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A POTÊNCIA ACIONADA EM PRÁTICAS EDUCATIVAS POR UMA EQUIDADE DO ENSINO DA ARTE: DESAFIANDO CURRÍCULO E AÇÕES CONSTRUÍDAS PARA TODOS NA EJA- EUCAÇÃO ESPECIAL Isabel Cristina, ALVES PIMENTA BRAGA, UFU 1 Dalva, MORAES, UFU 2 Resumo: A Educação permite a construção do indivíduo, e a arte, nas suas diferentes manifestações, é uma atividade social que está presente no cotidiano do homem. O objetivo central deste trabalho é analisar o ensino e a aprendizagem da arte para o desenvolvimento do aluno na modalidade EJA, Educação Especial. Diante disso, é importante integrar Arte e a Educação tornando-a de suma importância na educação de jovens e adultos valorizando suas vivências através da Arte. A metodologia de pesquisa utilizada foi o estudo de caso, uma pesquisa de campo com abordagem qualitativa, feita com base em uma classe com alunos de necessidades especiais. Tem-se como arcabouço teórico estudos de fontes bibliográficas, de autores como Dewey (1959), Barbosa (2000), Coli (1981), leis como a LDB e os PCNs, dentre outros textos que abordam o tema arte educação, inclusão, EJA e Educação Especial. A pesquisa foi realizada em uma escola pública municipal em Uberlândia, Minas Gerais, com duas professoras de Artes que atuam na EJA, Educação Especial. A partir da realização deste estudo, foi possível lançar um olhar crítico sobre a questão da importância da arte-educação para o desenvolvimento e formação de alunos da EJA com necessidades educacionais especiais por abarcar que a vivência artística possibilita que estes indivíduos adquiram autonomia, autoestima, confiança e pensamento crítico. Palavras-chave: arte educação; equidade; Educação Especial. 1 Isabel Cristina ALVES PIMENTA BRAGA, Professora de Arte (SMU), Tutora no curso de Pedagogia (UFU), mestranda pela Prof Artes (UFU), Arterapeuta (UP), Educação Especial (FCU), e graduada Pedagogia (São Carlos), Educação Artística (UFU). [email protected] 2 Dalva MORAES, Professora de Arte (SMU), pós-graduada em Educação Especial numa Abordagem Inclusiva (São Luiz), Educação Infantil (UFU), graduada Educação Artística. [email protected]

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A POTÊNCIA ACIONADA EM PRÁTICAS EDUCATIVAS POR UMA EQUIDADE DO ENSINO DA ARTE: DESAFIANDO CURRÍCULO E AÇÕES

CONSTRUÍDAS PARA TODOS NA EJA- EUCAÇÃO ESPECIAL

Isabel Cristina, ALVES PIMENTA BRAGA, UFU1 Dalva, MORAES, UFU2

Resumo: A Educação permite a construção do indivíduo, e a arte, nas suas diferentes manifestações, é uma atividade social que está presente no cotidiano do homem. O objetivo central deste trabalho é analisar o ensino e a aprendizagem da arte para o desenvolvimento do aluno na modalidade EJA, Educação Especial. Diante disso, é importante integrar Arte e a Educação tornando-a de suma importância na educação de jovens e adultos valorizando suas vivências através da Arte. A metodologia de pesquisa utilizada foi o estudo de caso, uma pesquisa de campo com abordagem qualitativa, feita com base em uma classe com alunos de necessidades especiais. Tem-se como arcabouço teórico estudos de fontes bibliográficas, de autores como Dewey (1959), Barbosa (2000), Coli (1981), leis como a LDB e os PCNs, dentre outros textos que abordam o tema arte – educação, inclusão, EJA e Educação Especial. A pesquisa foi realizada em uma escola pública municipal em Uberlândia, Minas Gerais, com duas professoras de Artes que atuam na EJA, Educação Especial. A partir da realização deste estudo, foi possível lançar um olhar crítico sobre a questão da importância da arte-educação para o desenvolvimento e formação de alunos da EJA com necessidades educacionais especiais por abarcar que a vivência artística possibilita que estes indivíduos adquiram autonomia, autoestima, confiança e pensamento crítico. Palavras-chave: arte educação; equidade; Educação Especial.

