A nova estrela (chinesa) dos telemóveis 6 de maio de 2017 ECONOMIA 11 CONSUMO A nova estrela...

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Expresso, 6 de maio de 2017 ECONOMIA 11 CONSUMO A nova estrela (chinesa) dos telemóveis Mercado português cresceu 2% em 2016 em contraciclo com a média europeia. Huawei é a mais beneficiada As vendas de telemóveis estão a subir em Portugal e a baixar a nível europeu. Segundo dados da consultora IDC, em 2016 vende- ram-se 3 milhões de telemóveis em Portugal, um ligeiro cresci- mento de 2% face a 2015, quando no mercado europeu houve uma retração, em média, de 8%. O painel da empresa de estudos de mercado GfK vai mais longe e indica que no ano passado as vendas destes equipamentos em Portugal cresceram 6,7%, com especial incidência na época do Natal (mais 13% no último tri- mestre). A diferença entre os dois indicadores resulta do facto de a IDC acompanhar as vendas dos fabricantes aos diferentes canais de mercado (cadeias de retalho, operadores de telecomu- nicações e o canal internet), en- quanto a GfK regista as que são feitas aos consumidores finais. Além de refletir recuperação de poder de compra e aumento da confiança dos portugueses, este aumento de vendas de equipamentos móveis é tam- bém explicado pelo facto de haver um número significativo de pessoas que está a migrar dos velhos telemóveis para os telefones inteligentes (smart- phones), que têm ecrã tátil e já permitem aceder à inter- net). Mesmo assim, o mercado português está um passo atrás face à média europeia, já que em 2016 os smartphones repre- sentaram 81% das vendas totais de telefones móveis segundo a IDC (a GfK aponta para 86%), quando na Europa eram 90%. Ou seja, no ano passado foram vendidos em Portugal perto de 570 mil telemóveis tradi- cionais. E há outro indicador que não deixa dúvidas sobre o menor poder de compra dos portugueses: o preço médio dos smartphones vendidos no ano passado em Portugal foi de €270, quando na Europa foi €410. Em relação aos fabricantes, o principal beneficiário des- te aumento foi a Huawei que, no passado, segundo dados da IDC, disparou as vendas não só em termos de unidades (+89%) como também em valor (+121%) e o preço médio subiu de €229 para €268 (entre 2015 e 2016). A marca chinesa, que comerci- alizou em 2016 perto de 530 mil unidades, terá beneficiado da queda de alguns concorrentes, nomeadamente do líder Sam- sung, que desceu 10%. A marca coreana (que vendeu 730 mil unidades) perdeu quota de mer- cado em unidades e valor, mas as vendas em valor aumentaram 20%, o que significa que conse- guiu colocar telefones a preços mais altos. O preço médio evo- luiu pela positiva de €249 em 2015 para €332 em 2016. “Conti- nua a haver um reconhecimento da marca Samsung, apesar do desastre em 2016 com o Note7”, conclui Francisco Jerónimo, di- retor de pesquisas no escritório de Londres da IDC para o merca- do móvel da região EMEA (Eu- ropa, Médio Oriente e África). A nível mundial, os dados preli- minares da IDC para o primeiro trimestre indicam que a Sam- sung voltou a liderar o mercado, ultrapassando a Apple. Já a marca da maçã conseguiu vender 360 mil unidades em Portugal, um aumento de 28%. Em valor cresceu 17%, fruto de um mix de produtos com pre- ços mais baixos, como é o caso do modelo iPhone SE. Mesmo assim, a Apple foi, entre os três fabricantes do pódio, a que caiu em valor unitário (preço médio), baixando de €643 em 2015 para €589 no ano passado. “Os fabricantes focam-se cada vez mais no valor em vez das unidades vendidas”, sublinha Francisco Jerónimo. A maioria dos consumidores continua a preferir comprar através das lojas do operador (57%), mas o canal de retalho alternativo tem ganho quota e atualmente já re- presenta 38% das vendas totais de smartphones. A internet re- presenta apenas 5% das vendas. Liderança chinesa em 2020? “A Huawei é atualmente a es- trela do mercado português. Está a beneficiar do facto de ter conseguido melhorar nos últimos anos a sua imagem junto dos consumidores e por ter apostado numa competiti- va relação qualidade/preço”, observa Francisco Jerónimo, admitindo que a marca chinesa está bem lançada para se tor- nar líder de vendas no mercado português, tal como já acontece noutros países. Uma ambição que é assumida pelos responsáveis da Huawei. “Todas