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A Perfeita Confluência

Entre a Providência de Deus e

a Liberdade Humana

Aaron Matherly

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Traduzido do texto em inglês

Like a Stone?

By Aaron Matherly

Via: Founders.org

Tradução por Marcia Freitas

Revisão e Capa por William Teixeira

1ª Edição: Abril de 2018

Salvo indicação em contrário, as citações bíblicas usadas nesta tradução são da versão Almeida

Corrigida Fiel | ACF • Copyright © 1994, 1995, 2007, 2011 Sociedade Bíblica Trinitariana do Brasil.

Traduzido e publicado em Português pelo website oEstandarteDeCristo.com, com a devida permissão

do Ministério Founders Ministries (Founders.org) e do próprio autor, sob a licença Creative Commons

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A Perfeita Confluência Entre

a Providência de Deus e a Liberdade Humana: Por Aaron Matherly

— The Founders Journal • Outono de 2016 | Nº 106 —

A Perfeita Confluência da Providência de Deus e a Liberdade Humana

John Wesley, o grande pregador revivalista e fundador do Metodismo, opôs-se em termos

inequívocos a uma compreensão Reformada dos eternos decretos e providência de Deus.

Em seus Pensamentos Sobre a Necessidade [Thoughts Upon Necessity], Wesley

repreendeu as opiniões expressas pelos Teólogos de Westminster e sua compreensão de

um Deus cujos decretos são fixos e imutáveis, e cuja providência executando esses

decretos se estendem às áreas menores da vida cotidiana, aparentemente insignificantes,

às ações dos homens e a todas as áreas. Embora ele se referisse à visão Reformada como

“uma opinião muito antiga”, Wesley não sugeria sua legitimidade. Assim como Adão havia

jogado a culpa de seu sobre Eva e ela também tinha creditado seu pecado à serpente,

imputar suas ações a outrem é algo tão antiga quanto a própria humanidade, diz Wesley:

“É verdade, eu comi, mas a culpa da minha alimentação, a fonte de minha ação estava em

outro”.1 Para Wesley, esse pensamento errôneo persistiu desde a Queda até os Estoicos,

os Maniqueus e, eventualmente, para os Calvinistas de seu tempo.2

Como a Confissão de Westminster, segundo a qual foi baseado, o Capítulo III da

Confissão de Fé Batistas de Londres também fornece uma forte afirmação sobre decretos

eternos de Deus: “Deus decretou em Si mesmo, desde toda a eternidade, pelo mui sábio e

santo conselho de Sua própria vontade, livre e imutavelmente todas as coisas, seja o que

for que venha a acontecer”.3 Sem dúvida, perguntas surgem a partir dessa afirmação, e

seus autores anteciparam possíveis objeções com mais esclarecimentos:

1 John Wesley, Thoughts Upon Necessity [Pensamentos Sobre a Necessidade], em John Wesley,

ed. Albert Outler (Nova Iorque, NY: Oxford University Press, 1964), 479. 2 Wesley, Pensamentos Sobre a Necessidade, 479-480. 3 William L. Lumpkin e Bill J. Leonard, Baptist Confessions of Faith [Confissões de Fé Batista], 2ª

ed revista. (Valley Forge, PA: Judson Press, 2011), 238.

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Ainda assim, de modo que nem Deus é o autor do pecado, nem tem comunhão com

algo nisso; nem é violentada a vontade da criatura, nem ainda é eliminada a liberdade

ou contingência das causas secundárias, antes estabelecidas; nas quais demonstra-

se a Sua sabedoria em dispor de todas as coisas, e poder e fidelidade em efetuar o

Seu decreto.4

A declaração aborda várias questões interrelacionadas que desafiam a sua

compreensão dos decretos e providência de Deus. Em particular, este artigo irá explorar o

que a Confissão afirma sobre a relação entre a providência de Deus e a liberdade humana.

A posição Reformada encontrada na Confissão de Fé Batistas de Londres —

particularmente quando aborda a soberania de Deus e a responsabilidade humana —

resiste às objeções comuns, muitas vezes levantadas contra ela pelos críticos. Entretanto,

mais importante ainda, este artigo irá argumentar que as páginas das Escrituras confirmam

a posição Reformada sobre essas questões.

