A Passagem De LampiãO Em Tabuleiro Do Norte

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"A AMIZADE SUPLANTA O TEMPO OS DIAS PASSAM E OS AMIGOS FICAM” IN MEMÓRIA DE GUMERCINDO CLÁUDIO MAIA Pádua de Queiróz

Gumercindo Cláudio Maia

Que escreveu seu Tabuleiro, Sua gente e sua história Num estudo verdadeiro, Despertou-me a atenção Quando aquela Região Visitou um cangaceiro Naquela manhã de Junho Entraram no povoado, De Tabuleiro de Areia Cangaceiros comandados Pelo facínora conhecido E por todos tão temido Por seu jeito endiabrado.

Quem conhece o perfil De Virgulino Ferreira, Sua vida, sua história Sabe que é verdadeira,

Pois movido por vingança Fez do crime a esperança

Da justiça derradeira.

Gumercindo em seu livro Relatou a ilustre visita,

Do grande Rei do cangaço Naquela terra bonita.

Francisquinho da espera Ao deparar com a fera

Disse então sem fazer fita:

Pode descer, Capitão! Minha casa é, Para toda cabroeira Tem leite, beijú e café, Fumo de rolo e feijão,

Carne de bode e pirão, Água, sombra e muita fé.

O bando era tão grande Que dividiram em três, Foi Antônio Alves Maia Que recebeu por sua vez, No armazém que possuía Um dos grupos que queria Beber sem virar freguês.

A venda de Néco Pacheco O outro grupo recebeu,

Compraram perfume barato, Sabão, querosene e breu, Corda de junco e chinela, Lamparina, pano e veia,

E imagem da mãe de Deus.

Na casa de Franscisquinho Todo mundo estava contente,

Um dos cabras deu a ele Bons cigarros de presente, Outro cabra pensativo

Foi dizendo: - meu amigo, Me escute, de repente.

Se alguém for pra Mossoró

Deve fazer romaria, Na cova de Menino de Ouro

Que nos deixou certo dia, Por intermédio da bala Que calou sua fala E findou sua valentia.

Menino de Ouro era O mais valente do bando, Pois somente respeitava

Lampião em seu comando. Quatorze, era sua idade Mas tinha a ferocidade

De um demônio atirando.

Então naquela harmonia Cangaceiro e cidadão,

Compartilhava histórias Na mais perfeita união.

Tomavam muita cachaça Soluçavam e achavam graça

Naquele belo sertão.

Porém tinha um morador Chamado de Zé Vidal,

Que tinha em sua propriedade Um belo e forte animal, E assim para não perder

Mandou seu filho esconder No meio do matagal.

Ao chegar no matagal O jovem se deparou,

Com o Capitão Virgulino Que logo lhe perguntou:

- pra onde tu vai, meu velho com essa cara de misério?

E ele não amarelou:

- vim esconder meu cavalo para o senhor não tomar. Lampião disse: não tema. Seu cavalo eu vou levar, Eu gostei muito da cor

Depois mande um portador Que eu devolvo o "animá".

Realmente Lampião Devolveu o animal,

Embora muito cansado Pra tristeza de Zé Vidal.

Mas cumpriu o prometido Mesmo sendo um bandido

Tinha palavra e moral.

Ao contrário da polícia conhecida por volante,

Caçadores de cangaceiros Eram brutais e ignorantes,

Na lei da perversidade Ao chegarem numa cidade Saqueavam num instante.

Não respeitavam ninguém Criança, padre e senhora, Com o aval do governo

Do Ceará e de fora, Pra difamar LAMPIÃO

Praticavam no sertão A violência que devora.

Pois enquanto Virgulino Se divertia em Tabuleiro, Os macacos do Governo

No encalce do cangaceiro, Semeavam dor e medo

Roubando-lhe então sossego Deixando o sangue no terreiro

E Lampião desconfiado Da paz naquele lugar,

Chamou a cobra "Moreno" Dizendo: vou me mandar!

Chama os outros, e vambora Os macacos não demora

Logo, logo vão chegar.

E pela estrada do governo Atual PADRE ACELINO,

Desapareceu o bando Do Capitão Virgulino. Se mandou pra Iracema Cidadezinha pequena

Do seu sertão nordestino.

No Ano de Vinte e Sete No dia treze de agosto,

Um grupo de cangaceiros Com outro comando no posto,

Em Tabuleiro de Areia Fez vogar a LEI DA PEIA

Da violência e desgosto.

Pedro Chaves Pitombeira Eu escrevi estes versos Do livro de Gumercindo Recordando Virgulino O cangaceiro perverso. Como Gumercindo foi Historiador de primeira

As coisas do TABULEIRO Vivenciou e é verdadeira

Eu apenas homenageio Sua obra à minha maneira.

Porém quero terminar Interrogando a você: Teria sido o cangaço

O sangue que fez sofrer,

Meu TABULEIRO DE AREIA Bom lugar pra se viver? Eu tenho outra opinião, Insensato eu não sou.

Responda-me amigo PEDRO Agora quem saqueou.

(Manaus, Amazonas - 27 de dezembro de 2006)

Autor Antonio Pádua Borges de Queiróz