recorrentes. Estudos produzidos neste perodo foram orientados dimenso emprica, coleta primria de dados, com menor nfase elaborao epistemolgica.

    Lacunas nesse sentido foram sendo preenchidas paulatinamente. A sociologia chinesa experimentou um sensvel progresso principalmente a partir do comeo da dcada de 1990. A pesquisa social passou a enfocar no mais apenas os desafios sociais do pas, mas tambm as deficincias tericas do conhecimento cientfico ento produzido. Houve, nesta fase, significativos avanos em relao problemtica de construo de teorias e adoo de normas cientficas compartilhadas com centros de produo de conhecimento social em vrios pases do mundo. A sociologia chinesa ganha fora enquanto voz reconhecida para o estabelecimento de dilogos cientficos.

    Durante os anos 2000, estudos acadmicos sobre as tradies clssicas chinesas fo-ram reintroduzidos nos espaos acadmicos e captaram as atenes e o interesse de um nmero crescente de estudantes. Atualmente muitos estudos esto em curso perseguindo as seguintes temticas: a rpida urbanizao, a massiva migrao rural--urbana, a reforma do sistema previdencirio, a ampliao de prestao de servios pblicos de sade, a universalizao da educao, o acesso moradia e a reforma do sistema jurdico. So abordagens informadas pela noo de transio social, nova postura aceita em funo da compreenso de uma sociedade em processo de com-plexificao e de mutao acelerada (Li Peilin, Guo Yuhua & Liu Shiding, 2008: 83).

    Os atuais trabalhos dos socilogos chineses contribuem efetivamente para a cons-truo de uma agenda internacional para a disciplina sociolgica, pois, atravs da anlise de uma multiplicidade de prticas, evidenciam a diversidade de saberes num mundo de contextos heterogneos e repleto de contradies. Compartilham, no cenrio internacional, de objetos de investigao, conceitos tericos, metodologias em profcuo dilogo com pesquisas sociais produzidas em diferentes pases, num significativo e enriquecedor intercmbio de interpretaes sociolgicas (Chen Yin-gying, 2008: 411).

    A sociologia chinesa goza atualmente de amplo reconhecimento mundial. Nacional-mente, engaja-se tambm no processo de produo de conhecimento, na formu-lao de polticas pblicas em diferentes nveis, em resposta aos desafios que lhes so oferecidos (Li Peilin, Guo Yuhua & Liu Shiding, 2008). Evidentemente, outras disciplinas participam desta tarefa, cabendo aqui apenas salientarmos a contribui-o da sociologia.

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    O crescente nmero de centros acadmicos dedicados sociologia, o incremen-to do nmero de pesquisadores e, certamente, da qualidade das publicaes so importantes indicadores deste florescimento da sociologia chinesa nos ltimos 30 anos. Os principais atores deste processo so a Academia Chinesa de Cincias So-ciais (Chinese Academy of Social Sciences Cass), o Centro Nacional de Pesquisa em Humanidades e em Cincias Sociais e o Instituto da Amrica Latina, que sedia o Centro de Estudos Brasileiros. Para o Brasil, particularmente importante o interes-se que a Cass apresenta pela experincia brasileira5.

    A Cass foi instituda em 1977, a partir do Departamento de Filosofia e Cincias So-ciais da Academia Chinesa de Cincias. Possui atualmente 37 institutos e mais de 150 centros de pesquisa e escolas de graduao que desempenham atividades que abrangem 260 subdisciplinas.

    Ao tomar como base os trabalhos do Instituto de Sociologia da Academia Chinesa de Cincias Sociais, disponveis tambm em importante livro publicado em Paris (Roulleau-Berger et alii, 2008), podemos identificar as seguintes linhas de pesquisa na sociologia chinesa contempornea:

    1. estudo das transformaes sociais;

    2. conceito de sociologia da transio;

    3. conflitos agrrios e a migrao rural-urbana;

    4. transformaes do trabalho, efeitos das novas tecnologias, as ci-dades fragmentadas e os trabalhadores migrantes;

    5. sociologia da juventude6;

    6. a violncia social difusa e os meios de prevenir a violncia;

    7. o sistema de justia criminal e o modelo de controle social;

    8. modos de policiamento comunitrio;

    9. construo da sociedade com respeito cidadania e diversidade social em um novo nvel do processo civilizatrio.