1 Isabel Cristina ALVES PIMENTA BRAGA, Professora de Arte (SMU), Tutora no curso de Pedagogia

(UFU), mestranda pela Prof Artes (UFU), Arterapeuta (UP), Educação Especial (FCU), e graduada

Pedagogia (São Carlos), Educação Artística (UFU). [email protected] 2 Dalva MORAES, Professora de Arte (SMU), pós-graduada em Educação Especial numa Abordagem

Inclusiva (São Luiz), Educação Infantil (UFU), graduada Educação Artística. [email protected]

Introdução O presente trabalho tem como foco os subsídios da Arte na

alfabetização de Jovens e Adultos, em especial na estimulação

neuropsicomotora e visual de uma turma com alunos com necessidades

especiais. Mas, antes de tudo, é primordial que se explore a valorização dos

saberes e experiências dos alunos, que são atitudes indispensáveis para

garantir êxito no processo ensino aprendizagem.

A Arte proporciona um modo novo de aprender o mundo

contemporâneo. Ela estabelece uma nova abordagem no contato com o mundo

cultural. Sua função é de extrema importância para sociedade, pois ela

contribui para a educação do ser humano, valorizando a autoestima, a

segurança, a firmeza, a destreza e as estimulações sensoriais. Diante disso, é

fundamental unificar Arte e a Educação tornando-a de suma importância na

educação de jovens e adultos com necessidades educacionais especiais

valorizando suas vivências através da Arte.

A Arte Educação, enquanto área do conhecimento, em suas diversas

linguagens valoriza a leitura e conceitos que o aluno cria mesmo fora da

escola. Sua prática se dá por meio de diversas percepções procurando ampliar

essa leitura, mostrando outros caminhos referentes à formação do “eu”

reflexivo, sensível e crítico dos alunos. Por isso, o contato com a arte é um

essencial recurso que completa o processo de aprendizagem, já que o aluno

não é só visto como um contemplador, mas também alguém com olhar próprio,

que pode se tornar crítico, estabelecendo assim, semelhanças com o objeto

artístico e o seu fazer arte.

A intensificação desse recurso enquanto linguagem de conhecimento em

turmas especiais é que serve para estimular o interesse nas aulas de Arte e

capaz de produzir mudança de desempenho e envolvimento sensorial dos

alunos participantes uma vez que ao apresentarem limitações, dificuldades são

acionadas a desenvolver autonomia e autoestima por uma mediação

adequada.

O ensino de Arte hoje, se sustenta na imagem de que a arte

desenvolvida nas escolas não deve ser dissociada da arte produzida na

sociedade. A expressão criativa do aluno é desenvolvida lado a lado com a

construção do conhecimento em Arte e a formação do discernimento

apreciativo da obra artística. É o que se pode considerar como o fazer, o

conhecer e o apreciar, ou seja, a realização pessoal do aluno construída pela

formação de uma bagagem cultural e de uma visão crítica dessa obra. Essas

questões estão intimamente entrelaçadas, tanto no sistema educacional como

na sociedade.

A educação em Arte demanda preparação e compreensão do que está

sendo proposto. Conhecer a arte implica vivenciar, frequentar, estabelecer

contato com os objetos estéticos, buscando a fruição da obra de arte. A fruição

da arte não é imediata, espontânea, nem dom ou graça. É necessário esforço

diante da cultura. Para conhecer o jogo é necessário conhecer suas regras.

Mas só isso não basta, a “frequentação” é que determina o grau de avaliação e

participação.

A compreensão do mundo de uma maneira mais ampla e dinâmica por

esses alunos com necessidades educacionais especiais através da arte é

fundamental oferecida pelo fazer artístico e o contato com imagens artísticas

favorece a construção de um ser mais autônomo e crítico frente a sua

realidade.

O ensino da arte na educação especial constitui um grande paradoxo

entre o desafio e as oportunidades de aquisição de conhecimentos diante a

clientela com deficiência, considerando que toda experiência vivenciada é

extremamente significativa para uma criança, o mesmo pode-se considerar

quando se trata de jovens e adultos da EJA na educação especial.

