A Postura Profissional Do Arquivista na Sociedade Do Conhecimento
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1
A POSTURA PROFISSIONAL DO ARQUIVISTA NA SOCIEDADE DO
CONHECIMENTO
ARCHIVIST’S PROFESSIONAL ATTITUDE IN THE KNOWLEDGE SOCIETY
SILVA, Wellington da
Graduado em Arquivologia – UNIRIO
Especialização em Gestão do Conhecimento e Inteligência Empresarial - UFRJ
Especialização em Gestão pela Qualidade Total - UFF
RESUMO
A sociedade do conhecimento trouxe consigo a velocidade do tempo real, com amplas
possibilidades de criação, difusão, compartilhamento, colaboração, e acessos múltiplos às
informações, quebrando barreiras do tempo e geográficas, impulsionada pelas mudanças
tecnológicas, sociais e culturais. O presente artigo tem o objetivo de analisar a postura
profissional do Arquivista na sociedade do conhecimento. Esta análise foi embasada em
pesquisa empírica, realizada com profissionais e estudantes de Arquivologia. As questões que
orientaram a realização deste trabalho foram as seguintes: Como o Arquivista se posiciona
frente às mudanças no mercado de trabalho, que agora passa a exigir uma formação
multidisciplinar? Quais competências e qualificações eles consideram importantes para o seu
desenvolvimento profissional?
Palavras-Chave: Arquivista, Sociedade do Conhecimento, Postura Profissional.
ABSTRACT
The knowledge society has brought the speed of real time, with ample opportunities for
creation, dissemination, sharing, collaboration, and multiple access to information, breaking
barriers of time and geographical, driven by technological, social and cultural changes. This
article aims to analyze the professional’s posture of Archivist in the knowledge society. This
analysis was based on empirical research made with professionals and students of
Archivology. The questions that guided this work were as follows: How Archivist is
2
positioned facing to the changes in the labor market, which will require a multidisciplinary
background? Which skills and qualifications they consider important to your professional
development?
Keywords: Archivist, Society of Knowledge, Professional Attitude.
1. INTRODUÇÃO
A sociedade do conhecimento trouxe consigo a velocidade do tempo real, com amplas
possibilidades de criação, difusão, compartilhamento, colaboração, e acessos múltiplos às
informações. O conhecimento vem se tornando um diferencial para as empresas que buscam
vantagem competitiva e excelência em seus negócios, configurando-se assim um dos
principais ativos das empresas (SQUIRRA, 2005). Segundo Davenport (1998) informação e
conhecimento são criações humanas, que nascem da motivação e da vontade de criar e
compartilhar. Máquinas não são capazes de produzir conhecimento.
O processo de criação do conhecimento inclui as atividades de: coleta, classificação,
análise, disseminação e verificação da eficiência e qualidade das informações entregues às
pessoas que as solicitaram. Nonaka et al., (1997) denominam este padrão de criação do
conhecimento como “combinação” (do conhecimento explícito para explícito), que é quando,
por meio de coleta de informações, análises de dados, relatórios, estatística etc., um
profissional produz um novo documento a partir da combinação da “socialização1” e
“externalização2" do conhecimento, outros dois padrões de criação do conhecimento
identificado pelo autor. Os profissionais capazes para realização destes padrões, além de
outras competências, devem ter: conhecimento multidisciplinar, capacidade de gerenciamento
e domínio das ferramentas da tecnologia da informação (FARIA et al., 2005, p.27)
O modelo de gestão da informação não foi criado nem transformado, se comparado
com o modelo de gestão de documentos, constata-se que foi apenas ampliado devido o
advento do computador/internet (DAVENPORT, 1998). Quando a internet foi criada, os
1 Socialização do conhecimento: De tácito para tácito ocorre quando uma experiência profissional é passada por meio de
treinamento ou instruções práticas; neste caso, há um compartilhamento de experiências.
2 Externalização ou Articulação do conhecimento: De tácito para explícito quando o conhecimento de uma pessoa é
explicitado, isto é, registrado de forma factual e inteligível para os demais.
3
profissionais mais familiarizados com ela eram os profissionais de Informática com isso eles
assumiram atividades de organização, indexação, classificação, fluxo de trabalho, governança
e design de softwares, sites, intranets e extranets, entre outras. Com o desenvolvimento da
sociedade do conhecimento a multidisciplinaridade, ficou mais necessária e evidente, foi
então que estas atividades passaram a ser, gradualmente, desenvolvidas por outros
profissionais.
O Arquivista é um dos profissionais qualificados para realizar estas atividades, uma
vez que sua formação o prepara para gestão de documentos, a qual inclui as atividades de:
produção, avaliação, aquisição, preservação, classificação, descrição, arranjo, disseminação e
acesso aos documentos. Neste novo cenário os conceitos e os objetivos são os mesmos que o
da Arquivologia: gestão de documentos para torná-los acessíveis, para gerar conhecimento e
compartilhá-lo, para agregar valor à empresa e trazer resultados ao negócio, o que muda são
as ferramentas.