    Ao expressar alguns pontos importantes sobre a sociologia chinesa segundo alguns de seus socilogos7, algumas propostas de mudanas so elaboradas como meios de fazer frente aos efeitos da transformao social recente na China, entre elas:

    1. permitir o acesso a uma informao aberta, transparente e com-pleta, sempre objetivas;

    2. colocar em concertao as reivindicaes relacionadas a interesses particulares divergentes;

    5. O professor Jos Vicente Tavares dos Santos, professor titular do Departamento de Sociologia do Instituto de Filosofia e Cincias Humanas da UFRGS, esteve presente no XXXVI Congresso Mundial de Sociologia da ISA, em julho de 2004, em Beijing, China, onde coordenou a Sesso 93, intitulada The age of insecurity: social conflicts, violence and the building of peace in everyday life in post modern societies. O interesse pela aproximao entre as sociologias brasileira e chinesa tambm ficou evidente com a participao de Tavares dos Santos na conferncia de celebrao do trigsimo aniversrio do Instituto de Sociologia da Academia de Cincias Sociais da China com o trabalho intitulado BRIC sociology: globalization and social development, em abril de 2010, em Beijing. Desta mesma conferncia participou o Professor Thomas Patrick Dwyer, que presidiu a Sociedade Brasileira de Sociologia (SBS) de 2005 a 2009, e atualmente membro do Comit Executivo da International Sociological Association (ISA), com mandato de 2010 a 2014. Ainda em 2010, em Gotemburgo, na Sucia, Tavares dos Santos participou do XVII World Congress

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    3. estabelecer um sistema de participao social e de expresso dos cidados;

    4. garantir meios de presso tambm para os grupos vulnerveis;

    5. estabelecer dispositivos de consulta e de negociao, buscando a autorregulao social;

    6. instaurar o dispositivos de arbitragem e de negociao.

    O dilogo entre as sociologias chinesa e brasileira, no caso especfico da planificao e das polticas sociais, possibilita iniciar o incremento da aproximao e construir outra sociologia mundial no sculo XXI, orientada pelas perspectivas da transio e da transformao, tanto no social como no saber, a fim de contribuir para a constru-o da cidadania mundial.

    of Sociology.Violence, Peace and War, participao que resultou na publicao intitulada The dialogue between criminology and the south sociology of violence: the policing crisis and alternatives, publicada em Michael Burawoy, Mau-Kuei Chang, & Michelle Fei-Yu Hsieh (2010). Alm disso, atesta-se, profuso, maiores contatos de aproximao entre as sociologias do Sul com a realizao do evento Sociologias do Sculo XXI, em comemorao aos 40 anos do Programa de Ps-Graduao em Sociologia da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, evento que contou com a participao da professora Li Chunling, do Instituto de Estudos Latino-Americanos da Academia Chinesa de Cincias Sociais, alm de outros professores da frica do Sul e da ndia.

    6. rea cujo desenvolvimento o professor Thomas Patrick Dwyer tem oferecido importante contribuio. Ver: Tom Dwyer (2007; 2011; 2012).

    7. So tomadas algumas opinies a partir de formulaes de socilogos da Universidade Tsinghua: .

    Temas Estudos

    Segurana social

    Mecanismos inovadores voltados s comunidades e de apoio aos desfavorecidos.Segurana e Estado de bem-estar social.Segurana social.Polticas sociais no processo de implantao de um sistema de mercado.

    Inovao Mudana institucional e processos sociais inovadores.

    Pobreza Pobreza e vida em comunidade das minorias.Pobreza urbana.

    Desenvolvimento Sistemas e modelos de previso sobre o desenvolvimento social.

    Migrao Migrao ruralKurbana em perodos de reforma. Migrao ruralKurbana contempornea.

    Imaginrio Psicologia social durante o perodo de transio.

    TrabalhoEstudos de unidades de trabalho e desenvolvimento social. Empresas estatais e organizaes no estatais.Realocao profissional em regies de cinturo industrial.

    Organizaes sociais Organizaes civis e reconstruo comunitria.

    Pensamento social Escolas ocidentais de pensamento e pensamento sociolgico.

    Urbano Desenvolvimento de pequenas cidades na China.

    Indicadores sociais Estudos econmicos e sociais de pequenos municpios.

