A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e ... · qual o aspecto original do...
Transcript of A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e ... · qual o aspecto original do...
231
R E S U M O Partindo do estudo de alguns elementos arquitectónicos da Época Romana que se
encontramnaIgrejadeS.PedrodeLourosa(Coimbra),analisa-seoempregodaordemtos-
cananaregiãoocidentaldaLusitânia.Amanutençãodesteselementosnaigrejapré-româ-
nica indica um reaproveitamento classicista intencional que se manifesta de igual modo
noutrosespaçosreligiososcoevos.
A B S T R A C T WebeginwiththestudyofsomearchitecturalelementsofRomantimesthat
arefoundintheChurchofS.PedrodeLourosa(Coimbra),theuseoftheTuscanstyleinthe
westernareaofLusitaniaisanalysed.Themaintenanceoftheseelementsinthepre-Romanic
churchindicatesaintentionalclassicistreusethatmanifestsequallyinothercoevalreligious
spaces.
A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
LídIAFERnAndES*
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270
Este trabalho é dedicado a José Carlos Caetano, ao lado de quem, conjuntamente com Helena Frade,
escavei em Bobadela no ano de 1984. A memória que tenho daquela Splendidissima
Civitas ficará para sempre ligada às conversas com aqueles dois investigadores
Lídia Fernandes A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270232
1. Introdução
Apresentamos,nestebreveestudo,17elementosarquitectónicosqueseencontramnaIgrejapré-românicadeS.PedrodeLourosa,naactualaldeiadeLourosa,concelhodeOliveiradoHospi-tal,distritodeCoimbra.Apesardeopresentetrabalhoversarexclusivamentesobrecapitéisebasesque se encontram integrados no actual templo religioso, não poderemos deixar de mencionaroutraspeçasqueforamreempreguesnaactualconstruçãoeoutrasque,simplesmente,seapresen-tamsoltasnoredordaIgreja.
desdeiníciosdoséculoXX,maisconcretamentedesde1911,queváriosestudossobreaIgrejaforamsendorealizados.VirgílioCorreia,JoaquimdeVasconcelos,JoséPessanha,nogueiraGon-çalvesentreoutros,sãoalgunsdosinvestigadoresquesobreestemonumentosedebruçaramequesobreeleproduziramconhecimentoporocasiãodasobras—porelassuscitadosoudando-lhesomote—que,em1931,aantigadirecçãoGeraldosEdifícioseMonumentosnacionaisimplemen-tounoedifício.
SobreestaIgreja—quetantaspublicaçõesecontrovérsiassuscitou,querrelativamenteàsuacronologiaquer,àdata,aoestiloarquitectónicoaseguirnasuareconstrução—nãonosdeteremos,aindaqueolongoecomplexoprocessoderestaurodomonumentonospossa,dealgummodo,auxiliarnacompreensãodapresençadealgunsdoselementosqueagoraanalisamos.Ahistorio-grafiajálongaquesobreesteedifíciotemsidoproduzidapoderáesclarecer-nosrelativamenteàssuasparticularidadesconstrutivas.
nãopoderíamosdeixardesublinharosmaisrecentestrabalhosquetêmvindoaserpublica-dossobreestemonumentonamedidaemquetrazemnovasinterpretaçõesqueseprendemcomcontextosculturaisespecíficosque, longedeperpetuaremumatradiçãoregionalistaarreigadaeminfluênciasmoçárabes,antesinauguramachegadadenovascorrentesculturaiseartístico--religiosasdecarizasturiano.Sãoassazcuriosasasvicissitudespelasquaisoprocessode“recons-trução”daIgrejadeS.PedrodeLourosapassoueasdificuldadesdeatingirumconsensonoquerespeitavaaoidealderestauroapropor.Sobreestesaspectos,osúltimostrabalhosquetêmvindoaserpublicadossãobastanteesclarecedores(Fernandes,2006,pp.150–158).Aindarelativamenteaestatemáticanãopoderemosdeixardeagradeceraamávelconsultadeumtrabalho,empubli-cação,daautoriadePauloFernandes,intitulado“AIgrejadeS.PedrodeLourosaeasuarelaçãocomaarteasturiana”,ondeoautorclarificaa influênciaasturiananagéneseedificativadestetemplo, afastando definitivamente as controvérsias relativas a correntes moçárabes na suagénese.
Asenormestransformações,estruturaisedepormenor,queesteedifíciosofreuaquandodorestaurolevadoacabopeladirecçãoGeraldosEdifícioseMonumentosnacionais,impedemsaberqualoaspectooriginaldomonumentoe, simultaneamente,quaisoselementosreaproveitadosintegraramonovoedifício.Apresençadevárioscapitéis,baseseoutroselementos,muitosdelesdeépocaromana,constituiopontodepartidaparaaanálisedaordemtoscana,umavezqueéessaaordememqueseintegramoscapitéisepossibilitarátambém,umainvestigaçãoumpoucomaisdetalhadasobreasbasesdecolunaqueaíseobservam.Estetemaprende-secomosaspectosdaocupaçãoromanadaregiãoondesesituaaIgrejadeS.PedrodeLourosaeamanutençãodesteselementosarquitectónicosnoactualedifícioreligiosopoderáprender-seacaracterísticasclassicis-tasemvogaemépocapré-românica.
A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
Lídia Fernandes
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270 233
2. A ordem arquitectónica toscana
A definição de capitel tuscanicus ou toscano prende-se directamente com o nome do povoTusci,ouseja,osEtrusci.Aoquetudoindica,nemmesmoemRoma,emépocadeVitrúvio,seencon-travapresentequalquertradiçãoarquitectónicadeorigemtuscaouetrusca,noentanto,pode-seafirmarquenesseperíodoedurantemuitomaistempo,teráprevalecido,nasociedadedeRoma,uma“…tradizionaleascendenzaestrusca[constituindoesta]latendenzanell’interpretarepartico-larischemiarchitettonici,almenonelIsec.a.C.”(Rosada,1970–1971,p.66).
Estamaiorsensibilidadeoudeferênciaparacomalgunsaspectosdatradiçãoetruscamanter--se-áaolongodosséculosrevelando-secomooelodeligaçãoaopovoque,peloseuvalorecora-gem,deitouassementesdoqueRomafoi.Ofactodeascidades-estadodaEtrúriateremsidopormuitotempoasmaioresrivaisdeRomamarcouahistóriadosdoispovosecriouumimaginárioancestralcomum.Porestarazão,nãoserádeestranharqueumadasrealizaçõesmaisrepresentati-vasdaarquitecturadoImpérioRomano,oCapitólio,participe,nasuagénese,dascaracterísticasdotemploetrusco(Boëthius,1962,p.249).Esse idealde idadedeouro,temáticarecorrentenacivilizaçãoromana,éarazãoquesubjazàadopção,emépocaFlávia,depormenoresdecorativosempregues em tempo de Augusto ou a razão da manutenção, em Pompeia, da coluna toscana(encontrada na casa que adoptou aquele nome), erigida em local isolado, nos finais do séculoIIIa.C.ouiníciosdaseguintecentúria,tendoaípermanecidoaolongodotempopelasuarelaçãoaotemenos,santuárioconstruídoemcampoabertoqueconsagrariaacidade(Coarelli&alii,2005,p.37).
Masanalisemosoquecaracterizaocapiteltoscano.Oaspectomaisevidenteéodasuanãodecoração.nãoqueoscapitéisdestaordemonãofossemmasporqueessadecoraçãoerarealizadaemestuqueenãonoblocopétreo.nãonosparecequepossamosgeneralizarquetodososcapitéis,porseremtoscanos, seriamestucados.Maséumfactoque,nasuagrandemaioria talprocedi-mentoeracorrente(Lézine,1955,p.17,n.26ebibliografiaparaaqualremete).nocasodosexem-plaresdequetemosconhecimentoparaoterritórionacionaltaltambémseverifica,apesardenatotalidadedosexemplaresnãosetermantidoqualquervestígiodeestuque.Assimsendo,oqueactualmenteseconhece,pornãoseterconservadoqualquertipoderevestimento,éoblocointernoondeestãotalhadasasváriaspartesconstituintes,ouseja,oábaco,oequino,ohypotracheliumeumpequenolistelqueseparaestesdoisúltimoselementos.
Vitrúviodefineasváriaspartesdocapitel,apresentandoasdimensõesquecadaumadeveriapossuir:
Aalturadocapitelseráigualametadedoseudiâmetro.Alarguradoábacoseráigualaodiâ-metrodacolunanabase.Aalturadocapiteldividir-se-áemtrêspartes,dasquaisumasedaráaoplintoquefazdeábaco,outraaoequino,eaterceiraaohipotraquéliocomarespectivaapófige”(LivroIV,CapítuloVII,3;trad.Maciel,2006,p.156).
Parece,noentanto,queestasdimensõesdefinidasporVitrúviorepresentam,maisqueover-dadeiro módulo da coluna toscana tradicional — bastante mais “atarracada” e simples —, umaadequaçãoàsdimensõesdaedificaçãodetradiçãohelenística,aumnovogostoeaumadistintaescalaacentuadamentemaisalongadaeimponente(Boëthius,1962,p.249).
nãoobstanteaqueladefiniçãodoarquitectoromano,peçasexistemondenemtodososele-mentosenunciadosseencontrampresentesouondeodesenvolvimentodeumadaspartescon-fere,aoprodutofinal,umaspectoclaramentedistintodo“cânone”docapiteltoscano.
Lídia Fernandes A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270234
naspeçasqueagoraanalisaremos,podemosgeneralizaraoafirmarque,empraticamentetodaselas,seencontratambémpresenteumoutroelemento:osummus scapus.Esteelementonãoémaisqueapartesuperiordofustequeétalhadonomesmoblocopétreo.Ainclusãodesteelementonãoéobri-gatória,masageneralizaçãodasuapresençaempeçaslusitanaslevaaconsiderarestaparteconsti-tuintecomoumelementocaracterizador.Estapartedapeçapoderácorrespondermaisaumatécnicadetalhedoqueaumelementoconstituinte,umavezquepertencemaisverdadeiramenteaofustedoqueaocapitel.Esteéumdospormenoresquenospermiteauxiliarnadefiniçãodoscapitéisebasesdestaordem.Comefeito,ainclusãodaparteinferiordofuste,istoé,oimmus scapus,nabase—queéumatradiçãodeÉpocaRepublicana(Pasquinucci,1982,p.31)—égeralmenteumaporçãomenoràquesurgetalhadanocapitel,istoé,osummus scapus,ouseja,apartesuperiordofuste—queé,deigualmodo,umatradiçãomaisantiga.Senosrecordarmosqueaspeçassóficariamcompletasdepoisdeestucadas,nãoficariavisívelqualaporçãodofustequeforatalhadonocapitelounabaserespectiva.
doquenosédadoconhecerdaspeçaslusitanasestadificuldadetambémseverifica,masempraticamentetodaselas—veja-se,atítuloexemplificativo,osexemplaresdeAmmaia(S.SalvadordeAramenha,Marvão)(Fernandes,2001,pp.95–158)—osumoscapodetémumadimensãotãoimpor-tantenoconjuntodapeçaque,defacto,éumelementoanãodescuraredegrandeimportânciaquantoàtentativadeatribuiçãodeoficinasoudecorrentesespecíficasdetécnicasdefabricoumavezque,maisqueumpreceitotécnicoesteartifíciodeveserencaradocomo“ummododefazer”.
Ainclusãodosumoscapoéimportantetambémporqueauxilianaidentificaçãodasprópriaspeças.naverdade,esteéumdosprimeirosproblemasqueseenfrentanaanálisedestesexemplares:odesaberseestamosperantecapitéisoubases,dificuldadegeneralizadaatodososinvestigadoresquesobreotemasetêmdebruçado(entreeles,Boube,1967;Lézine,1955;GutiérrezBehemerid,1992).
Ainclusãodoimoscaponasbaseséumacaracterísticaparalelaedecronologiasimilar.Tam-bémaquimúltiplosexemplossepodemindicar.Referimos,tambémcomoilustrativo,asbasesdoteatroromanodeLisboaondealgumasincluemumaporçãoacentuadamentegrandedestapartedofuste(Fernandes,2001,pp.29–51,2004–2005,pp.83–94,2007,pp.28–39).
Assim,nãopoderemosdeixardeconcluir,emparalelocomoutrosinvestigadores,queainclusãodoimoscaponabasecorrespondeaumacaracterísticadaarquitecturaocidentalemépocatardorepu-blicanaeaugustana(ÁlvarezMartínez&nogalesBasarrate,2004,p.301).domesmomodo,ainclu-sãodosummus scapusnocapiteléumacaracterísticadepeçasantigasqueterátendênciaadesapareceremépocasposteriores.Maisumavez,tambémoscapitéisdoteatroromanodeLisboaapresentamumapequenaporçãodapartesuperiordofustetalhadanoblocodocapitel(Fernandes,2001,pp.30––33)oquenosremeteparacronologiasrecuadasque,nocasovertente,seenquadramnoprincipadodeAugustoouépocapoucoposterior(Fernandes,2007,pp.28–39).Apesardealgumasdestaspeçasseintegraremnaordemjónicaplena,continuaaseratradiçãodecorativarepublicanaqueéempregue,ouseja,oempregodamatéria-primalocalcobertacomestuquenoqualéfeitaaornamentaçãomaiselaborada,técnicaestaquevemospresentenãoapenasnaspeçasdeS.PedrodeLourosamas,deigualmodo,emtodososcapitéistoscanosdequetemosconhecimentoemterritórionacional.
Osestudosquetêmsurgidosobreaordemtoscanasãoemreduzidonúmero,sobretudoemcomparaçãocomostrabalhossobreasrestantesordensarquitectónicas.Umdosautoresquecommaisanterioridadesedebruçousobreotema,nointuitodeorganizareinterpretardiferençasesimilitudesfoiA.Lézineque,partindodaanálisedoscapitéisnorteafricanos,osindividualizou,criando grupos formais a partir da morfologia do equino. Os grupos que o autor define são:1-equinoemformadetoro;2-equinoemformade“garganta”;3-equinoemformade“caveto”,ouescapo;4-equinocomperfilemquartodecírculoouemarodecírculo;5-casosparticulares(Lézine,1955,p.13,traduçãonossa).
A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
Lídia Fernandes
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270 235
TambémPierreBroise,partindodeumacolecçãorecolhidaemmuseuseestaçõesarqueoló-gicasdaregiãodaGálianarbonense(concretamentedaactualprovínciadaHaute-Savoie),estabe-leceumadivisãotambémbaseadanoperfildoequino,criandotrêstiposprincipaisapartirdosquaisobservacombinaçõesdeperfisobtendosubtipos.Temosassimecomobasesdostipossim-ples:operfildoequinoemformadearco(A);emtoro(B)eemmolduracôncava(C)sendoqueacombinação destas formas com moldurações intermédias permite ao autor o reconhecimento,nestaregião,de14subtipos(Broise,1969,p.17).Esteestudolevouaoreconhecimento,porpartedaquele investigador, de uma “ordem toscana provincial”, bem como de uma generalização doempregodaordemtoscananãoapenasnaGáliamasportodooocidentedoImpérioatéàépocadeAugusto(Broise,1969,p.15).QuantoàPenínsulaIbérica,GutiérrezBehemerid,seguindodeperto a tipologia estabelecida por Lézine, analisa os exemplares toscanos e peças das restantesordensarquitectónicoserespectivossubtipos,reunindo61exemplaresemtodaaHispânia(Guti-érrez Behemerid, 1992, pp.17–26). Como teremos oportunidade de observar mais detalhada-mente,estenúmeronãoérepresentativodarealidadeactualmentenacionalnem,muitoprovavel-mente,dorealpanoramaespanhol.
3. Problemática da adopção da ordem toscana na região ocidental da Lusitânia
Os capitéis que aqui apresentamos pertencem todos eles à ordem arquitectónica toscana.Curiosamente,estaparecetersidoumadasordensdemaiorapreçoduranteosprimeirostemposdoImpérioemgrandepartedoterritórioactualmenteportuguês,oquecontrariaaopiniãogene-ralizadadequeestaordemnãoteriatidograndeaplicaçãoemterritóriohispanooupelorestanteImpério.
Comojáfoireferidoemtrabalhosanteriores(Fernandes,1997,vol.II,1998,pp.221–284),agrandequantidadedeexemplaresquetemosvindo,progressivamente,aterconhecimentopermiteobterumquadrodedispersãodeverasgeneralizado,quenosobrigaarectificaropapelproposto,atéaomomento,paraasordensarquitectónicasnestaparteocidentaldaHispânia,emparticularnoquerespeitaàordemtoscana.
