[a] o Princípio Heraclito

Revista(Aproximao((Segundo(semestre(de(2014((N(8((

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DO PRINCPIO HERACLTICO: O INCIO DIALTICO

Camila Gonalves Curado

Graduanda de Filosofia da UFRJ

Para as almas, morrer transformar-se em gua; para a gua, morrer transformar-se em terra. Da terra, contudo, formar-se a gua, e da gua a alma.9

Correlaes: completo e incompleto, concorde e discorde, harmonia e desarmonia, e de todas as coisas, um, e de um, todas as coisas.10

Resumo: O respectivo trabalho prope-se a relacionar a concepo de natureza do pr-socrtico Herclito constitudo em seu logos heracltico com o conceito de dialtica de Hegel, que traz dialtica uma nova leitura. Traaremos um pequeno histrico da palavra dialtica a fim de compreendermos a sua origem, assim como as adaptaes realizadas ao longo da histria da filosofia. Por final, apresentaremos a lgica dialtica inaugurada por Hegel como um novo mtodo para se pensar a realidade.

Palavras-Chave: Herclito. Hegel. Lgica Dialtica.

Abstract: The respective work proposes to relate conception in nature from pre-Socratic Heraclitus - made in his Heraclitean logos with Hegels dialectic concept that brings a new reading. We will trace a small historical of the dialectic word to understante your origin as the adaptations achieved along by philosophy history. Finally introduce the dialectc logic inaugurate by Hegel as a new method to think the reality. Keywords: Heraclitus. Hegel. Dialectic logic.

Origens da Dialtica Antes de analisarmos os diversos significados do conceito de dialtica devemos buscar entender o que originalmente significa a palavra dialtica. A palavra dialtica tem o seu surgimento na sociedade grega e desde ento chama ateno pelo seu carter ambguo. O filsofo brasileiro Leandro Konder analisa muito bem como a palavra se constitui: dialtica um vocbulo formado pelo prefixo dia (que indica reciprocidade

(((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((9 BORHNHEIM. Os filsofos pr-socrticos, p. 38 10 BORHNHEIM. Os filsofos pr-socrticos, p. 36



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ou intercambio) e pelo verbo legein ou pelo substantivo logos (o que significa que a palavra dialtica tem a mesma origem que a palavra dilogo).11

O substantivo logos pode significar tanto palavra quanto discurso ou razo. No entanto, a prpria palavra logos opera significadas influncias na palavra dialtica, isso pela sua prpria evoluo, acompanhada das modificaes ocorridas no seio da sociedade ocidental, o que ficara marcada ao ser ligada em alguns momentos como a razo, no aspecto objetivo, e em outros como as razes das questes subjetivas. Assim, podemos constatar a existncia de variados conceitos de dialtica, como os referidos por Plato, Aristteles, Kant e Hegel.

Em Plato, podemos dizer que a dialtica a arte do dilogo, baseado no mtodo da diviso onde a lgica dialtica encontra-se no questionamento da pergunta e resposta praticada num determinado dilogo. Uma dialtica como atividade exterior e negativa que no inerente ao fundamento da coisa, como uma busca subjetiva que tende, por vaidade a erodir e a dissolver o que slido e verdadeiro e que s conduz vaidade do objetivo tratado dialeticamente12. J em Aristteles, o conceito apresenta-se como uma lgica provvel ou como o prprio Hegel diz, a aparncia do arbitrrio, do processo racional que no pode de forma alguma ser demonstrado. Importante lembrar que para Hegel a histria da lgica se resume s supresses da lgica j iniciada por Aristteles: (...) ento tem de se concluir antes que ela necessita de uma total reelaborao; pois um avano de dois mil anos do esprito deve ter-lhe proporcionado uma conscincia mais elevada sobre seu pensamento e sobre a sua pura essencialidade em si mesma.13 Kant retoma o conceito aristotlico de dialtica. No entanto, reconhece na dialtica a objetividade da aparncia e a necessidade da contradio, o que at o momento representa um verdadeiro avano.