    FamliaEstudos de famlias em reas urbanas e rurais.Atuais tendncias e estratgias para cuidados com idosos em reas rurais e urbanas.

    Estrutura social

    Condio social presente e tendncias futuras.Estrutura social e desenvolvimento de mercado.Estruturas sociais e estratificao social contemporneas.Estratificao e mobilidade social.

    Conflitualidade Contradies de interesses entre indivduos.

    Juventude Valores da juventude chinesa.

    Quadro 1A sociologia chinesa, temas e pesquisas

    Fonte: Institut of Sociology Chinese Academy Social Sciences. Compilao dos autores.

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    A sociologia na ndia

    Para este escoro, destacaremos o processo de dependncia que o imperialismo ingls exerceu sobre a sociedade indiana, lembrando a desindustrializao ocorrida ainda no sculo XIX (Baran, 1972). Da herana colonial ficou uma administrao federativa e um sistema poltico parlamentarista, com uma administrao pblica ampla, em interao com o sistema social, com a esfera poltica e com os interesses poltico-eleitorais dos parlamentares (Lopez, 2008: 69-92).

    A crtica s formas de dominao capitalistas e coloniais, sobretudo em sua dimen-so epistemolgica, contribui para compreender a sociologia indiana, pois situa os processos coloniais na reconstruo do pensamento sociolgico do pas.

    Ao apresentar uma reconstruo histrica da sociologia indiana, Ishwar Modi (2010) argumenta que essa passa por um momento crtico, tendo em vista que est ainda dominada pela mudana dos paradigmas do Ocidente. A sociologia indiana ainda no completou sua prpria contribuio teoria social e ao desenvolvimento conceitual.

    A emergncia das cincias sociais pode ser pensada como consequncia do proces-so de colonizao que se estabeleceu no pas. Os administradores britnicos procu-raram conduzir diversas pesquisas, tanto com enfoque qualitativo como quantitati-vo, a fim de conhecer os limites do seu controle (Lardinois, 2009).

    Segundo Alatas (2006: 8), h uma sobredependncia das contribuies do pensa-mento ocidental, que se deu no apenas pela imposio colonial, mas, sobretudo, pelo que se entende como uma aceitao at mesmo com certo entusiasmo das abordagens e dos conceitos utilizados para pensar realidades muito diversas daquela da ndia.

    Esta mudana nos estudos sociolgicos deveria ser levada a cabo por escolas locais orientadas pelos problemas relativos a estes contextos sociais, sendo capazes de desenvolver e aplicar de forma independente conceitos que tenham relevncia para as questes do pas e suas regies. preciso contextualizar os conceitos que so amplamente utilizados para a anlise das diversas sociedades, como, por exemplo, sanes, classe social, estratificao, mobilidade social, cultura, entre outros. So conceitos universais, mas suas manifestaes empricas podem ser muito diversas e precisam ser contextualizadas e problematizadas. Fundamenta sua crtica a falta de um pensamento autnomo s cincias sociais no ocidentais, o que acaba, muitas vezes, reproduzindo conceitos centrais da sociologia de forma no contextualizada no tempo e no espao.

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    A sociedade indiana foi constituda por diferentes processos que atuaram conjun-tamente: o colonialismo, o nacionalismo e a constituio do Estado moderno in-diano. Compreender essa sociedade implica considerar como estes processos se configuraram na histria da ndia (Oommen, 1988: 309).

    Este tema tambm abordado ao se focar a diferena entre os estudos rurais e urbanos: alguns trabalhos analisam formas de produo artesanal que no podem ser explicadas nos termos da acumulao capitalista. Portanto, h limites na utili-zao de categorias sociolgicas universalizantes sem situ-las e repens-las nos vrios contextos sociais (Patel & Deb, 2006: 454).

    O desenvolvimento da sociologia indiana no pode ser compreendido de forma apartada das diversas fases histricas da nao. A emergncia da sociologia como disciplina formal deu-se na ndia em 1919 e coincidiu com algumas fases crticas da histria do pas (Modi, 2010: 316). Naquele contexto, Gandhi j havia retornado da frica do Sul e vrias medidas de reconstruo do pas estavam sendo toma-das como consequncia do perodo ps-Primeira Guerra Mundial. Sua marcante presena inspirou o pioneirismo de muitos socilogos, dedicados ao estudo do homem comum.

