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César Steffen A Política nos espaços digitais: a campanha Presidencial de 2002 na Internet Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS 2004

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A Política nos espaços digitais: a campanha Presidencial de 2002 na Internet

Universidade do Vale do Rio dos Sinos - UNISINOS

2004

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Dissertação de Mestrado

Orientador: Prof. Dr. Antônio Fausto Neto

Programa de Pós-Graduação em Ciências da Comunicação

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A Política nos espaços digitais

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Sumário Introdução...............................................................................................................8 I – A midiatização da política na esfera pública contemporânea ....................21 1. Esfera Pública como uma instância de mediação midiatizada ....................22 2. A midiatização da política e as questões operativas......................................40 3. As eleições e a política midiatizada.................................................................48 Referências Bibliográficas ...................................................................................62 II – A midiatização da política na Internet........................................................65 1. Espaço digital, um novo componente da esfera pública ...............................66 2. Relações políticas no espaço digital ................................................................82 3. O espaço digital e os processos eleitorais .......................................................96 Referências Bibliográficas .................................................................................107 III- A midiatização da campanha Presidencial de 2002 via Internet ............111 1. A eleição Presidencial 2002 em quatro dimensões contextuais: o jurídico, o comunicacional, o econômico e o tecnológico ...............................................112 2. Uma leitura da campanha política nos espaços digitais .............................135 3. 1o turno: os websites no HPEG. ...................................................................144 3.1.Mapeamentos, caracterizações e representações ......................................162

3.1.1.Lula 13: “Bote fé e clique Lula”................................................................. 163 3.1.2- Zé Maria 16: Candidatos-comentaristas e suas bandeiras de luta ............ 173 3.1.3. Ciro 23: EU no menu................................................................................. 180 3.1.4 – Rui Costa Pimenta 29: Lênin, Che Guevara, ... os ideólogos ................. 188 3.1.5.Garotinho 40: O partido pegou uma carona ............................................... 198 3.1.6. Serra 45: “Trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho ... pra gente!” 207 3.1.7 – Cruzamento entre estratégias políticas e a linguagem dos websites ....... 215

3.2.Agendamentos e cruzamentos.....................................................................222 3.2.1. Lula 13: Marcas da publicidade e do discurso jornalístico ....................... 219 3.2.2. – Zé Maria 16: retorno ao discurso político dos anos 70 .......................... 231 3.2.3. Ciro 23: discurso associando à mudança com segurança.......................... 237 3.2.4. Rui Costa Pimenta 29: formato anos 70 com tecnologia anos 90 ............. 249

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3.2.5. Garotinho 40: quem é o vice?.................................................................... 251 3.2.6. Serra 45: o HPEG na Internet.................................................................... 261 3.2.7 – As diferentes construções de campanha se mostram nas páginas iniciais ................................................................................................................. 274

4. 2o Turno: novas estratégias nos espaços digitais ........................................277 4.1. Mapeamentos, caracterizações e representações .....................................278

4.1.1. Lula 13: “Programa de Governo”.............................................................. 279 4.1.2. Serra 45: é verde-amarelo.......................................................................... 280 4.1.3 – A continuidade versus as mudanças ........................................................ 283

4.2.Agendamentos e Cruzamentos....................................................................284 4.2.1. Lula 13: co-determinado por outros discursos .......................................... 284 4.2.2.Serra 45: Foco no debate ............................................................................ 287 4.2.3 – As estratégias redesenham os websites ................................................... 292

5. Encerrada a contagem, a posse no espaço digital........................................293 6. Websites: um novo suporte para as (diferentes) estratégias de campanha294 Referências Bibliográficas ................................................................................304 IV – Conclusão ...................................................................................................306 V - Bibliografia ...................................................................................................322 Anexo I – Glossário de Termos Anexo II – Conteúdo do CD de anexos

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Resumo

Esta dissertação é fruto de um projeto de pesquisa e análise que

investiu sobre o websites dos candidatos a Presidência da República no pleito

Brasileiro de 2002. Aqui entendemos a Internet como um meio de comunicação, o

que nos leva a construir um aparato teórico-metodológico que direcione a

compreensão do meio a partir dos processos discursivos mobilizados pelos

candidatos.

Foram acompanhados, descritos e analisados os websites dos seis

candidatos ao primeiro turno, e dos dois do segundo turno, a partir de dois

conjuntos específicos oriundos dos mesmos objetos. O primeiro conjunto

contempla a análise das ofertas discursivas acessadas a partir dos menus de

navegação. Já o segundo conjunto se foca nos investimentos e destaques das

páginas iniciais dos websites.

Os resultados mostram a diversidade de recursos e elementos que este

meio traz para os processos de comunicação, que se constroem a partir das

identidades, propostas e estratégias dos candidatos. Demonstram que a Internet,

mesmo sendo uma mídia, apresenta especificidades em seus investimentos no

sentido das demarcações territoriais do campo político e da necessidade da

configuração de amplas ofertas discursivas nestes espaços. Além disso, apontam

para a construção dos espaços dentro de um cenário maior, onde a tecnologia é a

base para os processos discursivos do campo político.

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Abstract

This work is the result of a project of research and analysis that

invested on the websites of the candidates in the Brazilian Presidential Campaign

of 2002. Here we understand the Internet as a media, what makes us take a

method that directs the understanding to the communication processes mobilized

by the candidates.

We had described and analyzed the websites of the six candidates to

the first voting turn and of the two at the second, from two deriving specific sets

of same objects. The first set contemplates the analysis of the contents accessed

from the navigation menus. The other focus in the investments and prominences

of the home pages.

The results show the diversity of resources and elements that this

media brings for the strategical processes of political communication, constructed

from the identities, proposals and strategies of the candidates. It also allows to see

that the Internet presents particularities in its investments, in the direction of the

territorial landmarks of the politics, and the need of greaters offers in these spaces.

Moreover, they point to the construction of the spaces in a bigger scene, where the

technology is not the main element for the communication process.

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Introdução

“Inovar não é reformular”.

Edmund Burke, pensador político (1739-1797)

Falar de política é também falar de paixão. E paixões são sentimentos,

são emoções, onde a racionalidade e a critica perdem espaço para o impulso, a

determinação e a vontade. Como, então, falar academicamente desta paixão,

mantendo o olhar crítico, a análise isenta e atentando pra os fenômenos, as

especificidades e as injunções que mostram dentro de um campanha eleitoral?

Este é desafio que nos propomos a cumprir neste trabalho que aqui iniciamos.

Falar de campanha política e mídia reflete esta paixão, onde qualquer

movimento e ação de ambos os lados é motivo para acalorados debates e

discussões. Como, então, falar de política na Internet, uma nova mídia que surgiu

no apagar das luzes do século passado trazendo novos e diferenciados processos, e

a qual alguns creditam novos processos, novas aberturas e liberdade e outros

enxergam um novo inferno de restrições, privações e controles?

Este é, de forma bastante geral e aberta, o desafio que se colocou a

nossa frente em nosso percurso como profissionais de comunicação e usuários do

meio, e que decidimos enfrentar e cumprir ao iniciar esta pesquisa, trabalho que

buscamos apresentar aos leitores neste capítulo introdutório.

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Se nos propomos a analisar uma – já não tão - nova mídia e seu uso e

manipulação1 pelo campo político, um trabalho relativamente novo pelo menos

em termos de Brasil, devemos ressaltar que nos inserimos numa longa linha de

pesquisas sobre as relações da comunicação midiática e da política.

Trabalhos deste gênero ganham impulso, no Brasil, com a re-

democratização na década de 1980, e têm na campanha das “diretas já” e nas

primeiras eleições diretas para Presidência, em 1989, dois momentos-chave,

sobretudo no tocante às relações entre as redes de comunicação televisivas e o uso

da propaganda para a construção das imagens e visibilidades das várias

candidaturas.

Além disso, com a derrocada da chamada “lei Falcão2” os atores do

campo político ganharam novamente o direito de usar e manipular as linguagens

midiáticas em seus processos de comunicação política e eleitoral, construindo

assim suas imagens e projetos dentro da lógica midiática de ação.

Neste mesmo momento histórico a mídia livra-se das amarras da

censura e, sob a bandeira da liberdade, da democracia e da livre expressão, passa a

apresentar fatos, agendar processos e até mesmo, em alguns casos, fabricar a

realidade a seu modo, passando a pautar e influir de forma mais ativa e direta

sobre os processos sociais e políticos. Basta lembrar do episodio da edição, pela

Rede Globo, do debate Lula-Collor, em 1989, para termos um exemplo deste

processo.

Eis um dos pontos que desperta o interesse acadêmico sobre a mídia e

suas operações, pois seu vertiginoso crescimento nas sociedades contemporâneas

coloca-a na posição de importante - se não o principal - operadora da produção,

circulação e negociação dos processos sociais em várias instâncias.

A mídia confere visibilidade, insere demandas e discussões na esfera

pública, ampliando as áreas de conflito dos diversos campos sociais e tornando-se

elemento de configuração e agendamento nas sociedades em que se insere.

1 Por manipulação entendemos, aqui, a utilização dos recursos tecno-lingüísticos de uma mídia pelo campo político como forma de se fazer visível aos demais campos. 2 Para fins de recordação cabe colocar que a chamada “Lei Falcão”, que leva o apelido do seu elaborar, o então ministro da Justiça Armando Falcão, foi promulgada pelo regime militar após a derrota nas eleições legislativas de novembro de 1974, limitando drasticamente o acesso de candidatos ao rádio e à televisão, com o fim de evitar mais uma vitória oposicionista nas eleições municipais de 1976. Esta lei permitia aos partidos apenas mencionar a legenda, o curriculum vitae e a foto do candidato nos horários de propaganda eleitoral obrigatória, e perdurou até o pleito de 1982.

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Os atores e meios do campo midiático, sobretudo a televisão por seu

poder de alcançar a coletividade de um país através de suas redes técnicas, passa a

operar as relações entre os vários atores, campos e instituições sociais

constituintes de um estado-nação.

Este fenômeno resignifica e tensiona vários processos, especialmente

o fazer político, que cada vez mais depende dos espaços, linguagens, estratégias e

do próprio agendamento da mídia para efetuar suas operações e circular seus

fazeres junto à sociedade como um todo.

O surgimento de um novo meio, a Internet, traz um novo desenho e

elemento a este processo no momento em que os atores e integrantes do campo

político passam a usar da rede para seus fazeres e estratégias. Este fator, por si só,

já nos justifica empreender este estudo.

Entretanto também lembramos que a Internet nasceu no ambiente

militar para suprir as necessidades de comunicação no caso de uma guerra em

larga escala, e ao ser apropriada primeiramente pelo meio acadêmico-científico e,

posteriormente, pelos mais diversos atores e campos sociais, ganha status e

reconhecimento como meio de comunicação.

Esta apropriação faz a rede ganhar recursos e ferramentas, evoluindo

técnica e lingüisticamente, formando um mercado discursivo em suas redes

técnicas e possibilitando o acesso plural a mensagens inseridas pelos mais

diversos campos3. Assim, a Internet configura-se como um meio de comunicação

e integra-se ao campo midiático, passando a ser elemento de conflito e re-

posicionamento dos players de mídia, empresas de comunicação e de diversos e

diferenciados campos sociais, que usam seus recursos e tecnologias como parte de

suas estratégias comunicacionais.

Pode-se aqui questionar o uso de meio e mídia para conceituar a

Internet, argumentando ser mais um suporte e uma tecnologia a serviço de

estratégias de campos sociais. Entretanto adiantamos que, em nossa visão, as

palavras suporte, tecnologia, ambiente e mesmo instrumento se mostram como

sinônimos de meio e mídia, sendo diferentes formas de referir a um mesmo

elemento e processo. Nos permitiremos, inclusive, como forma de evitar 3 Esta questão, ou seja, a evolução e transformação da Internet em mídia será tratada mais profundamente em nossos capítulos teórico, mas especificamente na parte II.

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repetições n textos, utilizar tais denominações para nos referimos ao meio

Internet.

A Internet cresce, ganha adeptos, usuários, estudos acadêmicos e

mercadológicos, espaço nas diversas mídias e torna-se uma nova instância dos

processos de midiatização, onde diversos e diferenciados espaços e recursos se

formam e influem na esfera pública contemporânea.

Por isso a Internet provoca e mesmo traz o anseio por estudos dos

processos de comunicação que ocorrem sobre suas tecnologia. Assim, a partir do

campo político, seus usos, fazeres e manifestações no meio, buscamos

compreender o seu papel e valor como elemento dos processos de comunicação

política, onde o processo eleitoral surge como a oportunidade de obter um recorte

temporal, histórico, com um cenário bem definido para observação e análise.

Nestes espaços as demandas dos diversos usuários e campos se

encontram, se mostram e se somam, articulando seus processos de interação e

negociação. Cada campo, ator e instituição tem a possibilidade de construir e

disponibilizar espaços de comunicação a partir de suas agendas, processos e

intenções, que se tornam assim determinantes da formatação e inserção de

conteúdos, recursos e discursos.

O campo político não foge a este processo, e já em 19974 os partidos

Brasileiros passaram a usar a rede em suas estratégias de comunicação. Em 1998,

ano da primeira eleição após o surgimento da Internet comercial no Brasil, o meio

esteve presente nas campanhas eleitorais Brasileiras, com os candidatos utilizando

os seus recursos como parte integrante de suas estratégias.

Para fins de ilustração cumpre citar que o então candidato a re-eleição,

Fernando Henrique Cardoso disponibilizou um website com as mais variadas

informações e conteúdos, e seu principal adversário, Luís Inácio Lula da Silva,

utilizou o website do seu partido para divulgar informações e atacar a

administração e as propostas de FHC.

Na corrida Presidencial Brasileira de 2002 o uso da Internet,

especialmente dos websites, como meio estratégico de comunicação político-

eleitoral ganhou nova dimensão, pois todos os candidatos, instituições e atores do 4 Devemos ressaltar, aqui, que não ignoramos a possibilidade de ter havido uso da internet como meio de comunicação política antes de 1997, mas desconhecemos experiências e relatos formais.

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campo político disponibilizaram estes espaços buscando cumprir suas agendas,

intenções e estratégias frente ao processo.

Nos propomos, então, neste trabalho, a contribuir com os processos

acadêmicos de pesquisa e reflexão sobre Internet e política a partir do estudo de

estratégias de comunicação dos candidatos a Presidência no pleito de 2002.

Focando-nos nos websites, onde buscaremos identificar as possíveis

funções dos mesmos, e também as tensões, negociações, agendamentos,

cruzamentos e mesmo conexões que se colocam frente ao campo político quando

adentra a esta mídia e passa a fazer uso de seus recursos como suporte e espaço de

visibilidade de suas estratégias e fazeres eleitorais.

Vemos, neste trabalho e no recorte histórico em que se insere, a

oportunidade de analisar uma nova modalidade de visibilidade e discursividade

política, que se dá e se faz através dos websites da Internet, elemento ainda

academicamente pouco estudado, pelo menos em termos de Brasil, mas que ,

conforme algumas pesquisas indicam5, já ganha valor e relevância junto aos

eleitores e usuários do meio.

É importante colocar que esta pesquisa nasce de um questionamento

que surge em nosso percurso como profissionais da comunicação e usuários da

Internet. Se observarmos historicamente notaremos uma relação muito próxima

entre os sistemas de circulação de informação e de comunicação e as estruturas de

poder de uma sociedade.

A imprensa, o cinema, o rádio e a televisão trouxeram novas formas

de relação e novos ordenamentos entre o campo político e a sociedade. Basta

lembrar dos filmes de propaganda nazista ou da cobertura, via satélite, da guerra

do Vietnã pelas emissoras norte-americanas para termos alguns breves exemplos

do poder e papel da mídia na sociedade.

O surgimento e crescimento da Internet, que evolui de sistema de

transmissão de dados para tornar-se um meio de comunicação, nos leva a

questionar o papel deste meio e sua tecnologia nas estruturas de poder da

sociedade, ou seja, que novidades ou possíveis tensionamentos, re-

5 Trataremos tais pesquisas em detalhes nos capítulos seguintes.

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posicionamentos e fenômenos o advento e ascensão deste novo espaço de

comunicação e interação traz aos campos e processos sociais na modernidade.

Adiantamos que não cremos, logicamente, que a tecnologia do meio,

em si, possa trazer tais re-ordenamentos. Temos, sim, que os padrões de relação e

interação entre cidadãos e instituições dos vários campos sociais que surgem ou

ganham nova roupagem a partir desta tecnologia podem trazer novos elementos

aos processos sociais, que devem se investigados em seu surgimento e

desenvolvimento.

Assim, nos focamos num processo eleitoral por ser um momento de

forte aproximação, tensionamento e visibilidade pelo campo político frente a

sociedade como um todo. Da mesma forma, justificamos o recorte do processo

eleitoral de 2002 não só, como já nos referimos, por ser um momento onde a

Internet ganha destaque junto a campanha mas, principalmente, por tratar-se de

um momento de forte expansão do meio Internet no Brasil, chegando a atingir

quase dez porcento da população nas mais diversas classes e segmentos.

Como hipóteses de trabalho temos, primeiramente, que na eleição

Presidencial de 2002 o campo político acoplou-se a vários outros campos tendo

em vista as necessidades e especificidades de operação desta nova modalidade de

visibilidade de seus discursos e processos, os websites da Internet.

Vemos também que, nesta eleição, os websites dos candidatos a

Presidência refletiram as estratégias de campanha de cada candidato, buscando

antecipar e atender as expectativas e anseios dos diversos e diferenciados usuários

da Internet. Para tanto, o campo político configurou amplas e variadas ofertas de

conteúdos que ampliaram seus discursos, e onde a seleção e inserção de elementos

e enunciados das diversas mídias para os websites operou uma expansão dos

possíveis efeitos de mídia.

Objetivamos examinar as formulações e funcionamento das

estratégicas tecno-midiáticas construídas pelos candidatos na corrida Presidencial

de 2002 no meio Internet. Buscamos, assim:

a) descrever as estratégias de comunicação dos candidatos à

Presidência da República desenvolvidas no meio Internet durante

o pleito de 2002;

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b) descrever as estratégias de construção do discurso político via

Internet e seu papel no relacionamento entre os vários campos

sociais

c) examinar as estratégias de interação entre o campo político,

midiático e sociedade por meio dos protocolos comunicacionais da

Internet;

d) compreender as conexões e acoplamentos dos e aos demais

campos sociais que o campo político operou e fez visível nos

websites.

Para cumprir tais objetivos desenvolvemos uma série de

procedimentos metodológicos que compreendem desde a seleção de espaços, a

coleta de dados até a análise e descrição dos mesmos, que permeiam e se fazem

presentes na construção deste trabalho.

Primeiramente, cabe colocar que o acompanhamento dos websites dos

Presidenciáveis não tratou-se de um decisão prévia ou posta, mas que surgiu

durante nosso processo contato e pré-observação.

Este iniciou-se antes mesmo do ingresso no curso de pós-graduação

com alguns passos e ações voluntárias, quando tínhamos a curiosidade de

observar a validade ou mesmo a efetivação de algumas propostas e modelos

teóricos sobre o papel social da Internet que se apresentavam em várias

instâncias6.

Paralelamente buscamos teorias que nos oferecessem elementos para o

aprofundamento deste olhar inicial sobre o meio Internet e sobre a mídia em geral,

sendo provocados por várias leituras e visões diferenciadas.

Nestas observamos que as ações da política na mídia forneciam

elementos e teorizações instigantes. Além disso, observamos uma forte

insipiência, em termos de Brasil, dos estudos sobre o uso e manipulação dos

websites por parte da política, o que nos levou a direcionar nossos esforços para

este meio.

6 Lembramos, aqui, de propostas como a “inteligência coletiva” e da “E-democracia” de Lévy e da “Agora Virtual” de Celso Cândido, conceitos que estarão tratados e aprofundados em nosso quadro teórico.

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Identificamos, então, vários websites de vários partidos, a que

acompanhamos e observamos com olhar mais crítico, estando já envolvidos com

as atividades de mestrado.

Neste momento, já no primeiro semestre de 2002, quando começavam

os primeiros movimentos do campo político frente ao pleito e vários pré-

candidatos nos vários níveis já disputam e ocupavam espaço na mídia,

selecionamos vários espaços do campo político na Internet, abrangendo desde os

partidos em nível nacional até os comitês gaúchos7.

Nesta fase inicial de pré-observação vimos que praticamente todos os

partidos investiam sobre os websites na Internet, apresentando as mais variadas

informações, mas poucos reservavam espaço ao processo eleitoral que começava

a se desenhar.

Em sentido contrário, alguns então possíveis candidatos a Presidência,

como Ciro Gomes, já mostravam seus websites, apresentando propostas e projetos

em espaços que contemplavam uma ampla variedade de conteúdos e elementos.

Neste mesmo momento a mídia já reservava espaço e destaque as

convenções e pré-candidaturas em nível nacional, dando relevância e alta

visibilidade a corrida Presidencial, percepção que, somada a necessidade de

estabelecer o máximo de foco a este trabalho, nos levou a concentrar esforços nos

websites dos candidatos a Presidência.

Adotamos como procedimento de pré-observação o contato diário

com os websites e a captura de telas, relatando mudanças e elementos presentes

nos mesmos, que nos trouxeram elementos e dados que nos forneceram dados,

percepções e inferências que permitiram estabelecer um roteiro metodológico de

procedimentos de análise.

Assim, duas semanas antes ao início do HPEG no rádio e na televisão,

iniciamos a fase de observação, mantendo o procedimento metodológico de

acompanhamento diário e captura de telas, mas agora olhando para os mesmos

tendo em mente uma definição de dois conjuntos de análise distintos e algumas

categorizações surgidas na pré-observação. 7 Em nível nacional, observamos os websites do PT, PSDB, PMDB, PSB, PDT e PPS, além do website do então pré-candidato Ciro Gomes que estava disponível desde fevereiro de 2002. Em nível de Rio Grande do Sul acompanhamos os websites do PT, PMDB, PTB, PPS, PSB, PPS e PPB, todos partidos com representatividade e potencial para influir e gerar candidatos próprios no pleito de 2002.

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Estes dois conjuntos surgiram de nossas percepções quanto a

variedade de processos e elementos dos websites. Por um lado os menus de

navegação apresentavam uma ampla e variada quantidade de conteúdos para

acesso, enquanto as páginas iniciais ao mesmo tempo em que destacavam e

davam força a alguns destes conteúdos demonstravam ou refletiam o cenário geral

da campanha, sendo pautadas pelas mais diversas fontes e campos.

Optamos então por dividir os objetos frente às estas especificidades,

surgindo os dois conjuntos para análise que serão tratados em capítulos

específicos, ordenados de forma a ofertar não só uma visão das especificidades

das estratégias e elementos mobilizados por cada candidato, mas também para

permitir comparações e generalizações a partir destas especificidades.

Organizamos, então, nosso trabalho em três grandes partes compostas

de capítulos específicos. Na primeira nos ocupamos de refletir sobre a

ascendência da mídia como elemento de estruturação da esfera pública de debates,

os fenômenos e elementos que este processo coloca para os processos políticos e

democráticos contemporâneos.

No primeiro capítulo desta parte primeiramente conceituamos campos

sociais e identificamos os campos envolvidos num processo eleitoral, centro de

nosso trabalho. A seguir enfocamos as formas e processos de relação destes

campos nesta esfera pública e a interferência da mídia nos processos de interação,

negociação e visibilidade política que circulam e se fazem na sociedade.

No capítulo seguinte analisaremos as especificidades da mídia como

operadora das visibilidades da política, as tensões, relações e interações que se

formam pela sua ascendência nas sociedades contemporâneas. Já no capítulo três,

colocamos as especificidades das eleições como elemento e processo da política

midiatizada e os desafios que assim surgem, identificando as operações

estratégicas, discursivas e acoplamentos que este opera dentro da marca temporal

da eleição.

Na parte dois, através da visita e debate entre autores e teorias que

analisam os processos e fenômenos da Internet, buscamos compreender a

evolução e articulação desta tecnologia ao campo midiático, e seu papel enquanto

instância dos processos de midiatização, mediação e interação dos processos

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políticos. Nos propomos a olhar o meio na ótica de fenômenos e processos

comunicacionais e discursivos, passando ao largo de determinismos tecnológicos

que, em nossa opinião, apenas embaçam a visão e atrapalham a compreensão dos

processos que ocorrem no meio.

No capítulo um desta parte nossa análise passará por conceitos como

ciberespaço, interação e interatividade, onde buscamos demarcar conceitualmente

um novo elemento e componente dos processos de midiatização que se forma na

esfera pública contemporânea, o espaço digital.

Já no capítulo dois buscamos identificar e conceituar os novos

protocolos e fenômenos comunicacionais que este espaço digital oferta ao campo

político em sua relação com os demais campos sociais. No capítulo três, que

encerra esta parte, levantamos os possíveis benefícios e efeitos de mobilização do

espaço digital num processo eleitoral, e os acoplamentos operados pelo campo

político neste processo de adentramento ao mesmo.

A terceira parte desta dissertação contempla procedimentos

específicos de descrição e análise, onde apresentamos nosso trabalho empírico, ou

seja, os elementos colhidos e verificados nos websites dos candidatos a

Presidência da República no pleito de 2002.

Nos apoiamos, neste bloco, em uma variedade de dados e informações

referentes a este pleito colhidas junto à mídia, à instituições como o TSE e,

principalmente, nos websites dos candidatos, materiais estes onde buscamos uma

leitura das características e especificidades deste novo meio de comunicação

política.

Para tanto inicialmente apresentamos algumas dimensões contextuais

do pleito de 2002, fazendo referência ao cenário geral levantando informações,

como candidaturas que se apresentaram mas não tiveram seqüência, alianças

efetuadas, os valores arrecadados e gastos pelos candidatos e também as

regulações da legislação eleitoral. Objetivamos, com isto, traçar um quadro geral

da campanha Presidencial, onde destacaremos o tratamento e papel da Internet

neste pleito.

A seguir, no capítulo dois, apresentamos nossa estratégia de leitura

dos materiais, colocando desde mais detalhes e informações sobre nosso processo

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de pré-observação como também nossos objetivos com estas análises, recortes

temporais e as seleções e categorizações efetuadas e de onde estas surgem.

Isto posto, passamos as análises dos websites propriamente ditas,

organizadas em capítulos que contemplam dos dois conjuntos de análise já

citados. Nestes, primeiramente tratamos cada candidato individualmente, pois

desejamos o máximo aprofundamento e compreensão das especificidades,

estratégias e elementos de cada website. A seguir, efetuamos alguns comentários e

comparações gerais que demonstrem e apresentem as diferentes estratégias e

recursos destes websites.

Caba ressaltar que, como pode ser notado em nosso sumário,

dividimos as análises destes dois conjuntos em primeiro e segundo turno.

Tomamos tal decisão pois entre estes ocorre um re-ordenamento das forças e

processos políticos que deve, assim, ser identificada e compreendida.

Entretanto, uma vez que muitos processos e elementos observados nos

websites durante o primeiro turno se repetem no segundo, evitamos efetuar tais

repetições para evitar redundâncias e mesmo um excessivo alongamento do texto,

focando nos elementos que são alterados, adicionados ou redesenhados neste novo

turno.

Encerramos a parte três traçando comparações gerais sobre as

estratégias de uso da Internet pelos candidatos no pleito de 2002, identificando

elementos em comum, conteúdos e estratégias específicas, elementos relevantes e

experiências identificadas, de forma a compreender, de forma geral, o papel deste

meio como elemento de midiatização da campanha eleitoral de 2002. Neste

capítulo nos permitiremos inclusive apresentar elementos que fogem as

categorizações criadas, mas que apresentam relevância para o processo de análise

e compreensão, fato que será explicitado no texto.

Estas três partes se articulam dentro de um estratégia metodológica de

construção, que visa explicitar as questões, processo e fenômenos da midiatização

da política contemporânea.

Os dois primeiros blocos formam o eixo teórico-conceitual do

trabalho, evidenciando as relações e fenômenos da midiatização da política, sendo

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que a segunda parte espelha esta primeira em sua estrutura, porém focando nas

questões específicas da midiatização da política no meio Internet.

Já o terceiro bloco, que traz o processo de leitura e análise dos dados

obtidos e coletados nos websites dos candidatos à Presidência no pleito de 2002,

tem sua construção embasada e balizada pelas reflexões apresentadas nestas duas

partes.

Estas três estruturas se somam em nossa conclusão, onde recuperamos

os elementos anteriormente tratados e apresentamos os conceitos, visões e

percepções que ficam para nós deste processo de pesquisa e dissertação> Neste

momento nos permitiremos construir, a partir dos elementos destes três blocos,

generalizações sobre websites e suas funções, processos e procedimentos não só

para ao campo político mas para a sociedade como um todo.

Ao final de cada parte inserimos as referências bibliográficas, de

forma a facilitar o manuseio e a utilização do texto por parte do leitor. Em anexo

colocamos alguns dados e informações gerais, como um glossário de termos

técnicos da Internet, que pode ser consultado em caso de dúvidas, as leis e

resoluções que regularam o pleito de 2002, pesquisas utilizadas, e demais

informações que acreditamos ser de interesse do leitor.

Durante o texto muitos dados e informações de grande valor e

relevância para a pesquisa e para a compreensão do processo eleitoral de 2002

estarão citadas em nota de rodapé. Trata-se de uma decisão processual, na medida

em que o tratamento e aprofundamento de tais informações não só levaria a um

aumento do volume dos textos como um todo, mas principalmente poderia levar a

uma perda de foco, com o risco de tornar a leitura confusa.

Assim, tais elementos estarão presentes, acompanhando o texto, na

posição de coadjuvantes, o que não quer dizer que sejam menos importantes ou

menos relevantes para a compreensão do processo, mas apenas que nossa

estratégia de construção do texto os coloca em tal posição.

Cabe ressaltar também, neste ponto, que efetuamos um estudo de

produção, ou seja, dos atos, estratégias e processo mobilizados pelo campo

político nos websites. Não nos furtaremos, quando possível e mesmo viável, a

fazer inferências sobre os possíveis objetivos e estratégias de recepção que se

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encontram e se apresentam nos diversos conteúdos e espaços produzidos, mas

focamos nossos esforços nas lógicas de produção.

Adiantamos, desde já, que frente ao objeto e aos objetivos de

pesquisa, e devido à amplitude do tema, assumimos o risco da generalização que

pode resultar desta análise, pois cremos que, nesta fase de estudos sobre o tema

Internet, política e eleições ainda faz-se necessário uma visão aberta e abrangente,

porém não menos cuidadosa, sobre os processos e fenômenos que ocorrem.

Buscaremos, no mínimo, fornecer elementos e provocações para novos e

aprofundados debates sobre o tema em pesquisas futuras.

Adiantamos que não pretendemos valorizar ou desvalorizar a Internet,

mas apenas e tão somente analisar e compreender o papel desta mídia num

processo político-eleitoral, e que não ignoramos a existência de outros espaços de

interação e comunicação, como e-mail, salas de chat, etc., que mesmo brevemente

estarão comentados e analisados em nosso quadro teórico, mas nos focaremos nos

websites de campanha eleitoral.

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I – A midiatização da política na esfera pública

contemporânea

"A liberdade precisa da companhia de outros homens que

partilhem o mesmo estado e de um espaço público comum

onde encontrar-se."

Hannah Arendt

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1. Esfera Pública como uma instância de mediação midiatizada

Compreender os processos políticos nas sociedades democráticas

modernas, cada vez mais fragmentadas, verticalizadas em seus processos, ações,

relações e fenômenos é buscar compreender uma dinâmica de interação, troca e

tensão que se faz presente na esfera pública através dos seus diferentes

constituintes e promotores.

Isso nos leva a noção de campos, que permite demarcar os limites de

competências e fazeres dos envolvidos no processo eleitoral, foco desta pesquisa,

de forma a identificar as interações, trocas e mesmo competições que se

estabelecem, generalizando assim suas relações e processos.

Antes de colocar a especificidade desta noção é importante abrir

espaço para diferenciar espaço público e esfera pública, uma vez que tais

conceitos são bastante próximos e mesmo textualmente assemelhados, podendo

facilmente gerar problemas em sua perfeita compreensão. Neste aspecto seguimos

Rodrigues, que conceitua espaço público o “conjunto de territórios abertos à

circulação de todos não apropriáveis por indivíduos nem por entidades

particulares” (RODRIGUES, 2003:s.p.).

Já por esfera pública o autor entende o “conjunto dos discursos e das

acções que têm a ver com o domínio da experiência dos todos, que interferem

com a experiência da interacção e da sociabilidade” (idem). O autor também

traz, neste mesmo trabalho, a noção de dimensão pública, que corresponde “a

relação que cada um dos campos sociais possui com os restantes campos (idem

ibidem)”, mas esta não nos é importante neste momento.

Logo, temos por espaço público os espaços físicos de circulação e

sociabilidade, enquanto por esfera pública temos as trocas discursivas que

ocorrem e circulam tendo em vista os processos de cada campo social, que tem

seus processos visíveis em uma dimensão pública de seus fazeres.

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Nos concentraremos, neste trabalho, na noção de esfera pública, uma

vez que esta contempla um espaço simbólico de circulação e visibilidade de

discursos e processos de comunicação, gerando e dando sentido aos processos dos

diversos campos sociais. Nesta esfera publica os diferentes e diversos atores

circulam seus processos, fazeres e fazem visíveis suas demandas tendo em vista

os demais integrantes do tecido social. Isto nos leva, para fins de efetuar um

recorte e identificar claramente os diferentes atores e suas competências que

circulam nesta esfera, à noção de campos sociais.

Para entender a que nos referimos quando citamos campos sociais

devemos retomar a contribuição de Bourdieu. Este autor afirma que a sociedade

moderna é constituída de uma grande diversidade de campos, de várias

dimensões, que se caracterizam e se organizam em torno de uma especialidade,

uma identidade e uma temporalidade.

Os campos sociais sustentam sua existência a partir de atores que

desenvolvem no seu interior capacidades, competências, ideologias e valores

necessários aos fazeres, poderes e saberes do campo, e compartilham elementos

identitários, processuais, estratégicos e mesmo ideológicos comuns. Estes operam

em concordância com determinadas estratégias e valores simbólicos, e

manifestam os conflitos, processos e fazeres dos mesmos. Como coloca Rodrigues

(2003:s.p.):

“As entidades detentoras da competência legítima de um campo formam o seu corpo social. No exercício, tanto da sua competência discursiva, como da sua competência pragmática, o corpo social tende a ostentar as marcas simbólicas da sua competência, no caso dos campos que possuem uma simbólica formal, ou a ostentar a ausência dessas marcas, no caso dos campos que possuem uma simbólica informal.”

O compartilhamento de processos e a concordância de identidades dos

diferentes atores, manifestadas nos processos e “regras” discursivas mobilizadas

nas suas interações, mediações e visibilidades, permitem o reconhecimento de um

campo, tornando assim possível a circulação de seus saberes, processos,

ideologias e estratégias para os demais campos e setores.

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Um campo possui uma especialidade, um elemento de coesão e

formatação que o configura, destaca e identifica, que se faz visível e reconhecível

a partir de seus especialistas. Isto permite ao campo trocar, interagir e competir

com os demais campos ou, na visão de Rodrigues (2003:s.p.) um campo possui

um domínio de uma experiência, um saber ou um valor específico que o distingue

dos demais integrantes e que forma seu reconhecimento.

Podemos inferir, assim, que um campo cria e valida suas

competências, valores, identidades e capacidades processuais, aspecto em que

reside sua autonomia, mas não possui auto-suficiência, não existindo campo

isolado, mas sim uma relação de interação, troca, competição e complementação

entre campos que se formam em relação uns aos outros.

Um campo torna-se social por cultura, história e expectativas que só

podem realizar-se caso seus especialistas dêem conta de processos e fenômenos

de identificação junto à sociedade em geral, ou seja, se seus atores derem conta de

se fazer identificáveis, reconhecíveis e visíveis através de regras e estratégias

discursivas comuns que marquem seus fazeres e competências, construindo a

identidade do campo frente aos processos sociais.

“A formação de um campo social dá origem a um fluxo regular de relações sociais, em torno das quais se estabelece a ordem normativa do próprio campo. (ESTEVES, 1998:s.p.) “

Assim, um campo social necessita de habilidades comunicacionais

para ser identificado, ou seja, para que suas competências e valores sejam

reconhecidos e para que possa relacionar-se com os demais seus fazeres devem

ser fundados sobre habilidades simbólicas, processos comunicacionais e regras

discursivas que permitam aos demais campos identificar, reconhecer e interagir

com este numa troca permanente que se dá no interior da esfera pública de uma

sociedade.

“Culturas são formadas por processos de comunicação. (..) em todas as sociedades, a humanidade tem existido em um ambiente simbólico e atuado por meio dele.” (CASTELLS, 2000:395)

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Interessante neste ponto dialogar com Luhmann, sociólogo alemão

que busca compreender a sociedade moderna concentrando-se nas questões

referentes aos sentidos sociais que se constroem a partir das comunicações e seus

valores simbólicos. Embora tenha uma visão bastante diferenciada de Bourdieu,

nos arriscamos aqui a aproximar tais autores na busca de um aprofundamento da

visão dos processos de troca simbólica e discursiva dos diversos elementos

integrantes da sociedade.

Em sua obra “La realidad de los medios de masas” (2000) Luhmann

afirma que uma sociedade é um universo de todas as comunicações possíveis

entre seus integrantes, sendo estas elemento estruturador pois permite a seus

atores se reconhecer, se fazer identificáveis e visíveis.

O autor parte – ou usa - da teoria dos sistemas para analisar a

formação e os processos sociais contemporâneos, numa visão diferenciada de

Bourdieu por considerar a sociedade e seus elementos – que Bourdieu coloca

como campos – como um todo integrado em um sistema maior.

Interessa-nos, porém, ressaltar que Luhmann coloca cada sistema

componente da sociedade tem um código próprio, interno, que filtra, processa e dá

sentido a suas comunicações. Isto nos permite reforçar a idéia das estratégias

discursivas e das identidades como elementos fundadores dos diversos

constituintes da sociedade, os campos sociais, que se constroem e se reconhecem

a partir de suas interações e mediações simbólicas e discursivas.

Assim, aproximando a visão de Luhmann que a comunicação funda a

sociedade da visão dos processos discursivos como elementos propagação da

identidade dos campos de Bourdieu, podemos inferir que são as estratégias e

competências discursivas que fundam os diversos campos, e as mediações e

interações destes que dão status, sentido e vivência ao tecido social desta

sociedade.

Retomando a noção de campos podemos citar vários deles, que se

mostram, circulam e co-existem na contemporaneidade (educacional, da saúde,

científico, militar, político, jurídico, midiático, etc.), cujas relações de troca,

interação e competição formam, dão status e sentido a esfera pública das

sociedades em que se inserem.

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No tocante aos processos eleitorais, elemento e objeto de análise do

presente trabalho, nota-se uma preponderância das interações e competições entre

os campos político, midiático e jurídico, que nos cabe então definir.

Por político entendemos um campo constituído pelas instituições e

atores vinculados e regulados pelas instâncias de poder, sendo formado por

estruturas que operam conjuntos de valores vinculados à regulação e

regulamentação dos fluxos e processos no tecido social.

Para Bourdieu (2000) as relações de poder, seja material ou simbólico,

estruturam e são estruturadas pelas comunicações, que asseguram o

reconhecimento e a validação do papel de um ator ou campo no conjunto da

sociedade.

Logo o poder está diretamente associado a capacidade de manipulação

de estratégias discursivas e comunicacionais inerentes a um processo social ou

histórico, sendo as disputas de poder relações de competição simbólica que

conferem a determinado ator ou campo maior ou menos força frente as demandas

e questões do tecido social.

"O reconhecimento do poder simbólico só se dá na condição de se descreverem as leis de transformação que regem a transmutação das diferentes espécies de capital em capital simbólico e, em especial, o trabalho de dissimulação e de transfiguração (numa palavra, de eufemização) que garante uma verdadeira transubstanciação das relações de força fazendo ignorar-reconhecer a violência que elas encerram objetivamente e transformando-as assim em poder simbólico, capaz de produzir efeitos reais sem dispêndio aparente de energia." (BOURDIEU:2000:15)

O poder do campo político coloca-se na esfera macro-social, tratando

das questões gerais de regulação da sociedade em geral, disputando seus atores a

capacidade de mobilizar e integrar forças, simbólicas ou reais, materiais, para

validar suas estratégias e fazeres tanto no interior do campo como em relação a

campos externos. Logo seu poder está vinculado ao manejo das demandas e aos

processos ideológicos presentes nesta sociedade e seu reconhecimento dá-se – ou

se faz – por sua identificação a estas questões sociais.

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Esteves (1998:s.p.) considera a política como o legítimo controle dos

cidadãos. Assim, temos que campo político desenvolve uma atividade de

manutenção, controle e negociação dos valores maiores de uma sociedade.

Ou seja, no interior do campo político circulam as negociações e os

processos decisórios que direcionam, balizam e influem nos destinos de várias

instâncias de um estado-nação, desde um bairro ou município até o poder

federativo, sendo assim o campo envolvido – ou responsável – pelas questões e

processos decisórios, de validação e coesão do poder das sociedades.

Podemos notar então - de forma bastante didática - que são integrantes

do campo político as instituições legislativas e executivas nos mais variados

níveis – prefeituras, assembléias, deputados, – seus atores e também instituições

que usam ou buscam estes espaços para afirmar suas identidades e valores.

Da mesma forma integram o campo político grupos de pressão, como

ONG´s, partidos e agremiações políticas, sindicatos, entidades empresariais, etc.,

que atuam, negociam e interagem dentro do campo promovendo os fazeres e

processos de e para a sociedade. Nas palavras de Bourdieu (2000:164):

“o campo político é o lugar em que se geram, na concorrência entre os agentes que nele se encontram envolvidos, produtos políticos, problemas, programas, análises, comentários, conceitos, acontecimentos, entre os quais os cidadãos comuns, reduzidos ao estatuto de ‘consumidores’, devem escolher, como probabilidades”.

Nesta colocação do autor notamos um certo julgamento do campo

político quanto a sua função, que se vê na passagem onde compara cidadãos a

consumidores. O autor parece comparar o fazer do campo político e suas ações

com uma “relação comercial”, de conquista e sedução, e chega a considerar a

política como uma prática profissionalizada, o “monopólio dos profissionais

(idem)”, limitada e mesmo fechada a um pequeno grupo representante de parcelas

da sociedade com “poder” para atuar dentro do jogo do campo político.

Em nossa visão o principal capital, valor e até mesmo elemento de

troca para os atores do campo político é o apoio e aderência dos demais campos e

cidadãos às suas demandas e ofertas, que ampliam ou reduzem o espaço e a força

de cada um nos conflitos internos do campo.

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Logo pautar, induzir o debate sobre as questões com potencial para

ampliar o poder de determinado ator integrante pode ser considerado um processo

natural, inerente ao fazer do campo. Como o próprio Bourdieu (2000:56) dispõe

em outra passagem:

“As estratégias discursivas dos diferentes actores, e em especial os efeitos retóricos quem têm em vista produzir uma fachada de objectividade, dependerão das relações de força simbólicas entre os campos e dos trunfos que a pertença a esses campos confere aos diferentes participantes ou, por outras palavras, dependerão dos interesses específicos e do trunfos diferenciais que, neste situação particular de luta simbólica pelo veredicto ‘neutro’, lhes são garantidos pela sua posição nos sistemas de relações invisíveis que se estabelecem entre os diferentes campos em que eles participam.”

Ou seja, é natural ao fazer do campo político buscar mobilizar e influir

os demais campos para suas demandas e processos. Assim, reduzir a atuação do

campo a uma relação de conquista e sedução é ignorar a própria natureza

conflitiva dos campos sociais, não somente interna mas também externa, com os

demais campos.

Neste processo de conflito e busca de capital simbólico e,

conseqüentemente, poder, o apoio e adesão da sociedade às suas lutas, bandeiras e

ideologias vão permitir a um ator ou integrante ampliar sua esfera de influência e

poder sobre o campo como um todo.

Assim, por político podemos entender um campo cuja concorrência

interna entre seus atores se faz principalmente através do apoio e conquista dos

demais campos, que se traduz na força, competência e mesmo visibilidade de seus

atores.

No campo jurídico identificamos as estruturas de regulação e controle

das demandas, fluxos e processos sociais no tocante às leis, legislações e sua

aplicação. O campo jurídico, composto, de forma genérica, pelos tribunais,

ordens, profissionais do direito e aqueles que dão suporte às suas atividades, é:

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“um universo social autônomo, capaz de produzir e de reproduzir, pela lógica de seu funcionamento específico, um corpus jurídico relativamente independente dos constrangimentos externos. (BOURDIEU, 2000:210).”

Este campo tem por missão, valor e função conceber as formas e

manter as estruturas de regulação dos vários atores e campos sociais, sendo o

responsável pela manutenção e alteração das regras e processos de conduta social

e da punição dos infratores.

Os campos político e jurídico têm uma vinculação direta com as

estruturas de poder das sociedades, na medida em que seus atores e processos

executam e tensionam as questões relativas às relações de manutenção, validação

e alteração das leis e regras que conformam, orientam e conduzem o

funcionamento dos sistemas, processos e interações entre os diversos campos

sociais dentro do tecido social.

O campo jurídico possui uma forte e visível função política,

vinculando-o de forma muito próxima ao campo político, pois ambos tratam dos

processos de regulação das atividades da sociedade em geral. Não raro o campo

jurídico é acionado ou mesmo interfere sobre o campo político, não somente sobre

os atores deste mas também sobre os processos macro-sociais que deste emanam.

Há de se considerar como diferença entre estes os fatos que, nas

sociedades democráticas, os atores do campo político são submetidos a processos

regulares de validação, alteração e competição para manter seus poderes, que

conhecemos como eleição. Já os integrantes do campo jurídico não somente não

passam por este processo como ainda têm a capacidade - ou função ou mesmo

tarefa - de regular os procedimentos eleitorais.

Nota-se assim, uma diferença primordial entre o campo político e o

campo jurídico, que se põem em posição de interferência e conflito permanente,

sendo este elemento de verificação, validação, controle e até mesmo – em casos

maiores - coerção sobre os fazeres do campo político.

Já o campo midiático se faz presente e ocupa um espaço estratégico

numa modernidade relativamente recente através de procedimentos técnicos e de

linguagem que fazem publicizar os fazeres da sociedade, tornando-se operador da

visibilidade e circulação dos fazeres dos demais campos junto à sociedade.

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Os meios de comunicação operam e articulam tecnologias de

transmissão e modalidades de produção e de recepção de mensagens, operando

linguagens e técnicas que servem de suporte à exposição, circulação e negociação

das demandas e processos dos vários campos. Diz Rodrigues (1990:152):

“campo dos media é a designação que utilizamos para dar conta da instituição de mediação que se instaura na modernidade, abarcando, portanto todos os dispositivos, formal ou informalmente organizados, que tem como função compor os valores legítimos divergentes das instituições que adquirem nas sociedade modernas o direito de mobilizarem autonomamente o espaço público (grifo nosso).”

É função, processo e mesmo razão de ser do campo midiático operar e

tornar visíveis os fazeres e demandas dos demais campos, publicizando-os em

larga escala e, assim, mobilizando e posicionando os demais campos frente a

estes.

No interior do campo midiático, estruturado, nas sociedades

capitalistas democráticas, principalmente em torno e através de empresas e grupos

empresariais, ocorrem disputas na ordem da audiência da sociedade. Esta

audiência é determinante do “poder” e influência dos meios não somente dentro

do campo, mas também sobre os outros campos, na medida em que através dos

seus atores e espaços a sociedade divide experiências, processos, conflitos e

demandas.

Pode-se argumentar que o campo midiático acelera ou reforça os

processo de fragmentação social, pois a exposição pública das demandas e

questões sociais substituiria as interações e relações diretas entre os campos no

espaço público, visão que pode ser notada no comentário de Virilio (1989):

“(...) a imagem televisiva do jornal das oito está se transformando num espaço público. (Antes), o espaço público era a praça, era a esquina onde os homens se encontravam para dialogar, para se manifestar publicamente, para lutar ou para festejar. Hoje em dia, é visível que o cruzamento, o espaço em que os homens se encontram é o jornal das oito. (...). Hoje em dia, é a imagem que se torna pública. No caso da televisão, há unidade de tempo, no jornal das oito, mas não há unidade

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de lugar. Estamos, pois, juntos diante de uma imagem pública, que substitui a praça pública, mas separados, cada qual em sua casa”.

Entretanto, há de se considerar o crescimento e ascendência do campo

midiático como emblema ou sintoma de uma sociedade que se fragmenta e, por

isso, necessita e mesmo dá valor a este campo por seu potencial de integração.

Como afirma Jacques Perriault (1991), uma tecnologia só ganha

sentido através dos usos que a sociedade faz delas, o que nos leva a considerar que

o campo midiático e seus integrantes somente ganham relevância pelo valor dado

ou atribuído a seus fazeres pela sociedade em que se inserem, logo sendo seu

papel e relevância um emblema dos processos e culturas das sociedades.

Ou seja, na medida em que a sociedade cresce e tem seus processos e

interações diminuídas ou dificultadas pelas suas dinâmicas e lógicas o campo

midiático passa a assumir, gradativamente, o papel de mediador dos processos e

fazeres dos diversos integrantes da sociedade, realizando os contatos e

negociações entre os campos através de suas redes técnicas e linguagens.

Para Esteves (1998) as interações e circulações de discursos fazem e

geram a competência da mediação midiatizada. O autor afirma que as trocas

discursivas que se realizam em torno de questões de interesse comum formam um

compromisso entre os integrantes de um campo e mesmo entre os campos

envolvidos nesta mediação.

Assim, através da comunicação e da circulação de discursos formam-

se os processos de negociação. Ora, se é função e natureza operativa do campo

midiático circular discursos dos diversos campos há de se considerar que forma-se

assim sua competência como instância de mediação social.

Claro que os campos e instituições mantêm relações diretas e

autônomas entre si, negociando suas demandas e resolvendo seus conflitos.

Entretanto, nas sociedades modernas e contemporâneas, com o crescimento

populacional, a concentração urbana e a assíncronia das dinâmicas individuais, e

devido a sua natureza simbólica e conseqüente atividade de circular os processos,

demandas e fazeres dos campos na esfera pública, o campo midiático ascende

como instância maior - e até mesmo central - do processo de mediação, interação

e visibilidade dos diversos campos.

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Luhmann (2000:96) propõe que a mídia cria uma realidade de fundo

onde se formam as opiniões, realidade em sua visão não necessariamente

consensual, mas compartilhada por aqueles que dela fazem uso. Nesta realidade

de fundo irão circular e se fazer os processos dos campos sobre e para os demais

campos sociais, ocorrendo uma troca ou debate que gera, acelera e mobiliza estas

interações.

Assim, o campo midiático torna-se importante elemento de

organização da esfera pública, exercendo um papel de forte influência ou mesmo

de preponderância nos processos políticos. A mídia deve ser encarada como

sujeito, como elemento que dá a ação e faz a ação, que expõe e faz exposto, que

media e se faz mediador e opera a visibilidade do processo dos campos nas

sociedades contemporâneas.

Os campos assim se acoplam ao campo midiático, ou seja, se unem

por um fazer, uma estratégia ou um elemento comum aos seus interesses

(LUHMANN, 2000:93) para se fazerem visíveis na esfera pública e cumprirem

suas agendas e intenções junto aos demais campos.

Claro que para falar em espaço público e esfera pública devemos citar

Habermas, que em seu célebre “Mudança estrutural na esfera pública” (1984)

considera o espaço público como um espaço homogêneo de sujeitos e ações

simbólicas que se operam e se encontram em condições e relações igualitárias,

simétricas, gerando ou sendo feitas consenso através de sua circulação, debate e

validação entre os diversos e diferentes públicos e opiniões.

Na visão de Habermas vemos uma clara, fundamental ou mesmo

inerente função política na sociedade, pois segundo o autor a publicização, ou

seja, a visibilidade dos diversos e diferenciados atores e campos funciona como

dimensão constitutiva das sociedades burguesas, servindo ao debate entre diversas

camadas constituintes desta sociedade na busca da hegemonia sobre as demais

camadas.

Interessante notar o destaque que Habermas dá a questão da

publicização, da visibilidade dos processos através dos meios, intimamente ligada

ao surgimento e formação do campo midiático nas sociedades, colocando este

como fator de formação dos debates e negociações neste espaço e constituindo e

construindo, assim, as esferas e processos de debates sociais entre os campos.

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Miranda (1997), por sua vez, mostrando uma certa coerência com

Habermas, informa que a esfera pública moderna se dá na ordem do aparecer, ou

seja, do fazer visível os processos, demandas e fazeres, buscando ao máximo a

antecipação de fatos e fatores que possam influir na formação da opinião pública.

Assim a esfera pública mostra-se como um espaço simbólico

essencialmente político, onde as visibilidades, debates, negociações e resoluções

se formam e “acontecem” enquanto processo de interação, mediação, visibilização

e produção de sentidos entre os campos nas sociedades contemporâneas.

Trata-se, então, de um espaço simbólico de relação que se dá e se faz

na ordem das interações, mediações e visibilidades dos processos e fazeres dos

diversos campos na busca da ascendência e prevalência sobre os demais campos.

Nas sociedades contemporâneas este processo, como afirmam os

autores, se estrutura principalmente ao redor das redes de comunicação midiática,

pois estas têm o poder de atingir uma ampla gama de receptores, fazer visíveis os

processos, mobilizar a opinião pública e negociar as demandas com os diversos e

diferentes campos e atores constituintes da sociedade, assumindo ou colocando-se

na condição e posição de mediador destes processos.

Assim, retomando e dando novo tratamento à noção citada

inicialmente neste capítulo, argumentamos ser a esfera pública um espaço que se

dá, se forma e “acontece” enquanto processo de visibilização e mediação entre os

campos nas sociedades contemporâneas.

Nas sociedades contemporâneas se estrutura principalmente ao redor

das redes de comunicação e dos processos midiatizados, e se mobiliza a partir das

ações de cada campo em conjunto ou através dos atores constituintes do campo

midiático.

Este campo midiático, por sua vez, ocupa posição de destaque neste

processo contemporâneo, organizando e estruturando o espaço público como uma

nova ágora, onde os campos e seus integrantes “se reúnem” para discutir e buscar

resolver suas demandas sem uma conexão ou ligação física, sem uma integração,

levando as pessoas a um viver junto estando separados, integrados

geograficamente mas afastados pessoalmente.

Esta ascendência do campo midiático como elemento integrador e

mesmo estruturador das relações do campos faz emergir o fenômeno da

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midiatização da sociedade, ou seja, da colocação da mídia, suas linguagens e

estratégias como operadora das instâncias e processos de mediação, interação e

visibilidade dos diversos campos.

A midiatização não trata de uma mediação ou negociação pura, ou

mesmo de um processo meramente instrumental e técnico, mas sim de um

processo de troca e convergência, um acoplamento estrutural (LUHMANN,

2000:93) entre os diversos campos e o campo midiático a partir de interesses

comuns.

Cabe aqui abrir espaço para mostrar o que entendemos por mediação.

Martín-Barbero (1997), ocupado com o uso social da mídia - especialmente a

televisão - e com questões culturais da comunicação, considera as mediações

como lugares de onde provêm e onde se forma a sociabilidade e se expressa a

cultura, uma dimensão onde se pode compreender as interações que se dão e se

fazem entre os diferentes atores e integrantes de uma sociedade.

Para o autor neste “lugar” pode-se compreender os processos e efeitos

de produtores e receptores da comunicação social, constituindo ambos como

elementos essenciais, fundamentais para analisar os campos da comunicação e

midiático, os sentidos e efeitos produzidos ou gerados por estes.

Há de se ressaltar na visão do autor o foco na questão da mediação

como elemento comunicativo que - abstendo-se a questão de “lugar” de análise,

estratégia metodológica que se afasta do objeto deste trabalho - nos permite ver a

mediação como processo eminentemente comunicacional, como elemento da

negociação simbólica entre atores de processos sociais nas mais variadas

dimensões, que gera sentidos sobre e a partir das diferentes identidades

envolvidas. Como informa Sodré (2002:21):

“Com efeitos, toda e qualquer cultura implica mediações simbólicas, que são linguagem, trabalho, lei, artes, etc. Está presente na palavra mediação o significado de ação de fazer ponte ou fazer comunicarem-se duas partes (...) mas isso é na verdade decorrência de um poder originário de discriminar, de fazer distinções, portanto de um lugar simbólico, fundador de todo o conhecimento.”

Assim, por mediação podemos entender o processo comunicacional

que permite estabelecer contatos e produzir efeitos, trocar e negociar produzindo

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sentidos entre atores e campos, gerando vínculos e estabelecendo processos

sociais.

Luhmann (2000) considera que a comunicação estrutura a sociedade,

o que reforça a idéia das mediações como elemento e processo de coesão e

manutenção social. Claro, tal percurso conceitual pode levar a confundir mediação

com interação, e adiantamos que vemos tais conceitos muito próximos, porém não

correlatos.

Se pensarmos a mediação como derivada de mediar, ou seja, negociar,

estar no meio, articulando a produção de sentidos, a temos então como um

processo de troca simbólica, comunicacional, que abarca, mobiliza elementos

identitários e culturais dos diferentes atores envolvidos. Estes trocam, agem um

sobre o outro através de um elemento externo a ambos na busca do cumprimento

de suas metas, objetivos e efeitos.

Já interação, de interagir, agir sobre, para, prevê ou pressupõe uma

ação recíproca entre dois ou mais atores que agem sobre e para o(s) outro(s) de

forma direta, dialógica, gerando sentidos entre os atores presentes e construtores

do processo.

Braga (2001: 110-117), buscando construir uma reflexão sobe o

conceito de interatividade, e focado nas relação que se formam em torno dos

meios, alerta para a importância das construções trazidas pelos interlocutores para

a interação. O autor diz que as interações ocorrem e dependem de situações

sociais concretas, sendo a interatividade uma construção social onde a cultura e as

subjetividades presentes são elementos determinantes das mesmas.

Observa-se, assim, que interação e medição aproximam-se

conceitualmente, na medida em que ambos se constroem e se manifestam sobre e

a partir das culturas presentes no processo, gerando sentidos, novos processos,

leitura e mesmo desvios.

Entretanto interação aproxima-se mais de uma questão dialógica,

relacional, recíproca entre atores diretamente conectados, enquanto mediação

pressupõe a participação ou presença de um elemento terceiro ou externo ao

processo de produção e circulação de enunciados e de geração de sentidos.

Assim, falar em midiatização do espaço público e das relações e

processos dos campos sociais é referir a um processo de interação e negociação

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que se dá pelas relações com e através da mídia, é se referir a uma mediação

midiatizada entre atores e instituições sociais que se dá pela predominância das

técnicas e linguagens do campo midiático na esfera pública.

Este processo de midiatização coloca a mídia como condição para os

processos políticos e democráticos modernos. Na medida em que é –

principalmente - através das redes midiáticas que as questões sociais se fazem

negociáveis e tensionam os processos dos demais campos, influenciando as

resoluções necessárias ao desenvolvimento e à sustentação das lógicas sociais e

democráticas onde se inserem, a mídia mostra-se como elemento fundamental da

política contemporânea.

A democracia contemporânea se dá, se faz e se promove pela e através

da midiatização da esfera pública devido a necessidade da ampla audiência que os

processos e as redes midiáticas alcançam, tendo então o campo midiático um

fundamental papel político nos processos democráticos (WOLTON, 2000). Basta

lembrar da censura e dos instrumentos restritivos à liberdade do fazer da mídia

normalmente – se não sempre – impostos e praticados por regimes autoritários

que podemos observar a importância da mídia para a democracia moderna1.

O campo midiático converte-se, então, num ponto de encontro, num

espaço de convergência e negociação, onde as demandas da sociedade se fazem

presentes, provocando o debate público e pautando os processos sociais. Estes,

por sua vez, irão influenciar e pautar a mídia, onde as relações autônomas, diretas

entre os campos acoplam-se e ascendem ao campo midiático, à esfera de

visibilidade pública, e tensionam os processos dos demais campos sociais.

Assim, as relações entre os campos influem, tensionam o fazer da

mídia que, por sua vez, interfere e influencia os processos sociais que irão retornar

à mídia, num fenômeno circular de interferência, influência e re-alimentação entre

os diversos campos e o campo midiático que se dá e se faz nas sociedades

contemporâneas.

É claro que cada campo tem suas características, suas identidades,

operações, planos e intenções frente aos processos, que formam suas agendas

operativas e de relação com os demais campos. Assim, a agenda de cada campo e

1 Como exemplo podemos citar a constante presença de censores dentro das redações dos jornais durante o regime militar Brasileiro, que ainda hoje gera debates, traz novos fatos a público e é permanente fonte para o cinema e a literatura de nosso país.

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a agenda da mídia se cruzam, se somam e se confrontam na busca do

cumprimento dos objetivos e processos dos campos.

Eventos são produzidos para se atingir e ocupar espaço na mídia;

reuniões públicas são dirigidas, direcionadas para gerar boas imagens para a

mídia; agendas são definidas em função da agenda da mídia, e a sociedade assiste

cada vez mais a uma espetacularização2 do seu dia-a-dia.

“O espaço de visibilidade midiática promove uma complexa relação entre os atores das instâncias formais do sistema político e aqueles da sociedade civil, bem como entre a política e a cultura”.(MAIA, 2002:s.p)

Analisando estes fenômenos e processos interacionais oriundos da

midiatização Verón indica três fontes geradoras e recebedoras de processos de

interação e negociação simbólica, sendo estes o campo midiático propriamente

dito, os campos não-midiáticos como, por exemplo, os campos político, jurídico e

os demais campos e atores componentes da sociedade. Nesta análise, o autor

identifica quatro zonas de interação:

“la relación de los medios com las instituciones de la sociedade (...), la relación de los medios com los actores individuales (...), la relación de las instituciones com los actores (...) y la manera em que los medios afectam la relacción entre las instituciones y los actores.3” (VERÓN, 1987:15)

Com isto Verón desenvolve o seu esquema de análise da midiatização

(fig. 1.1), onde vemos graficamente estes fluxos de interação e interferência entre

os campos e atores citados.

2 Guy Debord cria este conceito em seu “A sociedade do espetáculo”, onde a imbricação de capitalismo, mercadoria e espetáculo são emblemas de uma sociedade mercantilizada e comercial em suas instâncias. Não aprofundamos estes conceitos neste trabalho na medida em que compreendemos ser um eixo teórico afastado de nossa problematização, além do fato de que, em nossa opinião, reduzir o espetáculo a uma relação mercantilista e capitalista nos parece ignorar a função do espetáculo enquanto fato e fator de sedução, mobilização e de visibilidade, necessário a inserção e circulação dos processos e fazeres de cada campo no espaço público midiatizado. 3 A relação dos meios com as instituições da sociedade (...) a relação dos meios com os atores individuais (...) a relação das instituições com estes atores (...) e a maneira como os meios afetam a relação entre as instituições e os atores.

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Ilustração 1.1 (VERÓN, 1987:15)

Verón adverte para a simplificação deste esquema, comentando que

não dá conta de todos os processos e fenômenos, mas permite uma visão clara do

que ele entende por midiatização, ou seja, o atravessamento e relacionamento dos

campos por parte da mídia.

Claro que, como já referimos, os campos mantêm relações

independentes entre si dentro, que influem nas relações midiatizadas entre

campos, o que pode ser notado nas setas que se dirigem aos meios no esquema

gráfico do autor.

Esta perspectiva pode deixar perceber uma visão excessivamente

funcionalista da mídia, ou seja, fixada nas funções dos meios e do campo

midiático na sociedade contemporânea. Por isso, ressaltamos que a midiatização

se manifesta de forma relacional, ou seja, pelas interações dos campos com a

mídia, e se traduz e se manifesta enquanto processo técnico/lingüístico que surge

e se reforça pelas ações dos meios.

Há de se considerar então que, como já dissemos, a mídia influi e é

influenciada pela sociedade em que se insere, pois não existe campo isolado ou

mesmo auto-suficiente, onde a simples necessidade de manutenção econômica dos

meios através de variadas operações – venda de publicidade, financiamento

público, etc. – torna-se um exemplo.

Logo a midiatização trata de um triplo fenômeno: a questão técnica,

de conformação dos processos dos campos pelas linguagens da mídia; o papel

social das demandas dos campos que se midiatizam buscando gerar seus efeitos

em larga escala; e as relações que se estabelecem entre o campo midiático, os

demais campos e destes entre si através da mídia.

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Podemos assim notar que a midiatização amplia a área de conflito dos

atores dos diversos campos, na medida em que além dos processos internos ao

campo estes devem também estar em permanente negociação e mesmo

“atravessamento” pela mídia para buscar cumprir suas metas e efeitos junto aos

demais campos.

No espaço deste trabalho, focado num processo eleitoral, podemos

reconhecer o esquema de análise de Verón como as interações e tensionamentos

entre os campos político, midiático e a sociedade em geral.

Com base nas definições trazidas anteriormente, e de forma a clarear

nossa base de análise, podemos entender neste esquema as instituições como o

campo político, os atores individuais como os cidadãos, indivíduos que compõe a

sociedade, e os meios como o campo midiático. Assim, o esquema de análise

deste trabalho se configura da seguinte forma (ilustração 1.2).

Ilustração 1.2 – esquema de análise

Ou seja, o tensionamento dá-se na ordem dos fluxos de passagem,

predominantemente, entre os campos político e a sociedade, tendo o campo

midiático o papel central de circulação e negociação dos fluxos e processos

simbólicos entre outros campos, sendo operador e operado dos processos de

interação e negociação, mas não devemos esquecer da influência do campo

jurídico sobre estas ações e procedimentos4.

Temos que ressaltar que este esquema é um ponto de partida, um

“marco conceitual” que nos permite estabelecer uma estratégia de análise da

questão das tecnologias, suportes, influências e acoplamentos dos meios, do

campo midiático nos processos políticos em nosso trabalho.

4 Nos capítulo de análise do contexto da campanha aprofundaremos a análise da função do campo jurídico no meio.

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Concordamos com Verón quando ressalta a pouca complexidade do

esquema, pois em nossa visão a midiatização trata, além de um processo técnico-

linguístico-estratégico, de um processo sócio-cultural de uso e relevância dos

meios, cujo papel e importância se dá na ordem dos usos, apropriações e

incidências dos diversos campos sobre e com os meios, além dos fenômenos e

efeitos que se geram nestes processos.

A midiatização não trata, pois, de um processo meramente

instrumental ou técnico, mas sim de um complexo conjunto de negociações,

diretas ou indiretas, entre vários campos no tecido social, uma conexão ou um

acoplamento entre os diversos campos e o campo midiático que gera e manifesta

os processos sociais e de visibilidade em larga escala.

Permitindo-nos citar um exemplo desta complexidade dos processos

de midiatização, podemos nos referir às propagandas de cigarros e bebidas, que

sofrem forte regulação por parte do campo jurídico, determinando regras,

horários, formatos, e mesmo mensagens que devem ser veiculadas junto aos

anúncios.

Logo a midiatização destes produtos ou empresas com vistas a

resultados comerciais não se resume apenas à exposição do mesmo pela mídia,

mas sim uma complexa construção discursiva e de relações entre diversos atores e

campos que formam e conformam a visibilidade destes.

Colocados, então, o papel, fenômenos e processos da mídia e da

midiatização enquanto instância processadora e articuladora das demandas dos

campos na esfera pública, a seguir nos ocupamos de analisar as especificidades da

midiatização e suas influências nos processos políticos contemporâneos.

2. A midiatização da política e as questões operativas

Falar então de midiatização da política é referir um processo de busca

de espaços e visibilidade que se dá numa tensa relação entre o campo político e o

campo midiático. Este se torna co-operador dos processos discursivos do campo

político, contaminando seus atos com suas linguagens e regras enunciativas.

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Antes de discutir as especificidades das formas discursivas dos

campos político, midiático e suas correlações permitimos-nos introduzir e definir

discurso. Temos por discurso um processo enunciativo que criamos para

referenciar e representar as experiências, fatos e dinâmicas por que passamos e

que vivemos. Criamos ou manipulamos discursos para transformar tais

experiências em sentido para um outro em que desejamos criar um determinado

efeito.

Logo, um discurso é, além de um processo lingüístico e enunciativo,

um complexo investimento de um ator ou campo na busca da produção de efeitos

em um outro ator ou campo. Então, a identidade do campo que emite um

determinado discurso torna-se base para a construção deste, operando as

características e determinando os elementos que vão permitir a identificação deste

campo e a construção dos efeitos junto aos receptores.

Isto reforça a idéia de que cada campo gera, mobiliza diferentes tipos

e estratégias discursivas que visam formar o seu reconhecimento enquanto campo,

da mesma forma em que,ao investir, reforça as identidades e processos dos demais

campos com quem se articula, relaciona ou compete.

Verón (1997a), ocupado em entender os processos de geração de

sentidos nas sociedades, ressalta que o sentido de um discurso é dado no tecido

social. O autor coloca que, se nos propomos a entender um discurso social,

devemos ter em mente que este integra um sistema produtivo cujas regularidades

de funcionamento compõem os processos significantes, enquanto os processos

históricos cercam e engendram as condições de produção e reconhecimento deste

discurso.

Desta forma podemos inferir que a construção de um discurso se dá

dentro de um processo em que as estratégias e intenções do campo somam-se às

condições sociais e ao momento histórico em andamento. Estes fatores são

influentes e até mesmo determinantes de sua construção, o que nos permite notar

um processo de troca constante entre o emissor do discurso e o processo social em

que está inserido.

Vemos então um processo construtivo que se dá dentro do tecido da

sociedade através da relação entre produtores e receptores, circulando pelos

diferentes lugares da esfera pública, gerando, operando e construindo efeitos.

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“Como os estudos sobre os news making ou aqueles do enquadramento no jornalismo há muito vêm apontando, os eventos são construídos pelos discursos que os apresentam, e são, assim, dependentes da percepção do enunciador e de suas estratégias enunciativas.” (MAIA, 2002: s.p)

Assim, compreender um discurso é compreender as estratégias do

campo que o gera e mobiliza dentro do processo histórico-social em que está

emitido, sendo marcado e deixando marcas em sua circulação e promovendo as

interações e negociações com outros campos.

Retomando o que dissemos anteriormente, a esfera pública

contemporânea, encontra-se fortemente midiatizado, ou seja, sob influência das

lógicas e linguagens do campo midiático. Logo as lógicas processuais, técnicas e

lingüísticas do campo midiático tornam-se fator de influência na construção e

manipulação dos discursos dos campos, no que podemos denominar de

midiatização dos discursos, isto é, a contaminação e conformação destes pelas

lógicas tecno-lingüísticas e operativas oriundas do campo midiático.

Cabe citar que o discurso é a natureza operativa do campo político. É

através do discurso que os atores do campo político destacam seu papel social e se

fazem reconhecer como integrantes das estruturas de poder e decisão da sociedade

e são relevados em seus papéis sociais.

O discurso político é o discurso da sedução, da conquista e da

mobilização, causa, efeito e razão de ser do campo político. Através do discurso o

capo político busca a conquista do outro, seja este um campo, eleitor ou mesmo

um adversário, processo em que as ideologias, processos e fazeres do ator político

são condições de formação, formatação e enunciação deste.

Da mesma forma, o discurso é o principal dispositivo do campo

midiático, e se faz, se constrói a partir de várias linguagens e elementos inerentes

ao campo e suas técnicas.

Exemplificando, na televisão podemos dizer que o discurso se formata

como imagem, som, texto e seus desdobramentos: enquadramento, planos,

iluminação, trilha sonora, efeitos, etc. Estes elementos formam um conjunto

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significante, uma “gramática” de produção necessária às operações discursivas e

de visibilidade do campo político através da mídia.

“Ao contrário dos outros discursos, o discurso mediático é antes um discurso de natureza exotérico, isto é, compreensível independentemente da situação interlocutiva particular.” (RODRIGUES: 2003:s.p.)

Nesta passagem de Rodrigues vemos uma característica do discurso

midiático, a sua facilidade de compreensão e percepção, a generalidade de

interesses que gera nos receptores e mesmo sua facilidade de acesso, elementos

que somados geram a onde encontramos a sua força e mesmo a natureza

verossimilhança.