Wesley articulou sua objeção à doutrina Reformada da providência, que para ele nega

quaisquer motivos para culpar ou elogiar:

Se todas as paixões, os temperamentos e as ações, dos homens são totalmente

independentes em sua própria escolha, são governados por um princípio exterior a si

mesmos, então não pode haver nenhum bem ou mal moral. Não pode haver virtude

nem vício, nem boas nem más ações, nem boas ou más paixões ou temperamentos...

Se todas as paixões e temperamentos dos homens são completamente

independentes de sua própria escolha, são governados por um princípio exterior a

eles mesmos, Eles não são recompensáveis ou puníveis, dignos de elogio ou de

culpa. A consequência é inegável.5

Assim, de acordo com Wesley, a visão Reformada oferece pouco espaço para a livre

agência. Dada à posição Reformada, “o homem não pode mais ajudar a pecar do que uma

pedra pode o ajudar a cair”.6 Antes de Wesley, o Batista Geral Thomas Grantham do século

XVII ofereceu uma crítica semelhante em seu Christianismus Primitivus:

Quando dizemos que nada acontece sem a providência de Deus, não queremos dizer

(como alguns) que Deus tenha determinado eternamente e inalteravelmente todas as

coisas, e que todas as coisas são determinadas por aquele que É; e que todas as

4 Lumpkin, Confissões de Fé Batista, 238. 5 Wesley, Pensamentos sobre a Necessidade, 480-481. 6 Wesley, Pensamentos sobre a Necessidade, 480.

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coisas acontecerão, porque devem acontecer; pois quem se atreve a imaginar alguma

vez que Deus decretaria imutavelmente, ou que decretaria de algum modo? Os

múltiplos Atos de maldade foram, são e ainda serão cometidos no mundo: isso deve

inevitavelmente torná-lo o Autor do Pecado, e tonar os homens e demônios, apenas

os executores de seus decretos; que Deus nos livre disso.7

Para Grantham, a posição Reformada permite a culpa, mas a culpa é finalmente

colocada em Deus como o autor do pecado.

Apesar desses desafios, os teólogos Reformados mantiveram a realidade dos

decretos de Deus, a providência e a liberdade humana e apontaram numerosas passagens

nas Escrituras para defender sua posição. Em sua obra The Cause of God and Truth [A

Causa de Deus e a Verdade], o Batista Particular do século XVIII, John Gill, afirmou a visão

Reformada em parte apelando ao Salmo 33:13-15 e Provérbios 21:1. Gill escreveu:

Grande parte da providência de Deus reside no governo dos homens, no movimento

de suas vontades e na ordenação de suas ações, para consumar Seus grandes

desígnios e Sua própria glória. Pois, como Ele fez todas as coisas para Si mesmo,

para a Sua própria glória, assim Ele ordena e dispõe todas as coisas para responder

a esse fim.... E como Ele fez e moldou os corações de todos os homens, é tão certo

que os corações de todos os homens estão sob Seu governo, Ele pode movê-los,

influenciá-los e determiná-los a essa e a outra ação segundo Lhe agrade, sem fazer

qualquer violência a eles.8

Para Gill, negar o governo de Deus sobre os corações dos homens encerraria desse

modo o controle de Deus “nos mais consideráveis assuntos e eventos desse mundo

inferior”.9 Ao contrário, Gill argumentava que Deus governava tanto as ações boas quanto

as ações pecaminosas dos homens, mas de uma forma que não prejudica a liberdade do

indivíduo. Sobre esse ponto, Gill meramente refletiu o que a Segunda Confissão de Fé

Batista de Londres declarou em seu capítulo Sobre a Divina Providência:

O conselho determinado [de Deus] se estende mesmo até a primeira Queda, e a todas

as outras ações pecaminosas tanto de anjos quanto de homens; e não por meio de

7 Thomas Grantham, Christianismus Primitivus [Cristianismo Primitivo] (Londres: Francis Smith,

1678), 51-52. 8 John Gill, The Cause of God and Truth [A Causa de Deus e a Verdade] (Londres: W. H.

Collingridge, 1185, reimpressão, Grand Rapids, MI: Baker Book House, 1980), 205. 9 Gill, A Causa de Deus e a Verdade, 205.