Gostaríamosderealçaroqueparecetersidoumfenómenoparticularda“plásticaprovincial”destaregião,entendidaesta,enoquedizrespeitoacontextosarquitectónicos,comoumreceptá-culodeinfluênciasprecisasedasuaimediataetotaladopção,aoinvésdeumareelaboraçãopen-sadae/ouadaptabilidadeatradiçõesanteriores,comopareceterocorrido,pontualmente,emrela-çãoaoutrasordensarquitectónicas.
Continuaporfazerumaanáliseglobaldestaedasrestantesordensarquitectónicasparaoterritórioactualmentenacional.Otrabalhoqueapresentámosem1997éparcial,debruçando-sesobre uma região circunscrita delimitada pelas principais vias terrestres que ligavam Olisipo aAugustaEmerita.Acompilaçãoquetemosvindoarealizardesdeessaaltura,permite-nosconcluirporumnúmeroenormedeexemplareseporfenómenosparticularesdadecoraçãoarquitectónicadeépocaromanaquemerecemumaanálisecríticaecuidadosa.UmpequenotrabalhosobreoscapitéisdoconcelhodoSabugal(RevistaSabucale,noprelo)podeauxiliarnummelhorentendi-mentodestaespecíficaordemarquitectónica.nestacompilaçãogostaríamosdeagradeceraimensaajudadeCarlosLoureiro,nossocolegaquerealizouosmapasqueagoraapresentamos.
Seobservarmosummapadelocalizaçãodosvárioscapitéistoscanosque,atéaomomento,seregistamemterritórionacional,énítidooacentuadonúmerodepeçaseasuaclaraconcentraçãonoCentro/nortedopaís(Mapa1).
Lídia Fernandes A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270236
Comefeito,àmedidaquesevãodescobrindoe “redescobrindo” mais exemplares — não nospodemos esquecer que estas peças são frequente-menteconfundidascombases,distinçãoqueconti-nua,naactualidade,aconcorrerparaumadificul-dade na identificação destas peças — desenha-seum mapa insuspeito que rivaliza, e por vezessuplanta, a ideia generalizada de que a ordemcoríntiaconstituiuosignoeosímbolodaromani-dade. num recente trabalho sobre a decoraçãoarquitectónicadeColonia Clunia Suplicia,ésintomá-tico o facto de a respectiva autora não classificaralgumasdaspeçasqueanalisa,colocandoexplici-tamenteadúvidasesetratadebasesoudecapitéis(GutiérrezBehemerid,2003,pp.87–88).
Estatradicionalideiadatotalpredominânciadocapitelcoríntiocontrapostoaosingelopapeldaordemtoscanaemterritóriohispanoéevidenteemtrabalhosquetêmvindoaserpublicadosemterri-tório espanhol sobre esta temática. Refere Guti-érrezBehemeridquantoaestepropósitoque
LapresenciadelcapiteltoscanoenlaPeninsulaIbé-ricanosesmuynumerosa(...)sibien,logicamente,noexcluímos laposibilidaddequesunuméroseabastantemaselevado”(GutiérrezBehemerid,1992,p.22).
Esteenormedesconhecimentodorealnúmerodecapitéisdestaordem—sobretudoparaoactualterritórionacionalmastambémparaocasoespanhol—apardasdificuldadesdeidentificaçãodestaspeças,constituemosfactoresmaisimportantesparaaactualimpossibilidadedesecaracteri-zaroseuempregonaLusitâniaenaHispânia.Seem1992,naobradesínteserealizadaporGutiérrezBehemeridsobreoscapitéisromanosdaPenínsulaIbérica,aquelainvestigadoracontabilizaparaosdoispaísessessentaeumexemplares,temosconhecimentoactualmenteeapenasparaoactualterri-tórioportuguês,deumnúmeroqueultrapassaas80peças,nãoseincluindo(masestandosinalizadaaimplantaçãocomon.º17)aspeçasdaigrejadeS.PedrodeLourosaqueanalisaremosnopresentetrabalho. Assim, o número que agora apresentamos será substancialmente superior (Quadro 1).Temosconhecimentodeoutraspeçasqueseencontramclassificadascomocapitéistoscanosmassobreosquaistemosalgumasdúvidassobretudoporquenãotivemosoportunidadedeosvisualizareporqueasreferênciasbibliográficasereproduçõesquedelestemosconhecimento,nãonospermi-temsermosassertivosquantoàsuaclassificação.Encontram-senestecasoosseguintesexemplares:Marialva(Coixão,2005,p.13,Fig.1);Vilares(Trancoso)(Ferreira,2005,p.19,Fig.3,estapeçaestáclassificadacomobase);Orjais(Covilhã)—TemploromanodenossaSenhoradasCabeças(Carva-lho,2005,p.35)(estapeçaencontra-sedesenhadaepelaorientaçãoemqueéapresentada,foiinter-pretadacomoumabase.Operfilassemelha-seaodocapiteltoscanomasnãopossuiábaco—ousendoumabase,nãopossuiplinto—apresentandodoistorossobrepostosoqueconstituiumamor-
Mapa 1 Mapadedistribuiçãodoscapitéistoscanosemterritórionacional.
A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
Lídia Fernandes
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270 237
fologiaestranha).Porfim,umaltardoCastrodeRomariz(SantaMariadaFeira),ofereceumperfiltoscanoquerquantoaocapitelqueràsuabase,umavezquesetratadeumapequenacolunamono-líticacombase,fusteecapitel(Guerra,1993,p.113).nestecômputotambémnãoseincluíramosexemplarestoscanosdeIdanha-a-Velha,estandoapenascontabilizadososqueseencontramdentrodaigreja,emnúmerodenove.TambémemrelaçãoàspeçasdeBobadelasãomuitososcapitéisquese podem observar dispersos pela aldeia. Em vários passeios Helena Frade e José Carlos Caetanomostraram-mecapitéisevárioselementosarquitectónicosqueseencontramespalhadospelolocalaservir de bancos ou reutilizadas nas paredes e jardins das casas. na impossibilidade de, até aomomento,desenvolverumtrabalhomaisprofundosobreestesexemplares,apenasforamconsidera-dasaspeçasqueseencontramjuntoaoarcodavila(arcoromano)eosqueforamencontradosnodecursodasintervençõesarqueológicasrealizadasporHelenaFrade.
Sevisualizarmosadispersãodocapiteltoscanoemterritórioespanhol(Mapa2),facilmenteseverificaoquãoincompletoseencontraoseulevantamento.ÉevidentequeaconcentraçãoquehavíamospresenciadonoCentro/nortedePortugal,essencialmentejuntoàfronteira,serepetirádoladoespanhol.Mesmocomestaenormeausênciadedados,facilmentesecompreendequeéalinhadecostaque,nasprovínciasTarraconenseedaBética,concentramaiornúmerodeexempla-resoqueseficaráadeveràsuaposiçãogeográficaque lhespermitiu intercâmbioscomoutraspopulações,facultandoaadopçãodenovosmodeloseprodutos.
ParamelhorseperceberopapelpreponderantequeoempregodestaordemarquitectónicatevenaregiãoocidentaldaLusitânia,bastamencionarque,pelomenosquatrocivitatesaempregamdeformaintensiva:Egitânia,AmmaiaeBobadela,astrêsnoactualterritórionacionaleEmerita,acapital de província da Lusitânia, constituindo, por essa razão, um exemplo paradigmático.
Mapa 2 Mapadedistribuiçãodoscapitéistoscanosnoactualterritórioespanhol(combasenosdadosdeGutiérrezBehemerid,1992),evidenciando-seaparcapresençaemcomparaçãocomPortugal.Assinala-se,paraPortugalaredeviáriaromana(combaseemMantas,1994).
Lídia Fernandes A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270238
Emtodososcasosaordemtoscanasurgeemassociaçãocomumsubtipodecapitelquedesignamospor“jónicolisodeinfluênciatoscana”.Tivemosoportunidadedeabordaraproblemáticadestetipoespecíficodecapitel jónicoemoutrasocasiões (Fernandes,1997, vols. I e II,1998,pp.221–284,2001,pp.95–158).EstefactoétantomaiscuriosoquantonoscasosdeBobadelaedeAmmaiaaordemtoscana,apardaqueletipodecapitel—quecorrespondeaumasimbiosedeperfiltoscanoedospulvinidaordemjónica—,surgedeformaexclusiva,istoé,nãosepresenciaoutraordemarqui-tectónica,encontrando-seausentesexemplarescoríntiosque,normalmente,surgemamiúde.
nocasodeAugustaEmerita,talnãoseverifica,umavezque,enquantocapitaldeprovíncia,ascorrentesdecorativasearquitectónicasquerapidamenteaíchegavamsetraduziamnumaactualizaçãoconstantedospreceitosornamentaissendonaturalapresençadetodasasordensarquitectónicas.
AindaemrelaçãoaMérida,nãopoderiamosdeixardesalientarofactodeoscapitéispornósdesignadospor“jónicolisodeinfluênciatoscana”tambémaquisurgirem,tendosidoempreguesporexemplona“CasadoAnfiteatro”enadecoraçãodopostcaeniumdoteatroromano.GutiérrezBeheme-rid(1992),queospublica(respectivamentecomosn.os122,123e124),integra-osnasimplesclassifi-caçãode“jónicoliso”,atribuindo-lhesumacronologiavagaquevaidoséculoIIId.C.aoséculoIVd.C.(GutiérrezBehemerid,1992,pp.47–50).Hápoisquereavaliarestaideiaeatribuíraestescapitéisidên-ticacronologiaàdaspeçasquetempovindoareferir,integrando-osnaclassificação,nãodejónicoliso,massimdeumantecedentedaordemjónicaplena.Podendoserconsideradocomoum“pré-jónico”,asuaidentificaçãoprende-seessencialmentecomatécnicaempregue.Estescapitéisdepoisdeestuca-dos,talcomotambémaconteceria,aindaqueemmenorgraunaspeçastoscanas,ostentariamumaspectosubstancialmentedistintodoseumiolointerno.destemodo,quasepodemosdizerqueestaspeçasfuncionamcomofóssildirector,istoé,mesmonãosabendoqualoaspectofinaldosexemplares,ofactodeocorpodapeçasersempreigual,podefornecerpistasquantoàsuapossívelcronologia.
Estetipodecapitelnãopodeservisto,comooconsiderouaquelainvestigadoraespanhola,comoumacriaçãodeépocatardia,integrandoascorrentesdesimplificaçãodecorativaqueocorremapartirdoséculoIIIequesetraduzemempeçasdecorativamentedistintas,porvezesmantendoalgumascaracterísticasoriginais,outrasreelaboradascommotivoslocaiseregionais,masdandosempreori-gemadistintasproduções,comoéocasodo“capiteldefolhaslisas”,oudo“capiteljónicoliso”.
Osubtipo“jónicolisodeinfluênciatoscana”integracorrentestotalmentedistintascaracteriza-dasporaestruturainteriordapeçaseapresentarlisa,comidênticoperfilaocapiteltoscano—noquerespeitaaoábaco,equino,hipotraquélioesumoscapo—comaúnicadiferençadeapresentartoroslaterais correspondendo aos pulvini, mas sem o perfil contracurvo do balaústre típico do capiteljónico.nestaspeças,averdadeiradecoraçãojónicaéfeitaemestuqueeomiolo,ounúcleodapeça,ésempreempedralocal.Estaspeçascorrespondemàadopçãoda“nova”ordemjónica,remetendoparaosprimeirosmomentosdaromanizaçãoenão,comoaconteciacomosexemplareslisosacimareferi-dos,significandopeçastardiascomacentuadasimplificaçãoealteraçãodosmodeloscanónicos.
QuantoàantigaCivitas Igaeditanorum,aordemtoscanaéempregue,apardotipo“jónicolisodeinfluênciatoscana”,deformaexclusiva.nãotemosinformaçãodequalqueroutrotipodecapitelnestelocal1.AindaqueconheçamosmelhoraspeçasreaproveitadasnointeriordaIgreja,asqueseaindahojeseobservam,espalhadasporváriosrecantosdaaldeia,levamaconcluirporumaclarapredominânciaporestaordem,quandonãodasuatotalexclusividade.dentrodaigrejaobservam--se,distribuídospelasduascolunatas,novecapitéistoscanos,váriasbasesáticasedoiscapitéis“jóni-coslisosdeinfluênciatoscana”.Porocasiãodaexposiçãotemporáriaquetevelugar,em2005,noMuseunacionaldeArqueologia,apropósitode25 Sítios Arqueológicos da Beira Interior,estevepatenteumdestesexemplaresquedesignamospor“jónicolisodeinfluênciatoscana”,peçaqueseencontranasreservasdoMnA.
A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
Lídia Fernandes
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270 239
Relativamenteàcivitas ammaiensis,epítetoqueéreferidoemalgumasinscrições(Encarnação,1984,pp.676–677,n.º615;Alarcão,1990,p.23),observa-setambémapresençaexclusivadecapitéistoscanos—13exemplares—apardos“jónicoslisosdeinfluênciatoscana”—16peças(Fernandes,1997,vol.II,pp.25–38;103–111,2001,pp.95–158).Acronologiaqueindicamosparaestaspeças,como tivemos oportunidade de indicar em trabalho antigo, aponta para os inícios do século I(Fernandes,2001,p.123),aindaquesurjamalgunsexemplarestoscanosdeperfilmaiscomplexoquepoderãointegrarcronologiasumpoucomaistardias(Fernandes,1997,vol.II,peçan.º12).
AcidaderomanadeBobadela—quesesituaacercade6km(concretamente,a5,8kmemlinharectaeacercade12kmporestradaactual)dedistânciadaactualpovoaçãodeLourosaedaqualdesconhecemososeunomelatino(Fernandes,2002,p.75,n.31)—,édesignada,numainscriçãomandadafazerporumaflamínica,porsplendidissima civitas(Amaral,1982,pp.106–119).Aíempregou--se, em exclusivo, a ordem toscana a par do subtipo da ordem jónica que acima identificámos.AsváriasintervençõesarqueológicasrealizadasemBobadela,ondetivemosaboasortedeparticiparnumadascampanhasdeintervençãonoanfiteatro,permitemhojeemdiatermaisdadossobreotipodepovoamentodabaciadoAlva.Asededecivitasterásidoestabelecidaentreaugustoeadinastiajúlio-claudiana(Alarcão,1988a,p.67).JuntoaoanfiteatrofoidescobertoumbairrohabitacionaldaépocadeAugusto(Frade&alii,1995,pp.221–231),oquecomprovaaocupaçãodessaépoca.Locali-zadajuntoàbaciadoRioAlvaepertodaSerradaEstrelaedaLousã,nãonospodemosesquecerquenestelocalselevaramacaboexploraçõesauríferas.Asviasromanasquepermitiamoacessodepro-dutosparaapovoaçãoeorespectivoescoamentoencontravam-setambémasseguradas,encontrando--sedocumentadososeixosviáriosentreBobadela/AeminiumeBobadela/Viseu,que,porsuavez,liga-riamaoeixoprincipalEmerita/Bracara(Vaz,1976,pp.353–359;Mantas,1994,p.226).
AriquezaauríferadaszonasemredordorioAlvaterãosuscitadoumestacionamentoefectivodepopulaçõesedeacampamentosmilitaresparaoseucontroleoqueseencontraprovadopelocasodaLombadoCanho(Arganil),apoucosquilómetrosdeS.PedrodeLourosa,sendoenquadrávelcronologicamenteentreosegundoeterceiroquartéisdoséculoIa.C.(Fabião,1993,p.192).
Umoutroaspectoimportantearessaltardaobservaçãodaspeçasaquevimosfazendorefe-rênciaéodamatéria-prima.Comefeito,emtodasoscapitéisdascivitatesmencionadas—Egitania,Ammaia,Bobadela—talcomoaconteceemEmerita,éempregueapedralocal,ouseja,ogranito.Orecursoàrochalocalé,maisumavez,umapráticausualnosprimeirostemposdaromanizaçãoatéàintroduçãodomármore.EmÓstia,oprimeiroexemplaremmármoreéumcapitelcoríntiodatadode25a.C.dotúmulodeP. Cartilius Poplicola(Pensabene,1973,p.53).