A comunicação midiática, através dos atores e agentes do campo

midiático, atinge uma ampla cobertura geográfica e social. Isto nos permite falar

em uma ampla mas fragmentada audiência, integrada por diferentes e

diferenciados atores e campos que assim se vêem, reconhecem-se, comunicam-se

e se influenciam mutuamente.

Esta amplitude de receptores, com suas diferentes formações, anseios,

expectativas e interpretações gera a necessidade de manipulação de linguagens no

sentido de contemplar essas múltiplas leituras, reduzindo ou redirecionando os

discursos específicos de cada campo para modalidades e formatos que facilitem o

seu reconhecimento.

Assim, os discursos e processos midiatizados dos campos sofrem uma

interferência, “contaminação” pelas lógicas lingüísticas e operativas do campo

midiático, pois para se inserir nos seus espaços, circular e gerar seus efeitos um

discurso deve estar construído em conformidade com as estratégias e linguagens

que mobiliza. Ou seja, um campo que deseje se fazer visível através da mídia deve

estar em conformidade com as linguagens, processos, agendas e formatos do

campo midiático. Como afirma Fausto Neto:

“... diante da emergência dos processos midiáticos e da importância de suas operações e de suas estratégias, redesenha-se a própria natureza do discurso político. Esta se requalifica não só a partir dos desafios que o espaço público coloca, hoje, para sua inteligibilidade, mas

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também pelos efeitos desta relação complexa que trava hoje com o campo midiático.” (NETO, 2001:06)

Podemos, com isso, seguindo a trilha de Verón (1997a e 1997b),

quando coloca a existência de diferentes gramáticas de produção e de

reconhecimento de discursos, considerar a mídia e suas linguagens como

elementos construtivos e constitutivos do discurso político.

A mídia torna-se uma condição de produção de discursos, que afeta

formatos, processos, linguagens e até mesmo demandas do campo político, na

medida em que ambos se articulam, competem e negociam dentro de suas

especificidades, buscando cumprir e manter suas agendas, intenções e processos.

Assim temos a midiatização não somente como um fenômeno de

interação e negociação surgida com o advento e crescimento do campo midiático

nas sociedades contemporâneas, mas também como elemento de interferência

sobre os processos discursivos dos diferentes campos, que devem se adequar à

gramática da mídia para serem visíveis e negociáveis na esfera pública.

Vemos, pois, a especificidade da midiatização da política, onde a

formatação de suas linguagens e processos são produzidos em conformidade - ou

atendendo - as estratégias e lógicas do campo midiático. Este, por sua vez, insere

a política em seus espaços, dando visibilidade e possibilitando a geração de

efeitos sobre os demais campos.

Neste acoplamento entre o campo político e o campo midiático

operam-se lutas e disputas de sentido onde ambos buscam cumprir suas agendas,

gerar seus efeitos e ressaltar seus interesses e intenções. Através de negociações e

interações os campos trocam, competem e se influem mutuamente, mas nestes as

lógicas e linguagens midiáticas se colocam como elementos condicionantes.

Entretanto não devemos entender este processo somente como troca e

competição entre estes campos, um processo linear de influência ou conformação,

mas como uma complexa ordem de tensões e cruzamentos estratégicos que

resignifica e tensiona o fazer do campo político. Este torna-se cada vez mais

dependente do campo midiático para suas operações de visibilidade, o que leva

Rubim (2000:50) a falar, por exemplo, em telepolítica, ou seja, na política

realizada em redes eletrônicas.

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Argumentando que vivemos na “idade mídia”, numa época em que a

mídia tem a centralidade na operação dos processos sociais, Rubim (2000:51)

argumenta que a comunicação midiática torna-se lugar essencial da luta política

por poderes, onde o papel da mídia se revela e manifesta pelos contatos e debates

políticos através de suas redes e espaços.

Cabe ressaltar que não cremos num campo midiático operado como

instrumento da política, nem numa política operada pelo campo midiático, mas

sim numa complexa relação de estratégias que se faz no espaço público moderno

e se dá na ordem da busca de preponderância e concorrência entre estes campos.

Isto determina não só a visibilidade da política e seus fazeres junto aos demais

campos, mas também promove o debate público e, assim, influi na formatação das

democracias contemporâneas.

Não existem dissoluções ou desmembramentos de campos, ou seja,

um campo não toma o lugar ou mesmo absorve o outro. Existem, sim, relações de

interação, troca, competição e complementação entre campos na busca do

cumprimento de suas estratégias e agendas, mas estes mantêm suas fronteiras e

suas competências específicas.

Isso nos leva a considerar dois tipos, duas instâncias e lógicas de

visibilidade política, sendo uma eminente e propriamente política, oriunda da

relação do campo político com a sociedade, suas bases e militantes, e de uma

visibilidade política midiática, operada e mediada pelo e através do campo

midiático.

Tomando emprestados os conceitos de auto-referência e

heteroreferência de Luhmann5 (2000:14-21) podemos colocar que a visibilidade

política constitui uma forma de auto-referência do campo político, na medida em

que seus processos se dão e se fazem internamente ao campo. Já a visibilidade

midiática se constitui numa heteroreferência, possibilitando a seus atores a

verificação, validação e condução de suas agendas fazendo-as visíveis na mídia.

Interessante observar, sob outro enfoque, que o campo político busca

se adequar a midiatização da sociedade criando instâncias próprias de

midiatização, manipulando linguagens e apropriando-se de gêneros e elementos

5 Resumidamente, os conceitos de auto-referência e heteroreferencia de Luhmann tratam das operações de observação e verificação que um sistema – que aqui compreendemos como campo – realiza em seu interior e seu exterior.

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oriundos e eminentes do campo midiático para buscar construir suas visibilidades

midiática própria.

Veículos como, dentre outras, a “TV Câmara” e a “TV Senado”,

transmitem imagens, sessões, entrevistas e programas gerados pelo campo político

através de TV a cabo, sendo já importante fator de mobilização de discursos e

processos nos plenários6, mas não podemos esquecer, também, do Horário de

Propaganda Eleitoral Gratuito – HPEG.

Nota-se que o campo político gera e mobiliza estratégias e processos

para usar os canais, recursos, gêneros e linguagens da mídia para se fazer visível,

buscando assim “escapar” da agenda, processos e filtros oriundos do campo

midiático para a construção de sua visibilidade.

Temos que considerar assim uma nova lógica de visibilidade política,

uma visibilidade midiatizada, ou seja, conduzida e operada pelas lógicas, regras e

regimes discursivos do campo político, porém formatada em conformidade com

as linguagens e lógicas midiáticas, onde reside o cerne e a essência do que

denominamos de midiatização da política.

Assim consideramos três lógicas de visibilidade política: uma

visibilidade política, fruto ou oriunda das relações do campo político com os

demais campos; outra uma lógica de visibilidade midiática, gerada pela relação

entre o campo político o campo midiático; e finalmente uma lógica de visibilidade

midiatizada, produto das ações e instâncias próprias de midiatização criadas pelo

campo político.

Estas pistas nos levam a supor que as visibilidades midiática e

midiatizada são mais efetivas para os fazeres do campo político na medida em

que, como já dissemos, alcançam uma coletividade e expõem processos e fazeres

para uma ampla audiência, uma grande parte da sociedade, com a possibilidade de

gerar efeitos e resultados de forma mais rápida e efetiva.

Assim, recordamos Rubim (2000) quando conceitua “efeitos de

mídia”, um processo de geração de efeitos políticos pela inserção de seus atores

no espaço midiático como elemento constituinte e efetivo das práticas políticas

6 Em 23 de maio de 2003 uma sessão da câmara federal chegou a ser suspensa quando um deputado percebeu que os pronunciamentos não estavam sendo transmitidos pela TV Câmara devido a uma entrevista com o deputado Agnelo Queiroz, fato que gerou revolta e protestos. (fonte: http://www.estado.estadao.com.br/jornal/03/05/24/news135.html)

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contemporâneas, o que gera ações políticas pautadas por uma busca de espaço

midiático e seus efeitos.

Devemos lembrar, entretanto, que as relações diretas entre política e

sociedade são importante fator de formatação e determinação dos processos

políticos midiáticos e midiatizados, na medida em que, como já foi dito, ocorre

uma interferência circular entre os processos dos campos e da mídia.

Nesta perspectiva, compreendemos o conceito de efeitos de mídia, ou

seja, num processo de interferência e realimentação que se dá entre as instâncias e

lógicas de visibilidade política. A mídia pode ter a capacidade ou natureza de

atingir grandes audiências, motivo que a torna importante elemento para a

política, mas suas redes não substituem ou atrofiam as instâncias políticas e sua

relação direta com os demais campos.

Por trás desta questão geral reside um importante conceito que ainda

não referimos: a negociação, que trata dos processos de relação e interferência

entre campos fora das instâncias de visibilidade, onde são determinadas e

negociadas as agendas, os processos estratégicos e estabelecidos os padrões de

relação entre os campos político e o campo midiático.

Nota-se que no conceito de negociação está aquilo que não se

midiatiza ou é feito visível, mas sim os contatos entre campos que se fazem nos

bastidores dos processos midiatizados que conduzem, conformam e mesmo geram

as lógicas e efeitos, e onde cruzam-se e confrontam-se as agendas dos campos.

No caso específico deste trabalho temos uma negociação entre o

campo político e o campo midiático, que convergem e acertam pontos e etapas

que atendam ou satisfaçam as demandas de cada um.

Para esclarecer este conceito tomamos como exemplo um debate

eleitoral. Nestes as datas, tempos e demais regras são acertados entre as emissoras

e as assessorias dos candidatos em conjunto dias antes da realização do mesmo,

processo cujos detalhes raramente são conhecidos da audiência. Entretanto estas

negociações formatam o lado visível da operação, sendo muitas vezes decisivos

para a participação ou não de um candidato7.

7 Cabe recordar da eleição presidencial de 1998, quando o candidato e re-eleição Fernando Henrique Cardoso, orientado por sua assessoria de campanha, não participa dos debates. Outro exemplo pode ser a debate eleitoral no segundo turno de 2002, onde o “novo” formato proposto pela rede Globo, mais aberto e com participação popular, foi aceito pelas assessorias de Lula e José Serra.

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Assim as negociações ocorrem nos bastidores, nos corredores do

processo, influindo nos processos de midiatização, raramente se midiatizando ou

se fazendo visíveis aos receptores.

Por isso a midiatização da política não pode ser entendida somente

como processo de troca e competição ou troca entre os campos político e

midiático, mas como um complexo processo de entrecruzamentos entre os

processos dos campos político e midiático, e como uma realimentação e

agendamento entre ambos.

Neste “grande palco midiático” o campo político luta para que as

luzes se voltem e estejam sempre focadas em seus processos e fazeres, aliando-se

a mídia, ou usando de suas linguagens e estratégias, como forma necessária e

efetiva de circular seus processos e fazeres junto à sociedade. Nesta busca a

presença de assessores especialistas nas linguagens e processos da mídia é

elemento constante, às vezes tão importantes quanto o próprio político ou

candidato.

“Esta migração dos políticos para os 'frames' midiáticos, se corporifica neste âmbito, mas requer a operação de outras práticas e de procedimentos, especialmente a intervenção de saberes especializados, ou de seus experts, espécie de ‘atores estratégicos’ que se ocupam dos processos de formatação dessa nova modalidade de discurso.” (NETO, 2001:05)

O campo político e seus atores deixam de agir e atuar por si só, mas

passam a necessitar da presença e auxílio constante de profissionais

especializados nas regras e linguagens midiáticas para ocupar espaços e cumprir

suas agendas. Um processo eleitoral é um importante representante deste processo

em todas as suas variáveis e variações, mas sobre isto nos debruçaremos no

próximo capítulo.

3. As eleições e a política midiatizada

Os processos eleitorais surgem nas democracias modernas como

manifestação não só das necessidades de alternância de poder, mas também como

emblema da relação entre a sociedade e suas estruturas de regulação, na medida

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em que oferece a todos os seus integrantes a possibilidade de participar e interferir

nos processos decisórios através da escolha de seus representantes.

Neste momento vários campos e operações convergem para o

processo. Os atores do campo político disputam. O campo jurídico regula,

controla e, quando necessário, pune. E o campo midiático faz visíveis as

operações, demandas e agendas destes, tornando-se elemento necessário e até

mesmo indispensável ao fazer político-eleitoral.

As amplas audiência e visibilidade da mídia torna-se elemento e

mesmo ferramenta das democracias contemporâneas. Dando visibilidade aos

processos políticos e eleitorais, expondo demandas, falas e atos, pautando os

debates ou sendo pautado pelas demandas sociais os atores do campo midiático

processam e tornam-se canais das questões sociais, tornando-se assim elementos

de formação da opinião pública.

O fazer político-eleitoral torna-se um fazer midiático e midiatizado,

um estar na mídia, um estar expondo e em exposição nos espaços midiáticos ao

alcance e alcançando coletividades, circulando e negociando processos e fazeres

com os demais campos na permanente busca da construção dos efeitos de mídia,

de influência na formação da opinião pública e, claro, nas decisões de voto,

objetivo maior do campo político na eleição.

Os processos eleitorais são um momento de alta visibilidade para a

política devido principalmente a sua relevância para as estruturas e fazeres das

democracias contemporâneas, visibilidade esta exacerbada pela exposição e

espaço dedicados pela mídia.

Os atores e integrantes do campo midiático intermediam e tensionam

aqueles que disputam a eleição, criando o palco e o cenário – ou a arena - onde os

candidatos irão confrontar seus discursos, propostas, biografias, ideologias, etc.,

buscando atingir e conquistar o máximo de eleitores e votos.

Em nossa visão, não é possível pensar a democracia moderna sem as

redes midiáticas - especialmente as eletrônicas - na medida em que, como já foi

dito, através da mídia a sociedade se vê, se reconhece e se processa. Da mesma

forma, a mídia mostra-se importante na medida em que possibilita ampla

audiência e visibilidade aos processos dos diversos campos envolvidos nos pleitos

e nas questões de fundo da sociedade.

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Ora, se a base ou mesmo essência dos processos democráticos reside

no debate pluralista de idéias e no confronto de projetos e valores dos diferentes

campos notamos que as redes midiáticas, podendo gerar, pautar, conduzir e

mediar debates variados em larga escala, têm papel fundamental na construção e

afirmação da democracia. Wolton (2000:69) chega a considerar a comunicação

política como condição essencial para a democracia moderna.

Cabe considerar também que, como já colocamos, nas eleições o

campo político se midiatiza em espaços compulsórios regulados, determinados e

mesmo controlados pelo campo jurídico nos diversos meios no que conhecemos

como Horário de Propaganda Eleitoral Gratuita – HPEG.

Estes espaços se apresentam como elemento de concorrência entre o

campo político e o campo midiático, na medida em que os atores do campo

político ocupam tais espaços expondo suas propostas, idéias e projetos para a

ampla audiência e construindo a sua visibilidade frente aos demais campos.

Logo, além das ações do campo midiático e seus atores, há também

ações midiáticas dos partidos e candidatos através da mídia construindo sua

imagem e expondo seus processos, onde ambos se influem e se tensionam

mutuamente, operando seus processos e agendas frente às questões em pauta na

sociedade.

Assim, os processos eleitorais se fazem e se constroem num amplo

cruzamento de operações estratégias e lógicas de diversos campos, que influem

nas questões e nos elementos em pauta, cruzando agendas e estratégias e operando

as visibilidades e discursos dos diversos atores envolvidos.

Devemos então levar em conta a credibilidade dos campos frente ao

processo. Se é interesse do campo político conquistar o apoio dos demais campos

para suas demandas e fazeres, há de se considerar que esta intenção seja percebida

pelos receptores. Logo, a credibilidade do campo político estaria vinculada às suas

intenções e interesses no processo, que assim se mostram como fatores de

influência nos resultados destes esforços midiatizados da política.

Neste aspecto pode-se considerar que o campo midiático tem maior

credibilidade por sua – pretensa - isenção ou deslocamento de interesses nos

resultados do processo. Disso deriva o poder da mídia sobre as eleições, pois sua –

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pretensa - isenção aumenta a sua credibilidade, somada a sua alta visibilidade e

abrangência, colocando-o como fator de influência nos processos eleitorais.

Entretanto, como vários momentos do passado indicam – onde o

maior emblema em termos de eleições no Brasil talvez seja a edição do debate

Lula-Collor em 1989 – nem sempre o campo midiático atua de forma isenta, o que

representa um perigo pela relevância de sua agenda.

Entretanto algumas pesquisas indicam que os receptores percebem

estes movimentos da mídia, e os levam em conta em sua tomada de posição, o que

reforça a idéia dos cruzamentos de agendas e estratégias durante o processo

eleitoral.

Claro, esta questão da influência da agenda da mídia nas eleições é

motivo de amplos debates e estudos acadêmicos que a cada eleição se renovam

frente aos novos processos e ações do campo8. Longe de querer encerrar o assunto

ou mesmo de manifestar uma posição – pessoal - definitiva, até porque os

cenários mudam constantemente, não cremos que se possa falar ou citar de

preponderância de mídia ou política no período eleitoral.

Podemos sim supor que, por sua pretensa isenção, a mídia tenha maior

credibilidade e influência, mas assumir tal posição seria um risco para o trabalho

como um todo. Cremos, sim, que há um processo de forte tensão, agendamentos,

uma “queda de braço” entre os campos midiático e político que disputam a

credibilidade frente aos demais campos e buscam influir no processo eleitoral.

Neste aspecto também há de se considerar que a midiatização da

política no HPEG ocorre num cenário onde vários atores, campos e demandas

circulam, se fazem presentes e influem nos processos sociais. Logo, ocorre um

cruzamento de agendas e processos que se influem mutuamente ao qual a política

deve se adequar e conformar.

A midiatização da política não se dará simplesmente pela lógica,

ideologias, projetos ou anseios dos atores do campo político, mas se dará num

cruzamento de negociações e tensões que irão estimular, balizar, pautar ou mesmo

conduzir este fazer político midiatizado em todas as instâncias.

8 Sobre esta questão sugerimos ver o texto “Das visibilidades das eleições de 2002”, de Albino Rubim, onde mostra as diferentes maneiras e processos de tratamento dos candidatos nas eleições presidenciais de 1998 e 2002 pela mídia, denunciando um tratamento diferenciado ao processo devido à agenda das empresas.

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Então, podemos inferir que os fazeres político-eleitorais se fazem e

têm sua visibilidade construída numa relação de troca, competição e

complementação entre o campo político e os vários campos. As edições e

agendamentos mútuos mostram-se constantes e permanentes, e onde as ações do

campo midiático, voltadas para amplas audiências, causam uma aceleração do

processo político-eleitoral.

Consideramos importante abrir espaço para esclarecer este conceito de

aceleração, pois vemos que o mesmo é pouco trabalhado academicamente, mas

possui uma relevância estratégica em nosso trabalho.

Quando falamos em processos de interação, negociação e mediação

entre campos - que pautam e conduzem os processos eleitorais - referimo-nos as

trocas que tem em vista um determinado objetivo. Nestes processos há momentos

em que um campo tem seus fazeres internos aumentados por fatos ou fatores

externos, passando assim a ser mais solicitado, catalisado pelos demais campos na

busca do cumprimento de uma demanda que se forma no tecido social, obtendo

maior visibilidade e relevância frente aos demais campos.

Logo, por aceleração compreendemos um aumento das visibilidades e

negociações dos processos e fazeres de um campo pelos demais campos em uma

marca temporal, ou seja, uma maior quantidade de trocas e interações entre

campos que marca e é marcado por um processo interno ou externo a este campo

dentro de uma temporalidade específica.

Um exemplo de aceleração de campos que podemos citar é uma

epidemia, como as da dengue e da pneumonia asiática, quando os processos e

questões internas do campo da saúde foram acelerados pelos demais campos e

tiveram sua visibilidade aumentada, exacerbada pela sua importância e urgência.

Outro exemplo é um período de guerra, onde a mídia é acelerada para dar conta de

cobrir e informar a opinião pública dos fatos, como pôde ser visto recentemente

no conflito EUA versus Iraque.

Esta conceituação pode levar a confundir aceleração com expansão,

mas é preciso esclarecer que a aceleração sempre irá gerar uma maior visibilidade

de um campo frente aos demais dentro de um recorte temporal. Já expansão

compreenderia uma preponderância, aumento ou mesmo derrubada das fronteiras

entre os campos, mesmo que temporária, que ampliaria o poder de um campo

sobre outro(s).

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Os processos eleitorais possuem marcas temporais específicas,

perceptíveis, que estruturam e identificam o mesmo junto ao tecido social. Esta

marca temporal estimula o campo político e os demais campos a empreender e

executar ações e estratégias vinculadas ao mesmo, de forma a cumprir seus

objetivos no menor espaço possível. Assim esta temporalidade, ou seja, o

calendário eleitoral, mostra-se como causa e efeito da aceleração dos campos.

Entretanto, esta aceleração do campo político tem uma característica

específica, uma marca dual, na medida em que este se acelera em busca das

visibilidades necessárias ao seu fazer dentro da marca temporal do processo, e é

acelerado pelos demais campos pela relevância do processo nas sociedades

democráticas.

Assim, num processo eleitoral a aceleração se dá e se mostra pelo

aumento real e mesmo perceptível das interações e visibilidades do campo

político na busca de perfazer e cumprir as agendas e estratégias inerentes ao

momento eleitoral.

Esta aceleração desperta e estimula a atenção das demais camadas da

sociedade, seduz a audiência da mídia e coloca o campo político na posição – ou

obrigação - de estar permanentemente gerando fatos que ocupem estes espaços

midiáticos e midiatizados para se fazer visível a estes receptores.

Dessa forma o campo midiático, suas ações e fazeres frente ao

processo eleitoral, torna-se um dos fatores e dispositivos desta aceleração, dando

visibilidade e gerando ações políticas que buscam ocupar seus espaços.

Os espaço midiáticos não reduzem ou anulam a importância das

máquinas partidárias e dos eventos políticos, mas fazem com que estas se

mobilizem e organizem para a busca de espaços na mídia. Isto traz a necessidade

de profissionais especializados nas linguagens, estratégias e relações midiáticas

para estar em exposição nestes espaços e gerar seus efeitos, adaptando o campo

político à lógica da aceleração do processo eleitoral.

A televisão, atualmente talvez a principal mídia do campo midiático,

durante o período eleitoral é ocupada pelo campo político em horários e tempos

determinados pela legislação eleitoral no que conhecemos como Horário de

Propaganda Eleitoral Gratuita – HPEG.

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Este mostra-se como um espaço midiático operado pela agenda do

campo político, ou seja, uma operação política midiatizada. Não podemos

esquecer, entretanto, do espaço dedicado pela mídia, em sua programação, ao

processo eleitoral, elemento que, como já comentamos, somam-se para formar a

visibilidades dos atores envolvidos.

Nestas operações midiáticas e midiatizadas o campo político expõe

suas ações, propostas, projetos, acusações a adversários, e todos os elementos

necessários ao cumprimento de seus objetivos dentro do processo, buscando assim

formar uma opinião pública favorável ao candidato e, claro, votos dos cidadãos.

A mídia, por seu turno, insere e cede espaço aos candidatos para

cumprir sua agenda de audiência, acelerando e sendo acelerada pela eleição,

processo eminentemente político, e colocando-se na posição de mediadora entre

candidatos e sociedade na medida em que dá visibilidade a estes, pauta o processo

de debate e discussão publica e mesmo promove atos e ações relevantes, como

debates entre os candidatos.

Assim o somatório do que circula, é exposto e se faz visível nos meios

do campo midiático e no HPEG somam-se e influem na formação da opinião

pública durante o pleito, tornando-se fatores no processo de decisão do voto pelo

eleitor.

Comentando o processo eleitoral de 1994, Chico Santa Rita9

(2001:139), ressaltando o complicado cenário em que ocorria o pleito, mostra

onde os eleitores iriam buscar informações para tomar suas decisões de voto:

“Na televisão, ora. A resposta dos pesquisadores era quase unânime: quando chegar a hora haverá o horário eleitoral, os candidatos se mostrarão, apresentarão seus propostas e aí um deles será escolhido. É assim, aliás, que tem acontecido nas eleições, desde que elas foram restabelecidas após a ditadura.”

Os efeitos deste somatório de processos, negociações, tensões e

visibilidades podem ser medidos, observados ou mesmo aferidos através

pesquisas de intenção de voto, elemento presente e constante nos processos

político-eleitorais modernos. 9 Chico Santa Rita é profissional do marketing político tendo participado de importantes campanhas eleitorais nos mais diversos níveis em todo o país.

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Aqui recordamos Walter Lippmann, que em seu célebre “Public

Opinion” desconfiava de uma opinião pública informada, e dizia que a maioria

das decisões das pessoas se baseava no que ele chamava de “imagens em nossas

cabeças” (DIZARD apud SODRÉ, 2002:43).

Ou seja, as opiniões e desejos manifestos e captados pelas pesquisas

baseavam-se menos numa racionalidade crítica ou analítica e mais numa projeção

de expectativas sobre um determinado elemento ou ator, baseadas principalmente

nas subjetividades dos entrevistados influenciadas pelo cenário em que estes se

inserem.

Já Sartori (1998) comenta que as pesquisas na verdade mostram - ou

demonstram - a influência da mídia nas decisões e avaliações das pessoas, e

ressalta a influência da formulação das perguntas nos resultados das pesquisas.

Este assunto também é comentado por Almeida (2002), que coloca a importância

da formatação do questionário e da formulação das perguntas na construção de

uma pesquisa10.

Este autor (2002:37), citando alguns estudos e pesquisas

internacionais, lembra que as pesquisas apresentadas nos noticiários da televisão

influem na decisão do eleitor, onde é interessante observar o destaque ou

importância que os campos político e midiático dão as pesquisas de opinião,

sendo estas muitas vezes o elemento articulador e condutor de suas cobertura e

ações.

Devemos levar em conta que uma pesquisa, naturalmente, capta

opiniões, visões e posições dos eleitores frente ao processo eleitoral em

desenvolvimento através de uma amostra representativa da população. Logo

podemos inferir que seus resultados refletem tendências e processos que ocorrem

ou se fazem presentes junto a esta população, que nelas reconhecem a si e a seus

próximos e semelhantes.

Neste aspecto reside o potencial manipulador destas pesquisas. Na

medida em que a população pode “se ver” nos resultados e, assim, mudar sua

opinião - no que um profissional da psicologia denominaria de “medo da

10 Um exemplo citado pelo autor é as pesquisas de opinião que normalmente perguntam o voto do eleitor se a eleição fosse no dia o que, segundo ele, permite formar um cenário das intenções de voto no dia em que a pesquisa foi realizada, mas não a extrapolação destes resultados para o dia da eleição. Segundo o autor, o correto seria perguntar ao eleitor em que ele pretende votar no dia da eleição.

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diferença” - as pesquisas podem tornar-se elementos de interferência no processo

eleitoral, conduzindo e influenciando as decisões de voto.

Claro, não é possível afirmar a influência das pesquisas nas decisões

de voto, e a cada eleição as polêmicas e debates se renovam, se acirram e seguem

inconclusas. Podemos, no máximo considerar as pesquisas como uma dentre a

ampla gama de vários fatores ou elementos de influência, onde a própria

obrigatoriedade do voto – em termos de Brasil – deve ser considerada.

Cabe ressaltar, entretanto, que as pesquisas refletem ou captam

retratos, “instantâneos” dos movimentos da opinião pública frente ao pleito no

momento em que são realizadas, das quais se pode obter sinais indicativos, não

verdades ou realidades imutáveis ou absolutas como muitas vezes apresentadas

pela mídia11.

“Eleição é uma atividade muito dinâmica. Novos fatos e situações se alteram com muita facilidade. O grande segredo é se antecipar a estas alterações (RITA, 2001:31)”.

Consideramos importante notar as pesquisas também como fator de

influência nas decisões estratégicas de campanha, quando metodologias

qualitativas e quantitativas são utilizadas para verificar a imagem e o

posicionamento do partido ou candidato percebidos pela população. Isto influi não

só na abordagem e a construção da campanha do candidato mas também o

candidato a ser posto em cena12.

Chico Santa Rita nos permite perceber, através dos vários casos e

experiências que narra em seu livro “Batalhas Eleitorais” (RITA, 2001), a

importância das pesquisas qualitativas e quantitativas como elemento de

verificação das expectativas e processos dos eleitores sobre o candidato e de

condução das estratégias pelas assessorias.

Não nos interessa, neste trabalho, discutir detalhes ou reproduzir as

experiências do autor, mas sim notar nos diversos casos que narra, nas mais

11 Interessante colocar, neste ponto, que na eleição para governador gaúcho de 2002 houve uma grande disparidade entre os resultados das pesquisas de boca-de-urna e a contagem oficial. Este fato que gerou grande polêmica e levou a RBS a constituir uma comissão de notáveis para avaliar o caso e discutir a questão das pesquisas. Isto resultou num seminário com atores dos campos político, jurídico e midiático, onde a conclusão foi de que as pesquisas de opinião não deveriam ser usadas como elemento condutor da cobertura da mídia, havendo a recomendação para não destaca-las em manchetes ou espaços privilegiados nas capas dos veículos impressos. 12 Cabe lembrar que Celso Pitta foi selecionado candidato a prefeito de São Paulo em um teste de vídeo realizado pelo marketeiro Duda Mendonça, que testou e considerou várias possibilidades até escolher Celso pelo seu bom desempenho frente às câmeras.

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diversas eleições e com os mais variados candidatos, a relevância das pesquisas

como elementos condutores das estratégias de campanha, onde também

transparece a amplitude do trabalho de planejamento e execução de uma

campanha.

Conduzido por especialistas nas linguagens, estratégias e processos

midiáticos que atuam junto aos candidatos e seus assessores, uma campanha

eleitoral tem uma abrangência holística. Seu planejamento envolve inúmeras

variáveis que vão desde a história, processos e ideologias do partido ou candidato

até o quadro ou cenário em que a eleição ocorre.

Não caberia aqui aprofundar todas estas variáveis, mas cabe esclarecer

que o marketing político e eleitoral não constrói candidatos do nada, mas sim

opera a partir da história e imagem formada do político junto aos eleitores, não

existindo uma receita pronta para o sucesso. Como afirma Pacheco, o marketing é

uma “arte de ajustamento” do sujeito/produto ao meio ambiente.

“Gosto da analogia do surfista que parece dominar as ondas. Na realidade ele apenas ajusta-se, em plena harmonia e interação, às forças do oceano. Oceano e Mercado são poderosos demais para serem dominados pela fragilidade relativa do indivíduo, a quem cabe, isto sim, integrar-se inteligentemente ao sistema das forças ambientais, tão mais poderosas do que as suas - e usá-las a seu favor. (PACHECO, 1994:149)”.

O autor chega a afirmar que “voto é marketing, o resto é política”.

Entretanto há de se considerar que todo candidato tem uma história, um percurso

político já percorrido que deve ser levado em conta na construção de sua imagem,

logo “o resto” da política mostra-se como importante elemento na condução das

ações de marketing na busca do voto.

A política, o fazer político, em diferentes formas e processos, é um

fazer diário, um elemento presente e constante no espaço público. Ao marketing

político cabe conduzir ou aproveitar-se destas ações para formar a imagem deste

político e fazê-lo presente numa eleição dando roupagem, exposição e visibilidade

ao mesmo.

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Chico Santa Rita afirma que um dos princípios de construção de uma

campanha é “trabalhar com propriedade os três conceitos primários – passado,

presente e futuro – que personalizam um candidato” (RITA, 2001:73).

Logo a construção da imagem de um político-candidato não se dá

somente no momento eleitoral, mas é um processo constante, diário de ações

políticas e midiáticas que irão se somar e formar esta imagem13. Alguns

especialistas falam na “campanha permanente”, ou seja, em processos políticos

diários que buscam fazer o ator político visível frente à sociedade, formando e

construindo gradativa e paulatinamente sua imagem deste.

A história e processos de um político se colocam como elemento

fundantes dos fazeres eleitorais deste, elemento fundamental na construção das

estratégias de imagem e das visibilidades deste. Novamente Pacheco (1994)

informa que o voto é influenciado por três componentes distintos: o ideológico, o

político, e o eleitoral.

Em uma eleição o componente eleitoral faz-se mais presente, e

influencia os processos de formação da opinião pública, e o marketing eleitoral

forma, constrói a imagem do político-candidato a partir do percurso, dos

processos deste frente aos outros dois componentes citados.

Acusa-se o marketing e os “marketeiros” de construir candidatos e de

vender políticos como se vende sabonete, argumento onde se esconde uma visão

linear do processo de construção das imagens dos políticos, no sentido de que

bastaria construir uma oferta de discursos e elementos para que esta seja

prontamente aceita e gere os efeitos desejados nos receptores (eleitores).

Claro que o processo não ocorre desta maneira, como já temos nos

referido, mas se faz sobre um tecido social engendrado por uma ordem de forças e

processos dos diversos campos sociais e mesmo candidatos, que irão formar e

influenciar as reações dos eleitores frente ao processo.

Não existe marketing ou profissional de comunicação que fabrique um

candidato do nada – apesar do que muitos profissionais da área gostam de deixar

transparecer em entrevistas, palestras e livros. Fazer política é negociar, se expor

13

Caso como a recente ascensão e queda da candidatura da então governadora do Maranhão Roseana Sarney à Presidência da República demonstra bem este processo, pois o “marketeiro” Nizan Guanaes utilizou fortemente a mídia para formar a imagem da candidata a presidência, o que logo se refletiu nas pesquisas de intenção de voto, colocando a mesma como favorita a vitória no pleito. Entretanto, denúncias de corrupção veiculadas nos noticiários da mídia derrubam a candidatura (RUBIM, 2002) o que, em nossa opinião, confirma a formação da opinião pública sobre a política como um processo constante que se dá pelo somatório das vozes da política e da mídia na esfera pública midiatizada.

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não somente ao cidadão-eleitor principalmente através da mídia, ocupando com

oportunidade, clareza e levando em conta as expectativas dos eleitores, da opinião

pública, os espaços midiáticos e construindo, assim, a sua visibilidade, sua

imagem e seu processo de luta pelo voto.

Ao marketing político cabe fazer-se presente como elemento de

construção e ajuste das imagens, ações e fazeres dos candidatos no processo

eleitoral, estabelecendo a ponte, a ligação entre o campo político, a mídia e os

demais campos, ajustando ou conformando os atores políticos às regras operativas

do campo midiático.

Podemos notar, então, que o marketing político e eleitoral – e seus

especialistas – irão influenciar, balizar ou mesmo conduzir as ações e estratégias

dos candidatos no pleito, sendo elemento decisivo na formatação e construção do

discurso do candidato, suas propostas, enunciados e ações.

Assim, além das propostas, agendas e ações o discurso político-

eleitoral deve ser considerado em seus elementos estéticos, em seu

enquadramento ou adequação às linguagens midiáticas: a foto bem iluminada, o

jingle que repete o nome do candidato e o mote da campanha; a roupa esportiva

para o comício ou o paletó na cadeira, as mangas da camisa arregaçadas e o nó da

gravata solto num “escritório” bem iluminado cercam, emolduram a exposição do

candidato e seu discurso, estilizando sua imagem e se colocando como um

elemento de formação dessa imagem, ocasião em que o especialista em mídia

mostra sua supremacia sobre a política.

Neste ponto cabe destacar a interferência do campo jurídico no fazer

político e midiático durante o processo eleitoral. No Brasil, através dos Tribunais

Eleitorais, o campo jurídico instala as regras e processos que controlam e até

mesmo limitam o fazer político-eleitoral junto à sociedade e à mídia, de forma a

proporcionar a máxima liberdade e segurança para os eleitores e garantir que

práticas ilícitas ou constrangedoras sejam coibidas.

Se, durante os períodos do regime militar a lei eleitoral ofertava

espaço compulsório na mídia para o campo político durante o processo eleitoral,

mas impedia o uso dos recursos técnicos e linguagem da mídia14, atualmente a Lei 14 Para fins de recordação cabe colocar que a chamada “Lei Falcão”, que leva o apelido do seu elaborar, o então ministro da Justiça Armando Falcão, foi promulgada pelo regime militar após a derrota nas eleições legislativas de novembro de 1974, limitando drasticamente o acesso de candidatos ao rádio e à televisão, com o fim de evitar mais uma vitória oposicionista nas eleições municipais de 1976. Esta lei permitia aos partidos apenas mencionar a legenda, o curriculum vitae e a foto do candidato nos horários de propaganda eleitoral obrigatória, e perdurou até o pleito de 1982.

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9504, de 199715, mantém este espaço compulsório não somente durante as

eleições, determinando tempos, regras, prazos e até mesmo espaços em mídia

externa – outdoor – que podem ser ocupados pelos atores políticos, além de

distribuir espaços gratuitos na mídia em outros períodos, não-eleitorais, com

tempo proporcional a representatividade de cada partido no congresso nacional.

No caso específico das regulações do processo eleitoral, o não

cumprimento de tais regras pode levar a multas, cassação da candidatura ou

mesmo do mandato em caso do infrator ter sido empossado durante o processo

investigatório. Não podemos deixar de mencionar a regulação quanto às pesquisas

eleitorais, prevendo pesadas penas e multas em casos de não-cumprimento das

regras ou mesmo a divulgação de pesquisas fraudulentas.

Nota-se na lei a preocupação em garantir equilíbrio tanto no acesso da

política à mídia, buscando evitar que os espaços regulares se transformem em

palanques para candidatos e partidos, quanto evitar que a agenda de interesse da

mídia interfira no processo e na lisura dos elementos que podem neles influir,

como a(s) propaganda(s) e as pesquisas eleitorais.

Vemos, então, uma política, um fazer político-eleitoral influenciado,

tensionado e construído não só enquanto processo eminentemente político, mas

principalmente como processo midiático.

Influenciado, pois as linguagens e processos da mídia se impõem às

lógicas e aos processos políticos como elemento formatador de suas estratégias e

fazeres. Tensionado porque o campo político está em permanente negociação com

o campo midiático para se fazer visível, gerar e manipular seus efeitos. Construído

porque a mídia ergue e forma seus processos e suas relações com os demais

campos, sendo neste “local” feitas as suas possibilidade de efeitos e mobilização,

qualificações que ilustram toda a interferência que o campo político sofre por

parte do campo midiático no momento eleitoral.

Assim, temos uma política que busca permanentemente a construção

de suas visibilidade nos espaços midiáticos, e tem nas suas linguagens e seus

especialistas os principais componentes, não somente na exposição e circulação

dos fatos e demandas mas também na formação da opinião pública, onde se dá e

se forma a identidade, o reconhecimento e onde circulam os processos políticos

contemporâneos. 15 Copiado via Internet em www.tse.gov.br [03/2002] Texto completo encontra-se nos anexos deste trabalho.

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Nota-se um cruzamento de campos, estratégias, linguagens e

processos discursivos nos fazeres político-eleitorais. A mídia busca audiência para

si, a política gera e usa essa audiência para construir seus efeitos, os especialistas

auxiliam ou conduzem estas ações e fazeres dos candidatos, a mídia pauta o

processo e é pautada pela política, numa ampla conexão e cruzamento de agendas

que faz as visibilidades dos processos eleitorais modernos.

O espaço midiático configura-se então como o lócus onde são

divididas, debatidas, tensionadas e até mesmo resolvidas as diversas demandas,

fazendo circular discursos e processos do campo político, agendando, verificando

ou aprofundando as questões em pauta e sendo elemento indispensável à

democracia, ao fazer político e aos processos eleitorais contemporâneos.

O advento da tecnologia da Internet traz um novo elemento a este

processo na medida em que sua tecnologia passa a inserir-se e fazer circular

processos comunicacionais na sociedade. A chamada “telepolítica” ganha a

companhia dos espaços digitais de comunicação, sobre o qual dissertaremos nos

próximos capítulos.

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A Política nos espaços digitais

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II – A midiatização da política na Internet

“É o cliente, idiota!”

Patrícia Seybold, revelando o segredo para o sucesso de

uma iniciativa de e-business no livro “Clientes.com”.

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1. Espaço digital, um novo componente da esfera pública

Neste capítulo caracterizamos e conceituamos o espaço digital de

interação surgido com o advento da Internet , e identificamos os processo e

fazeres que este elemento traz aos processos políticos contemporâneos.

Sabe-se que o desenvolvimento da Internet nasceu da necessidade de

um sistema de comunicação militar durante o período da guerra fria, levando a

uma tecnologia que permitisse as mensagens circular por caminhos diferenciados,

chamados “nós”, sendo então os pedaços remontados no ponto de destino,

processo que só cessaria com a destruição total da rede.

A Internet desenvolveu-se sobre uma tecnologia então restrita, os

computadores, grandes máquinas que ocupavam salas especiais e realizavam as

mais complexas operações de cálculo e armazenamento de dados. Nesta época tais

máquinas eram manipuladas apenas por especialistas em seus processos e

procedimentos em poucas instituições que possuíam a capacidade financeira,

técnica e de pessoal para mantê-las.

A tecnologia evolui e estas máquinas ficaram gradativamente

menores, mais baratas e de uso mais intuitivo, permitindo a manipulação por não

especialistas, onde o “Machintosh”, lançado na primeira metade da década de 80,

é o grande emblema.

O sistema do “Machintosh” permitia a manipulação da máquina

através de interfaces gráficas e ícones, retirando do usuário a necessidade de

compreender, decorar e manipular complexas linhas de comando ou realizar

extensas e complexas operações de programação, bastando apenas acessar os

recursos através do mouse ou de atalhos via teclado em telas gráficas

(FRAGOSO, 2002:s.p.).

Este sistema e outros, como o Microsoft Windows, evoluem

adicionando recursos de som e imagem em movimento, aproximando o

computador da experiência midiática-sensorial de meios como o rádio, a televisão

e o cinema proporcionam.

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Assim o computador torna-se uma peça atraente aos olhos dos não-

especialistas, inserindo as máquinas nos lares e acelerando a evolução da

tecnologia para contemplar os usos e necessidades destes novos usuários. O

computador transforma-se assim num elemento de entretenimento, diversão e

informação manipulada conforme os objetivos e usos que cada usuário dá à

máquina.

A chegada da Internet em si não chega a ser um elemento de interesse

imediato para a indústria de computadores e softwares. Desenvolvida dentro dos

laboratórios de pesquisa e dos centros acadêmicos, essa tecnologia evoluiu

conforme as demandas, exigências e desejos dos usuários do sistema, mas segue

restrita.

Com o surgimento das interfaces gráficas e da “WWW”, criada por

Tim Berners-Lee na primeira metade da década de 1990, a rede torna-se

comercialmente atraente e ganha espaço na mídia. Neste momento, da mesma

maneira que os sistemas gráficos dos computadores, a “WWW” e o seu protocolo

de suporte, “http”, torna a Internet uma experiência acessível aos usuários leigos.

Basta digitar um endereço, apontar o “mouse” e clicar numa figura ou

“link” para que os processo de contato e navegação desejado se produza,

permitindo acesso a conteúdos, imagens, gráficos e animações que tornam a rede

um “produto” atraente.

Este “produto” gera uma corrida pelos seus espaços, onde

empreendedores e empresas passam a disponibilizar acesso e usar seus recursos

dentro de variadas estratégias comunicacionais e comerciais, mas a quebra da

bolsa de tecnologia norte-americana “NASDAQ” resfria os ânimos.

Nota-se que a tecnologia digital da Internet serve a trocas simbólicas e

discursivas entre pessoas conectadas em e por meio de seus dispositivos,

suportando uma prática de interação que nos permite reconhecer esta tecnologia

como meio de comunicação. Consideramos então o que faz desta tecnologia um

meio de comunicação social, uma mídia, elemento integrante e operador do

campo midiático.

Segundo Alsina (2001:62), a comunicação social sofre a intervenção

tecnológica na mediação de uma mensagem, havendo uma separação entre os

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sistemas de produção e recepção, ou seja, há um separação física entre instâncias

de produção e recepção que se comunicam por via de uma tecnologia.

Já para Verón (1987:12), para ser considerada como meio de

comunicação social, uma tecnologia deve satisfazer um critério de acesso plural às

ofertas de mensagem, um critério sociológico de produção, circulação e

reconhecimento de mensagens e enunciados que cria o que denomina de

“mercado discursivo” das sociedades modernas.

Jacques Perriault (1991), levantando a hipótese de que as pessoas que

utilizam as “máquinas de comunicação” fazem-no por e a partir de uma estratégia

própria, foca-se no conjunto de práticas de comunicação que condicionam os usos

e valores dos meios, buscando entender o modo pelo qual se fazem os usos dos

objetos técnicos como elementos comunicacionais.

Para o autor as máquinas de comunicar - que aqui entendemos como

os meios, as mídias, apesar de o texto do autor tratar das máquinas num sentido

muito mais amplo - têm marcado seus usos por um desejo ou necessidade de

simulação do real por parte do ser humano, pela necessidade de recordação e

projeção da suas subjetividades intrínsecas para outro(s) ser(es) humano(s).

Ou seja, o uso dos meios passa pela subjetividade intrínseca de cada

ser, que seja própria da técnica e dos discursos presentes no meio a partir de seus

objetivos e estratégias.

Estas máquinas só adquirem sentido e valor a partir destes usos

sociais. Assim, afirma que a apropriação das máquinas tem duas dimensões, sendo

estas a técnica, a capacidade de manipular o objeto, e a simbólica, a subjetividade

que se projeta sobre esta máquina, de onde percebemos que se fazem os processos

e desvios que geram novos usos ou recursos às máquinas.

Nestas perspectivas percebemos que um meio de comunicação social

não deve ser entendido somente como suporte técnico ou processo simbólico em

ampla escala, mas como um dispositivo de comunicação a serviço de

subjetividades e identidades que deste se utilizam para projetar para outro

mensagens e enunciados conduzidos através de uma tecnologia.

Assim, temos que a tecnologia ou a técnica é a base de um meio de

comunicação social, influindo diretamente em suas linguagens e processos, mas

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sustenta sua existência ou tem valor social através dos usos para os processos

estratégicos e simbólicos dos diversos e diferenciados atores e campos.

Podemos dizer então que uma tecnologia só irá se desenvolver como

meio de comunicação se a ela for dado valor e sentido pelos usuários. Logo, um

meio de comunicação social só irá se caracterizar como tal pelos usos,

apropriações, interações e mediações que os diversos campos promoverem através

desta tecnologia.

Da mesma forma, não é possível falar de comunicação sem pensar,

como Winkin (1998) numa orquestração, numa rede de relações e apropriações

que se forma em torno dos meios.

Para Winkin pensar a comunicação midiática é olhá-la sob a ótica dos

contextos e das relações que se formam pelas apropriações das técnicas e pelas

várias e diferenciadas estratégias de uso e manipulação dos meios. Ou seja, é

pensar a abordagem social de uso dos meios como elemento de interação,

comunicação e visibilidade entre diferentes atores e campos.

Seguindo estas trilhas temos um meio de comunicação social como

uma tecnologia que se insere e forma o contexto das comunicações sociais, e sua

caracterização surge a partir dos usos, incidências e apropriações dos diversos

campos. Estes, através da tecnologia, se comunicam, constroem relações, mediam,

interagem e se fazem visíveis.

Porém, a caracterização dos meios não pode deixar de levar em conta

as gramáticas de produção, ou seja, as lógicas e protocolos de uso e os elementos

de linguagem que surgem ou são criados para este meio, marcando as suas

especificidades, benefícios e limitações.

É claro que um meio de comunicação irá suportar ou ser reconhecido

por sua linguagem intrínseca, ou seja, pelas formas de uso e recursos estéticos,

visuais e textuais que devem ou podem ser manipulados por aqueles que desejam

projetar-se sobre outros. Torna-se, então, necessário a um individuo que deseja

fazer uso do meio reconhecer e manipular os recursos para obter os efeitos que

deseja a partir de uma técnica específica.

Linguagem e técnica condicionam-se mutuamente num processo de

troca e evolução e mesmo quebra de regras permanente que gera novos usos,

sentidos e desdobramentos a um meio. Planos, enquadramento, diagramação,

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iluminação, foco, etc. são elementos das linguagens das várias mídias que

condicionam os processos de comunicação através delas, permitindo o

reconhecimento, validação e projeção da experiência por ela registrada e

projetada.

Assim um meio de comunicação comporta uma tecnologia, gramáticas

de produção e reconhecimento de mensagens condicionadas ou balizadas por esta

técnica, para a qual os diferentes campos e atores convergem e se conformam para

circular, processar e evidenciar suas comunicações, e onde as culturas e os

processos simbólicos destes campos e atores são o elemento base na construção

destes processos.

O próprio surgimento da Internet, tecnologia desenvolvida para suprir

uma necessidade militar num contexto de forte tensão e conflito bélico iminente,

que evolui pelas apropriações dos diversos integrantes de outros campos,

especialmente o campo acadêmico, demonstra e reforça a idéia que uma

tecnologia ganha sentido através de seu uso social.

Dessa forma, a caracterização da Internet como meio de comunicação

social surge do somatório entre a sua tecnologia, a linguagem que se desenvolve

desta e dos usos, incidências e valores dados a estes pelos diversos e diferenciados

usuários, atores e campos. Estes, assim, podem interagir, trocar, inserir e ofertar

os mais diversos conteúdos, fazer visíveis e colocar em pauta suas visões e

opiniões e circular seus fazeres e processos de e para os demais usuários e campos

em larga escala.

Notamos então que a Internet não é um meio de comunicação isolado

ou que surge com uma linguagem totalmente própria ou inédita. Pelo contrário, a

Internet soma-se aos processos comunicacionais da sociedade que a ela

convergem linguagens e técnicas de outras mídias, que num mesmo suporte

técnico circulam e se efetivam.

Wilson Gomes (2001:s.p.) comenta que a “Internet compreende três

fenômenos interligados: um ambiente de conexão, um complexo de conteúdos e

um sistema de interação.”

Por ambiente de conexão compreendemos a tecnologia informatizada

que sustenta o(s) sistema(s) de comunicação, possibilitando aos usuários interagir

sobre e a partir das ferramentas disponíveis.

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Por complexo de conteúdo compreendemos os diferentes e

diferenciados enunciados e discursos que circulam sobre este ambiente de

conexão, que também permitem aos usuários se conectar diretamente através das

máquinas, onde notamos o sistema de interação.

Logo técnica, linguagem e processos dos usuários somam-se para dar

existência e valor a este novo meio de comunicação social enquanto lugar e

processo de produção e geração de novos sentidos.

Mostrando um alto grau de inovação tecnológica e comunicacional

somado a um grande potencial integrador para os usuários, a Internet se

configurou como a grande promessa das tecnologias de comunicação.

Este potencial atraiu a atenção de empresas e empreendedores dos

mais variados ramos, que apostaram no potencial desta mídia como canal de

comunicação e de geração de novos modelos de negócios com a promessa de alto

retorno. Mais recentemente grandes grupos e “players” de mídia – como exemplo

podemos citar Time-Warner, Disney, Globo, dentre tantos outros - adentram e

apostam no meio dentro de sua estratégias empresarias. Como se lê em Castells:

“Na segunda metade da década de 90, um novo sistema de comunicação eletrônica começou a ser formado a partir da fusão da mídia de massa personalizada globalizada com a comunicação mediada por computador.” (CASTELLS, 2000:387)

Assim, configurando-se como meio de comunicação social, promotor

e suporte de processos comunicacionais e de visibilidade entre os diferentes atores

e campos sociais, sobre e a partir dos elementos e tensões de uma sociedade ou

cultura, vemos a Internet como mais um elemento constituinte, integrante e

promotor da esfera pública contemporânea, um espaço digital de comunicação.

Estes espaços surgidos com o advento da Internet, cuja tecnologia e

suporte permitem a múltipla conexão e trocas entre usuários nos mais diversos

pontos, criam novas formas de contato, eliminam distâncias físicas e geográficas -

que não mais são uma barreira para o contato e a conexão entre as pessoas.

Surge uma nova geografia, uma geografia digital, sem território físico,

onde se fazem processos de comunicação entre os diversos usuários de diferentes

formas e em diferentes medidas.

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Os espaços digitais surgidos com a Internet se apresentam e se

constituem através de metáforas de lugares – ou não-lugares como diria Marc

Augé (1994) – de espaços geográficos promovidos pela tecnologia informática e

digital, onde o contato insere os usuários em diferentes e diferenciados fluxos de

informação.

Nestes espaços a sensação de deslocamento através de caminhos se

apresenta através das diferentes interfaces construídas e se faz presente como uma

topografia peculiar, uma “localização espacial” no espaço de interação num

mundo digital, onde a lógica deste deslocamento se constrói através de

hipertextos1 e processos interativos informatizados.

A própria denominação website, lugar na web, na Internet, sala de

chat ou mesmo a denominação de “navegação” ou “surf” para o processo de

acesso aos diferentes espaços demonstra e reforça a metáfora dos espaços digitais,

onde novos protocolos e processos comunicacionais são e fazem marcas no uso e

contato.

Os espaços digitais de interação extrapolam a “privatização” da esfera

pública, na medida em que aceleram e catalisam o descolamento das relações

sociais físicas e presenciais para relações de interação tecnológica, dando novo

elemento a “bios virtual” (SODRÉ, 2002:27), a formas de vida e relação via

tecnologia sem o contato pessoal.

A máquina, o computador e seus elementos – tela-teclado-mouse-etc. -

insere o usuário-cidadão num ambiente de contato e interação, onde o seu eu se

projeta numa metamorfose digital interativa. Manifestando e dando roupagem a

suas subjetividades, que se projetam e se manifestam em estratégias de uso e

manipulação das tecnologias, o espaço digital transforma-se num ponto de

encontro e convergência de várias operações e suas representações simbólicas.

Assim os espaços digitais configuram-se como um espaço plural de

deslocamento, contato e acesso onde a lógica de cada ator integrado ao processo

faz-se presente e constante alterando, redirecionando e gerando novas

configurações e novos fenômenos a cada instante.

1 Por hipertexto entendemos, conforme Landow (apud FRAGOSO, 2002a:s.p.) “uma escritura não-sequencial, um texto

que se bifurca, que permite que o leitor escolha e que leia melhor em uma tela interativa. De acordo com a noção popular, trata-se de uma série de blocos de texto conectados entre si por nós, que formam diferentes itinerários para o usuário" Esta construção e navegação por hipertextos se dá e se faz através de links, a que entendemos como “um instrumento de construção de relações semânticas, um modo de construir conexões entre coisas.” (Johnson, 1997, p. 111 apud FRAGOSO, 2002).

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Os espaços digitais da Internet não se configuram como uma esfera

autônoma ou desconectada dos processos sociais em que se insere. Ao contrário,

se conecta aos processos dos atores e campos, dando novas características e nova

roupagem aos processos comunicacionais e interacionais e mesmo às identidades

daqueles que dele se utilizam e nele se projetam, tornando-se assim fator de

tensionamento e aproximação entre atores e campos sociais.

Os espaços digitais abolem as noções usuais de tempo e espaço,

tratando e promovendo uma distorção, um alargamento de fronteiras onde a

realidade faz-se ou não presente, dependendo de quem esta promovendo e

utilizando o mesmo, transformando-se num elemento complexificador desta

realidade e das relações sociais.

Assim, os espaços digitais se agregam aos processos e tensões que

ocorrem na sociedade, sendo um novo elemento de promoção e circulação dos

diferentes processos de interação e comunicação, onde através das diversas

tecnologias e ferramentas os usuários se encontram, se fazem presentes e visíveis.

Logo, o espaço digital trata de um espaço de comunicação e mediação

através de redes tecnológicas informatizadas onde as subjetividades e processos

dos diversos atores e campos se projetam para construir processos e elementos

comunicacionais, e estes ocorrem dentro da esfera digital da Internet.

Cabe, para clarear ao máximo os conceitos aqui propostos e utilizados,

diferenciar espaço digital de ciberespaço. Muitas vezes confundido com Internet,

o termo ciberespaço foi cunhado em 1984 pelo escritor de ficção científica

William Gibson no livro “Neuromancer”, onde o autor fala de um espaço não-

físico, não-geográfico e não-territorial, promovido pelas redes tecnológicas

informatizadas onde a informação circula e o ser humano faz contato, conecta-se a

outros seres humanos.

Gibson fala de uma “alucinação consensual” criada e promovida pelo

contato, conexão e ampliação dos limites seres humanos com os espaços

tecnológicos de interação, a que denomina de “Matrix”, a matriz tecnológica de

circulação e contato.

Este termo passou a estimular, balizar e se fazer presente em uma

série de estudos sobre os processos comunicacionais e as redes digitais, notando-

se uma forte ligação do conceito de ciberespaço com a Internet, às novas mídias e

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A política nos espaços digitais

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as novas tecnologias de comunicação informatizadas, gerando até mesmo uma

confluência entre os dois conceitos. Como informa Cardoso (2002:s.p.):

“A noção mais usual do termo ciberespaço refere-se basicamente ao conjunto formado pelas "novas mídias". No entanto, o ciberespaço, enquanto fenômeno da cultura contemporânea, vai muito além da simples utilização destas ferramentas de comunicação, ao promover o aparecimento de um novo e profícuo espaço sócio-cultural.”

Entende-se por ciberespaço um elemento de conexão, interação e

sociabilidade surgido com o advento das tecnologias informatizadas. Entretanto

consideramos que o conceito de ciberespaço é maior, vai além da Internet, das

redes de computadores e o espaço digital.

Como o próprio Gibson afirma, o ciberespaço é um espaço que existe

e é promovido pelas tecnologias enquanto processo de comunicação e interação,

permitindo ao ser humano projetar-se além dos seus limites físicos e geográficos,

conectando-se e interagindo com outros seres humanos através de redes técnicas.

Podemos então considerar que qualquer meio que promova uma

interação entre pessoas e uma projeção das subjetividades, do “eu”, a partir de

recursos tecnológicos pode ser considerado um promotor do ciberespaço, onde

incluímos então telefones fixos, celulares e até mesmo, em menor escala, meios

como o rádio e a televisão. Logo, diferencia-se do espaço digital pela amplitude

de recursos e processos que suporta.

O espaço digital não existe enquanto lugar, enquanto materialidade,

mas acontece, se faz presente como um ponto de encontro, um lugar onde ocorre

um processo de interação por via tecnológica, formando uma topografia através

dos contatos que nele se estabelecem.

Para buscar esclarecer ao máximo esta noção, exemplificamos: uma

sala de chat onde usuários “conversam” via teclado é um espaço digital; um e-

mail levando mensagem de um usuário para outro se forma e se mostra num

espaço digital; um website de uma empresa com informações sobre seus produtos

e serviços demarca o espaço digital desta, e todos estão presentes e atuantes

dentro desta nova integrante e promotora do espaço e esfera públicas, a esfera

digital da Internet.

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Os espaços digitais podem ser públicos ou privados, fechado ou

abertos, e são promovidos enquanto fenômeno e processo cultural de conexão e

comunicação entre pessoas que se utilizam destas tecnologias para circular e se

fazer presente para outros usuários.

Nota-se que o papel de promotor e usuário se confundem e se somam

nos espaços digitais, na medida em que não há promoção sem uso, ou uso sem

promoção ou mesmo comunicação e troca sem conexão.

Aqui reside um importante conceito para compreendermos o papel

destes espaços: a circulação dos enunciados e discursos. Como já referido os

espaços digitais refletem as culturas em que se inserem e deles se utilizam. Logo

podemos considerar os processos discursivos e estratégicos dos campos que

adentram ao espaço digital serão elementos formatadores do mesmo.

Assim, se temos um campo que adentra ao espaço digital com uma

estratégia podemos supor que esta será o elemento condutor e formatador dos

conteúdos e enunciados deste espaço. Entretanto, esta formatação se dá dentro de

um processo social maior, onde várias forças externas ao campo se coadunam.

Da mesma forma há um receptor – presumido, antecipado – que

seleciona os elementos inseridos com que deseja travar contato. Assim, a

circulação dos discursos se dá na ordem das ofertas estratégicas do campo que são

selecionadas pelos receptores.

Temos então que os espaços digitais da Internet são um dos elementos

promotores e realizadores do ciberespaço, na medida em que promovem

processos de interação, mediação e negociação por via tecnológica digital,

ampliando os limites físicos dos seres humanos. Entretanto, não contemplam ou

promovem toda a variedade e complexidade dos processos comunicacionais do

ciberespaço.

Os espaços digitais se manifestam em pontos de comunicação, troca e

visibilidade que se formam sob uma camada de tecnologia onde as funções,

tarefas e processos de cada ator e campo são construídos conforme suas

estratégias, desejos e necessidades e as expectativas do outro que acessa e interage

com o espaço.

Exemplificando: um banco na Internet simula um banco físico em

suas funções e operações, ampliando as possibilidades de relação deste com seus

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clientes e quebrando com algumas marcas temporais presentes nas agências e

espaços físicos; uma sala de chat emula uma conversa presencial, que se projeta

sobre um espaço, uma camada de tecnologia digital que amplia uma relação física.

Um exemplo final: uma sala de aula virtual insere os usuários – alunos

e professores – numa relação de troca e experimentação na busca do

conhecimento onde cada um, em seu espaço físico individual se projeta, se

conecta e interage com os demais construindo e operando uma relação de ensino.

É semelhante a uma sala de aula física: há leituras a fazer, há trabalhos a realizar,

há debates a participar, interferir e mediar, ações que se fazem e se dão sobre uma

camada tecnológica de comunicação.

O espaço digital ajusta-se, é formado, assim, pelas culturas que nele

adentram, formando seus caminhos, sua topografia. Torna-se assim mais um

elemento para formação de imagem, circulação, negociação e visibilidade dos

processos de funcionamento, interação e negociação dos campos em sua relação

com os demais atores e campos caracterizando-se, então, como mais uma

instância dos processos de midiatização das relações sociais.

“In the grand narrative of modernity, the Internet is an efficient tool of communication, advancing the goals of its users who are understood as preconstituted instrumental identities.2” (POSTER, 2003:s.p.)

Disto até agora posto temos um novo espaço de interação e mesmo

competição entre os diversos e diferenciados campos sociais, onde suas

identidades, valores e estratégias serão os elementos de demarcação e construção

dos processos de interação e visibilidade.

Assim, pensar a política no espaço digital é colocá-la à luz das lógicas

dos atores e processos do campo político e demais campos sociais que se acoplam

a estes para, então, compreender o papel deste espaço nas democracias

contemporâneas. Neste aspecto é interessante citar Wilson Gomes (2001:s.p.):,

“a) qualquer sujeito pode tornar-se emissor; b) qualquer receptor possa tornar-se emissor e vice-versa; c) qualquer receptor possa transformar-se em provedor de informação, produzindo informação e distribuindo-a pela rede, ou

2 Na grande narrativa da modernidade a Internet é uma eficiente ferramenta da comunicação, avançando nos ou os objetivos dos usuários, entendidos como identidades pré-existentes

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simplesmente repassando informações produzidas por outros.”

Nesta visão do autor reside um dos potenciais promotores da

participação política e da democracia no espaço digital. Argumenta-se que a

conexão aos sistemas da Internet, o potencial para a livre emissão e recepção

somados à facilidade de acesso à maior variedade de fontes de informação,

poderiam aprofundar o conhecimento dos fatos e fatores, qualificando as opiniões,

a formação política dos cidadãos e a relação destes com as estruturas de regulação

e poder da sociedade.

Celso Cândido (1999) menciona a possibilidade da criação de uma

“Ágora Virtual”, semelhante as Ágoras Gregas, onde através dos sistemas digitais

os cidadãos poderiam se reunir para resolver debater e decidir as demandas

sociais.

“Em sociedades de massas, obviamente, uma cidade ou Estado não pode reunir todos os seus três, quatro ou dez milhões de cidadãos em praça pública para ouvirem os oradores e, então, deliberarem revelando os seus votos. Isto é, claro, materialmente impossível. No entanto, parece não menos evidente que os meios de comunicação digitais multimídia interativos, os computadores, poderiam simplesmente ocupar (e com infinitas vantagens "cibernéticas") desterritorializadamente o lugar do Ágora antiga. (...). Quer dizer, poderíamos ter, a qualquer momento em que houvesse necessidade uma verdadeira assembléia geral virtual, desterritorializada, na qual a participação de todos os cidadãos, por estes meios, estaria assegurada. Os cidadãos poderiam, trocar intensamente suas opiniões através destes meios de comunicação, os computadores, ligados em rede; poderiam se articular, negociar posições, refletir. A antiga praça pública grega se transformaria, se desterritorilizaria e penetraria na casa de cada pessoa. (CANDIDO, 1999:s.p.)”

Lévy (1999), comentando o potencial democrático da Internet, fala em

“e-democracia”, que trataria da organização, do debate e resolução das questões

macro-sociais a partir e pelos próprios cidadãos.

Outros autores, como Clift (2002) e Grönlund (2001) também citam a

“e-democracia” como uma democracia promovida e patrocinada pelo espaço

digital com um novo elemento de integração e participação política, mas advertem

para que os conceitos e esforços não se foquem excessivamente no “e”, na

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A política nos espaços digitais

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construção e promoção do espaço digital, e relevem ou coloquem em segundo

plano a democracia.

Para Clift a “e-democracia” trata de um processo participativo cujo

desafio reside justamente na participação, ou seja, na construção de uma relação

mais direta e recíproca entre instâncias de poder da sociedade e os cidadãos

através da conexão, integração, interação e participação em debates e deliberações

sobre as questões em pauta através do espaço digital.

Em sua argumentação Clift (2002:s.p.) cita que a e-democracia

envolve ou envolveria os cidadãos como indivíduos, que poderiam se conectar e

se associar criando novas instâncias e processos de participação política,

ressaltando a importância da convergência entre Internet e as instituições da

sociedade física, “real”, como elementos mobilizadores desta participação.

Logo, se falamos em “e-democracia” nos referimos a um processo de

troca, mediação e interação onde, a partir do contato através dos espaços digitais

os diversos processos, elementos e fenômenos da democracia ganham novas

características, velocidade e roupagem. Logo, os processos da diversas mídias e os

processos midiatizados dos diversos campos tornam-se elementos de influência

nesta “e-democracia”.

Como já afirmamos as agendas, intenções e processo destes campos

são elementos presentes e constantes na exposição e mobilização das questões

sociais, pautando os debates e a resolução das demandas. Claro, estes campos não

existem isolados, mas se fazem presentes num tecido social onde as tensões e

pressões dos vários campos são elementos relevantes neste agendamento.

Assim vemos a “e-democracia” inserida enquanto um elemento e

processo das democracias modernas, de um processo maior, geral, que trata,

conduz e mesmo regula os processos das sociedades modernas. Por isso, citar um

processo como elemento vindo ou advindo de uma camada da população em

nossa visão é ignorar a complexidade dos fatores de formação e tensão que se

fazem presentes a conformam as democracias modernas, além de supervalorizar a

capacidade mobilizadora desta população frente as questões e debates sociais.

Cabe referir também, como nos diz Maia (2002), que a tecnologia não

determina a interação nem garante a crítica ou a reflexão, ou seja, a simples

promoção de espaços tecnológicos de interação não garante a necessária

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negociação entre os atores ou a reflexão por parte dos receptores. A autora

(MAIA, 2002:56) cita uma série de estudos empíricos que demonstram que as

pessoas conectadas através do espaço digital expressam as próprias opiniões,

buscam e disponibilizam informação sem que se vincule a um debate

propriamente dito.

Assim temos que a participação nos espaços digitais de interação se dá

e se faz mais na ordem da inserção e disponibilização de visões e opiniões do que

na configuração de uma troca e deliberação, características e constituintes de um

debate democrático.

Tomando esta posição como eixo argumentativo podemos considerar

que, se não há debate ou negociação, mas sim difusão e busca de visibilidade,

onde cada um insere seus processos e visões sobre um tema em pauta sem trocar

com os demais, há na verdade uma busca de influência sobre o processo que parte

de uma individualidade que se projeta sobre um todo podendo gerar maiores ou

menos efeitos.

Assim, deve-se levar em conta que, como já foi dito, o espaço digital

se insere na sociedade e reflete os seus processos culturais. Neste aspecto

referimos o exemplo da cidade de Bolonha, citado por Rousiley Maia (2002:53),

onde foi implantado um sistema que garantia a universalidade de acesso a Internet

e a espaços de interação e troca, mas estes se mostraram mais utilizados para

assuntos gerais, como esportes, televisão, novelas, etc., do que para questões

políticas.

Analisando o mesmo caso Guidi (2002), adotando uma perspectiva

aparentemente mais quantitativa, considera a experiência de Bolonha como

positiva pela constituição de um espaço e de ofertas de tecnologia – salas com

computadores conectados, liberdade de uso e acesso, treinamento, etc. - que

facilitaram o acesso às mais variadas camadas da população o que, somado ao

retorno obtido através do cadastramento e procura tornaria a experiência de

Bolonha positiva.

Guidi adverte para os perigos de iniciativas como estas gerarem novas

estratificações sociais, mostrando uma visão bastante diferenciada da de Maia

que, focada nos usos e apropriações do espaço por parte dos usuários, avalia a

experiência de Bolonha como exemplo e emblema de um fazer político

desgastado e cada vez mais afastado dos cidadãos.

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A política nos espaços digitais

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Interessante observar neste caso a forte vinculação que o uso e a

manipulação dos espaços digitais possui, como já afirmamos, com as

individualidades, subjetividades, anseios e expectativas daqueles que dele se

utilizam, sendo estas os condutores, balizadores e formatadores do processo de

conexão e interação.

Assim, a “e-democracia” trata do estabelecimento de novas formas de

relação entre cidadãos, instâncias políticas e mesmo o poder público através dos

recursos da tecnologia digital e interativa, apresentando-se como um novo

elemento de tensão e re-ordenamento das democracias contemporâneas. O desafio

da e-democracia, segundo Clift, reside em mobilizar os cidadãos para participar, e

que não deve excluir ou estratificar seus cidadãos – posição com a qual temos

total concordância.

Lembrando que a esfera pública contemporânea encontra-se

fortemente midiatizada, e que o campo midiático é fator de grande influência e

agendamento das questões em pauta vemos que a “e-democracia” se faz num

processo de integração e mobilização através dos vários campos e,

principalmente, das várias mídias.

Estas, somando seu potencial de integração, exposição, debate,

visibilização e, principalmente, mobilização, tornam-se elementos de promoção

da democracia e integração dos cidadãos aos processos políticos, onde os espaços

digitais trazem como novidade a maior possibilidade de interação e aproximação

entre cidadãos, atores e campos e um suporte atemporal de conteúdos, discursos e

processos.

Assim “e-democracia” não é apenas a conexão, difusão e relação

política via espaço digital, mas também um processo complexo de interação,

mediação e negociação entre campos que formam, conduzem e tensionam os

debates democráticos através de processos tecnológicos midiatizados, e onde o

potencial de visibilização de uma mídia e o poder de um campo se tornam

elementos-chave no aprofundamento das questões.

Devemos então pensar a Internet e seus espaços digitais em termos de

uma nova instância de interação, cruzamento e acoplamento entre campos e de

promoção das questões políticas das democracias modernas.

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Como já referimos, a Internet não é uma mídia isolada, mas que

existe, ganha sentido a partir dos usos sociais que dela é feito. Logo, os processos

dos usuários no espaço digital, tensionados e influenciados pelos diversos

processos e instâncias sociais, irão se projetar e se fazer presentes neste espaço,

refletindo a cultura e os fazeres destes usuários e campos. Podemos inferir que os

espaços digitais só ganham ou traduzem processos políticos pelos usos que o

campo político ou seus apoiadores e correlatos fazem dele.

A função política se dará na ordem dos processos do campo político

no espaço digital, o que nos permite identificar um ponto de pressão e tensão

sobre o campo político, na medida em que as mediações e interações promovidas

nos espaços digitais do campo se projetam sobre e para a esfera pública através

daqueles que dele se utilizam e nele se projetam.

Compreender a política e seu fazeres nos espaços digitais é

compreender a complexidade dos processos, fenômenos e interações que esta

promove e insere no espaço público, sendo o espaço digital um elemento de

visibilidade e manipulação de seus processos, discursos e estratégias frente aos

demais campos.