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mera permissão, os quais Ele também, mui sábia e poderosamente delimita, e de

forma variada ordena e governa em uma multiforme dispensação, para os Seus

próprios santos fins; ainda assim, de forma que a pecaminosidade desses atos

procede apenas da criatura, e não de Deus; que sendo santíssimo e justíssimo, não

é, nem pode ser o autor ou aprovador do pecado.10

Para conciliar os decretos eternos de Deus, a providência e a liberdade do homem,

Gill sugeriu que Deus simplesmente age de acordo com nossos próprios desejos, seja para

o bem ou para o mal. Quando Deus deseja influenciar os homens para o bem, escreveu

Gill, Ele “coloca em nele a sua própria graça e bondade, ou desperta e excita o que havia

colocado ali antes”.11 Inversamente, quando Deus move os homens para ações malignas,

Ele não faz isso pondo pecaminosidade em homens ou ajudando-os a pecar; se esse fosse

o caso, os Arminianos poderiam fazer uma acusação genuína de que a posição Reformada

faz de Deus o autor do pecado. No entanto, Deus deixa os homens aos desejos de seus

próprios corações: “[Deus] os deixa somente na pecaminosidade com que se encontram, e

move a faculdade natural da vontade para essas ações, não como pecaminosa, mas como

natural”.12 Em sua obra Abstract of Systematic Theology [Suma de Teologia Sistemática],

James Petigru Boyce refletiu as conclusões de Gill:

[A providência de Deus] não proíbe o uso de incentivos a nenhuma ação específica,

nem a colocação do homem em circunstâncias que possam influenciar ou controlar

seus atos.... Mas, onde que que sejam apenas persuadidos, de modo a levá-lo a se

deleitar em ou a escolher um curso específico de ação, por seu próprio prazer, a

liberdade é preservada, e o homem é responsável pela sua escolha.13

Assim, em Sua providência, Deus pode usar vários meios para inclinar os homens

para uma ação desejada ou outra, mas no final as escolhas são verdadeiramente deles e

resultam de seguir as mais fortes inclinações de seus corações.

Numerosas passagens da Escritura dão testemunho dessa verdade. O profeta Isaías

revelou que Deus levantou os assírios contra os israelitas como um meio de punir a

maldade do seu povo:

10 Lumpkin, Confissões de Fé Batista, 242. 11 Gill, A Causa de Deus e a Verdade, 205. 12 Gill, A Causa de Deus e a Verdade, 206. 13 James P. Boyce, Abstract of Systematic Theology [Suma de Teologia Sistemática] (Cape Coral,

FL: Founders Press, 2006), 224.

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Ai da Assíria, a vara da minha ira, porque a minha indignação é como bordão nas suas

mãos. Enviá-la-ei contra uma nação hipócrita, e contra o povo do meu furor lhe darei

ordem, para que lhe roube a presa, e lhe tome o despojo, e o ponha para ser pisado

aos pés, como a lama das ruas.14

Embora o rei da Assíria atribuísse sua conquista à sua própria força e sabedoria,

Isaías lembra aos seus leitores que Deus orquestrou os acontecimentos e que o rei era um

mero meio para um fim: “Porventura gloriar-se-á o machado contra o que corta com ele, ou

presumirá a serra contra o que puxa por ela, como se o bordão movesse aos que o

levantam, ou a vara levantasse como não sendo pau?”.15 Ainda mais surpreendente que

esta revelação é que Deus quis julgar o próprio instrumento que Ele designou para cumprir

Sua vontade: “Por isso acontecerá que, havendo o Senhor acabado toda a sua obra no

monte Sião e em Jerusalém, então castigarei o fruto da arrogante grandeza do coração do

rei da Assíria e a pompa da altivez dos seus olhos”.16 Portanto, diz o teólogo Bruce Ware:

As ações livres e responsáveis dos assírios, como mostram seus corações

arrogantes, concebendo e realizando exatamente o que mais desejavam fazer, são

plenamente compatíveis com a determinação de Deus em levantar a Assíria,

comandando e enviando-os a fazer exatamente o que Deus quis que eles fizessem.17

Similarmente, Gill apelou a Apocalipse 17:17 para demonstrar ainda mais a

congruência entre a soberania de Deus e a responsabilidade do homem. Embora os reis

entreguem livremente seus reinos à besta, Deus é aquele que “tem posto em seus

corações, que cumpram o seu intento”.18 Em seu comentário sobre Apocalipse, Gill reiterou

que Deus não dirigiu seus corações infundindo pecado, mas “entregando-os aos maus

desejos de seus corações; instigando, movendo suas mentes e dirigindo os movimentos

dela, para tais e tais objetos, que pronta e voluntariamente concorreram a isso”.19

14 Isaías 10: 5-6. Todas as citações das Escrituras são tiradas da ACF. 15 Isaías 10:15. 16 Isaías 10:12. 17 Bruce Ware, “The Compatibility of Determinism and Human Freedom”, em Whomever He Wills:

A Surprising Display of Sovereign Mercy [“A Compatibilidade do Determinismo e da Liberdade

Humana” in Quem Ele Quiser: Uma Exibição Surpreendente da Misericórdia Soberana], ed.