Este artigo visa analisar a postura profissional do Arquivista diante do novo cenário
que caracteriza o mercado de trabalho. Para alcançar este objetivo, este trabalho foi dividido
em três partes:
1. Primeira Parte – Serão analisadas as principais características e objetivos da Sociedade
do Conhecimento. Serão enfatizadas as razões que explicam porque o conhecimento
se tornou um dos principais ativos das organizações.
2. Segunda Parte – Serão abordadas as mudanças observadas no mercado de trabalho
decorrentes da sociedade do conhecimento. Neste caso serão ressaltadas as novas
competências e habilidades que qualquer profissional deverá ter para sobreviver nele.
3. Terceira Parte – O foco da terceira e última parte será a postura profissional do
Arquivista frente à Sociedade do Conhecimento, nela será abordada a necessidade do
investimento em uma formação multidisciplinar.
Metodologicamente foi elaborado um questionário em meio eletrônico com perguntas
de múltipla escolha é aberta, sobre atualização e qualificação profissional, importância em
investir em um curso de pós-graduação, conhecimento na língua inglesa, competência
profissional entre outras. O questionário foi direcionado aos profissionais graduados e
estudantes de Arquivologia, este era o único requisito: ser graduado em Arquivologia ou está
cursando, independente do ano de formação ou período do curso.
4
O mesmo questionário foi aplicado em dois períodos diferentes: a primeira aplicação
ocorreu em julho de 2011, a segunda em maio de 2014. O objetivo da reaplicação do
questionário em dois períodos diferentes foi para verificar se houve alguma mudança na
postura profissional do Arquivista na sociedade do conhecimento ao longo desses quase três
anos.
2. A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO
Entre meados do século XIX e início do século XX o mundo transitou da sociedade
agrícola para a sociedade industrial (BAÊTA et al., 2005). Na sociedade agrícola a terra e a
mão-de-obra eram os grandes fatores de produção, estes eram determinantes para impulsionar
a economia. Com a revolução industrial a tecnologia ganha importância, na sociedade
industrial, mão-de-obra e terra dão lugar ao capital e o trabalho, que passam a ser as forças
motrizes do desenvolvimento econômico (CAVALCANTI et al., 2010).
O conhecimento passou a ocupar uma posição essencial no desenvolvimento das
forças produtivas e geração de riqueza, Drucker (1993) diz que: “o conhecimento tornou-se o
recurso essencial da economia” e que “o fator de produção decisivo não é mais nem o capital
nem o trabalho, mas o conhecimento”. Os fatores clássicos de produção tornaram-se
secundários, com o conhecimento eles podem ser obtidos com mais facilidade.
Para Baêta et al., (2005), na sociedade do conhecimento as possibilidades de
compartilhamento ampliadas pelas tecnologias da Informação e Comunicação rompem
barreiras geográficas e de tempo, permitindo que a informação possa ser absorvida de forma
quase instantânea, a quilômetros de distância de onde foi concebida, aproximando pessoas e
organizações. Para constatar isso destacam algumas características da sociedade do
conhecimento, para entender melhor este novo contexto e identificar os desafios que hoje se
impõem à prática profissional:
A competitividade das empresas e das nações passa a depender mais da
capacidade de gerar e utilizar conhecimentos e inovações do que das
vantagens competitivas tradicionais ou clássicas, como mão-de-obra barata, e
recursos naturais.
Os ideais democráticos e humanísticos são valorizados.
O agravamento dos desastres ecológicos provoca a multiplicação de tratados
internacionais para salvaguardar o meio ambiente e impõe restrições às
atividades humanas.
5
Redes interativas de comunicação favorecem o acesso rápido e irrestrito à
informação e troca de opiniões.
A solução para problemas cada vez mais amplos e complexos exige
abordagens interdisciplinares e a sinergia das instituições.
A população torna-se mais sofisticada intelectualmente e passa a dispor de
maior expectativa de vida e de mais tempo livre, o que implica uma crescente
importância das atividades associadas à saúde, à educação, à cultura e ao
lazer.
O perfil dos empregos se modifica: diminuem as oportunidades de trabalho
na agricultura e na manufatura e aumentam postos de trabalho no setor de
serviços. (BAÊTA et al., 2005)
3. O MERCADO DE TRABALHO E AS MUDANÇAS DEVIDO A SOCIEDADE
DO CONHECIMENTO
Estamos vivendo na sociedade do conhecimento, onde as mudanças acontecem com
muita rapidez, constantes inovações tecnológicas, sociais, descobertas biomédicas e humanas,
entre outros. Consequentemente a exigência por resultados também é grande, por isso o
mercado de trabalho e as relações corporativas passam por uma revolução. Hoje o mercado de
trabalho opera em um elevado nível de complexidade, isto exige uma nova postura
profissional, uma visão sempre atualizada e a busca constante de novos conhecimentos e
competências.
Já não basta mais ser especialista em uma única área: Engenharia, Administração,
Informática, Arquivologia, Biblioteconomia, Direito etc., estamos vivendo na era - que muitos
consultores e autores chamam de “era dos multiespecialistas”, onde se deve entender de
assuntos de diversas áreas, para se ter uma visão ampla e conhecimento global. Um
multiespecialista deve investir numa formação multidisciplinar, adquirindo conhecimentos
diferentes daqueles adquiridos em seu curso de graduação (COELHO, 2009).