as nossas ações e lança- mentos visam o mesmo objetivo: ser a marca de smartphones nº 1 no mundo até 2020. Estamos a percorrer um caminho sustentá- vel e gradual, que já nos coloca no top 3 mundial de fabricantes e distribuidores de smartphones, segundo as consultoras Strategy Analytics e Counterpoints Rese- arch”, afirma Michael Mao, líder do Consumer Business Group da Huawei, referindo que o merca- do português “é muito impor- tante” para a marca, como se comprova pelo facto de ser um dos primeiros a receber os novos equipamentos P10 e P10 Plus. Para reforçar o “contacto direto com os consumidores”, a Hu- awei abriu uma loja no Centro Comercial Colombo, em Lisboa, em parceria com a iPhone Hou- se, “como ponto de ativação da marca e de experiência avança- da de produtos”. E tem prevista a abertura de dois centros de serviços em Lisboa e Porto que também permitem ao consu- midor “contactar diretamente com a marca e interagir com os produtos”. O bom momento da Huawei deve-se, segundo refere Fran- cisco Jerónimo, ao facto de ter conseguido posicionar-se no segmento premium, através de uma estratégia correta de par- cerias, como é o caso da alemã Leica, um nome forte nas lentes fotográficas. “Além da qualidade do ecrã e da duração da bateria, a qualidade da câmara está a ser cada cada vez mais determinan- te na decisão de compra”, refere o analista da IDC. Outra aliança importante para a Huawei foi a que estabeleceu com o Pantone Institute para “explorar o fator emocional associado à seleção da cor para compensar o facto dos equipamentos móveis serem demasiado homogéneos à vista. Para apurar o design do telemó- veis, a marca fez uma aliança com a também chinesa Ricostru. Tudo indica que a ofensiva chi- nesa nos próximos anos não se vai circunscrever à Huawei, com a previsível chegada nos próxi- mos meses das marcas Xiaomi e Oppo. A Xiaomi já está em Por- tugal através de duas lojas não oficiais (ver caixa) e através da venda online. Outro nome que vale a pena fixar é a Oppo, que em 2016 cresceu fortemente tendo vendido 78,4 milhões de telefones no mercado doméstico e em 20 países no sudoeste asiáti- co e em África. Prepara a entrada na Europa investindo em campa- nhas de imagem, tendo assinado um contrato de patrocínio com o FC Barcelona. Mas, para entrar em força no Ocidente, a Oppo precisar de resolver alguns con- flitos de patentes. Em contraponto com a inva- são chinesa, há que contar com o regresso anunciado da Nokia. Não com o regresso nostálgico do 3310, que foi lançada na feira de Barcelona, mas com a nova oferta Android que a marca fin- landesa deverá lançar nos próxi- mos meses. João Ramos [email protected] Richard Yu, administrador-executivo da área de consumo da Huawei, na apresentação do modelo P10 durante a Mobile World Congress em Barcelona FOTO PAUL HANNA/REUTERS Xiaomi abre duas lojas não oficiais A chinesa Xiaomi ainda não surge no top de vendas de telemóveis em Portugal, mas tem vindo a ganhar alguns fãs. Abriram duas lojas não oficiais com o logo da marca em dois centros comerciais das regiões de Lisboa e Porto por iniciativa de um funcionário da Xiaomi, mas os preços dos smartphones e acessórios são 20% a 30% mais elevados do que nas lojas na internet. Os funcionários deste revendedor justificam os preços mais elevados com a garantia de assistência técnica, serviço que alegam não existir no canal online. Resta saber se a marca, que também é distribuída pela Fnac, virá diretamente para Portugal quando está em queda na China (as vendas caíram 40% no 4º trimestre de 2016). RADIOGRAFIA 3 milhões foi o número de telemóveis vendidos em Portugal em 2016, segundo a consultora IDC 81% das vendas são smartphones (na Europa, em média, são 90%) 2% foi o crescimento do mercado português de telemóveis em 2016, segundo a IDC (na Europa caiu 8%). A GfK estima um crescimento de 6,7% €270 foi o preço médio dos telemóveis vendidos em Portugal em 2016. Na Europa ascendeu a €410 57% das vendas foram feitas através das lojas de operador em 2016. O canal online representou 5% Samsung Huawei Apple Samsung Apple Huawei 2016 2015 2016 2015 FONTE: EUROPEAN MOBILE DEVICES 21,9 28,8 25 17,6 9,5 10,8 8,6 27,3 10,1 23,9 25,8 17,6 QUOTAS DE MERCADO EM UNIDADES VENDIDAS Em percentagem QUOTAS DE MERCADO EM VALOR DE VENDAS Em percentagem

