A Perspectiva
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A Perspectiva Como Forma Simbólica
de Erwin Panofski
INTRODUÇÂO
• Antes de meados do século XIV, o método do eixo de fuga
era já conhecido no Norte da Europa, e o método do ponto
de fuga por alturas dos finais do mesmo século.
Em qualquer dos casos cabia à França a posição de
liderança face aos outros países.
• Foi somente no nível estilístico dos quadros de Jan van
Eyck que se parece ter traduzido, de maneira consciente,
a orientação completamente unificada da totalidade do
plano e, também, nesta altura, do plano vertical.Igualmente
se esboçou a tentativa ousada de libertar o espaço
tridimensional das suas ligações ao plano frontal do quadro.
Esta foi uma proeza absolutamente pessoal realizada por
Jan van Eyck. A perspectiva dos quadros de van Eyck é
ainda “incorrecta”.Embora as ortogonais possam convergir
para um ponto único no interior de todo um plano, essa
convergência não se verifica no interior de todo o espaço.Figura 1. A Anunciação de Jan van Eyck
Figura 2. A Trindade de Masaccio
Figura 3. A Última Ceia de Dirk Bouts (Lovaina, São Pedro;
1464-1467)
BRUNNELLESCHI – MÉTODO EXPERIMENTAL
• Embora, no Norte, se tivesse tomado como ponto de partida os métodos do Trecento italiano, foi por uma via empírica que se chegou à representação «correcta».A prática italiana da perspectiva caracterizou-se pelo recurso às teorias matemáticas.
• É ao arquitecto florentino Filipo Brunelleschi (1377-1446) que se atribui a utilização, pela primeira vez, da aplicação de princípios de geometria e matemática no estabelecimento de leis de percepção visual na perspectiva.
• Brunelleschi decidiu, realizar na praça da Catedral de Florença uma experiência. Assim, pintou sobre uma pequena prancha, a visão urbana que teria um espectador que estivesse à porta da Catedral. Através de um mecanismo de espelho e de um buraco, feito no centro do quadro, demonstrou a sua rigorosa visão em perspectiva, pois apesar dos tamanhos diferentes, conseguiu fazer coincidir o desenho com a realidade (os edifícios). Com esta demonstração Brunelleschi revelou outro aspecto muito importante, que consistiu em descobrir o ponto de fuga (o ponto onde se encontram todas as linhas que desenham a profundidade). Hoje em dia, designa-se este tipo de abordagem por projecção cónica e a projecção é realizada a partir de um ponto donde partem as rectas e deu origem à perspectiva renascentista.
Figura 4. Esboço de um desenho em perspectiva de Brunnelleschi da Igreja do Espírito Santo
ALBERTI – TEORIZAÇÃO DA PERSPECTIVA
• Mais tarde, a passagem da prática experimental da perspectiva à teorização dos seus princípios foi feita por Leon-Battista Alberti (1404-1472) - arquitecto, escultor, pintor e músico florentino - o qual realizou o primeiro trabalho teórico sobre problemas da perspectiva, na obra De Pictura (1435).
• O sistema inventado por Alberti, consistia na utilização de um vidro, perpendicular à mesa de trabalho e no qual estava colado um quadriculado. Noutro quadriculado, na mesa, o artista desenhava o que via através do vidro. A maior dificuldade assentava na necessidade de ver o objecto, a desenhar, sempre exactamente do mesmo ponto. Para isso, era preciso desenhar só com um olho aberto e com o apoio de uma espécie de vara fixa com um orifício, para ter a certeza que observava sempre do mesmo ponto.
MÉTODO DE ALBERTI PARA DESENHAR UM QUADRICULADO EM PERSPECTIVA
• Para desenhar um quadriculado em perspectiva, é preciso ter em conta que todas as linhas perpendiculares ao observador - paralelas entre si – se encontram num ponto.No entanto, isto não é suficiente, para saber desenhar as linhas paralelas ao observador! E foi Alberti que, considerando o ponto na linha do horizonte onde convergem todas as diagonais - elas próprias paralelas entre si – que inventou um método para desenhar fácil e correctamente, um quadriculado em
perspectiva.
• Como o desenho de uma quadrícula, segundo este método dá uma forte noção de perspectiva, é frequente, os quadros desta época, terem o pavimento quadriculado.
• Piero Della Francesca (1410-1492) também redigiu um tratado sobre a perspectiva. Na sua obra, como pintor, aplicou rigorosamente todos os princípios enunciados. Utilizou, no século XV, noções de geometria espacial e recusou-se a representar tal e qual o que via, pelo que podemos afirmar que indicou um caminho à arte abstracta do futuro.
• Alberti e Piero Della Francesca foram dois renascentistas que muito contribuíram para mostrar que até a arte se baseia em matemática.
A INTERPRETAÇÃO DO SENTIDO DE PERSPECTIVA
• A perspectiva é, por natureza, uma espada de dois gumes: cria o espaço que permite que os corpos dêem a impressão de aumentar plasticamente e de possuir movimento, possibilita também a expansão da luz no espaço e a dissolução pictórica desses mesmos corpos.A perspectiva gera a distância entre os seres humanos e as coisas. Assim, a história da perspectiva pode ser entendida, com a mesma legitimidade, de duas maneiras: enquanto vitória de um sentido do real, distanciador, objectivante, ou como triunfo da luta do Homem pelo poder, luta essa que regenera a distância.
• Veio a tornar-se evidente que a interpretação do sentido de perspectiva, própria do Renascimento, diferiu, por completo, da que lhe foi dada pelo Barroco, assim como a da Itália se opôs à das regiões do Norte da Europa.De um modo geral, no Renascimento e em Itália era dada ênfase ao seu significado objectivo, no Barroco e no Norte da Europa privilegiava-se o significado da subjectividade.
Figura 5. Fresco de Pietro Perugino (localizado na Capela Sistina, 1481-1482)
A ACEITAÇÃO DA PERSPECTIVA
• O Próximo Oriente Antigo, a Antiguidade Clássica, a Idade Média e, no fim de
contas, qualquer expressão artística arcaizante (Botticelli, por exemplo) recusaram,
em maior ou menor grau, a perspectiva, uma vez que esta parecia introduzir, num
mundo extra ou supra-subjectivo, um factor individualista e acidental.Quanto ao
Expressionismo (mais recentemente, verificou-se, realmente, uma outra mudança de
direcção), fugiu à perspectiva por opostamente, afirmar defender a pouco
objectividade que até o Impressionismo fora forçado a ocultar à «vontade formativa»
individual, designadamente o espaço tridimensional real.
CONCLUSÃO
Para concluir, diremos que a perspectiva abre a arte ao reino psicológico, no melhor dos
sentidos, porque na alma humana encontra o miraculoso, o derradeiro refúgio e aí é
representado como obra de arte.Sem a visão perspectiva do espaço não teriam surgido
as fantasmagorias do Barroco, tão pouco as pinturas da última fase de Rembrandt
teriam sido possíveis.
A perspectiva parece reduzir o divino a simples tema da consciência humana.Não será,
pois, resultado do acaso que esta visão perspectiva do espaço se tenha imposto no
decurso da história da arte, em dois momentos.Primeiro, assinalou um fim, a queda da
teocracia da Antiguidade.Mais tarde, marcou um começo, o da «antropocracia»
moderna.
BIBLIOGRAFIA
• Panofski Erwin, La Perspectiva
• www.eun.org
• www.wikipedia.pt
Trabalho elaborado por: Daniela Catraia nº 23879