A Postura Profissional Do Arquivista na Sociedade Do Conhecimento

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1 A POSTURA PROFISSIONAL DO ARQUIVISTA NA SOCIEDADE DO CONHECIMENTO ARCHIVIST’S PROFESSIONAL ATTITUDE IN THE KNOWLEDGE SOCIETY SILVA, Wellington da Graduado em Arquivologia UNIRIO Especialização em Gestão do Conhecimento e Inteligência Empresarial - UFRJ Especialização em Gestão pela Qualidade Total - UFF [email protected] RESUMO A sociedade do conhecimento trouxe consigo a velocidade do tempo real, com amplas possibilidades de criação, difusão, compartilhamento, colaboração, e acessos múltiplos às informações, quebrando barreiras do tempo e geográficas, impulsionada pelas mudanças tecnológicas, sociais e culturais. O presente artigo tem o objetivo de analisar a postura profissional do Arquivista na sociedade do conhecimento. Esta análise foi embasada em pesquisa empírica, realizada com profissionais e estudantes de Arquivologia. As questões que orientaram a realização deste trabalho foram as seguintes: Como o Arquivista se posiciona frente às mudanças no mercado de trabalho, que agora passa a exigir uma formação multidisciplinar? Quais competências e qualificações eles consideram importantes para o seu desenvolvimento profissional? Palavras-Chave: Arquivista, Sociedade do Conhecimento, Postura Profissional. ABSTRACT The knowledge society has brought the speed of real time, with ample opportunities for creation, dissemination, sharing, collaboration, and multiple access to information, breaking barriers of time and geographical, driven by technological, social and cultural changes. This article aims to analyze the professional’s posture of Archivist in the knowledge society. This analysis was based on empirical research made with professionals and students of Archivology. The questions that guided this work were as follows: How Archivist is

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O presente artigo tem o objetivo de analisar a postura profissional do Arquivista na sociedade do conhecimento. Esta análise foi embasada em pesquisa empírica, realizada com profissionais e estudantes de Arquivologia. As questões que orientaram a realização deste trabalho foram as seguintes: Como o Arquivista se posiciona frente às mudanças no mercado de trabalho, que agora passa a exigir uma formação multidisciplinar? Quais competências e qualificações eles consideram importantes para o seu desenvolvimento profissional?

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A POSTURA PROFISSIONAL DO ARQUIVISTA NA SOCIEDADE DO

CONHECIMENTO

ARCHIVIST’S PROFESSIONAL ATTITUDE IN THE KNOWLEDGE SOCIETY

SILVA, Wellington da

Graduado em Arquivologia – UNIRIO

Especialização em Gestão do Conhecimento e Inteligência Empresarial - UFRJ

Especialização em Gestão pela Qualidade Total - UFF

[email protected]

RESUMO

A sociedade do conhecimento trouxe consigo a velocidade do tempo real, com amplas

possibilidades de criação, difusão, compartilhamento, colaboração, e acessos múltiplos às

informações, quebrando barreiras do tempo e geográficas, impulsionada pelas mudanças

tecnológicas, sociais e culturais. O presente artigo tem o objetivo de analisar a postura

profissional do Arquivista na sociedade do conhecimento. Esta análise foi embasada em

pesquisa empírica, realizada com profissionais e estudantes de Arquivologia. As questões que

orientaram a realização deste trabalho foram as seguintes: Como o Arquivista se posiciona

frente às mudanças no mercado de trabalho, que agora passa a exigir uma formação

multidisciplinar? Quais competências e qualificações eles consideram importantes para o seu

desenvolvimento profissional?

Palavras-Chave: Arquivista, Sociedade do Conhecimento, Postura Profissional.

ABSTRACT

The knowledge society has brought the speed of real time, with ample opportunities for

creation, dissemination, sharing, collaboration, and multiple access to information, breaking

barriers of time and geographical, driven by technological, social and cultural changes. This

article aims to analyze the professional’s posture of Archivist in the knowledge society. This

analysis was based on empirical research made with professionals and students of

Archivology. The questions that guided this work were as follows: How Archivist is

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positioned facing to the changes in the labor market, which will require a multidisciplinary

background? Which skills and qualifications they consider important to your professional

development?

Keywords: Archivist, Society of Knowledge, Professional Attitude.

1. INTRODUÇÃO

A sociedade do conhecimento trouxe consigo a velocidade do tempo real, com amplas

possibilidades de criação, difusão, compartilhamento, colaboração, e acessos múltiplos às

informações. O conhecimento vem se tornando um diferencial para as empresas que buscam

vantagem competitiva e excelência em seus negócios, configurando-se assim um dos

principais ativos das empresas (SQUIRRA, 2005). Segundo Davenport (1998) informação e

conhecimento são criações humanas, que nascem da motivação e da vontade de criar e

compartilhar. Máquinas não são capazes de produzir conhecimento.

O processo de criação do conhecimento inclui as atividades de: coleta, classificação,

análise, disseminação e verificação da eficiência e qualidade das informações entregues às

pessoas que as solicitaram. Nonaka et al., (1997) denominam este padrão de criação do

conhecimento como “combinação” (do conhecimento explícito para explícito), que é quando,

por meio de coleta de informações, análises de dados, relatórios, estatística etc., um

profissional produz um novo documento a partir da combinação da “socialização1” e

“externalização2" do conhecimento, outros dois padrões de criação do conhecimento

identificado pelo autor. Os profissionais capazes para realização destes padrões, além de

outras competências, devem ter: conhecimento multidisciplinar, capacidade de gerenciamento

e domínio das ferramentas da tecnologia da informação (FARIA et al., 2005, p.27)

O modelo de gestão da informação não foi criado nem transformado, se comparado

com o modelo de gestão de documentos, constata-se que foi apenas ampliado devido o

advento do computador/internet (DAVENPORT, 1998). Quando a internet foi criada, os

1 Socialização do conhecimento: De tácito para tácito ocorre quando uma experiência profissional é passada por meio de

treinamento ou instruções práticas; neste caso, há um compartilhamento de experiências.