Mas este espaço digital e suas tecnologias trazem novos elementos e

processos de comunicação e interação que podem possibilitar a criação de novas

relações políticas. Sobre isto dissertaremos no próximo capítulo.

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A Política nos espaços digitais

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2. Relações políticas no espaço digital

Entendidos então o surgimento, a ascendência e os processos do

espaço digital nas democracias contemporâneas consideramos agora os elementos,

processos, lógicas operativas e simbólicas que o campo político – e os demais

campos - pode mobilizar para se promover, se fazer visível e “interativo” neste

meio.

O espaço digital estabelece, traz novos protocolos comunicacionais,

disponíveis para os diversos e diferenciados usuários e campos que os utilizam em

seus processos de comunicação e interação, buscando, assim, circular seus

discursos, enunciados e construir seus efeitos. Nestes espaços coloca-se a

interatividade como a nova revolução da comunicação surgida com a Internet, a

comunicação mediada por computador (CMC) e a midiatização das redes digitais

informatizadas.

Lucien Sfez (1992) critica esta chamada interatividade considerando

que ela insere os receptores em uma ilusão de expressão e participação no meio

levando a um processo solitário, autista e autoritário que a dá o nome de tautismo.

Para o autor “interatividade” é jargão mercadológico, argumento de venda e

sedução e não reflete a realidade ou se realiza através dos processos via Internet.

Em nossa visão, se analisarmos de forma mais aprofundada, podemos

dizer que todas as comunicações midiáticas, de diferentes maneiras e com

diferentes suportes, promovem a interatividade.

A interação midiática se dá na ordem da circulação de discursos e

processos onde, através do uso dos meios nas várias escalas possíveis – ou

coletiva e plural nas palavras de Verón e Alsina - instâncias de produção e de

recepção, que estão fisicamente separadas, se conectam, trocam, “falam” através

dos diferentes meios. Assim, uma mensagem formatada e inserida pela instância

de produção em um meio é acessada pelo receptor que a “interpreta, lê, seleciona,

recusa, edita” (BRAGA, 2001:117), conforme sua subjetividade, suas expectativas

e suas formações.

Dessa forma, podemos ver que todos os meios de comunicação, de

diferentes formas e através de variados processos, possibilitam a interação e a

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interatividade, posto que através de seu uso ocorre uma negociação de sentidos

entre instâncias de produção e recepção, que agem e reagem sobre e para a outra.

Assim a interação ocorre através dos meios, dos suportes das

mensagens e enunciados, e a interatividade sobre e através dos enunciados,

conteúdos e discursos criados e disponibilizados pela instância produtora, pois

estes contêm uma intenção e pressupõem uma reação em sua construção.

“A comunicação envolve, de certo, o transporte de informações, mas isso não significa que o conteúdo das mesmas permaneça inalterado durante todo o processo, na medida em que a própria identidade do receptor se modifica, ao receber as mensagens.” (RUDIGER, 1998:25)

Temos então que a interatividade está condicionada por estas ofertas,

construídas a partir das estratégias e necessidades da instância produtora. Isto nos

permite afirmar que interatividade midiática se faz, se constrói a partir das reações

dos receptores sobre os elementos e discursos inseridos e presentes nos meios, que

podem ser verificadas de diferentes formas: pesquisas de audiência, pesquisas

qualitativas de recepção, cartas enviadas aos veículos, etc.

Notamos que a interatividade se configura como a qualidade da ação

recíproca que se manifesta na instância receptora do produto midiático em seu

processo de seleção e reação frente aos discursos e conteúdos ofertados, agindo e

criando um texto ou discurso próprio, específico, construído e condicionado pela

sua subjetividade.

Nos espaços digitais a relação de interação constrói-se na interface

software-indivíduo, ou seja, na utilização e manipulação dos recursos dos

softwares e sistemas informáticos inerentes ao meio. Ambos são partes integrantes

e indispensáveis ao processo comunicacional. Logo na Internet a interação e a

interatividade manifestam-se no uso, necessário, das interfaces de software no

processo de recepção. Conforme Murray:

“o que é chamado de interatividade é na verdade a combinação de duas funções dos softwares – a função ‘processual’ que diz respeito ao seu funcionamento por regras codificadas; e a função participatória que diz

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respeito à requisição da atividade para que as regras funcionem”. (MURRAY apud SÁ, 2002:s.p.)

Torna-se então impossível falar de interação via Internet sem falar em

interatividade, da mesma forma que não podemos falar em interatividade sem

interação. Por tal razão, acreditamos que, em se tratando de Internet, as

expressões interação e interatividade contemplam duas noções indissociáveis.

Logo, ao referirmos à interação ou a interatividade, estamos referindo-

nos a dois processos interdependentes e indissociáveis que ocorrem num mesmo

canal e sobre uma mesma base tecnológica.

Nota-se que a interatividade está longe de uma simples relação

homem-máquina ou reação frente ao um conteúdo colocado numa tela, mas se

apresenta como uma complexa relação entre usuários e atores através das

máquinas informáticas, onde os valores e culturas de ambos se cruzam e acoplam,

gerando os processos de sentidos no meio.

Lembrando de Bourdieu (2000), a autoridade, o poder de um discurso

está intimamente ligado e surge da legitimidade de quem o emite, de sua

competência prática e simbólica, somado às situações em que é proferido, ou seja,

do contexto em que circula e é reconhecido.

Isto também irá se manifestar na relação entre produtores e receptores

nos espaços digitais. Nestes há, sim, uma maior aproximação entre estas

instâncias, um acoplamento entre ambos, pois os receptores têm suas

possibilidades de construção de texto e de interferência sobre os conteúdos e

discursos ampliado, além de selecionar o espaço de interação frente aos variados –

ou quase infinitos – espaços disponíveis.

É claro que os caminhos, percursos, recursos e conteúdos a ser

selecionados estão previstos, foram criados e disponibilizados pelo produtor frente

as suas necessidades e estratégias, cabendo ao receptor selecionar o que deseja

criando um “texto midiático que apesar de previsível não foi necessariamente

previsto” (FRAGOSO, 2001:93).

Mas esta seleção não trata de um processo de mera aceitação ou

recusa a determinados conteúdos, num mero binarismo positivo-negativo, aceito-

recusado, mas de um complexo processo de leitura, análise e contato permeado,

atravessado por uma ampla gama de expectativas, anseios, desejos e necessidades.

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Lembramos então dos conceitos de auto e heterorreferencia de

Luhmann (2000:14-22), pois vemos que as regras do meio, ou seja, as técnicas e

linguagens do meio formam suas leis, suas estratégias e regras operativas.

Aqueles que do meio se utilizam valem-se de valores e elementos externos para,

usando e manipulando estas regras, formar os sentidos no meio.

Assim a seleção realizada pelo usuário é atravessada por mediações de

todas as ordens e manifesta, conforma e forma um cenário numa amplitude de

cruzamentos, tensões, agendamentos e estratégias.

O processo de interação via Internet aproxima-se, pois, da noção de

acoplamento (LUHMANN, 2001:93) entre produtores e receptores, na medida em

que as individualidades, subjetividades e necessidades de produtores e receptores

se mantêm, mas se influenciam, reciprocamente.

O produtor formata o espaço, seus conteúdos e elementos, conforme

suas estratégias e necessidades. Este é “invadido” pelas demandas e expectativas

dos receptores que “clicam” e selecionam aquilo que desejam. Configura-se assim

um processo de troca midiatizada, onde ambos não estão diretamente presentes,

mas podem se conhecer e reconhecer de várias formas, formando o que podemos

chamar de contrato de leitura do espaço digital.

É importante mencionar que, ao acessar o espaço digital, o usuário é

permanentemente interpelado, solicitado a agir sobre a oferta construída, sobre os

elementos e recursos disponíveis - sejam eles textuais, visuais, sonoros, etc. -

através dos recursos técnicos e softwares para seguir e dar sentido a seu processo

de interação.

Ou seja, podemos dizer que o usuário espera, deseja ou mesmo

necessita ser interpelado, agir sobre uma interface sendo estimulado por diferentes

e diferenciados elementos para construir seu processo de interação.

Assim se configura, se manifesta e processa o “contrato de leitura”

entre as instâncias de produção e recepção no espaço digital. Na medida em que

há uma expectativa do receptor, formada por sua cultura e seus objetivos, e uma

intenção ou processo do produtor ao construir este espaço, que manifesta suas

agendas e estratégias formatando os conteúdos e a topografia, forma-se um

contrato entre ambos através do espaço digital.

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O receptor torna-se então parte mais ativa e influente no processo de

interação, na medida em que seleciona o elemento e o espaço onde irá interagir,

em que constrói o fluxo de informações e o discurso através da seleção das ofertas

de conteúdo neste espaço e que organiza os sentidos num feixe de relações.

Há, sim, uma construção, uma estratégia de exposição e formatação de

conteúdos por parte do produtor que será selecionada pelo receptor formando os

sentidos, mas estes estão e se formam fora do espaço digital, pois as estratégias e

seleções são elementos inerentes as culturas, expectativas, estratégias e anseios de

cada ator e campo.

Temos assim uma comunicação de característica massiva, pois os

espaços de interação e seus conteúdos estão disponíveis ao vasto público usuário

nos quatro cantos do mundo, com recorte interativo, pois cabe à instância de

recepção à seleção do espaço aonde irá se fazer presente e a construção do

discurso neste espaço. Como coloca Marcos Palácios, “a explosão telemática está,

pela primeira vez, fazendo a junção entre comunicação massiva e interatividade”.

(PALÁCIOS, 1999:s.p.)

Entretanto, há de se considerar que a lógica do receptor, do usuário

conectado ao espaço digital, ganha maior relevância no processo de interação. Ao

contrário de meios como a televisão e o rádio, na Internet a circulação de

conteúdos e a visibilidade de processos e fazeres dos diversos campos será

determinado pela relação entre produtores e receptores, cabendo a estes últimos

selecionar não somente os conteúdos, mas também o espaço de interação com que

manterá contato.

Recordamos que não existem campos isolados, mas sim relações de

interação e negociação que fundam e permitem o reconhecimento de um campo

através de suas especificidades discursivas.

Podemos então inferir que a identidade e as estratégias do campo que

constrói e disponibiliza o espaço serão elemento de ressignificação de discursos,

sendo influenciados pelas interações e negociações que este trava com os demais

campos e pela tecnologia e linguagem do meio.

Da mesma forma, lembramos que uma tecnologia somente se converte

e ganha status social através dos usos que os atores e campos fazem, mobilizando-

a segundo suas lógicas e estratégias.

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Podemos então inferir que a identidade, os valores e fazeres do campo

serão elementos centrais na construção do espaço, mas este refletirá os processos

de troca, interação e competição que ocorrem na esfera pública, sendo estes

importantes elementos na formação e caracterização do espaço digital de um

campo.

Por outro lado, na medida em que serão os processos e estratégias de

um campo que permitirão o seu reconhecimento devemos considerar que os

demais campos têm seus próprios processos, expectativas e anseios frente a este,

expectativas estas cuja variedade deve ser atendida ou reforçada de forma a

estimular e gerar os efeitos pretendidos por este campo produtor.

Os discursos, formatos, conteúdos e recursos do espaço digital serão,

pois, determinados pela combinatória das estratégias e desejos do campo

construtor e promotor, buscando antecipar ou atender as necessidade e desejos dos

demais campos.

Entretanto, a lógica do construtor, no caso deste trabalho o campo

político, estabelece o filtro, as estratégias e as táticas e mesmo condiciona os

processos que serão presentes e visíveis no espaço, na medida em que o campo

político e seus espaços digitais se inserem nos processos que se dão no tecido

social.

Da mesma forma, há de se considerar que o campo midiático,

especialmente num momento de alta visibilidade política como uma eleição,

torna-se elemento de constante pressão e agendamento do campo político. Além

disso, nos demais meios, como já colocamos, ocorre uma contaminação, uma

adequação ou mesmo redução dos discursos para adequá-lo a massa de receptores.

Nos espaços digitais isso ocorre através do suporte tecnológico, que

condiciona sua construção e a configuração dos discursos e conteúdos oferecidos,

possibilitando também a oferta, num mesmo espaço, de conteúdos nos mais

variados formatos que se somam como elementos para a seleção pelo receptor.

No espaço digital ocorre, então, uma antecipação dos movimentos do

receptor que se configura, se manifesta e se materializa em amplas ofertas com os

mais diferentes conteúdos e discursos nos mais variados formatos, que ficam

disponíveis para interação pelo receptor no espaço-tempo que este desejar.

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O usuário “interpreta, lê, seleciona, recusa, edita” (BRAGA,

2001:117), mas a tecnologia do meio e as várias linguagens que suporta permitem

ao produtor efetuar operações estratégicas de apropriação destes possíveis

movimentos e necessidades do receptor, antecipando aquilo que este pode agregar

ao processo de interação à construção das ofertas do espaço digital.

A este processo de configuração do espaço digital pelo cruzamento

das lógicas do campo político, na tentativa de antecipar as lógicas do(s)

receptor(es), denominamos ampliação do discurso político, ou seja, o processo de

construção de amplas e variadas ofertas com diferentes linguagens, formatos e

elementos com o objetivo de atender e antecipar o máximo de expectativas dos

demais campos.

Por outro lado, devemos considerar que o suporte técnico do espaço

digital permite a exposição e manipulação de enunciados e discursos nos mais

variados formatos - áudio, vídeo, imagem, etc. – provenientes de diferentes

origens, sendo algumas delas outras instâncias de midiatização da política e o

próprio campo midiático.

Como refere Rubim (2000), a política busca os efeitos de mídia, que

nos demais meios eletrônicos possuem uma marca temporal condicionada por

uma ampla combinatória de lógica e tensões.

Nos espaços digitais está marca temporal desaparece, na medida em

que o espaço-tempo de interação é determinado pelo usuário. Logo um enunciado

ou conteúdo oriundo do campo midiático transposto pelo espaço digital pode

gerar amplos efeitos, conforme as expectativas do(s) receptor(es).

A esta possibilidade de geração de efeitos dentro da marca temporal

determinada pelos usuários, denominamos expansão dos “efeitos de mídia”1.

Colocamos possibilidade, realçando o condicional do processo, porque o acesso

ao conteúdo será determinado pelo receptor cujas expectativas o produtor busca

antecipar, e porque o efeito de mídia só se cumpre quando um enunciado ou

discurso é visto pelo eleitor. Logo há uma possibilidade de ampliação de um

possível efeito de mídia no espaço digital, que se cumpre ou faz presente pela

manifestação e interação do usuário-receptor.

1 Como exemplo deste conceito podemos citar o mote da campanha publicitária do portal “Globo.com”, que propõe a possíveis usuários a possibilidade de assistir programas da emissora Globo, como o Jornal Nacional, no horário que desejarem, através do portal.

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Retomando, então, a questão das lógicas de uso dos meios, podemos

inferir que a lógica de formatação do espaço digital de interação se dá na ordem

do campo que o constrói e promove, dando maior ou menor relevância aos

diversos elementos oriundos dos demais campos.

Ou seja, o espaço digital ganha status, forma e sentido pela

mobilização e lógica de um campo em sua relação com as demais instâncias da

sociedade, assumindo o papel de condutor, de filtro do espaço digital. Ou seja, no

caso desta pesquisa quem formata o espaço digital é o campo político, buscando

antecipar e suprir as necessidades dos possíveis receptores.

Frente a estas questões nos propomos, seguindo a trilha de Verón e

retomando nosso esquema de análise, citado em capítulo anterior, a entender o

processo de midiatização do campo político no espaço digital de forma gráfica e

esquemática. Neste (ilustração 2.1) o espaço digital mostra-se como o elemento

midiático, configurando o esquema da seguinte maneira:

Ilustração 2.1

Entretanto, há de se considerar que nesta entrada ocorre uma re-

formatação técnica e operativa, influenciada pela tecnologia e linguagens do meio,

que se coloca sobre os processos e discursos do campo.

Assim, podemos dizer que o espaço digital invade o campo político

com suas operações tecno-simbólicas, que balizam a formatação dos conteúdos, e

é invadido por este por seus processos discursivos. O esquema, então, evolui da

seguinte forma (ilustração 2.2):

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Ilustração 2.2

Logo, as lógicas e processos do campo político, sua cultura e seus

agendamentos e suas tensão com os demais campos mostram-se como elementos

de formatação e construção do espaço digital.

Da mesma forma devemos recordar o acoplamento do receptor, que se

faz presente sobre as lógicas do campo construtor e promotor. Assim, há um

atravessamento das demandas do campo político e dos demais campos

(receptores) dentro do espaço digital, que nele adentram com seus processos e

fazeres e estabelecem seus contatos (ilustração 2.3), gerando interseções entres

estes e o espaço digital.

ilustração 2.3

Assim, no espaço digital a midiatização se dá num processo

permanente de tensionamento, agendamento e atravessamento de um campo sobre

outro(s) através das tecnologias e linguagens do meio. Trata-se de uma

midiatização por acoplamento que leva ao máximo efeito o conceito de mediação

midiatizada.

Temos então o espaço digital como uma nova instância de visibilidade

e interação do campo político com os demais campos, que se dá e se faz numa

combinação e cruzamento das lógicas do campo político com as lógicas, anseios e

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expectativas dos receptores e pelos processos que ocorrem e se formam no tecido

social, sendo esta balizada pelas técnicas inerentes ao meio.

A distinção entre estas diversas lógicas e processos, assim como o

reconhecimento de um campo no espaço digital, se dá por suas identidades,

estratégias e processos, que se apresentam como elementos condutores e

construtores do processo de interação.

Logo, se pensarmos na promoção e visibilidade de um candidato em

uma campanha eleitoral teremos um espaço digital formatado por suas estratégias,

feitos e discursos, mas estes contemplarão uma ampla gama de ofertas de

conteúdos de forma a antecipar os anseios dos possíveis receptores.

Poder-se-ia aqui entender estas distinções próximas ao conceito de

binarismo de Luhmann (2000), que afirma que o meio opera selecionado o que e

informável e o que não é informável. Nesta perspectiva podemos colocar que o

campo que constrói o espaço digital seleciona o que é informável a partir de suas

estratégias e valores, sendo que o receptor, ao selecionar, valoriza ou desvaloriza

aquilo que o campo considerou informável, gerando um cruzamento direto das

estratégias de ambos.

Não consideramos o processo de comunicação midiática e midiatizada

um mero binarismo, na medida em que esta seleção de que fala Luhmann sofre

toda uma complexidade de interferências e processos de outros agentes, campos e

atores.

Entretanto, cabe esclarecer que cada ator possui o seu sistema de

valores, a sua subjetividade, que irá se mostrar nesta lógica de seleção. Logo, a

visibilidade de um campo no espaço digital se faz pelas lógicas e estratégias deste

frente, ou em confronto, com os demais campos e atores.

Há de ser ressaltada, no esquema anterior, a presença da seta externa

ao espaço digital, que aponta as influências, tensões, processos e agendamentos de

outros campos e atores que influenciam nas ações e nas estratégias do campo

político no espaço digital e mesmo as ações dos receptores neste.

Lembramos que não se trata de um contato direto entre campos, mas

de um complexo processo de negociações, agendamentos, influências e tensões

que vão além do espaço digital e deste se projetam e se manifestam na esfera

pública.

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Nota-se então que a construção e os processos que ocorrem no espaço

digital possuem uma alta complexidade que resiste a qualquer esquematismo,

mesmo o mais básico ou simplificado ou meramente ilustrativo como os que nos

propusemos anteriormente.

Cremos que os processos de relação, mediação, negociação e

visibilidade se dão e se fazem num permanente cruzamento e re-ordenamento

entre campos cujas relações vão além das redes ou técnicas midiatizadas.

Assim a visibilidade do campo político no espaço digital se faz pela

combinação das estratégias de sentido, intenções e lógicas do campo e seus atores,

que adentram ao espaço digital, com a lógica das expectativas, anseios e processos

do(s) receptor(es) que se faz(em) presente(s) nestes espaços.

Nisto reside o conceito do que chamamos de adentramento, pois não

há uma simples entrada ou manipulação do meio, mas sim uma penetração do

campo no espaço digital dentro de um somatório de várias tensões e

agendamentos. Entre estas podemos citar as questões técnicas inerentes ao meio e

as identidades dos atores, que fazem com que um campo esteja presente e seja

reconhecido no meio.

As pré-configurações, as estratégias, valores e identidades do campo

se transformam e os processos deste com os demais campos são manipuladas

dentro da lógica da técnica do meio, moldando o espaço digital conforme o campo

que adentra ao mesmo.

Podemos, com estas questões, colocar o espaço digital da política

como um reflexo, uma manifestação dos processos políticos, moldado e

formatado pela cultura e processos políticos contemporâneos. Se, historicamente,

a democracia moderna se faz como um sistema representativo através da

delegação de poder, há de se imaginar que este modelo de representação irá se

projetar nos espaço digital.

Retomando, então, brevemente a questão da “e-democracia” antes

discutida, vemos que não se trata de uma nova forma de organização social via

Internet, mas sim de processos políticos e de interação que se fazem dentro e a

partir de uma cultura, que se projeta no espaço digital por este ser um elemento de

contato, de aumento de velocidade, quebra de fronteiras e marcas temporais e

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ampliação de relações físicas, acelerando e ampliando relações e radicalizando as

possibilidades de contato entre os diversos integrantes da sociedade.

Neste aspecto vemos que o espaço digital promove a formação das

mais variadas relações e processos. As comunidades virtuais nasceram com a

própria Internet, e já no início da década de 90 Howard Rheingold (1999)

identificou e analisou este fenômeno de interconexão entre pessoas e grupos com

interesses semelhantes, numa prática de comunicação que Lévy (1999B) define

como interativa, recíproca, comunitária e intercomunitária. Para Rheingold2 as

comunidades virtuais são agregações de indivíduos que surgem na Internet

quando estes se dedicam a discutir, debater e trocar experiências por um tempo

relativamente longo, formando e estabelecendo relações diretas e recíprocas.

O termo comunidade virtual pode sugerir agregações que surgem ou

se formam somente no espaço digital, mas aplica-se também a relações físicas ou

locais que têm neste um novo elemento de contato e aproximação, expandindo

assim o próprio conceito de comunidade.

Os contatos através do espaço digital irão, ou poderão, se refletir na

identidade do integrante, explorando e dando nova forma e sentido aos processos

e práticas sociais do mesmo, explorando e ofertando novas estratégias de

associação e formação de opinião. Segundo Stockinger (2001:113):

“ambientes virtuais de informação, quando conectados com sistemas sociais, influem nestes no sentido de reforçar e aumentar instabilidades em comportamento e pensamentos, que estão permanentemente sujeitos a serem selecionados de maneira auto-organizada.”

Estas relações no espaço digital vão das mais simples às mais

complexas. De um usuário doméstico conectado numa sala de chat, que aproveita

o anonimato da tela para criar um personagem e brincar com os outros usuários a

um alto executivo de uma multinacional, que gerencia uma reunião por tele-

presença com executivos nos mais variados lugares do mundo, passando por um

grupo de discussão e troca de informações sobre botânica, o espaço digital

apresenta-se como uma nova possibilidade de troca e interação entre os vários

atores de uma sociedade. 2 Ressaltamos que os estudos de Rheingold ocorrem na primeira metade da década de 90, num período em que os players de mídia começavam a entrar na rede.

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A formação de uma comunidade virtual irá se basear, construir-se a

partir das identidades, processos e subjetividades daqueles que nela se conectam e

dela participam ou para ela contribuem. Ou seja, são os interesses convergentes e

as concordâncias de identidades que irão facilitar e promover a criação e

manutenção de uma comunidade virtual.

Logo, uma comunidade virtual de cunho político será integrada, criada

e mantida pelos interesses de seus participantes nas questões oriundas do campo

político, onde a mobilização e estímulo a formação destas comunidades por parte

do campo pode trazer benefícios e novos processos a política, integrando os atores

do campo político aos de diversos outro campos.

Entretanto, é importante lembrar que várias pesquisas (ver MAIA,

2002) indicam que as pessoas que se fazem presentes e utilizam o espaço digital

como forma de intervenção e atuação política apenas expressam as próprias

opiniões ou buscam elementos, espaços e enunciados que reforcem e validem

estas.

Isto não só reforça a forte vinculação do espaço digital com a

identidade dos usuários e com os processos sociais em que se insere, mas também

permite supor que a formação de comunidades virtuais de cunho político se dará

ao redor ou através de elementos de tensão e formação de identidade política que

se projetarão sobre o espaço digital.

Fazendo um breve contraponto, é interessante mencionar estudo

realizado pelo antropólogo Julian Orr, (AGRE, 1989), em que observou que os

empregados de uma empresa de manutenção de copiadoras desenvolviam suas

capacidades técnicas menos nos treinamentos e muito mais nos horários após

expediente quando, reunidos com os colegas, bebiam e trocavam “histórias de

guerra”.

Neste ambiente foi introduzida, para uso dos técnicos, uma central de

telefonia móvel totalmente livre e sem controle, de forma que os técnicos

pudessem falar entre si a qualquer momento.

Por outro lado, Agre (idem) cita o caso de uma empresa de

contabilidade global em que foi feito um enorme investimento em tecnologia

informática, colocando computadores, servidores, softwares e tudo o necessário

para que os funcionários pudessem trocar informações instantaneamente.

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Entretanto tal sistema não era utilizado devido a forte concorrência

entre estes, onde qualquer pequena informação era utilizada para superar a pessoa

ao lado e subir de posto.

A conclusão de Agre é que a tecnologia não é substituta de uma boa

relação física, no mundo real, mas sim um meio complementar de troca entre as

pessoas de uma rede ou grupo já bem organizado e estruturado, onde notamos o

que Perriault (2000) chama de lógicas dos usos, ou seja, as apropriações e

manipulações que se fazem dentro das estratégias específicas, embasadas e

construídas por fenômenos e processos culturais.

Logo, uma comunidade virtual de cunho político terá tanta ou maior

possibilidade de gerar alteração e novas configurações a processos do campo

quanto mais próxima e integrada estiver do mesmo, seus atores e instituições.

Claro, não se pode afirmar quais as possíveis influências da formação

de comunidades desta natureza nos processos do campo político mas, de acordo

com Howard Rheingold, as comunidades virtuais têm o potencial de refletir e se

refletir nas identidades de seus membros, logo pode-se supor que trazem ou

trariam novos elementos de tensão e novas instâncias de influência sobre e para o

campo político.

Podemos afirmar que uma comunidade virtual promovida, estimulada

por um ator ou instituição do campo político terá mais chances de mobilizar os

usuários para nela participarem e também maiores possibilidades de gerar efeitos

e re-configurações aos processos do campo político.

“The question that needs to be asked about the relation of the Internet to democracy is this: are there new kinds of relations occuring within it which suggest new forms of power configurations between communicating individuals? In other words, is there a new politics on the Internet?3” (POSTER, 2003: s.p.)

Acreditamos que o espaço digital do campo político, em um período

eleitoral, irá refletir o processo como um todo, ou seja, as intenções, propostas e 3 A questão que precisa ser respondida sobre a relação da Internet com a democracia é: há novas formas de relação ocorrendo que sugiram novas formas de configuração de poder entre os indivíduos que se comunicam? Em outras palavras, há novas formas de política na Internet?

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as estratégias do(s) candidato(s), as visibilidades dos mesmos nas diversas

instâncias de campanha, as diversas influências e tensões e os processos e

fenômenos que se fazem presentes nesta4.

Não se trata de um processo puramente tecnológico ou – se assim

podemos dizer - “internético”, uma entrada pura no meio, mas sim um somatório

de estratégias, tensões e agendamentos, uma heterorreferencia política

(LUHMANN, 2001:17) que se dá pelo adentramento e acoplamento dos diversos

campos e atores que se fazem presentes, visíveis e influenciáveis frente ao

processo eleitoral mediante suas enunciações.

Além disso, podemos inferir que é preciso fazer com que os espaços

sejam conhecidos e reconhecidos pelos receptores, trazendo ou adicionando

algum valor para os mesmos de forma a estimular as interações e gerar os efeitos

pretendidos. Sobre esta e outras questões trataremos no próximo capítulo.

3. O espaço digital e os processos eleitorais

Neste momento de nosso trabalho cabe levantar as possibilidades de

uso, benefícios e efeitos dos espaços digitais num processo eleitoral.

Para o campo político, seus atores e integrantes, o maior capital é a

fidelidade, a atenção, o apoio dos demais campos e, num processo eleitoral, o voto

do eleitor. Para obter isto a política mobiliza uma série de estratégias

inerentemente políticas e também – se não principalmente - comunicacionais e

midiáticas, que buscam e tornam visíveis seus processos junto aos demais

campos.

“Except for the perhaps the last days before an election, the web is not like a television ad geared at undecided voters. You do need to help active undecided voters decide by providing extensive issue position information.5” (CLIFT, 2002:s.p.)”

4 Em nossa análise do websites dos presidenciáveis demonstraremos este processo de forma empírica. 5 A exceção do último dia antes da eleição a Internet não funciona com um anúncio de televisão para estimular eleitores indecisos. Você precisa ajudar os indecisos que estão ativos (atrás de informação) fornecendo extensivas informações sobre suas posições.

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Como já dissemos, na contemporaneidade a Internet soma-se como

integrante e promotora da esfera pública, apresentando-se como uma nova

instância de comunicação e visibilidade dos processos dos diversos campos

sociais.

Os partidos políticos adentram este espaço adequando suas lógicas,

estratégias e processos discursivos através de uma série de operações internas e

externas ao campo, das linguagens, dos recursos comunicacionais e dos elementos

do espaço digital para seus processos de contato e conquista dos eleitores.

Leda Guidi (2002:166) critica o uso político da Internet por notar que

a maioria das experiências com que teve contato baseava-se num modelo de

difusão, ou seja, o campo político adentra o espaço digital inserindo e

disponibilizando informação para muitos usuários acessarem e interagirem – ler,

ver ou ouvir.

Este é um dos modelos de estratégia de adentramento ao espaço

digital que pode ser mobilizados pelo campo político, um modelo baseado na

utilização e mobilização dos recursos e processos da Internet para expor, circular

e dar visibilidade a conteúdos, discursos, fatos e informações oriundas,

selecionadas e editadas conforme as intenções do partido e candidato frente aos

processos que ocorrem e se formam no tecido social.

Adotando este modelo, o campo político pode driblar as estratégias e

limitações de tempo e espaço em suas instâncias de midiatização e mesmo

oriundas do campo midiático. Além disso – como veremos em capítulo seguinte -

as regulações jurídicas se fazem menos presentes no meio, aproveitando o suporte

atemporal e as várias linguagens suportadas pela Internet para expor seus projetos,

gerar seus efeitos e, assim, ampliar sua capacidade discursiva.

Um outro modelo de estratégia de adentramento é o de integração, em

que o espaço é construído buscando aproximar o usuário dos processos do partido

ou candidato através da disponibilização e mobilização de uma série de recursos

tecnológicos, ferramentas e táticas gerando, novas instâncias de relacionamento

para o campo político.

Neste modelo o campo político não apenas insere conteúdos e

discursos, mas lança mão de diversos recursos comunicacionais e de interação –

como fóruns, salas de chat, etc. - no sentido de aproximar, de trazer o usuário-

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cidadão-eleitor para “mais perto” dos processos políticos, estimulando e

mobilizando o mesmo em ações e táticas de campanha dentro, é claro, das

intenções do candidato.

Um terceiro modelo de estratégia de adentramento que devemos

considerar é o de formação de comunidade, em que o espaço digital é formatado

buscando promover e incentivar as relações entre o campo político e os usuários e

também – se não principalmente - destes entre si.

Através de um processo de troca, debate, deliberação ou mobilização

faz-se uma aproximação entre os diversos usuários, sendo desta forma possível

não somente mobilizar e estimular os mesmos a se integrar aos processos de

campanha, como também identificar demandas que podem ser agregadas.

Cabe observar que estes modelos estratégicos não são estanques ou

excludentes mas, pelo contrário, podem ser acionados e utilizados em sinergia

dentro de um mesmo espaço, construindo e operando a relação do político-

candidato com os diversos e diferenciados campos, atores e instituições

envolvidos no processo eleitoral.

Neste ponto é interessante citar a visão de Roberto Grandi (2001:91)

que, analisando as eleições Italianas e focando-se nas táticas de uso político-

eleitoral, coloca cinco possíveis usos e funções para o espaço digital como

instrumento de campanha eleitoral:

• criar uma relação direta com os eleitores, “escapando” da mediação

do campo midiático;

• ativar novos mecanismos de recrutamento e de mobilização de

militantes e inaugurar uma comunicação interna mais eficiente;

• criar novos mecanismos de captação de fundos;

• criar uma fonte direta de informação para a imprensa;

• contribuir para a construção da própria imagem com uma

conotação de inovação.

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Esta série de modelos estratégicos, táticas, fenômenos e processos,

cuja prevalência ou relevância é de difícil determinação, somam-se como

elementos na formação do espaço digital de cunho político-eleitoral. E, se

podemos falar de um espaço síntese das tecnologias de interação da Internet, este

é o website.

Nestes espaços, através de uma mesma tecnologia – o protocolo http6

– podem ser inseridos e ofertados vários elementos de interação – chat, e-mail,

hipertexto, etc. – e diferentes tipos de conteúdos em diferentes formatos e

linguagens – texto, áudio, vídeo, animação, ilustrações, etc. – que se somam para

fazer visíveis as estratégias, processos e fazeres do campo político.

A variedade de recursos e a facilidade de acesso às várias fontes no

meio requerem um pensamento estratégico para manter o usuário – receptor - no

espaço que foge ao escopo dos processos de marketing e comunicação “normais”,

exigindo equipes e especialistas na área para desenvolver e manter os espaços e

cumprir os objetivos propostos.

“Quando estamos desenvolvendo o conteúdo de um website, queremos alcançar pelo menos três grandes objetivos: (a) atrair e segurar dentro dele visitantes, (b) convence-los de que nossa empresa possui os conhecimentos adequados e a competência para fornecer o que buscam comprar e (c) contar-lhes algo sobre o negócio.” (VENETIANER, 1999:167)

Segundo o mesmo autor, existem quatro grandes motivos que levam o

usuário a acessar um website e interagir com seus conteúdos e informações, sendo

estes curiosidade, busca por lazer, por informações e procura de conveniência

(VENETIANER, 1999:30).

No tocante a política e a um processo eleitoral, estes quatro grandes

motivos mostram-se válidos, e pesquisas junto aos usuários tem demonstrado que

os usuários vêem muitos benefícios no acesso a estes espaços e no tocante a sua

relação com os partidos políticos e candidatos7.

É importante lembrar que as campanhas eleitorais produzem um

grande e constante volume de informações, que nem sempre são merecedoras de

6 Hipertext Transfer protocol – protocolo de transferência de hipertexto, que suporta e fez surgir a www, ambos criado pelo cientista Tim Berners Lee na primeira metade da década de 1990. 7 Ver dados da pesquisa OPINIA no próximo capítulo.

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espaço e tempo para os atores campo midiático, devido principalmente às agendas

e a seleção efetuada por estes.

Nos websites a velocidade de circulação e atualização torna-se

elemento de relevância na circulação e exposição de fatos e informações, sendo

possível disponibilizar toda a informação referente às ações do candidato, suas

propostas, agendas, etc., de forma permanente, desintermediando a relação entre

candidato e eleitor(es).

Já para o usuário é possível recuperá-las no espaço-tempo de

necessitar ou desejar. Não cabe aqui discutir critérios de qualidade, pertinência ou

relevância da notícia, dado ou informação, mas apenas citar que, nos websites

estas podem ser editadas conforme a agenda de intenções do candidato e ficar

disponíveis para interação, pelo usuário, no horário e pelo tempo que este dispuser

ou desejar.

Uma outra possível função dos websites é a distribuição de materiais

de campanha, desde santinhos, cartazes e demais peças gráficas, passando por

releases e mesmo os projetos e propostas do candidato, para os diversos comitês

localizados nos mais diversos e variados locais, que podem produzir e distribuir

estes materiais no local.

Outra que podemos citar é como canal de troca direta entre filiados,

comitês e seções dos partidos, que podem trocar informações, experiências e

dados numa rede de monitoramento não só dos resultados e efeitos da campanha

junto ao eleitorado como também das ações dos adversários, aproveitando a

agilidade e velocidade do meio como forma de “somar forças” para gerar

resultados.

A Internet também pode ser utilizada no desenvolvimento de uma

relação direta entre o candidato e o cidadão-eleitor, seja através do uso de e-mail,

respondendo diretamente a questões e interesses individuais manifestados ou

enviados ao candidato, como através de um canal de chat, debatendo com vários

eleitores ao mesmo tempo, como já foi visto, timidamente, em campanhas

recentes8.

Mesmo o envio de mala-direta eletrônica, o chamado spam, que não

goza de muita popularidade entre os usuários do meio, pode ser mais uma forma

8 Em 1994 o então candidato ao governo do Rio Grande do Sul Antonio Britto praticamente iniciou sua campanha promovendo um chat aberto com eleitores através do já extinto provedor HotNet.

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de comunicação com o eleitor-internauta trazendo benefícios, visibilidade e

efeitos para o candidato.

Por outro lado, o envio consentido ou solicitado de boletins e

informações de campanha - chamado pelos profissionais de marketing de

permissão - para o eleitor através de e-mail pode não só ser um instrumento de

garantia do voto, como também uma forma de transformar o mesmo num

propagador de informações, na medida em que pode encaminhar estes boletins

para sua rede de relações, ampliando os possíveis efeitos da informação.

Já os recursos e sistemas de comércio eletrônico e de segurança em

transações eletrônicas podem ser utilizados para a captação de recursos e no

financiamento direto da campanha pelos filiados e eleitores, tanto através da

venda de produtos como através de doações diretas aos comitês, dando agilidade

ao processo e mesmo permitindo maior acompanhamento por parte dos

responsáveis pelas finanças e pelos próprios Tribunais Eleitorais.

Outro fator importante a ser considerado é que um website ou mesmo

a criação de um boletim via e-mail são efetivamente mais baratos9 em sua

construção e manipulação do que meios como rádio ou televisão, permitindo

ainda a já citada utilização e manipulação de várias linguagens e técnicas sob um

mesmo suporte tecnológico.

A antecipação dos movimentos dos usuários, que se configuram como

a já mencionada ampliação dos discursos, permite ao candidato explorar e

aprofundar os assuntos, propostas e demandas, maximizando também os possíveis

efeitos destes elementos no usuário-receptor-eleitor.

Além disso, o website não pode ser fixo ou imutável, mas sim tratado

num processo dinâmico constante em todos seus recursos e processos, que se

reflita nos textos, fotos, estrutura e design, etc.

Neste ponto é importante lembrar que a construção do discurso, do

texto para a Internet exige um tratamento diferenciado das demais mídias, não

somente pela questão da tela do computador, que torna a leitura e acesso mais

cansativo para o receptor, quanto pela própria lógica do hipertexto, que necessita

de uma visão estratégica em sua construção, gerando uma estrutura e uma

9 Observando os relatórios de prestação de contas dos presidenciáveis em 2003 pudemos observar que apenas Lula e Serra Lula informam gastos específicos com Internet. Esta questão será tratada em mais detalhes no próximo capítulo.

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organização que facilite a localização e recuperação das informações de forma

rápida.

A isto se alia um design que privilegie e possa transmitir de forma

clara, objetiva e mesmo direta as intenções, os objetivos e os processos de quem

constrói e promove o espaço10. Assim, vemos que o produtor necessita de um

conhecimento específico, de uma competência estratégica vinculada ao meio, de

forma a construir seus objetivos e perfazer seus efeitos no espaço digital.

“O que conta na Internet não é tanto ser diferente dos concorrentes. O principal fator de sucesso da nossa presença depende da capacidade de concebermos e oferecermos ao nosso público-alvo conteúdo de valor. (VENETIANER, 1999:25. Grifo do autor)”.

Cabe também referir que o público na Internet no Brasil é bastante

qualificado, os chamados “formadores de opinião”, que no espaço digital dos

websites podem aprofundar e qualificar suas opiniões e mesmo esclarecer suas

dúvidas, aumentando as chances de o mesmo tornar-se um propagador, um “cabo

eleitoral” do candidato.

Devemos considerar também que o acesso aos espaços de campanha

na Internet é opcional, ou seja, quem procura o website tem boas chances de estar

realmente interessado e mobilizado - ou no mínimo curioso - pelo processo

eleitoral.

Logo, há maior possibilidade deste ser conquistado e mobilizado pelo

partido e candidato, e de usar os conteúdos presentes como elemento de

construção de debates em um outro lugar, interno ou externo à Internet.

Quanto mais se aproxima a eleição mais importante é a presença na

mídia, estando exposto e em exposição e influindo nos processos dos eleitores.

Um website disponível sem determinação de espaço e tempo, ou seja, uma forma

permanente de divulgação própria, onde o receptor tem a liberdade de acessar no

seu horário, selecionando os elementos que mais deseja, pode tornar-se um

instrumento imprescindível para se aproximar dos cidadãos e conquistar os votos

destes eleitores. 10 Tom Venetianer, Patricia Seybold, Evan I Schwartz e Sigel observam, de formas diferenciadas e com diferentes argumentos, a importância do design e da construção dos textos como elementos condicionantes ou mesmo determinantes do sucesso ou fracasso de um website e de uma estratégia de comunicação via Internet.

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Entretanto, e ainda que não nos ocupemos de estudos de recepção

neste trabalho, não podemos deixar de ponderar que a interação é um processo de

leitura, uma interpretação, uma negociação de sentidos que vai gerar novos

sentidos e valores, onde a simples existência de um website por si só não garante

os efeitos desejados pelo produtor.

Os profissionais de marketing colocam a Internet como o espaço ideal

para o chamado marketing “one-to-one”, para o atendimento e criação de

estratégias personalizadas mas também automatizadas, ou seja, de característica

massiva mas gerenciada individualmente, cliente a cliente, contato a contato,

eleitor a eleitor.

Adentrar o espaço digital e mobilizá-lo como instrumento de

campanha eleitoral, exige um processo de verificação de expectativas e

necessidades que irá se refletir na construção das ofertas. Além disso, exigirá o

estabelecimento de novas instâncias processuais e estratégias de atendimento e

formação de relacionamento diferenciados da simples difusão dos demais meios.

Por outro lado os websites inauguram, possibilitam para o campo

político uma forma mais direta, ativa e permanente de verificar expectativas e

resultados dos enunciados, discursos, conteúdos ofertados e mesmo de suas

estratégias gerais.

As ferramentas tecnológicas dos websites permitem o

acompanhamento, de forma quase instantânea, dos movimentos do(s) receptor(es)

frente aos conteúdos e discursos ofertados e, conseqüentemente, os resultados de

seus esforços e a validade de suas estratégias comunicacionais não somente para o

meio como também para as demais mídias.

Os sistemas de administração e manutenção dos websites possuem

uma série de ferramentas tecnológicas que possibilitam acompanhar o processo de

navegação e interação do usuário.

Estes dados são – ou podem ser - gravados pelos servidores e podem

ser acessados e analisados com vários softwares11, indicando desde a quantidade

total de usuários que acessaram o espaço até a duração e tempo médio de

permanência, passando pelas áreas e as seções mais acessadas, o ponto de origem

do usuário e como localizou o espaço, etc.

11 Um destes softwares é o “WebTrends Log Analyzer”. Para maiores informações sugerimos acessar o website http://www.netiq.com/solutions/analytics/default.asp

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A Política nos espaços digitais

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Além disso, é possível que o usuário seja identificado, de forma a

verificar quando ele acessou o espaço pela primeira vez, quando voltou, quanto

tempo permaneceu e mesmo a que conteúdos deu maior valor.

Assim, ao navegar, ou seja, ao procurar um determinando espaço

digital, acessá-lo e interagir com os conteúdos, discursos e ofertas inseridas no

mesmo os receptores estão produzindo sentido para o campo político a partir de

sua leitura.

A navegação e interação não somente constrói o texto ou processo

midiático do espaço digital conforme as expectativas do receptor, mas ao mesmo

tempo indica para os produtores o que lhes é mais atraente, importante e

relevante, gerando informações sobre seus anseios e expectativas de forma direta.

O processo de navegação transforma-se num instrumento direto de

pesquisa sobre a campanha, e também revelando importantes dados e informações

sobre os eleitores.

“A imagem clássica dos aparelhos de divulgação no topo da pirâmide e dos receptores confinados na base está se rompendo na arquitetura dos espaços multipontais da web.” (MORAES, 2002:68)

Nota-se que a política, ao adentrar o espaço digital, tem a necessidade

de novas estratégias e competências que irão além da simples manipulação e

adequação de linguagens e discursos, e envolve uma capacidade estratégica de

construção que se dá durante todo o processo de existência e disponibilização do

espaço.

Podemos garantir que o assessor em marketing, o “marketeiro”,

especialista na construção, formatação e visibilidade dos discursos e processos

políticos na mídia ganha a companhia do especialista nas estratégias e técnicas

para o espaço digital, ou seja, daquele profissional capaz tanto de manipular as

tecnologias quanto de conduzir os processos na Internet.

“O marketing de massa não vai funcionar na World Wide Web. A idéia de que os agentes de marketing podem polir uma imagem de marca nas mentes de milhões é boa para uma propaganda de TV ou uma campanha impressa, mas é uma fantasia irreal nesse novo meio. O que a web pode

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fornecer para os agentes de marketing é potencialmente mais eficiente.” (SCHWARTZ, 1998:23)

Se nos primórdios da Internet as técnicas e elementos eram de certa

forma acessíveis somente aos informatas, aos especialistas em computadores, com

o desenvolvimento dos softwares de programação e a evolução da linguagem do

meio estas técnicas e recursos avançaram, tornando-se mais intuitivas e de fácil

acesso.

É claro que, conforme a estratégia construída no espaço, serão

necessários diferentes recursos informáticos e tecnologias para sua

implementação, sendo assim maior ou menor a influência do especialista no

espaço digital no processo de entrada e manipulação do campo político na

Internet.

Entretanto o foco do espaço continuará sendo a promoção do

candidato e de sua relação com o receptor-eleitor ao qual o espaço digital se alia,

se soma como novo e importante elemento. Assim surge um novo ator na

campanha, cujo papel e relevância será dado pelo papel do meio Internet na

estratégia global da campanha.

Lembrando que a Internet reflete os processos em que se insere, as

estratégias e o foco do espaço digital será fortemente influenciado pelas

estratégias de comunicação e visibilidade do partido ou candidato. Isto nos

permite afirmar que não há preponderância ou dominância do especialista em

marketing ou do especialista no espaço digital, mas sim numa relação de sinergia

e complementação que levará a efeito as estratégias do candidato na Internet.

Tendo estas questões em vista vemos que a Internet se configura

como mais um elemento dos processos de midiatização da esfera pública

contemporânea, promovendo e suportando processos de interação entre os

diversos campos sociais que passam a necessitar de competências específicas para

dar conta de suas estratégias simbólicas.

Neste processo fazem-se e ocorrem acoplamentos estratégicas entre

campos, tanto para dar conta da visibilidade dos produtores como para atender as

expectativas dos receptores, que assim interagem dentro do cenário cultura e

social em que estão presentes.

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A Política nos espaços digitais

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Lembramos de Perriault (2000) e Winkin (1998), que falam das

lógicas de usos dos meios e das orquestrações que fazem e se fazem dentro dos

processos de comunicação, e temos o adentramento da política ao espaço digital

como um processo construído dentro da cultura e das intenções dos atores e

instituições do campo, mas influenciado pela ampla ordem de processos

estratégicos e simbólicos que se fazem na sociedade em que se inserem.

Devemos assim ver o adentramento da política ao espaço digital como

um novo processo ou procedimento da ordem das midiatizações do campo, ou

seja, como um novo elemento de manifestação e projeção de suas estratégias e

fazeres, tendo em vista as identidades e objetivos específicos do campo, que se

fazem e se dão dentro de um processo social maior.

Entretanto, não podemos esquecer que no espaço digital as estratégias,

processos e fazeres dos atores do campo – no caso específico deste trabalho, os

candidatos – ganham maior força e relevância, na medida em que os espaço são

gerenciados por seus valores, suas estratégias e seus processo comunicacionais.

Ou seja, podemos colocar que o espaço digital político se constrói e se

mostra sobre e a partir das diferentes identidades políticas e estratégias

comunicacionais, inerentes aos atores envolvidos no seu desenvolvimento.

Estes conceitos são fundamentais para entender o desenvolvimento

desta nova instância de midiatização da política, que amplia e dá nova roupagem

as estratégias e agendas do campo político frente ao processo eleitoral. Além

disso, aí reside o provável papel e valor do meio num pleito, onde cada candidato

busca se diferenciar para conquistar o máximo de eleitores e apoiadores, como

ocorreu no pleito Presidencial de 2002. Isto será tratado com maiores detalhes na

próxima parte, onde efetuaremos a análise empírica dos websites dos candidatos a

Presidência neste pleito específico.

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III- A midiatização da campanha Presidencial de 2002 via

Internet

“Para a ‘teoria democrática’ moderna, o papel do

público – a ‘horda perplexa’, nas palavras de Lippman –

é o de espectador, não de participante. Espera-se que ele

se manifeste a cada dois anos para ratificar as decisões

tomadas por outras pessoas, ou que selecionem seus

representantes, no que conhecemos como ‘eleição’, dentre

os membros dos setores dominantes da sociedade. Isso

ajuda, porque legitimiza.”

Noam Chomsky - Segredos, Mentiras e Democracia

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1. A eleição Presidencial 2002 em quatro dimensões contextuais: o

jurídico, o comunicacional, o econômico e o tecnológico

Neste capítulo iniciamos nossa leitura do processo eleitoral de 2002

através da análise de algumas dimensões e alguns elementos que formam e

regulam o cenário da campanha. Focamos, claro, na Internet, onde primeiramente

cabe observar a legislação eleitoral e a forma como trata este meio.

Como já dissemos, as eleições são reguladas por regras e processos

estabelecidas pelo campo jurídico, que controlam e até mesmo limitam o fazer

político-eleitoral junto à sociedade, buscando garantir que práticas ilícitas ou

constrangedoras sejam coibidas e também regulando o acesso dos candidatos e

atores políticos aos espaços da mídia.

Após a promulgação da anteriormente comentada “Lei Falcão”,

durante o regime militar, a lei eleitoral ofertava espaço compulsório na mídia para

o campo político, mas impedia o mesmo de usar seus recursos técnicos e

linguagem. Atualmente a Lei 9504, de 19971, mantém este espaço compulsório

por prazo determinado e com tempo distribuído proporcionalmente aos partidos

conforme sua representatividade no Congresso Nacional.

O uso de recursos técnicos e linguagens dos meios é liberado, mas

esta lei determina também regras, prazos e até mesmo espaços em mídia externa –

out-door – que podem ser ocupados pelos atores políticos, regras cujo não-

cumprimento pode levar a multas, cassação da candidatura ou mesmo do mandato

em caso de o infrator ter sido empossado durante o processo investigatório e de

julgamento.

Nesta a Internet é citada apenas duas vezes, sendo a primeira no artigo

26, que versa sobre a prestação de contas da campanha, e no artigo 45, que

regulamenta o acesso à mídia antes citado.

1 Copiado via Internet em www.tse.gov.br [03/2002] Texto completo encontra-se nos anexos deste trabalho.

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“Art. 26. - são considerados gastos eleitorais, sujeitos a registro e aos limites fixados nesta Lei, dentre outros: (...) XV – custos com a criação e inclusão de sítios na Internet; (...) Art. 45, § 3o - As disposições deste artigo aplicam-se aos sítios mantidos pelas empresas de comunicação social na Internet e demais redes destinadas à prestação de serviços de telecomunicações de valor adicionado (grifo nosso)”.

Ou seja, a lei eleitoral prevê que os custos com Internet sejam

declarados nas prestações de contas e que os espaços do campo midiático neste

meio sofram as mesmas regulamentações dos demais espaços, mas não coloca

limitações aos espaços digitais dos candidatos.

Entretanto, cabe destacar que a Resolução 20988, de 21 de fevereiro

de 2002, que “dispõe sobre a propaganda eleitoral e as condutas vedadas aos

agentes públicos em campanha eleitoral nas eleições de 20022”, manifesta que:

“Art. 1° - a propaganda eleitoral nas eleições de 2002, ainda que realizada pela Internet ou outros meios eletrônicos de comunicação, obedecerá ao disposto nesta Instrução. Art. 2° A propaganda eleitoral somente será permitida a partir de 6 de julho de 2002 (Lei n° 9.504/97, art. 36, caput). § 1° Ao/À postulante a candidatura a cargo eletivo é permitida a realização, na quinzena anterior à escolha pelo partido político, de propaganda intrapartidária com vista à indicação de seu nome, vedado o uso de rádio, televisão, Internet e out-door. “(Lei n° 9.504/97, art. 36, § 1°. Grifos nossos)

Esta mesma Resolução proíbe a veiculação de propaganda eleitoral no

meio a partir de 48 horas antes do pleito (art. 3), prevê que as mesmas disposições

se aplicam aos sítios3 (websites) das empresas de comunicação e aos provedores

2 Resolução 20988 de 21/02/2002 – copiada via Internet em www.tse.gov.br [03/2002] 3 Neste ponto nos referimos a sítios, não websites, para nos mantermos fiéis ao texto das leis. Nos próximos capítulos retornaremos ao uso da denominação website.

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de Internet (Art. 19, § 4º), proíbe às emissoras veicular programa apresentado ou

comentado em qualquer meio, inclusive Internet, por candidato escolhido em

convenção partidária (art. 20, § 2°).

Da mesma forma, faculta às emissoras transmitir e promover debates

com os candidatos com representação no Congresso Nacional (Art. 21), prevendo

que as mesmas regras devem ser observadas em caso de debates e transmissão via

Internet (§ 4°), dentre outras regulamentações gerais.

Nota-se que esta Resolução iguala a Internet a outras mídias e

espécies de propaganda eleitoral, possibilitando o uso e a veiculação de

mensagens a partir de seis de julho do ano do pleito. Ou seja, juridicamente e em

termos de campanha eleitoral a Internet recebe reconhecimento como mídia,

passando a sofrer regulações e restrições por parte do campo jurídico.

O artigo 70 oferta aos candidatos a possibilidade de registrar,

gratuitamente, um domínio4 com extensão “.CAN.BR”, colocando os custos de

manutenção e hospedagem a cargo dos candidatos, e informa que tal domínio

seria cancelado após o primeiro turno da eleição para aqueles que não viessem a

disputar o segundo turno. Este mesmo artigo obriga a configurar o domínio com o

nome e número do candidato, acrescido da sigla da unidade federativa da disputa.

Esta lei estende as regulações das demais mídias aos websites das

empresas de comunicação e aos provedores de acesso à Internet e prevê algumas

limitações ao uso do meio para propaganda eleitoral.

Porém, em nenhum momento define, qualifica o que se trata de espaço

de campanha no meio: o website do partido com informações e notícias da

campanha, um website com endereço vinculado ao nome do candidato ou sigla,

uma sala de chat exclusiva sobre a campanha, um fórum de debates sobre as

propostas de um candidato, um boletim informativo via e-mail, etc.

A prestação de contas prevê a “criação e manutenção de sítios” já

citada e a lei abre a possibilidade de domínios “.CAN.BR”, mas estes itens

certamente não contemplam toda a amplitude de processos privilegiados pelo

meio.

Da mesma forma a lei também não prevê direito de resposta no meio -

a Resolução 20951, ou o art. 96 da lei 9504/97, que tratam do direito de resposta, 4 Cabe esclarecer que domínio refere-se aos endereços dos espaços locados por empresas e cidadãos na Internet. Para maiores informações sugerimos acesso ao website http://registro.br/info/dpn.html.

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sequer citam a Internet em seu conteúdo - ou mesmo a eventual retirada de

circulação de website em caso de acusação inverídica, como ocorre com panfletos

apócrifos e outros materiais normalmente recolhidos por ordem dos Tribunais

Eleitorais, mas proíbe a veiculação de banners e mensagens publicitárias dos

candidatos e partidos nos provedores de acesso.

Nessas lei e resoluções do TSE para o pleito5 não notamos regulações

ou limitações quanto a boletins informativos impressos, jornais ou mesmo

reuniões e outros elementos de comunicação dos partidos e candidatos. Logo, a

não qualificação dos espaços de campanha na Internet pode ser reflexo desta

desregulação ou liberação de alguns processos.

Por outro lado, a proibição de banners e outras formas de propaganda

político-eleitoral em websites e portais mostra um alcance ou antecipação por

parte do campo jurídico, que assim limita parcialmente as possibilidades de

visibilidade e interações da política com os eleitores através do meio.

Devemos recordar que um website necessita, mais que qualquer outro

meio, de uma ação por parte do receptor, que o usuário o procure, digite o

endereço ou clique em algum link para a ele se dirigir, e um boletim informativo

precisa do endereço de e-mail do usuário, podendo ser cancelado ou bloqueado.

Este processo é bastante diferenciado de meios como out-door ou TV,

onde não resta ao receptor a opção de escolher ser ou não exposto as mensagens

políticas, principalmente se lembramos dos spots de trinta segundos na televisão

previstos na lei.

Logo a proibição de banners publicitários nos players de mídia na

Internet já se coloca como elemento suficiente para regular as atividades dos

partidos e candidatos, tornando desnecessária a regulação de outros elementos de

campanha na Internet.

É claro que a divulgação dos endereços do websites em spots e

programas do HPEG pode ser argumento contra esta liberação, mas lembrando

que os mesmos têm limitações de tempo e espaço reguladas pelos Tribunais

Eleitorais vemos uma não necessidade de controle sobre os websites.

Vemos, assim, que na Internet a legislação prefere o risco do abuso de

poder econômico – difícil de medir – ou a troca gratuita de acusações – com o 5 Resoluções 20890, 20986 20950, 20987, 20988, 20994, 20995, 20996, 20997, 20998, 20999 e 21000, disponíveis em www.tse.gov.br.

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risco de comprometimento da veracidade - a um discutível cerceamento das

liberdades que pode criar jurisprudência para outros casos e instâncias, deixando

para os usuários o processo de regulação do meio.

Notamos também que em nenhum momento a legislação cita ou

institui mecanismos de controle ou regulação - além da data inicial de seis de

julho de 2002 - dos espaços dos partidos ou dos candidatos que utilizem extensões

diferentes de “.CAN.BR”, como “.COM.BR” ou “.ORG.BR”, que foram

utilizados pelos candidatos à Presidência no pleito de 2002, e cujas características

merecem maior investigação de nossa parte.

Os procedimentos e noções legais inerentes à configuração do

endereço na Internet, os domínios, são bastante imprecisos. Segundo as regras da

FAPESP - Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo - pioneira no

uso da rede e responsável pela administração dos domínios no Brasil6 através do

sistema “Registro.br”, para registrar um domínio:

“é necessário ser uma entidade legalmente representada ou estabelecida no Brasil como pessoa jurídica (Instituições que possuam CNPJ) ou física (CPF) que possua um contato em território nacional7.”

Uma empresa, ou entidade8 como é tratada nos textos e informações

contidas no website “Registro.br”, pode registrar e administrar vários domínios

com extensões diferentes, desde que adequadas à categoria a que pertencem,

bastando para tanto possuir um Cadastro Nacional de Pessoa jurídica – CNPJ –

Cadastro de Pessoa Física – CPF – ou registro de entidade de classe válido para

registrar um domínio9.

Para efetuar o registro do domínio a entidade deve ter um servidor

DNS10 que responda pelo mesmo, o que pode ser contratado em um provedor

acesso à Internet, seja público ou privado, e uma pessoa responsável, que deve

6 Para maiores informações sobre a regras de registro e o acordo entre a FAPESP e a empresa detentora do domínio sugerimos a leitura do sugerimos a leitura do texto completo em anexo ou o acesso à página do “Registro.br”, disponível em http://registro.br/acordo/acordo.html [11/2002]. 7 http://registro.br/info/dicas.html 8 Entidade é usada pelo “registro.br” para denominar as empresas e/ou usuários cadastrados no sistema, com username e senhas próprios e intransferíveis, que satisfazem as exigências e regras para operar, registrar e manter de um domínio virtual 9 O CPF só pode ser usado para registros de domínios com extensão “.NOM.BR.”, vinculados a uma pessoa física, ou domínios vinculados a profissionais liberais, como “.ADV.BR” para advogados ou “ODO.BR” para dentistas. 10 Sobre DNS e Servidor DNS ver glossário.

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estar cadastrada no website “Registro.br” e possuir um nome do usuário e senha

de acesso ao sistema, sendo esta a única a responder pelas atividades de registro e

mesmo eventuais alterações e correções.

Existem vários tipos de domínios com extensões diferentes, voltados

aos mais variados tipos e qualificações de empresas como, por exemplo:

“IND.BR” para indústrias, “NET.BR” e “PSI.BR”para empresas provedoras de

meios físicos de acesso à Internet, como as operadoras de telecomunicações,

“JOR.BR” para profissionais do jornalismo, etc11.

A criação destas extensões, processo em permanente

desenvolvimento, deve-se à necessidade de evitar conflitos no uso de domínios

por empresas de mesmo nome, mas que operam em segmentos diferentes, num

processo semelhante ao que ocorre com o registro de marcas em categorias

diferentes no INPI – Instituto Nacional de Propriedade Industrial.

A extensão de um domínio é diretamente vinculada à atividade e aos

fazeres, ou seja, a identidade de quem registra, o que nos permite citar que se

vinculam ao campo em que esta insere-se. Cabe ressaltar que nenhuma destas

extensões é específica para o campo político, sendo este enquadrado na categoria

“ORG.BR”, o que mostra que o mesmo tem tratamento semelhante aos vários

outros campos no meio.

Não podemos afirmar se isto se trata de uma miopia do campo político

frente ao meio, mas pode ser ilustrativo da perda de força dos campos político e

jurídico na Internet, na medida em que um dos campos diretamente vinculados às

regulações sociais, que pode criar regulações e instâncias próprias de midiatização

através de lei, não consegue alcançar – ainda – o espaço digital da Internet para

marcar e reservar sua presença.

“É importante lembrar que, enquanto tudo na Internet é abundante e facilmente copiável, domínios são bens escassos. Uma vez registrado, torna-se um bem exclusivo. “ (Era uma vez um domínio – Revista Internet Business Ano 3, nº 33, maio de 2000, p58-60)

11 Para maiores esclarecimentos sobre os documentos necessários ao registro de domínios específicos sugerimos acessar o endereços http://registro.br/faq/faq3.html#3.

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No caso dos domínios “.COM.BR” ou “.ORG.BR”, tais limitações

não se impõem, na medida em que basta estar cadastrado no sistema e cumprir as

normas e regulações do “Registro.br” para registrar um domínio nesta extensão.

Os domínios do tipo “.COM.BR” podem ser considerados os mais

nobres da Internet, pois foram os primeiros a serem liberados às empresas para

registro, ficando consagrados junto aos usuários e sendo até mesmo responsáveis

pela denominação das empresas de Internet de “empresas .com” pela mídia.

Assim podemos supor que uma fórmula de endereços de um website que adote um

formato do tipo “www+ [empresa] [entidade] [pessoa] [ ... ] +.com.br” terá

maiores chances de ser localizado e acessado diretamente pelos usuários do que os

demais domínios.

Uma boa demonstração da importância dos domínios deste tipo pode

ser notada na pesquisa disponibilizada pelo “Registro.br” sobre as quantidades de

domínios registrados em cada categoria, que revela que aproximadamente 92%

(noventa e dois porcento) são do tipo “.COM.BR” 12.

É importante destacar que, no caso de domínios do tipo “.COM”,

“.ORG”, sem a extensão “.BR”, o processo de registro é mais simples, pois são

exigidos apenas um servidor DNS e um cartão de crédito internacional para

cobrança. Estes domínios são registrados nos Estados Unidos através de

prestadoras terceirizadas13, sendo livre o registro de domínios de ou em todas as

extensões.

Vemos então que, na Internet, o campo político não recebe ou

consegue reservar para si privilégios ou vantagens que as leis e regulações

garantem em outras mídias e mesmo em outros processos sociais, sendo colocado

em posição de igualdade aos demais campos.

Esta impressão se reforça quando recordamos que vários outros

campos recebem tratamento específico através de domínios próprios, como os já

citados para indústrias, jornalistas e outras classes profissionais e campos.

Entretanto, com seu crescimento e desenvolvimento a Internet passa a

ganhar relevância como instância de midiatização, sendo manipulada dentro das

12 http://registro.br/estatisticas.html [30/01/2003] Cabe ressaltar que buscamos, junto ao “registro.br”, informações estatísticas sobre o domínios durante o período das eleições de 2002, mas estes não nos foram fornecidos sob a alegação que os dados constantes no endereço citado são os únicos disponibilizados. 13 Para maiores informações sobre registro no Estados Unidos sugerimos acesso ao website www.networksolutions.com

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estratégias político-eleitorais dos candidatos e partidos e já apresentando impacto

nas despesas gerais de campanha.

Para compreender esta questão cabe verificar as receitas e despesas

dos diversos candidatos nos pleito de 2002. Através do sistema de prestação de

contas do TSE14, obtivemos os seguintes dados gerais referentes à campanha

Presidencial de 200315 (tabela 3.1):

Receitas e despesas dos candidatos na campanha Presidencial 2002

Candidato Receitas (R$) Despesas (R$)

Lula 1316 39.460.802,00 39.454.578,55

Zé Maria 1617 36.575,33 36.566,30

Ciro Gomes 2318 16.338.149,75 16.312.102,00

Rui Costa Pimenta 2919 Nenhum lançamento

encontrado

Nenhum lançamento

encontrado

Garotinho 4020 3.279.077,00 3.211.433,75

Serra 4521 28.540.266,00 34.732.880,00

Total 87.654.870,08 93.747.560,60

Tabela 3.1 – receitas e despesas dos candidatos22

14 Os dados aqui apresentados foram obtidos junto Seção de Análise e Desenvolvimento - SAD - da Coordenadoria de Sistemas Administrativos - CSA - da Secretaria de Informática - SI do TSE, e podem ser conferidos em http://www.tse.gov.br/eleicoes/eleicoes2002/prestacao. 15 Cabe referir que o sistema do TSE prevê receitas e despesas tanto dos candidatos como dos comitês para campanha presidencial dos partidos. Os dados apresentados nesta tabela são totalizações dos dados e informações tanto dos candidatos quanto os comitês dos partidos coligados aos mesmos. 16 Receitas e despesas do candidato e dos comitês dos partidos coligados, a saber, PT, PMN, PC do B e PL, sendo que cabe observar que os dois últimos não apresentam dados. 17 Somatório das despesas do comitê financeiro nacional para a presidência do PSTU e lançamentos do candidato José Maria de Almeida. 18 Dados somados dos lançamentos dos comitês de campanha à presidência do PPS, partido de Ciro, e do PTB. O PDT, também integrante da “Frente Trabalhista”, não apresenta formação de comitê ou lançamentos no sistema do TSE. 19 Cabe observar que tanto o candidato como o comitê financeiro nacional do PCO não apresenta lançamentos de receita ou despesa. 20 Dados do comitê financeiro nacional para a presidência do PSB. 21 Dados do comitê do PSDB, pois o partido coligado, PMDB, não criou comitê ou apresentou lançamentos. 22 Compilação de dados fornecidos pela Seção de Análise e Desenvolvimento (SAD) da Coordenadoria de Sistemas Administrativos (CSA), vinculada a Secretaria de Informática do TSE.

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É claro que os dados acima são brutos, totais, abrangendo uma série

de receitas e despesas variadas, desde doações privadas e verbas do partido a

gastos com transporte e alimentação passando pela campanha midiatizada, mas

nota-se os altos custos que a campanha impõe – ou gera - ao campo político,

chegando a casa dos oito dígitos e apresentando grande variação ou diferença

entre os diferentes candidatos.

De um total de receitas superior a R$ 87 milhões (oitenta e sete

milhões de reais) cerca de R$ 67 milhões (sessenta e sete milhões), ou seja, mais

de 75% ou três quartos do volume total, ficam no caixa de apenas dois candidatos,

Lula e Serra.

As despesas de Lula e Serra correspondem a quase 80% (oitenta

porcento) do total de despesas da campanha, mostrando uma alta concentração de

doações e mobilização de recursos em apenas dois candidatos, e observa-se

também que Lula tem receita quase 50% (cinqüenta porcento) superior a José

Serra, mas as despesas de ambos estão bastante próximas.

Entre os demais Ciro Gomes, que iniciou a campanha com amplas

chances de chegar ao segundo turno, mas acabou em quatro lugar na votação,

destaca-se pela captação de recursos e despesas, mas Garotinho, que demonstra

ter uma campanha com poucos recursos, ultrapassando em pouco a marca de R$ 3

milhões (três milhões de reais), ou menos de 5% (cinco porcento) do volume total,

chega em terceiro lugar na votação.

Já Zé Maria, do PSTU, não chega a 0,05% (zero vírgula zero cinco

porcento) do total de receitas e despesas da campanha, aparentemente contando

mais com verbas do partido do que de doadores, e chama especialmente a atenção

a ausência de receitas e despesas de Rui Costa Pimenta, do PCO, ficando a

impressão de que as aparições do mesmo no HPEG terem sido produzidas por

apoiadores da campanha ou mesmo pelo próprio partido.

Entre os principais financiadores de Lula figuram empresas como o

Banco Santander, que doou R$1,4 milhão (um milhão e quatrocentos mil reais) e

a COTEMINAS, empresa do vice José Alencar, que contribuiu com R$ 2,3

milhões (dois milhões e trezentos mil reais).

O BANESPA, banco estatal adquirido pelo mesmo Santander no

processo de privatização, doou para José Serra R$ 1 milhão (um milhão de reais),

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e o banco Itaú, cujo presidente Olavo Setúbal apareceu na capa da revista Época

como eleitor do candidato, figura como o maior doador de Serra com R$ 2,2

milhões (dois milhões e duzentos mil reais), acompanhado de empresas como o

grupo Votorantin, Empresas de Petróleo Ypiranga, dentre outras

É interessante observar que as instituições bancárias, vinculadas

diretamente as questões econômicas do país, e que historicamente tem obtido

grandes lucros com as políticas de juros praticadas pelas administrações federais,

figuram como os maiores financiadores das campanhas.

Afirmar que há uma relação direta entre estes dois fenômenos seria

perigoso em vários aspectos, mas mostra que os maiores interessados nos

resultados e decisões do presidente eleito também são os que mais investem em

suas eleição.

Por outro lado vemos uma certa correlação entre a captação de

recursos e os índices apresentados nas pesquisas de intenção de voto. Lula, que

desde as primeiras pesquisas aparecia como favorito, tem a maior captação de

recursos e as maiores despesas, seguido por Serra, único que apresenta déficit

financeiro.

Ciro Gomes, que cai da terceira para quarta posição durante o HPEG

tem maior volume de recursos que Garotinho, que na votação em primeiro turno

termina na terceira posição.

Observando esta mesma questão no pleito de 199823 notamos que os

partidos coligados à candidatura FHC arrecadaram mais de R$ 43 milhões

(quarenta e três milhões de reais) nos primeiros meses da campanha, quando as

pesquisas apresentavam o candidato como franco-favorito à vitória que se

confirmou no primeiro turno, mas encerra com déficit de mais de R$ 2 milhões

(dois milhões de reais) no caixa.

Neste mesmo pleito Lula não gastou mais de R$ 4 milhões (quatro

milhões de reais), e as doações ficam pouco acima de R$ 3,2 milhões (três

milhões e duzentos mil reais), gerando um déficit de cerca de R$ 750 mil

(setecentos e cinqüenta mil reais).

Em 2002, ao inverso, Lula aparece na pesquisas como favorito e fecha

a campanha com superávit de pouco mais de R$ 6 mil (seis mil reais), enquanto

23 Fonte: http://globonews.globo.com/GloboNews/article/0,6993,A417315-2032,00.html

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Serra, candidato do partido do então presidente FHC, que aparece nas primeiras

pesquisas disputando o segundo lugar com Ciro e Garotinho e chega ao segundo

turno, encerra a campanha com déficit superior a R$ 6 milhões (seis milhões de

reais).