Estes alunos chegam à escola trazendo suas visões de mundo

geralmente de uma forma muito pobre e restrita, decorrente das poucas

oportunidades de apropriação do conhecimento em si. Na maioria das vezes

lhe são negados o simples direito de exercerem sua condição humana,

expressarem seus desejos, sentimentos, percepções do mundo à sua volta.

Em uma perspectiva inclusiva, a educação volta a atenção justamente

para questões adversas a estas considerações mencionadas. Será oferecida

ao sujeito a oportunidade de apropriação do conhecimento, seu

reconhecimento de ser pensante e atuante na sociedade.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais, a intenção da

EJA na Educação Especial é possibilitar ao estudante instrumentos para que

esse exerça a cidadania de forma crítica e participativa, desenvolvendo

capacidades para sentir, reconhecer e interpretar o mundo à sua volta. A arte

existe naturalmente na sociedade e a sua produção não é privilégio de

determinados grupos “escolhidos”. O distanciamento do público com o produto

artístico requer a sensação de inacessibilidade da arte, gerando a dificuldade

em compreender seus conceitos e intenções.

A aproximação do aluno com o universo da arte é o disparador de um

processo que visa ao desenvolvimento do próprio aluno. Entender a arte é

entender o mundo em que vive, e este é um requisito básico para a formação

de uma consciência sensível às diversas manifestações artísticas. Mas o mais

importante é compreender o “eu” do aluno.

Os parâmetros curriculares expõem a questão da arte educação como

uma etapa que vai muito além do lecionar, mas que reforça a potencialidade de

uma aprendizagem enquanto aquisição de conhecimento, apreciação, e

reflexão, conforme eixos norteadores do PCN e não somente para esses

alunos a condição de apenas fazer arte. Assim diz Rodrigues (2006):

Sabemos que o processo de aprendizagem não é uma simples

transmissão de informação, mas antes uma transição entre

diferentes paradigmas de conhecimento. Podemos a sim dizer

que uma escola que não diferencia o seu currículo não usa

modelos inclusivos e forçosamente não promove a igualdade

de oportunidades entre seus alunos.

Na pesquisa realizada na escola analisada, com alunos da educação

especial, junto às professoras de Artes que atuam na EJA Educação Especial,

verificou-se que um dos objetivos do ensino de Arte é que os alunos

desenvolvam autonomia e senso crítico e maturidade emocional e cognitiva.

Para isto é preciso que incorporem conceitos que possibilitem a ampliação de

sua capacidade criativa e imaginativa, proporcionando assim a elevação de sua

autoestima também. O objetivo do ensino da arte nesta modalidade de ensino

deve ser levar os alunos, jovens e adultos com necessidades educacionais

especiais a entender as diversas linguagens artísticas existentes e possibilitar a

sua formação cultural, bem como o fazer artístico.

Objetivos

O estudo em questão coloca como objetivo geral o processo de:

Apreciar, produzir e interpretar obras de arte e possibilitar o

desenvolvimento de competências pessoais, relacionais, cognitivas e

produtivas pelo educando, promovendo o seu desenvolvimento humano;

Como objetivos específicos têm-se, já em discussão:

Apreciar, produzir, interpretar obras de arte e contribuir para que o

educando conheça melhor a si mesmo, tendo em vista as suas

emoções, sentimentos, conhecimentos, sensações e ideias. Assim, o

educando dá um passo para a construção de sua identidade.

Interpretar obras de arte e contribuir para que o aluno desenvolva a

flexibilidade diante de tantos pontos de vista possíveis em relação à obra

e ao contexto em que foi criada, aprendendo a relativizar verdades e

estar aberto a situações de ambiguidade e indefinição. Nesse processo,

o educando tem a oportunidade de se compreender melhor e confiar em

si mesmo, valorizando os seus sentimentos e ideias e fazendo escolhas.

Apreciar e interpretar obras de arte, a fim de contribuir para que o

educando “aprenda a aprender”, desenvolvendo a curiosidade e

autonomia na busca pelas informações e conhecimentos acumulados

pela humanidade. Além disso, uma experiência de apreciar e interpretar

obras de arte possibilita que o educando desenvolva uma atitude

permanente de crítica, análise e significação das informações e dos

conhecimentos a que teve acesso.