2 Externalização ou Articulação do conhecimento: De tácito para explícito quando o conhecimento de uma pessoa é

explicitado, isto é, registrado de forma factual e inteligível para os demais.

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profissionais mais familiarizados com ela eram os profissionais de Informática com isso eles

assumiram atividades de organização, indexação, classificação, fluxo de trabalho, governança

e design de softwares, sites, intranets e extranets, entre outras. Com o desenvolvimento da

sociedade do conhecimento a multidisciplinaridade, ficou mais necessária e evidente, foi

então que estas atividades passaram a ser, gradualmente, desenvolvidas por outros

profissionais.

O Arquivista é um dos profissionais qualificados para realizar estas atividades, uma

vez que sua formação o prepara para gestão de documentos, a qual inclui as atividades de:

produção, avaliação, aquisição, preservação, classificação, descrição, arranjo, disseminação e

acesso aos documentos. Neste novo cenário os conceitos e os objetivos são os mesmos que o

da Arquivologia: gestão de documentos para torná-los acessíveis, para gerar conhecimento e

compartilhá-lo, para agregar valor à empresa e trazer resultados ao negócio, o que muda são

as ferramentas.

Este artigo visa analisar a postura profissional do Arquivista diante do novo cenário

que caracteriza o mercado de trabalho. Para alcançar este objetivo, este trabalho foi dividido

em três partes:

1. Primeira Parte – Serão analisadas as principais características e objetivos da Sociedade

do Conhecimento. Serão enfatizadas as razões que explicam porque o conhecimento

se tornou um dos principais ativos das organizações.

2. Segunda Parte – Serão abordadas as mudanças observadas no mercado de trabalho

decorrentes da sociedade do conhecimento. Neste caso serão ressaltadas as novas

competências e habilidades que qualquer profissional deverá ter para sobreviver nele.

3. Terceira Parte – O foco da terceira e última parte será a postura profissional do

Arquivista frente à Sociedade do Conhecimento, nela será abordada a necessidade do

investimento em uma formação multidisciplinar.

Metodologicamente foi elaborado um questionário em meio eletrônico com perguntas

de múltipla escolha é aberta, sobre atualização e qualificação profissional, importância em

investir em um curso de pós-graduação, conhecimento na língua inglesa, competência

profissional entre outras. O questionário foi direcionado aos profissionais graduados e

estudantes de Arquivologia, este era o único requisito: ser graduado em Arquivologia ou está

cursando, independente do ano de formação ou período do curso.

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O mesmo questionário foi aplicado em dois períodos diferentes: a primeira aplicação

ocorreu em julho de 2011, a segunda em maio de 2014. O objetivo da reaplicação do

questionário em dois períodos diferentes foi para verificar se houve alguma mudança na

postura profissional do Arquivista na sociedade do conhecimento ao longo desses quase três

anos.

2. A SOCIEDADE DO CONHECIMENTO

Entre meados do século XIX e início do século XX o mundo transitou da sociedade

agrícola para a sociedade industrial (BAÊTA et al., 2005). Na sociedade agrícola a terra e a

mão-de-obra eram os grandes fatores de produção, estes eram determinantes para impulsionar

a economia. Com a revolução industrial a tecnologia ganha importância, na sociedade

industrial, mão-de-obra e terra dão lugar ao capital e o trabalho, que passam a ser as forças

motrizes do desenvolvimento econômico (CAVALCANTI et al., 2010).

O conhecimento passou a ocupar uma posição essencial no desenvolvimento das

forças produtivas e geração de riqueza, Drucker (1993) diz que: “o conhecimento tornou-se o

recurso essencial da economia” e que “o fator de produção decisivo não é mais nem o capital

nem o trabalho, mas o conhecimento”. Os fatores clássicos de produção tornaram-se

secundários, com o conhecimento eles podem ser obtidos com mais facilidade.

Para Baêta et al., (2005), na sociedade do conhecimento as possibilidades de

compartilhamento ampliadas pelas tecnologias da Informação e Comunicação rompem

barreiras geográficas e de tempo, permitindo que a informação possa ser absorvida de forma

quase instantânea, a quilômetros de distância de onde foi concebida, aproximando pessoas e

organizações. Para constatar isso destacam algumas características da sociedade do

conhecimento, para entender melhor este novo contexto e identificar os desafios que hoje se

impõem à prática profissional:

A competitividade das empresas e das nações passa a depender mais da

capacidade de gerar e utilizar conhecimentos e inovações do que das

vantagens competitivas tradicionais ou clássicas, como mão-de-obra barata, e

recursos naturais.

Os ideais democráticos e humanísticos são valorizados.

O agravamento dos desastres ecológicos provoca a multiplicação de tratados

internacionais para salvaguardar o meio ambiente e impõe restrições às

atividades humanas.

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Redes interativas de comunicação favorecem o acesso rápido e irrestrito à

informação e troca de opiniões.

