A ÓPTICA OPALESCENTE DO ESMALTE DENTÁRIO E A … · Dedico este trabalho a Deus por conceder-me...
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JOSÉ LÁZARO RODRIGUES VIEIRA JÚNIOR
A ÓPTICA OPALESCENTE DO ESMALTE DENTÁRIO
E A FORMAÇÃO DO HALO INCISAL NOS INCISIVOS
CENTRAIS SUPERIORES
Londrina 2017
JOSÉ LÁZARO RODRIGUES VIEIRA JÚNIOR
A ÓPTICA OPALESCENTE DO ESMALTE DENTÁRIO
E A FORMAÇÃO DO HALO INCISAL NOS INCISIVOS
CENTRAIS SUPERIORES
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Odontologia Restauradora da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Cirurgião Dentista. Orientador: Prof. Drª. Adriana de Oliveira Silva
Londrina 2017
JOSÉ LÁZARO RODRIGUES VIEIRA JÚNIOR
A ÓPTICA OPALESCENTE DO ESMALTE DENTÁRIO
E A FORMAÇÃO DO HALO INCISAL NOS INCISIVOS
CENTRAIS SUPERIORES
Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao curso de Odontologia da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Cirurgião Dentista.
BANCA EXAMINADORA
____________________________________ Orientador: Prof. Drª. Adriana de Oliveira Silva
Universidade Estadual de Londrina - UEL
____________________________________ Prof. Dr. Wagner José Silva Ursi
Universidade Estadual de Londrina - UEL
Londrina, _____de ___________de _____.
DEDICATÓRIA
Dedico este trabalho a Deus por conceder-me forças e
sabedoria para concluir esta etapa de minha vida. A toda
minha família e Verdadeiros amigos que são os
alicerceres que me sustentam em todos os momentos e a
saudosa memória de minha amada avó, Julieta, a qual
partiu para Deus no início desta caminhada que hoje
concluo. Saudades eternas.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente, agradeço a Deus por toda inspiração divina ao
conceder-me sabedoria, iluminação e me feito fortalecer e evoluir frente a todos os
desafios e dificuldades que encontrei no caminhar deste curso.
A todo esforço de meus pais, que desde sempre priorizaram por
proporcionar-me o estudo, maior herança que levarei comigo por toda vida.
Agradeço os sacrifícios que sempre fizeram para ver mais esta etapa de minha vida
concluída com louvor, a qual considero sendo o resultado do suor de cada um.
A minha irmã que sempre foi meu porto seguro, meu amparo nos
momentos mais difíceis desses anos.
Aos meus tios e tias, e sem sombra de dúvida, avó Ignês, por todo
seu apoio, cada um a sua maneira contribuíram e foram de fundamental importância
para que eu chegasse à conclusão deste curso.
Agradeço a minha querida e talentosa orientadora não só pela
constante orientação neste trabalho, mas sobretudo pela sua amizade e confiança
depositada em mim para a realização do mesmo. Agradeço sua notável dedicação e
generosidade em compartilhar seus conhecimentos para construção e
enriquecimento desta monografia.
A Dirce Suzuki, responsável pela biblioteca setorial da Clínica
Odontológica, por seu auxílio de muita valia para construção deste trabalho,
dedicou-se, prontamente, a prestar esclarecimentos técnicos na formatação deste.
Ao professor e grande amigo que a vida me presenteou ao longo
desses anos de convivío, Dr. Antônio Carrilho Neto, o qual dedico em demasia meu
crescimento como profissional e como homem. Levarei para vida seus sábios
conselhos, sua vasta experiência e vivência que comigo compartilhou a cada
sagrado plantão, no pronto-socorro odontológico, local a que devo meu respeito e
sinceros agradecimentos, onde fez amadurecer meus conhecimentos obtidos
durante a graduação. Serei eternamente grato, ao amigo Carrilho, por toda
generosidade que teve para comigo e todos meus familiares.
Ao meu grande amigo Vinícius, a quem devo especial
agradecimento por toda sua dedicação, generosidade, por todos os momentos que
foi para mim como grande irmão e companheiro que me apoiou, principalmente nos
momentos mais difíceis dessa etapa.
Aos colegas que se tornaram a família que escolhi nestes cinco anos
de convivência, nessa troca de experiências, por toda ajuda, apoio, companheirismo
e lealdade.
A todos, muito obrigado!
“Lembremo-nos de que o homem interior se renova sempre. A luta enriquece-o de experiência, a dor aprimora-lhe as emoções e o sacrifício tempera-lhe o caráter. O Espírito encarnado sofre constantes transformações por fora, a fim de acrisolar-se e engrandecer-se por dentro”.
(Chico Xavier)
JÚNIOR, José Lázaro. A óptica opalescente do esmalte dentário e a formação do halo incisal nos incisivos centrais superiores. 2017. 54f. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Odontologia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2017.
RESUMO
A luz é uma energia eletromagnética que revela efeitos maravilhosos quando em contato com as mais diversas superfícies. Nos dentes, em particular nos incisivos superiores, a dinâmica da luz torna-se responsável por efeitos ópticos surpreendentes, entre eles a opalescência do esmalte e a formação do halo incisal, que contribuem para a aparência vital, beleza e naturalidade do sorriso. Este trabalho tem como objetivo apresentar o mecanismo de interação da luz com o esmalte presente no terço incisal dos incisivos centrais superiores explicando os efeitos da opalescência e associar os conceitos da dinâmica da luz com as características anatômicas para a formação do halo branco incisal, informações de importância clínica para análise de dentes naturais e escolha de materiais e técnicas restauradoras. O estudo foi realizado com artigos e livros publicados entre os anos de 1983 e 2016 e disponíveis nas bases de dados PubMed, Medline e Bibliotecas da UEL. Os estudos mostraram que a opalescência é um efeito produzido pela reflexão e transmissão da luz através de superfícies translúcidas e ocorre em toda extensão do esmalte como consequência de sua caraterística mineral sendo visualizado com maior nitidez no terço incisal e identificado clinicamente como uma faixa de translucidez azulada sob luz direta e alaranjada sob luz transmitida. Já o halo branco é resultado da refração da luz no esmalte que associado a área de angulação palatina da microanatomia incisal modifica a dispersão do espectro de luz sendo visualizado, clinicamente, como uma faixa esbranquiçada. Pode-se concluir que a estrutura dentária exibe comportamentos luminosos únicos e especiais que são dependentes de sua composição mineral e anatômica para demonstrar o fascinante efeito de cores. O conhecimento e entendimento do comportamento da luz tornam-se de fundamental importância quando se busca o mimetismo dental e o aprimoramento de técnicas para a reconstrução estética com materiais restauradores. Palavras-chave: Incisivos. Luz. Estética.
JÚNIOR, José Lázaro. The opalescent optics of the dental enamel and the incisal halo formation in the maxilar central incisors. 2017. 54p. Completion of course work (Graduation in Odontology) – State University of Londrina, Londrina, 2017.
