A política contra a servidão voluntária

36
A política contra a servi voluntária Unidade 8 Capítulo 12 Chauí

Transcript of A política contra a servidão voluntária

A poltica contra a servido voluntriaUnidade 8 Captulo 12 Chau

A tradio Libertriao As teorias socialistas modernas so herdeiras da tradio libertria (lutas sociais e polticas populares por liberdade e justia contra a opresso dos poderosos) o Revoltas camponesas, dos artesos no fim da Idade Mdia e incio da Reforma Protestante e da Revoluo Gloriosa o Essas revoltas so conhecidas como milenaristas (Milnio, Bblia) o O anticristo um tirano, Papa, rei, imperador

Contra ele, os pobres se reuniam em comunidades igualitrias, armavam-se e partiam para a luta, pois deveriam preparar o mundo para a chegada triunfal de Cristo, que venceria definitivamente o Anti-Cristo. A esperana milenarista sempre viu a luta poltica como conflagrao csmica entre a luz e a treva, o justo e o injusto, o bem e o mal.

O Discurso da Servido Voluntria La Botie (sec XVI), depois da derrota popular contra os exrcitos e fiscais do rei que vinham cobrar um novo imposto sobre o sal Como possvel que burgos inteiros, cidades inteiras, naes inteiras se submetam vontade de um s, em geral o mais covarde e temeroso de todos. De onde um s tira o poder para esmagar todos os outros?

Duas Respostas 1. Na primeira, La Botie mostra que no por medo que obedecemos vontade de um s, mas porque desejamos a tirania. A sociedade como uma imensa pirmide de tiranetes que se esmagam uns aos outros. Ns tambm desejamos ser tiranos 2. De onde vem o prprio desejo de tirania? Do desejo de ter bens e riqueza, de ser proprietrio. De onde vem o desejo de ter posses? Do desprezo pela liberdade Se amssemos a liberdade, jamais a trocaramos por aquilo que nos escraviza aos outros e nos submetem vontade do tirano

Ao trocarmos nossa liberdade pelas posses aceitamos a servido voluntria. Expresso paradoxal. A vontade livre e os servos so forados submisso. Ns no somos obrigados a servir o tirano, mas desejamos voluntariamente servi-lo porque desejamos bens e a garantia de nossas posses. A Resposta de La Botie basta no dar ao tirano o que ele pede e exige e ele ser derrubado Se no trocarmos nossa conscincia e nossa liberdade pela promessa de satisfao de nosso desejo de posse e mando, nada daremos ao tirano

As teorias socialistas Fundam-se nas relaes e aes sociais recusam a separao entre Estado e Sociedade. A) Socialismo Utpico nova sociedade onde no h propriedade privada, lucro, explorao dos trabalhadores etc. Imaginam novas cidades como grandes cooperativas geridas pelos prprios trabalhadores com liberdade, igualdade, alimentao, escola etc. para todos.

B) Anarquismo (Bakunin) Crtica do individualismo burgus, crena na liberdade e bondade naturais do ser humano (como Rousseau) e sua capacidade natural para viver em comunidade. Sociedade, individualismo e luta so frutos da propriedade privada, da explorao do trabalho e o Estado fruto da dominao do mais forte Sociedade e Estado so antinaturais. Anarquistas propem um retorno vida em comunidades autogovernadas, sem hierarquia e sem autoridade Dois grandes valores: liberdade e responsabilidade Propem a descentralizao e participao direta Internacionalismo sem fronteiras

C) Comunismo ou Socialismo Cientfico Crtica do Liberalismo, do Socialismo Utpico e do Anarquismo Karl Marx e Friedrich Engels Marx compara-se a Maquiavel devido s mudanas que causou Maquiavel desmistificou a teologia poltica e o republicanismo italiano Marx desmistificou a poltica liberal

Economia Poltica Grego Oikonoma administrao da propriedade patrimonial privada Poltica espao pblico da polis Os liberais elevaram a economia a uma atividade de toda a sociedade Poltica, para os liberais, est mais ligada esfera pblica dos negcios entre indivduos

A crtica da economia poltica Apesar das afirmaes greco-romanas e dos liberais, a poltica jamais conseguiu fazer a separao entre propriedade privada e o poder 0 poder poltico sempre foi a maneira legal e jurdica pela qual a classe economicamente dominante de uma sociedade manteve seu domnio O aparato legal e jurdico apenas dissimula o essencial: que o poder poltico existe como poderio dos economicamente poderosos, para servir seus interesses e privilgios e garantir-lhes a dominao social. Divididas entre proprietrios e no-proprietrios (trabalhadores livres, escravos,servos), as sociedades jamais foram comunidades de iguais e jamais permitiram que o poder poltico fosse compartilhado com os no-proprietrios.