A solução para problemas cada vez mais amplos e complexos exige

abordagens interdisciplinares e a sinergia das instituições.

A população torna-se mais sofisticada intelectualmente e passa a dispor de

maior expectativa de vida e de mais tempo livre, o que implica uma crescente

importância das atividades associadas à saúde, à educação, à cultura e ao

lazer.

O perfil dos empregos se modifica: diminuem as oportunidades de trabalho

na agricultura e na manufatura e aumentam postos de trabalho no setor de

serviços. (BAÊTA et al., 2005)

3. O MERCADO DE TRABALHO E AS MUDANÇAS DEVIDO A SOCIEDADE

DO CONHECIMENTO

Estamos vivendo na sociedade do conhecimento, onde as mudanças acontecem com

muita rapidez, constantes inovações tecnológicas, sociais, descobertas biomédicas e humanas,

entre outros. Consequentemente a exigência por resultados também é grande, por isso o

mercado de trabalho e as relações corporativas passam por uma revolução. Hoje o mercado de

trabalho opera em um elevado nível de complexidade, isto exige uma nova postura

profissional, uma visão sempre atualizada e a busca constante de novos conhecimentos e

competências.

Já não basta mais ser especialista em uma única área: Engenharia, Administração,

Informática, Arquivologia, Biblioteconomia, Direito etc., estamos vivendo na era - que muitos

consultores e autores chamam de “era dos multiespecialistas”, onde se deve entender de

assuntos de diversas áreas, para se ter uma visão ampla e conhecimento global. Um

multiespecialista deve investir numa formação multidisciplinar, adquirindo conhecimentos

diferentes daqueles adquiridos em seu curso de graduação (COELHO, 2009).

Os cursos de pós-graduação são ótimos investimentos para aquisição de

conhecimento, e são apontados como um pré-requisito para o posicionamento profissional e

para a eficiência que as empresas buscam. (COELHO, 2009 apud ARAÚJO [?])

“A velocidade com que novas tecnologias se integram no ambiente de trabalho, as

necessidades de interferências técnicas e gerenciais para solução de novos

problemas exigem que o profissional busque constantemente formas de

atualização” (COELHO, 2009 apud ARAÚJO [?]).

O conhecimento de outros idiomas também é fundamental. O inglês ainda é o mais

importante, seguido pelo espanhol. Outra maneira de adquirir conhecimento é com os cursos

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de extensão, os quais complementam os conhecimentos numa determinada área, muito

eficiente, também, para formação multidisciplinar, proporcionando conhecimento que não

estava incluído na grade curricular do curso de graduação.

No novo cenário imposto pelo mercado de trabalho, que valoriza multiconteúdos e

multiespecialistas, investir na capacitação é, sem dúvida, a melhor opção para quem busca

empregabilidade e valorização profissional, pois todo profissional almeja evoluir, crescer, ser

promovido. Nos dias de hoje, é com a educação continuada que este objetivo será atingido.

3.1 Como o Arquivista está se Qualificando para o Novo Mercado de Trabalho?

Para saber qual a postura profissional do Arquivista neste novo cenário imposto pelo

mercado de trabalho, o qual passa por uma revolução, e por isso está exigindo que os

profissionais sejam multiespecialistas, pois assim terão melhores oportunidades e valorização

profissional, utilizou-se os dados obtidos na aplicação e replicação do questionário aos

Arquivistas e estudantes de arquivologia, nos anos de 2011 e 2014.

Conforme abordado no capítulo anterior a educação continuada é um diferencial

competitivo para qualquer profissional, o curso de pós-graduação é pré-requisito para

valorização do profissional (COELHO, 2009 apud ARAÚJO [?]). Uma das primeiras

perguntas do questionário era se o entrevistado achava importante para o Arquivista fazer um

curso de pós-graduação. Na pesquisa aplicada em 2011, 99% dos entrevistados disseram que

sim, já na aplicada em 2014 esse número teve uma leve queda, 96%. Todavia este resultado

ficou abaixo, quando perguntado quem já havia cursado ou estava cursando algum curso de

pós-graduação (mais de 90% dos entrevistados em ambos os anos já estavam formados - 98%

em 2011 e 92% em 2014). Em 2011 apenas 54% dos entrevistados responderam que sim, já

em 2014 o número subiu para 61%, o que indica uma preocupação do Arquivista em se

qualificar.

Como o novo mercado exige um multiespecialista, foi perguntado “Qual (s) curso (s)

de pós-graduação (lato sensu) os entrevistados cursaram ou gostariam de cursar?” Foi

apresentada uma lista com nove opções de cursos de pós-graduação (lato sensu), oferecidos

em âmbito nacional, principalmente, nas áreas de administração e informática, que são as

áreas tidas como fusão da ciência da informação conforme define (DAMASIO et al., 2000,

p.4). O entrevistado podia escolher até três cursos, dentre as seguintes opções: Ciência da

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Informação, Gestão de Arquivos, Memória Social, Planejamento, Organização e Direção de

Arquivo, Gestão pela Qualidade Total, Gestão do Conhecimento, Gestão de Projetos, Gestão

Empresarial e Administração de Sistemas de Informações, ainda trazia a opção “outros”, para

escolha de algum curso que não tivesse sido contemplado na lista. As respostas foram

adversas quanto à formação multidisciplinar, em ambos os períodos que o questionário foi

aplicado, que é exigida pelo novo cenário do mercado de trabalho. Em 2011 42% dos

Arquivistas escolheram o curso de Planejamento, Organização e Direção de Arquivo,

seguido pelo curso de Gestão de Arquivos que obteve 40%. Os mesmos cursos continuaram

como os mais escolhidos em 2014, porém houve uma inversão o curso de Gestão de Arquivos

foi escolhido por 60% dos entrevistados e em segundo lugar o curso de Planejamento e

Direção de Arquivo com 47%.