Referencial teórico

A aprendizagem, em qualquer modalidade, deve ser significativa. O

ensino de arte tem essa capacidade de envolvimento e exploração sensorial, a

fim de trazer uma aprendizagem motivadora, envolvente e que faça sentido à

sua vida.

É válido destacar que as informações procedentes dos sentidos e a

interação com o meio em que estamos inseridos, serão fatores decisivos ao

determinar o que aprender e que talentos desenvolver, principalmente, como

os professores irão conduzi-los.

Certamente, neurociência e educação precisam trabalhar juntas, as

pesquisas merecem ser mais divulgadas e exploradas. E, a partir do momento

em que educadores compreenderem como transcorrem os processos de

aprendizado do ponto de vista neurobiológico, talvez as aulas passem a ser

mais agradáveis aos alunos e mais significativas. Diante disso, segundo

Soares (2003), se o ensinante toma conhecimento do funcionamento cerebral,

pode ressignificar sua prática docente adotando uma didática que caminhe na

forma sensório-motora ao funcionamento operatório formal.

Com base nos argumentos expostos, a neurocientista Relvas (2009)

mostra que todo processo de informação imbui um processo de aprendizagem,

uma construção de conceito, descoberta de habilidades e capacidades ou uma

informação nova.

Nesse sentido, Relvas (2009) atesta que

uma aprendizagem só é formativa na medida em que opera

transformações nas constituição daquele que aprende. É como se o

conceito de formação indicasse a forma pela qual nossas

aprendizagens e experiências nos constituem como um ser singular no

mundo. (Relvas, 2009, p. 26)

E ainda, em uma visão neurobiológica da aprendizagem, que

quando ocorre a ativação de uma área cortical, determinada por um

estímulo, provoca alterações também em outras áreas, pois o cérebro

não funciona como regiões isoladas. Isto ocorre em virtude da

existência de um grande número de vias de associações, precisamente

organizadas, atuando nas duas direções. (Relvas, 2009, p. 26)

Se o professor tiver conhecimento da modalidade de aprendizagem do

seu aluno, poderá transformar- se em um facilitador do processo ensino –

aprendizagem. Exigir uma atuação padrão dos alunos é um caminho

improdutivo; como a neurodidática defende cada um é um tipo de aprendiz,

com o seu próprio tempo lógico e psicológico e cada um tem uma maneira

específica de lidar com o conhecimento.

O respeito a essas limitações é, como atesta Soares (2003), o ato de

aprender a preservar o cérebro de uma possível sobrecarga que só contribuiria

para uma desintegração total da aprendizagem. Ao apresentar o universo

artístico ao aluno da educação especial, uma barreira de omissão de cultura

estará sendo quebrada. O aluno será colocado frente à possibilidade de

vislumbrar seu olhar para um mundo até então passado de forma não

perceptiva em sua existência, e este mundo é carregado de mensagens muito

significativas.

De acordo com Costa (2000), ao adentrar-se na complexidade do

universo da arte, e, sendo a arte um valioso agente da inclusão social, alunos

com deficiência podem trabalhar os seus sentimentos em relação à sociedade,

que, na maioria das vezes, o discrimina ou o segrega, por conta dos

preconceitos e ao estigma. O trabalho com arte é capaz de transformá-lo em

um ser humano socialmente ativo, com uma autoestima positiva e uma função

social determinada.

Assim, a arte permite às estas pessoas demonstrarem que, apesar de

suas limitações possuem habilidades, sentimentos, desejos e opiniões, como

qualquer outra pessoa, ou seja, nos dizeres de Fischer (1981, apud Martins,

2000, p. 13), “a arte capacita o homem a compreender a realidade e ajuda-o a

transformá-la, aumentando-lhe a determinação de torná-la mais humana e mais

hospitaleira para a humanidade”.