As idias de Estado, de Natureza e de direito natural conduziram a duas noes essenciais economia poltica: a primeira a noo de ordem natural racional, que garante a todos os indivduos a satisfao de suas necessidades e seu bem-estar; a segunda a noo de que, seja por bondade natural, seja por egosmo, os homens agem em seu prprio benefcio e interesse e, assim fazendo, contribuem para o bem coletivo ou social. A propriedade privada natural e til socialmente, alm de legtima moralmente. , porque estimula o trabalho e combate o vcio da preguia.

A economia poltica buscar as leis dos fenmenos econmicos na natureza humana e os efeitos das causas econmicas sobre a vida social. Para Adam Smith, a concorrncia ou lei da oferta e procura responsvel pela riqueza das naes e pelo equilbrio entre as esferas privada e pblica

Karl Marx O que a sociedade civil? No a expresso de uma ordem natural e racional No um aglomerado de indivduos cujos interesses sero conciliados atravs do contrato social

A sociedade civil o sistema de relaes sociais que organiza a produo econmica (agricultura, indstria e comrcio), realizando-se atravs de instituies sociais encarregadas de reproduzi-lo (famlia, igrejas, escolas, polcia, partidos polticos, meios de comunicao, etc). o espao onde as relaes sociais e suas formas econmicas e institucionais so pensadas, interpretadas e representadas por um conjunto de idias morais, religiosas, jurdicas, pedaggicas, artsticas, cientico-filosficas e polticas.

A sociedade civil o processo de constituio e reposio das condies materiais da produo econmica pelas quais so engendradas as classes sociais: Proprietrios e trabalhadores (que vendem sua fora de trabalho como uma mercadoria) A Sociedade civil se realiza travs do conflito de classes A sociedade civil a esfera dos interesse privados O Estado no est separado da sociedade

O Estado a expresso legal - jurdica e policial - dos interesses de uma classe social particular: a classe dos proprietrios privados dos meios de produo ou classe dominante. O Estado no vem de Deus ou da Natureza, nem do pacto social, mas a maneira que uma classe dominante garante seus interesses e domnio sobre o todo social O Estado a expresso poltica da luta econmico-social das classes. Amortecida pelo aparato da ordem (jurdica) e da fora pblica (policial e militar).

No capitalismo, o vnculo interno entre poder econmico e poder poltico se tornou evidente. Mas por que as pessoas no percebem isso?

Marx faz duas indagaes: 1. Como surgiu o Estado? Isto ,como os homens passaram da submisso pessoal e visvel a um senhor obedincia ao poder impessoal invisvel de um Estado? 2. Por que o vnculo entre poder econmico e o poder poltico no percebido pela sociedade, sobretudo pelos que no tm poder econmico nem poltico?

Ambiente A burguesia se organiza no Estado Liberal Os trabalhadores se organizam em associaes e sindicatos (eclodem guerras e greves) Consolidam-se os estados nacionais e naes (lngua e territrio) Hegel e a teoria de que o estado a superao daquilo que bloqueava o desenvolvimento do esprito humano (isolamento e interesses privados)

Marx e a Gnese do Estado Os seres humanos se distinguem dos animais pelo trabalho Produzem as condies de sua existncia. So produtores. Mas as condies da produo no so escolhidas livremente. So dadas historicamente Marx diz que os homens fazem sua prpria Histria, mas no a fazem em condies escolhidas por eles. So historicamente determinados pelas condies em que produzem suas vidas

A produo material e intelectual da existncia humana depende de condies naturais (as do meio ambiente e as biolgicas da espcie humana) e da procriao A produo e a reproduo das condies de existncia se realizam atravs do trabalho (relao com a Natureza), da diviso social do trabalho (intercmbio e cooperao), da procriao (sexualidade e instituio da famlia) e do modo de apropriao da Natureza (a propriedade).

Histria dos Meios de Produo Cada poca -> uma sociedade e uma forma produtiva segundo a diviso do trabalho Famlia (diviso sexual); agricultura .vs. pastoreio; comrcio; campo .vs. cidade etc. Em cada uma, novas divises do trabalho A diviso do trabalho se manifesta atravs da propriedade Diviso entre meios de produo e fora produtiva

Marx percebeu que a cada modo de produo a conscincia se transforma A cada poca, um modo da conscincia representar e interpretar a realidade material No so as idias humanas que movem a Histria, mas so as condies histricas que produzem as idias. Base material e superestrutura jurdica e poltica (materialismo histrico) Histria no linear (causa e efeito), mas fruto das contradies dos meios de produo (materialismo dialtico)

Estado Qual a gnese do Estado? Conflitos entre proprietrios privados dos meios deproduo e contradies entre eles e os no -proprietrios(escravos, servos, trabalhadores livres). Os conflitos entre proprietrios e as contradies entre proprietrios e no-proprietrios aparecem para a conscincia social sob a forma de conflitos e contradies entre interesses particulares e o interesse geral. Aparecem dessa maneira, mas no so realmente como aparecem. Onde h propriedade privada, h interesse privado e no pode haver interesse coletivo ou geral.