Os dois cursos mais escolhidos, nos dois anos, contemplam disciplinas que já integram

a grade curricular do curso de graduação em Arquivologia. Especificando o curso de Gestão

de Arquivos este oferece, entre outras, as disciplinas de: Fundamentos da Arquivística;

Documentação Contábil; Documentação Audiovisual; Conservação Preventiva em Arquivos;

Gestão da Informação em Arquivos correntes e intermediários; Gestão da Informação em

Arquivos Permanentes; Paleografia e Diplomática; Arquivos Hospitalares. Cada disciplina

com carga horária de 24 horas, exceto Gestão da Informação em Arquivos correntes e

intermediários, a qual possui 48 horas. Neste curso de 360 horas, Arquivistas passaram ou

passariam 216 horas, estudando aquilo que já estudaram em seu curso de graduação, ou seja,

60% do curso obtendo “conhecimento” daquilo que já é conhecido.

A postura em não investir em uma formação multidisciplinar também foi constatada

com os dados obtidos na pergunta em relação aos cursos de extensão que os Arquivistas

gostariam de fazer, tanto em 2011 quanto em 2014. Foram dadas dezenove opções de cursos

de extensão nas áreas de arquivologia, administração, informática, qualidade entre outras, e os

entrevistados poderiam escolher até cinco opções. Dentre os dezenove cursos relacionados o

mais escolhido foi o de Gerenciamento Eletrônico de Documentos (GED), com 68% (2011) e

61% (2014). Numa primeira análise este resultado pode parecer positivo, visto que a

ferramenta é oriunda da área da Informática. Entretanto, se mais de 60% dos entrevistados

gostariam de fazer este curso, significa que eles não possuem conhecimento suficiente na

ferramenta. Esta análise pode ficar mais crítica se considerado que a necessidade de gerenciar

eletronicamente os documentos surgiu na década de 80, com a explosão dos

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microcomputadores, que resultou num grande volume de documentos digitais. Mais de três

décadas depois da invenção da tecnologia, este assunto já deveria ser de pleno domínio dos

Arquivistas, não necessitando, nos dias de hoje, de um curso de extensão para obter

conhecimento da ferramenta.

Quando analisado as demais opções escolhidas, percebe-se que houve uma pequena

melhora para postura de um profissional multiespecialista. O curso de Microfilmagem e

Digitalização permaneceu com a segunda opção mais escolhida 49% (2011) e 41% (2014),

contudo o curso de Segurança da Informação passou a ocupar a terceira posição com 39%, no

lugar do curso de Conservação e Preservação que em 2011 obteve 42% e em 2014 baixou

para 35%.

Como dito no inicio do parágrafo anterior, houve uma “pequena” melhora, pois cursos

como: Protocolo e Arquivos Correntes; Tabela de Temporalidade e Gestão de Documentos

que, são objetos de estudo do curso de graduação em Arquivologia, permaneceram com altos

índices de escolha. Ao passo, que cursos como de Instrutor de treinamento e Gestão de

Pessoas/Liderança de Equipes continuaram como os menos escolhidos, veja gráfico abaixo:

Gráfico 1 – Cursos de extensão que os Arquivistas gostariam de cursar

Fonte: Elaboração própria com base no questionário aplicado

Tão importante, ou até mais, que o curso de pós-graduação o conhecimento em outro

idioma, principalmente o inglês, é fundamental para qualquer profissional. Neste quesito o

resultado foi pior que os anteriores. Perguntado aos entrevistados em 2011 qual o nível de

conhecimento na língua inglesa, 49% declararam que só possuem conhecimentos básicos no

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idioma, 26% conhecimento em nível intermediário, 18% nível avançado e, somente, 7% são

fluentes na língua inglesa. Os resultados de 2014 obtiveram avanços quase nulos, o nível

fluente aumentou para 9%, e intermediário para 30%, os níveis básico e avançado obtiveram

41% e 15%, respectivamente. Para entender melhor a definição destes níveis, foi utilizada a

descrição dos níveis do idioma do IELTS3:

a) Nível Básico - Dificilmente estabelecerá uma comunicação, exceto para informações

básicas, usando palavras isoladas ou frases curtas em situações familiares e para

atender as necessidades imediatas. Tem grande dificuldade para compreender, falar e

escrever em Inglês.

b) Nível Intermediário - Tem dominio parcial da língua, lida com significado geral na

maioria das situações, provavelmente comete muitos erros. É capaz de conduzir uma

comunicação básica em seu campo de estudo.

c) Nível Avançado - Tem o dominio operacional da língua, embora com imprecisões

pontuais e inapropriações e mal-entendidos em algumas situações. Geralmente lida

com linguagem complexa e entende bem o raciocínio detalhado.