OiníciodautilizaçãodomármorenaHispâniaédifícildeprecisar,integrando-senumfenó-menodemarmorizaçãoqueocorrepor todoo Império, tendosidouma“moda”naturalmenteiniciada em Roma. O fenómeno que podemos designar como “marmorização da arquitectura”surgenocentrodoImpérionaépocadeAugustoe,maistardiamente,podeseridentificadonasprovínciasmaisocidentais.Estaalteraçãoposiciona-sesensivelmenteapartirdasegundametadedoséculoI,processoquealgunsautoresdesignamcomoapassagemdeuma“arquitecturamili-tar”,numprimeiromomentoedificador,balizadacronologicamenteentreoséculoIa.C.eapri-meira metade do século I d.C., para o da “arquitectura do mármore” (Álvarez Martínez, 1992,pp.90–91).Maisrecentemente,omesmoautoroptoupordistintadesignação,substituindo-apor“arquitecturaempedra”,expressãoigualmenteadoptadapelaescolaalemã(ÁlvarezMartínez&nogalesBasarrate,2004,p.304).
noextremoocidentaldaHispânia,esimultaneamentedaprovínciadaLusitânia,épossívelprecisaressatransformaçãopeladatade57d.C.inscritanaepígrafeexistentenoproscaeniumdoteatro romano de Lisboa, estrutura realizada pela primeira vez em mármore (Fernandes, 2007,
Lídia Fernandes A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270240
pp.36–38)noextremoocidentaldaHispâniaequenospermitebalizar,nestaregião,aintroduçãodestenovomaterial,muitomaisapelativodopontodevistaestéticoecumprindo,simultanea-mente,funçõespropagandísticasdopontodevistapolítico,religioso,económicoesocial.Encontra--seempublicaçãonaRevista Arqueologia e História,daAssociaçãodosArqueólogosPortugueses,umestudo dedicado exclusivamente a esta estrutura do teatro, intitulado: O proscaenium do teatro romano de Lisboa: aspectos arquitectónicos, escultóricos e epigráficos da renovação decorativa do espaço cénico.
nãopodemosdeixardereflectirumpoucomaissobreesteaspecto,umavezquepoderátrazeralgunsdadosrelevantessobreamanutençãodaordemtoscanaemépocasondeseriabastantemaiscomumeatécompreensível,oempregodedistintasordensarquitectónicas.Comefeito,noteatroromanodeLisboa,arenovaçãooperadanaorchaestraenaestruturadoproscaeniumem57d.C.nãoabrange,poraquiloqueatéaomomentoconhecemos,outrasáreasdoteatro.Significaistoqueascolunasexistentes—bases,fustesecapitéistalhadosemcalcáriolocalerevestidosaestuque—nãosãosubstituídas.“Arazãodestefactoprende-se,antesdemais,comanãonecessidadedasuasubsti-tuição,continuandoestaspeçasadesempenharasuafunção,apesardeseintegraremnummodelodecorativo eventualmente já «arcaico». A explicitação deste fenómeno só poderá ser globalmenteentendidopela intençãosubjacentedeumareafirmaçãodaantiguidadedoprópriomonumento.ArcaísmosimbóliconamanutençãodepeçasdoprimeiromomentourbanizadorrealizadonaépocadograndepacificadordoImpério,oDivo Augusto”(Fernandes,2004–2005,p.92).
domesmomodosepoderáexplicaroquevemosacontecercomoscapitéistoscanosdopostcaeniumdoteatrodeItálica.novoscapitéiscoríntiossãocolocadosnafrentecénicanosiní-ciosdoséculoIII,quandoseimplementamobrasderemodelaçãodasuafachada,masnotardozdoteatromantêm-seoscapitéistoscanosdaépocadefundaçãodoespaçocénico,queseguematécnicadoestuquesobreocorpotalhadoemarenito(RodríguezGutiérrez,2006,p.158).
Emtermosgeográficos,astrêscapitaisdecivitasacimareferidassituam-senumaregiãocir-cunscrita,posicionando-seAugustaEmerita maisasulelocalizando-seasrestantesligeiramenteanW(Mapa3).Seanalisarmososlocaisondeéregistadooaparecimentodocapiteltoscano,obser-varemosqueémaioritariamentenametadenortedoactualterritórionacional,nafaixafrontei-riça.
Aconcentraçãodocapiteltoscanonestazonaocorreparalelamenteàdotipo“jónicolisodeinfluência toscana”, não se registando qualquer peça em outra região que não aquela. Temosconhecimentodaexistênciadecapitéis jónicos lisosde influência toscananosseguintes locais:S.PedrodoSul,VilaMeã(Viseu),Braga,Bobadela,QuintadaFórnea(Belmonte),Verdelhos(Covi-lhã),Idanha-a-Velha,Ammaia,VinhadaCasquinha(SerradeS.Mamede),CastelodeVide,AlterdoChão,HerdadedoCarvalhal,S.PedrodeBalsemão(Lamego),CasteloBrancoePradoGalego2.Outrostrêsexemplaresencontram-senasreservasdoMuseunacionaldeArqueologiasemindica-çãodeproveniência(Fernandes,1997,n.os43–45;vol.I,pp.287–307,vol.II,pp.103–161).Pode-mosconcluirqueoaparecimentoeempregodocapitel toscanoedo“jónico lisode influênciatoscana” (que corresponde afinal ao preâmbulo do capitel jónico), ocorre simultaneamente dopontodevistaespacialecronológico.desublinhartambémquedesconhecemosapresençadestesubtipoemoutroslocaisquenãonoactualterritórioportuguêse,emEspanhaexclusivamenteemMérida. neste último local conhecemos inúmeros exemplares, num montante que, grosseira-mente, é superior a trinta peças. no trabalho referido de Gutiérrez Behemerid, as peças que aautoraanalisaparaMéridasãoapenastrês(GutiérrezBehemerid,1992,pp.12–124).
Comotivemosoportunidadedereferir,osmaisdeoitentacapitéistoscanosqueatéaomomentoidentificámos(Quadro1)sãoaprovadeumaenormevitalidadeconstrutivanestaregiãodaprovín-ciadaLusitânia,levadaacabonosiníciosdaromanização.Apesardedesconhecermosacronologia
A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
Lídia Fernandes
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270 241
dealgumasdaspeças—oupelaausênciadedadoscontextuaisoupelomauestadodeconservaçãodealgunsexemplares—osdadosdequedispomosapontam,nasuagrandemaioria,paraaprimeirametadee/ouiníciosdoséculoId.C.nãopodemosdeixardesublinharqueosexemplaresqueagorareferimossãofrutoderecolhaquenãopodeserconsideradasistemática.nãoobstante,ocômputogeralésintomáticodoenormenúmerodepeçasintegráveisnaordemtoscanaqueterãoexistidonoiníciodaromanização.Paraalémdestefacto,doisoutrospodemtambémserapresentados:porumladodeosexemplarestoscanossurgirememassociaçãocomotipo“jónicolisodeinfluênciatos-cana”—talcomoaconteceporexemploemBobadela,Idanha-a-Velha,Braga,QuintadaFórneaouS.PedrodeBalsemãocomojáreferimos—poroutro,deestaspeçasselocalizaremnumaregiãocir-cunscrita.OcasodeBalsaconstituiumapontamentoexcêntriconestepanorama.TambémocapiteldazonadeAvis(MontedaBragantina)3eodeMontemor-o-novoseafastamdestaáreadeconcen-tração,aindaqueesteúltimo,dadasassuasdiminutasdimensõesdevaserinterpretadomaiscomoumpequenoelementodecorativodoqueumelementoestruturaldeumedifício.
noQuadro1apresentamosasreferênciasaestaspeçastoscanasque,certamentepecandopordefeito,nospermitemdesde jáajuizarporumemprego intensivodocapitel toscanonestaregiãodaprovínciadaLusitânia.SecruzarmosestaimplantaçãodosachadoscomaredeviáriadaÉpocaRomana(Mapa2),pareceexistirumacorrelaçãoentreasviaseaquantidadedepeçasquenossurgem,aindaqueaausênciadosexemplaresnãoserelacionedirectamentecomigualausên-ciadeviasoqueobrigaabuscaroutras razõesparaoentendimentodeste fenómeno.A regiãodelimitadaentreapeçaqueselocalizamaisasuleaspeçasmaisanorte,deBraga,juntoàactualfaixafronteiriça,apresentaumamultiplicidadedeviasquecertamenteterãocontribuído,apardeoutrasrazões,paraadivulgaçãodestaordem.
Mapa 3 AprovínciaromanadaLusitânia.distribuiçãodoscapitéistoscanosidentificadosatéaomomento.
Lídia Fernandes A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270242
Quadro 1. Capitéis toscanos em território nacional
N.º ident. Local N.º peças Observações Referência
1 Braga–termas 1 Observaçãopessoal
1 Braga–Museud.diogodeSousa 13 Observaçãopessoal
1 Braga–reservasdoMuseu 3 Informaçãodr.JorgeRibeiro
1 Braga-altarcominscrição 1 Trata-sedeumpequenoaltarcominscrição4
Carvalho,2006,pp.31–41
2 Barcelos 1 Almeida&alii,1991,p.17;Fernandes,1997,vol.1,p.279
3 MarcodeCanavezes 1 CidaderomanadeTongóbriga dias,1997,pp.129–1305;Fernandes,1997,vol.1,p.278
4 Custóiasdodouro(FozCôa) 1 Coixão&Trabulo,1995,p.239,fot.255
5 Prazo(Freixodenumão) 1 Coixão,1997,fot.47;Fernandes,1997,vol.1,p.278
5 Freixodenumão 4 PeçasdepositadasnoMuseudaCasaGrande Observaçãopessoal
6 S.PedrodeBalsemão(Lamego) 2 PeçasreaproveitadasnointeriordaIgreja Fernandes,2005,pp.293–310
7 Almofala(Belmonte) 1 VisitacomHelenaFrade,directoradaintervençãoarqueológicadolocal.Frade,1990,pp.91–101,1997,pp.1017–1027
8 VilaMeã(Viseu) 1 Silva&Correia,1997,p.121,Fig.VI;Fernandes,1997,vol.1,p.280
9 Ruivós(Sabugal) 1 EmexposiçãonoMuseuMunicipaldoSabugal
Osório,2006,p.71,2008,p.86
10 PousafolesdoBispo(Sabugal) 1 InformaçãodadaporMarcosOsório
11 TorredeCentum Celas(ColmealdaTorre,Belmonte) 1 Frade,1993–1994,pp.87–106;
Fernandes,1997,vol.1,p.278
12 QuintadaFórnea(Belmonte) 1 InformaçãocedidapelaEmpresaArqueohoje:PedroSobraleFilipeGomes
13 Bendada(IgrejadasQuintasdeSt.ºAntónio;Sabugal)
1 Osório,2006,p.73
14 Bandurro(Sortelha,Sabugal) 1 Osório,2006,p.63
15 Moita(Sabugal) 1 InformaçãodadaporMarcosOsório
16 Bobadela 8 VisitacomHelenaFrade,directoradaintervençãoarqueológicadolocal;Fernandes,1997,vol.1,p.277
17 Lourosa – Igreja de S. Pedro de Lourosa
18 AldeiadeJoanes(Fundão) 1 “HistóriadaAldeiadeJoanes(Fundão)…”,2004,pp.73–74
19 Conímbriga 1 Apresentanumdosladosdoábacoainscrição:Anderci.do(mus)
Alarcão,1994,p.157,n.º509;Fernandes,1997,vol.1,pp.279–280
20 Idanha-a-Velha 9 ApenassecontabilizamoscapitéistoscanosqueseencontramnointeriordaIgreja
VisitaaolocalrealizadacomJoséLuísCristóvão,arqueólogodaCâmaraMunicipaldeIdanha-a-nova
21 ValedeGrou(Envendos,Mação)3
Umapeçaestácompleta;outraéumfragmento;aterceiraestáclassificadacomobase
Pereira,1970;Fernandes,1997,vol.1,p.276
22 HerdadedoCarvalhal(Constância) 3 Fernandes,1997,vol.2,p.36
23 Cousabela(Abrantes) 1 Fernandes,1997,vol.2,p.36
24 S.SalvadordeAramenha-Ammaia(Marvão)
12 Fernandes,1997,vol.2,pp.25–35
25 AlterdoChão 1 Fernandes,1997,vol.2,p.39
26 MontedaCapela(Mosteiros-Arronches)
1 Pinto,1999–2000,pp.95–104
27 MontedaBragantina(Avis) 1 InformaçãocedidaporAndréCarneiroeEuricoSepúlveda
28 Montemor-o-novo 1 Serámaisumapeçadecorativaqueestrutural,dadaasuadiminutadimensão
Fernandes,1997,vol.2,pp.40–42
29 LuzdeTavira–Balsa 1 Silva,2007,p.33
TOTAL 80
A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
Lídia Fernandes
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270 243
4. Análise descritiva e comparativa
Apesardenosdebruçarmosespecificamentesobreoscapitéisebasesqueseencontramrea-proveitadosnointeriordaIgreja—respectivamentedezcapitéis,duasbaseseoutrosdoiscapitéis,decaracterísticasdistintas,queseencontramactualmentenacabeceiradaIgreja—apresentamosumoutrocapitelemaisduasbasesdeadossamentoqueseencontramnoexterior,juntoaocam-panário(Quadron.º2).
Importaainda referir que as peças do interior do edifício estão integradas na construção,funcionandoalgumascomocapitéiseoutrascomobases,mantendo,emalgunscasos,asuafun-çãooriginal.Outraspeças,noentanto,foramcortadas,talhadaseadaptadasparacumpriremumanovafunçãonestetemploreligioso.
Quadro 2. Elementos arquitectónicos analisados
CapitéisBases
Localização actual
Capitéis de coluna Capitéis de adossamento Integrados arquitectonicamente Elementos independentes
n.º1 n.º9 n.º11 n.º1 n.º13
n.º2 n.º10 n.º12 n.º2 n.º14
n.º3 n.º15 n.º14 n.º3 n.º15
n.º4 n.º16 n.º4 n.º16
n.º5 n.º17 n.º5 n.º17
n.º6 n.º6
n.º7 n.º7
n.º8 n.º8
n.º13 n.º9
n.º10
n.º11
n.º12
9 3 5 12 5
Algunsdosespécimesqueagoraapresentamosencontram-sebastantealteradosmorfologi-camente.Talfactoprende-sedirectamentecomasuareutilizaçãonoedifícioactual(Quadron.º2)queobrigouàalteraçãodasuamorfologiaoriginal,paraqueseadaptassemaumanovafunção.Sãopois,modificaçõesqueseficaramadeveràsuareutilizaçãoerespectivaadaptaçãoaonovotemplo,comoacontececomosexemplaresn.os5,6,7e8.
Mantendoasuafunçãooriginal,temososexemplaresn.os1,2,3e4,queselocalizamnaarca-riadanavecentral.Osexemplaresn.os13e14nãoseencontramintegradosnoedifício,estandocolocadosnonártex.Porúltimo,aspeçasn.os9,10e15,fazempartedeumblocopétreodemaio-resdimensões,nãotendofuncionadocomoelementosisentos.Assim,sãopeçasquenãoforamtalhadas em todo o seu perímetro, sendo apenas visíveis em três faces. duas delas (exemplaresn.os9e10)encontram-senoarcodoaltar-moreaoutra(n.º15)noexterior,juntoaocampanário,semqueestejautilizadaemqualqueredificação.
Analisaremosaspeçasn.os1,2,3,4e13emconjunto,umavezqueoperfilqueostentaméclaramentesemelhante,aindaqueoúltimoexemplar,dadoomauestadodeconservação,possafazerpensarnumapeçamorfologicamentedistinta.
Oexemplarn.º14apresentaumperfildistintoeotipodematerialemqueseencontratalhadoétambémdiferente—apesardeamatéria-primacontinuaraserogranito,agranulometriaémaioreacoloraçãoémaisamarelada—,oquepoderáeventualmenteindicarumaproveniênciadistinta.Comefeito,onártexdestaigrejatemsidoaproveitadocomomuseu,acumulando-se,aolongodos
Lídia Fernandes A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270244
tempos,múltiploselementosarquitectónicos.nãoserádeestranhar,assim,queesteexemplartenhasidorecolhidoemoutrolocaleaquidepositado.
4.1. Capitéis toscanos de coluna – Grupo A Peçasn.os1,2,3,4e13(Quadron.º3)(Figs.1–7;EstampaI):Temos,emtodoseles,umábacoalto,sensivelmentequadrado,que,nestaspeças,variaentre
os80eos95mmdealtura.Asdimensõesdesteselementos,noscapitéisn.os1a4,apresentamumavariaçãorelativaentreside90mm,sendoamaioradoexemplarn.º1com570x570mm.Apeçan.º13destaca-se,poisénitidamenteinferior(430x430mm),aindaqueoacentuadodesgastedasuasuperfícienosleveaconsiderarcomalgumacautelaestasdimensões.
Atravésdeumbrevesulcoestabelece-sealigaçãoaoequino,oqualadoptaumperfilseme-lhanteaumtoro,masdecurvaturapoucoacentuada.Esteelementotemumaalturaquevaria,nestasquatropeças,entreos65eos80mm.Aligaçãoaoelementoseguinte,ohipotraquélio,érealizadaatravésdeumpequenosulcoquesesituajánacurvainferiordotoro,aspectoquefoidefinidopornóscomoonascimentodestenovoelementoconstituinte.Estapequeníssimareen-
Fig. 1 Capiteln.º1,comorespectivofusteebase.
Fig. 2 Pormenordocapitelanterior:peçan.º1.
Fig. 3 Capiteln.º2.