Mas a ideia geral que ele [Kant] colocou como base e fez valer a objetividade da aparncia e a necessidade da contradio, a qual pertence natureza das determinaes de pensamento. Inicialmente, na verdade, ele o fez de modo que essas determinaes so aplicadas pela razo sobre as coisas em si; mas justamente o que elas so na razo e em vista do que em si, essa a sua natureza. (...) Mas, assim como se fica preso somente ao lado abstrato-negativo do dialtico, o resultado apenas o fato conhecido: que a razo incapaz de conhecer o infinito; - um resultado estranho, uma vez que o infinito o racional, dizer, que a razo incapaz de conhecer o racional. (HEGEL, 2011, P 36)

Embora tivesse a compreenso de que o contedo real e a verdade absoluta so acessveis f, no podendo ser conhecidas pela razo. J o moderno filsofo Hegel, modifica a dialtica apresentando ao campo da filosofia um novo conceito de dialtica, at ento apresentado pelos demais pensadores que o antecederam. Isso pelo fato de que os outros pensadores estavam mais ligados forma que ao contedo da dialtica.

A lgica de Hegel reconhece as formas ligadas ao contedo, enquanto formas plenas de contedo, um contedo real e vivo, ou melhor, a prpria histria da

(((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((11 Konder, Leandro. A Derrota da Dialtica, p. 4 12 Konder. A Derrota da dialtica, p. 4 13 Hegel. Cincia da Lgica, p. 43



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humanidade. O que difere das demais compreenses (lgica formal) at a lgica apresentada por Hegel, onde as formas do pensamento so tomadas como formas distintas do contedo, o que a torna insuficiente para apreender a verdade. Para Hegel, a dialtica no representa as discusses ou as teorias do conhecimento, mas sim uma teoria do ser. A realidade se apresenta num movimento permanente de transformaes e contradies. Dessa forma, para compreendermos a realidade devemos dinamizar o nosso pensamento, a fim de acompanharmos e intervirmos sempre que possvel essa realidade instvel e superficial.

Ao apresentar um novo conceito de dialtica, Hegel buscar nos escritos de Herclito a base fundamental para a sua sustentao terica. Segundo o prprio Hegel:

Herclito concebe o prprio absoluto como processo, como a prpria dialtica. A dialtica exterior, um raciocinar de c para l e no a alma da coisa dissolvendo-se a si mesma. A dialtica imanente do objeto, situando-se, porm, na contemplao do sujeito; objetividade de Herclito, isto , compreender a prpria dialtica como princpio. o progresso necessrio, e aquele que Herclito fez. (PESSANHA. Os pensadores, pr-socrticos, p.57)

Herclito de feso

Herclito nasceu aproximadamente em 540 a.C. 470 a.C. em feso, cidade da Jnia. Dessedente de famlia real, e possivelmente a fundadora da cidade. Conhecido como o Obscuro, de temperamento melanclico e soberbo, preferia a solido das colinas ao discurso ignorante em praa pblica, chegando at mesmo a renunciar ao cargo de governante em sua cidade. Ignorava no s o povo iletrado como tambm aqueles que se diziam sbios, como os filsofos e religiosos.

Entretanto, inegvel a importncia do pensamento de Herclito em toda a histria da filosofia, mesmo tendo o seu discurso muitas vezes mal interpretado, principalmente pelos gregos que viam em seu pensamento muita abstrao e subjetividade (como pode um homem ser um e dois ao mesmo tempo, mudar a toda hora), embora assim, tenha sido capaz de influenciar a filosofia de sua poca e a que seguiu, traando um combate com o pensamento de Parmnides, onde a realidade e a essncia do ser eram imutveis.

Para Parmnides e seus aliados tericos, a mudana era falsa e se constitua na superfcie do mundo real. Mesmo com a fora hegemnica do pensamento de Parmnides (principalmente no perodo medieval), a dialtica de Herclito no perdeu sua importncia e mesmo com muita dificuldade de acompanhar a realidade, foi absorvida, recuperada e trabalhada por Hegel durante a histria da filosofia moderna, seguindo at os dias de hoje.

Herclito dedicou-se aos problemas eminentes de sua poca, em sua obra Sobre a Natureza (restando nos dias atuais apenas os fragmentos conservados por estudiosos). Podemos encontrar seus fragmentos em citaes de pensadores como Digenes Larcio, Plato, Aristteles, Hegel, Heidegger, Nietzsche e Engels dentre outros (no entanto, nos atentaremos as anlises e interpretaes de Hegel). A partir desses fragmentos podemos



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observar a formulao da unidade imutvel do ser que se apresenta diante a pluralidade mutvel das coisas provisrias. Herclito procura compreender no s a natureza existente na realidade, como tambm o seu processo de movimento que necessariamente conduz a transformao constante.