ABSTRACT
Light is an electromagnetic energy that reveals wonderful effects when in contact with the most diverse surfaces. In teeth, particularly in the maxilar incisors, the dynamics of light become responsible for surprising optical effects, among them the opalescence of the enamel and the formation of the incisal halo, which contributes to the vital appearance, beauty and naturalness of the smile. This work aims to present the mechanism of interaction of light with the enamel in the incisal third of the maxillary central incisors, explaining the effects of opalescence and associating the concepts of light dynamics with the anatomical characteristics for the formation of the incisal white halo, clinical importance for the analysis of natural teeth and choice of materials and restorative techniques. The study was conducted with articles and books published between the years 1983 and 2016 and available in PubMed, Medline and UEL Libraries databases. Studies have shown that opalescence is an effect produced by the reflection and transmission of light through translucent surfaces and occurs throughout the enamel as a consequence of its mineral characteristic being visualized with greater clarity in the incisal third and clinically identified as a range of translucent blue under direct and orange under transmitted light. The white halo is a result of light refraction in the enamel, which associated with the area of palatal angulation of the incisal microanatomy modifies the dispersion of the light spectrum being clinically visualized as a whitish band. It can be concluded that the dental structure exhibits unique and special light behaviors that are dependent on its mineral and anatomical composition to demonstrate the fascinating color effect. Knowledge and understanding of the behavior of light become of fundamental importance when seeking dental mimicry and the improvement of techniques for aesthetic reconstruction with restorative materials. Key words: Incisors. Light. Esthetic.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
Figura 1 – Prisma ilustrando a dissociação da luz branca (policromática) em seus
comprimentos de onda (monocromáticas). Alusão ao prisma de Isaac Newton. ..... 24
Figura 2 – Ilustração da faixa dentro do espectro eletromagnético visível, ou seja, o
Espectro Visível, escala em comprimento de onda. ................................................. 25
Figura 3 – Efeitos ópticos representados esquematicamente com um observador e
um dente .................................................................................................................. 27
Figura 4 – Dimensões das estruturas anatômicas do incisivo central superior hígido
e estrutura de suporte. ............................................................................................. 32
Figura 5 – Desenho com as dimensões das estruturas anatômicas do incisivo
central superior hígido e estrutura de suporte .......................................................... 33
Figura 6 – Pedra opala bruta, sobre luz transmitida, evidenciando a cor alaranjada
................................................................................................................................. 38
Figura 7 – Pedra opala bruta, sobre luz refletida, evidenciando a cor azulada. ...... 39
Figura 8 – Efeito da óptica opalescente .................................................................. 40
Figura 9 – Clinicamente, incisivos sobre luz refletida exibindo coloração azulada. . 41
Figura 10 – Tipos de opalescência. ......................................................................... 42
Figura 11 – Comportamento clínico dos incisivos em oclusão (contra-opalescência)
e topo a topo (opalescência) .................................................................................... 44
Figura 12 – Efeito da óptica opalescente ................................................................ 45
Figura 13 – Princípio óptico do halo incisal branco ................................................. 46
Figura 14 – Comportamento clínico da formação do halo incisal branco. ............... 47
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
PO Padrão de Opalescência
CIE Commission Internacionale de Éclairage
PT Padrão de Translucidez
HA Hidroxiapatita
n Índice de refração
UV Ultra-violeta
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO .......................................................................................... 11
2 PROPOSIÇÃO...........................................................................................12
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA......................................................................13
4 DESENVOLVIMENTO .............................................................................. 23
4.1 A LUZ.............. ........................................................................................... 23
4.1.1 Definição ................................................................................................... 23
4.1.2 Os Fenômenos Ópticos ............................................................................. 25
4.2 AS CORES E OS DENTES .............................................................................. 28
4.3 A ANATOMIA DO INCISIVO CENTRAL SUPERIOR ............................................... 29
4.4 AS ESTRUTURAS DENTÁRIAS E A DINÂMICA DA LUZ ....................................... 34
4.4.1 Esmalte.......................................................................................................34
4.4.2 Dentina.......................................................................................................35
4.5 POR QUE AS INCISAIS DE INCISIVOS SUPERIORES ÍNTEGROS E JOVENS APARECEM,
CLINICAMENTE, COMO UMA FAIXA DE TRANSLUCIDEZ AZULADA SOB LUZ DIRETA E
ALARANJADA SOB LUZ TRANSMITIDA?..............................................................37
4.5.1 Opalescência..............................................................................................38
4.5.1.1 Definição.....................................................................................................38
4.5.1.2 Mecanismo de funcionamento....................................................................39
4.5.1.3 Tipos de opalescência................................................................................42
4.5.2 Contra-Opalescência..................................................................................43
4.5.2.1 Definição.....................................................................................................43
4.5.2.2 Mecanismo de funcionamento....................................................................45
4.6 POR QUE O ÂNGULO INCISO-PALATINO TORNA-SE UMA FAIXA ESBRANQUIÇADA
QUANDO OBSERVADO CLINICAMENTE?...........................................................45
4.6.1 Formação do Halo......................................................................................46
5 DISCUSSÃO..............................................................................................48
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................... 51
REFERÊNCIAS......................................................................................... 52
11
1 INTRODUÇÃO
O sorriso tem sido considerado a representação máxima da felicidade e bem-
estar, um importante símbolo da sociabilidade na época do selfie e das mídias
sociais. Um sorriso bonito é o resultado da soma de vários aspectos positivos,
harmoniosamente distribuídos, que incluem simetria e equilíbrio entre lábios, gengiva
e dentes. Ao sorrir, os dentes anteriores ficam expostos e iluminados e com isso,
tem-se criado o atual conceito social de estética que padroniza como belos os
dentes brancos e bem alinhados. No entanto, sabe-se que os dentes naturais não
são monocromáticos, pois, ao apresentar diferentes estruturas como esmalte,
dentina e polpa (com características e propriedades únicas) tornam-se naturalmente
policromáticos, com variações de matiz, valor, saturação e translucidez. É neste
contexto que se vislumbrou a possibilidade da realização de estudos sobre as
características que são capazes de particularizar a beleza dos dentes naturais e
responder as seguintes perguntas:
- Por que o terço incisal dos incisivos superiores jovens e íntegros
apresentam-se azulados, por vezes alaranjados quando em oclusão?
-Por que o ângulo inciso-palatino se apresenta, clinicamente, como uma faixa
esbranquiçada?
Considerando que sem a luz não existe cor, para que o assunto seja
adequadamente abordado torna-se fundamental a apresentação de estudos sobre a
física da luz, os fenômenos de decomposição da luz branca em cores e também as
suas propriedades como refração, absorção, reflexão e transmissão. Além disso,
para se entender a dinâmica da luz e os efeitos nos dentes que resultam nas
características especiais de transmissão azulada, alaranjada e esbranquiçada do
terço incisal dos incisivos superiores, torna-se essencial o entendimento da
composição das estruturas dentais, sua anatomia, micro anatomia incisal que tornam
os dentes corpos luminosos únicos.
12
2 PROPOSIÇÃO
Este trabalho tem como objetivo apresentar, por meio de uma revisão
bibliográfica de artigos acadêmicos, o processo da interação e dinâmica da luz com
as estruturas dentárias para explicar os efeitos ópticos e estéticos encontrados no
terço incisal dos incisivos superiores de pacientes jovens. O enfoque será na óptica
opalescente do esmalte dentário e na formação do halo incisal branco encontrado
clinicamente e que são dependentes da microanatomia e do comportamento mineral
e translúcido do esmalte.
13
3 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Fitzgerald et al.1, em 1983, realizaram uma pesquisa que com o objetivo de
analisar as margens incisais de incisivos centrais e laterais, tanto superiores quanto
inferiores, a morfologia dos lóbulos de desenvolvimento (mamelos), mais frequentes
em dentes jovens normais. Após a análise dos oito incisivos presentes na cavidade
bucal de um determinado grupo de crianças, obteve-se como resultado que cada um
dos incisivos maxilares possui um padrão distinto, e os incisivos mandibulares têm
maior propensão a configuração de três mamelos semelhantes, assim como
mostrado na maioria das ilustrações da literatura. Na maxila, essa amostra de três
lóbulos iguais, é mais frequente nos incisivos laterais, podendo ocorrer a presença
de um quarto lóbulo. Tanto nos incisivos maxilares quanto mandibulares, pode-se
dizer que a variação dos padrões dos lóbulos encontra-se nos incisivos laterais. Ao
término das pesquisas foi encontrado um total de doze padrões diferentes na
disposição dos mamelos dos incisivos, não havendo correlações de gênero ou etnia
que justificasse essas variações. O objetivo deste trabalho foi demonstrar e provar,
por meio de uma análise quantitativa de média de 250 voluntários, que estudos mais
antigos onde definiram o estereótipo dos incisivos possuírem um padrão de apenas
três mamelos e tornaram como um fato inquestionável trata-se de uma inverdade,
pois como dito acima, foram encontrados doze distribuições diferentes dos lóbulos
de desenvolvimento, não vendo diferença de etnia ou gênero, porém pode diferir por
outras características competentes ao órgão dental, como a espessura de esmalte, o
tamanho da coroa e os tempos de erupção.
Yamamoto.2, no ano de 1989, enfatiza a importância do aprimoramento das
características ópticas nas restaurações cerâmicas para que estas estejam mais
próximas possível da aparência de um dente natural. O autor direciona sua pesquisa
no desenvolvimento de cerâmicas que tenham a capacidade de reproduzir as
propriedades de opalescência e contra-opalescência, as quais encontram- se
presentes no esmalte dentário, em maior evidência nos dentes anteriores.
Essas propriedades são de suma importância quando pretende- se restaurar,
de forma direta ou indireta, as cores e as propriedades óticas dos dentes, a fim de
que o procedimento tenha como resultado final a aparência mais próxima possível
do natural.
14
Na obra de Figún e Garino.3, publicada no ano de 1994, os autores
descrevem a anatomia e as funcionalidades conferidas a cabeça e o pescoço, de
uma forma didática, sendo de interesse para esta dissertação de conclusão de
curso, um capítulo que referencia a descrição individual dos dentes, especialmente
falando do incisivo central maxilar, bem como sua forma, tamanho, função,
localização no arco dentário.