De acordo com as descrições acima, mais de 70% dos Arquivistas, os quais possuem

nível básico e intermediário, só estão aptos para estabelecer uma comunicação com erros e

dificuldade na escrita, fala e compreensão, pouco mais de 20% estão aptos a estabelecer uma

comunicação com um bom entendimento. Num mundo globalizado, onde as informações

procedem de todos os lugares, a exigência em possuir, no mínimo, nível avançado na língua

inglesa, se faz necessário para qualquer profissional. Na sociedade do conhecimento as

informações devem ser: coletadas, classificadas, analisadas, entre outras, quem tem nível

básico e intermediário de conhecimento na língua inglesa não está qualificado suficientemente

para desempenhar estas atividades, porque somente o acesso à informação não basta, é preciso

ter conhecimento para interpretá-las, internalizá-las e a partir disso gerar conhecimento

(NONAKA et al., 1997). Com muita frequência estas informações estão disponíveis somente

em inglês, independente do negócio da empresa. Podemos usar como um exemplo muito claro

a base de dados Science Direct4, que é umas das principais do mundo, tem em seu acervo

3 O IELTS (International English Language Testing System) é o exame de língua inglesa mais popular do mundo. Mais de 2

milhões de pessoas fazem o IELTS a cada ano. http://www.sk.com.br/sk-toefl.html: Acesso em 10 de Mai. de 2014.

4 http://www.elsevier.com/online-tools/sciencedirect: Acesso em 10 de Mai. de 2014.

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mais de 15 milhões de artigos e capítulos de livros, em 24 áreas do conhecimento, quase todo

este acervo está em inglês e uma pequena parte em espanhol, ou seja, o profissional que não

domina a língua inglesa terá grande dificuldade para fazer uso de uma importante ferramenta

para difusão de informação e produção do conhecimento.

4. O PERFIL PROFISSIONAL DO ARQUIVISTA

Partindo da área de qualificação e passando para a atuação e postura profissional do

Arquivista nas atividades do dia-a-dia, foi perguntado: Qual perfil profissional tinha mais a

ver com o entrevistado? Foram dadas duas opções: Perfil Operacional, aquele que só executa

e Perfil Gestor, aquele que planeja, elabora e supervisiona. O Perfil Gestor foi escolhido por

93% dos entrevistados e o perfil operacional apenas por 7% em 2011, já em 2014 o percentual

caiu para 81% para o perfil de gestor e o perfil operacional aumentou para 19%.

Após a pergunta sobre o perfil profissional, foi perguntado o que contribuiu para o

entrevistado atingir o perfil escolhido, o que foi determinante para se tornarem um Gestor.

Existiam cinco opções, as quais eram: falar outro idioma; ter curso de pós-graduação; ser

pró-ativo, ter habilidade interpessoal e capacidade para liderar e ter experiências e

qualificações além do campo arquivístico. Não tinha limite para escolha, ou seja, todas as

opções poderiam ser escolhidas, confira no gráfico abaixo o resultado:

Gráfico 2 – Qualificações para ser um Gestor, segundo os Arquivistas

Fonte: Elaboração própria, com base no questionário aplicado

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Como o Perfil Gestor foi o mais escolhido e ser Proativo obteve um alto índice de

escolha em 2011 e um expressivo percentual em 2014, vale a pena contextualizar o

significado de Gestor e Pró-atividade na sociedade do conhecimento.

Devido à revolução pela qual o mercado de trabalho passa, hoje não há mais lugar para

o “chefe” a sociedade do conhecimento exige Gestores. Neste novo cenário este gestor deve

ter uma visão sistêmica e global da estrutura da organização para atingir seus objetivos como

um todo, e não somente para atingir as metas de seu departamento. Deve ter também

habilidades para: decidir e solucionar problemas, saber planejar, lidar com pessoas, motivá-

las, capacidade de se comunicar com eficiência, negociar, conduzir mudanças, obter

cooperação e solucionar conflitos, entre outros. Para realizar estas atividades o gestor deve ter

competência, que se refere a conhecimento e habilidades (CARMO, 2004 apud DEMO,

1996).

Quanto a Pró-atividade, pode-se começar fazendo uma análise semanticamente, pois

um dos significados do prefixo "pró" significa antecipação, algo que acontece antes. A pessoa

proativa está sempre se antecipando aos acontecimentos, fazendo até mesmo alguma espécie

de previsão para poder atuar de forma planejada. Porém, ser pró-ativo não significa tomar

iniciativa intempestiva e agir de qualquer maneira. Antes de tudo é necessário analisar o

contexto, identificar e selecionar as melhores alternativas. Isto não é algo imediato, pode leva

algum tempo (PALLARÉS, 2008). Bateman et al.,(1999), consideram que as pessoas pró-

ativas se caracterizam pelas seguintes características:

a) Estão buscando continuamente novas oportunidades;

b) Têm objetivos orientados às mudanças;

c) Antecipam e preveem problemas;

d) Desenvolvem atividades diferentes;

e) Empreendem a ação e se aventuram apesar da incerteza;

f) São perseverantes e esforçadas e;

g) Conseguem resultados perceptíveis, já que estão orientadas a resultados.

Considerando as características do perfil do novo Gestor e de Pró-atividade listadas

acima, constata-se uma discordância, quando comparado com os resultados obtidos sobre os

cursos escolhidos (pós-graduação e extensão) pelos Arquivistas. Analisando primeiro as

competências e habilidades de um Gestor, não resta dúvida que uma das principais atribuições

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deste é saber lidar com pessoas, motivá-las, obter cooperação e solucionar conflito, ou seja,

gestão de pessoas. Porém, dentre as opções de curso de extensão oferecidas existia a opção do

curso de Gestão de Pessoas/Liderança de Equipes, que foi um dos cursos menos escolhidos,

perdendo apenas para instrutor de treinamentos (ver gráfico 1).