    A pesquisa sociolgica na ndia foi iniciada antes mesmo do advento da sociologia formal pelos administradores britnicos. Entretanto, Modi (2010: 316-317) faz uma crtica a estas primeiras abordagens desenvolvidas ainda no perodo pr-Indepen-dncia indiana. Na sua concepo, essas anlises no produziram uma compreen-so apropriada da realidade do pas, pois se fundamentavam numa inadequada e imprecisa apreenso dos costumes locais e tradies e estavam marcadas por julgamentos acerca da cultura e dos diferentes arranjos institucionais. Para ele, os administradores coloniais fizeram uso da sociologia para poder executar mais suavemente a sua administrao e dominao colonial.

    Na sua crtica a estes estudos, Yogendra Singh8 salienta uma viso da realidade so-cial mecanicista, segmentaria e instrumental, constituindo um tpico paradigma co-lonial, oferecendo uma imagem fraturada da sociedade indiana. Menciona alguns exemplos: o exagero de elementos que marcavam as clivagens e segmentaes sociais; o preconceito presente nas anlises dos socilogos ocidentais que enfa-tizavam interpretaes negativas acerca da realidade indiana e apontavam como possvel soluo para o problema o caminho da cristianizao.

    A forma dos ocidentais pensarem o tema da religio expressa essa forma me-canicista e caricatural de analisar a sociedade indiana (Modi, 2010). Enquanto, na constituio do pensamento ocidental, busca-se a secularizao do pensamento,

    8. Yogendra Singh nasceu em 1932, numa pequena vila chamada Chowkhar, perto da fronteira com o Nepal, cidade de sistema econmico basicamente feudal, e fez sua educao primria em escolas locais. Em sua obra, analisou a tradio e a mudana, a fluidez das estruturas e da formao de realidades sociais, salientando a inadequao de velhas categorias (cf. Modi, 2012: 8).

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    na ndia a religio no vista como algo que obstaculiza o pensamento livre. Por-tanto, olhar a ndia sob este vis constitui uma forma inadequada de caracteriz-la.

    Ao retomar a constituio histrica do pensamento sociolgico na ndia, o autor di-vide os temas e o desenvolvimento da sociologia indiana de acordo com seus dife-rentes perodos histricos. Destaca, inicialmente, o perodo pr-Independncia, no qual situa o desenvolvimento das disciplinas sociologia e antropologia social, as quais tiveram seu incio em duas cidades que, simbolicamente, representam o colonialis-mo: Bombaim e Calcut. A sociologia tinha um papel secundrio neste perodo e os centros de cincias sociais iniciavam suas atividades com disciplinas de economia.

    Como referncias notveis na produo de conhecimento neste perodo, Modi (2010: 318) destaca Seal e Sarkar, inspirados no Movimento Nacional Indiano, como os pioneiros nos estudos sobre etnicidade, religio e cultura. G. S. Ghurye desen-volveu estudos sobre famlia, estrutura de parentesco, casamento, grupos tnicos, destacando-se seu estudo sobre os hbitos sexuais da classe mdia em Bombaim, introduzindo o empirismo na sociologia indiana (cf. Modi, 2010: 318). Em Calcut, destaca-se Radhakamal Mukherjee, que comeou a formao em economia, desen-volvendo como foco a economia rural e os problemas da terra (1926-1927), popula-cionais (1938) e temas ligados s condies da classe trabalhadora (1945).

    Modi (2010) destaca, ainda, a atuao de Chattopadhyay, antroplogo formado em Cambridge, que conduziu estudos de survey revelando as condies de vida dos camponeses e da classe trabalhadora em Bengali. Seus trabalhos sobre o sistema social indiano e suas instituies sociais no perodo pr-Independncia foram in-fluenciados pelo estilo e contedo dos trabalhos etnogrficos produzidos pelas es-colas britnicas no perodo colonial.

    Os principais temas de estudo desenvolvidos neste perodo versavam sobre castas, famlia, casamento, parentesco, estratificao social, comunidades tribais, sociedade urbana e rural. Um dos centros que mais contribuiu para o crescimento da sociologia neste perodo foi Lucknow. Nessa escola, destaca-se a atuao de Mukerji, que se dedicou ao estudo da msica e das artes como criao peculiar da cultura indiana.