Harris e Hicks.4, em seu trabalho publicado no ano de 1998, procuraram por
meio de análise radiográfica periapical de 115 incisivos superiores (centrais e
laterais), analisar o padrão de variação do esmalte dentário nas margens mesial e
distal, e tentar fazer uma correlação entre o tamanho (dimorfismo) da coroa dental
entre homens e mulheres. A análise do dimorfismo da coroa dental entre homens e
mulheres tem sido feita por geneticistas e antropólogos que buscam na origem
histológica embrionária dessas estruturas a resposta para tal. Alguns autores
associam a ausência de um cromossomo sexual a indivíduos com esmalte mais fino
e, em contra partida, indivíduos com um cromossomo sexual a mais, deixaria com
que a mesma estrutura se tornasse mais espessa. Destaca-se neste trabalho a
descrição da margem mesio-distal da coroa dos quatro incisivos superiores e a
espessura do esmalte. Especificamente, buscou-se localizar a fonte do dimorfismo
sexual no tamanho da coroa para a dentina e o esmalte, e avaliar os pontos fortes
das associações entre espessuras de esmalte e dentina, pois esses dois tecidos
estão ativos em diferentes momentos durante a formação de um dente. Três regiões
foram medidas em cada incisivo superior, sendo elas: comprimento da coroa
mesiodistal, espessura do esmalte distal e espessura do esmalte mesial. As medidas
foram feitas perpendicularmente ao longo eixo da coroa de cada dente. Como
resultados, constatou-se que não houve significante influência do dimorfismo sexual
na espessura do esmalte dentário, e que a espessura deste foi maior na porção
distal de cada incisivo comparada com a mesial, em aproximadamente 0,1mm. Uma
vez que não foi encontrada relação entre homens e mulheres quanto a espessura do
esmalte dentário, pode-se dizer que a diferença no diâmetro das coroas está na
quantidade de dentina presente. Frente a essa pesquisa, conclui-se que há
diferenças no diâmetro total da coroa entre homens e mulheres, porém essa relação
não se aplica ao dimorfismo do esmalte dentário para os sexos, tal afirmativa se
15
baseia dentro de especulações que permeiam as fases do desenvolvimento do
germe dentário dentro da carga genética de cada gênero.
Hasegawa, Ikeda e Kawaguchi.5, no ano de 2000, estudaram as variações de
cor e translucidez dos incisivos centrais, e o desafio de reproduzir as características
estéticas das diversas zonas dentais, cada uma com sua particularidade. Foram
selecionados 87 voluntários para análise de seus incisivos centrais. Tais voluntários
foram divididos em grupos de diferentes faixas etárias e os dentes foram
monitorados em cinco pontos: central, centro-cervical, central, centro-incisal e
incisal, sobre dois tipos de iluminação: uma horizontal e uma perpendicular. Feitas
as mensurações, pode-se concluir que a cor natural do dente mostrou uma
significante diminuição na luminosidade do centro para cervical e aumento no tom
amarelado em todos os pontos com o avanço da idade, assim como houve um
aumento no vermelho na região incisal e diminuição da luminosidade na região
próxima a incisal. Tanto o tom amarelado quanto o avermelhado têm tendência de
serem mais evidentes de incisal para cervical, a translucidez, da mesma forma,
tende a diminuir nessas regiões.
Lee, Lu e Powers.6, em 2005, iniciaram seu trabalho com a definição da
origem do fenômeno da opalescência. O objetivo deste trabalho foi determinar a
opalescência de resina composta, medida com um espectofotômetro. As cores foram
mensuradas no modo de reflexão e transmissão, em seguida, comparadas.
Constatou-se que a irradiação por 90 segundos de ambos os lados dos espécimes
com o aparelho fotopolimerizador pode influenciar fortemente na cor pelo “foto
branqueamento” da canforoquinona, aprimorando a conversão e trocas dos índices
de refração do material. A opalescência variou de acordo com o material e os tons
dos compósitos de resina, e contribuiu para mascarar a cor de fundo com o
parâmetro de translucidez.
Em 2007, Lee e Yu.7 introduziram, de forma breve, a definição da origem do
termo e do efeito da opalescência. O objetivo do estudo foi determinar a
opalescência do esmalte dental com a mensuração das cores refletidas e
transmitidas por ele utilizando um espectofotômetro. Essas cores foram comparadas
e o parâmetro de opalescência foi calculado. Para análise foram utilizados dentes
16
intactos, extraídos de seres humanos e bovinos. O esmalte foi separado (cortado),
polido com pontas diamantadas. Cada espécime foi mensurado três vezes, as
bovinas em aberturas diferentes do espectofotômetro, enquanto que os espécimes
humanos, pelo seu menos tamanho, em uma só abertura. Diferença de cor,
luminosidade, coordenadas de azul e amarelo também foram calculadas em reflexão
e transmissão da luz. Os resultados obtidos demonstraram que não houve
correlação significativa entre as espessuras dos espécimes de esmalte de humanos
e bovinos e o parâmetro de opalescência. Concluiu-se que o parâmetro de
opalescência sofreu influência da espécie do esmalte e da configuração do
espectofotômetro, assim como a espessura, a forma (curvatura e as várias
orientações dos cristais de hidroxiapatita).
Ribeiro.8, no ano de 2008, analisou o comportamento de um incisivo central
superior na biomecânica dos movimentos mastigatórios, utilizando modelos
construídos tridimensionalmente por meio de um programa de desenho
computacional, o qual procurou ser o mais fidedigno possível as características
anatômicas e dimensionais de um dente natural. Para conseguir tal reprodução das
proporções de cada região desse dente, o autor baseou-se em livros de anatomia
dentária, bem como na análise de periódicos que trouxessem informações
detalhadas de estudos mais aprofundados sobre espessuras e quantidade de cada
tecido que compõe do elemento dental em questão.
Cho, Yu e Lee.9, em 2009, definiram opalescência como sendo uma
propriedade óptica onde há uma dispersão de pequenos comprimentos de onda da
luz visível, dando ao objeto uma aparência azulada quando a luz é refletida e
laranja/marrom quando transmitida. Baseado nesse conceito de opalescência
desenvolveu-se uma fórmula para que fosse possível calcular o padrão de
opalescência (PO) de acordo com a Commission Internacionale de Éclairage (CIE).
Tal fórmula é capaz de mostrar as diferenças de amarelo-azul, emitidas pela
reflexão, e vermelho-verde pela transmissão da luz, mensuradas com auxílio de
espectofotômetro. A equação se dá por: PO= [(CIEat – CIEar)² + (CIEbt – CIEbr)²]¹/²,
resumidamente: PO= (Δa² + Δb²)¹/², onde: “a”, -a= verde; +a= vermelho; “b”, -b= azul
e +b= amarelo. O objetivo deste trabalho foi determinar a opalescência de núcleos
cerâmicos totais, materiais laminados e espécimes em camadas com as cores
17
medidas por espectofotômetro. Uma possível hipótese para este trabalho seria que
todos esses materiais tivessem o mesmo padrão de opalescência,
independentemente do tipo de cerâmica.
Em 2010, Arimoto et al.10, abordaram as dificuldades em combinar as cores
de resina composta durante o processo restaurador do dente natural. A proposta
deste trabalho foi determinar a translucidez e a opalescência dos compósitos de
resina, com reflexão no espectrofotômetro e medir a névoa de luz, avaliar a
transmissão em linha reta e difusa dos compósitos de resina com um goniofotômetro
(útil para mensurar as características de reflexão e transmissão de luz) e também
avaliar as relações desses fatores com as diferentes espessuras de compósitos de
resina. Os resultados da pesquisa mostraram que o padrão de translucidez, de
opalescência e o fator de difusão foram significativamente afetados pelo material e
pela espessura deste. Os valores para o padrão de translucidez diminuíram
gradativamente nas três espessuras de resina composta analisadas (0,5 – 1,0 –
2,0mm), conforme mais espessas menor a translucidez. Os valores para o padrão de
opalescência foram significativos para a espessura de 2,0mm, já a de 0,5 e 1,0mm
não foram expressivos os valores, demonstrando que com o aumento das
espessuras dos espécimes, há aumento do efeito opalescente. Conclui-se, por meio
dos dados obtidos, que na espessura de 0,5mm o padrão de translucidez e o padrão
de opalescência tiveram correlações significantes com a propriedade de transmissão
difusa, o que não foi o caso nas espessuras de 1,0 e 2,0mm. Quando a espessura é
maior que 1,0mm, translucidez e opalescência foram influenciadas por aquela
(espessura), nas quais a translucidez diminuiu e a opalescência aumentou seus
valores.
Mondelli et al.11, em 2012, demonstraram a importância do fenômeno da
fluorescência nos procedimentos restauradores, especialmente dentes anteriores.
Esse efeito óptico consiste na absorção da luz ultravioleta e na emissão de luz
visível num espectro azul, isso promove um aspecto mais branco e brilhante,
minimizando os efeitos cinza artificiais de materiais que não possuem fluorescência.
O objetivo deste estudo foi descrever um procedimento restaurador sujeito a
observação de luz ultravioleta. O caso tratou de uma paciente com restauração
insatisfatória, em resina composta, do dente 11, a qual submetida à fluorescência
18
(luz) mostrou uma diferença muito grande entre dente natural e a restauração. Um
novo procedimento restaurador foi proposto, incluindo a técnica de mock-up que
avaliou previamente a anatomia e os tons para o resultado final associado a resinas
com propriedades fluorescentes. Um mapa com resina nanoparticulada foi criado
para guiar o processo restaurador. Com o intuito de reproduzir o efeito opalescente,
foi utilizada uma resina opaca na borda incisal, seguido de esmalte cinza translúcido
para criar o efeito de translucidez. A propriedade de fluorescência tem sido
aprimorada através das percepções estéticas. Essa propriedade é minimamente
vista em condições normais de luminosidade, contudo, facilmente perceptível à luz
negra. A dentina apresenta ser três vezes mais fluorescente que o esmalte, o que
gera luminosidade interna. A aparência natural de um tratamento restaurador dental
depende principalmente dos detalhes na reconstrução anatômica e as
características estéticas dos materiais utilizados.