Outras habilidades e competências requeridas para um gestor foram: capacidade se

comunicar com eficiência, saber negociar e conduzir mudanças. A capacidade de se

comunicar com eficiência é uma função estratégica e apoia estruturalmente os negócios

empresariais. Todo profissional tem que se comunicar com diversas pessoas por diversos

objetivos, e o sucesso para atingir estes objetivos está diretamente relacionado na forma que

este se comunica.

Quando um profissional propõe a mudança em um processo ou procedimento

organizacional, a comunicação eficaz é fundamental para que seu superior ou seus clientes

internos aprovem. Após aprovado, este deverá ser implementado, e em muitos casos para o

sucesso desta implementação, será necessário treinamentos para sensibilização e

comprometimentos dos demais colaboradores. Constata-se nesta situação o quão importante é

para um gestor saber se comunicar, possuir técnicas precisas. Para isso um curso de Instrutor

de Treinamento é uma ótima opção, visto que seu principal objetivo: é formar multiplicadores

de conhecimento. Este curso também estava contemplado na lista de opções de cursos de

extensão, no entanto só foi escolhido por apenas 7% dos entrevistados em 2011 e por 14% em

2014, foi o curso menos escolhido dentre todos (ver gráfico 1). Todo Gestor, ou melhor, todo

profissional deve saber as melhores técnicas para falar bem em público, planejamento para

um processo de comunicação sem ruídos, está é uma das funções mais básicas para qualquer

atividade profissional.

No quesito Pró-atividade, ao analisar as letras “a” e “d” também se identifica

discordância, visto que para buscar “novas” oportunidades e desenvolver atividades

diferentes, o profissional deve investir em uma formação multidisciplinar. “Nova” significa

buscar aquilo que não se conhece ou que não se tem. Sabe-se que a maneira de conseguir isto

é com a formação multidisciplinar, todavia ficou evidenciado que o Arquivista não investe

nesta formação. Portanto, qual conceito de Gestor e Pró-atividade os Arquivistas que

responderam o questionário têm? Será que foi realmente a Pró-atividade que foi determinante

para que eles assumissem o perfil de Gestor? Será que eles têm perfil de Gestor ou de Chefe

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de Arquivo? Ou seja, aquele profissional que se envolve apenas com as atividades e questões

do seu departamento.

4.1 Gestor de Informação ou Guardador de Documentos?

O questionário encerrava com perguntas referentes à visão da sociedade para com o

Arquivista e qual nomenclatura é mais adequada para o profissional graduado em

Arquivologia. Quando foi perguntado como os entrevistados achavam que o Arquivista (eles

próprios) era visto pela sociedade, mais de 90%, em ambos os anos responderam que achava

que este profissional (eles) era visto como Guardador/Controlador de Documentos e apenas e

menos de 10% responderam que o Arquivista era visto pela sociedade como Gestor de

Documentos e Informação.

Para aqueles que escolheram que o Arquivista era visto como Guardador/Controlador

de Documentos (a grande maioria), foi perguntado por que razão a sociedade os enxergava

assim. Havia duas opções de escolha podendo optar somente por uma, as quais eram: a

postura do Arquivista que age como um guardador de documentos, e continua executando

tarefas de técnico de arquivo e a falta de especialização do profissional, o que o impede de

realizar tarefas de Gestor. Em ambos os anos mais de 70% dos entrevistados disseram que a

sociedade vê o Arquivista como Guardador/Controlador de Documentos devido à postura

deste que age como um guardador de documentos, e continua executando tarefas de técnico

de arquivo, menos de 30% disseram que é devido e a falta de especialização do profissional, o

que o impede de realizar tarefas de gestor.

A última pergunta do questionário era: Qual nomenclatura de cargo é mais adequada

para o profissional de Arquivologia? Foram dadas oito opções: Gestor de Documentos;

Controlador de Documentos; Especialista em conservação de Acervos; Gestor da

Informação; Especialista em Documentação; Analista de documentação; Administrador de

Arquivo e Documentalista era permitido escolher até três opções. Gestor da Informação foi a

opção mais escolhida com 43% e 49%, nos anos de 2011 e 2014, respectivamente. A

nomenclatura de Controlador de Documentos não foi escolhida por nenhum dos

entrevistados, nos dois anos!

Uma vez que a maioria dos Arquivistas considerou que a nomenclatura mais adequada

para o profissional graduado em Arquivologia seria a de Gestor da Informação, é importante

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destacar as atribuições dos profissionais da informação. Para Castro (2000) os profissionais da

informação devem atuar no sentido de buscar o saber, a autonomia e o domínio no manuseio

da informação, dando então suporte às principais decisões estratégicas empresariais, já que

essas são calcadas em informações e conhecimento. Assim sendo, pode-se concluir que o

profissional da informação é um especialista que lida com ativos tangíveis e intangíveis que

gera valor à organização. Por isso para Ferreira (2005) o profissional da informação deve

conhecer o ambiente do negócio no qual está atuando, bem como entender dos negócios das

áreas afins.