A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
Lídia Fernandes
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270 245
trâncianãoseencontravisívelemtodooperí-metrodosexemplares,aindaquesevislumbreem algumas áreas. na maior parte das peçaseste elemento não se encontra representadonosdesenhospoisnãopossuiumavolumetriacontabilizável.Ocapiteln.º4conserva,maisnitidamente,estepormenordecorativo.
Acurvaturadohipotraquélioassemelha--seaumperfilem“escapodirecto”(Bonneville,1980, p.96, n.º26), morfologia bastante nor-mal nas peças que conhecemos, ainda que sepossam detectar algumas diferenças entre sipelamaioroumenoracentuaçãodacurvatura.O perfil mais suave é o do exemplar n.º4,seguidopelodaspeçasn.os3e13.Aalturadohipotraquélionoscincoexemplaresvariaentreos50mm(n.os1e2),60/65mm(respectivamenten.os3e4)eos75mm(n.º13).
Aligaçãoentreohipotraquélioeaparteconstituinteinferiorcompostapelosumoscapoéfeitaporumapequenaretracçãododiâmetrodoexemplar, ficandodemarcado,emtodooseu
Fig. 4 Capiteln.º3,comorespectivofusteebase.
Fig. 5 Pormenordocapitelanterior:peçan.º3.
Fig. 6 Capiteln.º4.
Fig. 7 Capiteln.º13.
Lídia Fernandes A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270246
perímetro,umsulcocontínuoqueestabeleceumaalteraçãodeplano.Jáqueestapartedoexem-plarsedestinavaaligaraofuste,constituindo-se,elepróprio,comooseusumoscapo,nãoédeestranharqueasdimensõesquedenotemmaisalteraçõessejamprecisamenteestas.Temos,destemodo,umavariaçãorelativade85mm,comumaalturamáximaparaosumoscapodoexemplarn.º4(135mm)eumaalturamínimaparaon.º2(30mm).
O exemplar n.º4 é, claramente, o espécime que podemos adoptar como “cânone”, sendo omelhorconservadoemantendoosumoscaponasuatotalidade.Todasasrestantespeças,mesmoasaindanãoanalisadas,estão,emmenoroumaiorgrau, incompletas.Apeçan.º4apresentaoquedesignamos,naausênciademelhorterminologia,por“duplosumoscapo”.naverdade,subjacenteaohipotraquélioeatravésdeumaligeiraretracçãodoperímetrodapeça(5mm),situa-seosumos-capocomumaalturade60mmquecontinua,prolongando-sepormais135mm,atravésdeumaquaseimperceptívelreduçãodoperímetro.destemodo,osumoscaponasuatotalidade,terácercade200mmdealtura.Anossover,trata-sedemaisumtroçodofusteoqual,nestapeça,foitalhadonaprópriapeçaexigindo,assim,umfustedealturamaisreduzida.nãoseráfácilencontrarparalelosparaestacuriosamorfologia,noentanto,oscasosmaispróximosencontramo-los,maisumavez,nacidaderomanadeAmmaia,ondeumcapiteltoscanoetrêsexemplaresdosubtipo“jónicoslisosdeinfluênciatoscana”apresentamumaalturadosumoscapoquevaria250e170mm(Fernandes,2001,pp.95–158,peçasn.os1,17,22e26,comasrespectivasdimensõesde:250,250,170e190mm).
Tomandocomomodeloocapiteln.º4,podemosintegrá-lonoTipoBCdeBroiseoqualsedefineporapresentarumequinoemformadetoroqueseapoiasobrecaveto(Broise,1969,pp.15––22).Curiosoofactodeoautorreferirqueestetipodeperfilpode,deigualmodo,corresponderaumabase(Broise,1969,p.20),aindaquenadaexpliciteemrelaçãoacronologiasparaesteouparaoutrostiposdeperfildecapitéistoscanos.AoanalisarumconjuntodepeçasdaGália(supra),oautorapenasasdefinecomo“ordretoscanprovincial”baseando-se,paraadefiniçãode“tipos”,noantigotrabalhodeA.Lézine,ondeesteinvestigadoranalisaumenormeconjuntodecapitéisdemúltiplasproveniênciasdaregiãonorte-africana(Lézine,1955,pp.12–29,Estampas).
noquerespeitaàtipologiadeLézine,osperfisqueagoraanalisamosinscrevem-senacategoriados“equinosemformadetoro”(Lézine,1955,p.13).Talcomooautorindica,estetipodepeçasnãoaparece frequentemente publicado em contextos da Roma republicana, ainda que o seu empregotenha sido, durante certo período de tempo, bastante generalizado pois aparecem exemplares emlocaistãolongínquosquantooEgiptoeaSíria(Lézine,1955,p.15).naregiãonorte-africanasurgem--nosexemplaresemThuburbo MaiuseemBulla Regia(actualTunísia)quesepodemaproximar.Operfilemarcodecírculo,queconstituio4.ºgrupo,éomaiscomumemsítiosarqueológicostunisinos6,aindaqueaparticularidadequeostentam,noquerespeitaàreduçãodaparteinferiordagarganta,osafastenitidamentedosexemplaresdeS.PedrodeLourosa,bemcomodosrestantescapitéisdequetemosconhecimentoparaoterritórionacionaleespanhol.Otermo“garganta”refere-seaohipotra-quélio.Comefeito,nestetipodecapitelnãoexisteumaverdadeiraligaçãoemmolduraaohipotraqué-lio,jáqueauniãoentreoequinoeessaparteinferiorérealizadaporsimplesjustaposição.
AcronologiaqueLézineindicaparaosequinoscommorfologiadetoroéassazrecuada,apon-tandoparaasprimeirascolonizaçõesdestesterritóriosanterioresàépocadeAugusto,concretamenteapartirdadestruiçãodeCartago,aindaqueamaiorpartedaspeçassepossaatribuiraoséculoId.C.Asorigensparaestesexemplaresháqueasperscrutarnumcunhoitálicolegítimo,atravésdosgruposdeveteranosquecolonizaramestaregiãodoImpério(Lézine,1955,pp.28–29),maisdoqueaumainfluênciadaordemdóricae,dessemodo,relacionadascomcorrentesgreco-helenísticas.
Secompararmosestaspeçascomosexemplaresconhecidosemterritórioespanholéigual-menteestaamorfologiaquetemmaiorrepresentatividade.Comefeito,integradosnoTipo3de
A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
Lídia Fernandes
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270 247
Estampa I PerfisdoscapitéisqueseincluemnoGrupoA:capitéistoscanosdecolunas.
Lídia Fernandes A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270248
GutiérrezBehemerid(GrupoBdeBroise)podem-seincluirtrintaequatroexemplaresdossessentaeumidentificadosem1992paraopaísvizinho,queostentamestamorfologiadoequino(Guti-érrezBehemerid,1992,pp.22–26).Acronologiaqueaautoraapontaparaestaspeçasé,generica-mente,oséculoI.Apesardesesublinharadificuldadedeindicaçõescronológicasprecisasparaexemplaresdecontextoarqueológicopoucoseguroedemorfologiatãosimples,seráessasimpli-cidadequelevaaautoraarecuaraépocadasuaprodução.Comefeito,acomplexidadedoperfiltoscanoseráumaevoluçãoclaramenteposterior,talcomofizémosreferênciaemrelaçãoapeçaspor nós analisadas provenientes de Ammaia (Fernandes, 2001, pp.95–158) ou de outros locais(Fernandes,1997,vol.2,pp.112–129).
Umadascaracterísticasdaspeçasdoséculo I éo factodeapresentaremdimensões iguaisrelativamenteàssuaspartesconstituintes,istoé,entreoábaco,equinoehipotraquélio,aspectoparaoqualLézinehaviacolocadoatónica(Lézine,1955,p.14).Comefeito,apesardeobservarmosalgumasdiferençasnoscapitéisdeLourosa,seretivermosocapitelqueadoptamoscomoomaisfiel (capitel n.º4), observamos que as medidas do ábaco e do equino são precisamente iguais,aindaqueohipotraquéliosejamaispequeno.nasrestantespeçasaindaquenãoseconstateesteequilíbriomorfométrico,asdiferençasnãosãoacentuadamentedistintas(Quadron.º2).
Poroutro lado,o limitedoequino,noquerespeitaaoseuperímetro,éequivalenteaodoábaco,situando-seosdoiselementos,emtermosdeperfil,nomesmoalinhamento.Estacaracte-rística,queconfereaosespécimesumaspectomaiscompactoeausterojáquenãoexisteescalona-mentoealteraçãoacentuadadevolumesé,segundoaspalavrasdeJ.Gimeno,maishabitualnos“...capitelesdóricosarcaicos,siendomuyescassasupresenciaenlosejemplaresitálicosrepublica-nosoposteriores”(Gimeno,1989,p.106).Outroaspectoparaoqualoautorchamaaatençãoéaproximidadedasdimensõesoferecidaspeloábacoeequinoseafastaremdasdetidaspelohipotra-quélio,acentuadamentemaiores,factoqueseconstata,porexemplo,empeçasde Ammaia(Fernan-des,2001,p.110).noscapitéisdeS.PedrodeLourosa,noentanto,verifica-seoinverso.Aquiasdimensõesoferecidaspelohipotraquéliosãomenoresdoqueasdoequinoeábacooqueosapro-ximamaisdospreceitosvitruvianososquais,comotivemosoportunidadedereferir,preconizamqueestestrêselementos,oupartesconstituintesdocapiteltoscano,tenhamamesmadimensão(Granger,trad.1995,BookV,C.VII,241).
Umdosaspectosmaismarcantesequedefineumacronologiamaisrecuadaparaestaspeças,paraalémdosparalelosquetemosvindoaindicar,éofactodenãoseencontrarempresenteslistéisemoldurasaestabeleceraligaçãoentreasváriaspartesdocapitel(Broise,1969,p.22;GutiérrezBehemerid,1992,p.26).naverdade,aprogressivacomplexidadeemultiplicidadedelistéisemol-durasentreoábacoeoequinoeentreesteeohipotraquélio,sãocaracterísticasqueseverificamemexemplaresdatáveisdasegundaeterceiracentúria,comoseobserva,porexemplo,nomonu-mentonaomorfodeFabara(AbadCasal,1991,Ficheron.º9).Poroutrolado,aquaseausênciadedemarcaçãoentreábacoeequino,osquaisseposicionamcomoacimareferimos,nomesmoali-nhamento,fazcomqueareentrânciaqueosseparasejamínima,pormenorquenosindicacrono-logiasrecuadas,comoacimareferido.
Osmelhoresparalelosquepodemosapontarparaestesexemplaressãoosqueprovêmdoterritórionacional.OscapitéisdeAmmaia,aosquaisjápordiversasvezesfizemosreferência,sãomorfologicamentemuitosemelhantes,mastambémpeçasdeIdanha-a-Velha,Almofala,Abrantes,Constância,AlterdoChão,Belmonte,Freixodenumão,IgrejadeS.PedrodeBalsemão(Lamego),Braga,Sabugal,S.PedrodoSul,Conímbriga,Mação,entreoutras,seaproximam,oferecendoequi-nosemformadetoro.
A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
Lídia Fernandes
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270 249
Quadro 3. Capitéis de coluna: dimensões (mm)*
N.º Total Ábaco Dim. ábaco Equino Hipotraquélio Sumoscapo ∅ Assentamento fuste
1 285 90 570x570 80 50 65 440
2 290 95 490x480 80 50 30 390
3 380 80 500x500 65 65 60 360
4 420 80 480x510 80 60 60+135 350
13 340 90 430x430(?) 70 75 10 285
* Asdimensõesreferem-seàalturadasváriaspartesconstituintes,comexcepçãodoábacoondeseapresentatambémalargura/comprimentoeodiâmetrodoassentamentodofuste.
4.2. Peças modificadas (capitéis toscanos de coluna?) – Grupo B
Peçasn.os5,6,7e8(Quadron.º4)(Figs.8–11;EstampaII):Incluímosnestegrupoosexemplarescujoperfilfoialteradoemépocaposterior.Encontram-
-senestecasoaspeçasn.os5,6,7e8(Quadron.º4).Ofactodeestesexemplaresteremsidoreapro-veitadoscomobasesoferecendo,portalfacto,umperfildistinto,impede-nosumaadscriçãoaogrupoanteriormentedescrito.
Fig. 8 Peçan.º5. Fig. 9 Peçan.º6.
Fig. 10 Peçan.º7. Fig. 11 Peçan.º8.
Lídia Fernandes A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270250
O ábaco, caso o tenham tido, encontra-se por vezes embebido no próprio pavimento nãosendopossívelasuavisualização.Ofactodeoperfil tersidodesbastadonãopermite,de igualmodo,saberqualaparteconstituintecorrespondenteerespectivasdimensões.naspeçasn.os5e6nãosedistingueaseparaçãoentreohipotraquélioeoequinoecertamenteque,nesteúltimoele-mento,estaráincluídapartedoábaco,dadaaacentuadaalturadessapartedapeça.
noexemplarn.º7épossívelobservarpartedoábaco,comumaalturadecercade50mm,dimensãomuitoinferioràdasrestantespeçasmaisbemconservadas.nestecapitel,assimcomonon.º8,ohipotraquélioeosumoscapoencontram-sebemconservados.
destegrupo,aspeçasn.º7en.º8sãoasqueoferecemmenosdúvidasquantoàsuaidentifi-caçãocomocapitéistoscanose,dessemodo,passíveisdeseremintegradosnogrupoanteriormenteanalisado.
As peças foram colocadas em posição invertida, encontrando-se a parte inferior do ábacoescondidaporbaixodopavimentoactual.Apeça6encontra-seisenta,assentesobreumapedradopavimento.nãopossuiábaconemplinto,oquesuscitagrandescautelasquantoàsuaclassificaçãocomoromana.Comefeito,éoúnicoexemplarquenãopossuiesseelementoquadradoque,nasrestantespeças,ébastanteevidenteedefinido.
Estampa II PeçasqueseincluemnoGrupoB:peçasmodificadasposteriormente.
A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
Lídia Fernandes
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270 251
Quadro 4. Capitéis de coluna: dimensões (mm)*
N.º Alt. conservada Ábaco Dim. ábaco Equino Hipotraquélio Sumoscapo ∅ Assentamento fuste
5 250 ? ? 120(?) ? ? 450
6 240 ? ? ? ? ? 440
7 300 ? ? 115(?) 55 80 380
8 230 ? ? 100(?) 60 70 400
* Asdimensõesreferem-seàalturadasváriaspartesconstituintes,comexcepçãodoábaco,ondeseapresentatambémapenasodiâmetro da base da peça, isto é, o assentamento do fuste. Por uma questão de uniformidade empregamos a mesmaterminologiamesmopondoemdúvidaquealgumaspeçassejamromanas.
4.3. Capitéis toscanos de adossamento – Grupo C
Peçasn.os9,10e15(Quadron.º5)(Figs.12–14;EstampaIII):Enquadramosnestegrupoosexemplaresn.os9,10e15(Quadron.º5).Osdoisprimeiros
localizam-se no arco do altar-mor, no interior da Igreja, com a função de capitéis e o últimoencontra-senoexterior,nãoestandointegradoarquitectonicamente.
Aindividualizaçãodestastrêspeçasdeve--se ao facto de serem talhadas num dos ladosmenoresdeumblocorectangular.destemodo,os capitéis não são isentos, sendo o perfil daspeças 9 e 10 muito semelhante. Estes capitéissãodemenoresdimensõesqueaspeçasanalisa-dasnoGrupoA.Oequinoéemformadetoro,posicionando-seporbaixodoábacoenomesmoalinhamento. O hipotraquélio localiza-se porbaixodoequinomassemestabelecerumaliga-çãoorgânica,ouseja,acurvaturaemgargantaque se observa nos restantes exemplares não
Fig. 12 Peçan.º9.
Fig. 14 Peçan.º15.Fig. 13 Peçan.º10.
Lídia Fernandes A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270252
Estampa III PeçasqueseincluemnoGrupoC:capitéistoscanosdeadossamento.
estáaquipresentee estasduaspartesdocapitel simplesmente se justapõemde formasimples.Aalturaevidenciadapelohipotraquélioepelosumoscapoébastantereduzida.
Estetipodeperfilafasta-seclaramentedooferecidopelaspeçasobservadasanteriormente.Osistemadetalhequesevêjuntoaoblocorectoondeterminaoperfildocapitelofereceumlimitepoucolinear,porvezesumpoucobiselado,pormenorquesublinhaasreticênciasnaclassificaçãodestaspeçascomoromanas.
Oexemplar15,comoseuhipotraquélioesumoscapoaltoafasta-sedosdoisexemplaresante-rioreseaproxima-sedaspeçasdoGrupoA.noentanto,ofactodeseencontrartalhadotambémnumblocorectangularfá-lointegrarestegrupodepeçasnãoisentas.