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Expresso, 6 de maio de 2017 ECONOMIA 11

CONSUMO

A nova estrela (chinesa) dos telemóveisMercado português cresceu 2% em 2016 em contraciclo com a média europeia. Huawei é a mais beneficiada

As vendas de telemóveis estão a subir em Portugal e a baixar a nível europeu. Segundo dados da consultora IDC, em 2016 vende-ram-se 3 milhões de telemóveis em Portugal, um ligeiro cresci-mento de 2% face a 2015, quando no mercado europeu houve uma retração, em média, de 8%. O painel da empresa de estudos de mercado GfK vai mais longe e indica que no ano passado as vendas destes equipamentos em Portugal cresceram 6,7%, com especial incidência na época do Natal (mais 13% no último tri-mestre). A diferença entre os dois indicadores resulta do facto de a IDC acompanhar as vendas dos fabricantes aos diferentes canais de mercado (cadeias de retalho, operadores de telecomu-nicações e o canal internet), en-quanto a GfK regista as que são feitas aos consumidores finais.

Além de refletir recuperação de poder de compra e aumento da confiança dos portugueses, este aumento de vendas de equipamentos móveis é tam-bém explicado pelo facto de haver um número significativo de pessoas que está a migrar dos velhos telemóveis para os telefones inteligentes (smart-phones), que têm ecrã tátil e já permitem aceder à inter-net). Mesmo assim, o mercado português está um passo atrás face à média europeia, já que em 2016 os smartphones repre-sentaram 81% das vendas totais de telefones móveis segundo a IDC (a GfK aponta para 86%), quando na Europa eram 90%. Ou seja, no ano passado foram vendidos em Portugal perto de 570 mil telemóveis tradi-cionais. E há outro indicador que não deixa dúvidas sobre o menor poder de compra dos portugueses: o preço médio dos smartphones vendidos no ano passado em Portugal foi de €270, quando na Europa foi €410.

Em relação aos fabricantes, o principal beneficiário des-te aumento foi a Huawei que, no passado, segundo dados da IDC, disparou as vendas não só em termos de unidades (+89%)

como também em valor (+121%) e o preço médio subiu de €229 para €268 (entre 2015 e 2016). A marca chinesa, que comerci-alizou em 2016 perto de 530 mil unidades, terá beneficiado da queda de alguns concorrentes, nomeadamente do líder Sam-sung, que desceu 10%. A marca coreana (que vendeu 730 mil unidades) perdeu quota de mer-cado em unidades e valor, mas as vendas em valor aumentaram 20%, o que significa que conse-guiu colocar telefones a preços mais altos. O preço médio evo-luiu pela positiva de €249 em 2015 para €332 em 2016. “Conti-nua a haver um reconhecimento da marca Samsung, apesar do desastre em 2016 com o Note7”, conclui Francisco Jerónimo, di-retor de pesquisas no escritório de Londres da IDC para o merca-do móvel da região EMEA (Eu-ropa, Médio Oriente e África). A nível mundial, os dados preli-minares da IDC para o primeiro trimestre indicam que a Sam-sung voltou a liderar o mercado, ultrapassando a Apple.

Já a marca da maçã conseguiu vender 360 mil unidades em Portugal, um aumento de 28%. Em valor cresceu 17%, fruto de um mix de produtos com pre-ços mais baixos, como é o caso do modelo iPhone SE. Mesmo assim, a Apple foi, entre os três

fabricantes do pódio, a que caiu em valor unitário (preço médio), baixando de €643 em 2015 para €589 no ano passado.

“Os fabricantes focam-se cada vez mais no valor em vez das unidades vendidas”, sublinha Francisco Jerónimo. A maioria dos consumidores continua a preferir comprar através das lojas do operador (57%), mas o canal de retalho alternativo tem ganho quota e atualmente já re-presenta 38% das vendas totais de smartphones. A internet re-presenta apenas 5% das vendas.

Liderança chinesa em 2020?

“A Huawei é atualmente a es-trela do mercado português. Está a beneficiar do facto de ter conseguido melhorar nos últimos anos a sua imagem junto dos consumidores e por ter apostado numa competiti-va relação qualidade/preço”, observa Francisco Jerónimo, admitindo que a marca chinesa está bem lançada para se tor-nar líder de vendas no mercado português, tal como já acontece noutros países.