Os cursos de pós-graduação são ótimos investimentos para aquisição de
conhecimento, e são apontados como um pré-requisito para o posicionamento profissional e
para a eficiência que as empresas buscam. (COELHO, 2009 apud ARAÚJO [?])
“A velocidade com que novas tecnologias se integram no ambiente de trabalho, as
necessidades de interferências técnicas e gerenciais para solução de novos
problemas exigem que o profissional busque constantemente formas de
atualização” (COELHO, 2009 apud ARAÚJO [?]).
O conhecimento de outros idiomas também é fundamental. O inglês ainda é o mais
importante, seguido pelo espanhol. Outra maneira de adquirir conhecimento é com os cursos
6
de extensão, os quais complementam os conhecimentos numa determinada área, muito
eficiente, também, para formação multidisciplinar, proporcionando conhecimento que não
estava incluído na grade curricular do curso de graduação.
No novo cenário imposto pelo mercado de trabalho, que valoriza multiconteúdos e
multiespecialistas, investir na capacitação é, sem dúvida, a melhor opção para quem busca
empregabilidade e valorização profissional, pois todo profissional almeja evoluir, crescer, ser
promovido. Nos dias de hoje, é com a educação continuada que este objetivo será atingido.
3.1 Como o Arquivista está se Qualificando para o Novo Mercado de Trabalho?
Para saber qual a postura profissional do Arquivista neste novo cenário imposto pelo
mercado de trabalho, o qual passa por uma revolução, e por isso está exigindo que os
profissionais sejam multiespecialistas, pois assim terão melhores oportunidades e valorização
profissional, utilizou-se os dados obtidos na aplicação e replicação do questionário aos
Arquivistas e estudantes de arquivologia, nos anos de 2011 e 2014.
Conforme abordado no capítulo anterior a educação continuada é um diferencial
competitivo para qualquer profissional, o curso de pós-graduação é pré-requisito para
valorização do profissional (COELHO, 2009 apud ARAÚJO [?]). Uma das primeiras
perguntas do questionário era se o entrevistado achava importante para o Arquivista fazer um
curso de pós-graduação. Na pesquisa aplicada em 2011, 99% dos entrevistados disseram que
sim, já na aplicada em 2014 esse número teve uma leve queda, 96%. Todavia este resultado
ficou abaixo, quando perguntado quem já havia cursado ou estava cursando algum curso de
pós-graduação (mais de 90% dos entrevistados em ambos os anos já estavam formados - 98%
em 2011 e 92% em 2014). Em 2011 apenas 54% dos entrevistados responderam que sim, já
em 2014 o número subiu para 61%, o que indica uma preocupação do Arquivista em se
qualificar.
Como o novo mercado exige um multiespecialista, foi perguntado “Qual (s) curso (s)
de pós-graduação (lato sensu) os entrevistados cursaram ou gostariam de cursar?” Foi
apresentada uma lista com nove opções de cursos de pós-graduação (lato sensu), oferecidos
em âmbito nacional, principalmente, nas áreas de administração e informática, que são as
áreas tidas como fusão da ciência da informação conforme define (DAMASIO et al., 2000,
p.4). O entrevistado podia escolher até três cursos, dentre as seguintes opções: Ciência da
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Informação, Gestão de Arquivos, Memória Social, Planejamento, Organização e Direção de
Arquivo, Gestão pela Qualidade Total, Gestão do Conhecimento, Gestão de Projetos, Gestão
Empresarial e Administração de Sistemas de Informações, ainda trazia a opção “outros”, para
escolha de algum curso que não tivesse sido contemplado na lista. As respostas foram
adversas quanto à formação multidisciplinar, em ambos os períodos que o questionário foi
aplicado, que é exigida pelo novo cenário do mercado de trabalho. Em 2011 42% dos
Arquivistas escolheram o curso de Planejamento, Organização e Direção de Arquivo,
seguido pelo curso de Gestão de Arquivos que obteve 40%. Os mesmos cursos continuaram
como os mais escolhidos em 2014, porém houve uma inversão o curso de Gestão de Arquivos
foi escolhido por 60% dos entrevistados e em segundo lugar o curso de Planejamento e
Direção de Arquivo com 47%.
Os dois cursos mais escolhidos, nos dois anos, contemplam disciplinas que já integram
a grade curricular do curso de graduação em Arquivologia. Especificando o curso de Gestão
de Arquivos este oferece, entre outras, as disciplinas de: Fundamentos da Arquivística;
Documentação Contábil; Documentação Audiovisual; Conservação Preventiva em Arquivos;
Gestão da Informação em Arquivos correntes e intermediários; Gestão da Informação em
Arquivos Permanentes; Paleografia e Diplomática; Arquivos Hospitalares. Cada disciplina
com carga horária de 24 horas, exceto Gestão da Informação em Arquivos correntes e
intermediários, a qual possui 48 horas. Neste curso de 360 horas, Arquivistas passaram ou
passariam 216 horas, estudando aquilo que já estudaram em seu curso de graduação, ou seja,
60% do curso obtendo “conhecimento” daquilo que já é conhecido.