Matthew Barret e Tom Nettles (Cape Coral, FL: Founders Press, 2012), 217. 18 Apocalipse 17:17. 19 John Gill, Exposition of the Old and New Testaments [Exposição do Antigo e do Novo

Testamentos], 9 vols. (Paris, AR: The Baptist Standard Bearer, 1989), 9: 828.

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Duas outras passagens importantes da Escritura fornecem exemplos da realidade da

soberania de Deus e da liberdade do homem. Em seu Body of Doctrinal and Practical

Divinity [Compêndio de Teologia Doutrinária e Prática], Gill não só afirmou que Deus, em

Seu conhecimento perfeito, previu a Queda de Adão em Gênesis 3, mas Ele também a

predeterminou desde que o conhecimento prévio de Deus sobre o futuro “flui das

determinações de Sua vontade”.20 No entanto, escreveu Gill: “[Deus] não forçou nem

impeliu Satanás a tentar, nem o homem a pecar; os dois agiram livremente, sem qualquer

força ou compulsão”.21 Satanás agiu por causa de seu próprio ódio, malícia e inveja e, disse

Gill, “nenhum dos filhos e filhas de Adão comeu uma refeição mais substanciosa e com

mais boa vontade, ou com maior gosto, do que os nossos primeiros pais comeram o fruto

proibido”.22

Além disso, Gill determinou que o corolário necessário para a Queda de Adão era o

plano predeterminado de redenção de Deus. Falando aos seus irmãos israelitas em Atos

2:23, Pedro observa que “este que vos foi entregue pelo determinado conselho e

presciência de Deus, prendestes, crucificastes e matastes pelas mãos de injustos”. Mais

tarde, os crentes em Jerusalém elaboram mais sobre o plano soberano de Deus:

Porque verdadeiramente contra o teu santo Filho Jesus, que tu ungiste, se ajuntaram,

não só Herodes, mas Pôncio Pilatos, com os gentios e os povos de Israel; para

fazerem tudo o que a tua mão e o teu conselho tinham anteriormente determinado que

se havia de fazer.23

Deus não permitiu apenas a crucificação, mas, como Lucas deixa claro, Deus

predestinou os meios pelos quais isso ocorreria. Comentando esta passagem, Gill

reafirmou que os ímpios escolheram livremente trair e crucificar Cristo:

Não era sua intenção e desejo cumprir os propósitos e decretos de Deus, mas cumprir

suas próprias concupiscências, e saciar sua raiva e malícia contra ele... o que eles

maliciosamente fizeram, Deus projetou para o bem, e por meio disso efetuou a

redenção e a salvação do seu povo.24

20 John Gill, A Complete Body of Doctrinal and Practical Divinity [Um Compêndio Completo de

Teologia Dotrinária e Prática, 2 vols. (London: Printed for W. Winterbotham, 1796), 1:465. 21 Gill, Compêndio de Teologia, 464. 22 Ibid. 23 Atos 4:27-28. 24 John Gill, Exposição do Antigo e do Novo Testamentos, 8:176.

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Como o rei assírio, aqueles envolvidos na crucificação de Cristo não foram absolvidos

da responsabilidade por serem instrumentos na execução do decreto de Deus; a

designação de “homens sem lei” testemunha a sua culpa. Os homens ímpios agiram

livremente na realização de seu plano contra Cristo, mas através de suas ações livres Deus

estava realizando Seu plano para redimir Seu povo.