Estes dados nos permitem observar uma forte vinculação entre os

resultados ou prognósticos das pesquisas e a geração de recursos para as

campanhas, sendo demonstrativos da possível influência destas nas campanhas

eleitorais.

Se a mídia citava as pesquisas como elemento de especulação

financeira dos players econômicos24 durante o pleito, há de se considerar uma

possível influência destas no financiamento das campanhas dos candidatos, que

observa-se nos dados e elementos acima.

Tecer comentários ou hipóteses aprofundadas sobre este processo

seria perigoso em vários sentidos, principalmente porque a complexidade de uma

eleição é maior que os resultados das pesquisas demonstram ou podem captar.

Além disso, poderíamos estar ignorando a própria validade e capacidade de

mobilização dos projetos e propostas políticas de cada candidato e mesmo a

capacidade de autofinanciamento dos partidos.

Aparentemente, sim, os dados levantados sobre os pleitos de 1998 e

2002 demonstram que o candidato com maiores chances de vitória nas pesquisas

recebe mais recursos, tendo seu poder de participação e mobilização nas várias

instâncias da campanha aumentado - o que os déficits de Lula em 1998 e Serra em

2002 parecem demonstrar.

Levando em conta a questão da midiatização e seu impacto sobre as

despesas da campanha levantamos dados de alguns itens de lançamento previstos

na Resolução 20987 vinculados diretamente à divulgação e propaganda da

campanha25, que se encontram na tabela abaixo (tabela 3.2).

24 Ver, como exemplo, matéria “Pesquisas comandam especulação no mercado.” em http://www.estado.estadao.com.br/jornal/02/07/07/news212.html 25 Selecionamos estes lançamentos por estarem diretamente ligados a questão da campanha midiatizada, e por outro itens, como “cachês para artistas e animadores” , não permitirem especificação de sua realização ou utilização.

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Gastos específicos na campanha Presidencial de 2002

Despesas (R$)Candidato Produções

Audiovisuais

Criação de Sítios

na Internet26

Propagandas e

Publicidade

Lula 13 7.100.000,00 25.000,00 5.339.685,23

Zé Maria 16 20.000,00 Não há

lançamentos

Não há

lançamentos

Ciro Gomes 23 3.774.163,94 Não há

lançamentos 3.263.798,60

Rui Costa Pimenta 29 Não há lançamentos

Garotinho 40 750.000,00 Não há

lançamentos 971.569,36

José Serra 45 6.800.945,00 163.095,00 3.125.322,18

Total 18.445.108,94 188.095,00 12.700.375,37

Tabela 3.2 – gastos específicos das campanhas27

Novamente nota-se que os candidatos com maior e receita apresentam

os maiores volumes de gastos, chegando a mais de 70% (setenta porcento) do

volume total de gastos no tocante a “produções audiovisuais” e “propagandas e

publicidade”. Considerando as despesas totais da campanha informadas na tabela

1, temos estes valores como os seguintes dados percentuais (tabela 3.3):

26 Usamos, neste ponto, o termo “sítio” no lugar de website para nos mantermos fiéis ao texto da resolução 20987. 27 Dados compilados a partir de informações obtidas junto a Dados fornecidos pela Seção de Análise e Desenvolvimento (SAD) da Coordenadoria de Sistemas Administrativos (CSA), vinculada a Secretaria de Informática do TSE.

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Percentuais de gastos específicos da campanha Presidencial 2002

Despesas (%)28

Candidato Produções

Audiovisuais

Criação de Sítios

na Internet

Propagandas e

Publicidade

Lula 13 17,99% 0,063% 13,53%

Zé Maria 16 54,70% Não há

lançamentos

Não há

lançamentos

Ciro Gomes 23 23,13% Não há

lançamentos 20,00%

Rui Costa Pimenta 29 Não há lançamentos

Garotinho 40 23,35% Não há

lançamentos 30,25%

José Serra 45 19,58% 0,46% 8,99%

Total 19,67% 0,20% 13,54%

Tabela 3.3 – percentuais dos gastos da campanha29

Observa-se que apenas dois itens – produções audiovisuais e

propagandas e publicidade - que compreendem desde o planejamento até a

execução e visibilidade da campanha, abarcam entre 30% (trinta porcento) até

50% (cinqüenta porcento) do volume total de recursos dos candidatos,

independente do volume financeiro.

Apenas o item “produções audiovisuais” – que imaginamos ser

principalmente o HPEG na TV e Rádio – representam quase ou mais de um quinto

das despesas totais dos candidatos, sendo superiores as despesas com

deslocamento e hospedagem para atos e ações da campanha em todo o país30, o

que demonstra a ênfase da campanha na gestão e apresentação da imagem dos

candidatos.

28 Para facilitar a visualização e inserção dos dados consideramos apenas as duas primeiras casas após a vírgula, sem arredondamentos. 29 Percentuais calculados em relação às despesas totais de campanha informadas na tabela3.1. 30 A título de ilustração cabe colocar que, nos lançamento de Lula, os gastos com deslocamentos e viagens ficam em torno de R$ 2,5 milhões. Serra apresenta gastos em torno de R$ 3 milhões, enquanto Zé Maria apresenta lançamentos num total de pouco mais de R$ 8mil reais.

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Os percentuais de gastos com “Propagandas e Publicidade”, em que se

incluem os assessores em mídia – apesar do texto da Resolução não conter tal

especificação31 - no quadro geral representam menos de 15% (quinze porcento)

dos gastos, mas nas especificidades dos candidatos oscilam fortemente,

aparentando ter diferentes papéis dentro da campanha.

Chama a atenção o fato de uma das campanhas com menos recursos,

Zé Maria, ter no item “Propaganda e Publicidade” o maior impacto percentual

respondendo por mais da metade das despesas da campanha, enquanto que a de

Lula, no mesmo item, apresenta o menor impacto percentual.

Independente das diferenças, observamos que a campanha injeta mais

de R$ 30 milhões (trinta milhões de reais) diretamente no mercado publicitário,

ou seja, na agências de propaganda e produtoras de áudio e vídeo, em um período

inferior a seis meses.

Segundo a ABAP32, citando dados do IBGE, o mercado publicitário

Brasileiro movimentou, levando em conta todos os veículos do país, R$ 13,218

bilhões (treze bilhões, duzentos e dezoito milhões de reais) no ano de 2002.

Se tomarmos a remuneração de uma agência levando em conta as

comissões de mídia, que oscilam entre percentuais de 10% e 20% (dez e vinte

porcento) temos que as agências faturaram33 entre R$ 1,3 bilhão (um bilhão e

trezentos milhões) e R$ 2,6 bilhões (dois bilhões e seiscentos milhões).

Vemos então que a campanha Presidencial representa entre 1% a 2%

(um e dois porcento) dos ganhos brutos projetados para o mercado publicitário,

um impacto significativo, principalmente se levarmos em conta não só o curto

período da campanha, mas também o fato destes dados referirem-se somente à

campanha Presidencial, sem levar em conta as eleições para governadores ou

mesmo os cargos proporcionais.

De todos os candidatos apenas Lula e Serra apresentam lançamentos

de “Criação e manutenção de sítios na Internet”, prevista na Resolução 20987.

Serra gasta seis vezes mais do que Lula, mas não podemos afirmar se estes

31 Cabe ressaltar que não é especificado ela lei em que item deve ser lançado os gastos com assessores de mídia, e que o TSE, consultado por e-mail, não esclareceu ao pesquisador esta questão. 32 http://www.abap.com.br/noticias/investimentosaumentam2002.doc 33 Solicitamos a ABAP dados específicos sobre o faturamento das agências de propaganda mais nos foi informado que estes dados não existem.

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valores contemplam o desenvolvimento ou também a manutenção e atualizações,

uma vez que a lei não faz tal distinção.

Supomos, através das cifras, que Lula tenha apenas o

desenvolvimento, sendo as atualizações realizadas pela equipe do candidato, e

Serra tenha um modelo misto ou com as atualizações realizadas pela empresa

responsável pelo website.

Isto significa, caso esteja correto, que Lula adota um modelo que

privilegia sua assessoria direta, o pessoal do partido, nas atualizações do website.

Serra, ao contrário, busca profissionais externos, mais vinculados ou treinados

para o uso do meio.

Independente deste fator é interessante observar que os valores das

despesas de ambos com Internet representam impacto inferior a 0,5% (meio

porcento) do custo total da campanha, e somados representam cerca de 0,2% (zero

vírgula dois porcento) do total geral, índice muito pequeno, principalmente se

comparado ao custo notado nas demais ações e elemento midiatizados de

campanha.

Ou seja, apesar de ganhar relevância e destaque na sociedade,

mostrando-se como importante elemento nas estratégias comunicacionais dos

candidatos e partidos, os custos da visibilidade via Internet representam um

impacto baixíssimo no quadro geral da campanha, processo facilitado

principalmente pelas tecnologias e pelo espírito livre e desregulado do meio.

Já quanto aos demais candidatos, que não apresentam lançamentos de

despesas com “criação e manutenção de sítios na Internet”, podemos supor que os

websites tenham sido desenvolvidos ou gerenciados pelas agências de propaganda

ou mesmo assessores diretos das campanhas, mostrando a forte vinculação do

meio com a questão midiática e comunicacional dos partidos e candidatos.

Este uso da Internet como instrumento de comunicação num processo

eleitoral não chega a ser um fenômeno novo, principalmente se levarmos em

conta o curto espaço de tempo entre o surgimento da Internet comercial e a

entrada dos primeiros partidos na rede.

A Internet comercial, ou seja, ligada a empresas provedoras

particulares, não vinculada a instituições de ensino e pesquisa, surge no Brasil

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entre 1994 e 1995, e já em meados de 1996 o PT e o PDT que entraram para a

rede, sendo seguidos pelo PMDB, que confeccionou seu website em 1997.

Mas foi em 1998, na primeira eleição após o surgimento do meio, que

os candidatos pela primeira vez utilizaram a Internet em suas estratégias

eleitorais. Para citar alguns exemplos34:

a) Antônio Britto, candidato ao governo gaúcho, disponibilizou um website

contendo desde sua plataforma e propostas até notas e informações sobre a

campanha;

b) o PDT gaúcho desenvolveu um website para cada um de seus candidatos, de

governador a senador, em 1998;

c) o então candidato a reeleição Fernando Henrique Cardoso disponibilizou um

website com suas propostas e projetos neste mesmo ano.

Da mesma forma nos Estados Unidos, onde a Internet comercial se

desenvolveu no início da década de 90, o meio foi usado pela primeira vez em

uma campanha na primeira candidatura de Bill Clinton à Presidência em 1992

(Internet Business nº12, ago/98).

Em 1998, quando o meio passa a mostrar os primeiros sinais de uso

em uma eleição no Brasil, a candidatura Jesse Ventura à governança do Estado

norte-americano de Minnesota é descrita por Steven Clift (2002:s.p.) como a

primeira eleição que não poderia ter sido vencida sem a Internet.

Perriault (2000:83) conta que no início de uso do telégrafo alguns

jornais norte-americanos usavam a quantidade de informações obtidas através

deste meio como argumento de venda, uma forma de se diferenciar e se colocar a

frente de seus concorrentes. Assim, numa época em que uma nova tecnologia

toma conta da mídia, ganha relevância social e passa a ser objeto de disputa e

concorrência entre empresas de várias áreas – software, mídia, etc. –podemos

questionar o que significa não se fazer presente no espaço digital, ou seja, não

estar na Internet neste estágio de evolução e crescimento do meio.

Ícone da evolução da(s) tecnologia(s) a Internet pode ser considerada

hoje um símbolo de modernidade e mesmo da democracia graças ao franco uso e

34 Estes exemplos são baseados em nossa observação e contato com estes espaços de campanha. Sobre os websites dos presidenciáveis em 1998 sugerimos o artigo “Eleições 98: a campanha dos partidos e dos candidatos à presidência na Internet”, de Claudine Carvalho, presente no livro “Mídia e Eleições 1998” organizado por Albino Rubim.

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a abertura dos processos que mobiliza e disponibiliza para seus usuários das mais

diversas formas e nas mais variadas instâncias.

Em termos políticos a Internet surge e se afirma num momento de

forte crise dos sistemas de representação política, marcada por denúncias de

corrupção e de manipulação da opinião pública pela mídia. Neste contexto um

meio que surge sob a égide da liberdade, da democracia e da auto-regulação, livre

das limitações físicas e temporais presentes e marcantes nos outros processos

ganha força pela busca de liberdade que o espaço público midiatizado parece não

mais oportunizar.

Interessante citar novamente Perriault (2000:55) quando comenta que

os meios de comunicação se desenvolvem em situações de desequilíbrio em que

há necessidade de algo que re-equilibre as forças. Numa situação de desequilíbrio

de forças e de amplo conflito dos campos com o campo midiático, a Internet surge

e se afirma como uma tecnologia midiática que rompe fronteiras e abre a

possibilidade de todos manifestarem suas opiniões.

Novamente Perriault argumenta que as máquinas de comunicar agem

no sentido inverso da sociedade: se esta está se fragmentando ela surgem para

integrar, se esta ruindo sobre si mesma surge para reforçar as bases. Assim

notamos que o campo político adentra o meio na busca de equilibrar a força e a

capacidade de mobilização perdidas para o campo midiático nas questões

políticas, buscando livrar-se das amarras da agenda, intenções e estratégias deste

para construir suas imagem e processos junto a sociedade.

Da mesma forma a questão da prevalência da agenda do campo

político como elemento construtor dos seus espaços digitais surge como emblema

da busca dos atores e integrantes destes campo em desligar-se das amarras e

tensões oriundas da agenda do campo midiático,construindo assim uma relação de

agendas mais direta com o eleitor, facilitando a experiência destes em diferentes

espaços e suportes.

A criação de meios como a “TV Câmara” e mesmo a disponibilização

de telefones com prefixo 080035 (gratuitos) com as mais diversos funções e

recursos se mostram como outros elementos deste processo.

35 Lula e José Serra disponibilizaram na campanha de 2002 telefones 0800. O de Lula continha mensagens pré-gravados do candidato sobre vários assunto, selecionados pelo teclado do aparelho. Uma das opções era para manifestar desejar participar da campanha, que gerou uma ligação gravada do candidato na véspera do 1o turno. Já Serra possuía um atendimento personalizado ao estilo “telemarketing” para esclarecimento de dúvidas e recebimento de sugestões.

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Devemos ressaltar, entretanto, que nos websites o campo político

“escapa” da agenda da mídia, ou seja, do filtro que esta estabelece na exposição

dos fatos e processos. Entretanto, não foge a lógica de midiatização da sociedade,

ocupando espaços midiáticos para construir sua visibilidade frente aos demais

campos.

Outro fator que devemos também levar em conta é o crescimento da

rede no Brasil. Um dado demonstrativo é o número de websites vinculados a

extensão ".BR" que, segundo pesquisa da norte-americana “Network Wizards“,

quadruplicou do ano 2000 até 2002, como pode ser vista na tabela abaixo (tabela

7).

Domínios registrados no Brasil

Quantidade de Domínios ANO Janeiro Julho

2000 446.444 662.910

2001 876.596 1.025.067

2002 1.644.575 1.988.321

Tabela 3.4 – evolução dos domínios ”BR”36

Entretanto o número de provedores de acesso à Internet tem

diminuído, o que é provavelmente causado pela forte concentração do meio nas

mãos de grandes grupos financeiros e de telecomunicações, que têm condições de

financiar as empresas e mesmo de suportar prejuízos em prol de estratégias de

longo prazo37.

Isto pode ser observado nos dados da pesquisa do IBGE38 sobre os

municípios, realizada em 2001, que apontava um crescimento médio de 53%

(cinqüenta e três porcento) no número de provedores nas cidades, mas onde

apenas 23% (vinte e três porcento) dos municípios possuíam este serviço.

36 Fonte: http://www.cg.org.br/indicadores/. 37 Como exemplo podemos citar o caso do provedor Voyager, empresa nascida e desenvolvida no Rio Grande do Sul que foi adquirida pelo provedor Terra como forma de expansão de sua base de clientes, fato que se repetiu com outro provedores como a Easy Way 38 Fonte: http://www.executivosfinanceiros.com.br/materias/3334.html

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Já pesquisa da ABRANET39 – Associação Brasileira dos Provedores

Acesso, Serviços e Informações da Rede Internet – indica que o número de

provedores diminuiu 1,77% (um vírgula setenta e sete porcento) entre julho de

2001 e janeiro de 2002, crescendo apenas nas regiões sul e norte e diminuindo nas

demais áreas.

Na contramão deste processo pesquisas do IBOPE40 têm demonstrado

que o número de internautas Brasileiros vem crescendo exponencialmente. Em

maio de 2002, alguns meses antes do início do HPEG, o Instituto apontava o

número de usuários domésticos de Internet como sendo de 11.100.000 (onze

milhões e cem mil), num aumento de 6.8% (seis vírgula oito porcento) em

comparação com o mês de novembro do ano anterior e representando menos de

10% (dez porcento) da população do Brasil.

Nota-se nestes dados um sinal ou reflexo da forte concentração e

mesmo de um re-ordenamento do meio, em que a quantidade de usuários e de

domínios aumenta exponencialmente, mas o número de provedores diminui

sensivelmente em várias regiões.

Em novembro de 2002 a mesma pesquisa registrava 14.300.000

(quatorze milhões e trezentos mil) usuários, notando-se uma tendência de

aumento de participação das classes “B” e “C”.

Neste mesmo relatório o Instituto informava que 1,7 milhão (um

milhão e setecentos mil) de usuários residenciais, ou menos de 0,1% (zero vírgula

um porcento), apontavam a Internet como “fonte de informação sobre o pleito”.

Outra pesquisa, realizada meses antes do pleito de 2002 pelo Instituto

Opinia41, com 1.911 (mil novecentos e onze) entrevistados, mostrou que 50%

(cinqüenta por cento) dos que responderam não se opõem à propaganda política

via Internet, mas 48% (quarenta e oito por cento) não acham que a Internet poderá

ser um canal de comunicação para partidos e candidatos42, e 41% (quarenta e um

39 http://www.s2.com.br/scripts/release.asp?clienteId=346&releaseId=15535 40 Dados obtidos em datas variadas no website do Instituto - www.ibope.com.br. 41 Pesquisa completa gentilmente cedida pelo instituto OPINIA - http://www.opinia.com.br. Cabe citar que, por questões de direitos autorais, podemos apenas comentar os resultados da mesma, sem citar textos ou gráficos. 42 A primeira pergunta da pesquisa colocava “Existe um lei (9504/97) que proíbe propagandas (banners, pop-ups, etc.) políticas de partidos e candidatos através da Internet. Na sua opinião:” seguida por quatro opção. As demais perguntas se referiam aos websites de forma indireta, citando recursos como chats, fóruns, etc que poderiam ser utilizados nos websites. Logo, nota-se que é possível que as respostas negativas a propaganda política vinculem-se as propagandas presentes nos portais e sites de conteúdo, não contemplando os websites do candidatos, o que pode ser considerado um elemento de influência nestes resultados.

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por cento) disseram que buscariam informações nos sites destes partidos e

candidatos.

No tocante a conteúdos, os usuários que responderam à pesquisa

manifestaram privilegiar os projetos e programas, bem como considerar

importantes espaços de debate e discussão com os candidatos, colocando o meio

não só como espaço de busca de informações, mas também de aproximação com

candidato e partidos. Entretanto, a Internet é citada apenas em 6o lugar como fonte

de informação sobre a campanha, onde a televisão tem preferência absoluta.

Estes dados mostram – ou demonstram - que não estar na Internet

pode significar estar na contramão deste processo de evolução e integração social,

e mesmo frustrar a expectativas dos cidadãos quanto a sua relação, integração e

mobilização frente e com o campo político.

Da mesma forma o adentramento da política ao espaço digital

conforma-a a estas lógicas presentes na sociedade, podendo também ser entendido

– ou considerado - como elemento de formação da imagem dos atores do campo,

na medida em que se vinculam a um espaço aberto, democrático e desregulado

recebendo o bônus por sua inserção e participação no meio.

Observa-se assim, de forma geral, que a Internet ganha relevância e

papel social por e a partir dos usos que os diversos campos fazem de sua

tecnologia dentro de estratégias e processos comunicacionais, passando a receber

e formar, em seu entorno e por seu funcionamento, regras jurídicas específicas,

alem de regras operativas e discursivas específicas.

Assim, na medida em que diversos e diferentes campos passam

investir no meio a partir de diferentes óticas, gerando regulações jurídicas para os

diversos processos que surgem em seu entorno, recebendo investimentos

financeiros e discursivos na busca do cumprimento de diversas estratégias, e

mesmo tendo sua tecnologia desenvolvida e evoluída a partir de demandas de

diferentes atores e campos, a Internet coloca-se na posição de um meio de

comunicação, um elemento de troca e tensão que se insere nos processos sociais e

gera demandas, processos, procedimentos específicos para seu funcionamento.

Aí reside, em verdade, um processo dual, pois a Internet recebe valor

social a partir do investimentos nela feitos pelos diversos e diferenciados campos

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sociais, e a partir desse momento surgem novos elementos e procedimentos que

requerem novas visões e processos.

Claro que o tempo de reação de cada campo frente ao meio se dará a

partir de suas estratégias, de sua capacidade de reação e mesmo das demandas que

o meio trará para este, gerando novos e diferentes elementos a cada movimento

dos campos.

Devemos ressaltar, entretanto, que em se tratando da campanha

eleitoral, o impacto em termos financeiros do meio é mínimo se comparada a

outras mídias, como o quadro de despesas dos candidatos demonstra.

Isto reforça a gama de benefícios do meio numa campanha eleitoral,

onde o suporte atemporal de discursos das mais diversas mídias e de elementos e

discursos do campo político mostra-se como maior recurso, mas isto por si só não

é suficiente para compreender o papel da Internet neste pleito.

Uma questão ilustrativa dos processo e elementos dos websites é a

tecnologia de construção dos mesmos, ou seja, os sistemas informáticos de

construção, administração e manutenção destes espaços.

Observamos que uma característica geral e coincidente entre os

diversos websites analisados foi o uso de tecnologias dinâmicas de construção dos

websites. Lula, Serra, Ciro, Garotinho e Zé Maria utilizam tecnologia ASP, Active

Server Pages, enquanto que o PCO de Rui Costa Pimenta combina recursos de

PHP com páginas em HTML. Cabe então nos aprofundarmos em suas

características.

ASP é um ambiente de aplicação, desenvolvido pela Microsoft, que

gerencia conteúdo dinâmico para a websites, funcionando em conjunto com um

servidor de Internet capaz de interpretar os códigos gerados e com sistemas de

arquivos ou bancos de dados. O processo começa quando o servidor de web43

recebe a requisição da página de um website presente em seus arquivos, fazendo a

interpretação do código contido e retornando, ao usuário, uma página com os

elementos gráficos e textuais que compõem a mesma.

Esta tecnologia apresentando três vantagens básicas para o produtor,

ou seja, aquele que disponibiliza o website. Primeiramente, permite que sejam

geradas rotinas de atualização automatizadas. Assim, o profissional envolvido na

43 Servidor de páginas WWW, que rodam protocolo http. Para maiores detalhes ver glossário.

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inserção e atualização dos dados e informações não necessita lidar com o código-

fonte ou dominar as tecnologias do website e do servidor, nem mesmo ter grandes

conhecimentos das linguagens de programação da Internet, pois a inserção e

formatação das informações é feita automaticamente pelo sistema.

Exemplificando: para adicionar uma notícia um repórter de campanha

pode acionar o sistema, e através de um formulário único, padronizado, digitar a

manchete e o texto e inserir a imagem correspondente. A partir disso o sistema

cria as páginas correspondentes e adiciona os elementos automaticamente no

website, conforme os parâmetros e configurações de formatação pré-

determinados.

Ou seja, basta dominar o uso dos recursos do computador e manejar

alguns elementos básicos de um banco de dados, como um formulário de inserção

pré-definido (bastante semelhante aos formulário de contato muito utilizados nos

websites) para que um profissional possa efetuar a atualização.

Outra vantagem é a alteração geral e automática de dados em todas as

páginas e seções, ou seja, se houver uma alteração numa foto ou o título de um

link for mudado o sistema altera automaticamente em todas as seções e páginas do

website onde o mesmo estiver presente, economizando tempo e agilizando

processos de produção.

Finalmente, o sistema ASP gera as páginas para o usuário no

momento da visita, ou seja, quando o usuário a seleciona e solicita, garantindo –

ou dando maior segurança – que será apresentada a última atualização da página

ou seção.

Já a tecnologia PHP, utilizada pelo PCO de Rui Costa Pimenta, é

bastante semelhante ao ASP, mas ao contrário deste interage com o sistema de

banco de dados ou mesmo com as diversas páginas de um website gerando uma

página HTML pura, tendo como única desvantagem não gerar a página no

momento da visita ou solicitação.

Os recursos de PHP eram manipulados basicamente nas páginas

iniciais das diversas seções, que se remetiam a páginas HTML, estáticas,

mostrando ter uma estratégia ou mesmo uma menor preocupação com as

atualizações e mudanças.

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Assim, o uso das tecnologias dinâmicas mostra-se como um elemento

facilitador dos processos de alteração e atualização dos websites, na medida em

que automatizam processos aumentando a velocidade e a praticidade para os

produtores, apresentando-se assim como fator determinante das marcas de

atualização presentes nestes espaços.

Da mesma forma, tais recursos aumentam as chances de visualização

das últimas versões pelo usuário, o que também aumenta a probabilidade deste se

sentir estimulado a interagir e travar contato com os diferentes conteúdos,

permanecendo em contato com os conteúdos e recursos disponíveis.

Observa-se nisto que os candidatos investem em suas assessorias

como elemento de geração de dados e inserção de informações. Mobilizando

recursos tecnológicos que facilitam as atualizações e, assim, o acompanhamento

da campanha, os atores do campo político buscam se aproximar de uma

velocidade jornalística, midiática nos websites, tornando-se fontes de informação

e mesmo pautando a campanha a partir de suas agendas, estratégias e intenções.

Devemos destacar, entretanto, que a tecnologia não se mostra como

diferencial na construção dos websites. Na medida em que as tecnologias de

construção são as mesmas, ou assemelhadas, vemos que as estratégias e elementos

de construção manipulados e inseridos tornam-se o verdadeiro diferencial e

elemento de atração destes espaços.

Ou seja, podemos dizer que o que torna os websites políticos atrativos

para os usuários são os conteúdos, discursos e elementos suportados pela

tecnologia, do meio, não a tecnologia em si.

Assim, os candidatos no pleito de 2002 conformam-se a este processo

e adentram ao espaço digital configurando-os com diferentes elementos,

conteúdos e formatações, aproveitando das brechas legais e dos benefícios

estratégicos do meio.

Nos próximos capítulos nos debruçaremos sobre a análise das

especificidades dos websites da campanha Presidencial de 2002, momento em que

buscaremos compreender o papel, os elementos e estratégias de comunicação

específicos de cada candidato. Antes, porém, apresentamos nossa metodologia de

leitura e análise.

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2. Uma leitura da campanha política nos espaços digitais

Neste capítulo explicitamos nosso processo metodológico de seleção

de objetos, obtenção e análise de dados, onde buscamos compreender as

formulações, funções e valores da Internet como elemento de campanha político-

eleitoral, tendo como referência empírica os websites dos candidatos ao pleito

Presidencial Brasileiro de 2002.

Conforme nosso quadro teórico temos a Internet como um meio de

comunicação em que os diversos campos podem construir suas relações e

visibilidades com outros campos, mobilizando diferentes recursos técnicos e

elementos discursivos.

Tomamos então a Internet não como ambiente, suporte técnico ou

mesmo tecnologia midiática, mas sim como lugar de construção da política, como

uma dimensão discursiva e de visibilidade, expansão e mobilização de ações

eleitorais. Essa visão contempla e contém muito de nossa prática enquanto

usuários do meio Internet e profissionais envolvidos com sua linguagem e

tecnologia.

Nosso contato freqüente e diário para os mais diversos usos e

processos, tanto buscando quanto inserindo informações e criando espaços no

meio, somada ao destaque e espaço obtido pelo meio nas várias mídias, onde se

observavam muitos ufanismos com as possibilidades e recursos advindos com seu

surgimento, nos levou a questionar qual o real papel deste meio frente aos

processos sociais.

Com esta questão em vista nos propusemos a visitar a Internet a partir

de um olhar mais crítico, analítico e o mais possível isento. E neste momento nos

pareceu, como já referido anteriormente, que um bom elemento para identificar ou

obter pistas que solucionem tais questionamentos seria observar o uso do meio

pelo campo político durante um processo eleitoral, quando ocorre uma forte

aproximação e tensionamento entre os diversos e diferenciados campos sociais.

Por isso já no segundo trimestre do ano de 2002 demos os primeiros

passos desta pesquisa, localizando pontos de presença do campo político na

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Internet, abrangendo desde os websites dos partidos em nível nacional até os

espaços dos comitês gaúchos44.

Nesta fase de pré-observação, quando ainda procurávamos selecionar

espaços, materiais e tirar primeiras impressões e inferências, observamos que a

maioria dos partidos – para não dizer todos – ocupavam espaços na Internet com

diferentes construções e estratégias, mas nem todos vinculavam ou davam

destaque ao processo eleitoral que já começava a se apresentar na mídia em geral.

Entretanto, alguns pré-candidatos à Presidência já davam seus

primeiros passos e mostravam sinais indicativos de como poderia se configurar a

campanha Presidencial neste meio, onde o website de Ciro Gomes, cujo primeiro

contato efetuamos já no mês de fevereiro, mostrava-se como maior expoente.

Somando este fator à maior relevância que a mídia mostrava dedicar a

corrida Presidencial e a necessidade de obter o máximo de foco nesta pesquisa,

optamos por concentrar nossos esforços nas dimensões estruturais e estratégicas

dos websites dos Presidenciáveis no período eleitoral, especialmente no período

marcado pelo HPEG no rádio e na televisão, momento quando os campos político

e midiático são fortemente acelerados pelo pleito.

Tendo, então, definidas as fontes primárias de pesquisa, mas ainda em

fase de pré-observação, passamos ao acompanhamento dos websites dos

Presidenciáveis, adotando como procedimento metodológico de coleta de dados a

interação com estes espaços e a captura de telas, efetuando relatos sistemáticos

das mudanças e atualizações observadas a cada visita.

Nesta fase notamos que os websites acompanhados se constituíam

como espaços essencialmente do campo político, ou seja, cujos conteúdos,

elementos, agendamentos e processos são determinados por estratégias e

processos do campo e seus atores-candidatos.

Além disso, os websites se mostravam como elementos vinculados às

posições, posturas, agendas e estratégias destes candidatos, que se manifestava

através e a partir de uma variedade de ofertas de conteúdos e discursos que se

somavam e se articulavam num mesmo espaço.

44 Em nível nacional, observamos os websites do PT, PSDB, PMDB, PSB, PDT e PPS, além do website do então pré-candidato Ciro Gomes que estava disponível desde fevereiro de 2002. Em nível de Rio Grande dos Sul acompanhamos os websites do PT, PMDB, PTB, PPS, PSB, PPS e PPB, todos partidos com representatividade e potencial para influir e gerar candidatos próprios no pleito de 2002.

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Uma breve ilustração desta questão incluiria desde biografias e

história dos candidatos e partidos até propostas, projetos e questões em pauta na

sociedade, passando por espaços para relação com os partidários e filiados.

Nesta amplitude e variedade de ofertas notamos a busca de

estabelecimento ou mesmo reforço de relações com os mais diversos campos

sociais, onde podemos tomar como exemplo o campo midiático através de ofertas

de pauta e materiais – fotografias, releases, etc. - para os diversos veículos45.

Observamos também que mesmo – como já referimos – sendo espaços

vinculados diretamente ao campo político, suas intenções e estratégias, estes

websites se construíam dentro de um processo maior, eram engendrados por

ações, fatos e fenômenos externos não só aos websites como também ao campo

político, que influíam, movimentavam e pautavam os mesmos. Este processo

podia ser observado nas páginas iniciais destes espaços, onde determinados

conteúdos e elementos eram apresentados e ganhavam “força” dentro da estrutura

geral46.

Tendo estas questões em vista iniciamos nossa fase de observação e

coleta de dados para análise, quando não somente seguimos com o processo de

contato e captura de telas como também gravamos aleatoriamente vários

programas na televisão, recolhemos materiais gráficos (folders, santinhos, etc.)

nos comitês de campanha gaúchos. Também pesquisamos dados e informações

sobre estes websites em várias fontes secundárias, como jornais, revistas e

websites de players de mídia, que fornecessem elementos, dados e informações

sobre estes espaços e suas funções na campanha.

Além disso, buscamos textos e teorias que analisassem e contemplem

os fenômenos e processos políticos oriundos com o surgimento e ascensão da

Internet na sociedade contemporânea, onde identificamos alguns estudos e

pesquisas em nível internacional, mas poucos e ainda incipientes processos de

pesquisa acadêmica em termos de Brasil.

Esta percepção somada ao fato de tratar-se de um objeto de pesquisa

novo, com alta complexidade de processos e fenômenos levou-nos a optar por

utilizar uma combinatória de técnicas de descrição e análise que nos permitisse

extrair o máximo de elementos e resultados dos objetos selecionados.

45 Esta questão será aprofundada e esclarecida nas análises dos websites. 46 Estes saltos estarão explicitados durante nossas análises.

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Assim, decidimos adotar uma estratégia que não privilegiasse a

análise de discurso propriamente dita, num sentido estritamente semiótico, mas

sim que nos permitisse uma visão dos textos, formas, estruturas, conteúdos e suas

funções, relações e representações dentro destes objetos, de forma a esclarecer e

compreender os elementos, recursos, construções estratégicas e suas

manifestações neste meio.

Para tanto estabelecemos dois conjuntos de materiais para análise, que

serão tratados em capítulos específicos e seqüentes, recebendo títulos oriundos

das características, especificidades e elementos observados em cada website. Esta

decisão surge das percepções obtidas na pré-observação quanto a diversidade de

conteúdos dos websites e o agendamento presente nas páginas iniciais dos

mesmos, e que nos permitiram observar a variedade e multiplicidade de processos

e estratégias presentes nos objetos.

É importante citar, antes de descrever as especificidades de tais

conjuntos, que estes são oriundos dos mesmos objetos, ou seja, são elementos

constituintes dos websites dos candidatos e da campanha como um todo.

Efetuamos tal divisão tendo em vista a percepção da necessidade de

observar os diferentes e diferenciados processos e estratégias que se mostram

nestes espaços, percepção surgida durante nossa pré-observação, que estará

explicitada nos textos. Ou seja, examinaremos em cada conjunto processos e

elementos diferentes, apesar de serem ambos oriundos de uma mesma campanha.

Dos menus de navegação dos websites surge o primeiro conjunto, a

que denominamos de “Mapeamentos, caracterizações e representações”, onde

buscamos uma visão geral dos recursos, conteúdos e discursos presentes nos

websites, ou seja, a diversidade de elementos, conteúdos e linguagens presentes

nestes espaços.

Neste conjunto atentamos não só para a posição hierárquica destes

elementos, mas também para os benefícios e estratégias que manifestam. Assim

nos ocupamos de descrever não somente as páginas e seções, mas também a

forma de acesso a estas, observando mensagens textuais e mensagens na forma de

imagens que se apresentam nos links, bem como as possíveis funções que se

manifestam nestes.

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Ao segundo conjunto denominamos “Agendamentos e

Cruzamentos”, sendo este formado pelas páginas iniciais dos websites, pois estas

se configuram como o primeiro elemento de contato com o espaço, estabelecendo

o contrato de leitura, o processo de troca midiatizada, não presencial, entre as

estratégias dos produtores e a seleção efetuada pelos receptores.

Assim demonstra os elementos mais relevantes para as estratégias do

campo político, num processo semelhante as capas de revistas e jornais que,

segundo Verón (1989) é o lugar onde este contrato deve mostrar-se da forma mais

clara possível.

Neste conjunto, lembrando que os fatos e processo políticos não se

fazem por si, isolados, mas por e através de um amplo e complexo cruzamento de

operações, influências e estratégias de diferentes campos, buscamos identificar

não somente conteúdos e elementos das estruturas gerais que recebem destaque e

espaço, mas também outros campos que se acoplam ou são acoplados pelo campo

político, sendo assim elementos de sustentação e construção das estratégias e

visibilidades destes nos websites.

Para tanto surgiu a necessidade de efetuar recortes e agrupamentos

entre os elementos destas páginas, estabelecendo relações comuns aos diversos

websites. Criamos, então, quatro categorias de análise, oriundas das percepções

obtidas na fase de pré-observação, sendo estas:

1) Fragmentos de Campanha – compreende as áreas dedicadas às

informações, ao dia-a-dia e ao acompanhamento dos fatos e fatores da campanha,

com característica fortemente jornalística e sendo normalmente a área de

atualização mais freqüente no website. Estes fragmentos serão analisados tendo

em vista a sua estratégia de atualização e os conteúdos de inserção mais

freqüentes, podendo ser de três tipos distintos, que denominamos:

• Manchetes, os elementos ou informações de maior destaque e

privilegiados em sua posição espacial, acompanhadas de imagem

título e lead apresentando ou resumindo seu conteúdo;

• Notícias, semelhante às manchetes, mas em posição de menor

destaque e sem o lead, composta apenas de titulo e imagem;

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• Notas são apenas os títulos das notícias inseridos nas páginas

iniciais.

2) Banners – compreendemos por banners imagens, animadas ou

estáticas, que se vinculam visualmente às propostas, projetos e elementos da

campanha. Estes banners podem ser principais ou secundários, dependendo de sua

posição na página, ou seja, do ponto de leitura e da possibilidade de visualização

direta ou não do mesmo na página.

3) Pop-ups – pequenas janelas que se sobrepõem a tela principal

destacando conteúdos, recursos ou elementos do website. Estas janelas e serão

analisados em sua função e conteúdo no momento em que são apresentados;

4) Itens – por itens compreendemos elementos textuais ou visuais

individuais, “soltos” que não se identificam com as categorias anteriores. Estes

serão analisados em sua posição e ao conteúdo que remetem e suas possível

função estratégica.

Cabe ressaltar novamente que estas categorias e denominações são

frutos de nosso processo de pré-observação dos websites, em que identificamos as

áreas, funções e recursos principais das páginas iniciais, permitindo-nos assim

generalizar funções e elementos da páginas iniciais dos websites.

Neste processo de análise estaremos acompanhados, se não formal

mas, no mínimo, implicitamente, de vários conceitos e teorias que discorremos em

nossos blocos teóricos, como a noção de campos sociais e as competências e

especificidades dos campos político e midiático, a partir das quais identificamos

os campos presentes e envolvidos no processo de construção e evolução destes

espaços.

Outros que podemos citar são os conceitos de midiatização e suas

especificidades discursivas, assim como os efeitos de mídia de Rubim, uma vez

que estamos analisando o discurso político midiatizado na Internet. Da mesma

forma a noção de acoplamento, auto e heterorreferencia de Luhmann nos apóiam

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no sentido de identificar os processos de construção de tais discursos, sendo todas

perpassadas pelas definições, por nós propostas, de espaço digital e de ampliação

e expansão de discursos.

Frente a amplitude de elementos destes dois conjuntos, e tendo em

vista a velocidade de mudanças no cenário da campanha, percebemos a

necessidade de limitar o período de análise, de forma a não só obter o máximo de

foco nos resultados mas também evitar uma maior extensão dos textos das

análises.

Selecionamos, então, um período de tempo que se iniciou na data de

seis de agosto de 2002, duas semanas antes do início do HPEG no rádio e na

televisão. Nesta data não só já havíamos encerrado a fase de pré-observação como

também os principais candidatos47 já faziam uso dos websites.

Este período se encerra no dia da votação em segundo turno, que

encerrou o pleito em vinte e sete de outubro de 2002, período que nos permite

observar o máximo de processos e feitos na campanha devido principalmente a

alta visibilidade política gerada pelo HPEG.

Neste período sorteamos datas dentro de intervalos de sete dias

contados a partir da data inicial já citada, obtendo assim recortes temporais onde

podemos observar não somente os diversos conteúdos mas também a influência e

agendamento do cenário geral da campanha nos websites. Neste sorteio obtivemos

as seguintes datas:

47 Neste período Lula, Serra, Ciro e Garotinho já disponibilizavam websites próprios vinculados à campanha. Zé Maria coloca seu “hot website” em período posterior ao início do HPEG, e Rui Costa Pimenta vincula seu campanha ao website do partido, inserindo dados e informações de forma gradual.

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Turno Votação Agosto Setembro Outubro

1o Turno 06 de outubro

10

18

21

30

06

12

16

26

05

06

2o Turno 27 de outubro XX XX

08

16

25

27

Nota-se nas tabela acima que as datas de eleição nos dois turnos não

foram consideradas no critério de sorteio, mas incluídas como datas de análise por

sua – óbvia - relevância no processo eleitoral.

Quando relevante, ou seja, quando a data de observação de um

fenômeno mostrar-se importante frente ao cenário geral da campanha citaremos a

mesma. Porém adiantamos que não nos ocuparemos dos processos ou fatos

observados em detalhes, a cada data, mas sim descreveremos e analisaremos de

forma geral, tomando cuidado com o processo evolutivo dos mesmos e com as

marcas temporais, onde as datas sorteadas tornam-se marcos referenciais ao

processo.

No caso de algum candidato não disponibilizar website no período

contemplado, efetuaremos as análises nas mesmas datas sorteadas, porém

contando a partir do momento de entrada do mesmo, fato que estará explicitado

no texto.

Cabe ressaltar que dividimos as datas de análise em primeiro e

segundo turno porque entre estes há um re-ordenamento das forças políticas

envolvidas que afeta e se reflete no processo como um todo, devendo sua

influência nos websites ser compreendida, o que também se reflete na organização

dos capítulos, divididos em primeiro e segundo turno.

Da mesma forma, e para facilitar a percepção e as comparações entre

as estratégias dos candidatos dentro destes turnos, organizamos cada conjunto em

capítulos distintos, separados.

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Nestes primeiramente analisamos cada website individualmente, em

sub-capítulos, onde tratamos das especificidades, características, recursos e

estratégias de cada um, sendo cada capítulo encerrado com algumas observações

comparativas que nos tragam uma visão geral das semelhanças e diferenças dos

processos e fazeres dos mesmos.

Encerradas as análises dos dois turnos nos ocupamos de comparações

e observações gerais, onde efetuamos uma análise das diferentes estratégias e

processos identificados no espaço de cada candidato pois, obviamente, estes

concorrem entre si e suas estratégias buscam sobrepor o candidato aos demais.

Logo a comparação objetiva justamente compreender esta busca de supremacia,

bem como ressaltar pontos e elementos de destaque.

No decorrer das análises inseriremos imagens (telas capturadas nestes

websites) como forma de reforçar, apresentar e descrever os elementos,

fenômenos e processos a que nos referimos. Estas imagens estão numeradas em

seqüência contada dentro de cada capítulo, pois cremos que assim facilitamos o

processo de identificação e localização das mesmas junto aos conteúdos.

Ressaltamos, entretanto, que a função dominante destas é apenas ilustrar o que

nos referimos nos textos, recordando que, frente as estratégias e recortes citados,

nem todos os elementos presentes nas mesmas são cabíveis de análise, segundo

nossos objetivos.

Pode-se notar que esta perspectiva metodológica pode levar a uma

generalização da análise. Adiantamos que assumimos tal risco, na medida em que

notamos uma ausência de metodologias específicas para análise e caracterização

da política na Internet. Isto nos leva a investir numa experimentação metodológica

que nos oferece o máximo de diálogo com o(s) objeto(s) empírico(s) permitindo,

assim, buscar a máxima compreensão das estratégias e influências que o campo

político recebe ao mobilizar a Internet como elemento de campanha eleitoral no

processo de 2002.

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3. 1o turno: os websites no HPEG

Neste capítulo apresentamos o trabalho de análise da campanha

Presidencial de 2002. Inicialmente buscamos construir o cenário em que se faz tal

pleito, efetuando um resgate histórico dos movimentos dos principais partidos e

candidatos para, então, colocar algumas considerações gerais sobre os websites e,

a seguir, em capítulos específicos, adentrar as especificidades destes espaços de

campanha.

Num processo eleitoral marcado pelo que Rubim (2002) chama de

uma superexposição na mídia, em contrapartida a um silenciamento quase

constrangedor de 1998, o pleito Presidencial de 2002 começou a se configurar no

encerramento e apuração do pleito municipal de 2000.

Neste o desempenho do Partido dos Trabalhadores, obtendo vitórias

em 182 municípios e 5 capitais, somado às administrações petistas nos estados

apresentava a possibilidade de uma nova candidatura de Luís Inácio Lula da Silva

que, caso confirmada, seria a quarta tentativa de alcançar o cargo máximo da

nação.

A situação econômica do país, fragilizado pela perda de força do Real

frente ao Dólar, a grave crise econômica e política da vizinha Argentina, que

trazia reflexos diretos para a economia Brasileira, somados aos altos índices de

desemprego, aumentavam as expectativas e reforçavam os debates sobre as

possíveis alianças e candidatos que se lançariam frente a opinião pública no pleito

de 2002.

No contexto das convenções partidárias, o PT realiza prévia entre

Suplicy e Lula, sendo este novamente sagrado candidato pelo seu partido. Com o

apoio do então presidente do PT, José Dirceu, Lula costura alianças com partidos

de esquerda e um de centro-direita, o PL, que indica o candidato a Vice, o

Senador e empresário mineiro José Alencar.

Mostrando estar disposto a não promover rupturas com o projeto

econômico da administração que buscava suceder, grande temor do mercado

financeiro e mesmo da população, e efetuando várias ações de alto impacto e

visibilidade midiática, como a visita à BOVESPA (Bolsa de Valores do Estado de

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São Paulo) e a reunião com empresários na FIESP (Federação das Indústrias de

São Paulo), Lula contrata o “marketeiro” Duda Mendonça que, juntamente com

personagens como José Dirceu, o ajuda a construir uma nova imagem que lhe

rendeu o apelido de “Lula light” ou “Lulinha paz e amor” dos adversários e o

apoio de ex-adversários como José Sarney e Itamar Franco.

Nas primeiras semanas do HPEG Lula divulga o endereço

“www.programalula.com.br” em vinheta animada acompanhada de locução

feminina interpretada: “Agora mande pra gente a sua opinião sobre o programa”

(ilustração 3.1), mostrando um pedido de interação por parte do usuário.

Ilustração 3.1 – vinheta de divulgação

Esta vinheta foi divulgada por cerca de duas semanas sempre no final

do programa, convidando os espectadores a manifestarem sua opinião sobre o

programa de TV através de um questionário fechado48.

Este domínio divulgado remetia ao website do candidato sob o

domínio “lula.org.br”, contendo várias seções e conteúdos sobre o candidato e

suas propostas.

Construído com tecnologia ASP – Active Server Pages – a

programação visual do website de Lula foi formatada em concordância com a

programação visual da campanha, explorando amplamente os materiais gráficos

como cartazes, adesivos, outdoors, etc.

A escala de cores utilizada no menu e nas páginas seguia a identidade

da logotipia do PT, predominantemente vermelha e branca associando fortemente

o website ao partido, mas também foi criada uma linguagem visual própria, com a

48 Sobre este questionário de pesquisa nos debruçaremos em detalhes na análise a seguir.

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adoção de imagens e ícones como elementos de diagramação nas capas das seções

e nas páginas internas.

O primeiro elemento do menu de navegação, que se situava na parte

superior da tela e era imutável em todas as páginas, apresentava foto do candidato

ao lado da frase “Bote fé e clique Lula”, um jogo ou brincadeira com o jingle da

campanha “Bote fé e diga Lula”, num sentido confiabilidade, união ou mesmo

integração quase religioso, que pode ser notado no uso da palavra “fé”. Este menu

era constituído de elementos em fundo cinza, trocando a imagem para cor

vermelha com a passagem do mouse sobre o mesmo.

Através deste menu o usuário acessava as várias seções do website,

como “A vida de Lula” e “Eleitor de Carteirinha”, que buscavam deixar bem claro

seus conteúdos, elementos e recursos para o usuário. As capas destas seções

apresentavam os diversos conteúdos das mesmas, seguindo um conceito básico e

coerente.

Os conteúdos e elementos eram distribuídos em 3 colunas, tendo

sempre a coluna central os conteúdos principais da seção. A exceção era a seção

“O Brasil que a Gente quer”, que continha o Programa de Governo do candidato,

diagramada em apenas duas colunas.

A estratégia do candidato amplia-se através de vários conteúdos,

abrangendo desde sua biografia, depoimentos e propostas até recursos para

receber doações e distribuir peças gráficas de campanha, mostrando o foco do

website nos atos, discursos e ações do candidato principal, suas propostas e no

apoio de vários outros campos que suportam e validam suas posições.

Os ataques dos adversários ou mesmo eventuais polêmicas e questões

levantadas por outros campos eram respondidos por aliados e apoiadores através

de entrevistas ou matérias em formato jornalístico, mantendo Lula afastado de

polêmicas e sustentando a sua imagem “light”. Entretanto a construção dos textos

mostrava certa incoerência com o meio Internet, sendo os mesmos muito extensos

e formatados em blocos, cuja leitura exigia muito tempo e atenção do usuário.

O campo midiático, importante ator no processo por sua capacidade

de influir na opinião pública e pautar os debates, era tratado no website como

coadjuvante do processo eleitoral. As aparições e ações do candidato na mídia e

os atores do campo – entrevistas, como as realizadas pelo Jornal da Globo, ou

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debates com outros candidatos – são apresentados não como um evento, mas

como um espaço onde o candidato apresenta e faz visíveis suas propostas e

discursos.

Por outro lado, cabe destacar que o website também é usado como

elemento de aproximação com o campo midiático, onde a entrevista de José

Dirceu para jornalistas de várias cidades, transmitida em áudio e vídeo em uma

área restrita, mostra-se como maior emblema, por ter usado da tecnologia e do

potencial de livre acesso do meio como forma de integrar veículos que não tinham

condições de acompanhar o dia-a-dia da campanha49.

Os partidos integrantes da coligação que sustentava o candidato - PL,

PC do B e PMN50 - não recebem espaço ou são citados, tendo o PT predominância

não somente no tocante à identificação do candidato, mas também na

programação visual do website. Da mesma forma o candidato a Vice recebe muito

pouco espaço e destaque, mostrando o foco do website no partido de Lula e no

candidato.

José Serra, o mais visível dos ministros da administração de FHC

depois dos envolvidos com a área econômica por sua luta pela lei dos remédios

genéricos e pela saúde pública, entra no pleito de 2002. Ladeado pela vice Rita

Camata, deputada criadora do projeto de responsabilidade fiscal cuja imagem

moderna e simpática busca equilibrar a sua face séria e um tanto fechada, Serra

entra no pleito apoiado pela máquina partidária da coligação PSDB-PMDB,

denominada de “Grande Aliança”.

Assessorado pelo publicitário Nizan Guanaes, Serra aproveita o maior

tempo no HPEG de todos os candidatos no primeiro turno para divulgar sua

principal proposta, o “Projeto Segunda-feira”. No HPEG divulgava o endereço

“www.joseserra.com.br”, construído e vinculado ao seu nome, mostrando ser um

espaço do candidato e suas propostas, mas sempre junto aos apresentadores ou em

clipes de campanha, aparentando vincular o website à sua campanha, não a sua

candidatura (ilustração 3.2).

49 Apresentaremos mais detalhes deste processo no decorrer da análise. 50 Cabe lembrar que, em entrevista ao Jornal Nacional, ao ser questionado por Wiliam Bonner sobre a coligação do PT com um partido de direita, o PL, Lula começa sua resposta citando os demais partidos integrantes da coligação.

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Ilustração 3.2 - Divulgação website José Serra

Também usando tecnologia ASP, o website de José Serra era bastante

simples, leve e funcional, com navegação direta, clara e rápida. Isto podia ser

notado tanto nos menus como nos conteúdos, construídos com textos curtos e

diretos, mantendo uma coerência na diagramação e na disposição espacial dos

elementos em todos o website. Isto demonstra preocupação em facilitar a

experiência do usuário e agilizar o contato com os diferentes recursos envolvidos.

Na fase de pré-observação até o início do HPEG as cores usadas

apresentavam-se dentro de uma escala de azul, verde e amarelo idênticas às da

bandeira Brasileira e condizentes com o logotipo do PSDB, porém sem

predominância de nenhuma delas. A barra superior apresentava-se semelhante a

um banner, valorizando o logotipo da campanha e as fotos dos candidatos e dando

destaque à foto da candidata a Vice-Presidência.

O conteúdo concentrava-se – ou era resumido – no menu de

navegação, estruturado como uma barra vertical no lado esquerdo das páginas, e

evolui junto com a campanha mostrando foco nas propostas de Serra, que

recebem vários tratamentos visuais e textuais diferenciados, e nas biografias dos

candidatos, onde a Vice recebe destaque e espaço relevante, demonstrando uma

preocupação da valorização da mulher.

Os textos, principalmente nas áreas referentes a fragmentos de

campanha, utilizavam amplamente recursos de hipertexto ofertados pelo meio,

remetendo a outras seções do website com maiores detalhes e informações sobre

propostas e projetos citados, mostrando um aproveitamento estratégico dos

recursos técnicos do meio para a apresentação e o aprofundamento dos conteúdos

e discursos de Serra.

Assim como os demais candidatos o Programa de Governo de Serra

era encontrado completo no website, podendo ser copiado em formato “.PDF”.

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Mas Serra inaugura novas práticas de interação com os usuários, tanto através da

disponibilização de recursos de envio das notícias por e-mail como,

principalmente, através do “Pelotão 45”, usuários cadastrados que recebiam

“missões” de campanha através do e-mail.

Além disso, no período mais próximo a votação no primeiro turno

passa a inserir mensagens de apoio enviadas pelos usuários, tornando-os

propagadores e mesmo sustentáculos do posicionamento e ações da candidatura.

No início do HPEG, quando Serra apresenta sua principal proposta, o

“Projeto Segunda-feira”, o website muda, adotando como cor predominante o azul

da carteira de trabalho, elemento de destaque na programação visual de sua

campanha em todos os meios. Este destaque passou a ser notado também nos

banners e no menu, que privilegiavam o programa de geração de empregos que

permeava todos os elementos e conteúdos do website.

Até a votação em primeiro turno a página inicial privilegiava os

fragmentos, através de informações sobre o dia-a-dia da campanha e de

depoimentos/falas dos candidatos e seus apoiadores, que ocupavam os principais

pontos de leitura.

Havia sempre espaço para uma manchete relacionada diretamente à

campanha ou ao candidato e, ao lado, espaço para notícias e notas relacionadas a

fatos como eventos realizados por entidades apoiadoras, apoios recebidos de

outros campos ou mesmo do campo político, citações na mídia, etc, onde notamos

que o website se utiliza das lógicas e estratégias do jornalismo na construção de

seu website.

Através destas notas e notícias Serra ataca seus adversários,

ressaltando falhas ou fazendo cobranças de atos dos adversários e também usando

de toque de humor ou ironia, criando jingles específicos contra Ciro e Lula,

mostrando uma manifestação ou inserção de um discurso eminentemente político,

cruzado com linguagens e elementos estratégicos de outras mídias dentro do

suporte tecnológico do meio Internet.

Destacamos, também, que o website de Serra se une de várias formas

a vários campos, principalmente o campo midiático, aproveitando suas ações,

falas, atos e estratégias para construir a imagem e as visibilidades do candidato.

Além disso, o website utilizava-se amplamente de materiais e enunciados da

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mídia, sendo até mesmo por ele pautado, dando a tal campo o poder ou o valor de

verdade sobre sua campanha e candidatura.

Neste ponto cabe citar a relevância dos atores do campo midiático,

especialmente os televisivos, que ganham destaque e permanência em diversas

páginas e seções, sendo alçados à posição de analistas e interpretes das demandas

e realidades da sociedade. Auxiliando com suas falas e imagens a construção da

candidatura de Serra, repete-se no website um jogo de transferência de

credibilidade muito comum e presente nas campanhas políticas midiatizadas.

Ciro Gomes, que no pleito de 1998 havia obtido o terceiro lugar com

pouco mais de 10% (dez porcento) dos votos válidos lança-se novamente numa

coligação entre seu partido, o PPS, o PDT de Leonel Brizola e o PTB, chamada de

“Frente Trabalhista”.

Pautando os programas do HPEG com fortes críticas a gestão de FHC

e propostas de reforma tributária e mudanças na economia, Ciro dá a sua

campanha um tom levemente nacionalista e integrador, aproveitando sua

experiência político-administrativa como prefeito, governador e ministro para

buscar destacar-se frente a seus adversários, principalmente Serra e Lula, que são

atacados frontal e diretamente em suas propostas, histórias e projetos.

No HPEG Ciro divulga, sempre junto de suas falas e aparições, o

endereço www.ciro23.com.br (ilustração 3.3), mostrando ou legitimando o

mesmo a partir e através de suas ações.

Ilustração 3.3 – HPEG de Ciro Gomes

Travamos o primeiro contato com este espaço em fevereiro de 200251,

antes mesmo do prazo para as convenções partidárias determinado pelo TSE, e

51 Tomamos conhecimento do lançamento no dia quatorze de fevereiro através de um spam.

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identificamos alterações significativas no mesmo no dia trinta de julho, pouco

antes do início do HPEG, quando a programação visual e a estrutura do menu

foram alteradas.

Até esta alteração, o website tinha como característica uma

programação visual simples. As cores eram basicamente sólidas, observando-se a

predominância de tons de azul e vermelho.

A barra superior continha foto e nome do candidato, sendo que o

menu continha poucos itens, utilizando recursos de javascript para a geração de

menus secundários com a passagem do mouse, e continha grupos de discussão

para usuários cadastrados, que eram acessados a partir de um pequeno banner

abaixo do menu52.

No dia trinta de julho o website passou por uma série de alterações

estruturais. A escala de cores foi alterada, passando a integrar a programação

visual das peças de campanha do candidato, e o logotipo oficial foi acrescentado

ao lado da foto do candidato. Neste mesmo momento os itens secundários passam

a integrar o menu de forma direta.

As páginas referentes à história e à experiência administrativa do

candidato (“Ciro governador”, “Ciro Prefeito”, etc.), antes sub-itens da biografia,

passaram a integrar o menu principal a partir do topo, resumindo e apresentando,

de forma clara e direta, o currículo político de Ciro Gomes.

Nas páginas internas, os títulos dos textos aumentam de tamanho e

passam a ocupar mais espaço na tela, muitas vezes operando quase como um lead

do texto. As páginas ganham nova formatação, distribuindo os conteúdos de

formas diferenciadas. A galeria de fotos recebeu maior quantidade de imagens,

todas com legenda do local, ato e data de realização.

Surgiram páginas e seções dedicadas às aparições do candidato na

mídia e materiais de campanha, como jingles e peças publicitárias, e o Programa

de Governo do candidato em formato “PDF”.

A página inicial passa a inserir fragmentos de campanha diariamente,

porém sem uma estratégia de atualizações fixa, mas sempre acompanhando o

ritmo dos fatos, notícias e informações da campanha, sendo que observamos que

nos finais de semana estas atualizações eram menos freqüentes.

52 Cabe observar que não travamos contato com estes grupos pela necessidade de cadastro.

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Nesta o espaço de maior visibilidade era reservado para atos do

candidato e ataques aos adversários, elementos tipicamente políticos de uma

campanha, sempre com título negritado acompanhado de imagem ilustrativa,

reservando espaço para o logotipo da Frente Trabalhista, coligação que apoiou o

candidato.

Em termos de estrutura e programação visual o website de Ciro

apresentava-se mais blocado, com linhas mais retas e com textos mais longos. Já

em termos de conteúdo podemos observar uma boa variedade de ofertas, onde a

biografia do candidato e a mídia recebem destaque e lugar privilegiados.

De forma geral, no website de Ciro o eleitor encontrava tudo que

porventura tivesse perdido na mídia convencional, bem como o agendamento do

candidato com as outras mídias e assuntos que o espaço da mídia convencional

não permitem tratar ou aprofundar eram detalhados ao máximo.

Anthony Garotinho, governador do Rio de Janeiro e político oriundo

do campo midiático, onde havia atuado no rádio e na televisão, entra no pleito

como candidato de seu partido, o PSB.

Com pouco tempo na televisão e numa campanha com falta de

recursos financeiros, que o leva inclusive a lançar bônus de um R$ 1,00 (um real)

para captação de doações junto a população, Garotinho mostra-se com um tom

mais populista, pautando seus discursos pelo aumento do salário mínimo e pelas

ações sociais.

No HPEG Anthony Garotinho divulgava a URL

“www.garotinho40.com.br” em momentos aleatórios, acompanhando suas falas

ou em clipes de campanha (ilustração 3.4).

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Ilustração 3.4. – divulgação do website no HPEG

Essa apresentação só foi notada após o primeiro mês do HPEG,

quando o candidato começou a subir nas pesquisas de intenção de voto, indicando

a possibilidade de ultrapassar Ciro Gomes e assumir a terceira posição no pleito,

momento em que também executa uma série de alterações na programação visual

do website.

Durante toda a campanha a página inicial do website era organizada

em 03 colunas, sendo a da direita e da esquerda reservadas aos menus e a central,

maior, ao conteúdo como fotos, manchetes, notas, etc.

O menu à esquerda era composto de seções do website dedicadas ao

candidato, e o menu à direita era reservado para materiais e conteúdos referentes

ao PSB, Partido Socialista Brasileiro.

Acima destas colunas havia uma barra formada pelo logotipo da

campanha e foto do candidato, ao lado de mensagens que se revezavam

apresentando as propostas de Garotinho, sendo que abaixo havia três botões em

azul escuro.

Na primeira fase, a escala de cores utilizada no website apresentava-se

desvinculada da logotipia do partido ou mesmo da campanha. Enquanto estes

usavam basicamente as cores vermelha, amarela e verde, o menu lateral esquerdo

utilizava azul claro de fundo, azul escuro nos botões e preto nos links e textos,

demonstrando um aparente descuido com a identidade político-partidária na

Internet.

Já o menu lateral direito, dedicado ao partido do candidato, utilizava

amarelo claro como cor de fundo, vinculados diretamente a identidade visual do

mesmo.

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Na segunda fase a estrutura básica foi mantida, mas mudaram as cores

das barras de navegação. O azul do menu a direita foi trocado por um tom de

verde mais próximo ao usado nos materiais gráficos, e o amarelo do menu à direta

foi levemente escurecido, ficando mais forte.

A imagem da barra superior adotou a logotipia e a foto oficial da

campanha, ganhando um fundo avermelhado seguindo assim a escala de cores e a

programação visual da campanha.

A página inicial do website destacava notícias e fatos recentes da

campanha, trazendo um breve resumo logo abaixo da chamada, que levava para

página com texto completo. Logo abaixo eram inseridos conteúdos diversos como

frases, comentários do candidato, enquetes, etc.

Isto levava a formação de uma extensa barra vertical de rolagem

causando certo desconforto e mesmo desorientação no acesso, devido

principalmente a ausência de divisões ou elementos gráficos que marcassem e

delimitassem os diferentes conteúdos.

Esta mesma rolagem era observada na maioria das páginas internas,

que apresentavam textos extensos, blocados. Nos conteúdos predominavam

materiais próprios produzidos pela assessoria ou pelo próprio candidato, o que

notava-se pela quase absoluta ausência de créditos para os textos.

Havia também muito material obtido na mídia, como entrevistas,

matérias de jornais, rádios e emissoras de televisão, etc., sendo estes, a exceção

dos demais, creditados, porém os materiais próprios mostravam-se predominantes.

O website aparentava ser um complemento da campanha, sendo

bastante focado no candidato e nos fragmentos de campanha, reservando amplo

espaço as declarações, discursos e ações de Garotinho.

Além disso, vários conteúdos como o Programa de Governo, eram

apresentados de forma completa e detalhada, ganhando espaço e destaque e

possibilitando, para o usuários, o contato e aprofundamento com elementos que

não podemos eram aprofundados pelas marcas temporais das demais mídia.

Já a preocupação com informações sobre o partido, no menu à direita,

demonstra uma estratégia de aproveitamento do espaço da candidatura em prol do

partido, ou seja, da captação de simpatizantes, filiados e divulgação programática

que não foi notada na maioria dos demais websites.

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Dois outros candidatos, Zé Maria de Almeida e Rui Costa Pimenta,

apresentam-se como candidatos por seus partidos, respectivamente o PSTU e o

PCO. Com apenas trinta segundos na televisão Zé Maria pauta seu discurso pela

oposição à ALCA e a dívida externa, cobrando compromissos de Lula, de quem

foi companheiro de cela quando presos pelo regime militar em 1980, com os

trabalhadores.

Apresentando de forma simples, sempre em fundo preto e usando

roupas comuns, sem o tratamento estético usado por outros candidatos, no HPEG

o candidato Zé Maria divulgava o endereço do website “www.pstu.org.br” e o e-

mail [email protected], tanto acompanhando suas falas quanto em clipes e

matérias do programa, mostrando uma ênfase na sigla e na identidade do partido

(ilustração 3.5), e não na sua pessoa.

Ilustração 3.5 – divulgação do website do PSTU no HPEG

Durante a fase de pré-observação, o website do PSTU apresentava

grande quantidade de material produzido pelo próprio partido. Na página inicial

destacavam-se chamadas para matérias como “Plebiscito ALCA – diga não”,

“PSTU recebe O´Neill com protestos no Rio e em Brasília”, que mostravam

claramente o posicionamento ideológico do partido e demonstravam a intenção de

utilizar este espaço como um canal de propagação de suas idéias e ideologias.

Além disso, várias imagens destacavam as ações, manifestações,

projetos e mesmo veículos do partido, e o seu presidente Zé Maria recebia

destaque num banner superior intitulado “Fala Zé Maria”.

No dia quatorze de outubro, cerca de uma semana antes do início do

HPEG, surgiu sobre a página inicial do website do partido uma grande janela tipo

“pop-up”, que cobria praticamente toda a tela, com conteúdos referentes ao

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candidato Zé Maria, à Vice Dayse de Oliveira e ao pleito de 2002. Este hotsite

carregava automaticamente ao acessar o endereço www.pstu.org.br, mas também

podia ser acessado a partir de um banner na página inicial do website do partido.

Construída com as cores do PSTU, vermelho e amarelo, o hotsite

destacava o candidato e o logotipo do partido, junto ao qual era inserido o número

16, identificando-se com as eleições, destacadas abaixo do logotipo do partido,

mas mostrava uma forte marca doutrinária, ideológica, que permeava a construção

dos diversos conteúdos e elementos apresentados.

A formatação das diversas páginas e seções mostrava uma coerência,

tanto na escala de cores das imagens e textos, basicamente nas cores vermelha e

preta, vinculadas diretamente à logotipia e à programação visual do diferentes

materiais de campanha, quanto nos conteúdos, onde as ideologias e doutrinas do

partido se sobrepunham à questão eleitoral, apesar do hotsite se identificar com a

eleição.

Valorizando os discursos e falas dos candidatos, o hotsite apresentava

as agendas e bandeiras de luta do partido, que eram colocadas não só como

propostas e projetos, mas também através de atos, notícias e mesmo discursos dos

candidatos.

Além disso, abria amplo e destacado espaço para as campanhas e

candidatos do PSTU nos Estados, através de um mapa do Brasil que permitia

rápido acesso às informações sobre a campanha do partido nas várias Unidades da

Federação.

Isto nos permite afirmar que o hotsite se apresentava como um

elemento vinculado a campanha, não ao candidato, apesar de este receber

destaque e espaços privilegiados na programação visual e nos conteúdos.

A programação visual mostrava fortes marcas do discurso e de

estratégias publicitárias muito presentes no meio, como o uso de recurso de

tecnologia “Flash” na construção do mapa o Brasil e mesmo nos elementos da

barra superior.

Ao mesmo tempo os textos e conteúdos, com fortes marcas

ideológicas, se apresentavam num formato jornalístico, demonstrando um

cruzamento de lógicas presentes e oriundas do campo midiático que influem e

permeiam a construção da visibilidade do partido na Internet.

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Já Rui Costa Pimenta, assim como Zé Maria, mostrou-se no HPEG

sempre em estúdio e vestido de forma simples, aparentemente buscando reforçar

sua imagem de trabalhador. Observamos um equilíbrio na exposição do candidato

e do partido (ilustração 3.6), que ocupavam espaços equivalentes na tela, sendo

inclusive o candidato deslocado no enquadramento enquadrado para reservar

espaço para o logotipo do PCO (ver ilustração 3.6).

Seu discurso de campanha apresentava-se mais intelectualizado, se

colocando como o único candidato genuinamente dos trabalhadores e pautando

suas aparições no HPEG pela discussão de questões de fundo da sociedade

brasileira, como as reforma da previdência, mostrando uma leitura fortemente

ideológica e esquerdista da campanha.

Os trinta segundos do Partido da Causa Operária no HPEG se

encerravam com uma vinheta contendo o logotipo do partido, onde o “O” era uma

roda dentada de engrenagem, imagem fortemente vinculada à metalurgia, o

endereço “www.pco.org.br” e o e-mail “[email protected]”, mostrando uma forte

vinculação com a identidade, com a “marca” do partido (ilustração 3.6).

No último mês de campanha, mais próximo ao final do HPEG, o

endereço do website passa a ser apresentado também junto aos candidatos, abaixo

do e-mail, do telefone e do número do partido.

Ilustração 3.6– divulgação do website do PCO no HPEG

O endereço gerava acesso a uma página em fundo preto onde, no

centro, se inseria uma montagem das fotos do candidato a Presidência Rui Costa

Pimenta e do Vice Pedro Paulo de Abreu Pinheiro.

Os nomes dos mesmos escritos em cor azul ao redor da mensagem

“Quem é de luta, que é trabalhador, vota em partido e candidatos revolucionários,

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operários e socialistas”. Ao lado a sigla e o nome do partido ladeavam uma

fotografia de Leon Trotski (ilustração 3.4.2).

Caracterizando-se como o que se denomina de corredor de abertura ou

de apresentação esta imagem, ao clicada, carregava a página inicial do website

propriamente dita, onde eram apresentados os diversos conteúdos, recursos e

elementos do website (ilustração 3.4.3). Nota-se ai que na apresentação, ou seja,

no primeiro elemento de contato o partido apresenta-se com uma imagem e

formato fortemente marcados pelo discurso político e pela identidade do partido.

Esta forte e constante marca ideológica transparece em outros

elementos do websites, através do uso de imagens de personagens como Trotski,

Lênin e Che Guevara, ícones revolucionários da esquerda que marcaram as lutas

ideológicas entre classes dominantes e dominadas em épocas passadas.

As páginas não mostravam uma organização ou mesmo coerência na

formatação e diagramação dos diversos conteúdos, utilizando cores fortes, sólidas,

e textos em branco extensos e blocados, fatores que somados prejudicavam e

tornavam a leitura demorada e cansativa.

O website tinha vários níveis de navegação, chegando a ser

necessários cinco ou seis cliques do mouse para acessar alguns conteúdos, e vários

itens prometiam elementos mas não possuíam link, causando desconforto e

mesmo frustração pela experiência não cumprida, mostrando uma formalidade na

organização do conteúdos e discursos e mesmo, se não principalmente, uma falta

de domínio da linguagem, estratégias e formatos do meio.

No tocante à área dedicada à eleição, acessada a partir de um item

com este título no menu, este processo se repete. Notamos também uma

incoerência na estrutura de navegação, pois não só o menu desaparecia em muitas

páginas como também muitos itens apresentados não geravam ou continham links,

o que nos leva a questionar sua função ou presença na estrutura geral.

Da mesma forma notamos um foco constante no candidato Rui Costa

Pimenta, mas este apresenta e debate temas e propostas desvinculadas da eleição e

do cenário nacional, insistindo mais em questões ideológicas como a “luta contra

o imperialismo norte-americano”.

Vemos assim que o partido usar a eleição para apresentar seus

discursos e visões políticas e não estar interessado em conquistar votos, falando

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para seus simpatizantes e correligionários, visão esta reforçada pela percepção que

o número do candidato, elemento de efetivação da votação na urna eletrônica, ser

apresentado apenas em uma imagem, desaparecendo nas seções e páginas.