A postura em não investir em uma formação multidisciplinar também foi constatada
com os dados obtidos na pergunta em relação aos cursos de extensão que os Arquivistas
gostariam de fazer, tanto em 2011 quanto em 2014. Foram dadas dezenove opções de cursos
de extensão nas áreas de arquivologia, administração, informática, qualidade entre outras, e os
entrevistados poderiam escolher até cinco opções. Dentre os dezenove cursos relacionados o
mais escolhido foi o de Gerenciamento Eletrônico de Documentos (GED), com 68% (2011) e
61% (2014). Numa primeira análise este resultado pode parecer positivo, visto que a
ferramenta é oriunda da área da Informática. Entretanto, se mais de 60% dos entrevistados
gostariam de fazer este curso, significa que eles não possuem conhecimento suficiente na
ferramenta. Esta análise pode ficar mais crítica se considerado que a necessidade de gerenciar
eletronicamente os documentos surgiu na década de 80, com a explosão dos
8
microcomputadores, que resultou num grande volume de documentos digitais. Mais de três
décadas depois da invenção da tecnologia, este assunto já deveria ser de pleno domínio dos
Arquivistas, não necessitando, nos dias de hoje, de um curso de extensão para obter
conhecimento da ferramenta.
Quando analisado as demais opções escolhidas, percebe-se que houve uma pequena
melhora para postura de um profissional multiespecialista. O curso de Microfilmagem e
Digitalização permaneceu com a segunda opção mais escolhida 49% (2011) e 41% (2014),
contudo o curso de Segurança da Informação passou a ocupar a terceira posição com 39%, no
lugar do curso de Conservação e Preservação que em 2011 obteve 42% e em 2014 baixou
para 35%.
Como dito no inicio do parágrafo anterior, houve uma “pequena” melhora, pois cursos
como: Protocolo e Arquivos Correntes; Tabela de Temporalidade e Gestão de Documentos
que, são objetos de estudo do curso de graduação em Arquivologia, permaneceram com altos
índices de escolha. Ao passo, que cursos como de Instrutor de treinamento e Gestão de
Pessoas/Liderança de Equipes continuaram como os menos escolhidos, veja gráfico abaixo:
Gráfico 1 – Cursos de extensão que os Arquivistas gostariam de cursar
Fonte: Elaboração própria com base no questionário aplicado
Tão importante, ou até mais, que o curso de pós-graduação o conhecimento em outro
idioma, principalmente o inglês, é fundamental para qualquer profissional. Neste quesito o
resultado foi pior que os anteriores. Perguntado aos entrevistados em 2011 qual o nível de
conhecimento na língua inglesa, 49% declararam que só possuem conhecimentos básicos no
9
idioma, 26% conhecimento em nível intermediário, 18% nível avançado e, somente, 7% são
fluentes na língua inglesa. Os resultados de 2014 obtiveram avanços quase nulos, o nível
fluente aumentou para 9%, e intermediário para 30%, os níveis básico e avançado obtiveram
41% e 15%, respectivamente. Para entender melhor a definição destes níveis, foi utilizada a
descrição dos níveis do idioma do IELTS3:
a) Nível Básico - Dificilmente estabelecerá uma comunicação, exceto para informações
básicas, usando palavras isoladas ou frases curtas em situações familiares e para
atender as necessidades imediatas. Tem grande dificuldade para compreender, falar e
escrever em Inglês.
b) Nível Intermediário - Tem dominio parcial da língua, lida com significado geral na
maioria das situações, provavelmente comete muitos erros. É capaz de conduzir uma
comunicação básica em seu campo de estudo.
c) Nível Avançado - Tem o dominio operacional da língua, embora com imprecisões
pontuais e inapropriações e mal-entendidos em algumas situações. Geralmente lida
com linguagem complexa e entende bem o raciocínio detalhado.
De acordo com as descrições acima, mais de 70% dos Arquivistas, os quais possuem
nível básico e intermediário, só estão aptos para estabelecer uma comunicação com erros e
dificuldade na escrita, fala e compreensão, pouco mais de 20% estão aptos a estabelecer uma
comunicação com um bom entendimento. Num mundo globalizado, onde as informações
procedem de todos os lugares, a exigência em possuir, no mínimo, nível avançado na língua
inglesa, se faz necessário para qualquer profissional. Na sociedade do conhecimento as
informações devem ser: coletadas, classificadas, analisadas, entre outras, quem tem nível
básico e intermediário de conhecimento na língua inglesa não está qualificado suficientemente
para desempenhar estas atividades, porque somente o acesso à informação não basta, é preciso
ter conhecimento para interpretá-las, internalizá-las e a partir disso gerar conhecimento
(NONAKA et al., 1997). Com muita frequência estas informações estão disponíveis somente
em inglês, independente do negócio da empresa. Podemos usar como um exemplo muito claro
a base de dados Science Direct4, que é umas das principais do mundo, tem em seu acervo
3 O IELTS (International English Language Testing System) é o exame de língua inglesa mais popular do mundo. Mais de 2
milhões de pessoas fazem o IELTS a cada ano. http://www.sk.com.br/sk-toefl.html: Acesso em 10 de Mai. de 2014.
4 http://www.elsevier.com/online-tools/sciencedirect: Acesso em 10 de Mai. de 2014.