Quadro 5. Capitéis de coluna de adossamento: dimensões (mm)*
N.º Total Ábaco Equino Hipotraquélio Sumoscapo ∅ Assentamento fuste
9 260 90 80 45 45(cons.) 520
10 260 82 75 60 55 600
15 355 90 75 175(?) 110 350
* Asdimensõesreferem-seàalturadasváriaspartesconstituintes,comexcepçãodoábacoondeseapresentatambémalargura/comprimentoeodiâmetrodoassentamentodofuste.
A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
Lídia Fernandes
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270 253
4.4. Bases – Grupo D
Peçasn.os11,12,16e17(Quadron.º6)(Figs.15–18;EstampaIV):Classificamoscomobasesosexemplaresn.os11,12,16e17(Quadron.º6).Osdoisprimeiros
foramreempreguescomobasese localizam-sedeumedooutro ladodoarcodoaltar-mor,nointeriordaIgreja.Osoutrosdoisencontram-senoexterior,portrásdacabeceira,nãoestandointe-gradosarquitectonicamente.
da mesma forma que Vitrúvio trata os capitéis da ordem toscana, também apresenta asdimensõesqueasrespectivasbasesdeveriampossuir,assim:“Asbasesserãodeumaalturacorres-pondenteametadedodiâmetrodacoluna.Terãoumplintocircularcomaespessurademetadedaalturadaespira,sendootoroqueestáporcima,incluindoaapófige,tãoespessoquantooplinto”(LivroIV,CapítuloVII,3.;trad.Maciel,2006,p.156).
AsbasesdeS.PedrodeLourosanãopossuemplintoeapresentamdoistoros,dealturasnãomuitodistintas—exceptuandooexemplarn.º12ondeaparteinferiorésubstancialmentemaisalta—separadosentresiporumescapo.doislistéis,localizados,umnolimiteinferioreoutronapartesuperiordoescapo,estabelecemaligaçãoentreesteeosdoistoros.Emdoisdosexemplares,semantémoquepareceseroarranquedofuste,istoé,oimoscapo,aindaqueograndedesgastequeassuperfíciesevidenciamdificulteumaobservaçãocorrectadestapartedosexemplares.
Fig. 15 Peçan.º11.
Fig. 18 Peçan.º17.Fig. 17 Peçan.º16.
Fig. 16 Peçan.º12.
Lídia Fernandes A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270254
EstasbasesnãocorrespondemàsbasestoscanasdequefalavaVitrúviomassimàsbasesáti-cas,comosdoistorosseparadosporlistéis.Ofactodebasesáticasseremempreguesemconjuntocomoscapitéistoscanosnãoéinvulgar,omesmoocorrendonascolunasdeBobadela.natipolo-giadefinidaporBroise,porexemplo,váriascolunastoscanas integrambasesáticas,simplesoucompostas(Broise,1969,p.17,tiposBGBeBGGB).
Estampa IV PeçasqueseincluemnoGrupod:bases.
A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
Lídia Fernandes
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270 255
Quadro 6.Bases de coluna de adossamento: dimensões (mm)*
N.º Total Toro inf. Toro sup. Dif. entre toros Escapo Prof. escapo Imoscapo (?)
11 260 95 80 5 60 35 30
12 260 100 60 – 30 35 40
16 240 85 60 10 25 35 65
17 260 95 90 – 65 40 –
* Asdimensõesreferem-seàalturadasváriaspartesconstituintes.noescapoéapresentadaarespectivaprofundidade.
Aindaqueatípicabaseáticapossuaplinto,asuainclusão,assimcomoatotalexplanaçãodosseuscomponentesconstituiumaevoluçãomorfológicaaqualsomente
...apartirdeépocaaugusteapero,sobretodo,alolargodelajulioclaudiacuandolabasaática adquiere su plena configuración, con unos rasgos tipológicos y formales que, conpocasvariaciones,seconservarándurantetodoelimperio...(GutiérrezBehemerid &alii,2006,p.295.
noentanto,sesãomuitososcasosemquetalcaracterísticaseverifica,aquestãonãopodeserentendidacomoumasimplesevoluçãomorfológicaeháinúmerosexemplosonde,bemadiantadooséculoId.C.oumesmoemépocasmaistardias,asbasesáticasnãoapresentamplinto7.
Aalturadasquatropeçasaquianalisadasémuitopróxima.Assimsendo,parece-nosqueesteselementosterãopertencidoaummesmoedifíciooqueétambémcorroboradopelofactodesetratardebasesdeadossamento,nãosetratandopois,depeçasisentas.
Vitrúviodefineabaseáticadoseguintemodo:
Sesetratardeumabaseática,dividir-se-áasuaaltura,demodoqueapartesuperiorcorres-pondaaumterçododiâmetrodacoluna,sendoaparterestantedeixadaparaoplinto.Exclu-ídooplinto,divida-seorestoemquatropartes,dê-seumadelasaotorosuperioredividam-seastrêsrestantesemduaspartesiguais,umaparaotoroinferioreaoutraparaaescócia(...)comosrespectivoslistéis”(LivroIII,CapítuloV,2.;trad.Maciel,2006,p.120).
Aspeçasemanálisenãopodem,verdadeiramente,serconsideradasbasesáticascanónicas,nãoapenaspelaausênciadeplintomas,deigualmodo,poroutrasparticularidades,aprimeiradasquaisserefereaofactodeosdoistorosapresentaremdimensõesiguais.Seobservarmosasdimen-sõesqueostorosapresentam(Quadron.º6),constatamosque,emalgunscasosessadiferençaéreduzida.napeça12émaisevidenteotoroinferiorsermaiorqueosuperior.Oposicionamentodosdoistorossitua-sepraticamentenomesmoalinhamentovertical(Quadron.º7),sendoodiâ-metroentreelesépoucodiferenteentresi(adiferençamáximaé2cm).Porúltimo,oespaçocon-cedido à escócia, ou escapo, é bastante reduzido. Inicialmente, este elemento “... sólo fue unpequeñoespaciointermedioquenoteníaotrafunciónqueladesepararlosdostoros;conelpasodeltiempo,esteespaciointermedioadquiereunaciertaautonomíaysetransformaenunamol-duracóncava”(ChinerMartorell,1990,p.89).Estapartedabaseáticapodeserconsideradacomouma das mais importantes na linha evolutiva que este tipo de base sofreu, abandonando umaexpressãodesimplesranhuraparaumperfilparabólico,paralelamenteàcolocaçãodelistéisoufiletesqueadelimitamsuperioreinferiormente(GutiérrezBehemerid&alii,2006,p.295;Már-quez,1998,pp.115–118).
Lídia Fernandes A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270256
Operfilparabólicodoescapodasbasesáticaséadoptadoprecisamenteparaestabelecerajunçãoentredoistorosdediâmetrosdistintos,obtendo-seassimumperfilescalonadoqueremata,superiormentenumdiâmetromaisreduzidoqueestabelecealigaçãoaofuste.naspeçasdeLou-rosa, estacaracterísticanãoseverifica,apresentandooescapo,porvezesumadimensãomuitopequena,quaseumfiletealargado.
Estacaracterística,aliadaaofactodeoqueconsideramosnestaspeçascomoimoscapo,nãopossuirumdiâmetroinferioraoqueapresentamostorossublinhaaincongruênciadoperfildabase,mas,sobretudodoconjuntobase/fuste.Estesfactoresobrigamacolocargrandesreticênciasquantoaumaacertivainterpretaçãodestaspeçascomoromanas.
TambémemIdanha-a-VelhaoscapitéisdaMesquita-Catedralqueclassificamoscomotosca-nosseassociamcombasesáticascomplinto.Operfildestasbasesé,noentanto,bastantemaisevolucionadoqueoverificadonasbasesdeLourosa:asmoldurassãomaisvolumosas;asváriaspartesconstituintesmaisbemdefinidaseoescapoassumeumpapeldemaiordestaque.
Também em Bobadela se verifica a mesma associação. Mais uma vez aqui o perfil é maisdesenvolvidoe,apesardeosexemplaresnãoteremplinto,oimoscapotalhadonomesmoblocoéacentuadamentedemenordiâmetro,estabelecendoumaligaçãonaturalaofuste.
Quadro 7. Bases de coluna de adossamento (mm)
N.º ∅ Base (Sup. Inf.*) (A) ∅ Assentamento imoscapo (B) Diferença (A-B)
11 580 580 0
12 570 560 10
16 560 540 20
17 540 530 10
* Sup.Inf.–Superfícieinferior.
Resta-nosumúnicoespécime,on.º14(Figs.19e20)(EstampaIV),queseafastaquerdatipologiadecapitéisapresentados,querdasbasesqueacabamosdeobservar(Quadron.º8).Trata--sedeumexemplardeextremasimplicidadecompostoporumplintoacentuadamentealto,sobre-postoporumtorodeperfilpoucocurvo,queseposicionanomesmoalinhamentoverticaldaqueleeaoqualseligaoimoscapo,talhadonomesmobloco.UmexemplardeSaguntooferece-nosumparaleloquasedecalcado.Trata-sedeumabasecomosmesmoselementosconstituintesedeidên-ticamorfologia,“...pertenecienteaunodelosórdenesdelTeatroyque,probablemente,iríarecu-bierta de estuco” (Chiner Martorell, 1990, p.97, n.ºB. 26). A cronologia do teatro de Saguntoparecesituar-seentreosreinadosdeCláudioenero(Hernández&alii,1993,pp.25–42).Tambémcomoaquele,apeçan.º14possuiumpequenoorifíciocentradonabasedeassentamentodofuste,ouparacolocaçãodecavilhademetal,comodefendeaautoraou,emnossaopinião,paramarcarocentrodoplanodedesenhoerespectivopontodereferênciadotalhedapeça,talcomoencontra-mosembasesáticasdeFrielas(Fernandes,2002,pp.20–32).Inclinamo-nosparaainterpretaçãodestapeçacomobase.
AsbasestoscanasdeBobadelaoferecem,maisumavez,osmelhoresparalelos.Comefeito,paraalémdooutrotipodebasequeanteriormentereferimos,existemoutrasqueapresentamumtorodepoucaalturaseguidodeumamolduraemcôncavoreversoquese ligadirectamenteaoimoscapoqueéintegradonomesmobloco.Estapartemolduradapodeserconsideradacomoumaverdadeiraapophyse,segundoaterminologiaaplicadaporGinouvès(1992,p.71eest.36,3),aqual,segundooautor,constitui,dopontodevistaformal,oiníciodofuste.Estadesignaçãoé,deigual
A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
Lídia Fernandes
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270 257
modo,aplicadaporVitrúvio(LivroIV,Capí-tuloVII,3).Curiosamente,estasbasessãoemforma de 8, articulando-se com fustes deidênticamorfologia,designadasporH.Fradecomo “colunas duplas, de secção em formade8”(Frade&alii,1995,p.228),ou,segundoGinouvès (1992, pl. 34, 4) como “colonnebilobée”.nomundoromanoexistemváriosexemplosde fustessimilares, indicamos,noactual território nacional, alguns paralelosemMiróbriga.SegundoHelenaFrade,estaspeças—fusteserespectivasbases—pertence-riamaum“…edifíciodotipofórum-bloco,deplantaquasequadrada,orientadonosentidon/Secom53mdecomprimentopor47mdelargura.Aentradanorecintofar-se-iapeloarcoaindaexistente,situadoameiodoladomaior,eporumoutroarco,fronteiroaesteehojedesaparecido.Teriaumpórticoatodaavolta, com colunas duplas, de secção emformade8quesuportavamoentablamento”(Frade&alii,p.228).noentanto,maisrecen-temente, Jorge de Alarcão apresenta umaoutra localização para estas peças: “Acham--se, em Bobadela, algumas grandes pedrastrabalhadascomformade8.Taispedrasnãopodemsersenãotamboresque,assentesunssobreosoutroserematadosporumagrandeimposta, serviriam de suporte a arcos (…).não nos parece que tal solução tivesse sidoadoptadanospórticosdofórum.Omaisprováveléquetaispórticostenhamadoptadoomodelo,normalnoséculoId.C.,decolunasisentasearquitrave(Alarcão,2002–2003,p.162).
Perante estas duas interpretações não nos abalizamos em definir qual será a correcta, noentanto,apesardeomodelodefinidoporJ.Alarcãoparaosforasejaomaisvulgar,nãonospode-mosesquecerqueoarcoqueaindahojesemantémemBobadela,defrontedaIgreja,seencontrain situeque,casosetratassedosarcosdeumaqueduto,nospareceriaestranhoquecruzassem,emlocaltãopróximo,oforumdeBobadela,identificadoaolongodasúltimasintervençõesarqueoló-gicas(Frade&Portas,1994,pp.349–368,fots.;Frade&alii,1995,pp.221–231,figs.).
Quadro 8. Base de coluna isenta: dimensões (mm)*
N.º Total Ábaco Dim. Ábaco Equino Hipotraquélio Sumoscapo
14 225 98 510x510 80 5(?) ?
* Asdimensõesreferem-seàalturadasváriaspartesconstituintes,comexcepçãodoábacoondeseapresentatambémalargura/comprimento.
Fig. 19 Peçan.º14.Perspectivalateraldepossívelbase.
Fig. 20 Peçan.º14.Perspectivasuperior.
Lídia Fernandes A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270258
As características evidenciadas por este elemento, único exemplar que classificamos comobase toscana e única base isenta, traduzem-se numa simplicidade do perfil que se compõe deplinto,toroquaserectoeausênciademolduradestasduaspartes;inclusãodoimoscaponoblocodabase.Estesindícioslevamaconcluirporumacronologiarecuadadestapeça,muitoprovavel-mentenamudançadeeraouiníciosdoséculoId.C.
4.5. Outros elementos arquitectónicos
noquerespeitaaoutroselementosarquitectónicosháquefazerreferênciaaosfustesdecoluna.AindaquesejamuitodifícilsaberseestaspeçassãodaÉpocaRomana,pensamosqueéprovávelque,domesmomodoqueexistembasesecapitéisdessecontextotambémalgunsdosfustesempreguesnointeriordaigrejapertençamaessemesmohorizonteculturalecronológico.
Oprimeiroaspectoarealçaréocarácterrude,quaseatarracadoqueesteselementosapresen-tam. A pouca altura destas peças e a largura acentuada que possuem confere-lhes um aspectopoucoeleganteemaciço,paraoqueconcorre,deigualmodo,aadiectio,acentuadamentemarcada,queseobservasensivelmenteameiodasuaaltura.Estetermolatinotemasuatraduçãonogregodeenthasis.Vitrúviomencionaosdois,osquaissereferema“acrescento”ou“engrossamento”(videtraduçãodeJ.Maciel,2006,Vitrúvio,TratadodeArquitectura,LivroIII,CapítuloIII,13).
Curiosamente,Vitrúvioreferequeosfustestoscanosnãoapresentamesta“deformação”téc-nica—aspectoparaoqualjáA.LézinehaviachamadoaatençãoaoanalisaroscapitéisefustestoscanosdaTunísia(1955,p.19,n.38)—,mencionandoestacorrecçãosomentenascolunasdóri-cas(LivroIV,CapítuloIII,10)ou,genericamente,quandoserefereaosdistintostiposdetemplos(LivroIII,CapítuloIII,13).
OsfustesqueseobservamnanavecentraldaIgrejaapresentamumaalturapróxima,comvariaçõesentresidecercade60mm,comumadimensãoquevariaentre1me1,16m.Asuaaltura,noentanto,nãoseráaoriginal,aqualseriaacentuadamentemaior,sobretudosenoslembrarmosdospreceitosvitruvianosaoindicar,consoanteotipodetemplos,queascolunasdeveriampossuirdealturaoitovezes,ouoitovezesemeia,novepartesemeiaoudezpartesdorespectivodiâmetro,respectivamentenostemplosareostilos,diastilos,sistiloseeustilose,porfim,comdezpartes,ostemplospicnostilos(LivroIII,CapítuloIII,10).nocasovertente,adistintaalturaqueestaspeçaspossuíamquandoforamreempreguesnointeriordoactualtemploreligioso,terásidocompen-sadapeloscapitéis,tambémelesdedistintasdimensõesdevidosobretudoàsdiferentesalturasqueosummus scapuspossui.
Se partirmos do capitel maior — único exemplar completo que possuímos (peça n.º4) —poderíamosproporparaosfustesumaalturadecercade14,70m.Seguindoospreceitosvitruvia-nos,odiâmetrodoimus scapusdofustecorresponderáametadedaalturadocapiteleessediâme-tro,porsuavez,seráasétimapartedasuaaltura.nestecasopartimosdatraduçãoportuguesadoVitrúviodaautoriadeMariaHelenaRua(1998,pp.136,138).nãopoderemosdeixardetranscre-veranotan.º2queseapresentaemrelaçãoaestasdimensõesdacolunatoscana:“ÉcomrazãoquePhilander se espanta com esta proporção da ordem toscana, nomeadamente que sendo a maisgrosseiranosseusornamentosdoquetodasasoutras,elanãosejamaiscurtaqueadórica,quetemtambémaalturadeapenassetediâmetros...”.