A obra de Manauta e Salat.12, publicada no ano de 2013, trata-se de um atlas
de estratificação de resinas compostas que traz, por meio de referências gráficas,
conceitos aplicáveis a estética dentária com intuito de reproduzir, de forma mais fiel
possível, as características dos dentes naturais. Os capítulos de interesse
enriquecimento desta monografia são aqueles que discorrem sobre anatomia
dentária, definição, propriedades e interação da luz e a interação que ela tem com
os tecidos dentais, assim como o mecanismo de funcionamento dos efeitos óticos
sobre os mesmos. Merece destaque o esmalte dentário com suas propriedades
luminosas e anatômicas, em especial a opalescência e a microanatomia incisal.
Pop-Ciutrila et al.13, em 2016, abordaram a necessidade de meios objetivos
para mensuração de cor e translucidez dos elementos dentais. Para tanto, os
aparelhos disponíveis para realizar esse trabalho são: espectrofotômetro,
espectroradiômetro, câmeras digitais, calorímetros, entre outros. A atenção desta
pesquisa está voltada para os dois primeiros (espectrofotômetro e
espectroradiômetro). O objetivo é fazer a mensuração do padrão de translucidez
(PT) e os valores de cor pelas coordenadas da CIE com ambos os aparelhos em
dentes anteriores (incisivos e caninos) e posteriores (molares), logo, fazer uma
comparação entre os resultados. Caracterizar uma estrutura dental implica em
mapear sua cor e translucidez. A cor é avaliada pelo padrão CIELab, nas quais as
19
coordenadas significam: L= luminosidade, a= eixo vermelho/verde, b= eixo
azul/amarelo. Já o PT é definido como diferenças entre as coordenadas de cor do
padrão CIELab do material com uma dada espessura medida contra um plano de
fundo preto e outro branco. O PT envolve três parâmetros: relação de contraste,
transmitância e parâmetro de transparência. O PT foi utilizado em muitos estudos
para mostrar diferenças entre esmalte (dentina de bovinos e humanos), translucidez
de resinas compostas, cerâmicas dentais e elastômeros. Como já dito, este trabalho
traz a mensuração e comparação entre a cor e o padrão de translucidez entre
dentes anteriores e posteriores. Sabe-se que a dentina varia de um tipo de dente
para outro e não há estudo que tenha buscado esses resultados, uma das causas
pode ser pela dificuldade de obter grande número de dentes humanos extraídos,
livres de patologias ou descolorações. Para a pesquisa foram selecionados dentes
extraídos, livres de patologias e descolorações, e as mensurações foram feitas com
espectrofotômetros e espectroradiômetros para obtenção do PT e cores segundo a
CIELab. Pode-se concluir com essa pesquisa que existem diferenças nas
mensurações com ambos os aparelhos aqui analisados, tanto para o padrão
CIELab, quanto para o PT, no mesmo elemento dental estudado. A dentina de
dentes anteriores é mais clara, porém menos translúcidas que a dentina dos
molares, o que fica claro quando observados, nos dentes anteriores, uma menor
cromacidade e uma alta luminosidade, ao contrário dos posteriores, com pouca
luminosidade e alta cromacidade.
Pecho et al.14, em 2016, discorreram sobre as propriedades dos materiais
restauradores, dando maior destaque a resina composta e suas características, nas
quais seus compósitos são utilizados para suportar a carga mastigatória (dentes
posteriores) e restaurar ou reproduzir a estética dos dentes anteriores. Quando a luz
atinge um material semi-translúcido, quatro fenômenos podem ocorrer dessa
interação: reflexão especular da luz, reflexão difusa, absorção e dispersão dentro do
objeto, transmissão do fluxo de luz através da estrutura do objeto, os quais são,
também, dependentes do comprimento de onda da mesma. Este trabalho avaliou a
cor e as propriedades ópticas de diferentes classes de tonalidades usadas para
compósitos de resina. Quando utilizada a técnica de incrementos no processo
restaurador, com compósitos translúcidos, a cor final não é somente influenciada elo
20
plano de fundo da cavidade oral, mas também pela cor e as propriedades ópticas
das multicamadas utilizadas no processo.
Kim et al.15, em 2016, abordaram as interações da luz com a superfície dos
materiais. Uma fração da luz incidente sofre reflexão, absorção e dispersão
conforme ela passa pelo dente, enquanto a luz remanescente é transmitida
difusamente através dele. O objetivo do trabalho foi investigar, por meio de um
estudo in vitro, os efeitos do glazeamento e polimento na translucidez e
opalescência na cerâmica de zircônia monolítica. Como resultados obtidos, tem-se
que a opalescência e a textura superficial apresentaram diferenças entre superfícies
tratadas, e também foram afetadas pelo número de coloração. Os tratamentos de
superfície não afetaram a translucidez, bem como o número de coloração não afetou
a translucidez nos grupos que receberam tratamento. A opalescência pode dar a
restauração final um aspecto de melhor profundidade e aparência natural. Adicionar
coloração na superfície e/ou glazeá-las, diminui a opalescência. Por meio deste
trabalho, conclui-se que tratamentos na superfície do objeto, combinados com
colorações, afetam a textura superficial da zircônia, bem como tais tratamentos com
a coloração têm pequeno efeito na translucidez daquela, nas quais o glazeamento
reduz a opalescência.
Em seu trabalho, Oguro et al.16, em 2016, destacaram a importância da
avaliação de cores do elemento dental para realizar trabalhos restauradores, tanto
para satisfação do resultado pelo paciente, quanto para a seleção dos tons corretos
dos materiais para o tratamento. Demonstrou-se que os parâmetros de cor do dente
(matiz, croma e luminosidade) são influenciados pela composição mineral do
esmalte, ou seja, tamanho e grau de carbonização dos cristais de hidroxiapatita
(HA). O objetivo desta pesquisa foi avaliar o papel da espessura do esmalte dentário
e seu índice de refração na cor dos dentes humanos. Os resultados mostraram que
a variação de cor de cada dente aumentou com a diminuição da espessura do
esmalte e que esta, juntamente com o índice de refração (n), foram fatores influentes
para variantes de matiz, mas não são para as variações de luminosidade, croma e a
escala “a” e “b”, segundo as coordenadas da CIELab. Mais além, foi demonstrado
que o n é um parâmetro importante de propagação de luz em tecidos biológicos e
pode servir como um indicador das propriedades de dispersão dentro dos mesmos.
21
Sabe- se que a translucidez depende da espessura do esmalte para alterar a cor,
porém, como no presente trabalho foi constatada que a espessura não foi
significante para alterar a luminosidade e a croma, a translucidez seria o menor fator
ótico do esmalte a causar alteração na cor do dente. Pode-se afirmar também, por
meio deste estudo, que a matiz dos dentes, indicando a cor que vem da dentina,
aumentou com o decréscimo da espessura do esmalte. Este dá um efeito mais
azulado ao dente por conta da opalescência. Segundo o presente trabalho, a
opalescência pode ser o fator de maior relevância para determinar a cor aparente
dos dentes como propriedade ótica do esmalte e acredita-se não ser influenciada
pela espessura do mesmo. A cor dos dentes difere em localização, idade, pigmentos
etc. Dentes de pessoas mais velhas são mais escuros e amarelados, assim como os
respectivos cristais de HA são mais largos, o que pode justificar, em parte, o
escurecimento. Contudo, conclui-se que o n é o fator determinante para a variação
de cor do dente depois do corte completo do esmalte.
Villarroel, et al.17, no ano de 2011, abordaram em seu trabalho as
características óticas presentes nos tecidos dentários, esmalte e dentina, dando
maior ênfase para a translucidez e opacidade, e a importância de serem replicados
durante o processo restaurador, devolvendo tais propriedades aos dentes. O
objetivo deste estudo foi realizar uma revisão do fenômeno da translucidez e da
opacidade na dentição natural e compósitos de resina, no âmbito ótico, e como
transferir esses conceitos para a prática clínica. Diante do exposto, pode-se concluir
que datado até o presente estudo, não há material que mimetize, perfeitamente,
esmalte e dentina. Para uma restauração satisfatória o clínico deve se ater aos
princípios de estratificação de cor, anatômicos e óticos de cada estrutura que se
puser a restabelecer.