10
mais de 15 milhões de artigos e capítulos de livros, em 24 áreas do conhecimento, quase todo
este acervo está em inglês e uma pequena parte em espanhol, ou seja, o profissional que não
domina a língua inglesa terá grande dificuldade para fazer uso de uma importante ferramenta
para difusão de informação e produção do conhecimento.
4. O PERFIL PROFISSIONAL DO ARQUIVISTA
Partindo da área de qualificação e passando para a atuação e postura profissional do
Arquivista nas atividades do dia-a-dia, foi perguntado: Qual perfil profissional tinha mais a
ver com o entrevistado? Foram dadas duas opções: Perfil Operacional, aquele que só executa
e Perfil Gestor, aquele que planeja, elabora e supervisiona. O Perfil Gestor foi escolhido por
93% dos entrevistados e o perfil operacional apenas por 7% em 2011, já em 2014 o percentual
caiu para 81% para o perfil de gestor e o perfil operacional aumentou para 19%.
Após a pergunta sobre o perfil profissional, foi perguntado o que contribuiu para o
entrevistado atingir o perfil escolhido, o que foi determinante para se tornarem um Gestor.
Existiam cinco opções, as quais eram: falar outro idioma; ter curso de pós-graduação; ser
pró-ativo, ter habilidade interpessoal e capacidade para liderar e ter experiências e
qualificações além do campo arquivístico. Não tinha limite para escolha, ou seja, todas as
opções poderiam ser escolhidas, confira no gráfico abaixo o resultado:
Gráfico 2 – Qualificações para ser um Gestor, segundo os Arquivistas
Fonte: Elaboração própria, com base no questionário aplicado
11
Como o Perfil Gestor foi o mais escolhido e ser Proativo obteve um alto índice de
escolha em 2011 e um expressivo percentual em 2014, vale a pena contextualizar o
significado de Gestor e Pró-atividade na sociedade do conhecimento.
Devido à revolução pela qual o mercado de trabalho passa, hoje não há mais lugar para
o “chefe” a sociedade do conhecimento exige Gestores. Neste novo cenário este gestor deve
ter uma visão sistêmica e global da estrutura da organização para atingir seus objetivos como
um todo, e não somente para atingir as metas de seu departamento. Deve ter também
habilidades para: decidir e solucionar problemas, saber planejar, lidar com pessoas, motivá-
las, capacidade de se comunicar com eficiência, negociar, conduzir mudanças, obter
cooperação e solucionar conflitos, entre outros. Para realizar estas atividades o gestor deve ter
competência, que se refere a conhecimento e habilidades (CARMO, 2004 apud DEMO,
1996).
Quanto a Pró-atividade, pode-se começar fazendo uma análise semanticamente, pois
um dos significados do prefixo "pró" significa antecipação, algo que acontece antes. A pessoa
proativa está sempre se antecipando aos acontecimentos, fazendo até mesmo alguma espécie
de previsão para poder atuar de forma planejada. Porém, ser pró-ativo não significa tomar
iniciativa intempestiva e agir de qualquer maneira. Antes de tudo é necessário analisar o
contexto, identificar e selecionar as melhores alternativas. Isto não é algo imediato, pode leva
algum tempo (PALLARÉS, 2008). Bateman et al.,(1999), consideram que as pessoas pró-
ativas se caracterizam pelas seguintes características:
a) Estão buscando continuamente novas oportunidades;
b) Têm objetivos orientados às mudanças;
c) Antecipam e preveem problemas;
d) Desenvolvem atividades diferentes;
e) Empreendem a ação e se aventuram apesar da incerteza;
f) São perseverantes e esforçadas e;
g) Conseguem resultados perceptíveis, já que estão orientadas a resultados.
Considerando as características do perfil do novo Gestor e de Pró-atividade listadas
acima, constata-se uma discordância, quando comparado com os resultados obtidos sobre os
cursos escolhidos (pós-graduação e extensão) pelos Arquivistas. Analisando primeiro as
competências e habilidades de um Gestor, não resta dúvida que uma das principais atribuições
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deste é saber lidar com pessoas, motivá-las, obter cooperação e solucionar conflito, ou seja,
gestão de pessoas. Porém, dentre as opções de curso de extensão oferecidas existia a opção do
curso de Gestão de Pessoas/Liderança de Equipes, que foi um dos cursos menos escolhidos,
perdendo apenas para instrutor de treinamentos (ver gráfico 1).
Outras habilidades e competências requeridas para um gestor foram: capacidade se
comunicar com eficiência, saber negociar e conduzir mudanças. A capacidade de se
comunicar com eficiência é uma função estratégica e apoia estruturalmente os negócios
empresariais. Todo profissional tem que se comunicar com diversas pessoas por diversos
objetivos, e o sucesso para atingir estes objetivos está diretamente relacionado na forma que
este se comunica.