Adimensãoqueobtemos—cercade15m—partindodospressupostosatrásenunciados,podeelucidarsobreavolumetriadoedifícioonde,originalmente,seintegrariamesteselementosarquitectónicos.
A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
Lídia Fernandes
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270 259
Mesmoaplicandoestespreceitosvitruvianosdificilmenteconseguiremossaberqueedifícioouedifíciosromanosterãoexistidonestelocal.noentanto,aquantidadedepeçasquesobrevive-ram e que tivemos oportunidade de analisar, assim como alguns frisos que se vêm espalhadosjuntoàIgreja(Fig.21)ouasarasanepígrafasqueforamreutilizadasnoaltar(Fig.22)levamacon-siderarumafunçãotambémreligiosaparaoedifícioromanoque,acreditamos,aquiteráexistido.
5. Contextos históricos e arquitectónicos
desconhece-seaexistênciadequalquerocupaçãoromanaemS.PedrodeLourosa.VergílioCorreia,empublicaçãode1972,referequeencontrounapovoaçãoumacupa,aqualseencontravaaoladodaIgreja.Comefeito,nomurolateralaindalásevêumapedracomesseformatoeváriasoutraspedrasatestamtalheromano(Correia,1972,p.221).nãopodemosgeneralizarestaideiaemrelaçãoaváriossilharesalmofadadosqueseobservamnasfacesexterioresdasparedesdaIgreja(Fig.23).Emalgunsdessesblocosotipodetalheeosnegativosqueficaramdodesbastedapedra,assimcomoamolduraquedelimitaoseuarranque,indicamserobradeépocadistinta.
Carlos A. Ferreira de Almeida, contrariando a antiga opinião de A. nogueira Gonçalves,defendeuquea IgrejadeLourosanãoutilizouqualquerpedrariaantiga, constituindo-secomoumaedificaçãototalmentederaiz(Almeida,1986,p.144).Parece-nosquetalafirmaçãoencerraumadeficienteobservação,poisénítido,nãosomentepeloscapitéis,mastambémporoutrosele-mentos,comofrisosouasaras,queexistiuumintensoreaproveitamentodematerialquandooedifíciofoirestauradopeladGEMnem1931.Bastaria,deigualmodo,analisaralgumasdasfoto-grafiasfeitasporMarquesAbreuepublicadasporManueldeAguiarBarreirosem1930paraseobservarmúltiploselementosdaÉpocaRomanaedeépocasposteriores.Apresença,emtaisfoto-grafias,deváriascabeceirasdesepulturaéclaramenteilustrativodoreempregodemateriais.
Pensamospois,queautilizaçãodecapitéisebasesromanasnaIgrejadeS.PedrodeLourosacorrespondeuaumactointencionalqueelegeuaordemtoscana,simples,despojadaerude,paraaornamentaçãodestenovoespaçoreligioso.Essarusticidadefoiartificialmenteprocuradaereali-zadaatravésdoempregodepeçasdaÉpocaRomanamastambémnarealizaçãodeoutroselemen-tosqueseguiamdepertoamorfologiadaqueles.Assimseexplicaacoexistênciadesilharesroma-nosalmofadadoseoutrosqueosimitammasquedenunciamumatécnicaeumdesenhoclaramente
Fig. 21 Fragmentodefriso,daÉpocaRomana,queseencontranonártexdaIgreja.
Fig. 22 ArasanepígrafasreutilizadasnoactualaltardaIgreja.
Lídia Fernandes A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270260
posterior.domesmomodosepoderãoexplicarasbasesquedetêmumperfildiferenteaodastra-dicionaisbasesáticasmasquedelasseaproximammorfologicamente,emboradeformadeficiente(peçasn.os11,12,16e17).
JoséPessanhaescreveu,em1927,quealgumascolunasdestetiposeencontravamreaprovei-tadasnasparedesdascasasdapovoação,havendoreferência,pensamosqueoral,queteriampro-vindodeumaoutraterradetopónimoCarvalhal (Pessanha,1927,p.42).Estesítioficaactual-mentedentrodapequenapovoaçãoenadaàsuperfícieindicaapresençadeumaintensaocupaçãoromana.naopinião,tambémdemasiadofantasista,deAntónionogueiraGonçalves,teriaexistidonolocalumavillaromana(Gonçalves,1952,pp.169–176).
Em redor da actual igreja existem várias sepulturas antropomórficas, às quais se poderãoassociarascabeceirasdesepulturaquepodemosobservarnasfotografiasantigasqueacimamen-cionámos.Tambémduranteasobrasderestauro,foramencontradasidênticassepulturasnointe-riordomonumentoeaantigapiabaptismaldoséculoIX/Xeraescavadanarocha,soluçãocomparalelosnomundohispânico(Fernandes,2002,p.258).Parece-nospois,queavocaçãoreligiosadestelocalérecuada,sobretudoseposicionarmosassepulturasantropomórficasemépocaante-rioràdaIgrejapré-românica.
Poderíamosassim,proporparaestelocalaexistênciadeumtemplorural,aindaqueestatipologiadeedificaçõessejamuitomalconhecidaemterritórionacional,comorefereJorgeAlar-cão,aoafirmar“PoucosestudadosnaLusitânia,ostemplosruraiscertamenteexistiram.naBeiraCentral,concretamente,emVendasdeCavernães(Viseu),otemploruralconsagradoaLuruni(…)será um exemplo do que poderia ser eventualmente o de S. Romão” (Alarcão, 2002–2003,p.167).
Aideiadeumavillaromana,semquemaisdadosdocumentemessaocupaçãotorna-sedifícildedefender,masaexistêncianolocaldeumtemplopermiteexplicardeformamaiscabalapre-sençadoselementosarquitectónicosquehojeaindaseconservam:fustes,bases,capitéis,frisos,aras.Poroutrolado,nãonosparecerazoávelqueestesmateriaistenhamsidotransportadosdeBobadela para aqui, contrariando a ideia de Jorge de Alarcão que defende que “É possível (oumesmoprovável)queessaspedras(incluindocolunaseaduelas)tenhamvindodeBobadela”(Alar-cão,2002–2003,p.174).
AcidaderomanadeBobadelasitua-seacercade6kmesenãoexistemprovasdequeosele-mentosarquitectónicosnãotenhamprovindodaí,tambémnãopodemosconcluirpelaafirmativa.Aordemarquitectónicaempreguenestaantigacivitaséatoscana,amesmadoscapitéisdeS.Pedrode Lourosa. Os capitéis são morfologicamente idênticos, observando-se a mesma composição,sucessãodoselementoscompositivos,ainclusãodosumoscapo,oábacoaltoesemqualquermol-duraeoequinoemformadetoro.Faceàopçãodecorativaadoptadapelacivitas deBobadelanãoédeestranharqueosexemplaresquehojeseencontramnaIgrejadeS.Pedro,situadanasuaáreadejurisdição,pertençam,deigualmodo,àordemtoscana.
Caso se confirme a existência de um templo romano em Lourosa, é normal que a ordemempreguetenhasidoaordemtoscanaenãoosubtipo“jónicolisodeinfluênciatoscana”.Adeco-raçãofuneráriarecorremuitofrequentementeàordemtoscana,comopodemosobservarnaspeçasdoMausoléudeFabara,aindaquedoséculoIIouIII(AbadCasal,1991,ficha9).
Estegostopelo“rústico”,simples,austero,queéprocuradoduranteaépocaromana,mesmoquandooutrasordensarquitectónicaserammaisapelativas,éumfenómenorecorrentequenosintroduznatemáticadaintencionalidadedeconstruir“àantiga”.Ouseja,umarusticidadeana-crónicaque,deformarecorrente,foiutilizadaaolongodostempos.Esteaspectopodeserconsta-tado,deformasintomática,emváriosedifíciosreligiosos.SeobservarmosaIgrejadeS.Pedrode
A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
Lídia Fernandes
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270 261
Fig. 22 FaceexteriordaIgrejadeS.PedrodeLourosa.Aofundo,ocampanário.note-seascantariascomalmofadadoaimitarotradicionalaparelhoromano.
Lídia Fernandes A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270262
Balsemão,ouaindaaMesquita-CatedraldeIdanha-a-Velha,emambososcasosvárioselementosarquitectónicosromanosforamreempreguesnanovaedificação.Estefenómenonãosignifica,emnossaopinião,ummeroreaproveitamentodomaterialpétreodisponívelnolocal,antesrespeitaumaintencionalidadeeescolhacriteriosadoselementosareutilizarnosnovostemplos.nãoseráporacasoqueduasarasromanasladeiemaescadadeacessoàIgrejaden.ªSenhorad’Aires,emAlcáçovas,ouqueapiadeáguabentanaIgrejadeCustóias(Freixodenumão)sejasuportadaporumcapiteltoscanoromano,ouquesemantenha,naIgrejadeTerena,umainscriçãodedicadaaodeusEndovélico.
Estefactorclassicizanteédecisivonasopçõesestilísticasearquitectónicasqueestãosubja-centesemmuitostemplosreligiososdosséculosIX,XeXI.Adatade912quesevêgravadanolinteldaentradadeS.PedrodeLourosa,introduz-nos,comefeito,nestemundodistintoondeosconstrutoresbuscamoantigocomoautênticoeseafastamintencionalmentedasnormasconstru-tivascomoregra.Oprodutoéumecletismogeralquepermaneceatéàsnovasregrasintroduzidaspeloromânico.ParaesteaspectoenocasoconcretodeS.PedrodeLourosa, jáautoreshaviamchamadoaatençãoaoafirmar,que“…nãosedeuummeroreaproveitamentodemateriaisanterio-res(…)oquesepassoufoiumaopçãoestética,conscientementeadoptadapelosseusconstrutores,singularmentemanifestadanoressurgimentodesilharesalmofadados,especificamentetalhadosparaoefeito,nautilizaçãodeportasadinteladascomarcosdedescarga,norecursoafrontõesecornijasdemodenaturaclássica,noabundantereaproveitamento(àescalaeclesialcristã)decolu-nasecapitéisantigos(…)naconversãodasantigasarasromanasempésdealtar”(Fernandes,2005,p.298).
6. Considerações finais
O conjunto agora analisado é importante pois alicerça a ideia da importância da ordemtoscananaregiãoOestedaprovínciadaLusitânia,concretamente,dapartecorrespondenteaoterritórioactualmenteportuguêsnumaáreamaisalargadamasquecorrespondegenericamenteàCovadaBeira.Aconcentraçãodepeçasnestaáreaéevidentee,aindaquenãopossuamosumlevantamentoexaustivodestetipodeelementos,aproximidademorfológicaporelesevidenciada,permiteconcluirporumautilizaçãointensivadaordemarquitectónicatoscanaemdetrimentodeoutras.
Antesdeapresentaralgumasrazõessubjacentes,nãopodemosdeixardeanalisaroquesig-nifica,afinal,autilizaçãodaordemtoscana,ou“modotoscano”comodefendeL.Polacco(1952,pp.59–68),emterritórioitaliano.Ouseja,manifestando-seaordemtoscanaemsoloitálico,detalformaqueatraiaatençõesdeVitrúvioquelhededicaumpapelquaseequiparadoàrestantesordens (Livro VII, Cap. 14), definindo-a como ordem — modulando-lhe as respectivas bases efustes e ditando as proporções dos edifícios onde seriam empregues — importa saber qual oseuverdadeiropapelnumaalturaemqueasrestantesordensseencontramtotalmentedesabro-chadas.
Estaexplicaçãobaseia-se,naopiniãodeG.Rosada,nofactofundamentaldopróprioenten-dimentodaordemtoscana.Estaéempreguecomoobjectivonãodesatisfazerummercadosocial-menteinferior,ouseja,desatisfaçãoexclusivadopovomasporque,comoseuemprego,aarqui-tecturasetornamenosafectaauma«elite»,maisabertaàcompreensãodetodos,directamenteusufruível, mesmo por quem não estivesse abrangido pela dita cultura oficial. Esta ordemtransforma-se,nãoapenaspelaevoluçãotécnicaedométodoconstrutivo,mastambémporque
A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
Lídia Fernandes
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270 263
transversalàtradiçãoétnica,constitucionaleinstitucional,alargando-seasuabasedeaceitaçãonasociedaderomana,comocontributodaparticipaçãoemanifestaçõescaracteristicamentepopula-res(Rosada,1970–1971,p.81)(traduçãolivredotextoitaliano).
Estepanoramapodejustificaramaioraceitaçãodestaordememdetrimentodasrestantes.Asimplicidade,arobustez,alinearidadeeajunçãoentreformaefunçãopoderãoexplicarumapreferênciaporpartedapopulaçãoindígenafaceaoutrasnovidades.
nãopodemosdeixardemencionarqueasinfluênciasgregas,helenísticasepúnicas,proces-sadas por todo o Mediterrâneo, foram a génese do que pode ser considerada a originalidaderomana,istoé,aaglutinaçãomentaleformaldeumsubstratoeasuatraduçãonumanovalingua-gem.Ocapiteltoscanotambémparticipadascaracterísticasgregasehelenísticas,filiando-sedepertonaordemdórica,maséenriquecidopelatradiçãoitálicaquetem,nainfluênciaetrusca,oseumaiorcontributo.Mesmoperanteadiversidadedesoluçõesadoptadaspeloperfildocapiteltos-canonaHispânia,Gália,África,ouItália,“C’estdanslevieuxfondsdêsformesitaliquesqu’ilfautchercherl’originecommunedecettefamille”(Lézine,1955,p.28).
Apesardestassemelhanças,existemdiferençasentreaspeçaslusitanaseasqueconhecemosnaGáliaeemRoma/Óstia.Amorfologiaédistinta,oferecendoperfisbastantemaiselaboradosdoqueosobservadosnestesexemplaresqueaquianalisámosoudarestanteLusitânia.noentanto,atécnicaéamesma:orecursoàpedralocaldepoisrecobertacomestuque,procedimentoclara-menteitálico,especialmentedesenvolvidonaarquitecturarepublicana(nogalesBasarrate,1999,p.485).
Aquestãoqueentãosecolocaésaberdequemodoeapartirdequando,apopulaçãoautóc-tone teve acesso a uma nova plástica decorativa. A partir de 206–205 a.C., Cipião instalou umgrupodecolonosemItálica,cujotopónimoébemexplícitoquantoàorigemepropagandadeconquista do invasor. Em 171 a.C. é fundada a primeira colónia italiana fora de Itália: Carteia,seguindo-seCordubaem152a.C.eValentiaem138a.C.(Martim,1999,p.187).Sabemosqueem138a.C.décimoJúnioBrutoseencontravanosarredoresdeOlisipoeque,nodecursodessascam-panhas,sedeslocouàpovoaçãodeTalabriga,emlocalaindahojedesconhecido,juntoàcosta,entreoMondegoeodouro.naépocadeSertório,oexércitorumouaCale,talvezjuntoaGaia,aindaque dúvidas se coloquem quanto a essa identificação. Já durante as campanhas de Júlio Césarconhecem-se confrontos na zona de Meda (Fabião, 1993, pp.181–182) e a conhecida Cava deViriatoindica,nessamesmaépoca,oestacionamentojuntoàactualcidadedeViseu,deumacam-pamentomilitar.Tambémdessaaltura,concretamentedosegundoeterceiroquartéisdoséculoIa.C.,dataoacampamentomilitardeLombadoCanho(pertodeArganil),aíerigidoprovavel-menteparacontrolodasactividademineirasdesenvolvidasaolongodorioAlvae,portalfacto,necessitandodefortepoliciamento(Fabião,1993,p.192).PertodeAeminium,tambémoacampa-mentodeAntanholnosilustraumaocupaçãomilitardaregião.
noquerespeitaàszonasdeEgitaniaedeBobadela,regista-seapresençadefamiliasde“velhaceparepublicana”(Alarcão,2005,p.160)quedesdecedoaíseinstalameaepigrafiadá-noscontadealgumasoutras,comoéocasodagensManlia,deorigemitálica,queaquisefixamnasequênciadasperseguiçõesdeSila(Alarcão,2005,p.165).Comefeito,assetelegiõesromanasquepermane-cememsoloHispanoentre30a.Ca69d.C.terãodesempenhadoumfactorprimordialnaroma-nizaçãodoterritório.