O Princpio Heracltico

Os fragmentos encontrados de Herclito retratam uma poca em que os Deuses tinham o poder de influenciar a vida das pessoas. Sendo assim, devemos remeter a forma de linguagem de Herclito aos escritos sagrados de sua poca, sobre a sua obscuridade, complexidade e seriedade, numa escrita nica e muito particular, onde a leitor muitas vezes se engana e se perde. Para uma melhor compreenso, podemos fazer ligao entre a escrita heracltica e o seu logos, em seguida do logos ao entendimento humano.

O conflito a origem de todas as coisas e a busca por um melhor esclarecimento apresenta-se atravs do elemento fsico, o fogo. Tal analogia permitia uma maior aproximao com a realidade material em que estavam inseridos os pensadores antigos e assim a sua compreenso. Como no fragmento a seguir: O fogo se transforma em todas as coisas e todas as coisas se transformam em fogo, assim como se trocam as mercadorias por ouro e o ouro por mercadorias.14 Podemos dizer que o fogo a sntese do tempo corrido, ou seja, do tempo que existe em permanente mudana e inquietude, a presente construo e desconstruo do que existe, e at de si mesmo. A partir desse fogo, encontramos a condio de movimento, contradio e unidade. Assim, remontamos todo o seu pensamento, atribuindo-o, segundo a anlise de Hegel, a origem da dialtica. O pensador estabelece uma anlise onde o movimento capaz de se reger existindo na coisa em si, tais processos universais operam por si prprios, sem interveno de qualquer potncia exterior, no entanto, devem respeitar ao logos.

Este Logos, os homens, antes ou depois de o haverem ouvido, jamais o compreendem. Ainda que tudo acontea conforme este Logos, parece no terem experincia experimentando-se em tais palavras e obras, como eu as exponho, distinguindo e explicando a natureza de cada coisa. Os outros homens ignoram o que fazem em estado de viglia, assim como esquecem o que fazem durante o sono. (BORNHEIM. Os filsofos pr-socrticos, p. 36)

a partir desse ponto que observamos sua lucidez, pois esse logos impede que exista e se estabelea o caos. Em alguns fragmentos encontramos passagens onde Herclito alerta para que respeitem e ouam no ao que ele disser, mas ao seu logos. Assim, a nica regra que existe o movimento constante, o princpio da unidade dos contrrios e a ideia de medida, proporo e equilbrio. A partir desse logos Herclito estabelece uma ordenao que reger os demais conceitos que se apresentam em seus fragmentos, estabelecendo uma ligao direta com esse logos. No podemos pensar que tal regra estabelece algum tipo de petrificao da ideia de movimento constante, pois, no encontramos tal concepo em nenhum de seus fragmentos.

(((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((14 BORNHEIM. Os filsofos pr-socrticos, p. 41



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Transformao e Equilbrio

Observamos neste fragmento as transformaes do fogo:

Este mundo, igual para todos, nenhum dos deuses e nenhum dos homens o fez; sempre foi, e ser um fogo eternamente vivo, acendendo-se e apagando-se conforme a medida. A transformaes do fogo: primeiro o mar; e a metade do mar terra, a outra metade um vento quente. A terra dilusse em mar, e esta recebe a sua medida segundo a mesma lei, tal como era antes de se tornar terra. (BORNHEIM, Os filsofos pr-socrticos, p. 38)

Vemos a o elemento fogo enquanto uma unidade transformadora. Vemos a mudana permanente, Tudo Flui (panta rhei), o cosmo como processo. A vida csmica apresenta-se, aos olhos, um processo perptuo de inflamao e extino do fogo sempre vivo. Dele, nada persiste e nem permanece o mesmo, simplesmente coexiste num mesmo e outro ao mesmo tempo, na medida em que transformao. No conceito de transformao, vemos necessariamente a negao de uma realidade existente, fazendo-se fundamental para compreendermos o sentido de transformao. No que, ao negar a coisa (que convergente e divergente) ela deixa de existir, mas sim legitimar o poder de transformao dessa coisa obviamente no seu interagir com a realidade na qual est inserida. Em tal concepo, onde ambos existem e ligam-se permanentemente, afirmamos que para isso preciso existir dado uma contradio, um equilbrio. Assim, como no fragmento: tudo se faz por contraste; da luta dos contrrios nasce a mais bela harmonia15