Estes dois candidatos, Zé Maria e Rui Costa Pimenta, foram visível e

sistematicamente ignorados pelo campo midiático, recebendo pouco ou nenhum

espaço nas coberturas diárias nos telejornais, menos espaço na mídia impressa. Da

mesma forma não foram convidados a participar dos três debates promovidos

pelas emissoras de televisão entre os candidatos - respectivamente nas emissoras

Band, Record e Globo – e nas entrevistas realizadas nos diversos programas.

Em função disso o candidato Zé Maria encaminhou ao TSE

reclamação por não ter sido convidado para as rodas de entrevistas na Rede

Globo. Em resposta o ministro do TSE Fernando Neves comentou ser

“perfeitamente admissível e coerente” que os candidatos com maior

representatividade ocupem mais espaço na mídia, e que o pedido de

obrigatoriedade da emissora ceder espaço não era cabível porque não era da

alçada da Justiça Federal legislar sobre as ações da mídia53.

Observamos neste fato que o campo midiático se coloca na posição de

filtro e mesmo agenda do processo eleitoral, determinando espaços e mesmo

censurando as falas e discursos de dois candidatos “com menos

representatividade”.

Não podemos deixar de comentar a resposta do ministro, que coloca a

representatividade de cada partido como elemento de determinação de espaço na

mídia, argumento aparentemente vinculado a forma de distribuição de tempo do

HPEG presente na lei eleitoral.

Devemos ressaltar também que a instituição responsável por regular e

controlar a lisura e equilíbrio da eleição evita atuar sobre as ações do campo

midiático, elemento que por si só mostra a força do campo e demonstra o risco de

manipulação e condução do processo por sua agenda.

Isto não se repete nos websites, onde os candidatos e suas assessorias

tinham o “poder” de gerar a pauta de gerenciar os conteúdos presentes.

Interessante observar, antes de entramos nas análises específicas, a formatação

dos endereços dos websites, sendo a maioria formatada com extensão “.COM”.

53 fonte: http://globonews.globo.com/GloboNews/article/0,6993,A340273-476,00.html

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Como já colocamos os domínios com esta extensão tornaram-se

sinônimos de Internet, sendo os mais reconhecidos e os de maior probabilidade de

uso por empresas, corporações e instituições. Assim, o uso de endereços com esta

extensão facilita a localização aleatória por parte do usuário, que usando de uma

combinação de nomes e números poderia acessar o website do candidato.

É importante observar que o uso dos domínios “.COM.BR” ou

“.ORG.BR” não é limitante ou excludente, na medida em que o partido pode

registrar vários domínios com extensões diferentes. Tendo isto em vista efetuamos

uma pesquisa no sistema de “Registro.br”, durante as eleições, por domínios

semelhantes aos divulgados no HPEG ou aos nomes dos candidatos, cujos dados

encontram-se na tabela abaixo (tabela 6.1).

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Domínio entidade detentora UF Observação

joseserra.org.br PSDB DF Pertencia ao candidato e

partido e remetia ao

website

serra45.com.br livre - - - Não pertencia ao candidato

ou partido

cirogomes.com.br Larr Wess SP Não pertencia ao candidato

ou partido

ciro23.org.br - - - - - - Domínio livre

garotinho.com.br MM Agenciamento

Patrimonial S/C Ltda.

SP Website não disponível

para acesso no dia da

pesquisa, mas não pertencia

ao candidato ou partido

garotinho.org.br - - - - - - Domínio livre

lula.com.br Lengnet Tec SP Não pertencia ao candidato

ou partido

lula13.com.br Em processo de

liberação54

X Website não disponível

para acesso no dia da

pesquisa

lula13.org.br Partido dos

Trabalhadores -

Diretório Nacional

SP Pertencia ao candidato e

partido

Ritacamata.com.br PSDB DF Pertencia ao candidato e

partido, mas não gerava

acesso a nenhum website

Zemaria.com.br Livre - - - Não pertencia ao candidato

ou partido

Tabela 3.1 – domínios vinculados aos candidatos pesquisados durante o período

da eleição.

54 Significa que a entidade detentora não cumpriu com alguma da regras do acordo ou cancelou o domínio, e o mesmo poderá ser registrado em breve por outra entidade após o processo de liberação ser finalizado.

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Interessante observar que alguns domínios estavam registrados por

atores não vinculadas ao campo político, como os casos de Ciro e Garotinho com

extensão “.COM”, mostrando que na Internet os candidatos e partidos estão

sujeitos a operações de várias ordens e de vários outros campos.

Poderia-se suspeitar ai de uma tentativa de adversários em bloquear a

presença dos candidatos na Internet registrando seus domínios, formando assim

uma barreira ao fácil e livre acesso aos websites dos mesmos, impressão reforçada

diante dos inúmeros casos de registro indevido de domínios por empresas ou

pessoas interessadas em obter lucro financeiro55, mas esta hipótese é de difícil

verificação e comprovação.

Destacamos alguns pontos nestes endereços. Primeiramente o uso, por

Ciro e Garotinho, de uma combinação de nome e número do candidato na

formatação de seus endereços, este último elemento de efetivação da votação na

urna eletrônica, numa forma ou busca de aumento de recall de suas campanhas.

Por outro lado, a presença dos nomes dos candidatos em detrimento

das siglas partidárias, demonstra a forte personalização da campanha e também se

colocam como elemento de reforço de suas “marcas” políticas. Além disso, tais

endereços demarcam o espaço, o território de cada candidato no meio, sendo uma

marca da presença e estratégias dos mesmos no espaço digital.

Com estes atores e websites formamos o cenário geral do pleito

Presidencial de 2002. Nos próximos capítulos efetuamos nosso trabalho de análise

dos fenômenos e processos empíricos observados nos websites dos candidatos a

Presidência no pleito de 2002. Usamos como base para apresentação os números

dos candidatos, elemento de efetivação da votação nas urnas eletrônicas.

3.1.Mapeamentos, caracterizações e representações

Neste ponto iniciamos o trabalho de leitura e análise do primeiro

conjunto de elementos durante o primeiro turno, onde recordamos que buscamos 55 Recordamos no caso do domínio “globo.com”, que havia sido registrado nos EUA por um particular e só foi retomado pela Rede Globo através de medidas judiciais.

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uma visão geral dos conteúdos, elementos e recursos disponibilizados pelos

candidatos em seus websites.

3.1.1.Lula 13: “Bote fé e clique Lula”

De forma geral o website de Lula privilegiava três tipos de conteúdos

e recursos: o candidato e suas propostas, fragmentos de campanha e recursos de

integração e aproximação com o usuário, que se observam nas seções “A vida de

Lula", “Notícias”, “O Brasil que a Gente Quer”, “Eleitor de Carteirinha” e

“Participe”.

A seção “A vida de Lula” era, como é possível perceber título,

dedicada à biografia do candidato, composta pela história política do mesmo

detalhada em fotos e textos, opiniões de Lula sobre temas como corrupção,

agricultura e energia e as posições do mesmo relativas a vários temas e ao

programa do PT, num foco na personalidade, nas ações e nos feitos do candidato.

Os links e as imagens desta capa giravam em torno de Lula e sua

história (ilustração 3.7), tanto no sentido político como no sentido pessoal e

familiar, valorizando o passado e o crescimento do retirante nordestino que

fundou um partido e tornou-se candidato a Presidência do país.

No centro havia uma foto do candidato de terno e gravata fazendo

embaixadas com uma bola de futebol. Outrora usada de forma pejorativa56, esta

imagem mostrava um lado popular, simples, quase brincalhão e lúdico, porém

tendendo a um certo populismo.

Abaixo desta imagem um texto convidava o usuário a conhecer o

candidato e seu Vice, José Alencar, que levava para a biografa do mesmo. Esta

era bem menos extensa – apenas uma página - que a de Lula, hierarquia e espaço

que o colocam como elemento secundário ou mesmo coadjuvante na seção e

mesmo na campanha.

56 Imagem semelhante a esta foi usada pelo jornal Folha de São Paulo, na campanha de 1998, como forma de desconstruir a imagem de Lula.

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Ilustração 3.7 - “A vida de Lula”

Os demais elementos ao redor remetiam a Lula e sua história,

reforçando o foco no candidato. A biografia completa estava inserida no item

“Roteiro de uma vida”, localizado no primeiro ponto de leitura, logo abaixo da

imagem do candidato no menu e ilustrada por uma fotografia antiga de Lula ao

lado de uma de suas irmãs.

O primeiro bloco de texto desta página, diagramada horizontalmente,

lado-a-lado, causando desconforto na navegação e visualização de textos e

imagens somada a extensão do conteúdo da mesma, explicava que as sandálias

usadas por Lula foram emprestadas pelo fotógrafo, pois a família não tinha

condições financeiras de adquirir calçados.

Notava-se nesta página uma valorização da história de retirante do

candidato e de sua vida em São Paulo, onde o mesmo trabalhou como engraxate,

torneiro mecânico e construiu sua família. Repetiam-se ai estratégias apresentadas

não só no HPEG mas também em programas anteriores do partido na televisão,

que buscavam mostrar um outro Lula, diferente da imagem apresentada pelos

adversários nas campanhas anteriores.

A partir da década de 1980, após a fundação do PT, a história do

político-candidato e do partido é sempre tratada em paralelo, mostrando as ações

de Lula e os atos do partido, mostrando a intenção de vincular o crescimento do

partido à ilustração e às ações do candidato.

Abaixo havia uma foto de Lula acompanhado da esposa e dos filhos

ainda pequenos ilustrando o link “A Família”. Esta remetia à entrevista com a

esposa do candidato Marisa Letícia, onde fala de sua vida e das lutas ao lado do

político e candidato.

Já na área da esquerda uma montagem imitando três bottons, sendo

um com a foto de Lula, um com uma estilização da bandeira do Brasil e, ao

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centro, um botton vermelho com a estrela do PT em branco, ilustram – e mesmo

redundam - o link para a seção “Um líder, um partido, um país”.

Dividido em “Lula no sindicato”, “A fundação do PT” e

“Compromisso com o Brasil” esta seção apresentava mais conteúdo sobre a vida e

a história política do candidato, porém mais focado nas questões políticas

propriamente ditas, seguindo com a estratégia de construir uma nova imagem para

Lula.

Na base, uma tecla de computador solta, “sozinha”, com um ponto de

interrogação ao lado do link “Perguntas e Respostas” conduzia a uma seção

semelhante a uma FAQ – Frequently Asked Questions, perguntas feitas

freqüentemente.

Elemento muito comum e presente em websites de diferentes campos,

e que pode inclusive ser considerado uma tradição do meio, colocava um menu

“Pull-Down” com vários temas da campanha, como “custo de vida”, “dívida

externa”, etc. Ao selecionar o um item no menu era carregada página com uma

pergunta ao candidato, como “O que o Sr. Pretende fazer com a dívida externa?”,

com a resposta de Lula abaixo.

Vemos nesta seção um foco absoluto no candidato, sua história e

propostas, unindo várias estratégias e estilos de conteúdo para a formação da

imagem do candidato. Chama a atenção especialmente a seção “perguntas e

respostas”, que usa um recurso e estilo tipicamente da Internet como forma de

esclarecimento e propagação das propostas do candidato.

Ilustração 3.8 - “Notícias”

A seção “Notícias” (ilustração 3.8) destacava os fatos e processos da

campanha e a cobertura de questões nacionais como economia e saúde, mas

sempre focadas no candidato Lula, seus apoiadores, parceiros e atos.

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Mostrando-se claramente como um espaço focado na conjuntura

nacional, buscava informar os eleitores e usuários do website sobre a campanha

tangenciando o filtro do campo midiático, na barra de direita duas imagens de

câmaras fotográficas levavam a páginas com conteúdos diferentes.

“Repórter de Campanha” acompanhava a campanha dia-a-dia em

extensas matérias abrangendo os vários aspectos dos atos do candidato e do

partido, num estilo jornalístico aprofundado bastante semelhante à cobertura de

revistas semanais como Veja e Istoé.

“Álbum de Fotos” continha um arquivo de imagens da campanha em

baixa definição, que, ao clicadas, abriam fotos em alta definição com qualidade

técnica passível de uso pela mídia. Todas as imagens eram acompanhadas de

crédito ao fotógrafo e informações sobre local e evento de captação da mesma, o

que permite supor um objetivo dual, tanto informar os usuários domésticos como

pautar ou suprir as necessidades de imagens e informações do campo midiático.

A imagem de uma agenda aberta conduzia à página com os eventos

programados da campanha e os atos do candidato, permitindo a busca por data. Já

a página “Sala de Imprensa”, acessada a partir de uma imagem de um bloco de

notas ao lado de um xícara de café, ícone do jornalismo, era voltada

exclusivamente para a imprensa e os profissionais de mídia, criando um canal

direto de relação com estes através do website, que exigia cadastro para acesso.

No dia seis de setembro notamos a inserção da “Rádio 13”, ilustrada

por um microfone de estúdio antigo, onde se nota que o website remete a uma

outra mídia para construir a imagem e facilitar a percepção, pelos usuários, dos

recursos e elementos presentes nesta área.

Inicialmente a “Rádio 13” inseria basicamente trechos de discursos de

Lula em eventos de campanha ou mesmo nos programas de rádio através de notas

que resumiam seu conteúdo, acompanhados de links para arquivos de áudio.

Nestas seções observamos uma intermidiatização, onde linguagens,

formatos, estratégias e elementos de diversas mídias são manipuladas e inseridas

como forma de apresentar e dar valor aos diversos conteúdos inseridos. Vemos,

nisto, uma busca de referencialidade para o website, ou seja, a valoração e

validação do mesmo através e a partir de outras mídias e outros “lugares”,

externos ao website.

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Com o decorrer da campanha abre-se espaço para apoiadores e

articuladores, como José Dirceu e Aloísio Mercadante e mesmo colaboradores do

website, como Flávia Rodrigues e Fábio Pereira - citados na página como

repórteres da campanha - que enviam boletins e matérias em formato de áudio.

Isto que reforça o sentido jornalístico e informativo da seção e mesmo

a adoção de uma lógica operativa do meio rádio, apoiando-se somente na voz, nos

relatos dos repórteres, na construção e circulação de conteúdos.

É interessante observar que as aparições do candidato na mídia em

geral eram sempre transcritas e editadas pela assessoria, destacando as falas do

candidato e suas ações, mas dando menos espaço a ações ou intervenções do ator

midiático presente, colocando-o numa posição de mero apresentador ou

coadjuvante e tratando a mídia como mais um elemento ou espaço para a

apresentação do candidato e seus discursos.

Ilustração 3.9 – capa da seção “O Brasil que a gente quer”

A seção “O Brasil que a Gente quer” (ilustração 3.9) , diagramada em

duas colunas que facilitavam a leitura e contato com os textos e elementos do

website, apresentava, ao ser carregada, texto intitulado “Carta ao povo Brasileiro”,

uma extensa carta de Lula em tom bastante pessoal mas eminente e claramente

político, com tom de discurso de campanha, sobre sua percepções e projetos para

o Brasil.

No topo da área ao lado deste texto havia a imagem da capa de um

livro acima do texto “Carta ao povo Brasileiro” que, ao clicado, carregava texto

sobre a campanha e o Brasil assinado pelo candidato,

Nota-se novamente a centralização do website sobre o candidato,

sendo importante destacar o formato adotado, uma carta, elemento e prática

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bastante pessoal, coloquial e mesmo intimista, inserido no website como reforço

das propostas e projetos do candidato.

Dois outros links, “Programa de Governo” e “Documentos do

Programa de Governo”, inseridos abaixo do link anterior, sendo estes menos

importantes por sua posição e por não estarem acompanhados de imagens e

ilustrações.

Estes links carregavam arquivos sobre vários temas e propostas de

campanha, como “Emprego” e “Inclusão Social”. No item “Documentos do

Programa de Governo” havia arquivos “.PDF” com os textos completos que

podiam ser copiados pelo usuário.

Nota-se uma certa redundância entre alguns conteúdos destas seções,

que se repetem nas diversas páginas recebendo tratamento ou construções

diferenciadas, tanto gráfica quanto textualmente.

A fusão da história do partido com a do candidato demonstra, em

nossa visão, uma personalização e valorização da candidatura colocando o

candidato como construtor e realizador dos feitos do partido, colocando as

identidades de ambos lado-a-lado57.

Ilustração 3.10 - “Eleitor de Carteirinha”

A seção “Eleitor de Carteirinha” (ilustração 3.10) continha elementos

e peças de campanha para manipulação, pelo usuário, sendo aparentemente criada

para os eleitores de Lula e filiados do PT, impressão causada pelo título e pelo

conteúdo que apresentava.

O item “Faça Você Mesmo”, convite ou proposta ao usuário ilustrado

por uma impressora com o nome de Lula sendo impresso, continha diversas peças

de campanha, como faixas e adesivos, para impressão direta a partir do browser

de navegação. 57 Informações passadas informalmente por pessoal do partido dão conta que pesquisas indicam que Lula e o PT não se desvinculam, para os eleitores, em termos de imagem e posição política, o que esta construção parece demonstrar.

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Observamos aí o objetivo de transformar o usuário num propagador da

campanha, utilizando seus recursos de impressão para a produção e distribuição

de materiais do candidato.

Pode-se questionar a qualidade do material que poderia ser produzido

pelos usuários, tendo em vista as limitações técnicas presentes nos equipamentos

de impressão domésticos, sem contar os risco de manipulação e alteração destes

materiais. Independente disto, nota-se que esta área torna o usuário um aliado

importante, que merece a confiança do candidato e da campanha.

Abaixo desta estava inserido o link para uma página de envio de

“Cartões Eletrônicos”, onde havia cinco modelos com imagens e temas de

campanha que eram enviados para quem o usuário indicasse, seguido por uma

página com brindes eletrônicos, como papéis de parede e protetores de tela para

decorar o computador do usuário com elementos da campanha e do partido.

No centro da página inicial desta seção estava o link para a loja virtual

(ilustração 3.11), onde o usuário podia adquirir produtos da “griffe PT”,

abrangendo desde canetas, chaveiros e bottons do partido até camisetas, fitas de

vídeo sobre o candidato passando por brincos de ouro puro.

O website da campanha de Lula vincula-se assim a uma estratégia

comercial, de vendas e mesmo de manifestação da identidade política do usuário

que, através dos produtos á venda, pode manifestar sua ideologia e vinculação ao

candidato e partido.

Ilustração 3.11 - “Lojinha do PT”

A capa da “lojinha” reforçava esta questão política, sendo construída

se não totalmente mas com muito elementos em vermelho, cor predominante do

partido, e apresentando a estrela do PT. Assim, através da venda reforça-se a

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identidade política do website, e do usuário, dentro de um espaço de campanha

eleitoral.

Segundo a revista “Isto É” de 25 de outubro de 2002, até aquele

momento a loja virtual já havia vendido mais de um milhão e duzentos mil reais

em produtos. Entretanto, não fica claro nesta página qual a destinação dos

recursos obtidos com as vendas, mas sua presença no website do candidato numa

seção voltada aos apoiadores mostra tratar-se de um elemento de captação de

recursos para a campanha.

Presumimos, diante da série de dados solicitados dos usuários

atendendo as regras de legislação eleitoral, que os recursos fossem considerados

doações de campanha, mas os dados presentes no sistema do TSE58 não permitem

efetuar tal afirmação.

Independente deste fator os valores captados demonstram o potencial

do meio para geração de receita para a campanha e o partido. E não podemos

deixar de comentar a chamada “griffe PT”, uma marca político-partidária

transformada em marca de uso diário por seus simpatizantes e filiados.

A seção “Participe” era composta por cinco itens, sendo o primeiro

uma imagem de uma pasta metálica contendo matérias gráficos da campanha, que

remetia à seção anteriormente comentada, “Eleitor de Carteirinha”. Abaixo desta

encontrava-se o item “Urna sem Mistérios”, ilustrada pela imagem de uma urna

eletrônica, que conduzia a uma pagina com instruções para a votação.

No centro, ilustrada por um calendário com as folhas virando estava

colocada a “Sua Agenda de Campanha”, com conteúdo idêntico ao da agenda

presente na seção “Notícias”.

Na barra da esquerda o item “Quero participar”, acessado pela

imagem de uma camiseta com a estrela do PT, que parece sugerir ao usuário

“vestir a camiseta” da campanha, continha os endereço e telefone do comitê

nacional e um mapa do Brasil que permitia acesso aos dados sócio-econômicos do

Estado, às informações de contato dos comitês estaduais e os coordenadores

estaduais.

58 Dados consultados no sistema de prestação de contas disponível em http://www.tse.gov.br/eleicoes/eleicoes2002/prestacao

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Abaixo deste o item “Quero Contribuir” continha uma transcrição dos

artigos da lei eleitoral para doações de campanha e explicações detalhadas sobre

os limites de doações para pessoas físicas e jurídicas.

Acessada através da imagem de um galão de combustível com um

símbolo monetário - “$” – na base da página havia um botão com a inscrição

“Concordo e quero fazer minha doação agora”, levando a um formulário

eletrônico para doação através de boleto bancário, possibilitando efetivar a doação

– mesmo por impulso - no momento e através do website.

Até onde observamos, esta página não continha criptografia ou

protocolo de segurança para transações on-line, mas solicitava informações

específicas do doador em conformidade com a lei eleitoral, mostrando uma

influência do campo jurídico no website.

Estas seções eram claramente voltadas aos filiados e militantes, com

recursos que possibilitavam auxiliar o partido e a candidatura, oferecendo desde

doações até impressão própria de materiais, mostrando uma estratégia de

aproximação e mesmo educação do eleitor para o pleito frente às estratégias e

objetivos da campanha.

Além disso, apresenta algumas experimentações estratégicas que

aparentam buscar conquistar o usuário através de uma abertura de processos

bastante próxima ao espírito livre a Internet. Entretanto nota-se uma certa

redundância entre estes elementos e outras seções, sendo repetidos ou recebendo

outras características.

Na barra inferior o botão “Links” carregava uma página com atalhos

para websites de parceiros e apoiadores da campanha, como a fundação Perseu

Abramo, o Partido Liberal e o Partido Comunista, integrantes da aliança que

suportou a candidatura Lula.

“Indique para um amigo” apresentava uma estratégia de rede, e abria

um formulário eletrônico em uma janela secundária com campos para o usuário

informar seu nome e e-mail e do amigo que receberá a mensagem, além de um

campo para enviar textos e comentários.

Ao lado deste link ficava o botão “Cadastre-se e fique bem

informado”, onde o usuário inseria seu nome, e-mail e Estado de origem para

receber informações de campanha. O boletim não chega a ter uma periodicidade

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definida, mas o pedido do Estado demonstra uma estratégia – que não podemos

afirmar que se efetivou – de busca de apoio para as candidaturas estaduais.

O último elemento desta barra era “Fale com a campanha” (ilustração

3.12) que, assim como o link de indicação, abria uma janela secundária para entrar

em contato com a campanha. Este formulário era composto de um menu tipo

“pull-down” com as várias seções do website, dois campos para o usuário

informar seu nome e e-mail e um campo para inserir sua solicitação.

Ilustração 3.12 - janela do formulário de contato

Este formulário era o único espaço para interação direta com a

campanha, enviando sugestões ou informações, e ficava colocado em posição que

impedia a leitura imediata, com alto risco de não ser visualizado imediatamente

pelo usuário.

Cabe dizer que enviamos mais de dez mensagens através deste

formulário, abrangendo desde solicitações de dados para pesquisa e cadastro nas

áreas de acesso restrito até enviando sugestões e elogios, não tendo recebido

resposta para nenhuma delas. Mesmo mensagens enviadas com e-mail diferente

ou por amigos deste pesquisador, que se dispuseram a apoiar o processo de

pesquisa, não foram respondidos

Estes fatores somados nos permite supor uma intenção de não

interagir ou receber elementos dos usuários e eleitores através do website,

configurando o mesmo como um espaço informativo, discursivo e de integração

as estratégias de campanha, mas não interativo no sentido de troca entre o

candidato, sua assessoria e os eleitores. Repetia-se, assim, um jogo ou estratégia

de difusão e sedução já clássico nas demais mídias.

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Muito destes conteúdos eram valorizados, ganhavam força, destaque e

mesmo permanência nas páginas iniciais, demonstrando aquilo que é de maior

relevância para as estratégias do candidato no meio e também convidando e

mesmo conduzindo o usuário sem eu processo de navegação. Sobre isto

trataremos na análise do próximo conjunto.

3.1.2- Zé Maria 16: Candidatos-comentaristas e suas bandeiras de luta

O menu de navegação do hotsite de Zé Maria situava-se na barra

superior do hotsite, entre o logotipo do partido, a esquerda, e a foto e logotipo da

campanha, a direita. Formando uma barra inclinada em fundo vermelho - cor

predominante do partido fortemente vinculada a ideologia comunista, sendo

inclusive a cor predominante da bandeira da hoje extinta União Soviética -

levemente mais claro que o fundo da barra, dividido ou separado desta por duas

pequenas e sutis linhas em preto, contendo links em cor amarela (ilustração 3.13).

Ilustração 3.13 – página inicial do hotsite

O primeiro link “Fala Zé Maria”. Ao contrário do que o título deixa

perceber, a página era dedicada às falas, aos discursos e aos atos dos candidatos

Zé Maria e Dayse. No topo apresentava o título em letras vermelhas fundeado por

uma barra em cor amarela, as cores do PSTU.

Abaixo havia uma lista com títulos de textos em negrito, sendo que

alguns eram acompanhados de subtítulos, resumindo ou apresentando o conteúdo

geral, e todos apresentavam a data de inserção (ilustração 3.14).

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Ilustração 3.14 – Fala Zé Maria

“Queremos cotas e muito mais!”, “Unir os socialistas e construir um

novo partido”, “Precisamos derrotar esse sistema que coloca o lucro acima da

vida” são alguns dos títulos apresentados, mostrando a ênfase doutrinária e onde

Zé Maria e Dayse atacam os adversários, criticam a conjuntura e as posturas do

governo Brasileiro e proclamam as bandeiras, lutas e ideologias do partido frente

ao cenário geral do país.

Os textos e conteúdos apresentavam uma forte marca doutrinária,

onde Zé Maria e Dayse aparecem e se identificam não como candidatos,

apresentando propostas, mas sim na posição de comentaristas, críticos das ações,

da realidade brasileira e do cenário geral da eleição, aparentemente investindo na

conjuntura da eleição como forma de propagação ideológica do PSTU em

detrimento de uma estratégia propriamente eleitoral, de conquista de votos.

Claro que esta postura, por si só, já se mostra como um elemento de

conquista e sedução de eleitores e votos através de uma identidade ideológica, e

na medida em que se relaciona com o cenário geral do país e das eleições, mas

mostra uma marca partidária, doutrinária mais forte, mais clara e aberta, que só foi

observada no website do PCO59.

O link “Notícias” abria uma página bastante semelhante à anterior,

contendo lista de notícias e informações referentes ao partido e às ações e

propostas de campanha. Ao lado de uma pequena bandeira do PSTU era

apresentado título da notícia em negrito, acima de resumo e data.

59 Sobre o website do PCO e seu candidato, Rui Costa Pimenta, dissertaremos em capítulo seguinte.

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Ilustração 3.15 - Notícias

“Seminário no Rio debateu programa socialista” e “PSTU lança

cartilha contra a ALCA” são alguns dos títulos apresentados que, ao clicados,

levavam para página com conteúdo completo num formato bastante jornalístico,

acompanhado de imagens creditadas. Além disso, esta seção repetia alguns

conteúdos da seção “Fala Zé Maria”, como “Queremos cotas e muito mais!”,

reforçando a marca doutrinária dos conteúdos e elementos do hotsite e a

tematização da campanha pelas marcas ideológicas do partido.

O link “Biografia” abria uma página formatada de forma semelhante

às anteriores, porém contendo apenas dois links (ilustração 3.16). O primeiro, “A

trajetória de luta de José Maria de Almeida”, levava à biografia do candidato que

apresentava sua trajetória sindical e suas ações desde a década de 70, quando foi

preso e torturado por fazer panfletagens no dia 1o de maio, até a fundação e as

ações do PSTU, partido que presidia.

Ilustração 3.16 – Biografia

Observa-se no conteúdo desta página uma forte valorização da

trajetória sindical e de luta de Zé Maria contra a ditadura, ou seja, sua história e

passado político, sendo reforçada pela presença de uma foto antiga do candidato,

em preto e branco, da época em que atuava no sindicato dos metalúrgicos e havia

sido preso. Constrói-se assim uma imagem de engajamento político e sindical que

se mostra nos diversos conteúdos do espaço.

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O hotsite evoca assim o passado de lutas e conquistas de Zé Maria

como elemento de construção da imagem do mesmo e também do partido,

destacando a coerência e o posicionamento político-ideológico de ambos.

O segundo link, “Uma mulher negra e socialista na luta contra a

opressão”, com forte associação étnica, racial, levava à biografia da candidata a

Vice-Presidência (ilustração 3.17).

Ilustração 3.17 – Biografia da candidata a Vice Dayse Oliveira

Ilustrado por uma foto colorida onde a candidata sorri, o texto

valorizava a luta de Dayse junto ao movimento negro, colocando a escolha da

mesma como tendo “um significado especial para o PSTU” por marcar a postura

política do partido de luta contra as opressões, sejam contra os negros, as

mulheres ou os homossexuais (o texto citava a “opressão homofóbica”).

O texto deixa transparecer que a escolha de Dayse é fruto de uma

postura do partido de luta contra a opressão e a discriminação, onde uma

professora negra, “á primeira mulher a concorrer a este cargo” - que parecia

ignorar a escolha e a presença de Rita Camata na chapa de José Serra - demonstra

a estratégia do PSTU de usar a própria composição da chapa como forma de

construção e propagação das ideologias e bandeiras do partido, reforçando assim

sua imagem e sua posição política.

O link seguinte, “Programa”, era formatado da mesma maneira que as

páginas anteriores, apresentando uma lista de tópicos do Programa de Governo do

partido. Um dos tópicos permitia o download do programa completo em formato

“DOC” (Microsoft Word), com quarenta e oito páginas onde eram discutidas

questões de fundo da sociedade Brasileira e apresentadas as propostas do PSTU

para este cenário.

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Ilustração 3.18 - página da seção Programa

O cenário mundial após os ataques terroristas de onze de setembro e

romper com a ALCA e o FMI eram alguns dos itens apresentados no texto, que

ressaltava os seminários e eventos promovidos para o debate e a criação do

programa, mostrando novamente a forte marca ideológica presente nos conteúdos

do hotsite.

Outro link, “Um programa dos trabalhadores para mudar o Brasil”,

abria uma página onde os diversos tópicos do programa eram apresentados em

parágrafos entre cinco e 10 linhas (ilustração 3.18). Abaixo havia um terceiro link,

que levava para matéria sobre o seminário, no Rio de Janeiro, que discutiu o

programa apresentado, onde Zé Maria era mostrado em foto dirigindo-se aos

presentes num púlpito, alçando ou reforçando a imagem de liderança e condução

do mesmo.

A “Agenda” apresentava uma pequena lista de eventos programados,

onde a questão da ALCA merecia destaque. “Dia 31 tem mobilização contra a

ALCA” era um dos títulos, e abria a página com informações sobre o dia de

mobilização que ocorreria em toda a América Latina (ilustração 3.19).

Ilustração 3.19 - Agenda

Observa-se que, ao contrário do que ocorre com outros candidatos, a

agenda não se foca nos atos e na programação de Zé Maria ou Dayse, mas nos

eventos e lutas do partido. A agenda, assim, trata de elementos que o partido e os

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candidatos buscam colocar em debate, temas de fundo da sociedade Brasileira que

são apresentados, discutidos e, assim, agendados frente à sociedade, o que ressalta

e reforça a marca político-ideológica do hotsite.

“PSTU na TV” primeiramente não cotinha conteúdo, mas apenas uma

explicação de que o mesmo estava em desenvolvimento ao lado de uma ilustração

de uma pequena TV vermelha com a tela em amarelo.

Notamos novamente a identidade político-ideológica do PSTU, pois a

imagem de um aparelho receptor de televisão é mostrada em vermelho (ilustração

3.20), colocando-a como um elemento vinculado ao partido. Ou seja, a imagem

colocada a TV do website como uma TV do PSTU, vinculada a suas estratégias e

ideologias.

Durante a campanha surgiram dois links ao lado desta mesma

ilustração. O primeiro era “Programa de TV Nacional”, acima de um breve

resumo ressaltando que “Zé Maria denuncia a ALCA e convoca plebiscito”. Ao

clicado era possível assistir ao programa de TV onde Zé Maria denuncia os

prejuízos que a ALCA traria à vida dos cidadãos, e convoca todos a auxiliar na

organização do plebiscito contra a ALCA.

Ilustração 3.20 – PSTU na TV

Abaixo um link abria o jingle da campanha em formato MP3, onde

novamente não pagar a dívida externa, barrar a ALCA e o FMI são os lemas e

elementos apresentados. Cabe destacar que ao lado destes links estavam inseridos

os logotipos do Windows Media Player e RealOne Player, programas próprios

para executar os arquivos presentes, onde aparentemente o partido busca ofertar e

facilitar o acesso dos usuários a tais materiais.

O link “Entre na campanha” abria uma nova janela contendo um

formulário eletrônico para cadastro no boletim eletrônico do PSTU. O formulário

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era composto de aproximadamente 10 campos, solicitando informações como

nome, e-mail, idade, etc., e inseria o usuário na lista de informações do partido.

Como parte da pesquisa nos inscrevemos neste boletim, passando a

receber por e-mail notícias e convocações do partido. Este boletim repetia a marca

político-doutrinária do hotsite, e chegava a produzir três edições diárias com

conteúdos diversos, o que nos causou desconforto não só pelo volume de dados

enviados como, principalmente, pela impossibilidade de leitura causada pela

extensão e aprofundamento dos dados remetidos.

O último link, “Deu na Imprensa”, continha uma lista visual e

estruturalmente semelhante as outras, apresentando títulos de matérias e veículos

onde o candidato Zé Maria havia sido citado (ilustração 3.21). “Candidato do

PSTU em Pernambuco ataca político do PT” e “O metalúrgico mais radical”,

ambos do Jornal do Brasil, são dois exemplos de links, que eram sempre

acompanhados da matéria completa, numa espécie de clipagem digital das

citações do candidato na mídia, onde novamente a marca doutrinária se mostra

como elemento de formatação, seleção e apresentação dos conteúdos e mesmo na

relação do candidato com a mídia.

Ilustração 3.21 – Deu na imprensa

Não podemos deixar de comentar o título desta seção, “Deu na

imprensa”, que se por um lado busca colocar de forma clara e direta o tipo de

conteúdo presente, por outro nos permite inferir uma busca de validação e reforço

dos conteúdos apresentados por terem sido veiculados na imprensa, dando-lhes

força e valor frente a campanha e as propostas do candidato e seu partido.

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3.1.3. Ciro 23: EU no menu

Na fase de pré-observação o menu do website de Ciro Gomes era

composto (ilustração 3.22) dos itens “Quem é Ciro”, “Opiniões”, “Vídeos”,

“Galeria de Fotos”, “Você Sabia?”, “Cadastre-se e Participe”, “Doações”, “Peças

Publicitárias” e “Fale com Ciro”.

Abaixo, dois pequenos banners apresentavam, respectivamente, “Leia

o Programa de Governo” e “Grupos de Discussão”, eram seguidos de um campo

de busca, um banner sobre doações de campanha que redundava o link anterior e

um campo com formulário identificado como “Enquete”.

Ilustração 3.22 - página inicial em 17/07/2002

Próximo ao início do HPEG, quando o website passou por alterações.

O menu foi ampliado. Os itens secundários desaparecem sendo colocados como

itens diretos do menu. O “Programa de Governo” é deslocado ao lado da foto e do

logotipo da campanha, formando uma pequena barra com “Agenda” e “Grupos de

Discussão”, sendo que abaixo destes havia um pequeno campo para buscas no

website.

O botão “Agenda” continha os compromissos de Ciro em cada dia de

forma bastante detalhada, podendo tanto servir de elemento para os usuários como

pauta para a mídia. Já o “Programa de Governo” (ilustração 3.23) conduzia a uma

página com o índice dos tópicos do programa de Ciro.

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Ilustração 3.23 – Programa de Governo – 30/07/2002

Ilustrada por uma foto posada do candidato, semelhante à usada nos

demais materiais de campanha, num formato bastante jornalístico (título, lead e

texto blocado) a página valorizava o fato de Ciro ser o primeiro candidato a

apresentar o Programa de Governo, convidando o usuário a ler e enviar suas

colaborações, porém, sem mostrar como as mesmas deveriam ser enviadas.

Abaixo uma lista dos tópicos permitia a leitura dos textos completos (ilustração

3.24), que também podiam ser copiados em formato PDF.

Ilustração 3.24 - texto do Programa de Governo

O item “Grupos de discussão” apresentava-se como um fórum de

debates sobre três temas, sendo estes “Debate Nacional”, “Fórum Livre” e

“Federalização de vários tipos de crime”, que solicitavam ou convocavam o

usuário a dar sua opinião. Estes fóruns exigiam cadastro para acesso, fato que nos

impediu de travar contato com os mesmos60 e, assim formular maiores

considerações sobre o processo.

O menu seguia na barra à esquerda, sendo o primeiro item “Página

Inicial” que conduzia à primeira página do website. Os itens seguintes resumiam a

biografia de Ciro, “Quem é Ciro”, “Ciro Deputado”, “Ciro Governador”, “Ciro 60 Solicitamos, atrás de formulário e de e-mail, inscrição nestes grupos. Mesmo nos identificando como pesquisadores e colocando documentos da universidade a disposição não recebemos resposta.

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Prefeito” e "Ciro Ministro”, numa forte e destacada auto-referência e mostrando

um foco na personalidade e nas realizações do candidato e uma estratégia de uso

do menu para apresentar, de forma resumida, o currículo do candidato.

Isto se repetia nas páginas que desatacavam a história política do

candidato, mostrando fotos de Ciro e atos e realizações de suas administrações,

ressaltando e valorizando os benefícios sociais decorrentes (queda da mortalidade

infantil, por exemplo) e sua luta parlamentar em prol da gestão de recursos

públicos.

Destacavam-se aí a formatação dos títulos e a posição das imagens,

pois além de também usar um corpo maior que o texto completo, os títulos eram

negritados chegando a ocupar quatro linhas na área principal de leitura resumindo

o conteúdo da página e sendo seguida por uma fotografia do candidato que

separava o título do texto completo.

“O Vice Paulinho” apresentava a biografia do sindicalista candidato à

Vice na chapa de Ciro Gomes. Em apenas uma página mostrava a história de luta

sindical do candidato, usando da mesma estratégia de formatação de texto e

posicionamento da imagem na biografia de Ciro.

Se, por um lado se ressalta o benefício da leitura dos títulos, por outro

esta formatação, que colocava o texto completo fora da área de leitura inicial

mostra uma estratégia de apresentar apenas os itens e atos de interesse dos

candidatos nos títulos, tirando ou diminuindo a importância dos demais elementos

destas páginas.

O item “Artigos” (ilustração 3.25) apresentava uma lista de artigos

produzidos pelo candidato e publicados na mídia, acompanhados de breve resumo

abaixo do título, onde se encontrava o link para acesso ao texto completo.

Nestes artigos destacam-se as opiniões, visões e projetos de Ciro para

o Brasil, bastante semelhante ao item “Entrevistas”, que apresentava aparições e

espaços na mídia dados ao candidato.

Vemos ai que Ciro mostra não ser apenas um candidato, mas também

um intelectual com opiniões que merecem espaço e destaque nas mídias. Da

mesma forma, notamos um jogo de troca ou busca de credibilidade para as

propostas do candidato, que ganham força, valor e credibilidade por obter espaço

em veículos de grande circulação.

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Ilustração 3.25 – Artigos em 17/07/2002

“Outras opiniões” abria espaço para entrevistas, artigos e opiniões de

colaboradores da campanha, como o cientista político Mangabeira Unger,

ideólogo dos projetos e principal estrategista da campanha de Ciro Gomes, o

candidato a Vice Paulinho e outros apoiadores de diversos campos sociais.

Assim como Ciro, estes se colocam na posição de analistas e

comentaristas da realidade Brasileira fornecendo elementos para a sustentação das

propostas e projetos do candidato.

O Item “Jornal do Ciro” (ilustração 3.26), que se apresentava como

uma mídia dentro do espaço midiático do website, apresentava conteúdo variado,

de notícias, atos e informação de campanha a espaços obtidos na mídia e

lançamentos de livros por colaboradores.

Formatado como um jornal impresso, trazia link para o website abaixo

do título e a foto oficial do candidato no canto superior esquerdo, mas não trazia

identificação da edição do jornal – número, período, data, etc.

No topo, ao lado da foto do candidato, havia um “box” arredondado,

semelhante a um botton, com o texto “Assine aqui o Jornal do Ciro”, que ao

clicado abria um formulário eletrônico para recebimento do jornal. Fizemos várias

tentativas de inscrição, sendo todas infrutíferas por erros no sistema do website.

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Ilustração 3.26 – “Jornal do Ciro” em 17/07/2002

O item “Sala de imprensa” (ilustração 3.27) continha material para a

mídia sobre os atos e ações do candidato, apresentados através de fotos

acompanhadas de títulos e resumos, como “Primeiro Comício de Ciro reúne mais

de 60 mil pessoas”.

Nestas fotografias observamos um foco absoluto em Ciro. Como pode

ser vista na ilustração abaixo (ilustração 3.27), das quatro imagens apresentadas

Ciro aparece direta e claramente em três, sendo que na outra mostra-se uma

multidão ouvindo discurso do candidato em ato de campanha. Vemos, assim, que

o elemento principal, condutor e central do website era o candidato e seus atos.

Ao clicados, conduziam à página com imagens em alta definição e

release para a imprensa, mostrando ser claramente um espaço de relação e

alimentação para a mídia, onde o website torna-se aliados as estratégias de

visibilidade em outros meios.

Além disso esta área mostra-se como uma assessoria de imprensa

deslocada do mundo físico, onde a Imprensa pode busca elementos, dados e fatos

com a vantagem cibernética de estar sempre aberta e a disposição de suas

estratégias e necessidades.

Ilustração 3.27 - Sala de Imprensa em 30/07/2002

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O item “Você sabia” voltava-se ao ataque a adversários políticos,

especialmente os integrantes da administração de FHC e o candidato José Serra.

Através de pequenas notas com perguntas e respostas lembrava ex-integrantes da

administração Collor de Melo que integravam a equipe de FHC, atacava ações e

feitos de José Serra no Ministério da Saúde e criticava a política econômica,

dentre outros assuntos, usando de uma linguagem clara, leve, coloquial e até

mesmo jocosa para atacar seu principal adversário.

“Vídeos” conduzia a uma página com as peças da campanha para o

HPEG e as participações de Ciro em programas e TV, rádio e de várias outras

mídias numa intermidiatização em que podiam ser vistas ou ouvidas no mesmo

espaço.

As participações do candidato na televisão eram destacadas, sempre

acompanhadas de uma imagem ilustrativa (ilustração 3.28) e de texto resumindo a

principal proposta apresentada pelo candidato, onde observamos a ampliação dos

efeitos de mídia no website.

Da mesma forma que a seção “Sala de Imprensa”, as imagens giram

em torno do candidato, mostrando não só que este é o centro do website, mas

também permitindo uma leitura de ser ele o centro das atenções da mídia.

Ilustração 3.28 - página “vídeos” em 21/08/2002

O item “Galeria de fotos” conduzia à uma página com imagens

vinculadas a algum fato ou notícias de campanha, sempre acompanhadas de

legenda que possibilitava o acesso à imagem em alta definição e ao release do ato.

De forma bastante semelhante a “Sala de Imprensa”, e também

destacando e centralizando Ciro, esta seção se coloca como mais um elemento de

alimentação e pauta do campo midiático, cabendo destacar que nesta área as

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legendas eram mais extensas, apresentando-se como um lead da notícia

(ilustração 3.29).

Ilustração 3.29 - Galeria de fotos em 30/07/2002

O item “Doações” continha uma reprodução de um folheto ou panfleto

com a imagem de Ciro, intitulado “Doações, um assunto tão delicado que

resolvemos tratar em público”. Abaixo havia um texto explicando a posição de

Ciro quanto a este tema e os procedimentos para efetuar as doações de campanha,

tanto através de depósitos em conta bancária quanto diretamente nos comitês do

candidato, acompanhado do texto da legislação do TSE.

Observa-se que não só o candidato usa um espaço do website como

forma de arrecadar fundos, mas de uma forma indireta, sem uso de recursos de

transação eletrônica facilitados pelo meio, como também como forma de construir

sua imagem, na medida em que através do texto e da legislação discute o tema

doações com os demais campos sociais.

Na página acessada através do link “Entre na Campanha” havia um

formulário eletrônico para o usuário, convidado a se cadastrar como colaborador

da campanha. Se o usuário já era cadastrado bastava preencher os campos

“USER” e “SENHA” para entrar, caso contrário era necessário preencher um

extenso formulário, que solicitava desde o nome e endereço até o número do título

de eleitor, onde observamos uma busca ou tentativa de integrar os usuários à

campanha.

Preenchemos o formulário buscando identificar as especificidades

desta página, mas não recebemos retorno o que nos impossibilita tecer maiores

comentários além de ressaltar que, em nenhum momento, esta página informava o

que ou como seria feito

Da mesma forma não qualifica, esclarece o que é considerado um

colaborador de campanha, deixando uma lacuna e ficando a impressão de estar

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voltada apenas para filiados do partido e colaboradores cadastrados em outras

instâncias.

O penúltimo link do menu era “Peças Publicitárias” (ilustração 3.30)

trazia o usuário para “dentro da campanha”, contendo fotos do candidato e peças

gráficas da campanha, nos formatos JPG e TIFF, para o usuário copiar, além dos

jingles em formato MP3 e do arquivo da fonte usada nas peças gráficas.

Nota-se que uma função dos comitês de campanha, a distribuição de

material, é facilitada pela tecnologia do meio, onde cabe destacar que muitos

arquivos eram versões finais em tamanho real, finalizadas com cores corrigidas e

prontos para impressão e distribuição, demonstrando cuidado com a programação

visual e a qualidade dos materiais impressos.

Ilustração 3.30 - peças publicitárias

“Fale com Ciro”, último item do menu, conduzia a um pequeno

formulário para envio de sugestões, críticas ou pedidos de informação. Assim

como em outros websites enviamos vários pedidos de informação, elogios e

críticas. Um dos primeiros contatos solicitando informações, ainda antes do início

do HPEG, foi respondido pela assessoria, que informava que a mensagem havia

sido encaminhada à pessoa responsável para a resposta, que não foi recebida.

Alguns destes conteúdos eram merecedores de destaque na página

inicial do website. Sobre isto nos debruçaremos em capítulo específico na

seqüência deste trabalho.

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3.1.4 – Rui Costa Pimenta 29: Lênin, Che Guevara, ... os ideólogos

O website do PCO continha dois menus, sendo um horizontal, inserido

quase no centro da página abaixo de três banners, e outro vertical, colocado no

lado esquerdo da página.

Neste, abaixo de dois links ilustrados por imagens de Che Guevara e

Lênin, uma foto de um grupo de pessoas carregando uma faixa com o logotipo do

partido abria a seção referente às eleições 2002 (ilustração 3.31).

Ocupando a maior área da página no ponto de leitura mais

privilegiada, a partir do canto superior esquerdo, ficava a montagem com as fotos

dos candidatos em frente à bandeira do partido.

Semelhante à imagem presente no corredor de abertura, esta imagem

diferenciava-se por usar textos em cor branca e dar mais destaque ao logotipo do

partido, além de apresentar pela primeira vez o número 29 do candidato

(ilustração 3.4.4).

Ilustração 3.31 – página inicial da seção “Eleições”

Ao lado desta imagem e sobre o fundo verde-escuro da página estava

inserido o menu de navegação da seção, composta dos links “Campanha

Presidencial”, “Eleições 2002”, “Eleições Anteriores”, “Marxismos, eleições e

parlamentarismos (textos)”, “Causa Operária Online” e “Breve história da

participação eleitoral do PCO” (ilustração 3.32), textos conceituais aparentemente

mais voltados para a militância e simpatizantes do partido.

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Ilustração 3.32 - página acessada a partir de “Campanha Presidencial”

O link “Campanha Presidencial” abria uma página em fundo

vermelho, cor já comentada neste trabalho, e textos em branco. Ao centro uma

foto de Rui Costa Pimenta em sala de aula conduzia a biografia do

“companheiro”, onde o texto apresentava a origem de sua família de emigrantes,

sua vida acadêmica e idéias políticas. Tratando Rui Costa como “o companheiro”

ou “o candidato”, a página apresentava fotos de familiares do candidato, como o

avô João Jorge (ilustração 3.33).

Um ponto ressaltado – e mesmo valorizado, por sua extensão - era a

fundação do PCO, fruto de conflitos da tendência Causa Operária, cujos

integrantes fundaram o partido após divergências com a então direção do PT, da

qual eram membros.

Ilustração 3.33 – “Biografia”

Abaixo desta imagem um texto apresentava um trecho de discurso de

Rui Costa Pimenta, proferido no “ato nacional de 31 de maio”. Intitulado “Quem

bate cartão não vota em patrão”, neste discurso o candidato alerta para o

“momento privilegiado” representado pelo pleito que se iniciava, alertando as

manipulações burguesas contra as “massas populares”.

Lembrando episódios políticos recentes como exemplo do

amadurecimento democrático do país e os “companheiros revolucionários” que se

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lançavam na campanha, mostrando o tom programático, quase dogmático, do

partido frente às eleições.

Ao redor desta imagem duas barras se apresentavam como menus de

navegação. Na barra da esquerda o primeiro link era “Programa de Governo”

(ilustração 3.32), ilustrada por uma foice e um martelo vermelhos que

demonstram a identidade política vinculada à extinta União-Soviética e a visita de

temas ideológicos ao website.

Este link conduzia a uma página também em fundo vermelho e letras

brancas contendo um extenso texto com as propostas do PCO para vários temas,

como “Educação” e “Agricultura” (ilustração 3.34).

Nestas críticas aos modelos e realidades Brasileiras se misturam a

análises e propostas de mudanças, aparentando ser uma seleção de trechos de

discursos e opiniões de Rui Costa, e não um Programa de Governo no sentido

estrito.

Ilustração 3.34 - “Programa de Governo”

O link seguinte, “Artigos e Entrevistas” apresentava uma longa lista

de matérias, artigos e entrevistas na mídia com citações de Rui Costa Pimenta e as

propostas do PCO, que ao clicadas podiam ser lidas na íntegra, mostrando uma

forte auto-referência.

O link seguinte, “Entrevista exclusiva”, ilustrada por uma foto do

candidato falando ao microfone, não gerava link, parecendo ser apenas um item

ilustrativo da página. Observa-se que um candidato que foi sistematicamente

ignorado pela mídia eletrônica aproveita-se do espaço e citações na mídia

impressa como forma de apresentação e reforço de suas propostas e discursos.

Abaixo deste uma imagem de um grupo de pessoas carregando a

bandeira do PCO levava à “História do PCO”, uma página também em fundo

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vermelho e letras brancas (ilustração 3.35) ressaltava as origens trotskistas de seus

integrantes, os movimentos e partidos ao qual foi aliado e as causas de suas

rupturas com tais elementos.

Destacava-se nesta página crítica ao PT, de onde se origina o PCO, em

que “segmentos burgueses” teriam se colocado no caminho da formação de um

partido genuinamente de trabalhadores.

Ilustração 3.35 - “História da PCO”

Na barra à direita da imagem principal o primeiro item, “Perfil do

Candidato” também ilustrado por foto de Rui Costa Pimenta, apresentava um

breve perfil do candidato, como filiação, data de nascimento, etc., parecendo mais

um curriculum vitae ou ficha de filiação do que propriamente um perfil.

Abaixo deste o “perfil do Vice” era acompanhado por imagem de

Pedro Paulo, mas ao contrário do anterior este link não carregava nenhuma

página, o que demonstra um descuido ou mesmo a pouca importância do Vice na

seção.

“Álbum de Fotos”, último link desta barra, levava a uma página com

fotografias de vários momentos da vida de Rui Costa Pimenta – com o padrasto,

estudando no exterior, discursando para camponeses, etc. - estavam expostas

como em um mural, “presas” por alfinetes (ilustração 3.36).

Ressaltava ai a história e a família de Rui Costa numa página onde a

tecnologia ao mesmo tempo serve de suporte (ou é ilustrada) para uma antiga

prática, além de construir a imagem do candidato, que se coloca assim como o

elemento central e foco desta seção.

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Ilustração 3.36 - Álbum de fotos

No topo desta página estava inserida a foto de Rui Costa Pimenta e o

logotipo da campanha, tendo abaixo três pequenos itens. “Fale Conosco” abria um

link para o e-mail “[email protected]”, mas “Contribua com a campanha” e “Filie-

se” não continham link. Abaixo da barra da direita um box quadrado com a

imagem de uma escala musical gerava acesso à letra e ao jingle da campanha, que

podia ser copiado em formato MP3.

O segundo item da página inicial era “Eleições 2002”. Este link

carregava uma página em fundo verde escuro, contendo três colunas com

conteúdos (ilustração 3.36). Na coluna à esquerda um menu com imagens

apresentava os conteúdos da seção.

Ilustração 3.36 – página inicial do link “eleições 2002”

O primeiro link, “Programa”, era ilustrado pelo logotipo do PCO em

vermelho e amarelo (ilustração 3.36), ficando acima de link com as fotos dos

candidatos, mostrando ser o partido mais importante que as personalidades da

campanha.

Este link abria a página com o Programa de Governo do PCO.

Organizada em tópicos numerados, esta página era bastante semelhante ao

“Programa de Governo”, mas apresentava alguns temas de formas diferentes,

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como “Não ao salário mínimo de fome ...”, “Não ao banco de horas ...” e “Que os

patrões arquem com o custo da crise”, aparentando ser uma peça de discursos e

elementos do partido, ao contrário da anterior que aparentava estar ligada a falas e

discursos do candidato.

“Candidatos” abria uma página com o mapa do Brasil. Em fundo

branco, diferente da página de origem do link, neste mapa as várias unidades da

federação, ao clicadas, abriam página com dados dos candidatos regionais do

PCO em todos os níveis (ilustração 3.37).

Ilustração 3.37 – página do candidato ao governo do Rio Grande do Sul.

Com cor, formato e diagramação diferenciados, aparentando mais um

cadastro comercial ou mesmo uma ficha policial do que uma peça de campanha

eleitoral, nesta página viam-se fotos e um breve perfil de cada candidato sendo

que, ao lado bandeiras dos Estados, permitiam acesso aos candidatos nas demais

unidades federativas.

Observa-se ai uma quebra na lógica da navegação e um descuido com

a estrutura do website, pois não só a mudança das cores desvincula as páginas dos

candidatos do website do partido como também desaparecem os itens de

navegação, exigindo do usuário o uso de recursos do browser para retornar à

página de origem e acessar os demais conteúdos.

O quarto link, “Comitês eleitorais”, não se relacionava com nenhuma

página, e o link seguinte, “Textos de Campanha” apresentava três itens. “As

divergência fundamentais entre os partidos de esquerda” apresentava, no topo, o

slogan da campanha do PSTU, “Quem bate cartão não vota em patrão”, acima de

três colunas onde eram apresentados lado-a-lado o PCO, PSTU e PT (ilustração

3.38).

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A Política nos espaços digitais

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Ilustração 3.38 - textos da campanha

O primeiro era considerado como de tendência à esquerda, fato que se

justificava por seu programa, a ausência de alianças na campanha e slogan. Ao

lado o PSTU era colocado como um partido de centro, com um programa,

imagem e slogan ambíguos.

A última coluna citava o PT como um partido de direita por ter

empresários entre seus integrantes, por defender garantias às empresas e por

diminuir o poder dos trabalhadores em sua estrutura.

Observa-se ai novamente a marca doutrinária e ideológica do website,

onde conteúdos e formatos são inseridos e organizados de forma a demonstrar e

ressaltar a coerência e os compromissos do PCO. Além disso, o PT, de onde os

integrantes do PCO forma expulsos e fundaram o partido, é situado como de

ideologia à direita, e os também ex-integrantes do PT.

Os candidatos do PSTU eram citados como de centro, mostrando uma

tática de ataques, combativa e ideológica que ao mesmo tempo em que constrói a

imagem e identidade do PCO coloca em dúvida as imagens e identidades dos

demais.

O último link, “Agenda”, abria uma página com um calendário

mensal, onde algumas datas possuíam link que abria página com os compromissos

e eventos do partido e do candidato.

No centro da página inicial desta seção um box delimitado por linhas

brancas, intitulado “PCO na Imprensa”, abria página com conteúdo semelhante à

lista presente na seção anterior. Na área abaixo algumas notas “corriam” de baixo

para cima.

“Candidato do PCO no Espírito Santo tem 1%” e “Candidato do PCO

na Bahia está com 4% e empata com PT em segundo lugar” são algumas das notas

apresentadas, que apresentam elementos e informações da campanha relevantes

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para o partido e demonstram o uso da mídia para a construção da campanha do

partido.

Ao contrário das notas presentes nos websites dos demais candidatos

estas não geravam link ou estabeleciam relação com nenhuma outra página ou

seção, sendo estanques, ou seja, apresentavam e resumiam em si o conteúdo que o

partido desejava tornar visível.

Na terceira e última barra, o primeiro item, “Contribua com a

campanha do PCO”, não possuía link, e o item abaixo, um mapa do Brasil

contendo as fotos de Rui Costa e Pedro Paulo, abria a seção anterior, “Campanha

Presidencial”.

Retomando agora a página inicial do link “Eleições” da página inicial

do website do PCO temos outros cinco links, sendo estes, na ordem, “Eleições

Anteriores”, que não apresentava conteúdo, “Marxismo, eleições e

Parlamentarismo (textos)”, “Causa operária Online”, “Breve história da

participação do PCO em eleições” e “Textos de análise e polêmica sobre a

questão eleitoral e parlamentar”, este último sem conteúdo vinculado.

“Marxismo, eleições e Parlamentarismo (textos)”, ilustrada por uma

pintura de Lênin, apresentava uma “Biblioteca” (ilustração 3.39) com textos e

transcrições de discursos de líder revolucionário Russo. Ao lado da reprodução de

uma pintura de Lênin discursando para uma grande massa de pessoas uma lista

com cinco textos abria páginas com textos completos, todos creditados a Lênin e

versando sobre eleições diversas, mas nunca citando o local ou mesmo o contexto

de realização dos mesmos.

Observamos que o PCO busca reforçar sua imagem esquerdista e

revolucionária através da reprodução e circulação de discursos do líder da

revolução Russa, que instaurou o primeiro e maior regime comunista e operário

no mundo.

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Ilustração 3.39 - “Marxismo, eleições e Parlamentarismo (textos)”

“Causa Operária Online” apresentava a versão digital - ou reprodução

- do veículo de divulgação e informação do partido, onde matérias como

“Derrotar a agressão imperialista contra o Iraque e seu povo oprimido” analisam o

cenário mundial e apresentam as posições do partido frente a tais fatos, reforçando

suas posições político-ideológicas dentro de um formato e discurso mais

jornalísticos, quase midiáticos.

O último item, “Breve história da participação do PCO em eleições”,

abria uma página com texto extenso e pesado, onde as participações e resultados

do PCO nas várias eleições, desde quando era uma corrente do PT, eram listadas e

comentadas frente ao cenário geral da eleição e em seu impacto para o partido.

Ilustração 3.40 - Breve história da participação do PCO em eleições

Interessante observar que o website do PCO, primeiramente, que o

título da página era ”Participação Eleitoral do PCO”, diferente do conteúdo do

link, e que a página citava os resultados obtidos por seus membros nos pleitos que

participa com o PT. Entretanto o PT não é citado o que, somado as criticas

colocando o partido como de direita, mostra o conflito e mesmo oposição aos

antigos companheiros.

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Observa-se que as diversas páginas acessadas através do menu da

seção “eleições” formam uma área temática diferente, onde diversos, textos e

imagens se somam na apresentação das propostas do candidato.

Da mesma forma as imagens presentes junto aos links tematizam,

ilustram os conteúdos das páginas e seções, onde notamos três características

comuns: o uso de cores fortes e sólidas de fundo; texto blocados, extensos e

pesados, com uma forte marca ideológica, doutrinária; e, principalmente, a

irregularidade dos menus, que desaparecem em muitas páginas internas causando

uma sensação de desorientação.

Esta “desorganização” dos conteúdos se repete na página inicial do

website, que apesar de não estar vinculada às eleições, mas às propostas e

doutrinas do partido, mostra-se com uma série de conteúdos políticos que buscam

construir a posição política do partido e, conseqüentemente, do candidato. Sobre

isto dissertaremos em capítulo posterior.

Assim, para fins de concluir este trecho da análise, devemos

primeiramente observar que as páginas internas do website não continham título

(os textos que são apresentados pelo browser de navegação) permanecendo a

inscrição “Untitled Document” (documento sem título), demonstrando o descuido

e mesmo descaso com o website.

Chama nossa atenção, negativamente, a quantidade de conteúdos

inseridos, gerando até cinco níveis de navegação, além do tamanho dos textos,

que somados ao freqüente “desaparecimento” dos menus das seções e à constante

quebra na programação visual gerava desconforto e mesmo desorientação,

atrapalhando e desestimulando o contato com o espaço.

Isto nos leva a crer que os elementos de navegação estavam inseridos,

apresentados sem preocupação com a experiência do usuário, o que afetava a

formatação e a construção deste trecho. Sim, podíamos ter organizado melhor

nossa análise, mas propositadamente deixamos desta maneira para buscar ilustrar

os possíveis processos de interação dos usuários neste website.

Encerramos esta parte esclarecendo que, se o texto desta análise se

torna em alguns momentos confuso, recortado ou mesmo dá a sensação de saltos,

é porque ele é retrato e mesmo fruto da própria desorganização do website.

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3.1.5.Garotinho 40: O partido pegou uma carona

O website de Garotinho apresentava três menus com construções

diferentes. Abaixo da foto e do logotipo da campanha havia três botões em fundo

azul. O primeiro, “Fale com Garotinho”, ao clicado gerava automaticamente uma

mensagem eletrônica endereçada para o e-mail “[email protected]”.

Nota-se ai uma estratégia diferenciada dos demais candidatos, pois ao

invés de inserir formulários com campos e assuntos determinados o website de

Garotinho gera link para e-mail direto, onde o usuário ganha maior liberdade para

se manifestar.

Entretanto devemos lembrar que tecnicamente tal estratégia apresenta

um ligeiro risco, uma vez que se apóia em recursos e elementos técnicos externos

ao website, aumentando a probabilidade de erros e problemas em sua execução.

Ao lado deste, o botão “Agenda” abria a agenda de compromissos e

eventos programados para Garotinho, mostrando sem muitos detalhes os

movimentos do candidato na campanha.

“Notícias”, por sua vez, abria página com uma lista de notas contendo

as informações mais recentes da campanha, que ao clicadas conduziam à página

com o conteúdo completo da mesma.

Nesta página as aparições e citações do candidato na mídia eram

conteúdo freqüente, tornando o campo midiático referência para a construção da

imagem do candidato, mostrando uma ampliação dos possíveis efeitos de mídia e

mesmo a utilização desta como elemento de alimentação, atualização e condução

do website.

Além disso, observamos neste processo a pouca ou quase ausência de

materiais próprios, gerados pela assessoria, colocando o campo midiático como

importante, se não principal, fonte de materiais e atualizações nos conteúdos do

website.

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Ilustração 3.41 - Plano de Governo em 17/07/2002

O último botão desta barra, “Plano de Governo” (ilustração 3.41),

apresentava uma página com índice de tópicos que, ao clicados, abriam nova

página com as propostas completas do candidato. Esta página era organizada por

assunto, como “Economia”, “Minas e Energia”, etc., mostrando com

detalhamento as propostas e projetos do candidato, mas gerando extensa barra de

rolagem para acesso e leitura do conteúdo completo.

Nesta página observamos que as propostas e projetos do candidato,

itens muito comentados mas muitas vezes apresentado apenas de forma resumida

e mesmo publicitária nas demais mídias, no website se apresenta de forma

completa, estruturada e organizada de forma a facilitar o acesso, contato e

compreensão, onde os elementos, análises e propostas do candidato se fazem

visíveis em toda sua extensão.

Neste conjunto de itens destacamos o tópico “Economia” pois

estruturalmente se assemelhava aos demais, apresentando uma introdução ao tema

– onde constavam fortes críticas à gestão e aos modelos econômicos de FHC,

muito presentes em outras páginas – seguida dos tópicos do projeto do candidato.

Esta era a única que citava local e data, “Brasília, 11 de abril de

20021”, o que nos leva a supor tratar-se de um discurso proferido pelo candidato

em ato partidário ou de campanha, o que em sendo correto coloca o candidato na

posição de proprietário, de criador e condutor do programa.

Da mesma forma cabe destacar que a maioria das páginas apresentava

textos construídos na terceira pessoa – “cresceu substancialmente”, “No tocante a

...” - mas algumas, como o item “Economia” , encerrava com as propostas

apresentadas na primeira pessoa – “Vou criar ...”.

1 Fonte: http://www.garotinho40.com.br/scripts/detalheplanogoverno.asp?id=1

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Construía, assim, uma estrutura de discurso de oferecimento, de

proposta, reforçando o foco na personalidade do candidato e mesmo o seu

compromisso com o conteúdo apresentado e caracterizando-se como um discurso

político, com valor e estatuto de compromisso de gestão.

O menu à esquerda era formado por uma série de botões nas mesmas

cores, que dividiam os diferentes conteúdos. O primeiro botão “Na TV” era

seguido de uma imagem de uma tela de TV com Garotinho discursando frente a

vários microfones. Abaixo desta imagem havia o texto “Governo do PSB no Rio

de Janeiro estabelece piso salarial de R$ 240,00”, que ao clicado, abria vídeo com

o candidato numa janela tipo pop-up junto com pequeno texto explicativo do

conteúdo do mesmo.

No HPEG a principal proposta e discurso que o candidato apresentava

era o salário mínimo de R$ 280,00 (duzentos e oitenta reais), e o primeiro link do

menu, que permanece imutável durante todo a campanha, ressaltava o valor do

piso salarial estabelecido no governo do candidato construindo e mesmo

aprofundando assim tal proposta, mostrando o acoplamento do website a

campanha como um todo.

Entretanto, no HPEG Garotinho falava que aumentara o salário

mínimo regional no Rio de Janeiro, enquanto o texto abaixo da imagem do

website citava “piso salarial”, dois elementos que apesar de semelhantes

apresentam diferenças sutis, uma vez que o aumento do salário mínimo beneficia

todos os trabalhadores enquanto o piso salarial é, normalmente, referente a uma

categoria.

Este aumento citado veio na esteira de uma lei federal que abriu a

possibilidade de os Estados da Federação instituírem valores regionais para o

salário mínimo, vinculados a realidade econômica regional. Assim não fica claro,

no website, se o “piso salarial” citado é o salário mínimo ou um piso propriamente

dito, mostrando uma incoerência ou um erro na construção dos discursos nos dois

meios.

O botão seguinte, “No Rádio”, era seguido de links em texto para

entrevistas do candidato na mídia, como a concedida à rádio CBN. Ao clicado

este link iniciava o download de arquivo “WAV”, formato de áudio digital padrão

do sistema Windows, que rodava automaticamente ao final do processo de cópia.

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A entrevista podia ser ouvida na íntegra, sem cortes, mas os arquivos

apresentados eram de grande tamanho, superando um megabyte, o que gerava um

longo tempo de espera e aumentava consideravelmente as possibilidades de erro

no processo.

O botão seguinte, “Arquivo”, era seguido de cinco links de texto,

sendo estes “Textos”, “Fotos”, “Vídeo”, “Áudio” e “Materiais de Campanha”. O

link “Textos” abria página com campo de busca de entrevistas, artigos, notícias,

etc., por palavra-chave, por data de publicação ou cruzando estas, o que

possibilitaria a rápida localização de conteúdos no website.

Entretanto, havia um erro de programação no formulário que impedia

o preenchimento de alguns campos, impossibilitando assim a efetivação da

pesquisa, o que demonstra um descuido na construção do website.

“Fotos”, “Vídeo” e “Áudio” continham um formulário de pesquisa

semelhante, mas que não gerava erro, apresentando o resultado das buscas em

uma lista e possibilitando rápido acesso ao conteúdo localizado, que era

apresentado em nova página.

Isto nos leva a supor, uma vez que a tecnologia de buscas destes

formulários é a mesma, uma estratégia de apresentar e mesmo facilitar a

localização de materiais para e da mídia em detrimento de textos e outros

materiais próprios.

É claro que se trata de uma suposição, já que a construção de um

sistema de pesquisa envolve uma amplitude de variáveis, mas a própria não-

correção do formulário de textos durante a campanha, mantendo o erro, demonstra

a não preocupação ou cuidado com este tipo de conteúdo.

O link seguinte, “Materiais de Campanha” (ilustração 3.42) abria uma

página com reproduções das peças gráficas da campanha que, ao clicadas,

iniciavam o download das mesmas. Estas peças, desde a foto oficial do candidato

até banners, volantes e mesmo out-doors, eram disponibilizadas no formato

“JPG”, que impede ou dificulta alterações e adulterações, em versão final para

impressão, transformando o website num comitê de campanha aberto 24 horas por

dia.

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Ilustração 3.42 – Materiais de Campanha

O botão seguinte era intitulado “Conheça o Garotinho”, que

apresentava uma pequena foto do candidato em ato de campanha e cinco links.

“Perfil” continha a história política do candidato, focando e valorizando sua

administração como Governador do Rio de Janeiro. “Política” assemelhava-se a

este, mas continha a história geral, antes do candidato ser Governador.

“Governo”, por sua vez, era bastante semelhante, estruturalmente e em

conteúdo, ao “Plano de Governo”. Dividido em tópicos como “Ação Social”,

“Cultura”, etc., listava e apresentava as realizações de Garotinho na administração

carioca com o máximo de detalhamento.

Os dois últimos links abaixo deste botão focavam-se na história

pessoal do candidato. “Família” contava a história da família do candidato desde

sua infância, enquanto “Fé” contava a conversão religiosa de Garotinho após um

acidente de carro e sua relação com a Igreja Evangélica, sendo que entre estes

havia uma pequena imagem de Garotinho.

O último botão desta barra era “Discurso”, seguido do texto “Há quem

deve servir um governo”, que continha a reprodução completa, em texto, do

discurso proferido por Garotinho no dia cinco de abril de 2002, quando se

desvinculou da governança do Estado do Rio de Janeiro para candidatar-se a

Presidência da República.

Esta seqüência, que em sua própria construção mostra uma estratégia

de argumentação em prol do candidato, permanece, com algumas – poucas -

alterações na foto, durante toda a campanha, onde notamos foco absoluto no

candidato, sua biografia, atos e ações na mídia.

Cabe destacar o uso de fotografias e imagens capturadas diretamente

no menu, apresentando atos e discursos do candidato, e o agrupamento temático

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dos elementos através de botões com títulos, facilitando a localização e acesso aos

diversos conteúdos.

O menu à direita, por sua vez, era reservado ao partido de Garotinho,

PSB, e apresentava, no topo, o logotipo do mesmo, uma pomba branca carregando

um ramo de oliveira no bico. Abaixo vários botões idênticos ao da barra da

esquerda apresentavam vários links.

O primeiro botão era “Os candidatos”, seguido pelo texto “Conheça

nossos candidatos” que abria uma página com lista, em ordem alfabética, dos

Estados do Brasil, acompanhados de dados gerais como área, população e número

de eleitores (ilustração 3.43). Em cinco de outubro, véspera da eleição, estes link

muda para “Eleições 2002”, mas mantém o mesmo conteúdo.

Ilustração 3.43 - Os candidatos

Nos Estados onde o PSB concorria com candidatos próprios havia

link, que carregava nova página com o perfil do mesmo (ilustração 3.44), sendo

que onde havia candidatos a Senador o mesmo também era apresentado. Em

apenas dois Estados, Acre e Sergipe, não havia links.