Ahipótesequeaquisecolocaéadaatribuiçãoaoexércitoromanodeumatradiçãoconstru-tivaqueétransmitidanos locaisondeestacionam.Oquesabemoshojesobreaprogressãodascampanhas militares é bastante deficiente. Somente novas descobertas arqueológicas e futurasintervençõesarqueológicasemlocaisdeestacionamentodelegiõespoderáacrescentaresclareci-
Lídia Fernandes A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270264
mentospertinentessobreestaquestão.Seestefenómenoécomplexo,sobretudopelaausênciadedados,maisdifícilsetornasaberseaquantidadedemilitaresdeorigemitalianaofoiemnúmerotalquepossatertornadodecisivoeopapelporelesdesempenhadonessadivulgaçãodosubstratoitálico. Os testemunhos epigráficos dão-nos conta de alguns cidadãos vindos directamente deRomaedeItália,amaiorpartedosquaisencontradosemMérida(Haley,1991,pp.28–29).Mastambémopapeleconómicodesempenhadoporalgunsgrandesmercadorespoderáterexercidoalgumainfluêncianadivulgaçãodestesmodelos.
Opanoramaadelinear,nosentidodecompreenderapaisagemurbanaesocialque,nestaregião,acolheu esta ordem arquitectónica, prende-se certamente com o tipo de povoamento existente einclusivamentecomaactividadeeconómicaaíimplementada.defacto,estesterritóriosinteriores
“…caracterizar-se-iamsimplesmentepelapresençadeumcentrocívico,deumespaçocomum ou outro edifício público, que simbolizava e materializava esse poder. no quadro dasrespectivasunidades territoriaisestesnúcleosdestacar-se-iamnãotantopelasuaextensãourbanaeaparatomonumental,massobretudopelasactividadesdenaturezaadministrativa,jurídicaemesmoreligiosaquenelestinhamlugar(…)ahabitualecontestadadicotomiaentrecampoecidadenemsequersechegaacolocaremlargaszonasdointeriornortedaLusitania”(Carvalho,2005,p.156).
Pequenos edifícios ou templos pontuariam a paisagem, criando a marca da romanidade.nestesentido,aordemtoscanapoderáterperduradonumasociedademaishabituadaaosritmoslentosdocampodoqueàsmudançasrápidasdascidades.
Apesardetodasestasreticênciasedesconhecimentos,nãopodemosdeixardeconcluirqueaordemtoscanaatraiu,defacto,asatençõesdetodaumavastapopulação,queremterrashispanasqueremsoloitálico.Areputaçãoqueestaordemobteve—aopontodeserdefinidaporVitrúviocomoumaordemdeorigemclaramenteitaliana—poderáprender-se,comorefereBoëthius,comaconcentraçãodeesforçosnareabilitaçãoemanutençãodetiposarquitecturaisquejáeraminte-gralmenteempreguespelapopulaçãoitálica(Boëthius,1962,p.254).Masestaperduraçãoda“rea-bilitação”daordemtoscanamanteve-se,comopensamosterconseguidodemonstrar,emépocamuitoposterioresàromana,assumindo-seestaordemcomoumsignotransversalqueperdurouaolongodeváriosséculosedeváriasculturas,tornando-seumelode ligaçãoentreonovoeoantigo,entreopassadoeopresentecomotestemunhodelegitimidade.
7. Catálogo
Peça n.º 1LocaL. actuaL: Interior da Igreja, na 1.ª coluna da colunata do lado direito, funcionandocomocapitel; cLassificação: capitel toscanodecoluna; Matéria:granito; DiMensões (MM):alt.total(conservada):285;alt.ábaco:90;dim.ábaco:570x570;alt.equino:80;alt.hypotra‑chelium:50;alt.sumoscapo(conservada):65;Øbase:440;estaDo cons.:bom,partidonumdoscantosdoábaco;observ.:inédito.
Peça n.º 2LocaL. actuaL: Interior da Igreja, na 2.ª coluna da colunata do lado direito, funcionandocomocapitel; cLassificação: capitel toscanodecoluna; Matéria:granito; DiMensões (MM):
A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
Lídia Fernandes
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270 265
alt.total(conservada):290;alt.ábaco:95;dim.ábaco:490x480;alt.equino:80;alt.hypotra‑chelium:50;alt.sumoscapo(conservada):30;Øbase:390;estaDo cons.:bom,lascadoemdoiscantosdoábaco.
Peça n.º 3LocaL. actuaL:InteriordaIgreja,na1.ªcolunadacolunatadoladoesquerdo,funcionandocomocapitel;cLassificação:capiteltoscanodecoluna;Matéria: granito;DiMensões (MM): alt.total(conservada):280;alt.ábaco:80;dim.ábaco:500x500;alt.equino:65;alt.hypotrache‑lium: 65; alt. sumoscapo (conservada): 60; Ø base: 360; estaDo cons.: bom; a superfícieencontra-serevestidacomumafinacamadadecal.
Peça n.º 4LocaL. actuaL:InteriordaIgreja,na2.ªcolunadacolunatadoladoesquerdo,funcionandocomocapitel;cLassificação: capiteltoscanodecoluna;Matéria:granito;DiMensões (MM):alt.total:420;alt.ábaco:80;dim.ábaco:475x510;alt.equino:80;alt.hypotrachelium:60;alt.sumoscapo:135;Øbase:350;estaDo cons.:bom,lascadoemdoiscantosdoábaco,asuper-fícieencontra-serevestidacomumafinacamadadecal.
Peça n.º 5LocaL. actuaL:InteriordaIgreja,1.ªcolunadacolunatadoladodireito,funcionandocomobase;cLassificação:capiteltoscanodecoluna;Matéria:granito;DiMensões (MM):alt.conser-vada:250;alt.ábaco:?;dim.ábaco:?;alt.equino:120(?);alt.hypotrachelium:?;alt.sumoscapo:?;Øbase:450;estaDo cons.:mau,todaasuperfíciefoilascadaposteriormente,nãosendoperceptíveisalgumasdaspartesconstituintes.Peça n.º 6LocaL. actuaL:InteriordaIgreja,2.ªcolunadacolunatadoladodireito,funcionandocomobase;cLassificação:capiteltoscanodecoluna;Matéria:granito;DiMensões (MM):alt.conser-vada:240;alt.ábaco:?;dim.ábaco:?;alt.equino:?;alt.hypotrachelium:?;alt.sumoscapo:?;Øbase:440;estaDo cons.:mau,todaasuperfíciefoidesbastadaposteriormente,nãosendoperceptíveisasváriaspartesconstituintes.
Peça n.º 7LocaL. actuaL: Interior da Igreja, 1.ª coluna da colunata do lado esquerdo, funcionandocomobase;cLassificação:capiteltoscanodecoluna;Matéria:granito;DiMensões (MM):alt.total(conservada):300;alt.ábaco:?;dim.ábaco:?;alt.equino:115(?);alt.hypotrachelium:55;alt.sumoscapo(cons.):80;Øbase:380;estaDo cons.:mau,todaasuperfíciefoidesbastadaposteriormente,sobretudonoequino,oqualadoptaumperfiloblíquo.
Peça n.º 8LocaL. actuaL: Interior da Igreja, 2.ª coluna da colunata do lado esquerdo, funcionandocomobase;cLassificação:capiteltoscanodecoluna;Matéria:granito;DiMensões (MM): alt.total(conservada):230;alt.ábaco:?;dim.ábaco:?;alt.equino:100(?);alt.hypotrachelium:60;alt.sumoscapo:70;Øbase:400;estaDo cons.:mau,superfíciedesbastadaposteriormente,nãoseobservandoalgumasdaspartesconstituintes.
Lídia Fernandes A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270266
Peça n.º 9LocaL. actuaL:InteriordaIgreja,naabside(juntoaocruzeiro)colunadoladodireito,fun-cionando como capitel; cLassificação: capitel toscano de adossamento; Matéria: granito;DiMensões (MM):alt.total(conservada):260;alt.ábaco:90;dim.ábaco::;alt.equino:80;alt.hypotrachelium:45;alt.sumoscapo(conservado):45;Øbase:520;estaDo cons.:bom.
Peça n.º 10LocaL. actuaL:InteriordaIgreja,naabside(juntoaocruzeiro)colunadoladoesquerdo,fun-cionando como capitel; cLassificação: capitel toscano de adossamento; Matéria: granito;DiMensões (MM):alt.total(conservada):260;alt.ábaco:82;dim.ábaco:-;alt.equino:75;alt.hypotrachelium:60;alt.sumoscapo:55;Øbase:600;estaDo cons.:bom.
Peça n.º 11LocaL. actuaL:InteriordaIgreja,naabside(juntoaocruzeiro)colunadoladodireito,funcio-nandocomobase;cLassificação:?deadossamento;Matéria:granito;DiMensões (MM):alt.total(conservada):260;alt.toroinferior:90;alt.torosuperior:70;alt.escapo:60;alt.imos-capo(?):30;Øbase:580;estaDo cons.:razoável.
Peça n.º 12LocaL. actuaL:InteriordaIgreja,naabside(juntoaocruzeiro)colunadoladoesquerdo,fun-cionandocomobase;cLassificação:capiteltoscanodecoluna;Matéria:granito;DiMensões
(MM):alt.total:260;alt.toroinferior:100;alt.torosuperior:65;alt.escapo:30;alt.imoscapo(?):30;Øbase:570;estaDo cons.:razoável.
Peça n.º 13LocaL. actuaL:nartexdaIgreja,peçanãointegradaarquitectonicamente;cLassificação:capi-teltoscanodecoluna;Matéria:granitodegrãogrosso;DiMensões (MM):alt.total:340;alt.ábaco:90;dim.ábaco:430x430(?);alt.equino:70;alt.hypotrachelium:75;alt.sumoscapo(conservado):100;Øbase:285;estaDo cons.:muitomau.Superfíciemuitoerodidaeábacopartido.
Peça n.º 14LocaL. actuaL:nartexdaIgreja,peçanãointegradaarquitectonicamente;cLassificação:capi-teltoscanodecoluna(?)oubase(?);Matéria:granitogrãofino;DiMensões (MM):alt.total(conservada):225;alt.ábaco:98;dim.ábaco:51x51(?);alt.equino:80;alt.hypotrachelium (?):50;Øbase:390;estaDo cons.:mau.Superfícieerodida,ábacopartidoemdoisdoslados.
Peça n.º 15LocaL. actuaL:exteriordaIgreja(juntoaocampanário),peçanãointegradaarquitectonica-mente;cLassificação: capiteltoscanodecolunadeadossamento;Matéria:granitogrãofino;DiMensões (MM):alt.total(conservada):355;alt.ábaco:90;dim.Ábaco(facefrontal):340x490;alt.equino:75;alt.hypotrachelium (?):175;alt.sumoscapo:110;Øbase:350;estaDo cons.:
mau.Superfícieerodida.
A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
Lídia Fernandes
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270 267
Peça n.º 16LocaL. actuaL: exterior da Igreja (junto ao campanário), peça não integrada arquitecto-nicamente; cLassificação: base de coluna de adossamento; Matéria: granito grão fino;DiMensões (MM):alt.total:260;alt.toroinferior:105;alt.torosuperior:105;alt.escapo:50;alt.sumoscapo:65;Øbase:550;estaDo cons.:muitomau.Superfícieerodida.
Peça n.º 17LocaL. actuaL: exterior da Igreja (junto ao campanário), peça não integrada arquitecto-nicamente; cLassificação: base de coluna de adossamento; Matéria: granito grão fino;DiMensões (MM): alt. total:240;alt. toro inferior:80;alt. toro superior:65;alt. escapo:25;Øbase:270;estaDo cons.:mau.Superfícieerodida.
NOTAS
* ArqueólogadaCâmaraMunicipaldeLisboa.MestreemHistóriadeArte.
1 Gostaríamosdeagradeceraodr.JoséLuísCristóvão,arqueólogodaCâmaraMunicipaldeIdanha-a-nova,adisponibilizaçãodestaspeçasparaestudo.
2 Sobreestaspeçaserespectivabibliografiacf.Fernandes,1997,vol.I,pp.287–307,vol.II,pp.103–161,exceptuandooúltimolocalreferidoeagradecendoaPilarReisasuainformação.
3 AgradecemosestainformaçãoaAndréCarneiroeaEuricoSepúlveda,quenosfacultaramafotografiadapeça.
4 nãosetrataexactamentedeumcapiteldecoluna,poispertenceaumaltarmonolítico,onde,nomesmobloco,seencontramtalhadosofusteabaseeocapitel,sendoqueestesdoisúltimoselementossãomorfologicamentesemelhantes:toro,moldura
reversaefiletesseparadores.Abaseemumplintomaisaltoqueoábacocorrespondentedocapitel.
5 naobracitadanãoseencontrareproduzidonenhumcapiteltoscano.OautorfaladeumcapiteljónicoqueseencontranaIgrejadeFreixoedefustesdóricosejónicos,assimcomode“pedraslisascircularesquefuncionavamcomoplintos”(dias,1997,p.129).noentanto,oúnicocapitelqueobservámosquandonosdeslocámosaolocalfoiumcapiteltoscano.
6 “...secomposed’unabaquecarrésansmoulure,unfilet,unquartderond,unfiletetunegorge,trèssouventàladiminutionverslebas”(Lézine,1955,p.26).
7 SobreaquestãodapresençaouausênciadeplintoesobreatipologiaecaracterísticasdabaseáticavideFernandes,2004–2005,pp.83–94.
BIBLIOGRAFIA
ABAdCASAL,Lorenzo(1991)-Elartefunerariohispanorromano.Cuadernos de Arte Español. Historia.Madrid.16,p.77.
ABASCAL,JuanManuel;CEBRIÁn,Rosario;TRUnK,Markus(2004)-Epígrafia,arquitecturaydecoraciónarquitectónicadelforodeSegobriga.InRAMALLOASEnSIO,Sebastián,F.,ed.-Actas del CongressoLa decoración arquitectónica en las ciudades romanas de Occidente (Cartagena, 8–10 octubre 2003).Murcia:Universidad,pp.219–256.
ALARCÃO,Adília(1994)-Museu Monográfico de Conímbriga: colecções.Lisboa:InstitutoPortuguêsdeMuseus,p.157,n.º509.
ALARCÃO,Jorgede(1988a)-Portugal Romano.MemMartins:Europa-América.
ALARCÃO,Jorgede(1988b)-Roman Portugal.Vol.II,fasc.1.Warminster:Aris&Phillips.
ALARCÃO,Jorgede(1995)-Asplendidissima civitasdeBobadela(Lusitânia).Anas.Mérida.15–16,pp.155–180.
ALARCÃO,Jorgede;ÉTIEnnE,Robert(1977)-Fouilles de Conimbriga.L’architecture,I.Paris:deBoccard.
ALARCÃO,Jorgede(1990)-IdentificaçãodascidadesdaLusitâniaportuguesaedosseusterritórios.InLes villes de Lusitanie romaine: hiérarchies et territoires. Table ronde internationale du CNRS (Talence, le 8–9 décembre 1988). Paris:CentrenationaldelaRechercheScientifique(CollectiondelaMaisondesPaysIbériques;42),pp.21–34.
ALMEIdA,CarlosAlbertoBrochadode(1991)-Catálogo do Museu Arqueológico de Barcelos.Barcelos:CâmaraMunicipal.
ALMEIdA,CarlosAlbertoFerreirade(1986)-ArtedaAltaIdadeMédia.InHistória da Arte em Portugal.Barcelona:PublicaçõesAlfa,2.
ALMEIdA,Fernandode(1962)-ArtevisigóticaemPortugal.O Arqueólogo Português.Lisboa.2.ªSérie.4,pp.5–278.
ÁLVAREZMARTínEZ,JoséMaría(1992)-Eltemplodediana. Cuadernos de Arquitectura Romana. Murcia.1,pp.83–93.
Lídia Fernandes A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270268
ÁLVAREZMARTínEZ,JoséMaría;nOGALESBASARRATE,Trinidad(2004)-ProgramasdecorativosdelforocolonialdeAugustaEmerita.Eltemplodediana,templodecultoimperial.InLa decoración arquitectónica en las ciudades romanas de Occidente: actas del Congreso Internacional celebrado en Cartagena (8–10 octubre de 2003).Murcia:Universidad,pp.293–319.
AMARAL,AntónioEugénioCoelhoeMaiado(1982)-SobretrêsinscriçõesperdidasdeBobadela(OliveiradoHospital).Conimbriga.Coimbra.21,pp.106–119.
AnÓnIMO(2004)-HistóriadaAldeiadeJoanes(Fundão)recuaaoperíodoromano:notapreliminar.Eburobriga.Fundão,pp.73–74.
BALIL,Alberto(1960)-PlásticaprovincialenlaEspañaromana.Revista de Guimarães.Guimarães.70:1–2,pp.107–131.
BARREIROS,ManueldeAguiar(1930)-Umaviagemdeestudo.Ilustração Moderna.Porto.42,pp.94–95.
BAUMAn,Victor(1984)-PiesesculpturalesiepigraficeîncolectiamuzeuluideIstoriesiArheologiedinTulcea.Peuce.Tulcea.9,pp.207–233.