O trabalho em que Herclito submete a contradio solidifica a transformao que rege a natureza e dinamiza a realidade existente. Como no fragmento exposto acima, dos convergentes e divergentes nasce a harmonia, ou seja, nas contradies se faz necessrio o aparecimento de um novo que ao surgir faz desaparecer o que outrora foi. Podemos at mesmo pensar que Herclito brinca com as palavras no jogo da contradio. Assim, encontramos a unidade em Herclito e a partir dela podemos concluir que nada existe isoladamente todas as coisas, at mesmo as contraditrias esto necessariamente interligadas, ou seja, relacionam-se umas com as outras. Logo, as mudanas ou transformaes de uma determinada coisa devem acontecer e acontece a partir de demais transformaes, o que necessariamente resulta numa outra coisa.

Sendo assim, podemos dizer que Herclito utiliza um pensamento que trabalha sobre as contradies e mudanas da realidade, e no apenas no discurso contraditrio, como acusado em muitos momentos, o que limitaria o seu pensamento e at mesmo o discurso heracltico. Da surge o incio dialtico, sua contextualizao da realidade e da objetividade e tambm da subjetividade atravs da unidade dos processos de contradio e transformao.

Contextualizando Hegel

(((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((((15 BORNHEIM. Os filsofos pr-socrticos, p. 36.



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Como todos os homens e tambm filsofos, cada ser encontra-se limitado a realidade de seu tempo, e para Hegel no foi diferente.

Nascido em Berlim na Alemanha (na poca em que a Alemanha apresentava um grande atraso poltico, tendo seus governos regionais divididos sem existir uma nao centralizada num nico governo), Friedrich Hegel esteve atento s manifestaes ocorridas na Europa de seu tempo (sc. XIX), como a to inspiradora Revoluo Francesa, da qual Hegel foi um grande entusiasmado, mas sofrera de autocrticas com o desenvolver fracassado da mesma e tambm da Revoluo Industrial. Foi da, que Hegel pde chegar concluso de que a realidade objetiva que o homem estava inserido era a pea fundamental para a condio transformadora do sujeito, mesmo que este pudesse transformar ativamente a realidade, a objetividade da realidade, em ltima anlise, era quem tinha o poder de transformao.

Debruando-se sobre a realidade objetiva e subjetiva do sujeito humano, Hegel (muito inspirado pela Revoluo Industrial procurou estudar as atividades polticas e econmicas no plano objetivo do sujeito humano) percebe a importncia do trabalho humano como instrumento impulsionador do desenvolvimento humano, sendo o trabalho o lugar onde o ser produz a si mesmo. no trabalho que podemos encontrar a realidade objetiva, como o objeto apresentado, assim como a capacidade de transformao de tal objeto pelo sujeito em questo, criado assim a relao de sujeito-objeto. O trabalho fundamental para entendermos a dialtica de Hegel, que estabelece trs sentidos diferentes para a palavra alem aufheben que significa suspender, para expressar a sua concepo da superao da dialtica. O primeiro sentido o da negao, negar ou anular, o segundo o de erguer, o terceiro o de elevar a qualidade. Assim, a dialtica a negao de uma determinada realidade, ao mesmo tempo em que conserva alguma coisa que seja essencial a realidade negada, que consequentemente elevada a um nvel superior.

Devemos compreender que Hegel um filsofo idealista e por isso, subordinava os movimentos da realidade material lgica de um princpio absoluto, o qual ele chamava de Ideia Absoluta.

Hegel e a sua lgica dialtica Hegel toma conscincia, simultaneamente, da contradio e da unidade do movimento e do inteligvel. Em vez de opor-se contradio (o que deixava fora da unidade todos os fatos reveladores de antagonismos e oposies), a unidade racional torna-se unidade contraditria. A dialtica se funda como cincia. (...) Ele toma o resultado como princpio, e a unidade dos contrrios torna-se a causa de todo o movimento que conduziu a conscincia a si mesma, a razo ideal das coisas nas quais se pode encontrar a unidade, a contradio, o movimento. (Lenin. Cadernos sobre a dialtica de Hegel. p.17)

No decorrer da histria da filosofia ocidental, a dialtica assumiu diversos significados, e em poucas vezes ela se pressupunha a uma teoria do ser, como apresentou Hegel. Segundo o autor o julgamento acerca do que vem a ser conhecimento,



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j deve levar em considerao a concepo do ser, ou seja, o conhecimento s pode ser concretamente discutido a partir do ser.