    No perodo ps-Independncia, houve uma fase de expanso da sociologia e antro-pologia social, especialmente no ano de 1952. Essa expanso pode ser explicada por diversos fatores, especialmente por decises polticas que impunham objetivos de regenerao econmica e desenvolvimento social e pelo reconhecimento do papel das cincias sociais para alcanar tais objetivos nacionais. Vivia-se um momento de reconstruo, com incentivos ao crescimento e desenvolvimento do pas, marcado pelo financiamento de instituies internacionais, a exemplo da Ford Foundation.

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    Neste perodo houve tambm um crescimento de cientistas sociais, cujos traba-lhos focaram o desenvolvimento comunitrio e as investigaes polticas relevantes quele contexto de desenvolvimento (Modi, 2010: 319).

    No que diz respeito s abordagens tericas deste perodo, o autor destaca que a sociologia na ndia desenvolveu-se, em larga medida, num ambiente de tenso en-tre a herana da antropologia social britnica, da sociologia canonizada nos Estados Unidos e da tradio intelectual marxista.

    Na ndia, a despeito dessas tentativas de reconstruo e desenvolvimento social e econmico, cabe destacar que a passagem de uma sociedade baseada na agricultu-ra para a indstria acabou acarretando o aumento desigualdades internas. Apesar do sucesso de alguns setores econmicos, bem como da expanso de uma classe mdia, os problemas bsicos continuaram: aumento da pobreza urbana, surgimen-to de guetos e favelas. As consequncias deste processo podem ser visualizadas at os dias atuais e precisam ser mais estudadas (Modi, 2010: 321).

    Sujata Patel e Kushal Deb (2006: 45) trazem para o debate um dos temas que mar-caram a histria da sociologia indiana, o dilema entre os estudos rurais e urbanos. Os autores apontam que a sociologia na ndia tem sido historicamente dominada pelos estudos rurais e que, nos ltimos dez anos, h uma mudana radical de di-reo com o crescente desenvolvimento dos estudos urbanos. Enquanto os estu-dos rurais se concentraram nas mudanas das dinmicas de castas e classes como manifestaes nas transformaes das hierarquias locais / rurais e das divises do trabalho devido a novos processos produtivos, os estudos urbanos tm focado na emergncia de distintas identidades e padres de interao social entre diferentes grupos sociais e novos formatos de ao coletiva. Neste contexto, o debate acerca da tradio e da modernidade continua sendo repetidamente revisitado. Destaca como temas dos estudos urbanos: o processo urbano contemporneo, as metr-poles indianas, o espao urbano, o Estado, as polticas, a ao coletiva e a cultura urbana (Patel & Deb, 2011: 455).

    Em um contexto mais recente, a despeito da posio da sociologia indiana no ce-nrio global, Modi (2010: 321) aponta para novos temas e novas linhas de preocu-pao num contexto marcado pela globalizao: temas como justia social, meio ambiente e ecologia, questes de gnero, liberalizao da economia, fome, direitos humanos.

    Alerta para a necessidade de tomada de conscincia das mentes cativas refe-rncia a uma sndrome que operou na ndia e que diz respeito falha dos soci-logos indianos em conceder ateno aos temas mais importantes relacionados aos

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    Perodo Temas

    Perodo pr-Independncia

    Etnicidade, religio e cultura.Famlia, estrutura de parentesco, grupos tnicos.Economia rural, problemas da terra, estudos populacionais e condies da classe traba-lhadora.Condies de vida dos camponeses e da classe trabalhadora.Sistema social indiano.Castas, casamento, estratificao social, comunidades tribais, sociedade urbana e rural.

    Perodo ps-Independncia

    Desenvolvimento comunitrio e as investigaes polticas.

    Estudos rurais

    Mudanas das dinmicas de castas e classes como manifestaes nas transfor-maes das hierarquias locais/rurais e das divises do trabalho devido a novos processos produtivos.

    Estudos urbanos

    Emergncia de distintas identidades e padres de interao social entre diferentes grupos sociais e novos formatos de ao coletiva; o processo urbano contemporneo; as metrpoles indianas, espao urbano, Estado, polticas e ao coletiva e cultura urbana.

    Tradio e modernidade.

    Contexto contemporneo

    Globalizao.Desigualdade social.Justia social.Meio ambiente.Ecologia.Questes de gnero.Liberalizao da economia.Fome.Direitos humanos.