Os proprietrios esto em competio entre si, mas precisam de regras Tambm precisam organizar seus conflitos com os no-proprietrios de forma que paream legtimos. Da criam o Estado separado e independente Se o Estado aparece como distante, impessoal e voltado ao bem comum, o povo no se revolta contra a dominao

Segunda questo A Ideologia A conscincia humana sempre social e histrica Nossas idias, historicamente determinadas, tm a peculiaridade de nascer a partir de nossa experincia social direta A marca da experincia social oferecer-se como uma explicao da aparncia das coisas como se esta fosse a essncia das prprias coisas Aparncia invertida - o que causa parece ser efeito, o que efeito parece ser causa (no s no plano individual)

O fenmeno da alienao O trabalhadores produzem todas as mercadorias. Mas as entregam aos proprietrios em troca de salrio Quando vo ao mercado, no conseguem comprar essas mercadorias acreditam que os preos existam por si mesmos e que as mercadorias esto venda porque algum decidiu vend-las Os trabalhadores no se reconhecem como produtores da riqueza

A inverso entre causa e efeito, princpio e conseqncia, condio e condicionado leva produo de imagens e idias que pretendem representar a realidade. As imagens formam um imaginrio social invertido um conjunto de representaes sobre os seres humanos e suas relaes, sobre as coisas, sobre o bem e o mal, o justo e o injusto, os bons e os maus costumes, etc. Tomadas como idias, essas imagens ou esse imaginrio social constituem a ideologia.

A ideologia um fenmeno histrico-social decorrente do modo de produo econmico O modo de diviso se repete e se fixa e parece natural (p. ex. fao isso pq tenho talento). Naturalizao das relaes sociais A sociedade surge como uma fora natural estranha e poderosa Diviso do trabalho produz separao entre produo de coisas e de idias Idias aparecem como separadas e independentes das coisas Idias explicam a realidade e idias criam a realidade

Mas o grupo dos pensadores nasceu da diviso social, da classe dominante e possui as idias da classe dominante O grupo pensante difunde suas idias atravs da igreja, da escola etc. As idias so colocadas como existentes por si (independentes da realidade). Existem na sociedade, concretamente, capitalistas e trabalhadores, mas na ideologia aparece abstratamente o Homem

A ideologia propriamente dita surge quando, no lugar das divindades e mitos para explicar a realidade (anterior e fora), encontramos as idias: o Homem, a Ptria, a Famlia, a Escola, o Progresso, a Cincia, o Estado, o Bem, o Justo, etc. Com a ideologia, a explicao sobre a origem dos homens, da sociedade e da poltica encontra-se nas aes humanas, entendidas como manifestao da conscincia ou das idias

Assim, por exemplo, julgar que o Estado se origina das idias de Estado de Natureza, direito natural, contrato social e direito civil supor que a conscincia humana, independentemente das condies histricas materiais, pensou nessas idias, julgou-as corretas e passou a agir por elas, criando a realidade designada e representada por elas.

A ideologia oferece uma imagem que permite a unificao e a identificao social uma lngua, uma religio, uma raa, uma nao, uma ptria, um Estado, uma humanidade, mesmos costumes. A funo da ideologia ocultar a origem da sociedade (relaes de produo como relaes entre meios de produo e foras produtivas sob a diviso social do trabalho), dissimular a presena da luta de classes (domnio e explorao dos no-proprietrios pelos proprietrios privados dos meios de produo), negar as desigualdades sociais (so imaginadas como se fossem conseqncia de talentos diferentes, da preguia ou da disciplina laboriosa) e oferecer a imagem ilusria da comunidade (o Estado) originada do contrato social entre homens livres e iguais.

A ideologia a lgica da dominao social e poltica. Porque nascemos e somos criados com essas idias e nesse imaginrio social, no percebemos a verdadeira natureza de classe do Estado No vemos as verdadeiras relaes sociais por causa da ideologia

Praxis e Revoluo Mercadoria Valor de uso Valor de troca Tempo social Mais valia Lucro e acmulo de capital