BOËTHIUS,Axel(1962)-OfTuscancolumns.American Journal of Archaeology.Boston,MA.66,pp.249–254.
BOnnEVILLE,Jean-noël(1980)-Lemonumentépigraphiqueetsesmoulurations.Faventia.Barcelona.2:2,pp.75–98.
BOUBE,Jean(1967)-documentsd’architecturemauretanienneauMaroc.Bulletin d’Archéologie Marocaine.Rabat.7,pp.263–367.
BROISE,Pierre(1969)-Élémentsd’unordretoscanprovincialenHaute-Savoie.Gallia.Paris.27:1,pp.15–22.
CARVALHO,Helena;EnCARnAÇÃO,Joséd’;MARTInS,Manuela;CUnHA,Armandino(2006)-AltarromanoencontradoemBraga.Forum.Braga.40,pp.31–41.
CARVALHO,PedroCardosode(2005a)-Temploromanoden.Sr.ªdasCabeças.In25 sítios arqueológicos da Beira Interior(CatálogodeExposição).Trancoso:ed.ARA,p.35.
CARVALHO,PedroCardosode(2005b)-IdentificaçãoerepresentaçãoespacialdascapitaisdecivitatesdaBeiraInterior.InLusitanos e Romanos no Nordeste da Lusitânia: actas das 2.as Jornadas de Património da Beira Interior (Guarda, 21 e 22 de Outubro de 2004).Guarda:CentrodeEstudosIbéricos,pp.155–169.
CHInERMARTORELL,Paloma(1990)-La decoración arquitectónica en Saguntum.València:GeneralitatValenciana.
COARELLI,Filippo;ALBEnTIS,Emidiode;GUIdOBALdI,Maria-Paola(2005)-Pompéi: la vie ensevelie. Paris:Larousse.
COIXÃO,AntónioSá(1997)-Complexo arqueológico de Freixo de Numão: um projecto, a investigação, a musealização e um circuito.Freixodenumão:A.C.d.RdeFreixodenumão.
COIXÃO,AntónioSá(2005)-TemploromanodaCivitasAravorum.In25 sítios arqueológicos da Beira Interior(CatálogodeExposição).Trancoso:ed.ARA,p.13.
COIXÃO,AntónioSá;TRABULO,AntónioAlbertoRodrigues(1995)-Por terras do concelho de Foz Côa: subsídios para a sua história, estudo e inventário do seu património. VilanovadeFozCôa:CâmaraMunicipal.
CORREIA,Vergílio(1972)-Obras. IV: estudos arqueológicos.Coimbra:Universidade.
CRESSIER,Patrick(2005)-ChapiteauxislamiquesduPortugal(traditions,créations,importations).InMuçulmanos e Cristãos entre o Tejo e o Douro (Sécs. VIII a XIII. Actas dos Seminários realizados em Palmela, 14–15 de Fevereiro de 2003, Porto, 4 e 5 de Abril de 2003.Palmela:CâmaraMunicipal,pp.175–194.
CRISTÓVÃO,JoséLuís(2005)-BreveestudosobreaorganizaçãodoespaçopúblicoeosequipamentosurbanosdacidadedeIdanha-a-Velha(dosfinaisdoséculoIa.C.aolimiardoséculoIV).InLusitanos e Romanos no Nordeste da Lusitânia: actas das 2.as Jornadas de Património da Beira Interior (Guarda, 21 e 22 de Outubro de 2004).Guarda:CentrodeEstudosIbéricos,pp.189–204.
dIAS,LinoTavares(1997)-Tongobriga.Lisboa:IPPAR.
dUPRÉIRAVEnTÓS,Xavier(1986)-Els capitells corintis de l’Arc de Berà.Tarragona:MuseunacionalArqueològicdeTarragona.
FABIÃO,Carlos(1996)-OpovoadofortificadodeCabeçadeVaiamonte(Monforte).A Cidade.Portalegre.novasérie.11,pp.35–84.
FABIÃO,Carlos(1993)-Oscontextosdaconquistaromana.InHistória de Portugal:Barcelona:vol.II,pp.180–192.
FERnAndES,Lídia(1997)-Capitéis romanos da Lusitania ocidental.Lisboa:TesedeMestradoapresentadaàFaculdadedeCiênciasSociaiseHumanasdaUniversidadenovadeLisboa,4volumes.
FERnAndES,Lídia(1998a)-CapitéisromanosdoMuseunacionaldeArqueologia.O Arqueólogo Português.Lisboa.SérieIV.16,pp.221–284.
FERnAndES,Lídia(1998b)-ElementosarquitectónicosdeépocaromanadoconcelhodeLoures.CatálogodaExposiçãodeArqueologia Da Vida e da Morte: os Romanos em Loures.Loures:CâmaraMunicipal,pp.93–105.
FERnAndES,Lídia(1999)-ElementosarquitectónicosdeépocaromanadaCasadosBicos-Lisboa.Conimbriga.Coimbra.38,pp.113–135.
A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
Lídia Fernandes
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270 269
FERnAndES,Lídia(2001a)-CapitéisdoteatroromanodeLisboa.Anas.Mérida.14,pp.29–51.
FERnAndES,Lídia(2001b)-CapitéisromanosdeAmmaia (S.SalvadordeAramenha-Marvão).O Arqueólogo Português.Lisboa.SérieIV.19,pp.95–158.
FERnAndES,Lídia(2004)-decoraçãoarquitectónicadavilladeFrielas:capitéisebases.InArqueologia como documento [catálogo da exposição]: 30 de Maio a 29 de Novembro de 2004.Loures:MuseuMunicipal,pp.20–32.
FERnAndES,Lídia(2006)-OTeatrodeLisboa:intervençãoarqueológicade2001.InActas del Congreso Internacional sobre Teatros Romanos en Hispania, Córdoba 2002.Córdoba:SeminariodeArqueología,pp.181–204.
FERnAndES,Lídia(2007)-TeatroromanodeLisboa:oscaminhosdadescobertaeospercursosdainvestigaçãoarqueológica.Al‑madan.2.ªsérie.Almada,pp.27–39.
FERnAndES,PauloA.(2002)-A Igreja pré‑românica de S. Pedro de Lourosa.dissertaçãoFinaldeMestradoapresentadaàFaculdadedeLetrasdaUniversidadedeLisboa.
FERnAndES,PauloA.(2005)-Ecletismo.Classicismo.Regionalismo.OscaminhosdaartecristãnoOcidentepeninsularentreAfonsoIIIeAl-Mansur.InMuçulmanos e Cristãos entre o Tejo e o Douro (Sécs. VIII a XIII. Actas dos Seminários realizados em Palmela, 14–15 de Fevereiro de 2003, Porto, 4 e 5 de Abril de 2003).Palmela:CâmaraMunicipal,pp.293–310.
FERnAndES,PauloA.(2006)-AntesedepoisdaArqueologiadaArquitectura:umnovociclonainvestigaçãodaMesquita‑‑CatedraldeIdanha-a-Velha.Artis.Lisboa.5,pp.49–72.
FERnAndES,PauloA.(2006)-Reconstituição,reintegraçãoerestauro:osprojectosdeintervençãonaIgrejapré-românicadeLourosa(1929–1934).Revista Estudos Património.Lisboa,9,pp.150–158.
FERnAndES,PauloA.(2008)-AIgrejadeS.PedrodeLourosaeasuarelaçãocomaarteasturiana.Arqueologia Medieval.Porto.10,pp.21–40.
FERREIRA,MariadoCéu(2005)-Vilares,Trancoso:umaaldeiacompassado.In25 sítios arqueológicos da Beira Interior(CatálogodeExposição).Trancoso:ed.ARA,p.19.
FRAdE,Helena(1990)-novoselementossobreotemploromanodeAlmofala.Conimbriga.Coimbra.29,pp.91–101.
FRAdE,Helena(1993–1994)-ATorredeCentum Celas:umavillaromanadeColmealdaTorre,Belmonte.Conimbriga. Coimbra.32–33,pp.87–106.
FRAdE,Helena(1996)-LatechniqueconstructivedequelquesmonumentsdelaLusitanie.InKHAnOUSSI,Mustapha;RUGGERI,Paola;VISMARA,Cinzia,eds.-L’Africa Romana, 11.Atti dell’XI Convegno di studio, Cartagine, 15–18 Dicembre, 1994.Ozieri:IlTorchietto,pp.1017–1027.
FRAdE,Helena;CAETAnO,JoséCarlos;PORTAS,Clara;MAdEIRA,JoséLuís(1995)-notasparaoestudodourbanismodacidaderomanadeBobadela.Trabalhos de Arqueologia e Etnologia.Porto.35:4,pp.221–241.
FRAdE,Helena;PORTAS,Clara(1994)-AarquitecturadoanfiteatroromanodeBobadela.InActas del Colóquio Internacional El Anfiteatro en la Hispania Romana (Mérida, 26–28 de noviembre 1992).Badajoz:JuntadeExtremadura,pp.349–368.
GIMEnO,Javier(1989)-TipologíayaplicacionesdeelementosdóricosytoscanosenHispania:elmodelodelnE.Archivo Español de Arqueología.Madrid.62,pp.101–139.
GInOUVÈS,René(1992)-Dictionnaire méthodique de l’architecture grecque et romaine.Roma:ÉcoleFrançaisedeRome.
GOnÇALVES,Ana;HAUSCHILd,Theodor;TEICHnER,Felix(2003)-IntervençãoarqueológicanoMuseudeÉvora,CentroHistóricodeÉvora,1996.InActas do 3.º Encontro de Arqueologia Urbana,Almada, 1997.Almada:CâmaraMunicipal,pp.123–136.
GOnÇALVES,Antónionogueira(1952)-Lourosa.InInventário Artístico Nacional(Distrito de Coimbra).Lisboa:AcademianacionaldeBelasArtes,pp.169–176.
GOZALBESCRAVIOTO,Enrique(1993)-ObservacionesacercadelcomerciodeépocaromanaentreHispaniayelnortedeAfrica.Antiquités Africaines. Aix-en-Provence.29,pp.163–176.
GRAnGER,Frank(1995)-Vitruvius on Architecture. Volume 1, Books 1–5.London:Loeb Classical Library.
GROS,Pierre(1976)-AureaTempla:recherches sur l’architecture religieuse de Rome à l’époque d’Auguste.Roma:ÉcoleFrançaisedeRome.
GROS,Pierre(1981)-LestemplesgéminésdeGlanum.Étudepréliminaire. Revue Archéologique de Narbonnaise.Montpellier.14,pp.125–158.
GROS,Pierre(2001)-L’architecture romaine: tome 2, Maisons, palais, villas et tombeaux du début du IIIe siècle avant J‑C à la fin du Haut‑Empire.Paris:Picard.
GUERRA,Amílcar(1993)-Religiãoecultos.História de Portugal.Barcelona:vol1.ed.Ediclube.
GUERRA,Amílcar(1996)-Ammaia, Medobriga,easruínasdeS.SalvadordeAramenha.dosantiquáriosàhistoriografiaactual.A Cidade.Portalegre.novasérie.11,pp.7–33.
Lídia Fernandes A ordem toscana na Lusitânia ocidental: problemática e caracterização do seu emprego: a propósito das peças reutilizadas da Igreja de S. Pedro de Lourosa (Coimbra)
REVISTA PORTUGUESA DE Arqueologia. volume 11. número 2. 2008, pp. 231–270270
GUTIÉRREZBEHEMERId,MaríaÁngeles(1988)-BasesparaunestudiodelcapiteljónicoenlaPenínsulaIbérica.Boletín del Seminario de Estudios de Arte y Arqueologia.Valladolid.54,pp.65–135.
GUTIÉRREZBEHEMERId,MaríaÁngeles(1992)-Capiteles romanos de la Península Ibérica.Valladolid:Universidad.
GUTIÉRREZBEHEMERId,MaríaÁngeles(2003)-La decoración arquitectónica en la Colonia Clunia Sulpicia.Valladolid:Universidad.
GUTIÉRREZBEHEMERId,MaríaÁngeles(2006)-ElteatrodeClunia:nuevasaportaciones.InInMÁRQUEZMOREnO,Carlos;VEnTURAVILLAnUEVA,Ángel,eds.-Jornadas sobre teatros romanos en Hispania: actas del Congreso international celebrado en Córdoba los días 12 al 15 de noviembre de 2002.Córdoba:Universidad,pp.291–310.
HAUSCHILd,Theodor(1992)-EltemploromanodeÉvora.Cuadernos de Arquitectura Romana.Murcia.1,pp.107–117.
HERRMAnn,John(1988)-The Ionic capital in late antique Rome.Roma:GiorgioBretschneider.
JIMÉnEZ,Alfonso(1975)-deVitruvioaVignola:autoridaddelatradición.Habis.Sevilla.6,pp.252–293.
LÉZInE,Alexandre(1955)-ChapiteauxtoscanstrouvésenTunisie.Karthago.Paris.6,pp.12–29.
LÉZInE,Alexandre(1968)-Carthage. Utique. Études d’architecture et d’urbanisme.Paris:CnRS.
MACIEL,ManuelJustino,ed.(2006)-Vitrúvio, Tratado de arquitectura. Lisboa:InstitutoSuperiorTécnico.
MAnTAS,VascoGil(1990)-AscidadesmarítimasdaLusitânia.InLes villes de Lusitanie romaine: hierarchies et térritoires.Paris:CnRS,pp.149–205.
MAnTAS,VascoGil(1994)-Aredeviáriaromanadoterritórioportuguês.InMEdInA,João,ed.-História de Portugal.Lisboa:vol.II.
MÁRQUEZMOREnO,Carlos(1993)-Capiteles romanos de Corduba Colonia Patricia.Córdoba:MontedePiedadyCajadeAhorros.
MÁRQUEZMOREnO,Carlos(1998)-La decoración arquitectónica de Colonia Patricia: una aproximación a la arquitectura y urbanismo de la Córdoba romana.Córdoba:Universidad;ObraSocialyCulturalCajasur.
OSÓRIO,Marcos(2006)-O povomento romano do Alto Côa.Guarda:CâmaraMunicipal.
OSÓRIO,Marcos(2008)-Catálogo. Museu do Sabugal. Catálogo arqueológico.Sabugal:CâmaraMunicipal.
PASQUInUCCI,Marinella(1982)-Studio sull’urbanistica di Ascoli Piceno romana: i templi.Roma:AmericanAcademyinRome;BritishSchoolatRome,pp.30–48.
PEnSABEnE,Patrizio(1973)-Scavi di Ostia, 7: i capitelli.Roma:Laterza.
PEREIRA,MariaAméliaHorta(1970)-Monumentos históricos do concelho de Mação.Mação:CâmaraMunicipal.
PESSAnHA,José(1930)-AIgrejadeLourosa.A Ilustração Moderna.Porto.40,pp.32–33.
PInTO,Isabel(1999–2000)-ArqueologianoconcelhodeArronches:oprojectodeestudodopovoamentoruralromano.A Cidade.Portalegre.13–14,pp.95–104.
ROdRíGUEZGUTIÉRREZ,Oliva(2006)-ElteatroromanodeItálica:algunaspropuestasalaluzdelasnuevasinvestigaciones.InMÁRQUEZMOREnO,Carlos;VEnTURAVILLAnUEVA,Ángel,eds.-Jornadas sobre teatros romanos en Hispania: actas del Congreso international celebrado en Córdoba los días 12 al 15 de noviembre de 2002.Córdoba:Universidad,pp.149–180.
ROSAdA,Guido(1970–1971)-Latipologiaeilsignificatodell’«ordine»tuscaniconell’architetturadiRoma.Atti dell’Istituto Veneto di Scienze, Lettere ed Arti.Venezia.129,pp.65–126.
RUA,Helena(1998)-Os Dez Livros de Arquitectura de Vitrúvio Corrigidos e Traduzidos Recentemente em Português, com Notações & Figuras.Lisboa:InstitutoSuperiorTécnico.
SARABIABAUTISTA,Julia(2003)-Loselementos arquitectónicos ornamentales en el Tolmo de Minateda (Hellín‑Albacete).Albacete:InstitutodeEstudiosAlbacetenses“donJuanManuel”.
SILVA,LuísFragada(2007)-Balsa cidade perdida.Tavira:CâmaraMunicipal.
SILVA,MariadeFátimaMatosda;CORREIA,AlexandreLourenço(1997)-MateriaisarqueológicosdeVilaMeã(Viseu).InActas do II Colóquio Arqueológico de Viseu.Viseu:AssociaçãodedefesadoPatrimónio,AmbienteeConsumidor;AmigosdaBeira,pp.111–125.
TARdY,dominique(1989)-Le décor architectonique de Saintes antique: les chapiteaux et bases.Paris:CnRS.
VAZ,JoãoLuísdaInês(1976)-BrevesnotasparaoestudodaviaçãoantigadasBeiras.Beira Alta.Viseu.35:3,pp.349–363.