Ilustração 3.44 – página do candidato do PSB ao governo do RS

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O botão seguinte era “Coligação Nacional”, abaixo do qual havia o

texto “Protocolo de Compromisso”, que levava a um texto eminente e

explicitamente político, ressaltando os compromissos e estratégias da coligação

PSB nos vários níveis, e deixando clara a posição do partido frente ao cenário das

eleições e ao quadro social Brasileiro.

Na base desta página havia dez links para os websites dos partidos

integrantes, sendo que destes apenas três funcionaram corretamente, novamente

mostrando um descuido com a construção do website.

“O partido” era composto de 12 links de textos. O primeiro, “No

Congresso”, apresentava a nominata dos Senadores e Deputados Federais do

partido, com endereço do gabinete, cidade e estado de origem, telefone e texto

sobre a atuação política do mesmo.

“Governadores” abria página citando três nomes, mas dava detalhes e

dados apenas do governador de Alagoas Ronaldo Lessa, permitindo uma leitura

de valorização e mesmo sobreposição deste sobre os demais.

"Prefeitos” apresentava lista com nomes, cidades, Estados e CEP dos

Prefeitos eleitos pelo partido, bastante semelhante a página “Dep. Estaduais”. Já a

página “Vereadores” abria um menu tipo pull-down com a lista de Estados do

Brasil que, ao selecionadas, carregava página com a lista de vereadores e

respectivas cidades de atuação.

Estes links seguiam com “História”, que apresentava a história e

ideologia do partido, “Estatuto”, que carregava arquivo “PDF” em uma janela

secundária2 com os princípios que regem o partido, “Fundação Mangabeira” em

que se encontravam textos sobre os objetivos e realizações da Fundação João

Mangabeira, advogado baiano fundador do PSB.

“Diretórios Estaduais” trazia lista dos diretórios do PSB em cada

Estado, sendo seguido por “Filiação”, que abria formulário eletrônico para filiação

no partido através da Internet, onde observamos a forte valorização do partido

nesta barra, e “Fale com o PSB” que gerava e-mail para o endereço

[email protected]”.

O último item era “Fórum”, página que trazia texto “área restrita aos

participantes do fórum” e os campos SIGLA e SENHA. Não era explicado como

2 Cabe observar que não se tratava de uma janela pop-up, mas uma janela completa do browser.

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participar do fórum, fato que nos leva a supor ser o mesmo fechado aos militantes,

filiados ou pessoas cadastradas e também nos impediu de travar contato com seus

conteúdos e, assim, tecer comentários mais aprofundados.

Observa-se aí que o usuário é limitado em seu contato, ficando um

espaço de possível troca entre os usuários e a campanha restrito a pessoas

conhecidas ou a filiados do partido.

Vemos, nesta seqüência de links, a utilização do website do candidato

como forma de apresentação e mesmo construção da imagem política do partido,

que se mostra não somente através de suas idéias, programa e ideologia, mas

principalmente, se notarmos a ordem dos links, pelos atores políticos que integram

e atuam em seus quadros.

Ilustração 3.45 - “Leia” em 19/07/2002

O último botão desta barra era intitulado “Leia”, e era seguido de

imagem da capa de um jornal ou boletim informativo que abria página com as

matérias do jornal “RIO40”. Cada página era apresentada em uma pequena

imagem e breve resumo ao lado.

As imagens geravam link para arquivo “PDF” que abriam em janela

tipo pop-up, contendo matérias sobre realizações da administração de Garotinho

nas diversas e diversificadas áreas, como o aumento de expectadores nos teatros e

espetáculos patrocinados pelo Governo.

A segunda e última imagem, que fechava este menu, era a capa do

livro “O carro virou minha vida”, ilustrada por foto de Garotinho tendo uma

bandeira do Brasil ao fundo, onde Anthony narra sua história de vida e o acidente

de carro que o converteu a religião.

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Nos menus observamos que os botões se comportam como divisores,

criando áreas temáticas para os links e facilitando, assim, a localização do usuário

e sua permanência no website, onde não podemos deixar de destacar a presença do

partido como elemento de campanha.

Observa-se uma certa mistura entre conteúdos do partido e do

candidato, onde a administração carioca e a biografia misturam-se aos dados do

partido. Entretanto, a posição destes últimos conteúdos coloca-os em posição

inferior em relação aos demais, principalmente se notarmos que somente eram

visíveis a partir da rolagem da página.

Neste ponto está a maior especificidade do website de Garotinho, pois

dando espaço ao partido mostra uma estratégia de uso deste espaço para a

propagação ideológica, para a captura de simpatizantes e filiados e mesmo para as

campanhas regionais, permitindo uma leitura de dubiedade entre o uso do website

para o candidato ou no partido. Entretanto, a posição destinada ao partido na

página é hierarquicamente menor, reforçando o foco na candidatura de Garotinho.

Os elementos inseridos na página inicial do website de Garotinho

demonstrava uma estratégia diferenciada dos conteúdos gerais, que será detalhada

em capítulo a seguir.

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3.1.6. Serra 45: “Trabalho, trabalho, trabalho, trabalho, trabalho ... pra

gente!1”

Na fase de pré-observação o menu do website de José Serra era

composto de cinco links, que priorizavam as notícias e biografia do candidato e

sua vice (ilustração 3.46).

Ilustração 3.46 – página inicial de 17/07/2002

O primeiro link do menu, “Todas as Notícias”, conduzia a uma página

contendo os títulos das notícias e informações listadas em ordem decrescente por

dia e hora de inserção, evocando a atualidade dos fatos e a própria velocidade do

website.

Ao clicados, os títulos conduziam às notícias completas em telas

individuais dentro do website, onde se observava o foco nos fragmentos de

campanha, nos atos e ações do candidato e nos atos de campanha em geral:

decisões jurídicas, materiais oriundos da mídia, respostas aos adversários, etc.

Bastante clara e organizada, esta seção tratava de construir um espaço

de informação com lógica e formato jornalísticos, posicionando o usuário sobre os

fazeres do candidato e o cenário da campanha e criando com ele uma relação

direta através de um serviço – ou conteúdo - de valor, mas ligado às estratégias de

campanha e obviamente filtrado pela assessoria do candidato.

“Programa de Governo” se dividia em vários links, dando ao mesmo

um tratamento bastante publicitário. “Oportunidades de trabalho, o grande

1 Refrão do jingle principal da campanha de Serra no primeiro turno.

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desafio” era o primeiro link, mostrando o foco do candidato em seu programa de

geração de empregos.

Seguido por “acelerar o crescimento com estabilidade”, “ofensiva

contra o crime”, “igualdade de oportunidades”, tematizava um discurso político

do candidato pelas propostas da campanha e apresentando um cruzamento entre as

tecnologias do meio e as estratégias da campanha.

Os textos destas páginas não transcreviam o conteúdo do programa ou

mesmo o apresentavam completo, mas resumiam os tópicos e elementos

principais do programa de Serra de forma curta, adequada ao meio, e bastante

jornalística, informativa, facilitando a compreensão do mesmo para o usuário.

Interessante observar que os conteúdos destas páginas podiam ser

copiados pelo usuário em formato “.PDF” através de links colocados na barra a

direita do conteúdo, configurando-se claramente como elemento de difusão que

busca facilitar o contato do usuário com este elemento e antecipar suas

necessidades e expectativas.

Os links “José Serra” e “Rita Camata” apresentavam, inicialmente, as

biografias dos candidatos resumidas em cerca de 25 linhas e ladeadas pelas suas

fotos (ilustração 3.47).

No decorrer da campanha estas seções foram ampliadas, sendo

inseridas novas páginas com detalhamento das biografias formando um menu

secundário com links como “O Jovem Serra”, sobre o passado de estudante e

militante do candidato, e “Rita Mulher e mãe”, sobre a vida familiar da candidata.

Ilustração 3.47– biografia de José Serra

Cabe aqui destacar o equilíbrio no tratamento de ambas as biografias,

valorizando as várias faces e ações dos candidatos em sua vida política e pessoal,

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o que mostra um equilíbrio na apresentação e visibilidade de ambos não

observado em outros websites.

Da mesma forma as diferenças nas construções, pois Serra recebe foco

em sua história política desde os tempos de militância no movimento estudantil,

enquanto Rita é apresentada em sua vida pessoal e familiar, deslocada da política

e mostrando uma tematização da questão feminina na campanha.

A “Agenda” abria página indicando os compromissos públicos dos

candidatos e com possibilidade de participação dos usuários ou os compromissos

políticos, detalhando horário, local e cidade de sua realização.

Notamos que, no caso de eventos onde apenas um dos candidatos se

faria presente, esta página exibia sempre os compromissos de José Serra,

ofertando a possibilidade de acesso à agenda de Rita em link abaixo do banner

superior.

A “Campanha Virtual”, em seu título já demonstra sua intenção de

construir-se como espaço de interação para o usuário. Ao clicado este item abria 3

links secundários: “Cartões Virtuais”, que possibilitava o envio de cartões com

temas da campanha por e-mail, “Jingles”, contendo as letras e jingles em formato

MP3 para cópia e “Papéis de Parede” que o usuário podia copiar e instalar em seu

computador.

Já os cartões virtuais (ilustração 3.48) eram enviados diretamente para

o e-mail indicado, e continham temas como trabalho, agricultura e exportação

apresentados em textos resumindo as propostas de Serra ao lado de imagens

ilustrativas sempre, em que o logotipo da campanha era o elemento central e

destacado.

Ilustração 3.48 - página para envio de cartões postais

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Nos “jingles” havia, abaixo do convite “cante com a gente”, a letra do

jingle oficial da campanha e uma lista de arquivos MP3 para download mostrando

a mesma letra em vários estilos musicais, como country, forró, gaudério, etc.

Já o link “papéis de parede” ofertava três modelos de imagem, cada

um com duas definições diferentes, para o usuário decorar seu computador. Nota-

se nesta seção uma estratégia de integração do usuário a campanha, buscando

torna-lo um difusor das propostas e projetos do candidato.

A seção “Material de Campanha” também se apresentava com esta

característica, inserindo arquivos dos materiais gráficos da campanha – santinhos,

adesivos, etc. – para download tanto em formato PSD - Adobe Photoshop – como

CDR – Corel Draw - ambos com possibilidade de edição pelo usuário, em que

notamos uma estratégia de facilitar e aproximar a integração do usuário a

campanha.

“Fale com o Serra”, título que deixa bem claro sua intenção e função

na estrutura geral do website, conduzia a um formulário de contato onde o usuário

podia enviar uma mensagem de apoio, sugestões para o plano de governo, pedidos

de material, fazer uma crítica, entre outros.

Era necessário estar cadastrado no website para utilizar este recurso,

onde se nota não só uma tentativa de conduzir ou mesmo limitar os movimentos

do usuário, gerando assuntos ou categorias de mensagens, mas também uma

estratégia de identificar a origem dos contatos, de onde seria possível extrair

dados e informações para as estratégias gerais de campanha.

A seção “Sala de Imprensa” continha materiais relativos à campanha

voltados para o campo midiático, mostrando uma estratégia ou espaço de contato

e interação específico dentro do website. Organizada em “Matérias”, página com

relatos e releases das atividades dos candidatos, “Banco de Imagens”, contendo

fotos dos atos da campanha, e “Áudios”, composta de depoimentos, discursos e

falas de Serra e Rita.

Não era necessário cadastro para acessar esta área, mostrando

claramente uma estratégia de assessoria à imprensa através do fornecimento de

elementos para suprir as necessidades dos veículos, possibilitando inclusive a

busca de materiais em campo específico localizado à direita do conteúdo.

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Interessante ressaltar que somente as fotografias eram creditadas,

sendo os demais materiais citados apenas em sua hora e local de realização. Ou

seja, os fotógrafos eram citados em seu trabalho, mas o demais elementos apenas

localizados no tempo-espaço da campanha, sem citar sua origem, fonte ou

profissional que gerou.

A “Galeria de fotos” era composta de imagens da campanha do

candidato, da Vice e de apoiadores, como a esposa de José Serra, Mônica, em

ações sociais. Em tamanho pequeno, estas fotos ao clicadas abriam as mesmas em

tamanho e definição próprias para uso pela mídia, e eram sempre acompanhadas

de informações sobre o local ou ato da campanha em que foram produzidas, mas

estranhamente deixam de ser creditadas.

O link “Artigos” conduzia a uma página com uma listagem de várias

matérias e textos de e sobre a campanha, abrangendo desde palestras e discursos

de Serra até matérias publicadas em jornais sobre temas da campanha, como

saúde e emprego. Notamos a predominância de artigos produzidos pelo candidato

e publicados tanto na mídia – jornais, como Folha de São Paulo ou revistas, como

Veja – como em veículos segmentados, como a revista do PSDB.

Esta seção apresenta-se, mesmo que estruturalmente afastada, como

um elemento de aprofundamento da biografia do candidato, além de demonstrar e

ressaltar a competência e a capacidade do mesmo por sua inserção e conquista de

espaço em renomados veículos de comunicação.

Ilustração 3.49 - página do “projeto segunda-feira”

O “Projeto Segunda-feira” (ilustração 3.49) conduzia a uma seção

voltada à principal proposta do candidato no primeiro turno. Estruturada como um

folder com várias telas em seqüência, evocando uma linguagem e formato

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publicitários, apresentava a proposta de geração de oito milhões de empregos e

sua forma e ações de implementação.

Na barra da direita desta seção surgia um menu secundário intitulado

“Tudo sobre o projeto” com os principais tópicos, como “Exportar mais e

importar menos” e “Mais de 600 mil empregos na construção civil”.

Observamos nesta seção um foco na publicidade da campanha na

medida em que, usando de uma linguagem simples e bastante clara, transforma

um item do Programa de Governo e a principal proposta do candidato num

roteiro, num mapa de ações e estratégias tornando-a facilmente compreensível

para todos receptores. Esta percepção é ressaltada de esta seção surgir no dia

seguinte ao início do HPEG, quando Serra muda a programação visual do website

em função do mote da campanha.

Poder-se-ia questionar o fato deste link ocupar a sétima posição na

hierarquia do menu, mas a presença do conteúdo em todo o website através de

vários outros elementos, conferia-lhe alta visibilidade e relevãncia, possibilitando

a inserção após as biografias e os artigos do candidato no menu.

O link “Você sabia”, que convidava o usuário à interação, mas

estranhamente não inseria o ponto de interrogação na pergunta, o que nos leva a

supor tratar-se mais de um desafio à memória do usuário do que propriamente

uma questão, abria uma página com perguntas e respostas sobre vários assuntos,

como “Você Sabia que 3.041 professores indígenas...”, ofertando diferentes e

variadas informações e dados para os usuários.

Estas perguntas eram atualizadas freqüentemente, sempre focando

alguma realização do governo de FHC, como a modernização dos portos ou a

construção de uma ponte, porém sem nunca cita-lo diretamente.

Abaixo de cada elemento - pergunta/resposta - havia um link “Enviar

para um amigo”, que possibilitava ao usuário remeter a nota à sua rede de

contatos, mostrando mais um elemento de transformação do usuário num

propagador da campanha.

O link “Pelotão 45” (ilustração 3.50), ilustrado por um distintivo em

azul e amarelo ao lado do título “Quer ajudar na campanha?”, conduzia para uma

página para cadastro no pelotão.

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O “Pelotão” agia sobre o eleitor através do envio, via e-mail, de

missões diárias vinculadas à campanha, como “convencer três eleitores a votar em

Serra”, “falar com cinco eleitores sobre as propostas de geração de emprego de

Serra”, etc.

Ilustração 3.50 - tela de cadastro no “Pelotão45”

Recurso e estratégia única em toda a campanha, o “Pelotão 45”

chegou a enviar duas missões por dia2, sendo mais um recurso de mobilização do

usuário para as propostas, projetos, estratégias e ações do candidato.

A “Rádio 45” comentava diariamente o programa de rádio de Serra e

as falas não só do candidato mas também, se não principalmente, as participações

especiais de atores, cantores e apoiadores da campanha oriundos do campo

midiático. Abaixo destas notas havia links para acesso a arquivos MP3 e Windows

Media Player, permitindo ouvir o programa na Internet.

O menu permanece com esta estrutura até o dia doze de setembro,

terceira semana da campanha no HPEG, quando na primeira posição do menu

surge o link “O Brasil se une a Serra”. Outros links, “TV Serra” e “Dito e feito”

são adicionados, e o link “Projeto segunda-feira” é alterado para a segunda

posição. Também foram acrescentados também links diretos para as páginas

internas da seção “Campanha Virtual”, que foi deslocado para antes do link “Fale

com Serra”.

Observamos neste movimento que Serra busca dar destaque, no

website, a vários outros campos e elementos, somando-os a suas propostas e

discursos como forma de construção de sua imagem, o que pode ser notado nos

conteúdos disponibilizados nestas nova seções.

“O Brasil se une a Serra” (ilustração 3.51) conduzia a uma página com

título “quem está com Serra”, apresentando os apoios e vínculos do candidato 2 Cabe observar que nos cadastramos no pelotão para compreender a função e valor do mesmo para a campanha de Serra.

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com outros campos. Composta de uma listagem com fotos de personalidades que,

ao clicadas, abriam uma janela tipo pop-up com as razões de seu apoio a Serra e

as opiniões dos mesmos frente a campanha.

Esta página configurava-se como uma galeria atores de vários campos,

como as atrizes Irene Ravache e Beatriz Segall, a dupla sertaneja Chitãozinho e

Xororó, o senador Pedro Simon e o empresário Antonio Ermírio de Moraes, que

em vídeo apresentam seu apoio a Serra.

Ilustração 3.51 - “O Brasil se une a Serra”

Notamos nesta página uma preponderância de atores do campo

midiático, não somente em termos quantitativos mas também qualitativos, no

sentido de que ocupavam posições privilegiadas na estrutura, possibilitando a

rápida visualização e leitura direta dos mesmos.

Vemos aí uma estratégia de apela a autoridade e transferência de sua

credibilidade para o candidato, mostrando que os atores midiáticos têm mais força

e credibilidade de que os atores políticos na campanha, posição reforçada pela

própria posição e relevância que a seção recebe no menu de navegação.

“Dito e Feito” arrolava as realizações de Serra como Ministro da

Saúde, que ocupavam as primeiras posições na lista. Da mesma maneira procedeu

em relação aos demais cargos político-administrativos que ocupou, mostrando

assim o compromisso do candidato com a palavra que empenhava e tornando-se,

assim, elemento de propagação da campanha e da construção da biografia do

candidato. Assim como a seção “Você Sabia”, esta permitia o envio da nota para

e-mails inseridos pelo usuário, construindo um novo espaço de interação para o

usuário.

“TV Serra” continha vídeos da campanha, clipes com artistas,

entrevistas realizadas e depoimentos do candidato sobre vários assuntos, para

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conexões “56k” e “Alta Velocidade”. Esta seção aparentava ter conteúdos inéditos

e específicos, mas muitos elementos eram partes retiradas do HPEG.

A estrutura do menu segue assim até o dia vinte e seis de setembro,

quando surgem dois novos links. “Veja como Serra fará o que promete”

convidava o usuário a acessar uma página com uma lista de links, como “Veja

como Serra vai melhorar o transporte urbano nas grandes cidades”, que

conduziam a texto com as propostas de Serra para o tema.

Composta de cinqüenta links sobre os mais variados temas, da saúde à

educação, passando por política econômica, onde chama a atenção construção

afirmativa dos textos através do uso de palavras como “Serra fará”, “Serra vai

melhorar” e “Serra vai dar apoio”, ressaltando a ação e o compromisso do

candidato com as várias questões em pauta na campanha.

Bastante semelhante à seção anterior, organizada em uma lista por

tópicos, “10 Razões para votar em Serra” apresentava motivos para diferentes

classes, movimentos e campos votarem ou buscarem votos para Serra, enfocando

seus projetos, não pelo conteúdo ou área mas sim pelos campos a que se destinam.

Para termo uma exemplo, destacamos dois títulos: “10 razões para o exportador

votar em Serra” e “10 razões para o agricultor votar em Serra”, que demonstram

um acoplamento simbólico na construção e estruturação do website e das

visibilidades dos projetos do candidato.

O foco do website na proposta de empregos era reforçada pela

importância deste conteúdo nos vários elementos da página inicial, que estarão

descritos e detalhados em capítulo na seqüência desta trabalho.

3.1.7 – Cruzamento entre estratégias políticas e a linguagem dos websites

Neste capítulo apresentamos algumas comparações gerais sobre os

conteúdos e recursos disponibilizados nos websites de cada candidato, conforme

nossos objetivos com o primeiro conjunto de análise.

Primeiramente é interessante observar a diversidade de conteúdos

presentes nestes espaços, que demonstram a ampliação dos discursos dos

candidatos. Da biografia aos Programas de Governo completos, passando por

elementos de interação com o campo midiático e apoiadores, os websites

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contemplaram uma ampla gama de elementos, aliados e integrados às estratégias

gerais de campanha.

Lula, que no HPEG mostrava as habilidades e competências dos

diferentes integrantes de sua – provável – equipe, no website abre espaço para sua

família e atores de diversos campos sociais, que analisam e investem sobre a

conjuntura nacional suportando as propostas e projetos do candidato para o cargo

em disputa.

Serra também busca atores de vários outros campos sociais,

principalmente o midiático, que através de depoimentos buscam validar e dar

suporte a sua candidatura. Ciro Gomes, ao contrário, busca validar a campanha

por si, ou seja, por sua biografia, atos e propostas numa forte e constante auto-

referência.

Garotinho, por sua vez, mostra construir sua campanha a partir de seus

discursos e propostas ao lado do PSB, mostrando uma simetria, mas não mescla,

entre partido e candidato que também pudemos notar nas campanhas de Zé Maria

e Rui Costa Pimenta, ambas fortemente ideologizadas.

Entretanto, Garotinho apresenta mais suas propostas e projetos, ou

seja, mostra elementos vinculados a sua posição de candidato, enquanto Zé Maria

e Rui Costa mostram-se mais vinculados as bandeiras, propostas e projetos de

seus partidos.

Serra utiliza várias linguagens – textos, fotos, animações, etc. – para

mostrar uma propostas, apresentando até mesmo certa redundância entre estes

elementos, enquanto os demais investem mais na apresentação textual, onde

observamos uma forte marca coloquial nas construções.

Lula não fala no website, ou seja, é apresentado em textos gerados

pela sua assessoria. Fortemente marcados pelos uso de coletivos em sua

construção, estes textos assemelhavam-se estruturalmente a Zé Maria, cujos

títulos ao mesmo tempo em que mostram uma forte marca coletiva em sua

construção – “Queremos cotas...”, etc. – também apresentam uma forte marca

ideológica e partidária. Rui Costa também mostra-se desta maneira, onde “Um

programa dos trabalhadores...” talvez seja o melhor exemplo da construção

apresentada.

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Serra, Ciro e Garotinho já apresentavam textos mais marcados pelo

uso da primeira pessoa, ou seja, mais vinculados ao candidato. O Programa de

Governo de Garotinho mostrava-se bastante propositivo e direto, usando de

expressões como “Vou fazer ...”, “Vou criar ...”, enquanto os demais programas

de governo, ao contrário, apresentavam as propostas de forma geral, aberta, mas

sempre vinculados a conjuntura e ao cenário social Brasileiro.

No tocante as formatações dos websites vemos que o PCO de Rui

Costa mostra uma falta de domínio do meio, que se manifestava pela falta de

continuidade na navegação pelas seções e nas diferentes formatações adotadas, o

que gerava desconforto e mesmo desorientação durante o processo de navegação e

contato.

Os demais websites, ao contrário, mostravam uma continuidade e

lógica na construção das diferentes páginas e seções, aproximando-se muito dos

formatos presentes em portais e websites comerciais.

O website de Serra utilizou mais amplamente das várias linguagens

suportadas pelo meio Internet. Áudio, vídeo, texto, imagens e animações foram

manipulados nas várias e diferentes seções, relacionando-se entre si não só através

do menu, mas também através de recursos de hipertexto, mostrando um

aproveitamento estratégico da tecnologia do meio na construção dos textos e

elementos do website.

Os demais candidatos não aproveitaram deste recurso, aparentemente

confiando mais na construção dos menus como forma de convite a interação.

Entretanto, cabe ressaltar a redundância observada entre algumas seções do

website de Lula, repetindo conteúdos e elementos entre as diversas páginas do

website.

Dos websites de Lula e Serra também cabe destacar a forte

intermidiatização observada, onde conteúdos e elementos das várias mídias eram

inseridas, apresentando ou reforçando diversos conteúdos e discursos dos

candidatos.

Ciro e Garotinho também usavam de materiais de outras mídias,

porém sem o mesmo destaque e espaço, e Zé Maria e Rui Costa pouco utilizaram,

mas quando apresentavam era sempre vinculado a suas propostas, bandeiras e

ideologias.

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Devemos destacar a forte vinculação entre a imagem de Lula e do PT

no website, uma marca que se mostra também com Rui Costa Pimenta e Zé Maria,

ao contrário dos demais candidatos. Garotinho dá espaço para o partido, mas a

formatação dos menus e a própria construção das propostas mostra, ao mesmo

tempo, uma simetria e uma separação ou desvinculação de ambos, enquanto que

Serra e Ciro dão pouco ou nenhum destaque aos partidos.

Zé Maria, por sua vez, mostra uma ênfase no partido, mesclando suas

falas às da vice Dayse, que recebe espaço para falar e apresentar propostas no

website principalmente no tocante a questões étnicas. O vice de Rui Costa

Pimenta ganhou espaço nas imagens e no website, mas o espaço de sua biografia e

suas ações mostra-o como elemento secundário da campanha.

Rita Camata, vide de Serra, é destacada em imagens ao lado do

candidato, mas recebe pouco ou nenhum destaque nos conteúdos além de sua

biografia e agenda de compromissos, aparentando ser uma alegoria da campanha.

Já o vice de Lula recebeu apenas uma página de biografia, e seus atos, propostas e

discursos foram pouco apresentados no website, enquanto que Garotinho sequer

cita o seu vice no website.

Vemos então que os websites suportam os mais diferentes e

diferenciados recursos técnicos e linguagens para suporte de discursos. Textos,

imagens estáticas, animações, áudio, vídeo e jogos interativos foram inseridos

como elementos de apresentação das biografias, propostas, projetos e ações dos

candidatos, cruzando as estratégias de visibilidade e construção discursiva destes

candidatos com a linguagem e suporte do meio.

Mas este processo era engendrado pela cenário da campanha eleitoral,

que se manifestava nas páginas iniciais dos websites. Sobre isto nos debruçaremos

nos capítulos a seguir, quando apresentaremos as análises do segundo conjunto,

onde buscamos compreender os elementos e processos que pautam e influem na

inserção e formatação dos conteúdos na páginas inicial dos websites.

3.2.Agendamentos e cruzamentos

Nos capítulos que seguem apresentamos a leitura e análise do segundo

conjunto, formado pelas páginas iniciais dos websites nas datas sorteadas.

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3.2.1. Lula 13: Marcas da publicidade e do discurso jornalístico

A página inicial do website de Lula evolui gradativamente.

Inicialmente uma reprodução ou adaptação das peças publicitárias da campanha,

focadas na imagem do candidato e nos demais elementos visuais, a página ganha

recursos aproximando-se de um formato mais jornalístico, informativo.

As ações e atos do candidato, seus apoiadores e parceiros, são

apresentados quase simultaneamente a sua execução, mostrando agilidade e

velocidade semelhantes a dos players de jornalismo no meio.

De políticos como Itamar Franco, ex-adversários como Delfim Neto a

intelectuais como Antonio Candido e familiares, como sua esposa Marisa Letícia,

nota-se atores oriundos de vários campos. Estes demonstram, através de

entrevistas onde comentam e debatem as questões nacionais, seu apoio a Lula,

porém eram sempre apresentados em banners secundários do website.

Inicialmente, na fase de pré-observação, a página inicial do website

constituia-se de um banner principal e quatro secundários. O banner principal

ocupava a maior parte da tela reproduzindo um outdoor de campanha com a foto

do candidato fundeada por uma imagem da bandeira estilizada ao lado de frase

“Quero um Brasil decente” (ilustração 3.52).

Nota-se que o website usa de uma linguagem e formatação

publicitárias para tematizar a campanha e expor suas propostas e projetos.

Devemos destacar a construção da frase, “Quero um Brasil decente”, que mostra

que o país precisa de rumo, de ação e, claro, de Lula para tornar-se um lugar

digno, “decente”.

Nas datas sorteadas a imagem é substituída freqüentemente por outras,

sempre num sentido leve e quase lúdico: um menino abraça a estrela do PT como

se abraçasse seu urso de pelúcia ao lado do texto “Agora é Lula” (ver ilustração

3.56). Um adolescente negro - menos observado nas datas sorteadas - sorri e

abraça a estrela como um escudo de proteção, e ao seu lado lê-se “Brasil sem

racismo”.

Interessante observar que a frase “Agora é Lula” foi usada pelo

partido no segundo turno da eleição de 1989 como forma de convocar o voto das

esquerdas em Lula. Neste momento, entretanto, ela foi inserida num contexto

lúdico, onde ao lado de uma criança que parece sonhar com o PT no governo.

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Nota-se que o banner apela ao lúdico e recorda de um mote antigo para reforçar o

momento da campanha e a oportunidade de colocar Lula como governante do

Brasil.

O último modelo de banner observado apresentava um agricultor

usando um chapéu. Seu rosto estava bem iluminado pelo sol, e ele mostrava sua

produção quase fora de quadro ao lado da frase “Vida digna no campo”, imagem

que tematiza a campanha e apresenta as propostas e objetivos do candidato de

forma bastante clara e direta.

Ilustração 3.52 - página inicial em 10 de agosto de 2002

Quando faltavam dez dias para o início do HPEG (ilustração 3.52) o

banner principal foi reduzido para inserir, ao lado, um outro menor, porém não

secundário, com chamada para a entrevista da esposa do candidato, Marisa Letícia

Lula da Silva, tematizando o website e a imagem de Lula a sua família.

Efetuada por Cláudio Cerri, citado como “o repórter da campanha

Lula presidente”, Marisa fala de sua vida com o candidato, de sua atuação ao lado

do político e como encara a vida pública.

Bastante pessoal e intimista, ilustrada por foto da primeira bandeira do

PT - que ela mesma costurou - o conteúdo abriu espaço para a vida de Marisa

desde a infância, passando pelo primeiro casamento, pelo namoro com o

candidato, o surgimento do PT e os filhos do casal, misturada com fatos e

processos políticos como a prisão de Lula em 1980 e a relação com Fernando

Henrique Cardoso.

Nota-se uma estratégia específica de valorizar a vida privada do

candidato e sua relação com a família, mostrando o impacto de sua história

política e suas ações naqueles que o acompanhavam, também passando uma idéia

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de simplicidade e união do casal, que enfrenta a política e a repressão de mãos

dadas.

Entretanto, é interessante observar que Marisa acaba situada na

posição de sustentáculo da família, e que em nenhum momento é feita referência à

campanha de 1989, quando Lula foi acusado por Collor de ter tentado obrigar uma

amante a encerrar uma gravidez com um aborto, fato que gerou grande polêmica

naquela campanha, ou mesmo aos pleitos de 1984 e 1988 quando o candidato foi

derrotado nas urnas.

Posteriormente esta entrevista é deslocada para os banners

secundários e é substituída por outras personalidades como Antonio Candido,

critico literário e intelectual, o ex-Presidente Itamar Franco, José Luiz Fiori,

professor de economia política da UFRJ, a filósofa Olgária Matos, a ex-

apresentadora Soninha, dentre vários outros.

Estas entrevistas contemplavam uma variedade de atores dos mais

diversos campos. De intelectuais a políticos passando por atores da mídia, que

através de entrevistas e opiniões ancoram, suportam, destacam e dão legitimidade

à candidatura Lula, se não declarando seu voto mas no mínimo discutindo

assuntos referentes à campanha e ao cenário nacional. Para exemplificar e

aprofundar o que afirmamos destacamos as entrevistas de Fábio Wanderley Reis,

Soninha e Itamar Franco.

Analista político e professor emérito da Universidade Federal de

Minas Gerais, em entrevista à revista Época3 Fábio Wanderley Reis cita que Lula

não é um candidato consistente e duvida de sua capacidade de governar o país,

mas no website a entrevista é intitulada “Lula pode representar uma liderança

inspiradora”.

Sem negar suas criticas ao PT e ao candidato, Fábio é citado como

critico veemente de FHC e relevado em seus artigos e produções intelectuais. A

entrevista versa sobre várias questões em pauta no pleito como a força do

mercado e a dependência externa do país, bem como o modelo econômico

adotado nos oito anos da gestão que se encerrava.

3 Revista Época nº 226, 19 de setembro de 2002, p.21. Cabe dizer que, em contato com o prof. Fábio através de e-mail, este manifestou discordância com a forma com que a entrevista foi apresentada pela revista Época, afirmando ter remetido carta à redação manifestando tal posição.

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Mostra-se uma estratégia específica não somente na condução do

assunto mas também – se não principalmente – na escolha do entrevistado, que é

sutilmente cobrado em suas críticas ao PT e até mesmo forçado a direcionar seu

foco a outros lados e atores envolvidos na campanha, demonstrando a força da

pauta estabelecida pela assessoria.

Ex-apresentadora da MTV e apresentadora demitida da TV Cultura

por ter declarado abertamente que havia consumido drogas, Soninha falava sobre

a situação sócio-política-econômica atual e como isto se reflete no comportamento

dos jovens, público-alvo dos programas que apresentava na MTV e na TV

Cultura.

Mãe de três filhos, um pré-adolescente, Soninha fala que considera “o

apelo ao consumo a principal droga que vicia a juventude”, elemento que intitula

a entrevista, onde também é comentada uma certa letargia na juventude e um

cenário social que se agrava a cada dia, fonte e possível causa da vinculação e

aliciamento dos jovens para as drogas e o consumo.

Já Itamar Franco, político, ex-Presidente e ex-adversário político, diz

que estará com Lula no comício final da campanha. Citado como “aliado de

primeira hora de Lula”, Itamar centra fogo no seu ex-Ministro e então Presidente

FHC.

Discutindo e demonstrando os problemas e efeitos das decisões da

gestão FHC sobre o Estado que governava, Minas Gerais, ressaltando que Lula

devia buscar colocar o país no rumo do crescimento econômico, pauta presente e

constante na campanha.

Estranhamente estas entrevistas não são incluídas ou recebem

destaque na seção de notícias, ficando misturadas a outros conteúdos da seção

“Repórter de Campanha”. Por outro lado ganham força ao serem apresentadas nos

banners secundários da página inicial e tratadas como notícias e elementos gerais.

Nota-se que um ator do campo acadêmico, um ator do campo

midiático e um ator do campo político somam-se, discutindo questões e elementos

da campanha, ancorando e dando sustentação ao candidato e suas propostas.

Somando a estas a entrevista de Marisa Letícia vemos que o website

mescla vários campos e angula vários temas nestas entrevistas, buscando construir

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a imagem e visibilidade do candidato apoiando-se ou aliando-se a vários campos

sociais.

Observamos também nas entrevistas críticas diretas e mesmo frontais

à administração da época, que não se faziam tão presentes no website em geral.

Isto nos permite concluir que Lula prefere criticar FHC através das entrevistas de

apoiadores, ou seja, os atores oriundos de diversos campos, que expõem seu apoio

ao candidato comentando o cenário da campanha e a realidade Brasileira.

Desta forma o website de Lula provoca o debate sobre estes temas e

fatores, mas não envolve o candidato diretamente, mantendo-o alheio a polêmicas

ou ataques diretos como forma de reforçar e construir sua imagem mais “light” ou

menos radical.

Ilustração 3.53 - página inicial às 12:30 horas de 20/08/2002

No dia do início do HPEG o banner principal passa a inserir imagens

convidando os usuários a dar sua opinião sobre o programa, como divulgado em

vinheta no final do programa na TV. Nesta banner Lula é apresentado numa tela

de um aparelho de televisão, tendo ao fundo a estilização da bandeira Brasileira

usada na campanha (ilustração 3.53).

A imagem mostra, em si, uma intermidiatização, pois o candidato

convida, da televisão, o usuário a manifestar sua opinião no website, reforçando

assim o convite efetuado no HPEG. Da mesma forma vemos que Lula não fala

diretamente através do website, mas é sempre apresentado em algum elemento

externo a este.

A pesquisa solicitava a opinião dos usuários quanto ao conteúdo,

formato e propostas apresentadas no programa, sendo inseridas durante o horário

de veiculação do programa e ficando disponíveis por cerca de duas horas após o

término do mesmo.

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Configuradas como um questionário fechado, estas pesquisas mostram

uma sinergia entre o HPEG e o website, que neste momento da campanha passam

a remeter-se e apoiar-se um no outro maximizando as possibilidades de efeitos e

validando – ou não – as estratégias utilizadas em cada meio.

Além dos horários de inserção acompanharem o programa na TV, esta

pesquisa fornecia dados, informações e opiniões sobre o mesmo, permitindo até

mesmo alterações ou correções de rumos4.

Claro, pode-se suspeitar do uso desta enquete como instrumento para

atrair usuários para o website e gerar tráfego para as demais seções do mesmo,

impressão reforçada pelo fato de estas pesquisas deixarem de ser apresentadas

cerca de duas semanas após o início do HPEG, mas sua inserção inaugura uma

nova instância de relação entre o campo político e os receptores do HPEG.

Ilustração 3.54 - página inicial em 12/09/2002

No dia 12 de setembro, quando as enquetes não mais eram inseridas o

banner principal apresenta chamada para entrevista on-line do presidente do PT

José Dirceu (ilustração 3.54). Esta entrevista foi concedida com áudio e vídeo em

tempo real, transmitida em uma área do website fechada a imprensa, mostrando o

website como suporte a uma prática de interações entre campos.

Mediados por André Singer jornalistas de 150 veículos que não

tinham condições de acompanhar a campanha, atuantes em 62 cidades com mais

de 200 mil eleitores, puderam interagir, enviar perguntas e debater com o então

presidente do PT e principal articulador da campanha.

Mostra-se uma estratégia de uso do website como instrumento de

aproximação, interação e busca de visibilidade midiática, facilitando o contato dos

4 Ressaltamos que solicitamos, tanto através do website como diretamente a assessoria de imprensa do PT, dados sobre estas enquetes, não obtendo resposta.

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atores do campo midiático com a campanha e, assim, abrindo espaços na diversas

mídias em locais com relevância estratégica para a candidatura.

Devemos ressaltar a construção visual do banner desta entrevista

(ilustração 3.54), pois nele José Dirceu parece sair da tela, projetar-se além da

televisão e do próprio website, diferentemente da apresentação do candidato Lula

no banner da pesquisa.

Por uma lado podemos inferir uma leitura de projeção do presidente

do partido sobre o website e sobre as mídias envolvidas na campanha. Por outro,

esta imagem reforça a busca de espaço na mídia através de tal entrevista, na

medida em que o político “sai”da tela para se colocar em outros espaços.

Na fase mais próxima ao dia da votação no primeiro turno Lula volta a

aparecer no banner principal segurando a estrela do PT, fundeado pela imagem da

bandeira estilizada e ladeado por uma animação da urna eletrônica onde os

números 1 e 3 são acionados, respectivamente, formando o 13 do candidato, que

também aparece dentro da estrela vermelha no canto inferior direito da imagem

animada.

Dois dias antes do início do HPEG observamos que na área então

ocupada pela chamada para a entrevista de Marisa Letícia surge a barra de

“Últimas Notícias”. Apresentando os fragmentos de campanha, os fatos e notícias

mais recentes da campanha.

Nesta área a assessoria do candidato mostra sua força, apresentando a

campanha através da cobertura de fatos e ações do candidato de forma bastante

semelhante as estratégias de edição e acompanhamento dos players de mídia no

meio e mesmo a outros meios como o rádio.

A seção de notícias acompanhava estas atualizações, sempre inserindo

e editando fragmentos e atos de campanha configurando-se como um espaço de

difusão semelhante as ações do campo midiático, porém, obviamente, editadas

pela assessoria do candidato e suas estratégias.

Pelos créditos das fotos e textos destes fragmentos - quando citados -

notamos que o website privilegiou materiais gerados pela assessoria de campanha

do candidato, mas também havia uma forte presença de conteúdo de outros meios

e veículos de comunicação, sempre editados pela mesma assessoria.

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A Política nos espaços digitais

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Foi ofertada também uma área denominada “Imprensa”, que

acompanhava e informava sobre as inserções e espaços dedicados aos vários

candidatos e partidos nas diferentes mídias através de gráficos e análises, o que

demonstra não só uma intermidiatização mas também o uso do espaço como

forma de monitoramento e tensionamento da mídia na questão eleitoral.

Abaixo da barra dos fragmentos havia um link denominado “Diálogo

com a imprensa”, em que eram inseridas notas, informações e análise sobres as

ações do campo midiático nas eleições focando-se principalmente no espaço e

cobertura dedicados à candidatura Lula, criando dentro do website um novo

gênero de relação e acompanhamento e mesmo propagação do discurso

jornalístico, repetindo ou aprofundando o anterior.

Através de gráficos e relatórios bastante específicos esta seção

apresentava a cobertura da mídia, apontando falhas e denunciando desequilíbrios

na cobertura, tendo por base o tratamento dado a Lula e aos demais candidatos

nos diversos veículos. Estranhamente estes relatórios nunca estavam creditados,

ou seja, não apresentavam seus produtores, o que facilita a identificação dos

mesmos com a campanha e o candidato, mostrando-se como uma área de controle

e conflito com o campo midiático através do website.

Nota-se a valorização da campanha e dos atos do candidato, que

ocupam espaço privilegiado e ganham destaque pela velocidade da cobertura,

além do estabelecimento de novas instâncias de conflito com o campo midiático,

na medida em que as estratégias de atualização e inserção de notícias são muito

semelhantes às estratégias de players de mídia do meio.

Devemos lembrar que estas atualizações e inserções eram efetuadas

pela assessoria do candidato, pelos repórteres e assessores de campanha,

tornando-se um espaço jornalístico próprio que expande as estratégias discursivas

do candidato e tangencia as estratégias, limitações e mesmo agendas da mídia

frente à cobertura e ao candidato.

Já abaixo da imagem principal e da barra de notícias estavam

inseridos os banners secundários, destacando e gerando link direto para as páginas

internas como “urna eletrônica”. Esta conduzia a uma página com instruções

sobre como votar, “Carta ao povo Brasileiro”, primeiro texto da seção com o

Programa de Governo, “Conheça a vida de Lula em detalhes”, que remetia o

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usuário à página sobre "A vida de Lula” e “Últimas Notícias”, que leva para a

página de ”Notícias“.

No início do HPEG estes banners passam a ser utilizados para

divulgar as entrevistas com pessoas de várias áreas. Primeiramente a entrevista de

Marisa Letícia ocupa tal espaço, sendo posteriormente substituída pela entrevista

com personalidades.

Mas estas não permanecem fixas, sendo alteradas freqüentemente e

substituídas por outros conteúdos, onde o telefone “0800” da campanha era

presença constante, remetendo a um elemento externo de campanha.

Abaixo destes eram imagens de produtos como CD´s, bonés e

acessórios à venda na lojinha do PT, que se configuram como banners apesar de

visualmente estarem configurados de forma diferenciada dos demais além de

serem fixos em sua inserção e posição hierárquica.

Ilustração 3.55 - página inicial em 26/09/2002

A constante presença do candidato e as imagens publicitárias da

campanha reforçam a idéia de foco na divulgação da campanha, mas as chamadas

para a enquete e para a entrevista de José Dirceu mostram uma estratégia de

integração através do website, pois vários campos são convocados a se fazer

presentes, interagir e opinar neste espaço.

Claro que, como já observamos, não se trata de um processo aberto,

mas que passou pela seleção e pelo foco estratégico da campanha em geral, mas

apresenta sinais de novas estratégias e efeitos de relação entre campos que o meio

pode proporcionar.

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Ilustração 3.56 - página inicial com banner pop-up (23 de agosto de 2002)

No tocante aos pop-up´s o website de Lula utiliza apenas em algumas

datas, sem um freqüência fixa ou definida, mas com três estratégias bem

definidas: remetendo à “lojinha do PT” (ilustração 3.56) , à “doações de

campanha”, sendo ilustrado pela imagem do galão de combustível, ou à pesquisa

sobre o HPEG, utilizando a mesma imagem que ocupava a área principal, porém

reduzida.

No dia da votação o website mantém suas características. O banner

principal segue com a imagem do candidato junto a animação da urna eletrônica.

A barra de últimas notícias acompanha o candidato, o Vice e suas declarações,

mas Lula e as pesquisas recebem mais atenção.

Os banners inferiores foco total no pleito, remetendo desde aos

candidatos nos Estados, ao Programa de Governo do PT, às entrevistas realizadas

– onde notamos que Fábio Wanderley Reis não é citado – e à última entrevista

inserida, realizada com a escritora Lygia Fagundes Telles.

Mulher reconhecida no campo literário e acadêmico, sua foto ladeava

o título “Por que Lula?”, (ilustração 3.57). Esta pergunta traz, em si, uma espécie

de chamamento, de convocação ao usuário que, somada à animação da urna

eletrônica, apresenta uma estratégia de sedução e conquista dos votos de eleitores

indecisos.

Não podemos deixar de inferir a presença de uma mulher neste

momento, que parece contrapor e equilibrar a presença de Rita Camata na chapa

do adversário José Serra, e da própria inserção da pergunta “Por que Lula?”

abaixo da imagem do candidato e da urna eletrônica, que busca esclarecer as

últimas dúvidas dos eleitores antes de efetivar o voto no candidato.

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Ilustração 3.57 - página inicial em 06/10/2002

No espaço abaixo destes banners a lojinha do PT permanece, mas

surgem links para instruções sobre a fiscalização e convite para acompanhar os

resultados das eleições através do website.

Encerrada a votação, em horário condizente com as regras impostas

pela lei eleitoral e muito próximo à cobertura das diversas mídias, é inserida a

imagem de uma mulher vestida de branco – mesma cor usada pelo candidato e sua

esposa para votar – segurando a estrela do partido (ilustração 3.58).

Ao lado, abaixo de uma pequena imagem da urna eletrônica, foram

inseridos os resultados da apuração minuto a minuto, informando os candidatos,

número absoluto de votos e percentual de votos válidos obtidos pelos mesmos.

Ilustração 3.58 - página inicial as 18 horas do dia da votação

Os banners inferiores chamam para os resultados das pesquisas de

boca-de-urna e as apurações nos estados. Ao lado o item “Rádio 13” transmitia

boletins diretos do TSE e da imagem do Programa de Governo. Abaixo segue a

divulgação da loja e banner sobre a fiscalização, mas convite para

acompanhamento da contagem vira link para a seção “eleitor de carteirinha”.

Nota-se uma forte influência do campo jurídico sobre as operações do

website, que se conforma aos horários e prazos estipulados pelas regras e

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Resoluções do TSE, e uma influência da campo midiático, que é mimetizado

através de uma edição jornalística com alta velocidade e agilidade.

De forma geral podemos observar que o website de Lula se constrói,

em termos de conteúdos, a partir e dentro das estratégias do candidato e seus

assessores, mas sua(s) forma(s) e processos são construídos de forma bastante

semelhante aos players de mídia do meio.

Lembramos assim de Luhmann (2000) e vemos que o website repete

um jogo e auto e heteroreferência da política com a mídia na construção das

visibilidades do candidato, na medida em que repete estratégias em outro meios e

valoriza apoios e discursos de outros campos sempre ao redor e em torno do

candidato e suas propostas.

Já o usuário contava com um espaço diferenciado da mídia para

informar-se sobre o candidato, suas propostas e ações, e tem sua participação

facilitada integrando-se através da utilização das diversas ofertas de conteúdos

inseridas.

Entretanto, a notada ausência de retornos das mensagens eletrônicas

enviadas causa desconforto na medida em que demonstra um certo afastamento

entre o candidato e o eleitor.

Finalizando, notamos no website vários gêneros, linguagens e

estratégias em cruzamento, desde a captação de recursos na “lojinha do PT” até a

apresentação e oferta para download de conteúdos específicos como o Programa

de Governo. Recordamos do acompanhamento da mídia, bem como que vários

conteúdos ganham força e destaque na página inicial, que promove saltos dos

conteúdos nos menus.

Assim o website amplia as estratégias e táticas do candidato e seus

apoiadores, suportando diversas práticas estratégicas que buscam não só construir

a imagem e visibilidade do candidato mas também, e num cruzamento entre

ambos, atender as demandas e necessidades dos usuários.

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3.2.2. – Zé Maria 16: retorno ao discurso político dos anos 70

A página inicial do hotsite de eleições do PSTU dividia-se em três

áreas principais (ilustração 3.59). Na barra superior, que ocupava cerca de trinta

porcento da área total do hotsite, dois banners ladeavam o menu de navegação.

No lado direito sobre um fundo vermelho a silhueta de um grupo de

pessoas empunhando e agitando uma bandeira, ilustrava o logotipo do PSTU ao

lado do número 16. O texto “Eleições 2002” no centro, mostrando a eleição e o

partido como um elemento de aglomeração e aglutinamento popular.

Ilustração 3.59 – página inicial do hotsite em 06/10/2002

No outro lado estava inserida a foto do candidato Zé Maria, ladeado

pelo slogan da campanha, “Não pagar a dívida externa, fora a ALCA e o FMI”

acima do nome do candidato. Ai notamos que a Vice Dayse recebe alta

visibilidade, não só pelo tamanho do texto, mas também por estar em cor branca,

que se destaca do fundo vermelho e das letras amarelas dos demais elementos.

Esta barra se mostrava como um banner publicitário, além de ser

bastante vinculado à logotipia e à identidade do partido, onde o uso do vermelho,

cor identificada com os movimentos e ideologias de esquerda, se faz

predominante.

Abaixo do logotipo do PSTU e ao lado da área de conteúdos um mapa

do Brasil contendo também a fotografia do candidato e o logotipo do PSTU. Este

mapa visualmente aparentava ser um banner, mas configurava-se como um menu

secundário que ficava presente em todas as páginas e seções do hotsite.

Devemos destacar a construção visual deste mapa (ilustrações 3.59 e

3.60), onde o Brasil e suas unidades federativas são apresentados em vermelho,

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como se fossem um território ou mesmo elementos aliados a ideologia e preceitos

do partido.

Ao lado da foto espelhada de Zé Maria, e também em cor vermelha, o

mapa apresentava os Estados delimitados por linhas amarelas. Utilizando

tecnologia Macromedia Flash para construir um efeito que mudava a cor do

estado com a passagem do mouse sobre a ilustração, destacando a mesma com cor

amarela e apresentando a sigla do Estado (ilustração 3.60).

Ilustração 3.60 – página do hotsite com a candidatura no Rio Grande do Sul

Ao clicar sobre o Estado destacado ocorria uma mudança na página. A

foto de Zé Maria na barra superior era substituída pela foto no candidato no

Estado (ilustrações 3.60), assim com o nome ao lado, mas os candidatos a Vice

não recebiam destaque.

Os conteúdos da página inicial também mudavam, apresentando

elementos referentes à esta candidatura, e no menu, o item “Fala Zé Maria” era

substituído por “Candidatos [Uf]”, sendo que os demais links acompanhavam esta

mudança, apresentando as biografias, agendas e programas específicos nos

Estados.

Algumas páginas, como a do candidato de Minas Gerais (ilustração

3.61) apresentavam amplo conteúdo, discursos e elementos, assemelhando-se à

página inicial de Zé Maria. Outras, como a de Júlio Flores, do Rio Grande do Sul

(ilustração 3.60), apresentavam apenas a biografia do candidato a governador e

Vice, mas é importante observar que todos os candidatos usavam, ao lado da foto,

o slogan contra a dívida externa, a ALCA e o FMI.

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Ilustração 3.61 – página do candidato em Minas Gerais

Observa-se uma variação nestes conteúdos uma decorrência direta das

campanhas dos candidatos, assessorias e mesmo mobilização nos Estados, além

de uma forte coesão e mesmo sinergia entre a campanha em nível nacional e as

campanhas nos Estados, que ocupam um mesmo espaço, ofertando tipos

semelhantes de conteúdos e discursos e, assim, propagando a ideologia e o

programa do PSTU em nível nacional.

Na área ao lado do mapa e abaixo da barra, inseriam-se os fragmentos

de campanha, organizados em duas barras, sendo a da esquerda, de leitura

privilegiada, mais larga. Diretamente abaixo da barra superior, na área de primeira

leitura, havia uma manchete em letras pretas onde, nas datas sorteadas

observamos apenas dois conteúdos.

O primeiro e predominante foi “Programa do PSTU para as eleições”,

que gerava download do arquivo com o programa completo, e chamada para

entrevista do candidato Zé Maria no jornal “Opinião Socialista”, veículo do

PSTU.

Nesta entrevista, cuja chamada destacava “Voto útil é voto contra a

ALCA” (ilustração 3.62), Zé Maria fala sobre as propostas e projetos do PSTU,

ressaltando a necessidade de o governante romper com os modelos econômicos

em uso, principalmente com o Fundo Monetário Internacional e a ALCA, sendo

assim um elemento de reforço e redundância do slogan e principal do partido no

processo eleitoral.

Ilustração 3.62 – página inicial do hotsite de Zé Maria em 30/08/2002

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Uma fina linha vermelha separava esta manchete da área abaixo, onde

Zé Maria e Dayse se revezavam. “Fala Zé Maria” era a chamada que repetia o

primeiro item do menu de navegação, onde ao mesmo tempo Zé Maria mostra que

tem o que dizer, mas parece ter no hotsite o seu único espaço de manifestação.

Nas datas sorteadas, notamos apenas uma inserção de Dayse,

intitulada “TSE, Serra, Ciro e Paulinho: histórias de desmandos, discriminações e

preconceitos”. Neste texto, que internamente foi inserido na seção “Fala Zé

Maria” - apesar de na página inicial ser apresentada como “Fala Dayse” - a

candidata questionava a isenção do TSE no pleito, por ter negado direito de

resposta ao PSTU no programa de José Serra que apresentou Rita Camata como a

única candidata no pleito.

Ressaltando que o PSTU havia apresentado a chapa completa já no

primeiro programa do HPEG, Dayse contra-argumentava a posição do ministro do

TSE, Caputo Barros, que colocava a culpa da confusão no próprio partido,

questionando a isenção do mesmo frente ao pleito e lembrando da derrota do

PSTU na reclamatória quanto à participação dos debates e entrevistas na Rede

Globo.

Além disso, Dayse acusava Ciro de discriminação e apresentava

suspeitas quanto ao candidato a Vice na chapa de Ciro, Paulinho, por seu

envolvimento em suspeitas de corrupção e propinas, “abrindo fogo” contra vários

atores envolvidos no pleito, tanto os demais candidato quanto a instituição

jurídica.

Nas demais edições analisadas Zé Maria aparece absoluto, sempre

com a marca doutrinária e ideológica. “Queremos cotas e muito mais!” é o título

de matéria onde Zé Maria ataca Ciro, acusando-o de racismo e segregação por ser

contra as cotas para negros nas universidades.

Em outra, “Um programa para os trabalhadores”, Zé Maria ataca o PT

no website, repetindo cobranças que colocava no HPEG através de seu programa e

suas propostas, apresentando críticas implícitas aos demais candidatos. Cabe

destacar que estas são as duas únicas matérias apresentadas em todas a datas de

análise.

Neste ponto devemos lembrar que Zé Maria foi preso junto com Lula

em 1980, com quem dividiu a cela, além de ser parceiro do movimento sindical e

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mesmo ex-membro do PT, o que daria a ele status e elementos para se posicionar

e cobrar posições de Lula.

Entretanto Zé Maria não constrói ou apresenta tais credenciais, o que

somado às fortes criticas dirigidas a Serra e Ciro nos permite colocar que o

mesmo poupar o antigo aliado, preferindo pautar questões de fundo da sociedade

a prejudicar a construção da imagem “light” de Lula.

Ilustração 3.63 – página inicial do hotsite em 06/10/2002

Abaixo, uma linha curva demarcava a área da “Agenda”. Com letras

em vermelho sobre uma barra amarela, esta área apresentava notas como “Entre

na campanha contra a ALCA” (ilustração 3.63), votação promovida pelo partido

em associação com sindicatos e entidades civis, e “O dia-a-dia da campanha” que

redundavam elementos do item de mesmo nome do menu superior.

A coluna da esquerda apresentava, no topo, o item “Informativo”,

onde um texto convidava o usuário a cadastrar-se e receber o boletim do PSTU.

Ao clicar no botão “OK” era carregado o formulário de cadastramento do item

“Entre na campanha”.

Abaixo o item “Notícias” apresentava pequenas notas que, ao

clicadas, levavam para o conteúdo completo na seção “Notícias”, repetindo

conteúdos das diversas seções e páginas.

Ao lado destas notas havia a data de inserção das mesmas. Notamos

intervalos de três a cinco dias entre as inserções, o que somado aos demais

elementos demonstra a baixa freqüência de atualização do hotsite e a estratégia de

propagação ideológica através da repetição dos elementos na página inicial e no

menu de navegação.

Chegado o dia da votação o hotsite apresentava-se sem mudanças. As

barras superior e lateral apresentavam os mesmo conteúdos anteriores. O “Voto

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útil contra a ALCA” e “Fala Zé Maria” ocupavam a área de maior leitura e

visibilidade na página inicial, onde o mote da campanha de Zé Maria busca não só

reforçar sua posição, mas também conquistar votos reforçando sua identidade

política no “voto contra a ALCA”.

Ilustração 3.64 - Página inicial em 14/10/2003

Passada a eleição a manchete principal destacava o apoio do PSTU a

Lula (ilustração 3.64). “PSTU chama voto em Lula, mas alerta: não haverá

mudança sem ruptura com a ALCA e o FMI”, apresentando uma dupla questão

onde a campanha se desdobra, pois ao mesmo tempo em que o partido declara seu

apoio a Lula destaca as diferenças ideológicas e programáticas com o candidato,

mais uma vez propagando sua agendas, propostas e bandeira no pleito.

Tendo estes elementos em vista podemos dizer que o hotsite se

configura como um elemento de campanha partidária dentro do cenário das

eleições, onde as questões ideológicas e doutrinárias do PSTU têm destaque e

permeiam todas as ações, buscando assim pautar o debate de questões de fundo da

sociedade Brasileira no cenário do pleito.

O candidato à Presidência e presidente do PTU, Zé Maria de Almeida,

recebe destaque ao ser o primeiro apresentado no hotsite numa forte e permanente

auto-referência tanto ao candidato quanto ao partido.

A presença do mapa do Brasil, ofertando acesso a conteúdos das

candidaturas estaduais, cujos candidatos passam a ocupar o espaço de Zé Maria,

somada ao destaque à questão da ALCA e do FMI, coloca o hotsite como uma

peça de campanha do partido, suas doutrinas e agendas, não do candidato, que se

mostra na posição de porta-voz, de rosto e imagem do partido, quase como um

garoto-propaganda.

Não podemos deixar de comentar a ausência de um link para contato

no hotsite, seja através de e-mail ou formulário, e o cadastramento do boletim do

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partido, com extenso conteúdo enviado diariamente. Observamos ai que o PSTU

usa o hotsite como forma de propagação ideológica e partidária, mas não busca

estabelecer relação direta com os eleitores.

Entretanto, a divulgação do e-mail no HPEG mostra-se contrária a

esta visão, mostrando que os contatos deveriam ser estabelecidos através do

website do partido. Da mesma forma devemos destacar a presença e espaço

dedicados a candidata a Vice, Dayse Oliveira, que se coloca ao lado e como

parceira de Zé Maria.

Assim o hotsite, usando e cruzando linguagens e elementos

publicitários com estratégias e marcas do discurso jornalístico na construção e

apresentação dos diversos conteúdos, parece falar, se dirigir aos seus filiados,

apoiadores e aos adversários de campanha, buscando através desta

heterorreferencia politizar, ideologizar a campanha eleitoral através de seu porta-

voz Zé Maria e de sua parceira Dayse.

3.2.3. Ciro 23: discurso associando à mudança com segurança

Já na fase de pré-observação a página inicial do website de Ciro

Gomes mostra-se como um misto de publicidade, nos formatos e estruturas, e

jornalismo, através da inserção de fragmentos de campanha.

A barra superior configurava-se como um banner, onde a foto do

candidato ocupava o primeiro ponto de leitura à esquerda. Ao lado uma área com

cor sólida onde textos, propostas e realizações de Ciro eram apresentadas e se

revezavam através de um efeito de fade (ilustração 3.65).

Ilustração 3.65 – página inicial em 24/07/2002 (pré-observação)

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Na mudança realizada próximo ao HPEG este banner passa a

acompanhar a programação visual da campanha. A foto passa a ser a oficial de

campanha, ocupando mais espaço e em plano mais fechado, destacando o rosto do

candidato.

Ao lado foi inserido o logotipo oficial, onde o “O” de Ciro estilizava o

centro da bandeira do Brasil ao lado do número 23. As propostas e realizações de

Ciro seguem sendo apresentadas ao lado, mas o fundo passa a ser azul claro e o

texto azul marinho.

Dois outros banners foram adicionados abaixo da barra do menu. O

primeiro usava uma imagem de um pedaço da bandeira do Brasil em movimento

para tratar das “Doações de Campanha”, dando um tom nacionalista ao

financiamento da campanha e permitindo uma leitura de que, ao doar para a

campanha de Ciro o usuário estaria ajudando o Brasil como um todo.

Este link conduzia à mesma página acessada pelo link “Doações”

presente no menu, que assim recebe destaque, mesmo estando situada num ponto

de leitura pouco privilegiado, no canto inferior esquerdo (ilustração 3.66).

Ilustração 3.66 – página inicial de Ciro em 21/08/2002

Abaixo deste, um banner de mesmo tamanho, em fundo azul, continha

o logotipo da campanha “Ciro23” e o texto “Entre na Campanha” em cor branca.

A palavra campanha recebia destaque por estar em maior tamanho que o logotipo.

Da mesma forma que o anterior, este banner conduzia à página “Entre na

Campanha” presente no menu, reforçando este conteúdo.

Dois outros banners eram inseridos na área denominada “Sala de

Imprensa”. O primeiro continha uma imagem da bandeira do Brasil, em plano

mais aberto, e conduzia ao Programa de Governo de Ciro.

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Ao lado deste, três balões coloridos, semelhantes aos usados nas

histórias em quadrinhos para inserir e identificar as falas dos personagens permitia

acesso aos “grupos de discussão”, reforçando o papel de fala e troca deste espaço.

Em trinta de agosto notamos que este banner foi substituído pela

imagem de um microfone antigo acompanhado do texto “Rádio Ciro23”

(ilustração 3.67), formada pela palavra rádio em vermelho somada ao logotipo da

campanha.

Este banner conduzia à página com programas de rádio do HPEG e

entrevistas de Ciro nas principais emissoras, permitindo rápido acesso à área do

menu. Interpretamos esta mudança como uma forma de propagação da campanha

e também como elemento de contato e busca de espaço no campo midiático, visão

reforçada por estar posicionada na área de imprensa da página inicial.

Ilustração 3.67 - página inicial em 30/08/2002

Os banners pop-up foram observados em cinco momentos diferentes,

mas sempre com a mesma função. Em seis de setembro um pop-up em fundo

vermelho (ilustração 3.68) perguntava “Você sabe em qual dia da semana caiu o

primeiro de abril?”.

Ao clicada esta pergunta carregava uma imagem em fundo azul

(figura3.69) com um homem com o nariz esticado, semelhante ao personagem da

fábula infantil Pinóquio, ao lado do texto “Nesta ano o 1o de abril dia da mentira

caiu em um segunda feira”, num ataque claro e direto a José Serra e sua principal

proposta, o “Projeto Segunda-feira”.

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Ilustrações 3.68 e 3.69 - pop-ups em 06/09/2002

Os ataques a Serra se repetem, de diferentes formas, nas demais datas,

tanto provocando o usuário a testar sua memória com os compromissos de FHC e

os erros de Serra, quanto usando de discursos de Serra que manifestavam apoio a

Ciro como forma de construção da imagem deste, mesclando a tecnologia do meio

Internet com o discurso claramente político.

A exceção a isto notamos em dezoito de setembro, quando um grande

pop-up em fundo azul ocupa grande parte da tela com o título “Mudança com

segurança” (ilustração 3.70). Em um texto bastante direto, construído com frases e

parágrafos curtos, Ciro ataca Serra afirmando que sua candidatura não traria

mudanças ao país.

Abaixo comparava a seriedade e honestidade de Lula colocando-se ao

lado deste como opção viável, mas a seguir mostrava-se como o único “sério,

experiente, trabalhador e bem intencionado”. Mais abaixo assinava em destaque

“Ciro Gomes a mudança com segurança. O resto é briga de marqueteiro”.

Ilustração 3.70 – página inicial com pop-up em 18/09/2002

O website, através do pop-up, vira espaço e lugar de fala do candidato

e seus ataques aos adversários, onde até mesmo os assessores dos candidatos são

atacados em seus papéis e ações.

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Primeiramente cabe comentar o tom forte e agressivo usado contra

Serra e Lula, que são apresentados como continuístas e inexperientes, e a

construção de Ciro como o único candidato de oposição com experiência e

capacidade, num discurso claramente político que se constrói e se manifesta nos

diferentes recursos visuais do pop-up.

Cabe destacar também, neste banner, a frase final, que ressalta a forte

presença e influência dos profissionais de marketing político nas campanhas dos

adversários, uma forma de desqualificar as mesmas.

Em quatro de outubro, próximo ao dia da eleição em primeiro turno,

um pop-up com fundo verde-amarelo convidava “Ouça a mensagem de Ciro ao

povo Brasileiro” (ilustração 3.2.10), que ao clicado conduzia a uma mensagem

gravada em áudio.

Nota-se assim que Ciro utiliza os pop-up’s como forma de manifestar

e dar destaque a um discurso clara e abertamente político, que ataca os adversários

em seus pontos fracos, buscando desconstrui-los em suas propostas, projetos,

biografias e mesmo campanhas. É importante notar que Garotinho não é citado ou

atacado, aparentando não ser considerado uma ameaça ou mesmo à altura dos

ataques de Ciro.

Já os fragmentos de campanha são apresentados de três formas

distintas, mas assemelhadas. Na área principal são apresentadas manchetes sobre

os atos e fatos de campanha, as propostas do candidato, suas falas e aparições na

mídia, sempre acompanhadas de foto. Abaixo desta um box inseria as chamadas e

notas, que também se apresentavam na área denominada “Sala de Imprensa”.

Nas manchetes, observamos o foco e mesmo evocação das questões e

atores do campo político, numa estratégia de construção da candidatura pelos atos

do candidato, suas aparições na mídia e seus apoiadores, numa característica

bastante jornalística e informativa.

Em vinte e um de agosto a imagem mostrava Ciro ao lado do técnico

da seleção Brasileira Luis Felipe, o Felipão, e dos jogadores da seleção Cacá e

Cafu, que deram ao candidato uma camiseta da seleção com o número 23, mas o

texto colocava a proposta de “300 mil casas populares”. Na imagem Ciro , ao

mesmo tempo parece “vestir a camiseta do Brasil” e ser colocado, pelos atores da

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foto, como jogador um jogador Brasileiro, num apelo ao esporte mais popular no

país.

No dia vinte e cinco Ciro é mostrado em visita ao túmulo de Getúlio

Vargas, num ato eminentemente político, e a manchete apresentava proposta para

as escolas públicas. Já em trinta de agosto foto e manchete destacavam Itamar

Franco, e em 4 de setembro a manchete e a foto versam sobre Ricardo Sérgio

Oliveira, citado no debate na Rede Record.

Ilustração 3.71 – matéria de Veja no website de Ciro

Neste último Ciro toma um evento na mídia eletrônica como

referência para a construção do website numa estratégia de ataque a Serra,

aproveitando-se de um momento ou ponto de fraqueza do adversário.

Entretanto usa de uma matéria da mídia impressa, mais precisamente a

revista Veja (edição 1750, de 08 de maio de 2002) que apresentava denúncias de

comissões e negociatas envolvendo o processo de privatização da Companhia

Vale do Rio Doce onde Sérgio estaria envolvido.

Interessante observar que o subtítulo colocava “Aqui não há truques

nem montagens” (ilustração 3.71), aparentemente numa referência ao caso da

edição do debate Lula-Collor em 1989, e colocava a matéria da revista e o website

na posição de denunciadores dos apoiadores de Serra e mesmo antecipando

possíveis movimentos de resposta do candidato.

Outro exemplo de uso do website com a estratégia de ataque a Serra

pode ser observada no dia seis de setembro, quando a imagem e a manchete

versavam sobre o caso das urnas eletrônicas falsas, descobertas no Distrito

Federal.

A manchete (ilustração 3.72) indiciava Serra como suspeito de

envolvimento no caso, e o texto destacava as suspeitas do procurador do TRE

local de envolvimento de políticos no caso. Ao lado imagem mostrava as urnas

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falsas apreendidas, ao mesmo tempo atacando o adversário Serra e pautando a

mídia com elementos importantes para o quadro da eleição.

Ilustração 3.72 - página inicial em 06/09/2002

Em dez de setembro, após declarações na mídia de que o papel de sua

companheira, a atriz da Rede Globo, Patrícia Pillar, era de dormir com ele, a

manchete destacava que Patrícia era “um presente que Deus me deu”, ao lado de

foto do candidato abraçado à esposa (ilustração 3.73).

Ilustração 3.73 - página inicial em 10/09/2002

Observa-se neste momento uma intenção de usar a página inicial para

aclarar a polêmica instaurada após tais declarações, num movimento pautado e

gerado pela ações do campo midiático na campanha.

O website vira elemento de referência para a política e para o campo

midiático. Não podemos deixar de comentar o fato de a imagem de uma mulher

somente ser apresentada para justificar, ou contrabalançar, declarações de Ciro.

Um fato que deve ser destacado é a manchete de dezoito de setembro,

quando Ciro constrói sua imagem e discurso no website usando a imagem de um

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quadro preto com o texto, nas cores branca e vermelha, “Ciro, problema para os

corruptos, mudança para você”, num movimento pautado e ilustrado pela

campanha do candidato no HPEG.

Cabe destacar também a manchete de vinte e três de setembro, que

versa sobre debate na mídia, pois esta é acompanhada de imagem conceitual do

candidato, num movimento de auto-referência tendo a mídia como base,

colocando-a como elemento relevante para a construção do discurso e da imagem

do candidato.

Observa-se nesta área, de forma geral, um foco nas questões, atos e

discursos políticos, colocando o website como forma e elemento de construção do

discurso do candidato. Entretanto, observamos uma certa incoerência ou

descolamento entre imagens e textos, que nem sempre se remetem ao mesmo ato

ou fato.

Além disso vemos a construção da política num formato claramente

jornalístico, onde vários campos – esportivo, político, midiático – são inseridos e

apresentados junto as propostas do candidato, transferindo e conferindo

credibilidade ao mesmo.

Cabe destacar a relevância do campo midiático como elemento não só

de influência na pauta do website, mas também, e se não principalmente, como

lugar de fala do candidato e de acontecimentos políticos.

Abaixo desta manchete principal situava-se uma área, sem título ou

denominação, onde várias chamadas sobre a campanha eram apresentadas. Nesta

área o perfil e a biografia do candidato recebiam destaque, e o campo midiático

recebia espaço quando citava ou abria espaço para Ciro.

Neste mesmo espaço a coligação e seus integrantes recebiam espaço

freqüente, principalmente no tocante a ações e discursos de ataque aos

adversários.

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Ilustração 3.74 - 04/10/2002 - página inicial com pop-up

Interessante observar que no dia quatro de outubro esta área

apresentava uma imagem com duas barras emoldurando o texto “O que Serra

pensa dos nordestinos”, ressaltando um ataque direto a Serra por sua visão da

região onde Ciro construiu sua história política, num discurso clara e abertamente

político que se manifesta e é feito visível na página inicial.

Abaixo desta ficava uma imagem da galeria de fotos, que era

atualizada com freqüência quase diária, e ao lado a “Sala de Imprensa”, onde uma

barra que corria verticalmente apresentava pequenas notas da campanha.