Uma ambição que é assumida pelos responsáveis da Huawei. “Todas as nossas ações e lança-mentos visam o mesmo objetivo: ser a marca de smartphones nº 1 no mundo até 2020. Estamos a percorrer um caminho sustentá-vel e gradual, que já nos coloca no top 3 mundial de fabricantes e distribuidores de smartphones, segundo as consultoras Strategy Analytics e Counterpoints Rese-arch”, afirma Michael Mao, líder do Consumer Business Group da Huawei, referindo que o merca-do português “é muito impor-tante” para a marca, como se comprova pelo facto de ser um dos primeiros a receber os novos equipamentos P10 e P10 Plus. Para reforçar o “contacto direto com os consumidores”, a Hu-awei abriu uma loja no Centro Comercial Colombo, em Lisboa, em parceria com a iPhone Hou-se, “como ponto de ativação da marca e de experiência avança-da de produtos”. E tem prevista a abertura de dois centros de

serviços em Lisboa e Porto que também permitem ao consu-midor “contactar diretamente com a marca e interagir com os produtos”.

O bom momento da Huawei deve-se, segundo refere Fran-cisco Jerónimo, ao facto de ter conseguido posicionar-se no segmento premium, através de uma estratégia correta de par-cerias, como é o caso da alemã Leica, um nome forte nas lentes fotográficas. “Além da qualidade do ecrã e da duração da bateria, a qualidade da câmara está a ser cada cada vez mais determinan-te na decisão de compra”, refere o analista da IDC. Outra aliança importante para a Huawei foi a que estabeleceu com o Pantone Institute para “explorar o fator emocional associado à seleção da cor para compensar o facto dos equipamentos móveis serem demasiado homogéneos à vista. Para apurar o design do telemó-veis, a marca fez uma aliança com a também chinesa Ricostru.

Tudo indica que a ofensiva chi-nesa nos próximos anos não se vai circunscrever à Huawei, com a previsível chegada nos próxi-mos meses das marcas Xiaomi e Oppo. A Xiaomi já está em Por-tugal através de duas lojas não oficiais (ver caixa) e através da venda online. Outro nome que vale a pena fixar é a Oppo, que em 2016 cresceu fortemente tendo vendido 78,4 milhões de telefones no mercado doméstico e em 20 países no sudoeste asiáti-co e em África. Prepara a entrada na Europa investindo em campa-nhas de imagem, tendo assinado um contrato de patrocínio com o FC Barcelona. Mas, para entrar em força no Ocidente, a Oppo precisar de resolver alguns con-flitos de patentes.

Em contraponto com a inva-são chinesa, há que contar com o regresso anunciado da Nokia. Não com o regresso nostálgico do 3310, que foi lançada na feira de Barcelona, mas com a nova oferta Android que a marca fin-landesa deverá lançar nos próxi-mos meses.

João [email protected]

Richard Yu, administrador-executivo da área de consumo da Huawei, na apresentação do modelo P10 durante a Mobile World Congress em Barcelona FOTO PAUL HANNA/REUTERS

Xiaomi abre duas lojas não oficiais

A chinesa Xiaomi ainda não surge no top de vendas de telemóveis em Portugal, mas tem vindo a ganhar alguns fãs. Abriram duas lojas não oficiais com o logo da marca em dois centros comerciais das regiões de Lisboa e Porto por iniciativa de um funcionário da Xiaomi, mas os preços dos smartphones e acessórios são 20% a 30% mais elevados do que nas lojas na internet. Os funcionários deste revendedor justificam os preços mais elevados com a garantia de assistência técnica, serviço que alegam não existir no canal online. Resta saber se a marca, que também é distribuída pela Fnac, virá diretamente para Portugal quando está em queda na China (as vendas caíram 40% no 4º trimestre de 2016).

RADIOGRAFIA

3milhões foi o número de telemóveis vendidos em Portugal em 2016, segundo a consultora IDC

81%das vendas são smartphones (na Europa, em média, são 90%)

2%foi o crescimento do mercado português de telemóveis em 2016, segundo a IDC (na Europa caiu 8%). A GfK estima um crescimento de 6,7%

€270foi o preço médio dos telemóveis vendidos em Portugal em 2016. Na Europa ascendeu a €410

57%das vendas foram feitas através das lojas de operador em 2016. O canal online representou 5%

Samsung

Huawei

Apple

Samsung

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Huawei

20162015

20162015

FONTE: EUROPEAN MOBILE DEVICES

21,9

28,8

2517,6

9,510,8

8,6

27,3

10,1

23,925,8

17,6

QUOTAS DE MERCADO EM UNIDADES VENDIDASEm percentagem

QUOTAS DE MERCADO EM VALOR DE VENDASEm percentagem