A Negação Do Brasil - TECS1

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A Negação do Brasil A cena inicial que apresenta a comemoração do sucesso de “O Direito de Nascer” em que Isaura Bruno, atriz nacionalmente conhecida como Mamãe Dolores, é, ingenuamente, ridicularizada com a representação pejorativa da cultura e da imagem negra antecipa a realidade a ser vivida pelo ator negro e os personagens que representariam na teledramaturgia. Zezé Motta como empregada. Ruth de Souza como Sinhá Moça em 1954 num filme de mesmo título. “A Cabana do Pai Tomás” representa uma das maiores negações da cultura negra do Brasil no Brasil pela televisão brasileira, onde o ator branco Sergio Cardoso se pintava de negro, demonstrando a ideia da época de que não havia ator negro com capacidade de atuar como protagonista de uma telenovela equivalente ao de um ator branco. Nesse momento houve protestos e críticas à representação “palhaça” do negro. Nesse momento, vários atores negros que foram “intimados” a depor a favor dessa “representação” do negro se mostraram contra e firmaram sua identidade negra. A partir daí, como evidencia de represália, as emissoras passaram a colocar o negro em papéis submissos a brancos, como empregados domésticos e outros. Maria Clara, uma empregada da novela Antonia Clara, se diz muito feliz por ser tratada como gente, apesar de ser negra. O autor Geraldo Vietre se diz muito feliz por conseguir mudar parte da mentalidade das famílias com relação ao tratamento de seus empregados negros. A televisão foi dando mais espaço para os negros nas novelas. Ou será que era mais corda para eles mesmos se enforcarem em sua “condição estereotipada pelos brancos”? O que fica de lição nesse momento é o que Toni Tornado cita do saudoso Grande Otelo: “Não existe papeis pequenos!”. As condições sociais do negro ao longo da história real do país reafirmou na ficção televisiva a falta de oportunidade de trabalho, de crescimento intelectual e ascensão social. Porém, a autora Janete Claire foi a primeira a criar e inserir personagens negros de classe média na telenovela. Isso representou a realidade de que o negro estava gradativamente conquistando um espaço de respeito e de reconhecimento social. Mas enfrentando muito preconceito e pouco espaço de atuação, refletido em papéis de pouca ação no roteiro televisivo e de maneira submissa. Na novela “Corpo a Corpo” foi possível entender por meio de publicações jornalísticas e pesquisas populares o pensamento coletivo da sociedade da época de que a

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A Negao do Brasil

A cena inicial que apresenta a comemorao do sucesso de O Direito de Nascer em que Isaura Bruno, atriz nacionalmente conhecida como Mame Dolores, , ingenuamente, ridicularizada com a representao pejorativa da cultura e da imagem negra antecipa a realidade a ser vivida pelo ator negro e os personagens que representariam na teledramaturgia. Zez Motta como empregada. Ruth de Souza como Sinh Moa em 1954 num filme de mesmo ttulo. A Cabana do Pai Toms representa uma das maiores negaes da cultura negra do Brasil no Brasil pela televiso brasileira, onde o ator branco Sergio Cardoso se pintava de negro, demonstrando a ideia da poca de que no havia ator negro com capacidade de atuar como protagonista de uma telenovela equivalente ao de um ator branco. Nesse momento houve protestos e crticas representao palhaa do negro. Nesse momento, vrios atores negros que foram intimados a depor a favor dessa representao do negro se mostraram contra e firmaram sua identidade negra. A partir da, como evidencia de represlia, as emissoras passaram a colocar o negro em papis submissos a brancos, como empregados domsticos e outros. Maria Clara, uma empregada da novela Antonia Clara, se diz muito feliz por ser tratada como gente, apesar de ser negra. O autor Geraldo Vietre se diz muito feliz por conseguir mudar parte da mentalidade das famlias com relao ao tratamento de seus empregados negros. A televiso foi dando mais espao para os negros nas novelas. Ou ser que era mais corda para eles mesmos se enforcarem em sua condio estereotipada pelos brancos? O que fica de lio nesse momento o que Toni Tornado cita do saudoso Grande Otelo: No existe papeis pequenos!. As condies sociais do negro ao longo da histria real do pas reafirmou na fico televisiva a falta de oportunidade de trabalho, de crescimento intelectual e ascenso social. Porm, a autora Janete Claire foi a primeira a criar e inserir personagens negros de classe mdia na telenovela. Isso representou a realidade de que o negro estava gradativamente conquistando um espao de respeito e de reconhecimento social. Mas enfrentando muito preconceito e pouco espao de atuao, refletido em papis de pouca ao no roteiro televisivo e de maneira submissa. Na novela Corpo a Corpo foi possvel entender por meio de publicaes jornalsticas e pesquisas populares o pensamento coletivo da sociedade da poca de que a relao inter-racial dos protagonistas no era verdadeira e motivo de dar nojo. Os constantes ataques verbais violentos representou a doena do preconceito instalado em um pas historicamente feito por negros. A partir de novelas como Sinha Moa de 1986, a libertao do negro e a abolio da escravatura foi representada de maneira sria, indicando um momento crtico na vida do afro-brasileiro recm liberto. 1988 vai ao ar a novela Pacto de Sangue, uma histria de orgulho racial, onde apresenta a luta ativa do negro na abolio da escravido. Em A Prxima Vtima (1995), Slvio de Abreu retrata uma famlia inversamente preconceituosa, onde os negros humilham a postura do personagem branco que se apaixona pela filha do casal. Em Ptria Minha, o polmico racismo representado na cena entre um empresrio branco e um jardineiro negro causa polmica e muda o rumo da histria real com a defesa da representao negra por meio de protestos de grupos de defesa racial populares, culminando na cena televisiva em que uma senhora negra defende e revaloriza a raa negra com palavras de orgulho e de demonstrao da melhoria da condio e da viso do negro na sociedade. Em Anjo Mau, o racismo mais complexo e est ligado ao filho de uma relao inter-racial e que, em um momento oportuno da vida, nega a sua origem negra, negando a prpria me. Ao longo da histria da televiso percebido que nos ltimos tempo h pouca participao do negro nas novelas e apesar de toda a luta negra, a mdia televisiva, juntamente com o consentimento silencioso da sociedade, continuando negando o Brasil.