“Governador Itamar Franco chama Serra de mentiroso”, “Ninguém

quer aparecer ao lado de José Serra” e “Colunista Elio Gaspari desmascara em sua

coluna proposta de geração de empregos de Serra” são alguns exemplos das notas

que são inseridas.

Abaixo desta barra estavam inseridos os banners já citados, sendo

seguidos de link para o jingle de Ciro e frases do candidato, elementos certamente

de interesse seu, mas fica a dúvida de sua validade como elemento para a mídia,

como constituinte de uma sala de imprensa propriamente dita. No decorrer da

campanha esta área passa a apresentar a “Rádio Ciro 23”, que conduzia a áudios

com entrevistas e discursos do candidato.

Por seu título esta área mostra ter a função de ser fonte para o campo

midiático, mas os conteúdos observados, principalmente o forte uso de materiais

da mídia, mostra ser mais um espaço que usa das ações, matérias e comentários da

mídia como forma de ataque aos adversários.

Em cinco de outubro, véspera da votação, esta área, assim como as

chamadas, desaparece ficando em seu lugar notas com o título “Veja a

repercussão do “Debate Presidencial da Globo” (ilustração 3.75).

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Ilustração 3.75 - página inicial em 05/10/2002

Através de notas com hora de inserção, elemento que não havia antes

sido utilizado no website, esta área apresenta as repercussões positivas, para a

candidatura Ciro, do debate realizado na Rede Globo.

Estas notas tinham um tom mais pessoal, direto e dirigido ao

candidato, aparentemente sendo oriundas de usuários do website ou eleitores que

manifestaram apoio em outros meios.

“No meu trabalho você tirou votos de Lula” e “Nosso filho de quatro

anos é seu fã. E nós também” são apenas dois exemplos dos títulos das notas,

mostrando pela primeira vez a voz do eleitor no website.

Até o dia dez de setembro notamos, abaixo do menu, enquetes sobre

temas e pontos da campanha, como o que o usuário considera mais importante na

escolha de seu candidato (ilustração 3.76).

Na hora de escolher o seu candidato, o que

você mais leva em consideração?

Propostas Experiência Honestidade

Partido

Ilustração 3.76 – enquete em 17/07/2002

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Ao ser respondida esta enquete apresentava, na mesma área da página

inicial, os resultados percentuais parciais, aparentemente permitindo ao usuário

comparar sua resposta com as dos demais usuários.

Chegado o dia da votação o website mantém a mesma estrutura. O

banner abaixo do menu vira vermelho, em tom muito próximo ao do logotipo do

PT, e convoca os usuários a votar em Ciro para mudar o Brasil, acima de banner

com o logotipo da frente trabalhista (ilustração 3.77).

Ilustração 3.77 - página inicial em 06/10/2002

A manchete apresentava um convite ao voto em Ciro, ressaltando a

”mudança com segurança”, num sutil ataque ou confrontação com Lula. Ao lado a

foto oficial de Ciro ganha plano mais aberto e fundo com a bandeira do Brasil,

ficando ao lado do rosto do candidato o número 23 destacado em cor vermelha.

Abaixo segue área intitulada “veja a repercussão do debate”, onde as

notas se caracterizam por um tom pessoal e até mesmo intimista, mostrando

simpatias e apoios ao candidato, suas propostas e idéias.

Encerrada a votação e a contagem a manchete destacava a vitória de

Ciro em seu Estado de origem, sendo ladeada pela mesma imagem anterior

(ilustração 3.78).

Ilustração 3.78 - página inicial em 07/10/2002

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Assim vemos que o website de Ciro Gomes se constrói numa lógica

jornalística, informativa, com atualizações freqüentes e usando formatos

jornalísticos na construção dos textos, que suportam o discurso político do

candidato dentro, numa moldura publicitária, lincada diretamente as construções

visuais e aos elementos gráficos da campanha nas demais mídias.

Cabe ressaltar a força que os meios e atores do campo midiático

receberam dentro do website, sendo destacados como lugares de análise da

realidade e de inserção e validação dos discursos do candidato e seus apoiadores,

sem esquecer do uso de materiais e discursos da mídia como forma de ataque aos

adversários.

Da mesma forma temos que destacar também a formatação as

manchetes e dos títulos das páginas, resumindo o conteúdo e elementos das

mesmas. Se por um lado isto facilita a experiência do usuário por outro dá força às

intenções e estratégias dos construtores, apresentando os elementos de maior

relevância e, de certa forma, escondendo – ou buscando esconder – elementos

mais aprofundados.

Destacamos também a pouco presença e freqüência de convites para

interação, que se manifestam praticamente somente nos pop-up’s e em ataques aos

adversários, o que demonstra que o website era um espaço de discursividade para

o candidato e seus apoiadores.

Não podemos deixar de citar a mudança feita próxima ao HPEG,

quando o currículo de Ciro é ressaltado e resumido no menu, mostrando uma

construção textual que foca-se na personalidade, atos e feitos do candidato que

permeia toda a construção do website.

Podemos então colocar que o website de Ciro constrói de forma auto-

referencial ao candidato e seus discursos, mas acopla-se e utiliza-se de lógicas,

discursos e estratégias de outros campos para construir e mesmo validar esta auto-

referencialidade.

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3.2.4. Rui Costa Pimenta 29: formato anos 70 com tecnologia anos 90

A página inicial do website do PCO apresentava quatro áreas distintas.

Na parte superior, acima do que aparentava ser o menu principal, estavam

inseridos três banners com conteúdos distintos (ilustração 3.79).

Ilustração 3.79

O primeiro, à esquerda, apresentava em fundo vermelho o

“Suplemento Cultural a cada dois meses”, que apesar de ter, ao seu lado, um texto

“clique aqui” não gerava link ou relação com nenhum conteúdo do website.

Ao lado, ocupando o centro da área, um banner em fundo amarelo

destacava “PCO lança candidaturas operárias e socialistas contra a burguesia e

seus partidos”, que levava à área de eleições descrita no capítulo anterior. O

terceiro e último banner apresentava “Construindo um verdadeiro partido de

trabalhadores”, que lincava com conteúdos referentes às propostas e programas do

PCO.

Abaixo destes banners, uma faixa com uma seqüência de imagens

apresentava uma função dual, pois visualmente apresentava-se como banner, mas

estruturalmente como um menu. “Causa Operária”, “Juventude Operária”, "João

Cândido”, “Mulheres” e “Textos” eram os links apresentados, que levavam a

páginas do website do partido com conteúdos diversos.

Na área à esquerda estava o menu de navegação propriamente dito,

onde o link para a seção “Eleições 2002” ocupava a quarta posição, abaixo de

imagens de Trotski, Lênin e Che Guevara, que ilustravam chamadas para

diferentes conteúdos. Ao lado deste menu a maior área do website inseria o que

poderíamos denominar de fragmentos de campanha.

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“Derrotar a agressão imperialista ao Iraque e seu povo oprimido” é a

manchete que se destaca diretamente abaixo dos banners secundários, e que se

mostra presente durante todo o período da campanha.

Ao clicada esta manchete abria uma área especial, com vários

conteúdos referentes à posição do PCO e de seus candidatos sobre o ataque dos

Estados Unidos ao país árabe, tematizando na campanha, uma doutrina

antiimperialista e antiamericana típica dos discursos esquerdistas dos anos 70.

Abaixo, duas notas diagramadas lado a lado se referiam,

respectivamente, ao congresso que aprovou as candidaturas de Rui Costa Pimenta

e Pedro Paulo à Presidência, e ao discurso de Rui Costa neste congresso, onde se

destaca o slogan da campanha “Quem bate cartão não vota em patrão”, abaixo da

foto do candidato discursando.

Estas permaneceram durante todo o primeiro turno da eleição,

mostrando uma ausência de atualizações que, se por um lado desestimularia o

contato dos usuários pela ausência de novidades, por outro reforça o descaso

causada pela desorganização das seções internas.

Diretamente à direita desta área de conteúdo estava inserido outro

banner, este em formato vertical (ver ilustração 3.79). Em cor preta continha a

imagem de uma mesa de jantar fartamente servida e decorada, com candelabros

de cristal e quadros, mas sem cadeiras ao redor, convidava para o “jantar de apoio

às candidaturas do PCO” acima de “confira as datas e locais”.

Ao mesmo tempo em que convida para um evento da campanha este

banner apresenta uma imagem luxuosa, burguesa, aparentemente não condizente

com as propostas e posturas do partido.

Relevando esta aparente incoerência entre a imagem do banner e as

proposta do partido, vemos que os banners mostram-se como elementos

ideológicos, de apresentação de conteúdos e elementos relevantes para o partido,

ao mesmo tempo em que resumem em si mesmos os elementos apresentados nas

seções a que se vinculam.

Abaixo, em área visível apenas através da rolagem da página, várias

imagens e textos pareciam espalhados, soltos, sem link ou relação com conteúdos

das seções internas. Não nos aprofundamos nestes elementos primeiramente por

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estarem em área de pouca visibilidade, mas principalmente por não se

relacionarem com os conteúdos, parecendo estarem ali para preencher espaços.

O website do PCO mantém-se sem alterações na página inicial e nas

seções referentes a eleição 2002, que apresentam os mesmo conteúdos, imagens e

recursos. No tocante aos conteúdos e formatos, observamos uma vinculação com

discursos e ideologias que tinham força e presença política na década de 70. Já os

formatos e diagramações adotados em vários momentos no lembraram jornais e

panfletos sindicais, partidários, muito usados como elemento de propaganda de

sindicatos e movimentos estudantis até hoje.

Assim, de forma geral o website propaga elementos e conteúdos

diversos sem se vincular a eleição, onde o HPEG se coloca como elemento de

geração de acessos a estes espaços. O website mostra, assim, ser uma peça

absoluta e totalmente autoreferente, que se manifesta até mesmo na programação

visual das páginas e (des)organização dos conteúdos, sendo construído por e a

partir das propostas, ideologias do partido e das falas do candidato Rui Costa

Pimenta. Referências e utilização de outros campos existem, principalmente o

midiático, mas têm menos força e são sempre utilizadas como forma de reforço

das propostas.

3.2.5. Garotinho 40: quem é o vice?

No período de análise a página inicial do website de Garotinho

mostrou-se bastante focada nos fragmentos de campanha. Destacava, na área

central, notícias e fatos recentes da campanha sempre acompanhadas de um breve

resumo logo abaixo da chamada, que leva para página com texto completo e com

uma foto no topo da página.

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Ilustração 3.80 - página inicial em 10/08/2003

A barra superior do website configurava-se como um banner, que

apesar de visualmente coerente, unido, apresentava dois elementos ou funções

diferenciadas. A área à esquerda, no primeiro ponto de leitura, apresentava o

logotipo da campanha com o nome do candidato em vermelho abaixo do número

40, destacado por seu tamanho, num tom indefinido entre o verde e o amarelo,

acompanhado da foto em close do candidato.

Ao lado do número e acima do nome do candidato uma pequena

pomba, símbolo do PSB, aparecia de forma suave e sutil, usando um efeito de

relevo sobre o fundo (ilustração 3.81).

Ilustração 3.81 - página inicial em 18/08/2002

Na área à direita várias imagens e textos se revezavam, propagando as

realizações e propostas do candidato. Um exemplo é o texto em amarelo “Projeto

Nova Escola beneficiou 83 mil profissionais” ao lado de foto de criança sorrindo

com o que aparentava ser um copo de leite na mão.

Vários outros elementos se revezavam nesta área do banner, como

propostas de reforma da polícia e criação de restaurantes populares com refeição a

um Real, apresentando de forma resumida e bastante clara, através de uma

linguagem publicitária, as propostas e projetos de Garotinho.

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Ilustração 3.82– página inicial em 21/08/2002

Abaixo deste banner uma barra mais fina em fundo amarelo e letras

vermelhas destacava o “Partido Socialista Brasileiro”, do candidato, respeitando a

escala de cores e a logotipia do partido, que recebe assim destaque e alta

visibilidade no website e separa visualmente o banner das demais áreas da página

inicial.

No dia seis de setembro notamos mudanças no banner. O fundo

recebe uma textura, semelhante a um tecido em movimento ou enrugado, em tons

de amarelo e vermelho, sendo este predominante.

O logotipo oficial da campanha foi inserido, tendo uma estilização da

bandeira do Brasil com um coração azul no centro, acima do nome e do número

do candidato. O nome passou a ocupar área de maior destaque e visibilidade. Já o

número, elemento de efetivação da votação na urna eletrônica, perde importância

ficando abaixo do nome (ilustração 3.83), mostrando que a propagação e

visibilidade do nome do candidato eram prioritárias.

A foto do candidato também foi alterada. O tom informal e o plano

fechado da foto anterior, passado pela camisa aberta e sem gravata, substituída por

uma foto ligeiramente mais aberta, onde o candidato se mostra com terno e

gravata, uma mudança de forma que identifica Garotinho com a imagem esperada

de um presidente.

Ao lado estava inserido o slogan da campanha, “O Brasil que faz”,

sendo que a área à direita seguia apresentando as propostas e realizações, mas

usando apenas de textos colocados entre aspas, reproduzindo ou citando

afirmações e falas de Garotinho (ilustração 3.84).

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Ilustração 3.84 - página inicial do site em 07/09/2002

Observa-se neste movimento de alteração que o website recebe o

mesmo tratamento visual dos demais materiais gráficos, adquirindo status de peça

de campanha. Este movimento ocorre num cenário onde Garotinho começava a

apresentar crescimento nas pesquisas de intenção de voto, mostrando-se com

possibilidade de superar Ciro Gomes, cuja campanha e imagens apresentavam

sinais de desgaste.

Não podemos afirmar ser este movimento um reflexo dos resultados

das pesquisas, de uma melhoria nas condições de financiamento da campanha de

Garotinho ou mesmo de um somatório de ambas, mas apresenta sinais, reflexos da

força das pesquisas como elemento de pauta e condução da campanha que se

reflete e manifesta no website.

Ilustração 3.85 - página inicial em 12/09/2002

Entre este banner e as manchetes havia uma pequena área onde

rolavam pequenos textos e frases sobre a campanha. “Redução da taxas de juros

garante salário mínimo mais justo”, “Programa do PSB no rádio e na TV se

transforma num marco da campanha” e “TRE dá a Garotinho direito de resposta

contra acusações de Serra” são alguns exemplos de textos apresentados,

configurando-se como notas sobre o processo eleitoral.

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Estas notas não geravam link ou relação com nenhuma outra área do

website, contendo em si os elementos e conteúdos a serem apresentados e

mostrando, de forma resumida, elementos de interesse e relevância para o

candidato e a campanha.

Nas laterais da página inseriam-se os menus de navegação, sendo o da

esquerda dedicada ao candidato e o da direita ao partido. Entre estes eram

inseridos os fragmentos de campanha, elementos diversos centrados nos atos e

ações de campanha, como comícios promovidos, entrevistas, falas do candidato,

etc.

O ponto privilegiado de leitura desta área, mais acima e visível

diretamente, era reservado às manchetes, que se alimentavam das mais diversas e

variadas fontes: pesquisas eleitorais divulgadas da mídia, matérias na mídia, atos e

propostas do candidato na campanha, etc.

Interessante ressaltar a imagem apresentada em doze de setembro,

reprodução da capa da revista “Istoé” que apresentava Garotinho como “O franco-

atirador”, imagem sem relação ao texto da manchete que versava sobre as

pesquisas eleitorais, momento em que o website acopla-se duplamente na mídia

como forma de construção de sua candidatura.

Poderíamos questionar a validade do uso de uma capa que colocava o

candidato numa posição agressiva e até mesmo inferior aos demais candidatos.

Entretanto o somatório desta com os resultados da pesquisa alça, reforça o papel

de Garotinho na campanha e nos permite colocar que o candidato busca validar,

dar força e mesmo repercussão a sua imagem através dos discursos da mídia.

Por outro lado devemos destacar a relação que o website estabelece

entre seus conteúdos em seu processo de evolução. Observando algumas

ilustrações vemos que a manchete apresentava “Pesquisas devem registrar subida

de Garotinho”.

Noutra data vemos a manchete “Garotinho em alta embola a disputa

pelo 2o lugar”, que num período de cerca de uma semana constroem e informam o

crescimento de Garotinho ao mesmo tempo pautando e sendo pautado pelo campo

midiático. Este movimento também pode ser observado quando a manchete

destacava que o candidato já estava em segundo lugar, e ao mesmo tempo ataca

José Serra por ter o “maior índice de rejeição”.

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Observa-se que ao mesmo tempo em que Garotinho usa das pesquisas

para construir sua candidatura e atacar seus adversários, tenta pautar a divulgação

das mesmas colocando-se como segundo colocado, informação esta não

confirmada pelos dados apresentados, usando uma linguagem simples e mesmo

coloquial, onde expressões como “embola” e “subida” são os melhores exemplos,

para se destacar e atacar seus adversários.

Ilustração 3.86 - página inicial em 18/09/2002

Estes ataques aos adversários foram constantes nestas manchetes. No

dia cinco de outubro, véspera da eleição, a manchete principal atacava Serra

através de projeto de emenda à Constituição que o mesmo havia apoiado quando

Ministro do Planejamento.

Outra manchete preparava para a eleição: “É dia de 40: Garotinho no

2o turno” abaixo de fotografia de Garotinho e sua esposa, Rosinha Mateus,

candidata ao Governo do estado do Rio de Janeiro, em comício na capital onde

ambos estão com os braços levantados em gesto de vitória.

Esta relação direta entre a imagem e o texto não foi observada com

freqüência, sendo a regra geral – se podemos dizer que havia – um deslocamento

ou mesmo incoerência entre ambos, pois as imagens permaneciam mais tempo

que os textos.

Se por um lado isto nos permitiria falar nas manchetes como elemento

principal, mais valorizado da página inicial, por outro a posição e tamanho das

fotos e imagens em relação ao texto se apresentam como contrários a este

argumento. Fica assim uma sensação de permanência, de não atualização da

página, o que poderia desestimular o usuário a navegar pelo website.

Devemos considerar então as fotos com uma função não meramente

ilustrativa, uma vez que não se vinculam às manchetes, mas sim de facilitação de

leitura da campanha, uma vez que apresentavam atos e ações do candidato sempre

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em multidões ou acompanhado de grande número de pessoas, colocando o mesmo

numa posição favorável frente ao cenário do pleito.

Ilustração 3.87 - página inicial em 23/09/2002

As manchetes expunham, de forma jornalística, as propostas, projetos

e atos e também atacavam adversários, ressaltando o papel e os feitos de

Garotinho na campanha. Notamos um foco absoluto no candidato, que chega a

aparecer ou ser citado no texto, na imagem, nos créditos das imagens e no lead da

informação.

Somando isto às imagens e links presentes nos menus, vemos uma

forte heterorreferencia na página inicial, que se dá, se faz e se manifesta a partir da

mais diversas fontes, atos e elementos como forma de construção da visibilidade

do candidato.

Estas manchetes sempre conduziam a uma página com a matéria

completa, mas não geravam relação ou mesmo link direto com os conteúdos

presentes nos menus, tornando a página inicial um elemento de cunho e forma

jornalística e informativa, mas sempre construída por e a partir de um discurso

político.

Não podemos deixar de comentar também os textos inseridos abaixo

destas manchetes, que se apresentavam como um lead da mesma, resumindo o

conteúdo completo, destacando e aprofundando o elemento apresentado de forma

direta para o usuário que ficava, assim, “dispensado” de acessar a matéria

completa.

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A Política nos espaços digitais

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Ilustração 3.88 - página inicial em 05/10/2002 – 22:15

Além destes elementos, que ocupavam a área de maior visibilidade, a

página inicial continha outros conteúdos, que geravam uma extensa barra de

rolagem vertical. Frases do candidato, o livro de sua biografia, ataques a mídia,

como a Rede Globo5, e resumos de discursos do candidato são inseridos e

organizados em duas colunas, não havendo relação estrutural ou mesmo

conceitual entre os mesmos.

Abaixo das manchetes uma área denominada “Rápidas” continha

pequenas notas sobre vários temas, desde falas do candidato até citações da

imprensa. Estas notas eram estanques, ou seja, continham a matéria que se

desejava apresentar sem link para outros elementos ou áreas, sendo assim

elemento de informação e formação de imagem. Ao lado desta um box inseria

frases de Garotinho sobre a campanha ou suas propostas porém, sem citar o local

ou contexto em que aconteceram.

Cabe ressaltar que estes diversos conteúdos também não geravam link

ou tinham relação com os demais elementos do website, encerrando em si todo o

conteúdo que ficava “solto” dentro da página, mas recebendo permanência por

longo período de tempo, ou seja, sendo pouco atualizado.

Ilustração 3.89 – parte inferior da página inicial do website 5 Garotinho colocou na página inicial uma nota “a Rede Globo mentiu”, referindo-se a matérias veiculada no Jornal Nacional envolvendo gravações de conversas de assessores quando era governador do Rio de Janeiro.

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Alguns permaneceram iguais, no mesmo ponto, por toda a campanha,

e se apresentavam hora como notas, hora como itens, o que por um lado reforça o

foco na personalidade e nos feitos do candidato e, por outro, mostram o foco

jornalístico da página e mesmo valorizam os conteúdos inseridos nas manchetes.

Ilustração 3.90 - página inicial em 06/10/2002

No dia da eleição o website mantém as mesmas características

(ilustração 3.90), e os menus permanecem com suas configurações. O primeiro

item do menu a direita, do PSB, segue sendo “Eleições 2002” e apresentando os

candidatos do partido no diversos níveis e Estados.

A manchete principal, em negrito, ataca Serra através do PEC, ao lado

da mesma foto de Garotinho e Rosinha em comício no Rio de Janeiro. Abaixo

desta imagem a manchete destacava, com texto, em caixa alta, “Não esqueça, é

dia de 40: Garotinho no 2o turno”.

Ilustração 3.90 - página inicial as 18:10 de 06/10/2002

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Encerrada a votação a página é atualizada (ilustração 3.90). A imagem

mostrava Garotinho e Rosinha numa sacada acenando em gesto de vitória6. A

manchete principal versa sobre a preocupação de Garotinho com “problemas com

urnas antigas no Rio”, mostrando a desconfiança do candidato quanto à contagem

dos votos nas urnas com voto em papel.

A manchete abaixo da imagem falava sobre Garotinho votando

confiante “na ida ao 2o turno”, mostrando uma tentativa de conquistar votos e

adesões na reta final através de uma leitura das pesquisas e do cenário da eleição,

que ocorre num momento em que os eleitores já não mais tinham a possibilidade

de votar.

Neste momento a página, assim como os demais conteúdos, é

“congelada”, não passando por novas alterações até sair do ar cerca de três

semanas após a votação.

A página inicial do website de Garotinho apresenta-se como uma peça

de campanha em formato jornalístico, focada nos fragmentos de campanha numa

constante auto-referência ao candidato, suas falas, propostas e ações, apesar das

atualizações serem menos freqüentes e mesmo irregulares, onde a mídia é uma

importante, se não principal, elemento de apresentação, condução e mesma

formação da pauta e dos conteúdos do website.

Destacamos, finalmente, a total e absoluta ausência de citações ao

candidato a vice em todo o website. José Antonio Figueiredo de Almeida Silva7

não aparece no logotipo da campanha, não é citado nos fragmentos, não recebe

espaço nos menus ou mesmo página dedicadas a sua biografia ou sequer é citado

em seus atos e falas, aparentando ser colocado como um mero coadjuvante, um

ator secundário cujo papel parece ser apenas o de cumprir com a legislação do

TSE.

6 Cabe recordar que a esposa de Garotinho, Rosinha Mateus, foi eleita governadora do estado do Rio de Janeiro em primeiro turno. 7 Obtivemos este nome no sistema de registro do TSE.

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3.2.6. Serra 45: o HPEG na Internet

Durante a pré-observação e nas primeiras datas de análise a página

inicial do website de Serra mostrava-se bastante simples. Apresentando propostas

em formato jornalísticos através de manchetes, notícias e notas ilustradas ou

redundadas por fotos do ato ou imagens conceituais, num formato muito

semelhante aos players de jornalismo no meio (ilustração 3.91).

A barra superior das páginas configurava-se como um banner,

contendo o logotipo oficial da campanha, o título “Campanhaonline” evocando o

espírito ou características do meio de suporte da campanha e as fotos do candidato

e da Vice.

Eles estavam de mãos dadas e braços erguidos num gesto de vitória,

fundeados por uma estilização da bandeira brasileira acima dos nomes de ambos,

onde ao mesmo tempo vemos que ambos confiam na vitória, que seria trazida pela

“Campanha online”.

Ilustração 3.91 - página inicial em 08/08/2002

Com tom predominantemente amarelo, colocando o logotipo da

campanha no ponto mais privilegiado de leitura, o banner destacava também a

“Coligação Grande Aliança” e os partidos que a compunham, onde havia link

direto para os websites do mesmos.

A área central da página apresentava os fragmento de campanha

construindo a noticiabilidade do candidato e as estratégias do website de três

formas distintas. A manchete era sempre acompanhada de foto e focando-se nos

atos e ações de Serra.

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A Política nos espaços digitais

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O título desta manchete destacava-se pelo uso da cor verde, sendo

posicionado ao lado da fotografia, destacando-se do fundo e tornando-se elemento

de destaque no processo de leitura.

Ao lado desta manchete havia sempre três ou quatro notícias ilustradas

por fotos conceituais, ou seja, imagens não do ato ou das ações, mas ilustrações

ou projeções do candidato e de seus apoiadores.

Estas notícias destacavam os apoios recebidos pelo candidato e suas

propostas, redundando ou reforçando conteúdos de páginas internas e seções.

Abaixo desta área inseria-se a barra de “Últimas Notícias”, composta de notas

acompanhadas da hora de inserção que, ao clicadas, conduziam a página contendo

detalhes.

Esta parte ocupava a maior área da página inicial, comportando uma

série de elementos visuais e textuais que buscavam destacar os fragmentos da

campanha mostrando uma estratégia jornalístico-informativa no website

(ilustração 3.92).

Ilustração 3.92 - Página Inicial em 24/07/2002

No dia 10 de agosto notamos mudanças. O campo de busca, antes

deslocado, “solto” espacialmente dentro da estrutura do menu, é inserido dentro

de um box retangular ganhando destaque e, assim, relevância no conjunto de

conteúdos da página. O menu foi aumentado para nove links, e na barra lateral

direita da página apresentava-se um segundo menu redundando algumas das

opções do menu da esquerda.

O box “Fale com o Serra”, convite à interação para o usuário que

continha opções como “Mensagem de Apoio”, “Enviar uma sugestão”, etc.,

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conduzia para a página de contato do website, cuja posição nos permite observa-lo

como menos importante, sendo colocados em área de leitura menos privilegiada.

No início do HPEG, quando Serra apresenta o “Projeto Segunda-

Feira” e adota o tom azul como cor predominante na campanha, o website passa

por uma mudança profunda vinculada a esta estratégia de campanha, abrangendo

desde a programação visual até a disposição espacial dos elementos, espaços

ocupados e novos banners, que refletem a nova estratégia de campanha na

Internet.

O banner superior adquire o tom azul da campanha, mantendo a

posição e dimensão do logotipo. As fotos oficiais dos candidatos são inseridas em

plano mais fechado, próximo a um close, valorizando os rostos, os sorrisos e

colocando Rita Camata ligeiramente à frente de José Serra. A imagem adquire

assim uma maior simetria, equilíbrio, denotando também um certo cavalheirismo

e valorizando o papel da mulher na campanha.

A “Coligação Grande Aliança” e os partidos têm seu espaço

diminuído, e ao fundo surge um céu azulado com nuvens finas e suaves que

emolduram fotos de pessoas. São quatro homens e duas mulheres de várias idades

usando capacetes de proteção azuis e amarelos, um dos elementos da programação

visual da campanha que ilustra a proposta de emprego.

O único negro neste banner estava separado do grupo pelas fotos dos

candidatos, segurando um cartaz amarelo com o número 45 que esconde

parcialmente o seu rosto. Isto, por um lado, o coloca na posição de apresentador

do número do candidato mas, por outro, nos permite relacionar sua posição à um

papel secundário dos negros na campanha via website, ao contrário do HPEG

onde havia um negro como apresentador (ver ilustração 3.2).

Na véspera da votação este banner foi alterado. O logotipo e as fotos

dos candidatos permanecem iguais, mas os adultos de capacete são substituídos

por pessoas de várias idades, incluindo uma criança e um adolescente

possivelmente sem idade para votar. Ao lado de Serra apenas um casal de jovens,

onde um rapaz negro também tem seu rosto encoberto pelo cartaz com o número

do candidato (lustração 3.93).

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O texto “A hora do Voto” ocupa o principal ponto de leitura,

remetendo ao momento decisivo da campanha, quando as pesquisas davam

margem a dúvidas sobre a efetivação ou não do segundo turno.

Ilustração 3.93 - página inicial em 21/08/2002

No topo do menu, acima de todos os links, surgiu um pequeno banner

para o “Programa de Governo” ilustrado pela imagem de um livro. A capa

continha fotos de pessoas usando capacetes azuis mas que em função de seu

tamanho não podemos afirmar serem os mesmos do banner, ilustrando de forma

publicitária para um importante elemento da campanha de Serra.

Abaixo do menu estava inserido um banner com o número do telefone

da central de atendimento de Serra, ligação gratuita onde os eleitores eram

atendidos por operadores que esclareciam dúvidas sobre a campanha e as

propostas dos candidatos.

Neste mesmo momento, início do HPEG, a barra de notícias mudou

sua estruturação. A manchete, antes diagramada horizontalmente, passa a ocupar a

área vertical do centro da página, onde a imagem merece mais espaço que o texto,

que segue na cor verde.

No dia 21 de agosto a manchete destacava “Na TV, Serra explica

como vai mudar a vida das pessoas com emprego e segurança” ao lado de imagem

do candidato na televisão segurando o livro do “Projeto segunda-feira” em

primeiro plano, acompanhado da assinatura “José Serra Presidente” e do logotipo

da campanha no canto da tela.

Nota-se aí uma multiplicidade de linguagens num mesmo espaço

midiático, somando texto, logotipo da campanha e o candidato numa mesma

imagem co-determinada pelo enquadramento da televisão, que é “congelado” e

inserida no website como elemento de propagação campanha. Mostra-se aí uma

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estratégia de uso da Internet para aprofundar ou validar a proposta em um outro

meio.

Esta estratégia de evocação do discurso eminentemente midiático foi

observada na absoluta maioria das datas de análise, onde a manchete se remete

constantemente ao programa de TV, a atores do campo midiático e a eventos ou

matérias do campo midiático.

Para citar alguns exemplos Glória Perez, escritora, autora de novelas e

mãe da atriz assassinada Daniella Perez, dá depoimento sobre segurança

empenhando seu apoio a Serra no HPEG e é manchete no website.

O debate na Rede Record é acompanhado minuto a minuto nas notas e

vira manchete no website, convidando os usuários a acompanha-lo. Programa

sobre Minas Gerais ilustrado por foto de Juscelino Kubitscheck, um ícone da

política brasileira, lembrando as grandes ações do ex-presidente também mereceu

destaque nesta área.

Na véspera da votação o candidato aparece fotografado com os braços

erguidos, em gesto de vitória, tendo o Cristo Redentor ao fundo, ao lado de

manchete sobre as pesquisas indicando o segundo turno, apresentando assim um

cruzamento entre o campo político, as pesquisas de intenção de voto, as ações e

atores do campo midiático que se tornam visíveis no website e operam as

estratégias de Serra na Internet.

Estes são alguns - dentre muitos outros possíveis - exemplos do

acoplamento que o website opera com o campo midiático e com a campanha

midiatizada na televisão, em que notamos que vários campos são situados acima

do campo político e do próprio candidato, impondo leituras e mesmo ganhando

status de apresentadores e analistas da realidade.

As notícias, por sua vez, passam a ser inseridas abaixo desta manchete

mas mantém-se a estratégia de uso para informações ou ataques aos adversários

ilustrados por imagens conceituais.

As demais mídias de campanha, principalmente a campanha no rádio,

têm espaço freqüente nesta área, sempre ilustrada por ícones verde-amarelos ou

imagens em tamanhos pequenos, como um ponto de exclamação ao lado de

ataque a Ciro ou de uma nota musical ao lado de nota sobre o programa de rádio,

cujos formatos se destacam das demais imagens.

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A Política nos espaços digitais

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Observa-se que os atores e a campanha midiatizada na TV merecem

destaque nas manchetes, enquanto o rádio ocupa apenas espaço secundário dentro

dos fragmentos, sendo inseridos sempre nas notícias. Muitas seções internas,

principalmente as voltadas à biografia e as propostas do candidato, também tem

presença constante, notando-se também os apoios políticos, como do senador

Pedro Simon.

Abaixo desta área permanece a barra de “Últimas notícias”, área das

notas de atualização mais freqüente do website, mas que não possui um foco único

e específico, apenas acompanhando os fatos da campanha em geral e do candidato

e apoiadores.

Ao lado da barra de notícias surge um banner animado com o texto

inicial “O nome da mudança é emprego” (ilustração 3.94) seguido de uma

seqüência de fotos de rostos de homens e mulheres de várias idades e raças

diferentes, que se alternam rapidamente abaixo de um capacete com o logotipo do

“Projeto Segunda-feira”.

Esta animação encerrava com o logotipo da campanha e o número 45,

e o capacete não mudava sua posição, ficando sempre em fundo branco, enquanto

os rostos estavam sempre em num mesmo fundo azulado e indefinido.

Ilustração 3.94 - quadros do banner “Trabalho”

Interessante observar esta construção visual, utilizando elementos que

remetem, representam e evocam o mundo do trabalho em obras e fábricas em

fotos de pessoas comuns usando o capacete, como se já estivessem empregadas,

num meio onde os usuários – atualmente - possuem alta qualificação e formação

acadêmica e profissional.

Se por um lado se poderia apontar uma incoerência entre o meio e a

construção da mensagem do candidato, há de se considerar que este elemento

recebeu destaque e relevância nos demais meios, especialmente nos clipes para a

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TV, se configurando assim como um logotipo do projeto, demonstrando uma

coerência do website com a construção estratégica da campanha em todos os

meios.

Este banner se mantém nesta posição em grande parte das datas

analisadas, mas no dia doze de setembro notamos que na sua posição inseria-se o

banner “8 ou 10”. Divido ao meio entre as cores azul, sobre a qual estava o

número oito, e vermelho, sobre o qual via-se o número dez, o texto convidava

“novo megahit para você cantar com seu amigo petista!!!”, e levava a um jingle

específico – que só notamos no website - comparando as propostas de geração de

emprego de Lula e Serra.

Nota-se ai que Serra usa um discurso tipicamente político em tom

irônico para atacar e desconstruir o adversário através de um cruzamento entre as

linguagens e técnicas da Internet, do rádio e da televisão.

Tal banner surge menos de um mês antes da votação em primeiro

turno, quando as pesquisas começavam a indicar Serra na segunda posição e o

candidato começa a “centrar fogo” sobre Lula, em que o website suporta um

material específico de ataque com tom irônico e irreverente.

Também é interessante observar a construção do banner, usando as

cores principais da campanha de Serra e Lula, e o uso de três pontos de

exclamação, reforçando o tom afirmativo e mesmo provocativo do elemento, que

permite a percepção de sua intenção mesmo sem o contato com o jingle.

Cabe destacar ainda que no dia vinte e seis de setembro, abaixo do box

“Pelotão 45”, surge o banner “Clique e veja quem mais esta com Serra”, um

convite para interação do usuário que também usava como fundo o azul da

campanha.

Este conduzia a seção “O Brasil se une a Serra”, com depoimentos de

apoiadores da campanha, em que notamos um aprofundamento da manchete

principal e das notas secundárias, que com freqüência dão destaque aos apoios

recebidos pelo candidato, além de redundar o então segundo item do menu de

navegação, demonstrando a relevância desta seção e seus conteúdos para a

estratégia do candidato.

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A Política nos espaços digitais

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Na véspera da votação o banner “emprego” foi novamente substituído

por uma animação com o número do candidato que conduzia a uma página com

“cola” da votação para impressão.

Já abaixo do “Pelotão 45” outro banner mostra fotos de celebridades,

como Nana Caimi, que apóiam Serra, evocando apoios de outros campos para

construir suas visibilidade e credibilidades sem a necessidade de acesso à página,

o que demonstra a importância da mídia e seus midiáticos como elemento na

campanha de Serra no website.

No tocante aos banners pop-up observamo-los apenas quatro

momentos da análise. No dia trinta de agosto uma janela pop-up apresentava nota

“Compostura Candidato” (ilustração 3.95), respondendo a Ciro Gomes que havia

chamado Serra de covarde.

Ressaltando a “postura coronelesca e destemperada”, a nota chama

Ciro de “reizinho da paróquia” e de “mauricinho mimado que está perdendo a

discussão”, adotando um tom duro, forte e direto contra as declarações do

adversário, manifestando um discurso tipicamente político num ponto ou

elemento de alta visibilidade do website.

Ilustração 3.95 - nota em 30/08/2002

Em seis de setembro um grande pop-up transcreve texto do

economista José Pastore publicado no jornal “O Estado de São Paulo” sobre o

“Programa Trabalhista de Serra”, elogiando as propostas e a clareza de

apresentação do programa do candidato.

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No dia doze de setembro um pop-up semelhante apresenta pequena

matéria da revista Veja comparando, lado-a-lado, as propostas de emprego de

Serra e Lula e é inserido como imagem capturada no website da revista, em que o

candidato convoca as mídias e seus especialistas para dar validade e sustentação a

suas propostas.

Cabe esclarecer que os pop-ups configuram-se estruturalmente como

banners por sua posição e formatação, mas seu conteúdo coloca-os junto à

categoria de fragmentos de campanha, mostrando um cruzamento entre as seções

do website e, principalmente, entre os campos econômico, midiático e político e a

própria Internet que se faz visível no website como forma de reforçar as proposta

do candidato.

Já em dezesseis de setembro surge um pop-up que ocupa praticamente

toda a tela (ilustração 3.96), cobrindo o banner principal e a área de notícias. Em

fundo azul, o banner destacava “Dizem que Brasileiro não tem memória” acima

de texto em tamanho menor “clique aqui e teste a sua”, buscando assim gerar o

acesso a este recurso e relevando o mesmo frente aos demais conteúdos e recurso

do website.

Ilustração 3.96 - página inicial com janela pop-up aberta - 16/09/2002

Configurando um desafio ao usuário, o banner carregava um jogo de

memória eletrônico onde as cartas apresentavam as propostas e características de

Serra, como “competência” e “empregos” (ilustração 3.97).

Ilustração 3.97 - anelas com jogo ativado

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Fruto de um cruzamento entre a tecnologia do meio – o jogo foi

construído com tecnologia Macromedia Flash – e as estratégias de campanha, este

recurso dá nova roupagem a um antigo jogo infantil que busca estimular as

funções cognitivas e associativas, e de uma forma desafiadora torna-se um

elemento de reforço e aumento de recall1 das propostas de Serra, demonstrando

um novo recurso de campanha no meio.

Mesmo não se enquadrando nas categorias criadas, cabe destacar um

elemento do website observado na última semana de setembro. Acima da barra de

“Últimas Notícias” foi inserida uma barra intitulada “Depoimentos”, onde

mensagens de apoio, a favor das propostas ou elogiando a atuação e posturas de

Serra, enviadas por e-mail por usuários corriam lateralmente, citando sempre o

autor e a cidade.

Se por um lado se nota o aproveitamento dos e-mails dos usuários que

enviam mensagens através do website, por outro se nota uma nova estilização à

antiga prática de depoimentos, enquetes e entrevistas muito comuns na campanha

da TV.

No entanto, ao invés de serem capturados e enquadrados na rua, por

câmeras, microfones, repórteres ou apresentadores, são capturados em seu próprio

ambiente, ou seja, em sua casa, local de trabalho, em seu computador, pela

estrutura e recursos do website, sendo estimulados ou podendo assim agir pró-

ativamente a favor do candidato, tornando-se elemento de validação da

candidatura.

Interessante observar que enviamos várias mensagens através do

formulário de contato, solicitando informações ou enviando sugestões, não

recebendo nenhuma resposta ou manifestação por parte dos produtores do website

ou da assessoria do candidato, mostrando um processo de filtragem das

mensagens que seleciona quem tem o direito de aparecer ou de ser respondido.

Por outro lado as mensagens de apoio são inseridas na página inicial

em ponto privilegiado de leitura, mostrando um aproveitamento de recurso de

interação e integração em prol da construção da imagem e visibilidade do

candidato, mas não estabelecendo uma relação de troca e reciprocidade com estes

usuários.

1 Recall é um termo usado no mercado publicitário para referir a memorização ou conhecimento de uma marca, produto ou serviços pelos consumidores.

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Esta estratégia geral de construção, ou seja, reservando ou ocupando a

área mais nobre da página inicial do website para a campanha no HPEG da TV e

inserindo com freqüência diária – ou mesmo horária - notas e informações de

campanha, alterando banners conforme o momento da campanha, permanece

durante todo o primeiro turno.

Recordamos, então - como consta em nosso quadro teórico - que na

Internet o tempo de contato com o meio é determinado pelo usuário, que de forma

mais ativa seleciona o espaço-tempo de interação.

Isto pois nos permite afirmar que por trás deste processo de relação

entre os meios pode estar uma estratégia de captura e mesmo exploração do

usuário oferecendo conteúdo e elementos de valor de meios onde a marca

temporal impede o contato, além de se configurar como um processo de troca e

sinergia dentro da campanha que acelera e dá nova velocidade e agilidade a

mesma , os quais se manifestam em todas as dimensões e processos do website.

Por outro lado, a alta freqüência de conteúdos referentes às ações de

campanha ou redundando elementos do menu em área privilegiada de leitura,

somado aos ícones e às imagens ilustrativas que se tornam elementos de destaque

e deslocamento da atenção do usuário, mostra o website como elemento de

ampliação da campanha, na medida em que permite o aprofundamento das

estratégias de visibilidade do candidato e se torna uma fonte alternativa de

informações para os eleitores.

No dia da votação a estrutura geral permanece sem alterações,

mantendo a hierarquia dos links e seções (ilustração 3.98). O banner principal

mantém a imagem com as cinco pessoas. O texto “a hora do voto” mudou para

“vote”, um convite a ação em prol do candidato na eleição, mostrando uma

mudança do discurso político no meio onde o “O” do “vote” era formado pelo

logotipo da campanha com o número 45, reforçando ou mesmo redundando o

número do candidato.

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Ilustração 3.98 - página inicial em 06/10/2002

O banner de empregos, presença constante durante a campanha,

desaparece deixando uma área em branco, vazia, e abaixo do box do “Pelotão 45”

inseria-se o banner com link para as mensagens de apoio de midiáticos e políticos,

mostrando a relevância desta seção para a estratégia do candidato.

Durante o horário de votação a manchete principal, ao lado de imagem

do programa de TV de Serra com o logotipo e o número ao fundo, destacava que

as pesquisas confirmavam o segundo turno da eleição, acima de quatro notas

menores.

Ilustrada por um ponto de exclamação o titulo provocava “Quem

venceu o debate!”, ataca sutilmente os adversários (especialmente Lula que neste

momento apresentava chances de vitória no primeiro turno) através dos

comentários de quatro analistas de diversos campos – político, midiático, etc. -

que colocam Serra com a melhor postura e vitorioso daquele ato de campanha.

Ao lado deste box uma foto de Serra e Rita convida o usuário a ler

artigo de Serra na Folha, e abaixo foto montagem com as fotos oficiais de Lula e

Serra destacava, no texto, que Serra “mostra que tem propostas e deixa Lula sem

resposta”.

As “Últimas Notícias” destacam fatos do dia e inserem,

aleatoriamente, artigos e notas anteriores sobre as propostas de Serra das mais

variadas fontes, desde as do próprio website até matérias de jornais e apoios de

midiáticos.

Nota-se que durante a votação Serra diminui a importância da

principal proposta, o “projeto segunda-feira”, e concentra-se em desconstruir seu

provável adversário a partir dos debates e de suas propostas, num discurso ou

estratégia eminentemente político. Além disso valoriza as pesquisas que

indicavam segundo turno, permitindo inferir uma estratégia de influência sobre

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eventuais eleitores indecisos e busca de cumprimento da chamada “lei da

procrastinação”.

Ilustração 3.99 - página inicial em 06/10/2002 as 18:15

Encerrada a votação a manchete destacava “Serra na hora do voto”,

ilustrada por foto do candidato na sua seção eleitoral acompanhado pelo candidato

ao Governo do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, e fazendo o “V” na vitória

com os dedos (ilustração 3.99).

A manchete anterior virou nota secundária, mantendo a mesma

imagem em formato menor, ao lado de outra foto destacando que um ator do

campo empresarial, Antonio Ermírio de Moraes, “vota 45 e se enche de

confiança”.

A atualização e os conteúdos inseridos nos permitem inferir que Serra

considera uma vitória para sua candidatura a realização de segundo turno e sua

presença na disputa, usando de um amplo cruzamento entre apoios de outros

campos, pesquisas eleitorais, conteúdos da mídia e ações do candidato para

reforçar sua visibilidade e construir sua campanha.

Causa estranheza, entretanto, a supressão do banner de emprego, o

que demonstra que a proposta perde força e importância na reta final da campanha

do candidato. Poder-se-ia observar nisto uma influência da legislação eleitoral que

proíbe propaganda quarenta e oito horas antes do pleito, função do banner, mas a

manutenção deste conteúdo no menu e o espaço em branco no lugar do mesmo

mostram a busca de reforço da proposta por sua ausência.

Tendo em vista as questões expostas lembramos de Perriault (2000)

quando cita as orquestrações e estratégias que se formam em torno dos meios de

comunicação. Vemos então no website de Serra uma conjugação de operações

estratégicas na construção da visibilidade de Serra no meio, tanto no tocante aos

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formatos, como nas estratégias de atualização, usando o website como elemento

de propagação e informação para os diversos campos.

Por um lado os menus e páginas iniciais contemplavam uma série de

propostas de interação para o usuário, buscando conduzir e pautar o processo de

navegação deste pelos conteúdos e recursos do website. Por outro vemos uma

forte vinculação do website com o HPEG e um acoplamento com vários outros

campos, cujas operações discursivas são inseridas de forma a sustentar e suportar

as propostas, projetos e mesmo a biografia do candidato.

Não podemos deixar de ressaltar a candidata a Vice, que recebe

destaque na imagem e nos banners, nos conteúdos mas é menos valorizada ou

recebe menos espaço. Da mesma forma, chamou-nos a atenção o pouco espaço ou

a posição menos privilegiada dada aos atores do campo político, mostrando a

relevância dos demais campos como elementos de sustentação da candidatura.

Assim, podemos colocar que Serra constrói seu website num amplo

cruzamento e acoplamento com vários campos, mas a mídia e seus atores recebem

espaço e relevância, sendo alçados ao papel de analistas e comentaristas da

realidade.

3.2.7 – As diferentes construções de campanha se mostram nas páginas

iniciais

Nesta parte nos propomos a efetuar recortes comparativos entre as

estratégias de construção das páginas iniciais dos websites e seus elementos

construtivos, conforme nossa proposta de leitura e análise do segundo conjunto de

elementos.

Como referido anteriormente Serra foi o único a usar dos recursos de

hipertexto proporcionados pelo meio Internet dentro dos textos e elementos do

website. Através dos fragmentos de campanha o usuário tinha a possibilidade não

só de tomar conhecimento dos atos e ações do candidato nas diversas instâncias

da campanha, mas também de travar contato direto com outros conteúdos do

website vinculados àquele ato, conteúdo ou ação.

Os banners repetiam, de certa forma, esta estratégia, resumindo os

elementos da principal propostas de Serra, o “Projeto Segunda-feira”, remetendo a

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seções com detalhamento e aprofundamento da proposta, onde a linguagem

publicitária mostrava-se de forma mais forte e presente.

Nos pop-up´s, entretanto, manifestava-se mais fortemente o discurso

político, sendo este recurso manipulado para responder ataques ou apresentar

acusações aos adversários.

Observava-se, nesta pagina inicial, a força dos atores, elementos e

discursos do campo midiático, sendo estes elementos não só de pauta, condução e

apresentação dos fragmentos de campanha como também de construção das

propostas e projetos, validando e dando suporte a postura do candidato, suas ações

e discursos.

Lula mostrava, na página inicial, uma ampla mescla de campos. Se os

fragmentos se focavam nos seus atos e ações, colocando o candidato como centro

da campanha - mas sempre falando através de sua assessoria - os banners

mostravam e davam força as entrevistas dos apoiadores oriundos de diversos

campos sociais, numa presente e constante heterorreferencia que construía a

imagem de Lula pelas relações que se apresentam no website.

O único pop-up observado apresentava uma função comercial, que

buscava gerar receita para a campanha, onde se observa uma estratégia única, o

uso do recurso de comércio eletrônico do meio para o financiamento da

campanha, onde cabe destacar a influência das regras do campo jurídico na

formatação e condução do processo.

Ciro repete, na página inicial, a forte auto-referência observada no

menu de navegação, focando e apresentando seus atos, ações, propostas e agenda

numa constante auto-referência.

Esta lógica só foi quebrada em momentos específicos e por influência

do cenário geral da campanha como, por exemplo, quando Ciro busca o apoio de

sua esposa, Patrícia Pillar, para apoiá-lo frente a uma ação infeliz numa entrevista.

Com foco bastante informativo, mas com atualização menos freqüente

que os anteriores, a página inicial de Ciro mostra uma mescla do discurso político

com uma construção, formatação jornalística, bastante vinculada às estratégias e

lógicas e construção dos players de mídia no meio.

Mas o discurso político manifestava-se mais fortemente nos pop-up´s

que, quando usados, traziam acusações e suspeitas quanto os demais candidatos.

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A página inicial do website de Garotinho, com atualizações ainda

menos freqüentes que observada em Ciro, mostrava uma forma mais publicitária.

A imagem Presidencial do candidato era destacada na barra superior, ao lado de

seus atos, ações e propostas.

Já os fragmentos de campanha mostravam os atos, ações e discursos

do candidato, mas as imagens tinham maior permanência, apresentando uma

leitura auto-referente da campanha.

Garotinho não usava pop-up e poucos banners, mostrando uma mescla

de construção jornalístico-informativa com discurso político e linguagem

publicitária numa constante auto-referência, onde elementos externos como mídia,

pesquisas e adversários eram inseridos apenas como forma de validar, construir e

destacar a imagem e as proposta do candidato.

Zé Maria já apresentava uma forte vinculação com a identidade

político-ideológica do PSTU. Apesar de apresentar sua imagem em pontos

destacados desta página e de mostra uma forte referência midiática na formatação

da página, numa construção bastante assemelhada a seus concorrentes.

Nos textos observamos o uso de coletivos – “Queremos cotas ...”, etc.

– e as bandeiras contra a ALCA e o FMI como elemento de constante pauta dos

elementos e conteúdos.

No website do PCO cabe estacar que a eleição é hierarquicamente

menor que as questões político-ideológicas do partido. Fortemente ideologizado, a

página inicial do website é pautada pela luta anti-imperialismo norte-americano,

num discurso característico dos anos 60 e 70 que se faz presente.

A disposição dos elementos na página, desde os menus e sub-menus

até os (poucos) banners mostravam uma forte desorganização e mesmo descuido

com a relações entre os elementos.

O uso e cores vivas e com forte contraste entre si prejudicava a

identificação dos elementos, e o uso de imagens de personagens como Trotski,

Che Guevara, Lênin e outros reforça o papel e o caráter de propagação ideológica

do website, mostrando ser este um elemento direcionado mais a militância do

partido do que aos eleitores em geral.

Observa-se, assim, nestas diferentes construções das páginas iniciais,

diferentes estratégias de apresentação de discursos, conteúdos e também de

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manipulação dos recursos do meio, sendo as estratégias, intenções e fazeres dos

candidatos e partidos os elemento de construção e condução destas páginas.

4. 2o Turno: novas estratégias nos espaços digitais

O primeiro turno encerra lançando Lula e Serra a um novo “round”,

obtendo respectivamente 46,4% dos votos válidos (39.444.010 em números

brutos) e 23,2% (19.700.549). Garotinho fica na terceira posição com 17,9%

(dezessete vírgula nove porcento, ou 15.175.776 votos) e Ciro com 12% (doze

porcento, equivalentes a 10.167.650 votos).

Ignorados pelas emissoras nos debates e recebendo menos espaços na

mídia regular, Zé Maria do PSTU recebe 402.038 (quatrocentos e dois mil, trinta e

oito votos, ou cerca de meio porcento dos voto válidos), Rui Costa Pimenta trinta

e oito mil, seiscentos e oito votos, e ambos desaparecem do cenário da campanha.

Garotinho manifesta seu apoio a Lula em depoimento gravado em seu

escritório político, mas não aparece em manifestações, atos de campanha ou ao

lado do apoiado, e “congela” seu website, que apenas comemora a eleição de

Rosinha no Rio de Janeiro2.

Ciro Gomes apóia Lula e aparece no HPEG ao lado e de mãos dadas

com este já no primeiro programa, onde além de agradecer aos eleitores que nele

confiaram pede votos para Lula. No website os conteúdos diretamente ligados a

campanha – Programa de Governos, peças publicitários, etc. – são retirados,

mantendo basicamente a biografia do candidato. A página inicial, entretanto,

segue sendo atualizada, mostrando o apoio de Ciro a Lula e concentrando ataques

à campanha, propostas e imagem de Serra.

Lula não muda sua estratégia geral de campanha, mostrando os apoios

e valorizando seus projetos e propostas, o que se reflete em poucas mudanças no

website, onde apenas o título de uma das seções e a disposição dos elementos da

página inicial, dando mais espaço para os fragmentos de campanha, são alterados.

2 Cabe observar que notamos mudanças e novos movimentos de atualização no website de Garotinho somente no mês de março de 2003, mas não podemos precisar em que momento este recomeça suas ações no meio.

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Serra, por seu turno, efetua mudanças em seu comando de campanha e

passa a exigir debates com seu adversário, argumentando ser a única forma de se

conhecer realmente o candidato mais preparado.

Adotando um tom mais nacionalista, contrapondo o verde-amarelo da

bandeira Brasileira - e do logotipo do PDSB – a bandeira vermelha, Serra aparece

no HPEG debatendo com auditórios das mais variadas formações, explicando suas

propostas e esclarecendo dúvidas sobre seus projetos. Esta estratégia se traduz

numa re-organização geral do website, que recebe fóruns para debate e mudança

na disposição dos links do menu de navegação.

Iniciado o HPEG do segundo turno, o website sofre uma mudança

profunda em sua estrutura. A cor predominante muda do azul da carteira de

trabalho para o verde da bandeira, associando ao tom mais nacionalista da

campanha e a oposição a “bandeira vermelha” do PT.

Surge com destaque, ocupando boa parte da área central da página,

um fórum de debates sobre temas da campanha, apresentando um cruzamento das

estratégias de campanha com as tecnologias e recursos técnicos do meio que se

somam para a construção e conformação das estratégias gerais do candidato.

Novamente a polarização da campanha se apresenta através do

website e do fórum manifestando a valorização dos discursos e estratégias

políticas. Serra busca, através dos debates, questionar a competência e as

propostas do adversário Lula, mas este questionamento é direto, feito sempre pelo

candidato, onde a Vice perde espaço assim como os atores de outros campos que

depunham a favor de Serra no primeiro turno.

4.1. Mapeamentos, caracterizações e representações

Nos dois capítulos que seguem apresentamos as especificidades do

primeiro conjunto de análise dos websites dos candidatos ao segundo turno do

pleito de 2002.

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4.1.1. Lula 13: “Programa de Governo”

Passada a votação no primeiro turno a estrutura geral do website não

se altera, mostrando a continuidade das estratégias do candidato neste novo

momento da campanha.

Da mesma forma podemos ver neste fato a avaliação positiva do

esforços e estratégias gerados, cuja manutenção seria elemento de reforço da

imagem e candidato. Ou seja, resumidamente podemos comentar que Lula não

mudou, continua o mesmo, apesar da mudança do cenário da campanha e mesmo

das mudanças estratégicas de seu adversário.

Os links do menu permanecem inalterados, mantendo a seqüência “A

vida de Lula”, “Notícias”, “O Brasil que a gente Quer”, “Eleitor de Carteirinha” e

“Participe”.

Ilustração 4.1 - página inicial em 08/10/2002

Os conteúdos das seções permanecem os mesmos, sem alterações ou

adições, sendo a exceção a seção “Notícias”. Esta mantém a sua estrutura,

diagramação e conteúdos, segue acompanhando os atos e ações de campanha na

parte central da página, mas ganha novas entrevistas com personagens como

Delfin Neto, que comenta o cenário econômico do país e faz fortes críticas a FHC.

No dia dezesseis notamos uma mudança significativa. O título do link

“O Brasil que a gente quer” foi mudado para “Programa de Governo” (ilustração

4.2), mas os conteúdos e elementos não seguem esta alteração.

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Ilustração 4.2 - página inicial em 16/10/2002

Interessante observar que já as primeiras pesquisas após o primeiro

turno mostravam Lula como franco favorito no pleito. Assim, a mudança de título

desta seção, por um lado, indica a confiança do candidato e seus assessores na

vitória e, por outro, efetiva um compromisso com o eleitor, pois o que antes era

uma proposta, um desejo ou sonho, “O Brasil que a gente quer”, passa a ser um

“Programa de Governo”, um compromisso quase com valor de um contrato com a

sociedade Brasileira.

Por um lado nota-se nesta mudança um ajuste estratégico do website

ao cenário da campanha, conformando-o a vitória indicada pelas pesquisas

eleitorais. Entretanto, não podemos deixar de notar neste movimento um clima de

“já ganhou” presente na campanha do candidato.

4.1.2. Serra 45: é verde-amarelo

Até dezesseis de outubro o website de Serra mantém-se sem

modificações significativas em sua estrutura e conteúdos. O menu permanece com

os mesmos links, na mesma formatação que encerrara o primeiro turno, mantendo

a estratégia e os conteúdos inalterados.

No início do HPEG o website passou por alterações significativas. O

menu, antes uma barra lateral à esquerda, passa a ser formatado em quatro colunas

na página inicial, sendo o fórum posicionado com primeiro link na quarta coluna,

mas os demais conteúdos permaneceram.

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Nas páginas internas, entretanto, o menu segue formando uma barra

única, onde o novo elemento adicionado, “Fórum – área de debates”, foi inserido

como primeiro link, abaixo apenas do pequeno banner do Programa de Governo.

Este novo link conduzia a uma página que continha, no topo, foto da

bancada do programa de Serra no HPEG vazia (ilustração 4.3), sem

apresentadores ou sem os candidatos, mostrando que o debate está em aberto, ou

seja, de que há um espaço a ser ocupado pelo usuário do website.

Ilustração 4.3 - Seção “Fórum – área de debates”

Abaixo, o texto ressaltava a importância do debates no segundo turno,

apresentando os vários temas propostos aos usuários. “Trabalho”, “Mulheres” e

“Agricultura” foram adicionados gradativamente em boxes abaixo deste texto,

acompanhando a página inicial – ou sendo acompanhados por esta – acima de

pequenos textos provocativos.

Destes destacamos que apenas um, sobre agricultura, não citava o PT

ou o candidato Lula diretamente, mas questionava “qual dos candidatos esta mais

preparado para defender o Brasil no exterior?”, escancarando os ataques e

questionamentos de Serra a competência e projetos de Lula e mostrando uma nova

configuração – ou suporte – para o discurso político.

Não era necessário cadastro no website para inserir ou responder

comentários - prática bastante comum em fóruns promovidos por websites

comerciais - mas apenas informar nome e e-mail (ilustração 4.4).

Ao final da inserção era apresentado aviso de que o fórum respeitava a

legislação eleitoral (no tocante a ofensas pessoais e à honra) e à constituição

vedando o anonimato dos participantes, mas este aviso era apresentado apenas

quando o usuário não tinha mais a opção de retirar ou desfazer sua ação.

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Ilustração 4.4 - mensagem escrita pelo pesquisador para o fórum “Empregos”

Nos fóruns propriamente ditos as notas não apresentavam o nome ou

e-mail do seu criador, possibilitando apenas respondê-la. As notas que inserimos

como parte de nossa pesquisa, tanto apresentando comentários como criticando

comentários de usuários, foram publicadas, mas não observamos respostas dos

usuários.

Em nossa opinião a configuração e características deste fórum não

suportam um debate propriamente dito, a troca de opiniões, sustentando ou

suportando apenas práticas de inserção de opiniões como sustentado por Rousiley

Maia (2002), citada anteriormente neste trabalho.

Esta visão é reforçada pela limitação dos temas às propostas e

intenções do candidato. Entretanto estes não se configuravam como uma barreira,

na medida em que observamos, neste fórum, muitas mensagens de apoio e mesmo

críticas ao candidato e sua postura.

A estrutura e recursos ofertados nos permitem inferir a sua criação

como elemento de estratégia de posicionamento do candidato, vinculando o

website a campanha, a sua pauta de debates e, logo, a construção de sua imagem.

Cabe destacar que no dia 25 observamos – como pode ser notado na

ilustração 4.3 – quatro temas. Além dos três citados na página inicial surge o tema

“Educação”, cujo texto acusava o PT de barrar projetos de incentivo à educação e

defendia propostas da gestão FHC.

Em nenhum momento este tema foi apresentado na página inicial

(ilustração 4.5) ou recebeu qualquer destaque além de sua inserção nesta página.

Isto nos leva a desconfiar de sua pouca relevância nas estratégias do candidato, e

de sua inserção ser apenas um elemento para atender possíveis demandas do

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público da Internet, altamente qualificado, ou mesmo apenas ser um elemento de

equilíbrio dos fóruns.

Ilustração 4.5 - página inicial em 25/10/2002

4.1.3 – A continuidade versus as mudanças

Neste momento efetuamos algumas observações comparativas das

estratégias de Lula e Serra no segundo turno, tendo em vista os dados de nosso

primeiro conjunto de análise e as análises dos mesmos candidatos no primeiro

turno do pleito.

Observamos que Lula não muda os conteúdos, recursos e formatos de

seu website, sendo isto aparentemente reflexo de uma continuidade na campanha

como um todo.

A única alteração notada foi o título da seção “O Brasil que a gente

quer”, que passou a ser denominada “Programa de Governo”, transformando os

conteúdos menos numa promessa e mais num compromisso, um projeto para o

país.

Serra, por outro lado, efetua mudanças bastante significativas. Além

de manter os conteúdos e elementos dos website no primeiro turno é adicionado

no website, um fórum de debates, e a cor azul predominante é alterada para o

verde-amarelo da bandeira.

Reflexo da nova estratégia do candidato, que busca debates com o

único adversário, é interessante observar que quem passa a pautar e exigir debates

neste momento é o campo político, ao contrário de pleitos passados onde o campo

midiático buscava pautar e realizar tais eventos, mas nem sempre contava com o

apoio e presença dos candidatos.

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Reforça-se assim a já comentada idéia de que os websites suportam

diferentes e diferenciados recursos de interação e integração entre os candidatos e

os diversos campos envolvidos no pleito.

Da mesma forma, vemos que as alterações nos conteúdos estão intima

e diretamente ligados às estratégias gerais de campanha dos candidatos,

manifestando, através dos recurso técnicos e discursivos do meio Internet, os

processos e fazeres destes no cenário geral da campanha.

Analisaremos isto em maiores detalhes nos capítulos a seguir, quando

nos focaremos nas páginas iniciais destes espaços durante o segundo turno.

4.2.Agendamentos e Cruzamentos

Este capítulo contém os elementos oriundos de nosso segundo

conjunto de análise dos websites dos candidatos no segundo turno da corrida

Presidencial Brasileira de 2002.

4.2.1. Lula 13: co-determinado por outros discursos

No período do segundo turno a página inicial do website de Lula passa

por alguns ajustes. Primeiramente, no momento imediatamente após o

encerramento da contagem dos votos do primeiro turno, o banner principal mostra

Lula segurando a estrela do PT ao lado dos textos “Mais de 39.000.000 de votos”

e “Obrigado Brasil”, que se revezam em efeito de fade agradecendo aos eleitores a

votação.

Já iniciado o HPEG este banner foi reduzido, ficando com uma

proporção mais próxima a tela de televisão, apresentando foto de Lula animada

em plano aberto mudando, e efeito de fade, para um close.

Esta imagem foi posteriormente substituída pela animação da urna

eletrônica já apresentado no primeiro turno, que permanece nas demais edições

analisadas até o dia da votação.

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A barra de “Últimas Notícias” amplia seu espaço graças a esta

redução, ganhando o mesmo espaço da imagem e inserindo imagens dos fatos e

ações de campanha. As imagens ilustrativas dos fatos e entrevistados ganham

maior espaço (ilustração 4.1.2), mostrando uma valorização dos apoios e fatos da

campanha e ampliando o espaço da política na página, ou seja, reduzindo o espaço

dos elementos publicitários para valorizar elementos mais vinculados a ações ou a

propostas e análises políticas.

Os itens “Diálogo com a Imprensa” e “Busca em notícias” são

deslocados para abaixo da imagem principal, perdendo parte de sua força dentro

da estrutura geral. No seu lugar anterior surge o link “Desfazendo Intrigas” e, ao

lado, link direto para a “Rádio 13”.

“Desfazendo Intrigas” surge num momento em que circulam

mensagens na Internet levantando suspeitas sobre a intenção do plano de governo

do PT de acabar com o direito à sucessão (ilustração 4.6).

Ilustração 4.6 - página inicial em 25/10/2002

A resposta surge nesta seção do website com o título “Nota sobre

crimes na Internet”, remetendo ao Programa de Governo constante no website

para esclarecer a não procedência de tal informação. Interessante observar que não

só o website é usado para esclarecer questões que circulam na Internet como

também p uso de conteúdos presentes desde o primeiro turno – no caso o

Programa de Governo – para responder a um ataque dos adversários.

Com o decorrer da campanha outras notas são adicionadas, uma ainda

sobre o tema sucessão, desta vez envolvendo a administração petista e os projetos

habitacionais de Porto Alegre, e outra esclarecendo a não ligação do PT com as

FARC, forças guerrilheiras da Colômbia acusadas de apoiar o tráfico de drogas.

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Esta nota foca-se não só em demonstrar que o PT não tinha relação

direta com as FARC mas, principalmente em pautar a discussão sobre o papel do

Brasil nos problemas do país vizinho e no tráfico de drogas, aproveitando para

criticar a política externa adotada por FHC.

As duas últimas notas inseridas versam sobre elementos da campanha,

sendo que uma se aproveita de matéria do jornal “Valor Econômico” para

esclarecer questões relativas aos diretores das agências reguladoras.

A última, intitulada “Serra, as verdades e as mentiras”, responde a

acusação do adversário sobre a administração petista no Rio Grande do Sul, onde

notamos que esta seção surge num momento de alta polarização da campanha para

responder ataques e suspeitas do adversário através do website.

Os banners secundários seguiam com sua função de apresentar ou

reforçar conteúdos internos das seções. “A força do PT nos estados”, que remetem

aos resultados do partido nas eleições estaduais, muda freqüentemente de posição

junto com o “Programa de Governo” e as entrevistas com as personalidades.

Ciro Gomes e Garotinho, que declaram seu apoio a Lula, são

primeiramente apresentados com fotos e depoimentos na área da imagem

principal, sendo depois deslocados para os banners inferiores, alterados – ou

revezados – com os demais conteúdos.

Neste espaço é inserida chamada para entrevista exclusiva com

Delfim Neto, logo acima do banner “eleitor de carteirinha”. Ex-Ministro da

Fazenda no período militar, signatário do AI-5, que instituiu a repressão, e

adversário histórico do PT, Delfim observa a eleição de 91 Deputados Federais

pelo PT como emblema de uma necessidade de mudança, e opina que Serra

estaria “mobilizando o velho” em sua campanha.

Sem abrir ou garantir seu voto, Delfim indica que não vê motivos para

não votar em Lula, mantidos os compromissos de campanha, sendo interessante

observar que a seção de notícias já havia transcrito entrevista do economista ao

jornal Folha de São Paulo, em que fazia fortes criticas a administração de FHC

indicando seus erros como causadores da crise econômica em que corre a eleição.

Observa-se a seqüência da estratégia de acoplamento a vários campos, que são

convidados a dar sustentação e validade à candidatura e as propostas de Lula.

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No dia da votação em segundo turno o website seguia com suas

funções. As “Últimas Notícias” acompanham o pleito e as ações do candidato. Os

aliados, assim como os candidatos estaduais, aparecem nos banners inferiores,

abaixo dos quais a fiscalização do primeiro turno reaparece.

Ilustração 4.7 - 27/10/2002 - página inicial do site de lula as 21:45h

Passada a eleição, assim como no primeiro turno a imagem principal

acompanha os dados da apuração. Quando encerrada, confirmada a vitória do

candidato, surge animação com o candidato vestindo a faixa Presidencial ao lado

do texto “Junto faremos um Brasil decente” e fogos de artifício estourando,

empossando Lula no cargo e mostrando fotos e informações das festas da vitória.

Luís Inácio Lula da Silva recebe a faixa e é “empossado” no cargo de

Presidente no website. Ou seja, não é o TSE ou o Congresso Nacional quem dão

ao candidato o status de candidato eleito, mas sim o apoio dos eleitores que vêem

seu candidato empossado, por sua assessoria, no espaço digital da campanha.

É interessante observar que, para ser inserida no website naquele

momento, a foto de Lula com a faixa Presidencial já devia ter sido obtida algumas

horas antes, mostrando que o PT confiava na vitória de Lula mesmo antes do

encerramento da votação, num possível reflexo ou influência dos resultados das

pesquisas de opinião.

4.2.2.Serra 45: Foco no debate

Na primeira data de análise do segundo turno o website de Serra

mantinha-se sem mudanças. A manchete mostrava foto de Serra, aparentemente

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captada em uma tela de TV, ao lado de manchete pedindo debates, foco da

estratégia de Serra nesta fase da campanha.

As notas inferiores remetiam ao candidato, suas falas e apoiadores,

sendo que uma delas mostra Serra no programa do HPEG, colocando o segundo

turno como “oportunidade para Serra debater soluções para o país”, mostrando a

força e o foco da nova estratégia do candidato.

No dia dezesseis de outubro, onze dias antes da votação, notamos

grandes mudanças na página inicial, apresentando os reflexos da estratégia geral

de Serra no website.

O tom azul predominante do primeiro turno foi substituído pela cor

verde em todo o website, acompanhando o programa do HPEG na TV. As fotos

dos candidatos foram deslocadas para a esquerda, ficando no primeiro ponto de

leitura. O logotipo da campanha para a direita, ficando aplicado dentro de um

losango amarelo que remetia diretamente à bandeira Brasileira.

As “Últimas Notícias”, que antes ocupavam a área central da página,

viram apenas “Notícias” ganhando um fundo amarelo suave e sendo deslocadas

para uma barra à esquerda da página, mantendo a estratégia de destacar uma

informação em forma de manchete no ponto superior, mas agora se focando

sempre no candidato e suas ações.

As notícias foram reduzidas de quatro para duas, sempre

acompanhadas de ícones ilustrativos, sendo seguidas diretamente abaixo pelas

notas, sem a separação visual entre ambas que havia na versão anterior.

Nas datas de análise, nota-se a manutenção da relação com a

campanha na TV. No dia oito, ainda no formato do primeiro turno, a manchete

apresentava foto de Serra em matéria na mídia, ao lado de texto colocando a

proposta de debates.

O dia 16 foi a única exceção, quando Serra aparece ao lado de Tasso

Jereissati, aliado de Ciro no primeiro turno que havia criticado duramente a

campanha de Serra3, em carreata no Ceará.

No dia 25, data do único debate do segundo turno, uma manchete

mostrava imagem de Serra no programa do HPEG acompanhado da assinatura da

campanha. O texto convidava usuário a assistir o debate na Globo, e o lead 3 Para mais detalhes sugerimos http://globonews.globo.com/GloboNews/article/0,6993,A354556-476,00.html

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destacava “É melhor do que nada! Veja (...) por que Serra é o candidato capaz de

mudar o país, mas mudar para melhor. Assista ao debate na Globo!”.