No estudo de Cavalheiro.18, com acesso em agosto de 2017, o autor descreve
brevemente o que é a luz e seu meio de propagação, que é através de ondas
eletromagnéticas, cada uma dessas ondas possui um comprimento e um tempo de
propagação (frequência) conferindo as cores que são percebidas pelos olhos
humanos, chamados de espectros de luz visível. A mesma analogia é feita quando
comparado com a vibração do ar que emite tons graves e agudos, dependentes, da
mesma forma que a luz, dos comprimentos das ondas e suas frequências. Neste
22
trabalho, o autor lança mão de figuras e tabelas para fazer a exemplificação e a
quantificação dos comprimentos de ondas em seus valores numéricos e sua
caracterização como cor.
Nesta publicação, com acesso em agosto de 2017, sobre o estudo das ondas
eletromagnéticas, Silva.19, faz uma breve explanação sobre o conceito de luz, sua
formação, efeitos, composição, dissociação policromática (branca) em espectros
monocromáticos (cores), o que pode ser observado por meio de experimentos como
o prisma e o disco de Newton. O autor destaca o mecanismo pelo qual esse
fenômeno ocorre, envolvendo a troca do meio de propagação da luz, sua
velocidade, frequência e comprimentos de onda emitidos.
23
4 DESENVOLVIMENTO
Os incisivos são os dentes protagonistas do sorriso, sendo os mais
iluminados e, portanto, demonstram efeitos especiais que conferem características
únicas. Para compreensão de tais efeitos, é importante entender os conceitos e
comportamentos físicos da luz e como agem nos dentes.
4.1 A LUZ
4.1.1 Definição:
O fenômeno da luz pode ser entendido como sendo uma energia
eletromagnética que se propaga tanto no vácuo quanto em alguns meios
naturais.17,19 É perceptível não apenas pelas cores e luminosidade que emite, como
também pela física dos fenômenos produzidos por ela ao colidir com outros
corpos.17,19
A luz pode ser classificada de acordo com a quantidade de cores emitidas por
ela, sendo monocromática (constituída por uma só cor, como amarela, verde,
vermelho etc) e policromática (composta de duas ou mais cores unidas, a exemplo
da luz emitida pelo Sol, também chamada de “luz branca”)19
24
A percepção das cores é possível pela decomposição da luz branca quando
esta é submetida ao fenômeno de refração. Isaac Newton demonstrou essa
propriedade utilizando um prisma de vidro, o que explica a partir dessa observação
que quando a luz branca sai de um meio menos refringente, como o ar, entra em
contato com outro mais refringente, como o vidro, e retorna para o primeiro a
separação dos diferentes espectros da luz é tida, da mesma forma que acontece
quando a luz se mistura com a água, as gotas de chuva se comportam da mesma
forma que o prisma de Newton, criando o fenômeno do “arco-íris” no céu.12 (Figura
1)
Figura 1 – Prisma ilustrando a dissociação da luz branca (policromática) em seus comprimentos de onda (monocromáticas). Alusão ao prisma de Isaac Newton.
Fonte: Silva.20
Para tanto, tem-se que cada uma das cores possui uma velocidade,
frequência e comprimento de onda de propagação diferente quando incidida no
vidro.19
Pode-se dizer também que a luz é uma oscilação de ondas eletromagnéticas,
as quais possuem comprimentos (λ) que se modificam de acordo com tempo e
velocidade em que são propagadas (frequência (f)).18 Há uma relação inversamente
proporcional entre essas variáveis, ou seja, quanto maior o comprimento de onda
25
menor será sua frequência, e vice-versa.18 Vale lembrar que a velocidade de
propagação de uma onda eletromagnética é totalmente dependente do meio que se
encontra.19
É sabido que nos olhos dos seres humanos existe uma faixa definida para
reconhecimento das frequências decompostas pela luz, o que se limita entre 350-
360nm a 700-760nm dos comprimentos de onda para a luz visível.12,18 (Figura 2)
Figura 2 – Ilustração da faixa dentro do espectro eletromagnético visível, ou seja, o Espectro Visível, escala em comprimento de onda.
Fonte: Cavalheiro.18.
Logo, é possível concluir que para cada uma das cores tem-se um determinado
comprimento de onda (λ) e uma frequência (f) que as tornam distintas umas das
outras. Por exemplo: a luz vermelha tem uma menor frequência (menor energia) e
ondas maiores, por outro lado, a luz violeta possui alta frequência (muita energia), e
assim, o comprimento de suas ondas é pequeno.18
4.1.2 Os Fenômenos Ópticos:
Ao colidir com a matéria, a luz é capaz de provocar interações que geram
fenômenos conhecidos como: reflexão (especular e difusa), refração, transmissão e
absorção. Mais ainda, a natureza deles depende do tipo de superfície, o ângulo
formado entre a mesma e os feixes de luz.14,17
Reflexão:
Fenômeno que ocorre quando a luz incide sobre uma superfície e retorna ao
seu meio de origem, podendo ser o tipo especular ou difusa.17
26
Especular: A reflexão torna-se especular quando a luz incide sobre
superfície polida, e devido ao ângulo de incidência ser igual ao de
reflexão.17
Difusa: Em superfícies ásperas, a reflexão é difusa, ou seja, a superfície
se comporta como várias outras em tamanhos muito pequenos, refletindo
raios para várias direções, sendo, portanto, diferentes ângulos.17
Refração:
A refração é o fenômeno causado pela mudança na direção dos raios de um
meio para outro, mudando também a velocidade de propagação e alterando o valor.
O índice de refração trata da diferença de velocidade de propagação da luz no
vácuo e no meio concreto. Quando o índice do vácuo coincide com o do meio, o
mesmo é considerado transparente. Já quando diferente, o meio é chamando de
translúcido ou opaco.17
Transmissão:
Ocorre quando a luz passa de um meio com um determinado índice de
refração para outro de diferente valor, onde dentro deste sofre outra(s) refração(ões)
e retorna para o meio inicial, dessa maneira, pode-se dizer que é um fenômeno de
dupla refração.17 O meio que transmite luz pode ser classificado em três categorias:
opaco, transparente e translúcido:
Corpos opacos: somente absorvem e/ou refletem a luz, mas não têm a
capacidade de transmiti-la.17
Corpos translúcidos: nestes há alteração da direção, o que acaba por
prejudicar uma observação clara por meio do objeto.17
Corpos transparentes: transparente permite a passagem completa de luz
no seu meio sem sofrer qualquer alteração na direção.17
27
Absorção:
A luz também pode ser absorvida pelo meio, e isso ocorre pela diminuição da
energia luminosa quando colide com uma superfície opaca ou transparente. No
geral, os corpos não absorvem todas as frequências de luz com a mesma
intensidade, há uma seletividade.17
Pelo fato do dente ser considerado uma unidade translúcida, torna-se capaz
de interagir com a luz e expressar fenômenos ópticos que são dependentes da
composição mineral, bem como das suas particularidades anatômicas.12
Como descritos e explicados anteriormente, os efeitos de reflexão, refração,
transmissão e absorção estão representados pela Figura 3.
Figura 3 – Efeitos ópticos representados esquematicamente com um observador e um dente; (A- esquema de reflexão; B- esquema de refração; C- esquema de transmissão; D- esquema de absorção). A B
C D
Fonte: Silva.20 adaptada pelo autor.
28
4.2 AS CORES E OS DENTES
As cores, assim como os efeitos ópticos, também possuem suas próprias
características responsáveis por dinamizar e individualizar as regiões de cada
objeto, neste caso, os dentes. Para tanto, Albert Henry Munsell.12, dividiu a cor em
três aspectos que foram tomados como universais, são eles:
Matiz: numa linguagem mais simplista e de fácil compreensão, trata-se
do nome da cor.12 É representado em odontologia pelas letras: A(vermelho
marrom), B(amarelo), C(cinza)e D( vermelho cinza).
Croma: corresponde ao grau de saturação da cor.12 É representado em
odontologia com números associados a letra do matiz: A1, A2, A3, A4.
Valor: é o grau de brilho encontrado no objeto, ou seja, quanto mais
próximo do branco, maior é o valor da cor, logo, quanto mais perto do preto,
menor o valor demonstrado pelo objeto.12 Propriedade acromática.
Com isso, se faz necessário salientar a necessidade de entendimento,
análise, mensuração e registro das cores do elemento dental. Sendo o dente uma
estrutura com matizes, croma e valor que variam de região para região, cada uma
com sua particularidade, mapear um dente implica em avaliar minuciosamente suas
características. Existem aparelhos, hoje disponíveis no mercado (espectrofotômetro,
espectroradiômetro, câmeras digitais e calorímetros) que auxiliam nesse processo.
Isso mostra a complexidade na determinação da coloração dos dentes e evidencia
que uma escala de cor é um modo mais generalista visto a variedade de
comportamentos que a cor do dente sofre, juntamente com efeitos ópticos, como a
translucidez, por exemplo, para a sua determinação.13
Considerando que a dinâmica da luz depende das características físicas dos
corpos, torna-se importante descrever a anatomia dos incisivos superiores, os quais
são o foco deste trabalho, bem como a distribuição do esmalte e da dentina por toda
a extensão coronária.