Para Fischer (1981, apud Martins, 2000), uma pessoa capaz de

expressar-se artisticamente é também capaz de participar de modo mais

efetivo de seu contexto sociocultural, pois contribui produtivamente e

transforma seu desenvolvimento em um constante processo de aprendizagem

e de reconstrução de suas formas de expressão, exercendo, assim, sua

cidadania. Então, desenvolver potencialidades em alunos com necessidades

especiais requer, além de esforço e talento por parte do educador,

compromisso político e ético, para bem educar é preciso compreender as

necessidades específicas de cada aluno, e quando se trata de alunos

especiais,

é necessário que o educador se supere, buscando meios e

mecanismos que atenda o perfil de cada necessidade física ou

não” . A mudança na concepção de deficiência através da Arte

pode indicar o início de um processo de minimização do

preconceito, e em consequência, de promoção da inclusão

social. (Fischer 1981, apud Martins, 2000, p. 13)

Por conta da exclusão social e educacional, o aluno da EJA se diferencia

pela experiência de vida em contraposição à pouca escolaridade. O fator

básico de fornecer acesso à cultura e ao conhecimento artístico não pode ser

visto como um tanto simples ou impositivo.

O aluno da EJA com necessidades educacionais especiais precisa ter

acesso a procedimentos artísticos variados, à experimentação e exploração de

diferentes materiais e instrumentos, principalmente àqueles mais

contemporâneos que não fazem parte de seu cotidiano – como por exemplo a

informatização nas aulas de Arte e a utilização de multimeios. Muitas vezes, é

apenas por intermédio da escola que esse aluno tem oportunidade de

conhecer, interagir e produzir artisticamente com esses recursos, executando

trabalhos, apreciando e fazendo contextualizações da produção cultural e

histórica no tempo e no espaço no sentido da aprendizagem.

Dewey (1959), fundador da chamada “Escola Nova”, diz que a

democracia é uma forma de vida, que garante a dignidade humana e a

educação é a reconstrução da experiência. O autor ainda afirma que a

“educação consiste primariamente na transmissão por meio da comunicação. A

comunicação é o processo da participação da experiência para que se torne

patrimônio comum”. (Dewey, 1959, p. 10)

Na concepção de Barbosa (2000), a arte trará uma a representação

simbólica dos traços espirituais, materiais, intelectuais e emocionais que

distinguem a sociedade ou o grupo social, seu modo de vida, seu sistema de

valores, suas tradições e crenças. A arte, como uma expressão dos sentidos,

transmite significados que não podem ser transmitidos através de nenhum

outro tipo de linguagem, tais como as linguagens discursivas e científicas.

Barbosa (2000, p.3) defende a ideia do vínculo entre arte e educação,

pois, a arte na educação “é um instrumento para a identificação cultural e o

desenvolvimento, a partir da expressão individual e cultural”.

Para a autora, por meio das Artes é possível desenvolver a percepção e

a imaginação, bem como apreender a realidade percebida e analisá-la de

forma crítica, tendo em vista a sua transformação. Dentro dessa perspectiva, é

necessário que o sistema educacional proporcione aos alunos da EJA um

espaço de convivência que possibilite a integração com a cultura e a arte.

Na educação de jovens e adultos, o ensino da arte deve proporcionar

subsídios para que os estes indivíduos se tornem autônomos e desenvolvam

um senso em relação à produção cultural e estética. Seguindo esse raciocínio,

a formação continuada na área de Artes é fundamental porque o professor

deve acompanhar os avanços no ensino de Artes e buscar sua atualização

constantemente.

Metodologia

Para o desenvolvimento deste trabalho, foi realizada uma pesquisa em

campo, por meio de observações e atendimentos especializados em uma

escola de rede pública de ensino, com uma classe de jovens alunos com

necessidades especiais. A pesquisa concretizada apresentou como foco o

conhecimento científico.

Para Gil (1994, p.42) o significado da pesquisa é “descobrir respostas

para problemas, mediante o emprego de procedimentos científicos”.

Este trabalho apresenta método de abordagem hipotético dedutivo, já

que foi pesquisado por meio do estudo das teorias existentes na bibliografia

sobre este tema e a comparação dessa literatura com o que foi observado nas

situações estudadas na escola pública. A pesquisa foi analisada de modo

qualitativo e avaliou o desempenho e participação dos alunos da EJA nas aulas

de cunho artístico.