Quando um profissional propõe a mudança em um processo ou procedimento
organizacional, a comunicação eficaz é fundamental para que seu superior ou seus clientes
internos aprovem. Após aprovado, este deverá ser implementado, e em muitos casos para o
sucesso desta implementação, será necessário treinamentos para sensibilização e
comprometimentos dos demais colaboradores. Constata-se nesta situação o quão importante é
para um gestor saber se comunicar, possuir técnicas precisas. Para isso um curso de Instrutor
de Treinamento é uma ótima opção, visto que seu principal objetivo: é formar multiplicadores
de conhecimento. Este curso também estava contemplado na lista de opções de cursos de
extensão, no entanto só foi escolhido por apenas 7% dos entrevistados em 2011 e por 14% em
2014, foi o curso menos escolhido dentre todos (ver gráfico 1). Todo Gestor, ou melhor, todo
profissional deve saber as melhores técnicas para falar bem em público, planejamento para
um processo de comunicação sem ruídos, está é uma das funções mais básicas para qualquer
atividade profissional.
No quesito Pró-atividade, ao analisar as letras “a” e “d” também se identifica
discordância, visto que para buscar “novas” oportunidades e desenvolver atividades
diferentes, o profissional deve investir em uma formação multidisciplinar. “Nova” significa
buscar aquilo que não se conhece ou que não se tem. Sabe-se que a maneira de conseguir isto
é com a formação multidisciplinar, todavia ficou evidenciado que o Arquivista não investe
nesta formação. Portanto, qual conceito de Gestor e Pró-atividade os Arquivistas que
responderam o questionário têm? Será que foi realmente a Pró-atividade que foi determinante
para que eles assumissem o perfil de Gestor? Será que eles têm perfil de Gestor ou de Chefe
13
de Arquivo? Ou seja, aquele profissional que se envolve apenas com as atividades e questões
do seu departamento.
4.1 Gestor de Informação ou Guardador de Documentos?
O questionário encerrava com perguntas referentes à visão da sociedade para com o
Arquivista e qual nomenclatura é mais adequada para o profissional graduado em
Arquivologia. Quando foi perguntado como os entrevistados achavam que o Arquivista (eles
próprios) era visto pela sociedade, mais de 90%, em ambos os anos responderam que achava
que este profissional (eles) era visto como Guardador/Controlador de Documentos e apenas e
menos de 10% responderam que o Arquivista era visto pela sociedade como Gestor de
Documentos e Informação.
Para aqueles que escolheram que o Arquivista era visto como Guardador/Controlador
de Documentos (a grande maioria), foi perguntado por que razão a sociedade os enxergava
assim. Havia duas opções de escolha podendo optar somente por uma, as quais eram: a
postura do Arquivista que age como um guardador de documentos, e continua executando
tarefas de técnico de arquivo e a falta de especialização do profissional, o que o impede de
realizar tarefas de Gestor. Em ambos os anos mais de 70% dos entrevistados disseram que a
sociedade vê o Arquivista como Guardador/Controlador de Documentos devido à postura
deste que age como um guardador de documentos, e continua executando tarefas de técnico
de arquivo, menos de 30% disseram que é devido e a falta de especialização do profissional, o
que o impede de realizar tarefas de gestor.
A última pergunta do questionário era: Qual nomenclatura de cargo é mais adequada
para o profissional de Arquivologia? Foram dadas oito opções: Gestor de Documentos;
Controlador de Documentos; Especialista em conservação de Acervos; Gestor da
Informação; Especialista em Documentação; Analista de documentação; Administrador de
Arquivo e Documentalista era permitido escolher até três opções. Gestor da Informação foi a
opção mais escolhida com 43% e 49%, nos anos de 2011 e 2014, respectivamente. A
nomenclatura de Controlador de Documentos não foi escolhida por nenhum dos
entrevistados, nos dois anos!
Uma vez que a maioria dos Arquivistas considerou que a nomenclatura mais adequada
para o profissional graduado em Arquivologia seria a de Gestor da Informação, é importante
14
destacar as atribuições dos profissionais da informação. Para Castro (2000) os profissionais da
informação devem atuar no sentido de buscar o saber, a autonomia e o domínio no manuseio
da informação, dando então suporte às principais decisões estratégicas empresariais, já que
essas são calcadas em informações e conhecimento. Assim sendo, pode-se concluir que o
profissional da informação é um especialista que lida com ativos tangíveis e intangíveis que
gera valor à organização. Por isso para Ferreira (2005) o profissional da informação deve
conhecer o ambiente do negócio no qual está atuando, bem como entender dos negócios das
áreas afins.