Em sua obra A Fenomenologia do Esprito, Hegel descreve uma dialtica prpria do esprito que transporta at o comeo do ato de filosofar. Assim, ele constri o caminho que a conscincia humana percorre para chegar at o esprito absoluto, o retorno que a conscincia humana percorre para chegar at o esprito absoluto, o retorno a si mesmo. Nesse processo dialtico do conhecimento, uma parte da certeza sensvel da conscincia progride atravs da autoconscincia da razo, indo at o esprito, assim, o movimento prprio da conscincia finita em busca da finitude. A fenomenologia apresenta um movimento dialtico do esprito que tem como ponto de partida a certeza sensvel e da percepo que progride at o saber absoluto, de imediato experimentada pelos sentidos, dando a sensao de que a verdade fora atingida. O conceito de dialtica apresentado por Hegel todo um sistema baseado numa verdadeira concepo do absoluto, o qual precisa incorporar todos os movimentos significativos do movimento pelo qual se realiza.

Surgiu porm agora o que no emergia nas relaes anteriores, a saber: uma certeza igual sua verdade, j que a certeza para si mesma seu objeto, e a conscincia tambm nisso um ser-outro, isto : a conscincia distingue, mas distingue algo tal que para ela ao mesmo tempo um no-diferente. (Hegel. Fenomenologia do Esprito, p.119)

A compreenso do movimento realizado s pode ser atingida com o resultado finalizado, obtido. Da a conscincia descobre que essa manifestao do objeto insuficiente, partindo para a relao com o mundo da percepo. Nessa percepo tal conscincia descobre que o objeto apreendido pela multiplicidade de suas qualidades, supe a interveno do eu. Dessa forma, a dialtica da certeza sensvel supera as percepes dos sentidos particulares, ao conhecimento o universal, e o objeto se apresenta como manifestao (conceito) dessa nova figura, segundo as leis determinadas. E o pensamento sensvel do mundo, que se manifesta a conscincia, torna-se a essncia do mundo em um sistema de leis, que se situam alm dos fenmenos e constituem a prpria sustentao. A conscincia, atravs do processo dialtico, caminha em direo certeza de si, a autoconscincia.

Atribumos a relao do pensamento de Herclito com o pensamento de Hegel. No pr-socrtico, o movimento que se distingue no processo justamente o puro movimento negativo, quando reconhece a mudana; nos momentos da oposio subsistente, encontra-se a gua e o ar; a totalidade em repouso, a terra, a vida da natureza. Demonstra a sua analogia do fogo. Seu pensamento tambm caminha em direo a certeza da coisa em si, a partir de um raciocinar dialtico, onde trabalha com as contradies exteriores a partir de uma contemplao do prprio sujeito. E assim, Hegel estabelece a premissa de toda a sua lgica, como bem podemos observar acima.

Sendo assim, encontramos em Herclito o processo dialtico como bem Hegel estabelece e trata de expandir, levando-a e deixando contribuies significativas filosofia. Ambos concebiam leis gerais na essncia da existncia humana, possibilitando tudo que se passava no universo como inevitvel, historicamente necessrio.



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Referncias:

BORNHEIM (org.), Gerd. Os Filsofos Pr-Socrticos So Paulo: Cultrix.

COSTA, Alexandre. Herclito: Fragmentos Contextualizados. Traduo, apresentao e comentrios por Alexandre Costa. Rio de Janeiro: Diefel, 2002.

PESSANHA, Jos Amrico Motta. Os Pensadores Pr-Socrticos ( Vida e Obra). Rio de Janeiro: Ed. Nova Cultura, 2000.

JAEGER, W. Paidia: a formao do homem grego. Traduo Artur M. Parreira. So Paulo: Martins Fontes, 2003.

HEGEL, G.W.F: Fenomenologia do Esprito. Traduo Paulo Meneses. Petrpolis: Vozes, 1992.

HEGEL, G.W.F: Cincia da Lgica. Excertos. Traduo Marco Aurlio Werle. So Paulo: Barcarolla, 2011.

KONDER, Leandro: A Derrota da Dialtica. A Recepo das Ideias de Marx no Brasil, at o comeo dos anos trinta. Rio de Janeiro: Campus, 1988.

BLANCHOT, Maurice: A Conversa Infinita 2. A Experincia Limite. Traduo Joo Moura Jr. Editora: Escuta.

LENIN, V.I.: Cadernos sobre a dialtica de Hegel. Traduo: Jos Paulo Netto. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2011.

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