A onda

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Dirigido por Denis Gansel, A Onda traz a seguinte trama: Rainer Wegner, professor, deve ensinar seus alunos sobre autocracia. Devido ao desinteresse deles, propõe um experimento que explique na prática os mecanismos do fascismo e do poder. Wegner se denomina o líder daquele grupo, escolhe o lema “força pela disciplina” e dá ao movimento o nome de "A Onda". Em pouco tempo, os alunos começam a propagar o poder da unidade e ameaçar os outros. Quando o jogo fica sério, Wegner decide interrompê- lo. Mas é tarde demais, e "A Onda" já saiu de seu controle. O filme é baseado em uma história real ocorrida na Califórnia em 1967. A guisa de preâmbulo, leia o discurso final, proferido pelo professor Ross: “Vocês trocaram sua liberdade pelo luxo de se sentirem superiores. Todos vocês teriam sido bons nazi - fascistas. Certamente iriam vestir uma farda, virar a cabeça e permitir que seus amigos e vizinhos fossem perseguidos e destruídos. O fascismo não é uma coisa que outras pessoas fizeram. Ele está aqui mesmo em todos nós. Vocês perguntam: como que o povo alemão pode ficar impassível enquanto milhares de inocentes seres humanos eram assassinados? Como alegar que não estavam envolvidos. O que faz um povo renegar sua própria história? Pois é assim que a história se repete. Vocês todos vão querer negar o que se passou em “A onda’. Nossa experiência foi um sucesso. Terão ao menos aprendido que somos responsáveis pelos nossos atos. Vocês devem se interrogar: o que fazer em vez de seguir cegamente um líder? E que pelo resto de suas vidas nunca permitirão que a vontade de um grupo usurpe seus direitos individuais. Como é difícil ter que suportar que tudo isso não passou de uma grande vontade e de um sonho”. No artigo sobre o filme Preciosa, de Lee Daniels, discutiu-se aqui algumas questões ligadas à educação numa ótica similar. Desta vez, nada diferente: A Onda nos abre caminhos para discutir o papel do professor na sala de aula e sua capacidade de formar opinião e abrir mentes. Neste filme, as coisas infelizmente ganham um rumo inesperado. O realismo encontrado neste filme ficou por conta do contexto da crise econômica no sistema capitalista, que tem levado as principais potências imperialistas à recessão, punindo os trabalhadores com demissões e com o aumento da repressão política. Apresentando-se como um cenário fecundo para surgimento das intituladas “alternativas de poder”, A Onda ainda aborda o contexto de uma juventude descrente num futuro diferenciado, onde há falta de um ideal por que lutar, sendo assim, a entrega dos mesmos ao álcool e outras drogas. Uma escola em ruínas A Onda aborda todas as questões já recicladas pelo cinema contemporâneo: separação de grupinhos (o famoso buylling), desafetos trocando farpas em sala de aula (e nas ruas) e o fanatismo dos grupinhos fechados, algo visto de forma similar (mas sem conteudo) no recente Crepúsculo

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Page 1: A onda

Dirigido por Denis Gansel, A Onda traz a seguinte trama: Rainer Wegner, professor, deve ensinar seus

alunos sobre autocracia. Devido ao desinteresse deles, propõe um experimento que explique na prática

os mecanismos do fascismo e do poder. Wegner se denomina o líder daquele grupo, escolhe o lema

“força pela disciplina” e dá ao movimento o nome de "A Onda". Em pouco tempo, os alunos começam a

propagar o poder da unidade e ameaçar os outros. Quando o jogo fica sério, Wegner decide interrompê-

lo. Mas é tarde demais, e "A Onda" já saiu de seu controle. O filme é baseado em uma história real

ocorrida na Califórnia em 1967.

A guisa de preâmbulo, leia o discurso final, proferido pelo professor Ross:

“Vocês trocaram sua liberdade pelo luxo de se sentirem superiores. Todos vocês teriam sido bons nazi-

fascistas. Certamente iriam vestir uma farda, virar a cabeça e permitir que seus amigos e vizinhos fossem

perseguidos e destruídos. O fascismo não é uma coisa que outras pessoas fizeram. Ele está aqui mesmo

em todos nós. Vocês perguntam: como que o povo alemão pode ficar impassível enquanto milhares de

inocentes seres humanos eram assassinados? Como alegar que não estavam envolvidos. O que faz um

povo renegar sua própria história? Pois é assim que a história se repete. Vocês todos vão querer negar o

que se passou em “A onda’. Nossa experiência foi um sucesso. Terão ao menos aprendido que somos

responsáveis pelos nossos atos. Vocês devem se interrogar: o que fazer em vez de seguir cegamente um

líder? E que pelo resto de suas vidas nunca permitirão que a vontade de um grupo usurpe seus direitos

individuais. Como é difícil ter que suportar que tudo isso não passou de uma grande vontade e de um

sonho”.

No artigo sobre o filme Preciosa, de Lee Daniels,

discutiu-se aqui algumas questões ligadas à

educação numa ótica similar. Desta vez, nada

diferente: A Onda nos abre caminhos para

discutir o papel do professor na sala de aula e

sua capacidade de formar opinião e abrir mentes.

Neste filme, as coisas infelizmente ganham um

rumo inesperado.

O realismo encontrado neste filme ficou por conta

do contexto da crise econômica no sistema

capitalista, que tem levado as principais

potências imperialistas à recessão, punindo os

trabalhadores com demissões e com o aumento da repressão política. Apresentando-se como um cenário

fecundo para surgimento das intituladas “alternativas de poder”, A Onda ainda aborda o contexto de uma

juventude descrente num futuro diferenciado, onde há falta de um ideal por que lutar, sendo assim, a

entrega dos mesmos ao álcool e outras drogas.

Uma escola em ruínas

A Onda aborda todas as questões já recicladas pelo cinema contemporâneo: separação de grupinhos (o

famoso buylling), desafetos trocando farpas em sala de aula (e nas ruas) e o fanatismo dos grupinhos

fechados, algo visto de forma similar (mas sem conteudo) no recente Crepúsculo