É importante notar que, como observa Ware, a providência de Deus não trabalha

menos para fins bons, e as obras graciosas de Deus na vida de Seus eleitos demonstram

especialmente isso:

Aqui está a maravilha e o milagre do chamado eficaz e gracioso de Deus e o novo

nascimento. Antes de nascermos de novo, nossas inclinações mais elevadas estavam

sempre, de uma forma ou de outra, se desviando de Deus e rejeitando o Evangelho

de Cristo e a obra renovadora do Espírito, Deus produz em Seus eleitos um novo

coração e manifesta uma nova e mais forte inclinação e um desejo mais profundo de

nos convertemos do pecado para o próprio Cristo que antes desprezavamos.25

O chamado eficaz de Deus e a obra de regeneração do Espírito não agem por meio

de compulsão, mas dirigem as afeições dos homens em direção ao Salvador. Além disso,

a providência de Deus também se estende aos meios que preservam o crente. Em um

sermão sobre Filipenses 2:12-13, Basil Manly Sr. discutiu a relação entre a ação de Deus

e a responsabilidade do homem. Paulo informa aos crentes que “operem a vossa salvação

com temor e tremor; porque Deus é o que opera em vós tanto o querer como o efetuar,

segundo a sua boa vontade”. Manly observou que enquanto “é o poder de Deus que vivifica,

que implanta a vida” os homens também devem operar a sua salvação “cultivando o

princípio da graça e conduzindo-o através de todos os diferentes estágios de crescimento

e experiência Cristã”.26 Naturalmente, um dos meios mais importantes pelos quais Deus

realiza Seus fins é através da proclamação do Evangelho.

Errol Hulse adverte contra negligenciar os meios de Deus:

O perigo mais óbvio de todos é extrair a conclusão errada do fato de que, como a

graça é soberanamente dada, então podemos deixar tudo com Deus e relaxar. A

verdade é que a graça é dada por meios humanos. É muito significativo que a verdade

25 Ware, “A Compatibilidade do Determinismo e da Liberdade Humana”, 229. 26 Basil Manly Sr., em Southern Baptist Sermons on Sovereignty and Responsibility [Sermões de

Batistas do Sul sobre Soberania e Responsabilidade], ed. Tom Nettles (Harrisonburg, VA: Gano

Books, 1984), 9.

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de Romanos que enfatiza a necessidade de pregar o Evangelho se encontra entre o

nono e o décimo primeiro capítulos que declaram a onipotente soberania de Deus.

Paulo e o mestre que ele serviu declararam a soberania de Deus. Não é negligenciada

a necessidade do trabalho árduo e nem do uso máximo dos meios de graça pelos

quais a graça soberana vem aos homens.27

Conclusão

Embora a discussão anterior sobre os decretos e a providência de Deus seja

importante, pode facilmente ofuscar o que a confissão conclui a partir das doutrinas, a

saber, que declaram a infinita sabedoria, poder e fidelidade de Deus. Em outras palavras,

as afirmações sobre as obras de Deus nos direcionam para afirmações sobre Seu caráter.

Gill observou que “os decretos [de Deus] estão fundamentados na mais profunda sabedoria;

os quais, embora sejam insondáveis por nós, e possam ser inexplicável para nós; ainda

assim elas são, como o apóstolo expressa, falando deles, “a profundidade das riquezas,

tanto da sabedoria quanto do conhecimento de Deus”.28 Do mesmo modo, o teólogo Batista

do século XIX J.L. Dagg ecoou Gill:

O propósito de Deus é infinitamente sábio.... Deus deve ter um propósito por que é

sábio; e, portanto, Sua sabedoria deve estar relacionada ao Seu propósito. Não é um

esquema arbitrário ou caprichoso; mas um esquema concebido pela sabedoria infinita,

tendo o melhor fim possível para realizar, e adotando os melhores meios possíveis

para a sua realização.29

Longe de ser fatalista, a compreensão Reformada dos decretos e providências de

Deus revelam o grande cuidado que Deus tem por Sua criação e que nada, mesmo as

maiores tribulações, está fora dos planos e do controle de Deus. Consequentemente, os

crentes podem confiar que “todas as coisas contribuem juntamente para o bem daqueles

que amam a Deus, daqueles que são chamados segundo o seu propósito”.30 Além disso,

os crentes podem ter confiança nos meios designados por Deus quer para salvação, para

santificação ou evangelização e missões, irão ser bem-sucedidos em cumprir os Seus fins

desejados, isto é, que “aos que predestinou a estes também chamou; e aos que chamou a

27 Errol Hulse, The Believer’s Experience: Maintaining the Scriptural Balance Between Experience

and Truth [A Experiência do Crente: Mantendo o Equilíbrio Bíblico entre a Experiência e a

Verdade] (Grand Rapids, MI: Zondervan, 1980), 54. 28 Gill, Compêndio de Teologia, 256; C.f. Romanos 11:33. 29 Dagg, Manual of Theology [Manual de Teologia], 103. 30 Romanos 8:28.