Interessante observar não só que o candidato aparece em foto do

HPEG onde estava sozinho, isolado, como se falasse ou se dirigisse diretamente

ao usuário do website em busca de apoios, mas também a construção do texto,

usando duas vezes o ponto de exclamação, dando um tom provocativo e mesmo

indignado ao lead.

Além disso o texto dizia que Serra mudaria o país “mas para a

melhor”, mostrando o clima polarizado da campanha e mesmo a estratégia de

ataques ao adversário Lula.

No início do HPEG na área diretamente abaixo do banner principal,

antes ocupada pelos fragmentos de campanha, surge novo banner, chamando para

debates no website. Ilustrada por uma foto de carteiras de trabalho saindo da

máquina de impressão, o título destacava “José Serra debate suas propostas para:

gerar empregos”.

O subtítulo dizia que “a partir de hoje, estaremos abertos para o debate

sobre as propostas de José Serra para um Brasil melhor”, e a legenda da foto

“Conheça as propostas de Serra para a área de debate no nosso fórum de idéias.”.

O menu recebe também link para “Fórum – área de debates”,

aparecendo como primeiro item da quarta coluna ao lado de “10 razões para votar

em Serra”, deixando a impressão de que o fórum pode ser a décima primeira.

Nota-se o mote ou discurso principal da campanha no segundo turno

refletindo-se no website. O candidato pauta sua ações e discursos por pedidos e

convocações de debates, e coloca na área mais privilegiada de leitura, ocupando o

maior espaço da página inicial, este desafio a Lula, ao mesmo tempo configurando

uma estratégia de integração do candidato e dos eleitores a partir do website.

Poderíamos até mesmo dizer que houve vários debates no segundo

turno, mas entre os usuários do website de Serra e nas propostas e assuntos que

este inseriu, buscando assim pautar a campanha em geral.

Isto é reforçado pela construção dos textos deste convite.

Primeiramente o convite mostrava que “José Serra debate” (ilustração 4.8), mas

cabe destacar que o candidato não se fazia presente diretamente no fórum além de

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suas propostas ou mesmo da pauta de assunto, sendo os mesmos apresentados por

atores de diversos campos.

Entretanto, destacamos que o subtítulo “A partir de hoje (...)” deixava

demonstra que, até aquele momento da campanha, o candidato não estava aberto a

sugestões ou idéias dos eleitores ou de outros campos, tendo apenas a intenção de

divulgar suas propostas.

Ilustração 4.8 - página inicial em 16/10/2002

Com o decorrer da campanha este fórum foi ampliado para três

assuntos, adicionando “mulheres” e “agricultura”, este último merecedor de

destaque por ser tema da foto ilustrativa, valorizando e mesmo conduzindo o

usuário nesta área.

Constrói-se assim um debate através do website, mas um debate

dentro daquilo que a campanha, as propostas e estratégias de Serra valorizam ou

desejam, buscando aparentemente limitar as ações do usuário.

Ilustração 4.9 - página inicial do hotsite empregos

A área de debates se configurava como um hotsite dentro do website

(ilustração 4.9). O hotsite de empregos apresentava entrevista com Antonio

Ermírio de Moraes, empresário que já no primeiro turno era apresentado como

apoiador de Serra, que discutia questões relativas à economia e às propostas de

Serra.

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O hotsite sobre mulheres era apresentado por um depoimento da

jornalista Silvia Popovic, e o hotsite sobre agricultura por depoimento do

professor titular da FEA-USP José Eli da Veiga, nos quais observamos que Serra

segue buscando a credibilidade de outros campos, como o empresarial, o

midiático e o acadêmico para validar e sustentar suas propostas mesmo no debate

com os usuários.

Entre a área destinada ao fórum e o menu de navegação segue a barra

com depoimentos de eleitores, e o banner animado de empregos ressurge, porém

agora situado abaixo das colunas do menu, ao lado do box do “Pelotão 45”, cuja

chamada ganha maior tamanho e cores condizentes com o contexto do website.

Observa-se que estes elementos são deslocados para pontos menos

privilegiados de leitura, mostrando que perdem força e função dentro do website e

reforçando a importância do fórum de debates para este momento da campanha,

que virou o primeiro item do menu de navegação.

Chegado o dia da votação o website de Serra mantém a mesma

estrutura e conteúdos (ilustração 4.10). O fórum segue ativo e recebendo

mensagens, mas o banner de empregos novamente é retirado da página inicial, ou

seja, a promessa principal do candidato no primeiro turno, que no segundo havia

sido deslocada para ponto de leitura menos privilegiado, desaparece novamente.

Ilustração 4.10 – página inicial em 27/10/2002 – 17:30h

Assim como no primeiro turno os fragmentos de campanha resumem-

se ao acompanhamento dos atos e ações do candidato, que desta vez aparece em

uma foto aparentemente capturada durante o debate na Rede Globo. Ele está

sozinho em uma sala ou espaço com fundo escuro fazendo o “V” da vitória,

novamente permitindo uma leitura de isolamento.

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Abaixo a manchete provocava “Estelionato ou ruína: Lula esconde do

eleitor o que faria no governo”, mostrava a leitura - ou edição - do debate na

Globo, além de se configurar como um tipo de denúncia dos atos do adversário na

campanha. Interessante observar que o debate da Rede Globo é editado não pela

emissora ou pela mídia, mas pelo campo político, ou seja, pelas propostas, ações e

posturas do candidato e por sua estratégia de ataques a Lula, elemento que já se

fazia presente em momentos anteriores no website.

As notícias remetem-se à “45 razões” e a uma declaração de Serra de

que “Eleição se decide na urna”, enquanto as notas inserem aleatoriamente

proposta de Serra, jingles, pesquisas antigas, etc., aparentemente sem critério de

seleção.

4.2.3 – As estratégias redesenham os websites

Neste capítulo efetuamos algumas comparações entre as estratégias e

elementos observados nas páginas iniciais dos websites de Lula e Serra durante o

segundo turno da eleição, tendo em vista o que foi observado e analisado no

primeiro turno.

Observamos que, assim como os conteúdos em geral, a página inicial

do website de Lula passa por poucas alterações. O espaço dos banners passa a dar

mais destaque para as imagens dos fragmentos de campanha, mas também segue o

foco no candidato, seus atos e ações, sendo este comentado e retratado por seus

assessores num formato jornalístico.

Num momento de forte polarização do pleito, as crônicas e análises de

atores de vários campos, muito presentes durante o primeiro turno, perdem espaço

para um discurso mais fortemente político, marcado por propostas e análises de

cenário.

Lula não responde aos ataques e acusações do adversário, mantendo

sua imagem “light” e aparentando um clima de “já ganhou”, sendo interessante

destacar que os pop-ups da “lojinha do PT” não foram observados durante este

processo.

Serra, ao contrário, efetua alterações radicais. O elemento central de

formatação e condução do website no primeiro turno, a proposta de empregos,

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perde força, sendo o banner deslocado para pontos de leitura menos privilegiada.

O fórum de debates, que surge vinculado ao principal discurso do candidato neste

momento, ganha força e destaque junto aos ataques a Lula, que permeiam todas as

áreas, dos fragmentos aos banners.

O website de Serra foca-se nos atores e apoiadores dos diversos

campos, principalmente o midiático, apesar de mantidos nas várias seções e

páginas, recebem menor destaque na página inicial em comparação com o

primeiro turno, mostrando uma re-organização estratégica e reforçando a

relevância do fórum de debates neste novo momento da campanha

Vemos, assim, novamente a vinculação dos websites com o cenário

geral da campanha e com as estratégias dos candidatos manifestando, através das

linguagens e tecnologias do meio, os fazeres e processos da campanha como um

todo.

5. Encerrada a contagem, a posse no espaço digital

Passada a votação e encerrada a contagem Lula é declarado vencedor

e “empossado” em seu website onde aparece em uma foto com a faixa

Presidencial (ilustração 5.1), que segue em sua função informativa.

Vários conteúdos, como as peças gráficas da campanha, são retirados,

mas as entrevistas, Programa de Governo e vários conteúdos da seção “Notícias”

permanecem disponíveis.

Ilustração 5.1 – Página inicial do website de Lula – 19/11/2002

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Instaurada a transição de governo com FHC o website é retirado do ar.

Permanece a imagem de Lula com a faixa Presidencial ao lado de texto dando

conta que 1,3 milhão de usuários efetuou mais de 12 milhões de visitas ao website

(ilustração 5.1).

Na mesma área é divulgado o endereço do website oficial do PT e do

website da transição, que informa sobre os atos e ações da equipe de transição

num formato semelhante ao do website candidato.

Serra convoca as emissoras de rádio e televisão, agradece os votos e

deseja boa sorte ao vitorioso. Os conteúdos das diversas seções, bem como os

textos e fotos da página inicial do website de Serra desaparecem, são retirados do

ar, sendo substituídos por uma carta de agradecimento aos eleitores intitulada

“Obrigado Brasil” (ilustração 5.2).

Ilustração 5.2 - website de Serra em 28/10/2002 00:30h

Num tom bastante pessoal, próprio de uma carta, Serra ressalta a

soberania das urnas, deseja boa sorte ao vencedor – sem citar o nome de Lula – e

saúda FHC por sua imparcialidade.

A tecnologia da Internet, antes suporte de várias práticas e operações

estratégicas, resume-se ou conforma-se a uma antiga prática epistolar digitalizada,

onde a própria fonte do texto – em tipo itálico - remete a um texto manuscrito.

6. Websites: um novo suporte para as (diferentes) estratégias de campanha

Neste capítulo, que encerra este bloco, apresentaremos considerações

e comparações gerais sobre as características, usos e estratégias de manipulação

dos websites dos candidatos a Presidência no pleito de 2002.

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Primeiramente devemos comentar o vínculo observado com as

identidades políticas dos partidos e candidatos nos websites, que mostram-se

como fundantes e determinantes não só da programação visual mas também da

construção dos textos e demais conteúdos. Isto demonstra, como nos referimos em

capítulos anteriores, que os espaços digitais se fazem e se constroem pelas

identidades dos campos.

Por outro lado, devemos comentar a divulgação dos endereços do

websites no HPEG, o que demonstra e reforça a sinergia entre as mídias que

forma e conforma o espaço digital de interação da Internet, colocando o mesmo

como um elemento e instância dos processos de midiatização da política.

Da mesma forma, a ausência de registros ou links com os nomes dos

candidatos a vice, que são assim colocados numa posição absolutamente

secundária se não na campanha como um todo, mas certamente como elemento de

acesso e mobilização do espaço digital.

Somando a isto a presença das fotografias dos candidatos e os

logotipos de campanha em pontos privilegiados de leitura, além do amplo espaço

dedicado as biografias dos candidatos, vemos que os websites buscam situar

claramente o lugar e espaço de contato em que o usuário se encontra, ou seja, a

quem pertence o espaço e com quem ele está falando (ou, no caso, clicando).

Se, por um lado, isto facilita o reconhecimento e identificação por

parte do usuário, por outro se pode colocar ai um reflexo daquilo que Bourdieu

(2000:164) denomina de “domínio dos profissionais”. Ou seja, da personificação e

personalização da campanha em detrimento das siglas partidárias, que se

manifesta também no espaço digital de campanha. Esta percepção é reforçada

pelas posições menores ou menos destacadas dos partidos, que pudemos observar

principalmente nos websites de Lula, Ciro e Serra.

A exceção desta lógica são os websites de Garotinho, que reservou

amplo e destacado espaço ao PSB, e os de Zé Maria e Rui Costa Pimenta, cujas

campanhas tem uma forte marca ideológica, com ênfase na identidade partidária.

Estes divulgavam no HPEG os endereços dos websites dos partidos, com extensão

“.ORG”, mostrando ser eles, candidatos, divulgadores e propagadores não das

propostas deles, candidatos, mas sim das propostas e bandeiras dos seus partidos.

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Assim, vemos que os websites são diretamente vinculados as

identidades dos atores e partidos que nele investem, tornando-se uma instância de

projeção e propagação de suas estratégias, agendas, projetos e propostas.

Entretanto, isto não se repete no tocante a formatação dos websites,

que se são vinculados a programação visual desenvolvida nas diversas mídias,

mostrando uma forte influência dos players de mídia na Internet, como pode ser

observado nas telas colocadas a seguir (ilustrações 6.1, 6.2, 6.3, 6.4, 6.5 e 6.6).

Ilustrações 6.1 e 6.2 – páginas iniciais de Terra e de Serra

Primeiramente, os logotipos das campanhas são colocados no canto

superior esquerdo, no primeiro ponto de leitura e na mesma posição dos logotipos

dos portais. Em segundo lugar os menus são formatados como barras com tópicos

organizados hierarquicamente, e as notícias e informações mais recentes são

apresentadas no centro da tela ao lado dos menus, da mesma forma que Terra e

UOL.

Ilustração 6.3 e 6.4 – páginas iniciais do UOL e de Ciro

Em terceiro lugar observa-se o uso de imagens ao lado das notícias

como elemento de ilustração e reforço das informações, mas sem uma constante

ou obrigatória vinculação as mesmas.

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Da mesma forma a posição e tamanho dos títulos e sub-títulos dos

fragmentos, um formato que repete não só os padrões destes portais, mas também

as lógicas do jornalismo impresso, o que também observamos no uso de boxes

como forma de destaque de certos conteúdos.

Finalmente, observamos que os websites são formatados para telas de

computador com dimensão oitocentos por seiscentos pixeis, padrão dos softwares

e sistemas da indústria de informática, gerando áreas em branco a direita ou os

dois lados, garantindo ou forçando a organização e visualização dos elementos

conforme as estratégias e intenções do produtor.

Ilustrações 6.5 e 6.6 – Páginas iniciais da AOL e de Lula

Destas observações vemos os websites dos candidatos como uma

instância de midiatização e visibilidade onde o campo político conforma-se aos

formatos, lógicas e processos criados, oriundos dos players de mídia no meio.

Isto reforça a idéia que a Internet hoje configura-se como meio de

comunicação, onde formatos, lógicas e linguagens de determinados players se

cristalizam e afirmam, influindo diretamente nas lógicas e estratégias de outros

campos em seus espaços no meio.

Ou seja, os websites repetem um jogo de adequação da política as

linguagens, formatos e mesmo estratégias midiáticas para construir sua

visibilidade e se fazer reconhecida no meio, mantendo processos de

intertextualidade e interdiscursividade, de relação com outras mídias, cujos

elementos e agendamentos se fazem presentes como elementos de alimentação,

sustentação e mesmo validação do espaço digital.

Pode-se colocar nesta questão uma forma de conquistar, manter o

usuário presente e constante no espaço de interação através de formatos que estes

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conhece ou domina e que, por isso, são mais confortáveis, mas fáceis de manejar

ofertando mais segurança ao mesmo.

Entretanto é importante ressaltar que, ao contrário destes portais, os

websites mantém suas características e formatos por todas as páginas e seções. Se

isto pode ser creditado a menor quantidade de conteúdo dos websites dos

candidatos, se comparado aos portais, por outro insere o usuário numa moldura,

num ambiente de contato coerente, lógico, que assim facilita a experiência e

mesmo permanência deste no espaço.

Além disso, se observarmos a amplitude de conteúdos e recursos

presentes nos websites dos candidatos vemos que estes são construídos para uma

multiplicidade de usuários, de leitores, cujas variadas expectativas e anseios frente

a campanha são – ou pretendem ser – atendidas - possibilitando assim uma

multiplicidade de leituras e construções discursivas.

A título de exemplo, e retomando as descrições contidas nos capítulos

anteriores desta parte, podemos citar desde a mídia e seus atores, que tem nos

websites uma fonte de informações e contato com os candidatos e suas

assessorias, quanto os eleitores, que nestes espaços podem aprofundar suas

opiniões e esclarecer suas dúvidas, e mesmo outros partidos e até adversários na

campanha.

Ou seja, os websites se configuram como espaços de oferta plural,

universal, cujos conteúdos para interação são construídas de forma a antecipar e

atender o máximo de expectativas dos possíveis usuários, e onde estas estruturas,

presentes e permeando todas as páginas e seções, mantém e demonstram uma

coerência na apresentação e formatação dos diversos conteúdos e recursos, que

pode ser interpretada como um coerência no discurso político que se manifesta e

adentra o espaço digital.

No tocante aos conteúdos dos websites podemos notar alguns pontos

em comum. Além do foco nos candidatos e dos fragmentos de campanha, todos

apresentavam o Programa de Governo completo em diferentes formatações,

cruzando desde os textos das propostas propriamente ditos com discursos dos

candidatos e linguagens publicitárias, trazendo para perto do usuário-eleitor, em

sua tela, o conjunto e a complexidade das análises e posições do candidato.

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Os websites continham também, de diferentes formas, as biografias

dos candidatos e os materiais de campanha para cópia e produção local,

facilitando o processo de integração da campanha para o usuário.

Por outro lado, é interessante recordar a localização do usuário nos

convites para interação, sempre na segunda pessoa. “Clique aqui e ...”, “Fale com

...” são dois exemplos de formatação dos convites para interação. Repetem-se

estratégias de convocação e mobilização política usadas nos outros meios, onde os

eleitores são convocados a participar e se integrar eventos de campanha,

mostrando uma repetição de padrões discursivos nos websites que mostram o

quanto estes estão vinculados as culturas e processos que se dão e se fazem na

sociedade e no campo político.

Devemos destacar a absoluta ausência da palavra “vote” nos websites,

apesar da presença dos números e de instruções de uso da urna eletrônica e

mesmo “colas” para votação. Vemos assim que os candidatos buscam, através dos

websites, informar, educar e seduzir mas não convocar os usuários a votar,

apostando na informação e nos conteúdos para a formação de sua imagem,

visibilidade e conseqüente conquista dos votos.

Tomando agora a questão comparativa a partir das categorias de

análise propostas e expostas em nosso capítulo metodológico, vemos diferentes

estratégias de manipulação e exposição dos conteúdos e ações dos candidatos.

Todos os candidatos apresentam os fragmentos de campanha nas

páginas iniciais, reforçando e referindo-se ao cenário da campanha, mas de

diferentes formas e com diferentes estratégias.

Se Lula evita efetuar ataques diretos aos adversários nesta área,

reserva-os para si e seus apoiadores, colocando atos, fatos, discursos e ações de

campanha colocando em si, no seu partido e na sua equipe a capacidade, valor e

efetividade de pautar e acompanhar a campanha em geral, numa constante auto-

referência.

Observa-se ai um reflexo da estratégia geral da campanha, onde Lula

buscou não só mostrar-se de forma mais “light”, mas também que não iria

governar sozinho, antecipando criticas e elementos de ataque usadas pelos

adversários em campanhas anteriores. Processo semelhante é observada nos

websites de Serra, Ciro e Garotinho.

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Serra pauta sua falas no primeiro turno pela programa de emprego, e o

website apresenta em amplos formatos e materiais esta proposta, utilizando

inclusive a cor da carteira de trabalho como elemento predominante. Já no

segundo turno Serra passa a provocar Lula para debates, e o website é

reformulado ganhando um fórum de debates.

Ciro apresenta seu plano de governo, suas propostas, e ataca

fortemente os adversários das mais variadas formas, o que se mostra nos

fragmentos de campanha inseridos no website e mesmo nos banners e pop-up´s.

Já Garotinho propõem o aumento do salário mínimo, cujo vídeo fica

presente no menu durante toda a campanha, e “dispara” críticas a todos os

adversários, que se fazem presentes e freqüentes nos fragmentos de campanha.

Zé Maria, por seu turno, que no HPEG chama Serra, Ciro e Garotinho

de “candidatos da burguesia” e cobra de Lula posições em prol dos trabalhadores,

apresentando e discutindo questões de fundo da sociedade, no website constrói os

fragmentos de campanha a partir de seus discursos e falas numa constante auto-

referência onde o website serve de suporte, apoio e mesmo elemento de

visibilidade dos discursos, bandeiras e ideologias do mesmo.

Já Rui Costa Pimenta parecia não estar preocupado com a campanha,

pois os fragmentos não só apresentavam a campanha como eram estáticos,

colocando e debatendo questões até mesmo desvinculadas do cenário nacional,

como a invasão norte-americana ao Iraque.

Entretanto observa-se neste mesmo website uma valorização constante

da biografia, da personalidade do candidato, que recebe o status de líder condutor

das questões e debates do partido de forma bastante semelhante aos demais

candidatos.

Um ponto em comum entre Serra, Ciro e Garotinho é que em seus

websites o campo midiático recebe destaque como fonte não somente da pauta dos

assuntos, mas principalmente como fornecedor de elementos e argumentos a favor

do candidato ou contra os adversários.

Repetiam-se, assim, estratégias de aproveitamento e mesmo

cruzamento das pautas e agendas dos candidatos com elementos e materiais

oriundos do campo midiático para a construção e sustentação dos discursos,

propostas e projetos dos candidatos.

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Além disso foi possível observar fortes marcas dos discursos

jornalístico em todos os websites, onde a permanente localização do candidato em

terceira pessoa – “Lula esteve...”, “Ciro fala...“, “Serra propõem...”, etc. – e as

constantes referências dos mesmos ao cenário e elementos da campanha, somada

a adoção de títulos e leads jornalísticos na construção, mostram-se como maiores

emblemas.

Assim, além de se adaptar e apresentar em formatos e padrões

midiáticos os websites também se utilizam, ou são construídos, por lógicas do

campo midiático, demonstrando a força e valor deste no cenário da campanha

eleitoral.

Os fragmentos de campanha mostram-se, de forma geral, como

elemento e espaço de competição do campo político com o campo midiático, pois

os candidatos usavam de lógicas, linguagens e estratégias midiáticas para

apresentar e dar visibilidade a seus elementos, estratégias e discursos. Ou seja,

repetem-se no meio lógicas de cruzamentos, acoplamentos e conflitos entre o

campo político e o campo midiático como forma de construção da imagens e

fazeres dos candidatos.

Os banners, por sua vez, apresentavam-se fora dos padrões de

formato, dimensão e peso (em bytes) usados e propostos pelos players de mídia, e

se mostram mais presentes e fortes nas páginas iniciais dos websites, dando força,

destaque e maior visibilidade as determinados conteúdos.

Primeiramente devemos lembrar as barras superiores dos websites,

que apesar de não gerar link para conteúdos apresentavam as imagens dos

candidatos e os logotipos de campanha, sempre em conformidade com a

programação visual criada, onde notamos novamente o foco na personalidade dos

candidatos nos websites, usando de linguagens e estratégias eminentemente

publicitárias.

Já os banners menores, com link, permitiam “saltos” dentro dos

conteúdos dos websites, pautando a navegação do usuário ao evitar desvios que

poderiam se formar durante a navegação.

Para esclarecer esta noção desenhamos uma ilustração esquemática da

navegação do website de Lula, levando em conta as entrevistas apresentadas no

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banners secundários e sua posição dentro das estruturas dos conteúdos (ilustração

6.7).

Ilustração 6.7 – percurso de acesso as entrevistas do website de Lula.

Observa-se que os banners das entrevistas conduzem o usuário de

forma direta as mesmas, evitando a passagem por duas seções e páginas onde os

demais conteúdos poderiam prender ou desviar o usuário. Nota-se assim que os

banners apresentam elementos de maior relevância para as estratégias dos

produtores.

Vemos então que Serra foca o uso dos banners para apresentar os

conteúdos referentes a sua principal proposta, o “Projeto Segunda-feira”, que foi

elemento determinante também da escala de cores e formatos adotados não só no

website mas também nos demais materiais e instâncias de campanha. Além disso,

dá amplo espaço para atores do campo midiático, que comentam e reforçam suas

propostas, acoplando-se a estes para construir sua imagem e visibilidade.

Lula, por sua vez, no HPEG apresentava suas propostas e seus

apoiadores, buscando mostrar que não governaria sozinho, e os banners do

website focavam-se em sua imagem e suas propostas, além de mostrar os apoios

que recebe de diversos campos, buscando assim construir sua imagem como

candidato capaz de governar através dos apoios que recebe.

Ciro, diferentemente, usa o banner superior e os banners junto ao

menu para reforçar suas propostas e itens de seu Programa de Governo,

manipulando os mesmos como elementos de apresentação do discurso político,

vinculados ao candidato e sua propostas, bastante semelhante a sua falas e

aparições no HPEG.

Já Garotinho, da mesma forma, reserva o banner da barra superior

para sua imagem e propostas e os demais – se podemos denomina-los de banners

– para seu partido, numa estratégia de integração e visibilidade para o partido.

Finalmente, Zé Maria dedica os banners a sua falas contra a ALCA e

o FMI, e o maior de todos, com a imagem da bandeira do Brasil, para os

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candidatos nos estados, mostrando uma estratégia de propagação ideológica que

repete as estratégias, falas e discursos do HPEG.

Temos então os banners mostrando-se como a linguagem publicitária

dentro dos websites, identificados com as estratégias gerais dos candidatos, como

forma de conduzir os usuários dentro da estrutura, apresentando e reforçando

visualmente elementos estratégicos para os candidatos.

Os pop-up´s repetem este processo, mas se apresentam com menor

freqüência, o que acreditamos ser fruto da impopularidade deste recurso junto aos

usuários4. Lula usa este recurso remetendo-se sempre a loja virtual de venda de

produtos com a marca do PT, mostrando uma estratégia de valorização e captação

de recursos pra a campanha. Serra e Ciro, por sua vez, usam os pop-up´s como

suporte a discursos eminentemente políticos, atacando aos principais adversários.

Os demais candidatos não utilizam pop-up´s, e nas edições onde estes

foram observados notamos uma forte vinculação com o cenário da campanha, ou

seja, sendo utilizados como forma de destacar e apresentar discursos referentes a

fatos e fenômenos diretamente ligados a temporalidade da campanha Presidencial.

Os “itens” foram a categoria menos observada, sendo presentes junto

e complementando os fragmentos de campanha através de campos de busca ou

destacando conteúdos de seções internas que não eram merecedoras de espaço nos

banners, como “Diálogo com a imprensa” do website de Lula.

Tendo estas questões em vista podemos colocar que os websites de

campanha são construídos a partir das lógicas do campo político operados com

estratégias, linguagens e formatos que gradativamente parecem estar se

cristalizando no meio Internet, oscilando entre processos auto e heteroreferenciais

(LUHMANN: 2000:14-22) na construção de seus discursos e visibilidades.

Ou seja, da mesma forma que pode ser observado no HPEG a política

configura, “veste” seus espaços com as características, elementos de linguagem e

da própria gramática do meio que opera a partir de sua agenda de intenções, ou

seja, dos efeitos que busca construir e os resultados que deseja obter mas sempre

relacionando-se ao cenário da campanha e aos demais atores envolvidos.

Com isto vemos que o campo político se efetiva e se valida através de

várias operações estratégicas e discursivas que passam e são suportadas pelas 4 Recordamos, aqui, que o provedor UOL divulga como diferencial frente aos demais provedores de acesso, o “Anti Pop-Up UOL”, recurso que bloqueia automaticamente a apresentação destas janelas para o usuário.

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linguagens, técnicas e formatos midiáticos, colocando-se como um campo em

avançado estágio de midiatização, que se relaciona, constrói e legitima não

somente, mas principalmente, por e através de lógicas, processos e linguagens

midiáticas.

Vemos ainda que nos espaços digitais dos websites continuam valendo

os “códigos da política”: o candidato, sua imagem, suas propostas, seus discursos,

a identidade partidária, os atos e ações de campanha, etc., que se moldam, se

adaptam e se conformam a uma moldura tecno-midiática.

Temos então os websites do campo político como o somatório de uma

complexidade de operações estratégicas, técnicas, discursivas e de linguagem que

somam e articulam diferentes e diferenciadas funções, conteúdos e discursos

coligados, que são engendradas pelas relações entre campos e pelo cenário social

em que se inserem.

Referências Bibliográficas

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estudos. Rio de Janeiro, FORENSE, 2002.

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A Política nos espaços digitais

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IV – Conclusão

“A Internet é uma tecnologia que não é nem boa nem má

em si. Só o uso que se fará dela é que nos conduzirá a um

julgamento. É por isso que a razão hoje, mais do que

nunca, não pode adormecer.”

José Saramago1

Ao iniciarmos este trabalho nos propusemos a entender os recursos

mobilizados pelo campo político nos websites da Internet, bem como as tensões,

negociações, agendamentos, cruzamentos e mesmo conexões que se colocavam

nestes espaços de campanha.

Objetivávamos examinar e identificar as formulações e funcionamento

das estratégicas tecno-midiáticas construídas pelos candidatos na eleição

presidencial de 2002 nos websites da Internet. Por exemplo: como se

manifestavam tais elementos, tais estratégias, e como influíam na construção e

reconhecimento da política e seus atores na sociedade Brasileira? Estas perguntas

nos acompanharam em todo o processo de pesquisa, estimulando a buscar

caminhos que permitissem construir respostas para elas.

Se colocássemos o foco na tecnologia da Internet, como o objeto

suscitava e mesmo atraía, estaríamos de partida sendo injustos com os objetos.

Isto porque a tecnologia mostrava-se como um elemento condutor, formatador,

um sustentáculo para as operações estratégicas e elementos que observávamos.

1 http://www.oficinainforma.com.br/semana/leituras-991218/12.htm [10/2003]

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Entretanto não era determinante dos processos e procedimentos que

vimos em nossa pré-observação, o que as diferentes construções visuais e

discursivas nos menus dos websites dos presidenciáveis, em si, já indiciavam.

Assim, os websites nos pareciam ser fruto, resultante das estratégias e

características dos atores políticos que investiam no meio. Ou seja, os websites se

mostravam construídos e caracterizados em torno das identidades e processos

daqueles que nele investiam usando da tecnologia.

Tendo tal percepção clara a nossa frente buscamos um rumo que

permitisse uma visão do meio a partir dos investimentos dos atores do campo

político e dos efeitos que buscavam extrair. Focamo-nos então nas operações

discursivas e suas estratégias.

Visando enfrentar estas indagações estruturamos as três partes deste

trabalho, onde trabalhamos os conceitos e teorias que nos auxiliaram a olhar os

objetos, suas características, processos e fenômenos que manifestavam.

Na primeira parte buscamos compreender as razões e processos que

midiatizam a política. Na segunda parte estabelecemos uma visão da midiatização

política via Internet, que somadas e articuladas nos permitiram construir a terceira

parte, onde contemplamos as descrições, leituras e análises dos websites dos

presidenciáveis.

Afastando-nos da idéia de que a tecnologia é fator determinante, que

fatores outros ocorriam para que a política fosse midiatizada via Internet? A

noção de campos surgiu para nos auxiliar a responder esta demanda, nos

permitindo demarcar claramente as fronteiras e competências do campo político,

bem como os demais campos que operavam sobre o processo eleitoral.

Assim surgia a necessidade de uma visão sobre os processos e

especificidades dos meios de comunicação na sociedade atual. Tomamos

emprestada, então, a noção de midiatização, por entender que ela seria

esclarecedora para compreendermos o papel que desempenham as lógicas

midiáticas sobre o processo eleitoral, onde temos o campo político em ampla e

permanente negociação com a mídia para ter seus processos e fazeres visíveis

junto à sociedade.

Sabe-se que a mídia acelera os processos sociais em geral. Atingindo

amplas audiências a mídia pauta os processos sociais e gera novas velocidades e

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visibilidades para os campos, colocando-os na esfera pública e influindo sobre os

processos que se colocam e se mostram em suas operações.

O campo político, em cujo interior ocorrem permanentes disputas pelo

apoio e alianças de outros campos, acopla-se à mídia para perfazer seus processos

e cumprir suas agendas. Ou seja, para através da ampla cobertura e visibilidade da

mídia obter o necessário apoio de outros campos, que num período eleitoral

manifesta-se através do voto.

Por isto o campo político lança mão de seu poder regulador e cria

instâncias próprias de midiatização como, por exemplo, jornais de partidos ou a

“TV Senado”, que trazem a possibilidade de gerar e gerenciar sua própria

visibilidade midiática, configurando ofertas vinculadas diretamente a suas

estratégias, desejos e processos e colocando-se como competidor pela audiência

da mídia. O principal exemplo disto, num processo eleitoral, quando o campo

político deve conquistar em curto espaço de tempo o máximo apoio dos demais

campos sociais, revela-se na experiência do Horário de Propaganda Eleitoral

Gratuita.

Esta midiatização impõe para o campo político a necessidade de novas

habilidades e procedimentos não-inerentes a sua experiência e competência,

moldando-os aos formatos midiáticos e adequando-o às linguagens, estratégias e

processos destes para construir sua visibilidade no pleito. Mas este processo não é

linear, mas sim se dá através de amplas e constantes negociações, que manifestam

o conflito e a disputa, inerente a relação entre os campos sociais.

Surge aí o primeiro delineamento conceitual do trabalho. Se o campo

político necessita do apoio de outros campos para obter poder, e se através da

mídia obtém uma ampla audiência e faz seus processos visíveis para uma boa

parcela dos outros campos num curto espaço de tempo, estaria ai o cerne do

investimento dos atores políticos na Internet.

Ou seja, a aceleração causada pela mídia sobre os processos do campo

político, somada a própria marca temporal do processo eleitoral traz a necessidade

de mobilizar o máximo de instâncias, elementos e linguagens midiáticas. Vemos,

aí, a motivação para o investimento dos atores políticos e instituições partidárias

nos websites.

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Mas a midiatização do campo não se trata, como já referimos, de um

processo linear. A mídia e suas tecnologias têm características, operações e

linguagens específicas que precisam ser manipuladas por aqueles que se desejam

fazer visíveis em suas redes. Ou seja, um campo que deseje se expor através da

mídia deve estar em conformidade com as linguagens, processos e estratégias

desta para cumprir suas agendas e gerar seus efeitos.

Surge aí o papel do especialista em mídia, presença constante ao lado

dos candidatos formatando estratégias e discursos e adequando-os as lógicas dos

meios de comunicação. Assim, auxiliam na visibilidade, no reconhecimento

destes dentro do processo eleitoral e, claro, na possível e desejada conquista dos

eleitores.

Os especialistas trabalham sobre os “códigos políticos”, ou seja, as

identidades, estratégias e elementos inerentes aos atores e instituições,

formatando-os dentro da lógica da midiatização para formar e facilitar o

reconhecimento e validação destes por parte dos eleitores.

Os “códigos políticos” mostram-se como auto-referenciais, vinculados

a elementos e processos internos ao campo, ou seja, às identidades do atores e

instituições. Mas estes se moldam e são formatados em conformidade com

linguagens e processos do campo midiático, sofrendo também regulações oriundas

do campo jurídico, em movimentos heterorreferenciais.

Nestas auto e heterorreferencias travam-se complexas negociações

entre os atores e campos envolvidos, que estão em permanente troca e interação

para validar os processo e verificar os cumprimento da regras inerentes ao

processo eleitoral. Da mesma forma os especialistas negociam, simbolicamente,

com os meios, recebendo destes os elementos e linguagens para a formatação da

visibilidade dos candidatos.

Vemos, assim, que a linguagem do meio influi sobre os processos dos

campos. Mas o meio também é influenciado por aquilo que o campo político

deseja expor, sendo construída em conformidade com o meio, numa negociação

simbólica e estratégica para os objetivos do campo.

Nota-se assim que a midiatização da política não se trata de um

processo unívoco, unilateral ou mesmo unidirecional, mas sim de um conjunto de

complexas negociações entre os campos, os meios e seus atores que se influem e

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tensionam mutuamente dentro do cenário social, surgindo aqui outra demarcação

conceitual para o trabalho.

Estas negociações também podiam ser notadas nos websites. Os

candidatos investiam sobre o meio para perfazer suas estratégias e objetivos, e

deste recebem influências de várias ordens, adequando-se a lógica da Internet.

Recordando a diversidade de elementos discursivos e linguagens presentes nos

websites, explanada na terceira parte deste trabalho, vemos claramente estas

negociações e suas diferentes e variadas manifestações.

Ou seja, a partir da diversidade e das diferentes construções visuais e

textuais dos websites vemos as diferentes estratégias de investimento no meio por

parte dos candidatos, reforçando a impressão de que a tecnologia e a linguagem

são elementos de sustentação moldados em torno das identidades e propósitos

daqueles que investem no meio.

Alguns exemplos ilustrativos deste processo de negociação entre as

estratégias dos candidatos e o meio são a formatação das páginas antecipando

configurações de telas, buscando garantir a visualização dentro das estratégias dos

candidatos e repetindo formatos amplamente usados pelos players de mídia do

meio; a programação visual dos websites em conformidade com as estratégias

gerais de campanha; a construção discursiva dos menus de navegação e sua

presença em todas as áreas do websites. Da mesma forma são exemplos a inserção

dos planos de governo em diferentes formatos e com diferentes tecnologias, a

presença de formulários de contato com o candidato, onde alguns buscavam

limitar, enquadrar as manifestações dos usuários, a freqüência de atualizações e o

destaque a fatos recentes nas páginas iniciais.

Uma das conclusões que extraímos disto é que a Internet é,

efetivamente, uma mídia. Restava, entretanto a pergunta: o que a caracteriza,

quais os processos e procedimentos que permitem que seja vista como um meio

de comunicação social?

Recordamos aqui brevemente o que nos mostram Verón e Alsina,

quando se referem ao acesso plural e a formação de um mercado de mensagens

para o reconhecimento de uma tecnologia com meio de comunicação. Em mesmo

sentido devemos recordar de Perriault, que cita as lógicas dos usos e dos

investimentos dos usuários dando sentido e novos desenhos a uma tecnologia e

fazendo com que esta seja reconhecida como meio de comunicação.

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Ora, a tecnologia da Internet evoluiu pelas incidências de diferentes

atores e campos. De um meio para armazenamento, circulação e recuperação de

dados e informações a Internet evoluiu para suportar diferenciadas práticas

simbólicas e discursivas, necessárias a estes atores e campos em suas estratégias.

A Internet ganhou, então, elementos que suportam a troca discursiva

entre atores através de sua tecnologia, formando e suportando práticas

interacionais e discursivas, o mercado de mensagens a que se referem os autores.

Os diversos campos sociais passam a se organizar em função do meio,

investindo no mesmo para o cumprimento de seus processos e suas estratégias

simbólicas. A tecnologia ganha, então, valor e sentido social, formalizando e

operando interações e negociações sobre suas redes técnicas, tornando-se meio

pela qualificação conferida por processos sociais e políticos concretos.

Vemos que a Internet se apresenta realmente como um meio de

comunicação, somando-se ao campo midiático e mostrando-se como uma

instância dos processos de midiatização da sociedade, recebendo investimentos

discursivos, processos simbólicos e interacionais efetuados por atores de

diferentes campos dentro de suas estratégias, processo que ocorre sobre uma

tecnologia.

Os candidatos a Presidência no pleito de 2002 reforçam esta nossa

percepção ao investir no meio dentro e a partir de suas estratégias

comunicacionais e discursivas, criar espaços demarcados e vinculados as suas

identidades, conferindo ao meio status de mídia político-eleitoral. Destaca-se, aí,

mais um importante conceito para nosso trabalho.

Esta percepção é reforçada quanto recordamos das diferentes

construções visuais, discursivas e estratégicas desenvolvidas por Lula, Serra,

Garotinho, Ciro, Zé Maria e Rui Costa Pimenta, mostrando uma forte vinculação

com as identidades políticas, processos e propostas dos mesmos.

Ou seja, os websites se mostravam construídos a partir de elementos e

estratégias de outros lugares, apresentando e remetendo também a elementos de

outras mídias, como o HPEG. Isto se manifestava não somente na programação

visual dos espaços, no privilégio das imagens em detrimento das siglas

partidárias, mas também nos endereços dos websites, os domínios, elementos de

demarcação dos espaços digitais.

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Nesta demarcação pelos campos reside uma característica marcante

dos espaços digitais: a demarcação territorial que os campos formam para facilitar

o seu reconhecimento pelos usuários e construindo, assim, seus processos e

visibilidades no meio. Ou seja, podemos dizer que a Internet é uma mídia

territorial.

Para explicitar esta idéia recordamos a terceira parte deste trabalho,

onde colocamos que os websites são acessados a partir de endereços, os domínios

virtuais, regulados no Brasil pelo “Registro.br”. Estes domínios são diretamente

ligados a uma lógica de campos, pois a sua configuração se constrói a partir dos

fazeres, competências e, principalmente, identidades do que neles investem.

Os domínios demarcam os espaços de interação, identificando aqueles

que nele estão investindo, onde a própria denominação “domínio” para os

endereços mostra a questão territorial, de posse, demarcação e identificação que

se forma nos espaços digitais dos websites. Demarcam, assim, os espaços digitais

como territórios, uma área de posse de um campo onde se manifestam suas

identidades e processos.

Da mesma forma estes espaços manifestam as identidades, os fazeres

e as estratégias do ator e campo, que se projetam sobre o meio formatando e

conduzindo os processos interacionais e permitindo – e até mesmo facilitando – o

reconhecimento de um capo no meio.

Domínios e identidades dos atores se somam e articulam na

formatação das fronteiras dos espaços digitais, onde ocorrem, operam e se fazem

processos de comunicação e interação entre diferentes atores por cia tecnológica.

Assim, temos os espaços digitais como territórios criados e formatados pelos

diferentes atores do campo político para efetivar seus processos comunicacionais

no meio Internet, onde suas identidades são o elemento condutor, formatador e

delineador dos mesmos.

Isto pode ser notado nos websites dos candidatos, cujos endereços não

só estavam vinculados diretamente ao candidato ou partido em campanha, mas

manifestava as identidades políticas, estratégias e processos comunicacionais

destes nas diversas ofertas presentes nestes espaços. Se recordarmos do uso dos

números por dois candidatos na formatação de seus domínios e da própria

divulgação, no HPEG, dos endereços dos websites teremos esta percepção

reforçada.

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Vemos assim que os espaços digitais sustentam e manifestam, em si,

processos auto e heterorreferenciais do campo político na construção e

configuração dos elementos constituintes dos mesmos.

Tal demarcação conceitual mostra-se relevante no momento em que

nos leva a compreender a principal diferenciação da Internet das demais mídias, a

territorialidade dos campos formam dentro de seus espaços, demarcando

competências, processos e fazeres. Isto é, a Internet não deixa de ser mídia, mas

tem uma especificidade face às demais quando ela permite demarcações

territoriais para os campos a partir de suas diferentes identidades, processos e

fazeres.

Entretanto, devemos lembrar que a Internet não possui fronteiras, ou

seja, não há – a priori - limitações para a circulação do receptor pela quase

infinidade de espaços digitais construídos no meio. Reside ai o que consideramos

o maior desafio para o campo político neste meio: lidar com as condições de

recepção de suas mensagens, visando a efetivação de suas estratégias.

Muitos manuais com regras sobre a construção de processos de

comunicação na Internet, onde podemos lembrar de Venetianer (1999), citam que

na Internet devemos ofertar conteúdo de valor. Devemos lembrar, então, que

conteúdo de valor é aquilo que o receptor deseja ter contato, ou seja, aquele

elemento que satisfizer suas necessidades de informação, entretenimento, etc.

Isto demonstra a alta complexidade do processo de formatação e

construção dos espaços digitais, pois assim como nas outras mídias é preciso

estipular, antecipar não só as expectativas do receptor mas principalmente as suas

ações e os percursos que pode construir, seus movimentos, buscando assim

mantê-lo no espaço ou em certas e presumíveis condições de recepção.

Assim podemos inferir que a oferta é construída pelo produtor

antecipando as possíveis expectativas e necessidades do receptor. Este é

interpelado e age sobre estas ofertas formando o seu processo discursivo através

do contato com estas ofertas. Forma-se ai o que denominamos de contrato de

leitura dos espaços digitais.

O discurso político presente no meio deve ser, então, formatado e

planejado para perfazer todas as estratégias do campo e atender o máximo de

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A Política nos espaços digitais

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necessidades dos usuários, desafios que como em todas as mídias não se impõe

linearmente.

Amplia-se assim o discurso do campo político, ou seja, manifestam-se

estratégias e são feitos movimentos no sentido de buscar antecipar os movimentos

do receptor configurando uma ampla oferta de conteúdos. As possibilidades de

construção das estratégias são múltiplas, e algumas delas até oferecem a sensação

de atendimento de suas expectativas junto ao receptor. Entretanto persiste uma

zona de interrogação sobre os manejos que a recepção faz destas, uma vez que

imaginamos que os receptores, assim como os candidatos e partidos, têm

estratégias e objetivos específicos dentro do pleito e, assim, valorizam aquilo que

lhe for mais importante ou relevante frente ao cenário geral da campanha.

Devemos lembrar que notamos que as páginas inicias pautavam,

buscavam conduzir o receptor em seu processo de interação, além de refletir os

cenário geral da campanha. Ora, como todos os meios de comunicação a Internet

está inserida no tecido social e no contexto das diversas mídias em seu entorno,

que influem, tensionam e, em determinados momentos, determinam a construção

e formação das ofertas comunicacionais e discursivas em seus espaços.

Ou seja, a Internet existe e recebe investimentos engendrada por um

contexto maior que seus espaços, o que gera estratégias e necessidades de

produção e expectativas dos receptores. Manifestam-se, assim os acoplamentos

efetuados pela política nas demais instâncias e os entrecruzamentos com outros

campos durante a campanha.

Logo, o processo de construção e formatação dos espaços digitais

mostra-se semelhante ao que ocorre nas demais mídias, ou seja, a identidades,

estratégias e intenções políticas dos atores e integrantes do campo se colocam

como elementos fundantes do processo, sendo moldadas a tecnologia, às

linguagens, recursos e processos da Internet.

Nota-se a repetição de estratégias usadas nas demais mídias. A

política parte de sua identidade, fazeres e projetos – auto-referência – para, sobre

as demandas e processos do tecido social - - heterorreferencias - agir em busca de

apoio dos demais campos e da sociedade em geral.

Observa-se, assim, que na Internet a política mantém o mesmo grau

de autonomia das demais instâncias de midiatização. Por um lado os websites

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eram construídos a partir da política, suas estratégias, processos e identidades. Por

outro eram formatados em conformidade com as linguagens, ferramentas,

recursos e elementos do meio, onde devemos lembrar do necessário apoio de

outros campos para a construção e formatação e seus espaços digitais, além de

estar em constante referencia ao cenário do pleito.

Ou seja, longe dos ufanismos e revoluções muito presentes em alguns

estudos e na maioria dos manuais, a Internet repete o jogo de construção e

influência que se dá e se faz nas demais mídias. Nota-se, então, uma articulação

entre identidades, culturas, estratégias, meios, técnicas e linguagens que formam e

entornam o espaço digital dando sua forma, sentido e valor, articulação que surge

de e através das estratégias e fazeres do campo que passa a mobilizar o espaço

digital, desenhando os fluxos e processos comunicacionais para cumprir sua

agenda.

Assim o reconhecimento da política nos espaços digitais se dá e se faz

pelo cruzamento de três variáveis principais. Primeiramente a demarcação

territorial do meio. Em seguida a vinculação destes espaços às identidades dos

atores que os constroem e promovem. Em terceiro lugar - e principalmente - o

reconhecimento se dá através das operações discursivas, das estratégias gerais de

comunicação visíveis e moldados nas demais mídias que manifestavam nos

websites.

Como exemplo deste processo podemos citar a área de debates

inserida no website de José Serra no segundo turno, que manifestava a nova

estratégia discursiva do mesmo naquele momento da campanha. Da mesma forma

podemos citar a página inicial do website de Ciro Gomes, respondendo a fala

sobre as mulheres, e o website do PCO, que se vinculava menos a eleição e mais

as doutrinas do partido.

Por detrás destas variáveis, estão novamente os “códigos políticos”,

ou seja, os elementos oriundos, inerentes aos atores do campo, que se manifestam

por uma variedade de operações estratégicas e discursivas onde se somam várias

linguagens, recursos e elementos.

Ou seja, os espaços digitais do campo político são o reflexo e o

produto de uma multiplicidade de linguagens, do cruzamento e acoplamento de

várias operações estratégicas de diversos campos, e também das múltiplas tensões

que se somam e influem sobre o campo político dentro da campanha eleitoral.

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Assim, os espaços digitais se mostram como um somatório de vários

códigos de vários campos. Temos, assim, uma re-caracterização, uma re-

montagem das estratégias do campo político, que se não são independentes ou tem

total autonomia recebem novos espaços, novos elementos e novas possibilidades

técno-discursivas.

Multiplicam-se espaços, somam-se linguagens e se redesenham

estratégias discursivas e persuasivas que se formam e conformam nos diversos

meios envolvidos e mobilizados para os processos comunicacionais do campo.

Geram-se fluxos constantes, ininterruptos e variados de comunicação e

informação, que desenham e são desenhados pelas demandas e identidades dos

candidatos que no meio investem.

Podemos, então, falar em uma multi-articulação e em multi-

acoplamentos estratégicos entre os vários e diferentes campos sociais que se

fazem sobre uma mesma camada de tecnologia comunicacional, e refletem a

cultura e os processos sociais em geral. Inaugura-se a era da multidiscursividade,

que passamos a esclarecer sua caracterização, especificidade e quais os seus

efeitos para o campo político.

Como nos referimos no espaço digital da Internet somam-se

linguagens, técnicas e elementos dos mais variados meios, campos e culturas que

agem e se mostram dentro de um mesmo suporte, fazendo visíveis operações

estratégias das mais variadas ordens e com os mais variados fins.

Texto, áudio, vídeo, links de hipertexto, imagens estáticas e animadas,

além de uma série de outros recursos tecnológicos e elementos comunicacionais,

se somam e agem em sinergia dentro de um mesmo meio de comunicação.

Já a inserção e manipulação destes se faz por vários cruzamentos de

intenções e estratégias de produtores e receptores dentro do cenário social em que

o processo ocorre, sendo mobilizados não somente por si, seus recursos e valores,

mas também – e talvez principalmente – pela possibilidade de efeitos que pode

gerar nas instâncias de recepção.

Estas, por sua vez, se apropriam desta oferta dentro de suas

expectativas, anseios e processos que deseja cumprir. Formam-se, assim, amplos,

múltiplos cruzamentos e acoplamento entre linguagens de vários meios,

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estratégias de produção e expectativas de recepção que multiplicam possibilidades

apresentação de discursos e conteúdos.

Temos, assim, uma multidiscursividade que ocorre em todos os lados

do processo de comunicação e se manifesta não somente como múltiplas

linguagens e recursos técnicos, mas principalmente por amplas operações

estratégias, simbólicas e negociações que se dão no tecido social e nos processos e

fenômenos a que se refere.

Pode-se questionar até que ponto a noção de multidiscursividade

reflete as especificidades dos processos do meio, na medida em que a própria

construção da campanha se fez através de múltiplos cruzamentos e acoplamentos,

como nos referimos em nossos capítulos teóricos.

Sim, podemos argumentar que as várias mídias e as múltiplas

estratégias mobilizadas pelo campo político na campanha mostram múltiplos

acoplamentos e articulações, que constroem a visibilidade dos atores envolvidos

no processo. Entretanto, devemos ressaltar que, na Internet, estes acoplamentos

articulam e somam saberes, recursos e elementos das várias mídias, atores e

campos presentes no cenário social, que se manifestam sob um mesmo suporte e

dentro de uma mesma tecnologia comunicacional.

Aí reside o cerne da noção de multidiscursividade, pois sob um

mesmo suporte várias linguagens, recursos, estratégias e elementos e somam, se

acoplam e articulam para criar os sentidos e gerar os efeitos da política no pleito,

gerando múltiplos discursos construídos a partir de várias estratégias.

Elementos discursivos como o programa de governo, além de análises

e opiniões dos próprios candidatos sobre as mais variadas questões, linguagem

jornalística, publicitária e política, bem como demandas oriundas de vários

campos se somam dentro dos espaços digitais, propagando com várias linguagens

e estratégias diferentes os elementos discursivos, propostas e projetos de cada

candidato.

Ou seja, os espaços digitais de campanha eleitoral somam, em si,

vários elementos que formam e influenciam a campanha como um todo,

resumindo e contendo os elemento-chave de propagação e formação da imagem

de cada candidato, referindo-se e sendo influenciados – ou pautados, para usar um

termo jornalístico – pelas mais variadas fontes.

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A Política nos espaços digitais

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As discussões de fundo das questões sociais que influem na

formatação das propostas políticas dos candidatos ganham novos espaços de

manifestação, podendo ser tratada de forma mais analítica e aprofundada que as

construções nas demais mídias.

Além disso, há uma maior velocidade de atualização e de resposta a

demandas e fatos, que pode ser considerado elemento de estímulo ao tempo de

contato pelo receptor.

Assim, o espaço digital dos websites mostra-se como um novo

elemento midiático a disposição das estratégias políticas, inaugurando algumas

novas práticas e ofertando novos recursos estratégicos, elementos discursivos,

enfim, novos sentidos para a política e para a sociedade em que se insere.

Isto nos leva a refletir sobre a confluência de processos e

procedimentos que se dão sobre o espaço digital. Se por um lado a

multidiscursividade manifesta uma amplitude de elementos comunicacionais, que

podem facilitar o contato e as interações, por outro seu surgimento reflete um

processo de fragmentação e afastamento social que ocorre nas sociedades

contemporâneas, mostrando também o alto grau de midiatização do campo

político.

A Internet e seus espaços digitais ampliam, por si, a noção de meio de

comunicação, pois um meio passa a ser compreendido não só pela formação de

um mercado discursivo com possibilidade de acesso plural, mas também pelos

investimentos e estratégias dos campos sobre os meios.

Ou seja, uma mídia não é somente, como dizem Verón e Alsina, uma

tecnologia que forma processos amplos processos de comunicação e interação em

seu entorno, mas também, se não principalmente, um elemento de tensão, conflito

e negociação para os campos sociais que devem investir nestes meios para suas

estratégias e fazeres.

Assim um meio deve ser compreendido com um tecnologia e um

conjunto de códigos, linguagens e estratégias que recebe investimentos de um

campo na busca do cumprimento e efetivação de seus processos e fazeres sobre os

demais campos.

Amplia-se também, assim, a noção de campo político, pois este se

encontra em alto grau de midiatização, fragmentando suas operações estratégicas,

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simbólicas e discursivas através das diversas linguagens, técnicas e operações

midiáticas para se fazer visível, reconhecido e construir seus efeitos.

Ora, um campo é reconhecido através de suas operações simbólicas e

discursivas. Se o campo político faz suas operações visíveis e busca construir seus

efeitos se midiatizando, devemos então tomar tais operações com integrantes do

campo. O campo político não pode, então, ser compreendido somente em suas

operações discursivas, mas sim no somatório de seus processos e identidades e na

articulação midiática que promove para validar-se e se fazer visível.

Os websites da campanha presidencial de 2002 em seu todo

demonstram e reforçam esta percepção. Além de demonstrar o forte investimento

que o campo promove nas mídias em geral, os mesmos continham e

contemplavam amplos e variados recursos na construção e apresentação das

visibilidades dos candidatos.

Da mesma forma apresentam os acoplamentos estratégicos efetuados

pelo campo político com outros campos, que não só auxiliam com saberes

específicos para a construção dos espaços, mas também são apresentados como

forma de reforço e validação das estratégias e elementos dos candidatos.

Assim, o campo político amplia suas fronteiras acoplando-se a outros

campos como forma de construir suas visibilidade de circular seus discursos e

processos através dos vários meios de comunicação.

Esta campanha mostra-se como um grande marco do investimento da

política sobre a Internet. Claro que esta pesquisa investiu e esclareceu alguns

aspectos das estratégias de produção dos websites, onde as construções gerais, ou

seja, as estratégias e fazeres que conduziam a construção destes espaços não

foram contemplados. Da mesma forma as perspectivas de recepção, os efeitos

gerados por estes conteúdos e estratégias nos usuários dos websites não foram

aqui observados.

Como comentário final, vemos que ainda há muito espaço para

experimentações e desenhos estratégicos, que apenas os próximos pleitos poderão

– e deverão – mostrar, principalmente se levarmos em conta não só que as

linguagens e recursos estão em permanente evolução mas também as perspectivas

e demandas dos receptores, que trarão novos elementos para as estratégias do

campo político. Mas se podemos colocar uma certeza é que a Internet já se mostra

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como um importante elemento para a política e, certamente, irá gerar novos

sentidos e desenhos aos processos eleitorais.

. . .

Desse processo de pesquisa e dissertação que se encerra ficam ainda

uma série de questões, que se focam nas visões e efeitos destes espaços de

campanha junto aos receptores, ou seja, como estes espaços são apropriados pelos

usuários e que valores são dados às suas construções.

Uma pista deixada por esta pesquisa se encontra nos já citados

elementos das páginas iniciais, que não só conflitavam diretamente com as

estratégias e fazeres do campo midiático, mas também buscavam pautar e

conduzir o usuário em sua interação.

Se pudermos formular, neste momento, hipóteses, direcionamos as

mesmas no sentido de que o receptor percebe esta tentativa de condução.

Entretanto, da mesma forma que os candidatos, valoriza mais os elementos

referentes ao cenário da campanha, ou seja, os elementos em destaque na marca

temporal em que trava contato com os websites.

Estas questões ficam presentes e nos estimulam a efetuar novos

movimentos de pesquisa no futuro, para evoluir e aprofundar o tema, pois este

trabalho nos trouxe um grande aprendizado não só no sentido de compreender a

Internet como mídia, seus processos e fenômenos dentro de um determinado

contexto social, mas principalmente no sentido de tomar uma posição mais

analítica frente à mesma.

Além disso, compreendemos novos procedimentos e estratégias de

captação de dados e análise, que não somente nos trouxeram uma nova visão

sobre os processos construtivos das mídias, mas também nos fornecem elementos

para aprofundar nossas atividades profissionais e acadêmicas.

Observando o trabalho como um todo vemos os desafios que o

surgimento e crescimento desta mídia traz para a sociedade, bem como as

diferentes construções estratégicas e discursivas que os campos podem lançar mão

em seus investimentos no meio. As possibilidades nos parecem quase infinitas,

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mas sempre haverão elementos construtivos embasados nas estratégias,

identidades e processos daqueles que investem no meio.

Crescemos, assim, como acadêmicos e profissionais, mas certamente

ainda temos muito a crescer. Se o meio evolui, e está evoluindo, os

questionamentos devem acompanhar esta evolução. Por isto buscaremos novos

desafios para manter este crescimento e construir novas respostas.

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A Política nos espaços digitais

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Anexo I - Glossário1

-A-

Arpanet - Rede de computadores criada em 1969 pelo Departamento de Defesa

norte-americano, interligando instituições

militares. Em meados dos anos 70 várias grandes universidades americanas

aderiram à rede, que deu lugar à atual Internet.

ASCII - Norma para a codificação de caracteres através de números binários,

utilizada em diferentes computadores. Define a codificação dos caracteres com

códigos de 0 a 127.

Aplicações Internet - Também conhecidas como aplicações TCP/IP, são os

programas de aplicações que utilizam os protocolos da rede conhecidos como:

FTP (File Transfer Protocol) para transmissão de arquivos; SMTP (Simple Mail

Transfer Protocol) e POP (Post Office Protocol) para correio eletrônico (e-mail);

HTTP e HTML em navegadores (browsers).

ARPANET (Advanced Research Projects Agency Network) - rede de longa

distância criada em 1969 pela Advanced Research Projects Agency (ARPA,

atualmente Defense Advanced Projects Research Agency, ou DARPA) em

consórcio com as principais universidades e centros de pesquisa dos EUA, com o

objetivo específico de investigar a utilidade da comunicação de dados em alta

velocidade para fins militares. É conhecida como a rede-mãe da Internet de hoje e

foi colocada fora de operação em 1990, posto que estruturas alternativas de redes

já cumpriam seu papel nos EUA.

-B-

Browser - programa de aplicação cliente que permite acessar, por meio de uma

interface gráfica, informações diversas, contendo textos, imagens e gráficos, sons,

1 Seleção e compilação de termos e significados obtidas em várias fontes, como o website Wepopedia (www.webopedia.com), o Mutirão (http://www.mutirao.futuro.usp.br/glossario/glossario.htm) e a NetDs (http://www.netds.com.br/portug/glossario.htm) dentre outros.

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etc. O acesso ao servidor remoto, que pode ou não estar ligado à Internet, pode ser

feito via rede local ou modem.

BTW - Sigla do inglês "By the Way" (por falar nisso). Usada em textos de correio

eletrônico, artigos de news, etc.

-C-

CGI (Common Gateway Interface) - aplicação servidora utilizada geralmente

para processar solicitações do navegador (browser) através de formulários HTML,

enviando o resultado em páginas dinâmicas HTML. Também pode ser utilizado

para conexão (gateway) com outras aplicações e bancos de dados do servidor.

Exemplo de linguagens são: Perl, C e C++.

Cliente - é o computador que envia as solicitações ao servidor no contexto

Cliente/Servidor. Cliente é um programa que pede um determinado serviço (por

exemplo, a transferência de um arquivo) a um Servidor, outro programa. O

Cliente e o Servidor podem estar em duas maquinas diferentes, sendo esta a

realidade para a maior parte das aplicações que usam este tipo de interação.

Cookies - permitem que servidores gravem informações de seu interesse,

geralmente de configuração, no lado cliente (browser).

Correio eletrônico - o mesmo que e-mail, é um meio de comunicação baseado no

envio e recepção de textos, chamados de mensagens, através de uma rede de

computadores. Cada usuário de e-mail possui um endereço Internet para

corresponder-se.

Conexão - Ligação entre dois computadores.

Criptografia - é a técnica de converter (cifrar) uma mensagem ou mesmo um

arquivo utilizando um código secreto. Com o propósito de segurança, as

informações nele contidas não podem ser utilizadas ou lidas até serem

decodificadas.

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-D-

DNS - sigla de Domain Name Server, designa o conjunto de regras e/ou

programas que constituem um Servidor de Nomes da Internet. Um servidor de

nomes faz a tradução de um nome alfanumérico (p. ex.

www.mutirao.futuro.usp.br) para um numero IP (p. ex. 143.107.91.17).

Domínio - nome que descreve a organização com a qual um endereço na Internet

está vinculado. Faz parte da hierarquia de nomes de grupos ou hosts da Internet,

identificando as instituições na rede. Exemplo: netds.com.br, onde netds indica a

organização, com indica comercial e br indica do Brasil.

Download - processo de se transferir uma cópia de um arquivo em um

computador remoto para outro computador através da rede; o arquivo recebido é

gravado em disco no computador local. O computador de onde os dados são

copiados é subentendido como "maior" ou "superior" segundo algum critério

hierárquico, enquanto o computador para o qual os dados são copiados é

subentendido "menor" ou "inferior" na hierarquia. O sentido literal é, portanto

"puxar para baixo".

-E-

Endereço eletrônico - É um conjunto de caracteres, como

[email protected], que identifica um determinado usuário dentro da

Internet e, em particular, a sua caixa de correio eletrônico. Qualquer envio de

correio eletrônico para esse usuário deve ser feito para o seu endereço eletrônico.

-F-

FAQ - arquivo contendo uma lista de perguntas mais freqüentes relativas às

dúvidas mais comuns sobre determinado assunto. As respostas destas perguntas

são fornecidas por usuários mais antigos, experientes ou pelo responsável por

determinado serviço. As FAQ's em geral são dirigidas para leigos ou neófitos.

Contrapõe-se a RFC's.

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César Steffen

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Freeware - Software distribuído em regime gratuito mas segundo alguns

princípios gerais como a impossibilidade de alteração de qualquer parte para

posterior distribuição, impossibilidade de venda, etc.

FTP ( File Transfer Protocol) - protocolo de transferência de arquivos usado na

Internet, ou então um programa que usa esse protocolo.

-G-

GIF (Graphic Interchange Format) - formato para arquivos de imagem, muito

utilizado, por oferecer boa compactação de dados e possibilidade de animação

com imagens.

Grupo de Discussão - em inglês, newsgroup. Num forum de discussão, ou seja,

grupo de news da Usenet, escreve-se sobre o tema indicado pelo nome do grupo.

-H-

Hacker - Uma pessoa que sente prazer em ter um entendimento mais profundo do

funcionamento de um sistema, de um computador e de redes de computadores, em

particular. O termo tem sido usado equivocadamente como sinônimo de cracker.

Hiperlink – ver link.

Home page - Pagina de uma instituição ou indivíduo na WWW. A home page é

uma espécie de ponto de partida para a procura de informação relativa a essa

pessoa ou instituição.

Host - também chamado de servidor ou nó, é o computador que lhe dá acesso à

Internet no seu provedor de Internet.

HTML (Hypertext Markup Language) - é uma linguagem de descrição de

páginas de informação, padrão na WWW. Com essa linguagem (que, para além

do texto, tem comandos para introdução de imagens, formulários, modificação de

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A Política nos espaços digitais

www.bocc.ubi.pt 336

fontes, etc.) pode-se criar páginas que contenham informação nos mais variados

formatos: texto, som, imagens e animações.

HTTP (Hypertext Transport Protocol) - protocolo padrão que define a

transferência de dados na WWW.

-I-

Internet - A Internet é uma imensa rede de redes que se estende por todo o

planeta e praticamente todos os países. Os meios de ligação dos computadores

desta rede são variados, indo desde rádio, linhas telefônicas, ISDN, linhas digitais,

até satélites, fibras-ópticas, etc. Criada em 1969 pelo Departamento de Defesa dos

EUA como um projeto pioneiro de constituição de uma rede capaz de sobreviver a

ataques nucleares, foi-se expandindo até chegar ao tamanho e importância que

hoje tem (varias dezenas de milhões de usuários).

IP (Internet Protocol) - protocolo responsável pelo roteamento de pacotes entre

dois sistemas que utilizam a família de protocolos TCP/IP desenvolvida e usada

na Internet. É o mais importante dos protocolos em que a Internet é baseada.

-J-

JPEG (Joint Photographic Experts Group) - algorítimo para comprimir

imagens, criado pela associação que lhe dá nome. Existe também o Motion JPEG

(MPEG), usado para comprimir imagens animadas.

Java - linguagem orientada a objetos, com sintaxe similar a C++, porém com

biblioteca bastante distinta, que permite o desenvolvimento de aplicações e

applets java. Gera código intermediário (byte codes) que são interpretados em

tempo de execução, o que, juntamente com a sua biblioteca, torna a liguagem

multi-plataforma, permitindo que seu código seja executado nas mais diversas

máquinas e sistemas operacionais, sem a necessidade de adaptação.

-K-

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César Steffen

www.bocc.ubi.pt 337

-L-

Link - Na WWW, uma palavra ou frase sublinhada indica a existência de um link,

que é uma espécie de apontador para outra fonte de informação. Escolhendo esse

link, obtém-se a página de informação correspondente que pode, por sua vez, ter

também vários links.

Lista de discussão - lista de assinantes que se correspondem por correio

eletrônico. Quando um dos assinantes escreve uma carta para um determinado

endereço eletrônico todos os outros a recebem, o que permite que se constituam

grupos de discussão através de correio eletrônico.

Login - identificação de um usuário perante um computador. Login também pode

ser chamado de username. Fazer o login é o ato de dar a sua identificação de

usuário ao computador.

-M-

Mail - ver correio eletrônico.

Mail server - Programa de computador que responde automaticamente (enviando

informações, arquivos, etc.) a mensagens de correio eletrônico com determinado

conteúdo.

MPEG (Motion Pictures Experts Group) - algorítimo de compressão de

arquivos de áudio e vídeo.

-N-

Navegar - Na Internet significa perambular, passear, procurar informação,

sobretudo no WWW. Também pode-se dizer surfar.

Net - Rede (de computadores, neste contexto).

Network - Rede de computadores.

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A Política nos espaços digitais

www.bocc.ubi.pt 338

Newsgroup - Um grupo de news, um fórum ou grupo de discussão na Usenet.

-O-

Offline - significa que nenhuma conexão está ativa no momento, não permitindo a

navegação interativa na Internet, pois o computador não pode enviar comandos e

receber dados em tempo real.

Online - antônimo de offline, online significa "estar em linha", estar ligado em

determinado momento à rede ou a um outro computador.

-P-

Protocolo – conjunto de regras padronizado que especifica o formato, a

sincronização, o seqüenciamento e a verificação de erros em comunicação de

dados. Uma descrição formal de formatos de mensagem e das regras que dois

computadores devem obedecer ao trocar mensagens. É, para os computadores, o

que um idioma é para os humanos. Para poderem transferir informações entre si,

dois computadores devem utilizar o mesmo protocolo (ou ter um terceiro que

perceba os dois protocolos e faça a tradução).

Protocolo. O protocolo básico utilizado na Internet é o TCP/IP.

-Q-

-R-

-S-

Servidor - numa rede, é um computador que administra e fornece programas e

informações para os outros computadores conectados. No modelo cliente-

servidor, é o programa responsável pelo atendimento a determinado serviço

solicitado por um cliente. Serviços como archie, Gopher, WAIS e WWW são

providos por servidores; Referindo-se a equipamento, o servidor é um sistema que

prove recursos tais como armazenamento de dados, impressão e acesso dial-up

para usuários de uma rede de computadores.

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www.bocc.ubi.pt 339

Site – ver website.

-T-

TCP/IP - conjunto de protocolos da Internet que definem como se processam as

comunicações entre os vários computadores. Pode ser implementado em

virtualmente qualquer tipo de computador, pois é independente do hardware.

-U-

Upload - ato de transferir o arquivo do seu computador para um computador

remoto.

URL (Universal Resource Locator) - identificam unicamente ítens na Internet,

sejam eles sites Web, páginas Web ou partes de páginas, sites ftp ou caixas de

correio (mailboxes). Quando você clica em um link, seu browser irá inspecionar a

URL para determinar o que deve ser feito: carregar uma nova página, recuperar

um arquivo, enviar uma mensagem, etc. No seguinte exemplo de URL, a primeira

parte "http://" indica que deverá ser acessado um site de web; a segunda parte

indica qual o site a ser acessado: http://www.bibvirt.futuro.usp.br

User – ver usuário.

Usuário – pessoa que utiliza serviços de um computador, normalmente registrado

através de um login e uma senha.

-V-

-W-

.wav - Tipo de formato de arquivo de som do Windows.

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A Política nos espaços digitais

www.bocc.ubi.pt 340

Website - website é um espaço virtual que oferece informações sobre

determinada pessoa, empresa, instituição ou evento, ou também pode oferecer

serviços .

WWW (World Wide Web ou Web ou W3) - Literalmente, teia de alcance

mundial. Baseada em hipertextos, integra diversos serviços Internet que oferecem

acesso, através de hiperlinks, a recursos multimídia da Internet. Responsável pela

popularização da rede, que agora pode ser acessada através de interfaces gráficas

de uso intuitivo, como o Netscape ou Mosaic, a Web possibilita uma navegação

mais fácil pela Internet.

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www.bocc.ubi.pt 341

Anexo II – Conteúdo do CD

O Cd de anexos está estruturado em sete seções, acessadas a partir do menu

lateral, sendo composto por:

- Artigos – artigos e Entrevistas obtidos na Internet e citados neste trabalho

- Contas – planilhas Microsoft Excel com dados da prestação de contas do

candidatos, fornecidos pela pela Seção de Análise e Desenvolvimento (SAD) da

Coordenadoria de Sistemas Administrativos (CSA), vinculada a Secretaria de

Informática do TSE

- Eleitorado – quadro geral do eleitorado Brasileiro, obtido no website do TSE;

- Legislação – leis e resoluções que regularam o pleito de 2002, obtidas junto ao

TSE;

- Pesquisas – pesquisas citadas no trabalho, obtidas em fontes diversas;

- Registro – textos e dados sobre registro de domínios, obtidos no website do

“Registro.br”.

- Telas – apresentações “Microsoft Power Point” com telas do websites em

grande formato para visualização.

Para acessar, insira o CD na unidade. Caso não rode automaticamente, siga as

seguintes instruções:

- Clique no botão “Iniciar”, depois “Executar”

- No quadro digite “D:\index.htm”, onde “D:\” é a letra da unidade de CD-

ROM

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Observações:

- é necessário ter um browser de navegação para a visualização dos dados;

- da mesma forma é necessário ter softwares instalados no computador para

acessar as planilhas e as apresentações;

O uso não-comercial dessas informações é livre e aberto a todos, devendo as fontes ser citadas conforme os modelos e padrões adotados.

O uso comercial destas informações é totalmente vedado.