Para dar suporte às decisões estratégicas empresariais e assim gerar valor para a
empresa o profissional da informação deve realizar atividades que vão desde as técnicas até as
gerenciais, conforme descrito na tabela a seguir:
Tabela 1: Atividades do Profissional da Informação
Técnicas Gerenciais
Coleta (Aquisição) Planeja e gerencia projetos para automatizar unidades de
informação
Análise Elabora políticas de funcionamento das unidades de informação
Avaliação Gerencia ambientes digitais de armazenamento de informações e
documentos
Classificação (taxonomia) Desenvolve e gerenciar padrões de qualidade para o conteúdo de
fontes de informação e para os serviços prestados aos clientes
Seleção Analisa recursos da tecnologia de informação e comunicação
Codificação Elabora relatórios gerenciais e de indicadores
Indexação Elabora e implementa política para preservação de documentos/
informação e da memória institucional
Catalogação Administrar transformações e mudança nas rotinas de trabalho
Arranjo
Identifica e interpreta demandas de informação do negócio,
selecionando e pesquisando as fontes de informação interna e
externas
Descrição Participa da elaboração de planos e carreiras
Arquivamento Promove treinamentos e orientações para os clientes
Conservação Elabora estratégia para disseminação da informação
Preservação Gerencia portfólio de ativos de conhecimento, identificando os
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Técnicas Gerenciais
repositórios de informação e conhecimento dentro e fora da
organização
Empréstimo Administra recursos orçamentários
Eliminação Participa do processo de arquitetura da informação
Elaboração de instrumentos de pesquisa
Fonte: CBO (2002); Paes (2005); Skyme et al., (1997)
De acordo com a tabela acima, pode se constatar que os profissionais da informação só
serão capazes de realizar as atividades gerenciais, se possuírem certas competências, das quais
se destacam: conhecimento interdisciplinar e especializado; capacidade de contextualização;
capacidade de conceituação; domínio de ferramentas e de tecnologias da informação;
adaptação ao novo; flexibilidade e abertura às mudanças; capacidade de gerenciamento; lidar
com contradições e conflitos; relacionamento interpessoal; excelência na comunicação oral e
escrita, inclusive em outros idiomas; lidar com as diversas habilidades funcionais; capacidade
de aprendizado próprio e de facilitar o aprendizado dos outros; ser ético, proativo,
empreendedor, ter energia, criatividade, consciência coletiva e visualizar o sucesso.
Davenport (1998, p.141-143) questiona o que há de errado com as bibliotecas, Santos
et al., (2007), substitui os objetos de análise de Davenport – biblioteca e bibliotecários - por
arquivo e arquivistas, pois considerou que os problemas apresentados pelo autor também se
aplicam aos arquivistas. Para fazer esta analogia acrescentou algumas considerações:
Arquivistas são depositários passivos de conhecimento: Informações recebidas só
saem sob demanda, não há iniciativas de difusão;
Arquivistas priorizam a preservação das informações, a ponto dessa priorização
resultar em restrição de acesso;
Arquivos não criam nem melhoram informações, com exceção dos instrumentos de
pesquisas arquivísticos (plano de classificação, tabela de temporalidade, manuais de
gestão etc.), as informações de responsabilidade do arquivo raramente são
sintetizadas ou reestruturadas; esta tarefa é reservada aos usuários;
O modelo de arquivo implica um repositório físico: este aspecto é uma demanda
organizacional nos arquivos, visto que tem relação com responsabilidades das
unidades administrativas, com atividade que gerou o documento e com sua proteção
física; este fato se mantém quanto aos arquivos centrais, enquanto responsáveis pela
fase intermediária, porém, em qualquer um dos casos, a existência de sistemas
informatizados de gestão de documentos pode minimizar a necessidade de
deslocamento do usuário da informação, quando de outra unidade administrativa não
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detentora do documento demandado – por meio de autorização de acesso (SANTOS
et al., 2007, p.184-185).
Constata-se na analogia de Santos et al., (2007) que os Arquivistas ainda não possuem
uma postura do profissional da informação. Isto fica evidente com a exclusão dos Arquivistas
do agrupamento de profissionais da informação feito pela Classificação Brasileira de
Ocupações – CBO do Ministério do Trabalho nas edições de 2003 e 2010. Além da exclusão
a descrição da função feita pelo Ministério do Trabalho está defasada, pois é a mesma
descrição da primeira edição em 2002, em oito anos não sofreu nenhuma atualização e é a
mesma descrição para Arquivistas e Museólogos:
DESCRIÇÃO SUMÁRIA - Organizam documentação de arquivos institucionais e
pessoais, criam projetos de museus e exposições, organizam acervos museológicos
públicos e privados. Dão acesso à informação, conservam acervos. Preparam ações
educativas ou culturais, planejam e realizam atividades técnico-administrativas,
orientam implantação das atividades técnicas. Participam da política de criação e
implantação de museus e instituições arquivísticas (BRASIL. Ministério do
Trabalho).
Na sociedade do conhecimento onde transformações tecnológicas, econômicas, sociais
estão ocorrendo com grande velocidade, tornando os ambientes cada vez mais dinâmicos e
complexos, o que demanda por novas profissões e novos perfis profissionais, a descrição de
uma profissão ficar estática por oito anos é ignorar toda evolução que a sociedade do
conhecimento nos trouxe.
Pode-se utilizar a descrição da CBO para responder por que a sociedade vê o
Arquivista como um Guardador/Controlador de Documentos, pois a descrição feita por estes
nos remete àquele profissional de décadas passadas que cuidava somente de documentos em
suporte papel. Porém, estas atribuições já foram ampliadas com o advento da informática, e
diversificadas pela sociedade do conhecimento.
5. CONCLUSÃO
A globalização tornou a concorrência mais acirrada, o ritmo das inovações
tecnológicas, sociais e culturais cada vez mais desafiam as estratégias por mais brilhantes que
podem parecer.
“Quando se fazem novas descobertas, se desvendam novas verdades e as maneiras e
opiniões mudam com a mudança das circunstâncias, as instituições devem avançar
17
também e acompanhar o andamento dos tempos” (CARMO, 2004 apud TOFFLER,
1995).