    Quadro 2 Sociologia Indiana, perodos e temas

    contextos locais. Para Modi (2010: 323), os socilogos esto demonstrando mais conscincia da persistncia das desigualdades que operam em diferentes nveis na sociedade e destaca ainda o problema da linguagem como obstculo s publica-es. Os socilogos trabalham a partir de suas lnguas regionais e acabam sofrendo com a falta de jornais nos quais podem publicar e, mesmo que escrevam em ingls, h poucas possibilidades de serem publicados, fazendo com que bons trabalhos acabem no sendo conhecidos e reconhecidos para alm dos contextos locais. O tema da linguagem tambm abordado por Lardinois (2009) que argumenta que a lngua inglesa permanece como lngua comum para a elite indiana, muito embora, h novos estudantes que no falam ingls e que esperam uma educao que enfa-tize as lnguas nacionais.

    Esta dimenso expressa, sem dvida, o quanto ainda h de pensamento colonizado na forma de produzir e tambm de divulgar o conhecimento: na medida em que h uma lngua dominante, possvel perceber como prticas e saberes permanecem silenciados, tanto por no se expressarem na lngua dominante como por esta epistemologia dominante sequer reconhecer sua existncia.

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    Modi (2010) finaliza destacando a preocupao atual da Associao Indiana de So-ciologia em estabelecer redes e parcerias em diferentes partes do mundo, citando associaes na frica do Sul e mesmo no Brasil.

    Podemos sintetizar as linhas de pesquisa na sociologia indiana contempornea tal como apresentadas acima, no Quadro 2.

    Pistas para a comparao entre as sociologias do Sul

    Neste incio de sculo, o padro de trabalho intelectual da sociologia, moldado pela construo de uma investigao teoricamente densa, empiricamente rigorosa e com orientao crtica, produz as anlises necessrias para ajudar a refletir sobre os tempos sociais na Amrica Latina, na ndia e na China.

    Mudanas nas polticas pblicas, mobilizaes na sociedade civil, pujana nos movi-mentos sociais e processos de transculturaes sugerem novidades importantes nas sociedades latino-americanas. Presenciamos processos de transformao orientados pelos valores da soberania e da independncia, da equidade e da justia social, da recusa da humilhao e da discriminao racial e cultural, princpios que esto disse-minados nos processos micro e macrossociais de construo da dignidade humana.

    O padro de trabalho cientfico do socilogo composto por um imperativo de responsabilidade social, de respeito aos direitos humanos e de conduta acadmica orientada pela justia que leva o cientista social habilitado a respeitar tanto o mrito cientfico como a relevncia social de sua pesquisa.

    A linguagem informacional est permitindo a superao de antigas antinomias, pelo uso combinado e aplicado de diversos mtodos quantitativos e qualitativos de pes-quisa, configurando um padro de trabalho cientfico que poderamos denominar de sociologia informacional, cujos delineamentos precisos ainda esto em curso de fabricao pelos praticantes deste ofcio. Saliente-se que o programa de anlise do discurso e de imagens nvivo10 apresenta verses em ingls, espanhol, portugus e mandarim.

    As novas questes sociais em escala mundial constituem um vasto campo de in-terrogaes prtica sociolgica. Esto relacionadas, por um lado, intensificao das relaes de produo e de troca mercantil no espao planetrio; por outro, expressam a reduo da capacidade regulatria dos Estados nacionais sobre o orde-namento do trabalho e da produo de mercadorias em seus territrios. H, tam-bm, as possibilidades de comunicao abertas pelas tecnologias da informao

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    que produzem transformaes espao-temporais nas relaes sociais e conferem novos significados s formas de sociabilidade.

    Se muitas so as possibilidades emancipatrias, h um universo de excluso social e de segregao scio espacial por classes, gneros, etnias, afinidades culturais, grupos etrios que exige uma teoria crtica da modernidade e da sociedade con-tempornea.

    Como a sociologia pode contribuir para responder aos questionamentos que desa-fiam a teoria sociolgica e a sociedade atual?

    A sociologia do Sul est inserida no espao contemporneo de conhecimento so-ciolgico: um conhecimento sociolgico internacional, investigando a realidade contempornea, marcada por conflitualidades e dilaceramentos do tecido social e institucional, em configuraes espao-temporais que relacionam reciprocamente o local, o nacional e o mundial.