29
4.3 A ANATOMIA DO INCISIVO CENTRAL SUPERIOR
Os incisivos centrais superiores são dentes fundamentais. Estão localizados
na porção mais anterior do arco maxilar e são os primeiros a entrar em contato com
os alimentos, além serem os dentes primordialmente ligados a estética do sorriso.
Dentre suas funções ainda, pode-se destacar a de corte dos alimentos, participação
na fonética, manutenção da postura labial e também nos movimentos oclusais.3
Face vestibular
Possui formato de um trapézio, seguido de um eixo vertical e outro horizontal,
sendo o primeiro ligeiramente maior do que o segundo.3
Região incisal: ao fazer a união das faces de contato, dois ângulos incisais
são formados: um mésio e outro disto-incisal, sendo o primeiro encontrado mais
inferior comparado ao segundo, o qual está numa abertura mais obtusa.3
Região cervical: localizada do colo do dente. Possui convexidade voltada para
o ápice, com um menor raio de curvatura voltado para a vertente mesial, assim como
também é a mais inclinada, dessa maneira, a região mais elevada do colo está mais
próxima a face mesial.3
Região Mesial e distal: ambas possuem curvatura convexa em relação do
eixo central do dente, a primeira de aproximadamente 12º e a segunda de 15º, o que
justifica o lado mesial ser um ligeiramente mais longo que o distal.3
Superfície: convexa por toda extensão. Na região do colo essa convexidade é
um pouco mais acentuada e já no terço inferior (incisal) é mais plana.3
Face palatina
Pelo fato da base maior do trapézio (incisal) manter-se idêntica, em tamanho,
quando voltada para face palatina e a base menor (cervical) ser um tanto quanto
menor quando comparado o tamanho da mesma região na face vestibular, pode-se
30
observar que o trapézio assume forma triangular na face palatina do incisivo central
superior. Esse fato pode ser explicado pela maior convergência das regiões mesial e
distal dessa face, sendo os ângulos um pouco mais agudos: 19º e 26º,
respectivamente.3
Superfície: é nessa área que se encontra mais um lóbulo de desenvolvimento
(os outros encontrados na região incisal, mais observados por vestibular num
número de três, podendo ocorrer variações, como será visto mais adiante), chamado
de lóbulo cervico-lingual ou processo cervical. As cristas marginais delimitam esse
lóbulo e seguem seu trajeto até a região incisal, onde apenas a crista mesial é capaz
de formar ângulo, já que a distal é mais curta e larga.3
Faces de contato
Ambas com formato triangular e ângulos agudos.
Região cervical (base): localizada no colo anatômico, formada por duas
vertentes, mesial e distal, com comprimentos semelhantes e inclinações para
direções opostas, o que acaba por criar uma concavidade em direção apical.3
Região vestibular: possui convexidade em toda sua extensão, sendo menos
inclinada que o lado oposto, o que explica o deslocamento da margem incisal para
esse sentido.3
Região lingual: grande convexidade no terço cervical.3
Margem incisal
Essa margem apresenta-se como um plano inclinado, com largura
aproximada de 1mm (vista incisal), que “sobe” de vestibular (abaixo) para palatina
(acima), essa conformação ocorre devido a articulação com o dente antagonista. A
margem sobe também de mesial para distal, onde pode-se observar um menor
arredondamento do ângulo disto-incisal. A margem incisal dos incisivos centrais
superiores possui dois planos, sendo o vestibular (convexo) e palatino (côncavo).3
31
É neste terço dos incisivos que se encontram os lóbulos de desenvolvimento,
conhecidos por mamelos, que são projeções de tecido dentinário, comumente
observado em dentes de pessoas mais jovens, em diversas conformações, já sendo
relatados na literatura, aproximadamente doze padrões. As maiores ocorrências
estão entre três e quatro lóbulos para os incisivos.1
As estruturas anatômicas descritas anteriormente, além de demais
comprimentos de outros componentes dentários (ligamento periodontal, dimensões
radiculares, osso cortical e esmalte dentário) estão representados, com suas devidas
dimensões nas imagens a seguir.8 (Figura 4 e 5):
32
Figura 4 – Dimensões das estruturas anatômicas do incisivo central superior hígido e estrutura de suporte.
Fonte: Ribeiro8.
33
Figura 5 – Desenho com as dimensões das estruturas anatômicas do incisivo central superior hígido e estrutura de suporte.
Fonte: Ribeiro.8
A interação da luz com os objetos depende, além da sua forma, também da
sua composição e espessura, caracterizando-os em materiais transparentes,
translúcidos ou opacos. A estrutura dentária não é diferente. Esmalte e dentina
expressam comportamentos distintos que são derivados da natureza de sua
composição mineral e espessura.
34
4.4 AS ESTRUTURAS DENTÁRIAS E A DINÂMICA DA LUZ.
4.4.1 Esmalte
Composição e princípio óptico
O esmalte dentário é composto, quase que em sua totalidade, a partir de
cristais de hidroxiapatita (porção inorgânica) e pequena porção de matéria orgânica
mais água. É essa composição que torna esse tecido uma complexidade única de
fenômenos ópticos derivados da luz (refração, transmissão e absorção) além do
mais, ao esmalte é conferido o papel de fornecer luz para à dentina, comportando-se
como um sistema de fibras-ópticas, responsável por proporcionar uma série de
efeitos luminosos.12
Ainda sobre a relação da composição do esmalte com o a óptica por ele
produzida, pode-se dizer que a sua porção inorgânica (também chamada de
estrutura cristalina) lhe confere translucidez e é capaz de permitir que a luz
atravesse com pouca restrição. Já sua porção inorgânica (ou estrutura
interprismática) confere opacidade ao tecido, por criar uma difusão interna da luz,
dessa forma confere aparência branca, sem essa constituinte, o esmalte
apresentaria coloração cinza.12
Espessura e Valor (brilho):
O esmalte natural é primordialmente translúcido e luminoso ao mesmo tempo,
sendo, portanto, responsável por regular o brilho (valor) do dente. Nas regiões
aonde o esmalte é removido, ou menos presente, a cromacidade aumenta, isso
porque a dentina que é o tecido responsável por conter a maior quantidade de matriz
orgânica do dente fica mais evidente, da mesma maneira que aumentando a
espessura, o valor da estrutura também é aumentado, e as propriedades da camada
subjacente ficam mais brandas. Para se determinar o valor três situações são
necessárias: idade do paciente, grau de mineralização e a textura superficial do
esmalte.12
O esmalte é um tecido que não é uniforme por toda a estrutura do dente, ele
altera sua espessura ao longo da porção coronária. No terço incisal, aonde é
35
predominantemente presente (em dentes poupados de desgastes), pode-se
observar aumento da translucidez, ao passo que no médio e cervical há um aumento
da opacidade, consequência da presença e proximidade com a dentina, portanto, há
uma diminuição da luminosidade do centro do dente para cervical. Vale a pena
ressaltar que a espessura do esmalte não é diferente apenas nas regiões de um
determinado dente, ele varia também de acordo com o tipo de dente observado.5,12
Refração e translucidez
A translucidez é a característica mais marcante do esmalte dentário, dessa
forma, o fenômeno da refração, que é a passagem de luz de um meio com
determinado índice de refração para outro de diferente valor ao de origem que acaba
por alterar sua direção e velocidade,12,17 é prevalente na sua estrutura.
É sabido que o índice de refração do esmalte é de 1,62, índice muito alto comparado
com aos materiais vítreos.12
Opacidade e desidratação
Ao mesmo tempo em que o esmalte é um tecido dentário altamente
translúcido quando comparado com os demais, ele possui um alto grau de
opacidade, especialmente nas suas regiões mais espessas onde permite a
passagem parcial da luz. Essa opacidade deve-se também a perda das moléculas
de água (porção orgânica) durante o processo de desidratação. A consequência
desse processo é a diminuição do índice de refração, o que acaba por bloquear a
passagem da luz, fazendo com que esmalte, e também a dentina, adquirem tons
mais opacos e brancos.12
4.4.2 Dentina
Composição e principio óptico:
Sem dúvida alguma, a dentina é o tecido mais abundante da estrutura
dentária. É ela a responsável, em maior parte, pela cor (matiz e croma) do dente. É
muito diferente do esmalte quanto a sua composição e propriedades óticas.
36
Basicamente, composta de hidroxiapatita e grande quantidade de colágeno e água,
podendo esta variar em quantidade de acordo com a região (túbulos dentinários
mais próximos da polpa são mais largos, logo constituem maior quantidade de
água). Opticamente dizendo, possui alta cromacidade e opacidade acentuada, as
quais se alteram com o passar do tempo. Vale dizer ainda que há maior
cromacidade no centro do dente e quanto mais próximo a superfície a cor torna-se
mais insaturada.12
A dentina, como dito anteriormente, destaca-se por sua característica de ser
altamente opaca, porém, isso não quer dizer que não seja translúcida também. É
uma excelente opacificadora e também deixa a luz passar através dela
(transmissão).