Nesta citação do parágrafo anterior, pode-se ver que o mundo está mudando, como diz
Heráclito “A única coisa permanente na vida é a mudança”, tudo muda a todo instante. Na
sociedade do conhecimento esta mudança é mais perceptível devido à velocidade na difusão
da informação, que já não tem mais barreiras geográficas ou de tempo, tudo está disponível
em tempo real, em qualquer lugar.
Estas mudanças nos obrigam a estar em pleno estado de atualização. O que se fazia
ontem de uma maneira, hoje já se faz de outra, e pode ser que amanhã já se tenha uma nova
maneira. Desta forma novos negócios surgem, assim como novas empresas, novos
profissionais e profissões e aqueles que querem sobreviver neste mundo dinâmico e
globalizado têm que se adequar com as novas demandas.
Como dito acima, tudo muda a todo instante, e o mercado de trabalho também é
afetado por estas mudanças e com isso cresce a exigência por novos perfis profissionais, não
mais aquele profissional especialista em uma determinada área, mas aquele que é
multiespecialista, não quer dizer que o profissional tenha que ser especialista em tudo, mas ter
uma visão sistêmica, e ter conhecimento em outras áreas.
O perfil profissional do Arquivista mudou muito e continua mudando, se no passado
este profissional era visto como aquele que organizava e preservava documentos em suporte
papel para dar acesso à administração, isto hoje mudou e muito. Hoje este profissional, além
de desempenhar suas tarefas técnicas, tem que desempenhar atividades gerenciais, lida com
informação, além de documentos. Falar em informação na sociedade do conhecimento e falar
em compartilhamento, difusão, segurança, de um grande volume de informação que é
produzida diariamente. Não há mais como gerir toda essa informação sem o auxilio da
tecnologia da informação, logo o Arquivista deve possuir conhecimentos suficientes para
gerenciar estas informações em ambientes digitais.
O conhecimento multidisciplinar não é suficiente, além dele o profissional eficaz tem
que ter habilidade e atitude. A junção das três iniciais (CHA) é tudo o que uma função/cargo
de uma empresa exige para que o serviço/produto seja bem administrado e de boa qualidade.
URBANAVICIUS et al., ([?]) define os significados para essas letras, da seguinte maneira:
C = Saber (conhecimentos adquiridos no decorrer da vida, nas escolas,
universidades, cursos. etc.)
H = Saber fazer (capacidade de realizar determinada tarefa, física ou
mental).
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A = Querer fazer (comportamentos que temos diante de situações do nosso
cotidiano e das tarefas que desenvolvemos no nosso dia-a-dia (URBANAVICIUS et
al., [?]).
De acordo com as definições acima, constata-se que o autor ressalta o “saber”, ou
seja, o novo profissional além de saber deve saber fazer. Porém, a complexidade é tamanha
que saber e saber fazer não basta: o profissional ainda tem que ter atitude, ou seja, tem que
“querer fazer”, saber se comportar diante das diversas situações do dia-a-dia para atingir os
objetivos da organização. Muitas vezes este “querer fazer” vale mais que o saber, pois não
adianta saber e saber fazer se não se quer fazer.
Foi neste ponto que a pesquisa se embasou - no “querer fazer”, ou seja, se o Arquivista
quer ser um Gestor da Informação (conforme maioria das respostas obtidas nos questionários
aplicados) este tem que querer ser reconhecido como um Gestor da Informação; tem que
“querer” não ser visto mais como um Guardador/Controlador de Documentos, tem que
“querer” se qualificar para desempenhar atividades gerenciais.
Este “querer” tem que vir antes de adquirir conhecimentos e da capacidade para
realizar determinadas tarefas, pois é este querer que irá motivá-lo a adquirir conhecimentos e
capacidade para realizar determinadas tarefas, como diz Adélia Prado: “Nem a faca, nem o
queijo, eu quero a fome”. A fome em querer ser um Gestor faz com que o profissional busque
investir em uma formação multidisciplinar.
Entretanto, a pesquisa identificou que a grande maioria dos Arquivistas não investe
numa formação multidisciplinar, e que isso não mudou ao longo de quase três anos, que
procuram sempre obter conhecimentos naquilo que já foi adquirido no curso de graduação.
Sem o “querer fazer”, o Arquivista dificilmente será um Gestor, provavelmente, continuará
sendo visto como um Controlador/Guardador de Documentos.
Querer ser um Gestor, não significa que o Arquivista não vá desempenhar tarefas
técnicas, até mesmo porque um bom gestor tem que saber como se faz, para gerir melhor a
equipe, os processos e as atividades da sua área. O problema é permanecer desempenhado
tarefas técnicas, o que não condiz com a profissão de Arquivista, segundo a Lei 6.546 de 04
de julho de 1978.
Em suma os Arquivistas precisam seguir as novas regras do mercado de trabalho, que
hoje opera em larga escala de complexidade, e que exige uma nova postura profissional e a
busca constante de novos conhecimentos e competências, principalmente, nas áreas de
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administração e informática (COELHO, 2009). Isto não é exclusividade para os Arquivistas, é
uma demanda global, para qualquer profissional que deseja sobreviver neste mercado. Para
sobreviver como profissional na sociedade do conhecimento o Arquivista deverá investir
numa formação multidisciplinar.
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