    Ao reconhecer a prtica sociolgica como processo de construo de uma auto-conscincia crtica da sociedade, no nos furtamos a idear possveis histricos, em um difcil processo civilizatrio que os cidados e as cidads, em um social mundia-lizado, esto a imaginar e a construir.

    Embora as diferentes tradies da sociologia remetam ao sculo XIX e ao incio do sculo XX, houve momentos de ruptura epistemolgica marcantes. Na ndia, a Inde-pendncia acentua outro momento da sociologia. Na China, o marxismo dogmtico provoca um grande hiato entre o perodo 1952-1980 e a retomada de uma sociolo-gia da transio. Na Amrica Latina, a sociologia crtica dos anos 1960 foi fortemen-te abalada pelas ditaduras militares, mas retoma com mpeto aps os processos de democratizao dos anos de 1990.

    Capacidade criativa, manejo informacional e responsabilidade tica configuram de-safios, densos e fecundos, para a cincia social. As prticas de anlise social com-plexa, informacional e transdisciplinar podem ser definidas como saber do jovem sculo XXI orientado pela perspectiva de transformao do conhecimento e da so-ciedade na Amrica Latina.

    Temos um novo desafio intelectual: como construir as epistemologias do Sul? Do ponto de vista de uma epistemologia do sul, tal qual prope Boaventura de Sousa Santos, interessante observar sob quais dimenses o colonialismo e esta episte-mologia dominante vem sendo reatualizada, considerando-se a linguagem como forma de difundir este conhecimento.

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  • 260 Revista Sociedade e Estado - Volume 30 Nmero 1 Janeiro/Abril 2015

    O objetivo deste texto foi de salientar alguns temas emergentes nas sociologias da Amrica Latina, ndia e China, indicando a enorme tarefa que se vislumbra: como realizar um intercmbio intelectual de conceitos, metodologias e hipteses, de modo a comear um dilogo, infelizmente to pouco realizado at agora? O incio seria um mapa de questes sociolgicas como acima delineamos , o qual revelou que as mencionadas sociedades fazem parte de uma Era de Mundializao de Con-flitualidades, porm com algumas especificidades, pois os efeitos da globalizao econmica so distintos assim como a atuao dos Estados nacionais diversa. H um enorme caminho a ser percorrido.

    Estaramos observando mais desdobramentos de uma epistemologia dominante que no apenas no reconhece a diversidade do saber, mas igualmente a sua forma de expresso? Continuamos margem de uma cincia que ainda se constri sob uma epistemologia dominante, que ainda reivindica um binarismo entre o ns e o eles, cabendo a esta epistemologia a deciso sobre quais prticas e saberes se tor-naro legtimos e inteligveis? A discusso acerca de uma epistemologia dominante continua atual e pertinente, tal qual deve ser a reivindicao desse novo espao de contestao, marcado pelas epistemologias do Sul. O dilogo com as sociologias indiana e chinesa parece ser um bom incio para o estabelecimento de um novo patamar da internacionalizao da sociologia crtica.

    Os elementos do pensamento sociolgico investigao cientfica, compromisso poltico e imaginao sociolgica acompanhando as rupturas epistemolgicas do tempo presente, constroem o pensamento crtico que acompanha os processos de transformao social contemporneos. Nosso passo, ser compartilhar o pensa-mento crtico e relacionar as experincias de novas utopias, em um processo de mundializao da sociologia contempornea.

    Abstract: This paper sets forth a reflection over the contributions that Latin American, Chinese and Indian sociologies may offer to the social thinking in the era of worldization of social conflictual-ities. We propose a multiple dialogue, based on the historicity of the social processes of building social thinking, regarding concepts, as well as the paths of knowledge construction, as having their own groundings that are neither universal, nor homogeneous. They reflect, instead, the recurrence of social struggles, the existence of local contradictions in heterogeneous contexts. We approxi-mate Latin American, Chinese and Indian sociologies by following through this path of epistemo-logical reconstruction under the concept of epistemology of the South, as in Boaventura de Sousa Santos, and by promoting means to a dialogue amongst multiple practices and knowledges from those three parts of the world.

    Key-words: epistemology, worldization, conflitualities, sociology, Latin America, Lantin-american sociology, China, Chinese sociology, India, Indian sociology, historicity.

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