Fluorescência:
Na Odontologia, fluorescência pode ser compreendida como a absorção de
luz ultra-violeta (UV) pela estrutura e logo sua emissão de forma espontânea dentro
do espectro visível.11. A dentina expressa essa propriedade largamente mais do que
o esmalte, o qual também é capaz de emitir.11
A fluorescência nesses tecidos dentários é possível graças a existência de proteínas
fotocromáticas e fluocromáticas (fotocromos e fluorocromos, respectivamente).12.
Essa característica está presente apenas em dente vitalizados, logo não será
possível encontra-la em dentes não vitais, com alguma patologia ou artificiais. O
aspecto mais importante da presença da fluorescência numa estrutura dental é dar a
ela a aparência de vital por meio do brilho, emissão de luz, que vem de seu
interno.12
Elasticidade/Resistência:
Mesmo não sendo o tecido mais duro, a dentina é o tecido mais resistente do
corpo humano, sendo, portanto, surpreendente à tração, compressão e
cisalhamento.12
37
Envelhecimento:
O fenômeno de envelhecimento da dentina se dá por meio de dois
mecanismos: o primeiro dele é que com o passar do tempo a polpa regride e a
camada de dentina vai se tornando cada vez mais espessa. Já o segundo se dá pela
perda de água (desidratação) e a adição de pigmentos e minerais, responsáveis por
modificar a composição da dentina. A consequência disso está na diminuição da
opacidade e sucessivo aumento da translucidez da dentina, resultado do processo
de mineralização.12
O esmalte também sofre com alterações com o envelhecimento, ficando mais liso e
fino, logo mais transparente, o que confere ao dente maior cromacidade por tornar a
cor da dentina mais evidente.12
Dispersão da luz:
A luz interage na dentina através de suas fases orgânica e inorgânica: a
hidroxiapatita (componente inorgânico) que é transparente e o colágeno
(componente orgânico) que é opaco. Os túbulos dentinários, que são preenchidos
por tais substâncias (fluidos e proteínas), faz com que a luz sofra alteração de
trajetória quando choca-se com essas estruturas, disseminando-se por todo o corpo
desse tecido fazendo com que ele fique iluminado e expresse seus fenômenos
ópticos.12
4.5 POR QUE AS INCISAIS DE INCISIVOS SUPERIORES JOVENS E ÍNTEGROS APARECEM,
CLINICAMENTE, COMO UMA FAIXA DE TRANSLUCIDEZ AZULADA SOB LUZ DIRETA E
ALARANJADA SOB LUZ TRANSMITIDA?
R: Por causa da opalescência e da contra opalescência do esmalte dental.
Uma das propriedades que torna os dentes incisivos únicos em sua beleza é
a opalescência. Dependente das frequências luminosas, detalhes da micro-anatomia
do terço incisal e composição mineral dos tecidos dentários coronários.
38
4.5.1 Opalescência
4.5.1.1 Definição
A origem do termo “opalescência” está intimamente relacionada com a
composição da pedra opala, a qual se dá por microesferas de sílica amorfa e o
espaço entre essas esferas são preenchidos por água. A diferença no índice de
refração quando a luz entra em contato com essa estrutura é que cria as matizes
possíveis de serem observadas em todo o esmalte, alaranjada sobre luz transmitida
(Figura 6) e azulada sobre luz refletida (Figura 7), porém com mais evidência na
região do terço incisal dos dentes naturais, já que nessa área possui menos ou
nenhuma interferência da dentina.6,7,9,12
Figura 6 – Pedra opala bruta, sobre luz transmitida, evidenciando a cor alaranjada.
Fonte: Manauta e Salat12
39
Figura 7 – Pedra opala bruta, sobre luz refletida, evidenciando a cor azulada.
Fonte: Manauta e Salat12
4.5.1.2 Mecanismo de funcionamento:
O efeito opalescente baseia-se da interação da luz branca com corpos que
sejam translúcidos, uma vez que depende da ação de comportamentos luminosos
sobre esse tipo de superfície, como a refração, reflexão e absorção.
A direção (posição) do feixe, a interação deste com os cristais e a textura
superficial são alguns dos fatores que são responsáveis por modificar os efeitos
ópticos nas estruturas dentárias, especificamente falando, a opalescência.15 A
espessura do esmalte também modifica a eficácia do efeito opalescente: quanto
mais espesso o esmalte, mais fracamente poderá ser percebida a opalescência, da
mesma forma que quanto mais fino, aquela se torna mais evidente.1
A chamada opalescência espontânea advém da absorção e refração do feixe
luminoso em arranjos uniformes tridimensionais, assim como é a estrutura complexa
do esmalte dentário.12 Pequenos comprimentos de onda, ao chocarem-se com os
cristais de hidroxiapatita do esmalte, são distribuídos e tendem a ficar aprisionados
em inúmeras reflexões por esses microcristais, conferindo coloração azul observável
pelos olhos humanos, enquanto que as demais cores, por possuírem maiores
comprimentos de onda de baixa frequência, conseguem atravessar os espaços
deixados entre a hidroxiapatita, o que deixa predominar a reflexão azul/cinza do
comprimento de alta frequência confinado e mais evidentemente observado no terço
incisal dos dentes ântero-superiores.2,6,9,10,15,16 (Figura 8)
41
A opalescência pode ter sua eficácia mensurada, a qual se dá pela
quantidade de azul que é expressa pela estrutura, ou seja, quanto mais azul
possível de ser visto, mais eficazmente esse esmalte está conseguindo mostrar sua
opalescência.12 (Figura 9)
Figura 9 – Clinicamente, incisivos sobre luz refletida exibindo coloração azulada.
Fonte: Silva.20
42
4.5.1.3 Tipos de opalescência
O terço incisal dos incisivos superiores mais notadamente, possuem os
chamados lóbulos de desenvolvimento, conhecidos por mamelos. São projeções da
dentina incisal (opaca) responsáveis por dar forma ao efeito opalescente. Embora
esses mamelos possam estar dispostos em centenas de conformações na natureza,
foi feita uma divisão em cinco grupos para tornar mais fácil o entendimento unindo
as características comuns entre a maioria dos dentes:12 (Figura 10)
Figura 10 - Tipos de opalescência
Fonte: Manauta e Salat12 adaptada pelo autor.
Opalescência tipo 1:
Encontrados em dentes recém erupcionados, os quais não sofreram
desgastes. Possuem um total de três mamelos, cada um com tamanho diferente:12
Mesial: mais longo no sentido vertical.
Central: mais largo no sentido horizontal.
Distal: menor dos três.
Opalescência tipo 2:
Caracterizada pela presença de três ou quatro mamelos, mais comumente
visto em adultos-jovens. O mamelo central é o maior no sentido horizontal, sendo,
portanto, repartido em dois (oticamente). Essa divisão é causada pela hidratação
pelo desgaste fisiológico dental e pela hidratação do esmalte.12
Mesial: mais longo e largo.
43
Central: aparenta estar separado em dois ou até mais, deixando cada uma das
divisões com tamanhos pequenos.
Distal: seu tamanho é médio.
Opalescência tipo 3:
Esse tipo de opalescência é tido como a múltipla divisão dos três mamelos,
podendo ser vistos num número de seis a dez projeções, seus tamanhos são
variados. A prevalência desse tipo de conformação está para os adultos de média
idade ou mais velhos, não descartados ser vistos em qualquer idade.12
Opalescência tipo 4:
A classificação tipo 4 faz relação ao estágio final das alterações fisiológicas
dos lóbulos de desenvolvimento com o tempo, mas também pode ser encontrada em
dentes jovens que não tiveram mamelos desenvolvidos. É vista como uma linha reta
na borda incisal.12
Opalescência tipo 5:
É do tipo proximal que está presente em todos os dentes (normalmente) e
independe das bordas incisais. Pode aparecer isoladamente ou concomitante a
outros tipos de opalescência.
Vale a pena ressaltar que a interação da opalescência com a luz nos dentes
fornece aspectos de profundidade ótica e vitalidade.12
4.5.1 Contra-Opalescência:
4.5.2.1 Definição
Este fenômeno óptico é totalmente dependente do primeiro (opalescência)
para que ele exista. A contra-opalescência nada mais é do que a transmissão e
reflexão, em sentido oposto aos raios que dão origem à opalescência, dos feixes de
44
grande comprimento de onda da luz branca (cor laranja, âmbar, vermelha e amarela)
que a princípio foram transmitidos (atravessaram diretamente) a estrutura do
esmalte dentário. Nos dentes naturais essa óptica pode ser observada com os
mesmos em oclusão.2,12 (Figura 11)
Figura 11 - Comportamento clínico dos incisivos em oclusão (contra-opalescência) e topo a topo (opalescência)
Fonte: Silva.20 adaptada pelo autor.