Para dar suporte às decisões estratégicas empresariais e assim gerar valor para a

empresa o profissional da informação deve realizar atividades que vão desde as técnicas até as

gerenciais, conforme descrito na tabela a seguir:

Tabela 1: Atividades do Profissional da Informação

Técnicas Gerenciais

Coleta (Aquisição) Planeja e gerencia projetos para automatizar unidades de

informação

Análise Elabora políticas de funcionamento das unidades de informação

Avaliação Gerencia ambientes digitais de armazenamento de informações e

documentos

Classificação (taxonomia) Desenvolve e gerenciar padrões de qualidade para o conteúdo de

fontes de informação e para os serviços prestados aos clientes

Seleção Analisa recursos da tecnologia de informação e comunicação

Codificação Elabora relatórios gerenciais e de indicadores

Indexação Elabora e implementa política para preservação de documentos/

informação e da memória institucional

Catalogação Administrar transformações e mudança nas rotinas de trabalho

Arranjo

Identifica e interpreta demandas de informação do negócio,

selecionando e pesquisando as fontes de informação interna e

externas

Descrição Participa da elaboração de planos e carreiras

Arquivamento Promove treinamentos e orientações para os clientes

Conservação Elabora estratégia para disseminação da informação

Preservação Gerencia portfólio de ativos de conhecimento, identificando os

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15

Técnicas Gerenciais

repositórios de informação e conhecimento dentro e fora da

organização

Empréstimo Administra recursos orçamentários

Eliminação Participa do processo de arquitetura da informação

Elaboração de instrumentos de pesquisa

Fonte: CBO (2002); Paes (2005); Skyme et al., (1997)

De acordo com a tabela acima, pode se constatar que os profissionais da informação só

serão capazes de realizar as atividades gerenciais, se possuírem certas competências, das quais

se destacam: conhecimento interdisciplinar e especializado; capacidade de contextualização;

capacidade de conceituação; domínio de ferramentas e de tecnologias da informação;

adaptação ao novo; flexibilidade e abertura às mudanças; capacidade de gerenciamento; lidar

com contradições e conflitos; relacionamento interpessoal; excelência na comunicação oral e

escrita, inclusive em outros idiomas; lidar com as diversas habilidades funcionais; capacidade

de aprendizado próprio e de facilitar o aprendizado dos outros; ser ético, proativo,

empreendedor, ter energia, criatividade, consciência coletiva e visualizar o sucesso.

Davenport (1998, p.141-143) questiona o que há de errado com as bibliotecas, Santos

et al., (2007), substitui os objetos de análise de Davenport – biblioteca e bibliotecários - por

arquivo e arquivistas, pois considerou que os problemas apresentados pelo autor também se

aplicam aos arquivistas. Para fazer esta analogia acrescentou algumas considerações:

Arquivistas são depositários passivos de conhecimento: Informações recebidas só

saem sob demanda, não há iniciativas de difusão;

Arquivistas priorizam a preservação das informações, a ponto dessa priorização

resultar em restrição de acesso;

Arquivos não criam nem melhoram informações, com exceção dos instrumentos de

pesquisas arquivísticos (plano de classificação, tabela de temporalidade, manuais de

gestão etc.), as informações de responsabilidade do arquivo raramente são

sintetizadas ou reestruturadas; esta tarefa é reservada aos usuários;

O modelo de arquivo implica um repositório físico: este aspecto é uma demanda

organizacional nos arquivos, visto que tem relação com responsabilidades das

unidades administrativas, com atividade que gerou o documento e com sua proteção

física; este fato se mantém quanto aos arquivos centrais, enquanto responsáveis pela

fase intermediária, porém, em qualquer um dos casos, a existência de sistemas

informatizados de gestão de documentos pode minimizar a necessidade de

deslocamento do usuário da informação, quando de outra unidade administrativa não

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16

detentora do documento demandado – por meio de autorização de acesso (SANTOS

et al., 2007, p.184-185).

Constata-se na analogia de Santos et al., (2007) que os Arquivistas ainda não possuem

uma postura do profissional da informação. Isto fica evidente com a exclusão dos Arquivistas

do agrupamento de profissionais da informação feito pela Classificação Brasileira de

Ocupações – CBO do Ministério do Trabalho nas edições de 2003 e 2010. Além da exclusão

a descrição da função feita pelo Ministério do Trabalho está defasada, pois é a mesma

descrição da primeira edição em 2002, em oito anos não sofreu nenhuma atualização e é a

mesma descrição para Arquivistas e Museólogos:

DESCRIÇÃO SUMÁRIA - Organizam documentação de arquivos institucionais e

pessoais, criam projetos de museus e exposições, organizam acervos museológicos

públicos e privados. Dão acesso à informação, conservam acervos. Preparam ações

educativas ou culturais, planejam e realizam atividades técnico-administrativas,

orientam implantação das atividades técnicas. Participam da política de criação e

implantação de museus e instituições arquivísticas (BRASIL. Ministério do

Trabalho).

Na sociedade do conhecimento onde transformações tecnológicas, econômicas, sociais

estão ocorrendo com grande velocidade, tornando os ambientes cada vez mais dinâmicos e

complexos, o que demanda por novas profissões e novos perfis profissionais, a descrição de

uma profissão ficar estática por oito anos é ignorar toda evolução que a sociedade do

conhecimento nos trouxe.

Pode-se utilizar a descrição da CBO para responder por que a sociedade vê o

Arquivista como um Guardador/Controlador de Documentos, pois a descrição feita por estes

nos remete àquele profissional de décadas passadas que cuidava somente de documentos em

suporte papel. Porém, estas atribuições já foram ampliadas com o advento da informática, e

diversificadas pela sociedade do conhecimento.

5. CONCLUSÃO

A globalização tornou a concorrência mais acirrada, o ritmo das inovações

tecnológicas, sociais e culturais cada vez mais desafiam as estratégias por mais brilhantes que

podem parecer.