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estes também justificou; e aos que justificou a estes também glorificou”.31 As grandes

verdades expressas na Segunda Confissão de Fé Batista de Londres consolaram os

Batistas enquanto eles enfrentavam a perseguição no momento de sua escrita, e não

deveria oferecer menos incentivo para os Batistas mais de trezentos anos depois, quando

os meios de comunicação relatam diariamente uma calamidade incomensurável, a

iniquidade e a ascensão e queda das nações. Para o homem piedoso, observou Calvino:

“Seu consolo... é saber que seu Pai Celestial assim sustenta todas as coisas em Seu poder,

assim governa por Sua autoridade e vontade, assim governa por Sua sabedoria, que nada

pode acontecer senão aquilo que ele determina”.32 A Segunda Confissão de Fé Batista de

Londres nos lembra que um Deus todo-sábio e todo-poderoso está dirigindo todas as coisas

para os Seus fins designados e, como tal, a Confissão permanece uma inestimável

expressão da perfeita confluência dos decretos divinos, da providência e das escolhas da

vontade humana.

Sola Scriptura!

Sola Gratia!

Sola Fide!

Solus Christus!

Soli Deo Gloria!

31 Romanos 8:29. 32 João Calvino, Institutas da Religião Cristã, 2 vols., Ed. John T. McNeil e trans. Ford Lewis

Battles (Philadelphia, PA: Westminster Press, 1967), 1:224.

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Claraval

▪ Um Cordão de Pérolas Soltas, Uma Jornada Teológica

no Batismo de Crentes — Fred Malone

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2 Coríntios 4

1 Por isso, tendo este ministério, segundo a misericórdia que nos foi feita, não desfalecemos;

2 Antes, rejeitamos as coisas que por vergonha se ocultam, não andando com astúcia nem

falsificando a palavra de Deus; e assim nos recomendamos à consciência de todo o homem,

na presença de Deus, pela manifestação da verdade. 3 Mas, se ainda o nosso evangelho está

encoberto, para os que se perdem está encoberto. 4 Nos quais o deus deste século cegou os

entendimentos dos incrédulos, para que lhes não resplandeça a luz do evangelho da glória

de Cristo, que é a imagem de Deus. 5 Porque não nos pregamos a nós mesmos, mas a Cristo

Jesus, o Senhor; e nós mesmos somos vossos servos por amor de Jesus. 6 Porque Deus,

que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações,

para iluminação do conhecimento da glória de Deus, na face de Jesus Cristo. 7 Temos, porém,

este tesouro em vasos de barro, para que a excelência do poder seja de Deus, e não de nós. 8 Em tudo somos atribulados, mas não angustiados; perplexos, mas não desanimados.

9 Perseguidos, mas não desamparados; abatidos, mas não destruídos;

10 Trazendo sempre

por toda a parte a mortificação do Senhor Jesus no nosso corpo, para que a vida de Jesus

se manifeste também nos nossos corpos; 11

E assim nós, que vivemos, estamos sempre

entregues à morte por amor de Jesus, para que a vida de Jesus se manifeste também na

nossa carne mortal. 12

De maneira que em nós opera a morte, mas em vós a vida. 13

E temos

portanto o mesmo espírito de fé, como está escrito: Cri, por isso falei; nós cremos também,

por isso também falamos. 14

Sabendo que o que ressuscitou o Senhor Jesus nos ressuscitará

também por Jesus, e nos apresentará convosco. 15

Porque tudo isto é por amor de vós, para

que a graça, multiplicada por meio de muitos, faça abundar a ação de graças para glória de

Deus. 16

Por isso não desfalecemos; mas, ainda que o nosso homem exterior se corrompa, o

interior, contudo, se renova de dia em dia. 17

Porque a nossa leve e momentânea tribulação

produz para nós um peso eterno de glória mui excelente; 18

Não atentando nós nas coisas

que se veem, mas nas que se não veem; porque as que se veem são temporais, e as que se

não veem são eternas.