45
4.5.2.2 Mecanismo de funcionamento
O mecanismo com o qual ela ocorre se dá quando os raios de luz de grande
comprimento de onda, que se desviaram nos microcristais de hidroxiapatita,
encontram um ponto interno de reflexão (dentes antagonistas em oclusão) e são
refletidos novamente, que confere a opalescência laranja/âmbar.12 (Figura 12)
Figura 12 - Mecanismo óptico da contra-opalescência.
Fonte: Silva.20 adaptada pelo autor.
4.6 POR QUE O ÂNGULO INCISO-PALATINO TORNA-SE UMA FAIXA ESBRANQUIÇADA
QUANDO OBSERVADO CLINICAMENTE?
R: Devido a formação do halo branco incisal que é uma propriedade característica
de dentes anteriores jovens, que possuem margem incisal translúcida, integra e livre
de desgastes.
46
4.6.1 Formação do Halo
A formação do halo incisal, observado na cor branca, é resultado da
microanatomia desse terço dos incisivos superiores que se apresenta como um
plano inclinado, com angulação de aproximadamente 37º com o plano sagital.2 Essa
inclinação do ângulo incisal é derivada da adaptação do contato dos dentes
superiores quando em oclusão com os dentes antagonistas. Com isso, quando a luz
incide sobre toda a superfície dentária, partindo de um meio com menor índice de
refração (ar) para outro de maior índice (esmalte), ela assume diversos
comportamentos: reflexão, refração, transmissão e absorção.2,12 Porém, quando
atinge uma área específica, com angulação particular, como é o caso da margem
incisal, os raios de luz, com todas as suas frequências, são refletidos totalmente e
retornam para o meio de origem, não conseguem atravessá-lo, logo, quando
refletidos todos os comprimentos de onda, é possível observar a luz sem sofrer
dissociações de seus comprimentos (Figura 13), ou seja, branca, característica
dessa faixa que percorre toda extensão do esmalte incisal em dentes jovens.2
(Figura 14)
Figura 13 - Princípio óptico do halo incisal branco.
Fonte: Silva.20 adaptada pelo autor.
47
Figura 14 - Comportamento clínico da formação do halo incisal branco.
Fonte: Silva.20 adaptada pelo autor.
48
5 DISCUSSÃO
Para compreensão do efeito opalescente nos elementos dentais, foi
necessário buscar conceitos físicos, dentro do campo da óptica, sobre a natureza e
efeitos que a luz pode produzir quando em contato com a superfície dentária, dentre
eles a reflexão, refração, transmissão e absorção. Trata-se de uma abordagem
complexa e pouco explorada na área da odontologia, porém, totalmente aplicável à
descoberta dos efeitos estéticos encontrados na margem incisal dos dentes
anteriores. No entanto, por serem conceitos pouco explorados, despertou-se o
interesse de buscar informações que explicassem, de forma objetiva, os
mecanismos ópticos que ocorrem na micro-região do terço incisal para a elaboração
deste trabalho.
Para esta pesquisa houve certo grau de dificuldade na obtenção de
referências mais atuais que trouxessem informações anatômicas, justificando a
necessidade de utilizar livros e periódicos mais antigos, os quais aliados aos
conceitos de física foram responsáveis por esclarecer a ocorrência da opalescência
e do halo branco.
Figún e Garino.3, fizeram a descrição da anatomia do incisivo central superior
de forma mais abrangente, bem como a conformação de suas estruturas, funções
(fonética, mastigatória, oclusal) e sua localização, a qual explica o porquê de serem
os dentes mais iluminados dos arcos dentários. O conhecimento da micro-anatomia
da margem incisal é de fundamental importância para que seja entendida a
presença de um halo branco presente em toda extensão do esmalte incisal dos
incisivos superiores. Como dito anteriormente, a literatura pouco referencia a
existência de peculiaridades que são de total relevância para a compreensão das
características presentes nos incisivos centrais, não havendo trabalhos mais
recentes que assim o fazem. Tanto na dissertação de Ribeiro.8, que descreve
detalhadamente as estruturas anatômicas do incisivo central e suas estruturas de
suporte, quanto Figún e Garino.3, que abrangem o aspecto anatômico desse dente
como um todo, não foi abordada a inclinação inciso-palatina e sua relevância, como
relatado por Yamamoto.2, o qual mostra que o efeito da óptica do halo incisal
acontece devido a uma inclinação de aproximadamente 37º no sentido da face
vestibular para palatina com o plano sagital, caracterizando a margem incisal como
sendo um plano inclinado. É por meio deste que a luz branca, ao interagir com essa
49
região em específico, é refratada dentro do meio e graças a essa angulação todos
os comprimentos de onda são refletidos de volta aos olhos do observador, assim
dando origem ao halo branco que particulariza os incisivos com mais essa
propriedade estética, conferindo-os naturalidade no sorriso.
As espessuras de esmalte, investigadas por Ribeiro.8, presente nas mais
diversas regiões que contornam o incisivo central, proximais e incisal, são de
fundamental conhecimento para a compreensão da opalescência, o porquê
apresentam-se com maior evidência nessa região.
É um consenso entre os autores que definiram o conceito de opalescência
como uma propriedade óptica resultante da dispersão dos comprimentos de onda da
luz branca que ocorre visivelmente em corpos translúcidos, onde pequenos
comprimentos, incapazes de atravessar as micro-partículas de hidroxiapatita, devido
a sua alta frequência, são refletidos e exibem caracterização azul da estrutura
envolvida, no caso, o esmalte dentário. Enquanto que grandes comprimentos de
onda, possuidores de menor frequência, conseguem atravessar tal cadeia prismática
de cristais de hidroxiapatita, conferem coloração alaranjada sobre a transmissão da
luz. Yamamoto.2, complementa com a informação de que os raios transmitidos,
responsáveis pela coloração vermelha/alaranjada, podem ser vistos nos dentes
quando estiverem ocluídos, pois encontram um corpo antagonista que lhe servirá de
obstáculo para refletir os comprimentos de onda que escaparam dos cristais de
hidroxiapatita, que retornarão para o dente anterior e caracterizará a margem incisal
em tom alaranjado onde antes era azul, dando o nome de contra-opalescência a
esse efeito que é derivado e constituinte da opalescência.
Uma vez que a opalescência é característica de corpos translúcidos, como o
esmalte dentário, deve-se considerar que tal propriedade manifesta-se em maior
grau em pacientes jovens, os quais, sobre condições sistêmicas saudáveis, são
poupados de desgastes fisiológicos na margem incisal e exibem, satisfatoriamente, o
fenômeno opalescente.
Manauta e Salat.12, dividiram a opalescência em cinco diferentes tipos de
acordo com a conformação dos mamelos dentinários. Essa classificação enfatiza
sobre o formato que o observador identificará a reflexão ou transmissão sobre o
terço incisal dentro do princípio físico que dá origem a tal propriedade.
Como dito anteriormente, a natureza dos princípios ópticos que regem a
região incisal com todas suas particularidades é pouco conhecida na literatura atual.
50
A maior parte dos profissionais da área sabe apenas da existência e da necessidade
da estratificação das cores por toda extensão dental e assim reproduzi-las de
maneira artificial com o uso de corantes para a opalescência e materiais resinosos
extremamente opacos para a mimetização do halo branco. O que seria dispensável,
pois uma vez que cientes das características anatômicas e ópticas dos dentes a
serem tratados, o procedimento restaurador seria possível apenas reproduzindo o
mais fiel possível às estruturas envolvidas.
Considerando que o presente estudo evidenciou a importância dos
conhecimentos sobre as características opalescentes naturais do esmalte, sugere-se
para novos trabalhos, análise das propriedades dos materiais restauradores diretos
que sejam capazes de devolver à estrutura dental danificada as propriedades
ópticas e anatômicas particulares de cada tecido constituinte, e consequentemente
estabelecer o mimetismo dessa região.
51
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se concluir que o dente é uma estrutura única com suas características
de interação com a luz, e muito particular ao exibir a beleza estética advinda do seu
comportamento óptico devido à organização, composição e não menos importante,
da forma anatômica da estrutura dos distintos tecidos dentários presentes.
A coloração azulada observável com maior nitidez no terço incisal,
exclusivamente composta de esmalte em pacientes jovens, é resultado da reflexão
dos pequenos comprimentos de onda do feixe de luz branca. Enquanto que a
exibição da cor alaranjada se dá pela reflexão em sentido reverso, devido a
presença de um corpo antagonista, dos grandes comprimentos de onda do mesmo
feixe de luz branca. E já o halo incisal é presente devido a conformação da micro-
anatomia da margem incisal, juntamente com os efeitos derivados da luz com a
natureza da superfície incidente.
O conhecimento do comportamento da luz sobre os dentes torna-se de
fundamental importância para o clínico quando busca o mimetismo dental, já que
para isso o cirurgião dentista deverá alinhar o conhecimento anatômico de cada
região dessa estrutura para que haja uma reprodução fiel ao dente natural e o
resultado final do procedimento restaurador seja satisfatório.
52
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