“Quando se fazem novas descobertas, se desvendam novas verdades e as maneiras e

opiniões mudam com a mudança das circunstâncias, as instituições devem avançar

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17

também e acompanhar o andamento dos tempos” (CARMO, 2004 apud TOFFLER,

1995).

Nesta citação do parágrafo anterior, pode-se ver que o mundo está mudando, como diz

Heráclito “A única coisa permanente na vida é a mudança”, tudo muda a todo instante. Na

sociedade do conhecimento esta mudança é mais perceptível devido à velocidade na difusão

da informação, que já não tem mais barreiras geográficas ou de tempo, tudo está disponível

em tempo real, em qualquer lugar.

Estas mudanças nos obrigam a estar em pleno estado de atualização. O que se fazia

ontem de uma maneira, hoje já se faz de outra, e pode ser que amanhã já se tenha uma nova

maneira. Desta forma novos negócios surgem, assim como novas empresas, novos

profissionais e profissões e aqueles que querem sobreviver neste mundo dinâmico e

globalizado têm que se adequar com as novas demandas.

Como dito acima, tudo muda a todo instante, e o mercado de trabalho também é

afetado por estas mudanças e com isso cresce a exigência por novos perfis profissionais, não

mais aquele profissional especialista em uma determinada área, mas aquele que é

multiespecialista, não quer dizer que o profissional tenha que ser especialista em tudo, mas ter

uma visão sistêmica, e ter conhecimento em outras áreas.

O perfil profissional do Arquivista mudou muito e continua mudando, se no passado

este profissional era visto como aquele que organizava e preservava documentos em suporte

papel para dar acesso à administração, isto hoje mudou e muito. Hoje este profissional, além

de desempenhar suas tarefas técnicas, tem que desempenhar atividades gerenciais, lida com

informação, além de documentos. Falar em informação na sociedade do conhecimento e falar

em compartilhamento, difusão, segurança, de um grande volume de informação que é

produzida diariamente. Não há mais como gerir toda essa informação sem o auxilio da

tecnologia da informação, logo o Arquivista deve possuir conhecimentos suficientes para

gerenciar estas informações em ambientes digitais.

O conhecimento multidisciplinar não é suficiente, além dele o profissional eficaz tem

que ter habilidade e atitude. A junção das três iniciais (CHA) é tudo o que uma função/cargo

de uma empresa exige para que o serviço/produto seja bem administrado e de boa qualidade.

URBANAVICIUS et al., ([?]) define os significados para essas letras, da seguinte maneira:

C = Saber (conhecimentos adquiridos no decorrer da vida, nas escolas,

universidades, cursos. etc.)

H = Saber fazer (capacidade de realizar determinada tarefa, física ou

mental).

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A = Querer fazer (comportamentos que temos diante de situações do nosso

cotidiano e das tarefas que desenvolvemos no nosso dia-a-dia (URBANAVICIUS et

al., [?]).

De acordo com as definições acima, constata-se que o autor ressalta o “saber”, ou

seja, o novo profissional além de saber deve saber fazer. Porém, a complexidade é tamanha

que saber e saber fazer não basta: o profissional ainda tem que ter atitude, ou seja, tem que

“querer fazer”, saber se comportar diante das diversas situações do dia-a-dia para atingir os

objetivos da organização. Muitas vezes este “querer fazer” vale mais que o saber, pois não

adianta saber e saber fazer se não se quer fazer.

Foi neste ponto que a pesquisa se embasou - no “querer fazer”, ou seja, se o Arquivista

quer ser um Gestor da Informação (conforme maioria das respostas obtidas nos questionários

aplicados) este tem que querer ser reconhecido como um Gestor da Informação; tem que

“querer” não ser visto mais como um Guardador/Controlador de Documentos, tem que

“querer” se qualificar para desempenhar atividades gerenciais.

Este “querer” tem que vir antes de adquirir conhecimentos e da capacidade para

realizar determinadas tarefas, pois é este querer que irá motivá-lo a adquirir conhecimentos e

capacidade para realizar determinadas tarefas, como diz Adélia Prado: “Nem a faca, nem o

queijo, eu quero a fome”. A fome em querer ser um Gestor faz com que o profissional busque

investir em uma formação multidisciplinar.

Entretanto, a pesquisa identificou que a grande maioria dos Arquivistas não investe

numa formação multidisciplinar, e que isso não mudou ao longo de quase três anos, que

procuram sempre obter conhecimentos naquilo que já foi adquirido no curso de graduação.

Sem o “querer fazer”, o Arquivista dificilmente será um Gestor, provavelmente, continuará

sendo visto como um Controlador/Guardador de Documentos.

Querer ser um Gestor, não significa que o Arquivista não vá desempenhar tarefas

técnicas, até mesmo porque um bom gestor tem que saber como se faz, para gerir melhor a

equipe, os processos e as atividades da sua área. O problema é permanecer desempenhado

tarefas técnicas, o que não condiz com a profissão de Arquivista, segundo a Lei 6.546 de 04

de julho de 1978.

Em suma os Arquivistas precisam seguir as novas regras do mercado de trabalho, que

hoje opera em larga escala de complexidade, e que exige uma nova postura profissional e a

busca constante de novos conhecimentos e competências, principalmente, nas áreas de

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administração e informática (COELHO, 2009). Isto não é exclusividade para os Arquivistas, é

uma demanda global, para qualquer profissional que deseja sobreviver neste mercado. Para

sobreviver como profissional na sociedade do conhecimento o Arquivista deverá investir

numa formação multidisciplinar.

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