Para Andrade (1993, p.98), “os fatos são observados, registrados,

analisados, classificados e interpretados, sem que o pesquisador interfira

neles”. Assim foi direcionado este estudo de campo, também assim chamado

por concentrar-se na investigação de uma única organização, dentro de uma

única instituição. A execução deste estudo teve início com uma explanação

sobre a definição da aplicabilidade da arte educação. Após a etapa teórica,

teve início a pesquisa exploratória, qualitativa e quantitativamente,

levantamento de dados por meio de estudo de caso pré-definido.

A metodologia teve como base as etapas listadas abaixo:

1. Criação de oportunidade para que os educandos, ao apreciar, produzir e

interpretar a obra de arte tenham uma atitude de abertura e interesse diante do

novo. Para que o fazer artístico seja uma experiência significativa é importante

que os educandos sejam motivados a ter uma atitude de curiosidade, abertura

e interesse diante do novo, envolvendo-se com a obra e produção.

2. Criação de oportunidade para que os educandos, ao apreciar, produzir e

interpretar a obra de arte possa estabelecer uma relação dinâmica com a

mesma. A apreciação e interpretação da obra de arte deve se dar em uma

relação dinâmica entre os educandos e a obra, de forma que os educandos

possam identificar questões e aspectos que mais lhe chamem a atenção e

expressar seus pontos de vista, percepções e valores. Esta relação entre os

educandos e a obra de arte se dá por meio de uma atividade intensa e

trabalhosa, na qual eles se colocam a partir dos seus sentimentos, imaginação,

conhecimentos, experiências e pontos de vista, ativados pela obra de arte.

3. Criar oportunidade para que os educandos, ao apreciar, produzir e

interpretar a obra de arte identifiquem e reflitam sobre o contexto da obra de

arte e o seu próprio contexto. A apreciação e a interpretação da obra de arte

devem promover um duplo processo de conhecimento e reflexão pelos

educandos. Este processo deve ser capaz de possibilitar aos educandos

conhecer e refletir sobre os diversos aspectos do contexto em que a obra de

arte foi criada, tendo a chance de pensar, de maneira mais profunda e

significativa, sobre o “porquê” da obra de arte. Da mesma forma, o processo de

apreciação e interpretação da obra de arte deve permitir que os educandos

estabeleçam relações entre a obra de arte e o seu próprio contexto. Conclui-se,

portanto, que podem coexistir interpretações diferentes sobre uma mesma obra

de arte, a partir dos diferentes contextos dos educandos que a apreciam.

4. Criar oportunidade para que os educandos, ao apreciar, produzir e

interpretar a obra de arte reconheçam e valorizem as propriedades formais da

obra de arte. É importante que o processo de apreciação, produzir e

interpretação da obra de arte possibilite aos educandos identificar e nomear as

propriedades formais da obra de arte e as técnicas e materiais utilizados pelo

artista na execução da obra.

5. Criar oportunidade para que os educandos, ao apreciar, produzir e

interpretar a obra de arte relacione a obra de arte à história da arte. O processo

de apreciação e interpretação da obra de arte deve desafiar os educandos a

classificar a obra em termos de lugar e tempo históricos e relacioná-la com

outras obras de arte do mesmo estilo e de outros estilos e tempos históricos,

enriquecendo e ampliando sua visão da história da arte.

6. Criar oportunidade para que os educandos, ao apreciar e interpretar a obra

de arte, tenham acesso e compreensão de diversas expressões artísticas e

manifestações culturais. Assim, os educandos poderão produzir

conhecimentos, vivenciar, identificar e incorporar valores e ter atitudes

importantes para que possam observar e interpretar fatos, situações e conflitos

sob diversas perspectivas e pontos de vista. Na perspectiva de educando,

promovendo o seu desenvolvimento humano multiculturalista.

Desenvolvimento

As transformações ocorridas no campo da arte, na contemporaneidade,

impactam e provocam o ensino de arte. Por essas razões, o estudo da arte

promove em sua mais alta sofisticação o tipo de entendimento exigido por uma

sociedade pluralista, na qual grupos podem coexistir com diferentes histórias,

valores e pontos de vista. Assim atesta Parsons (2003).

É importante apreciar, produzir e interpretar uma obra de arte, os

educandos devem ter a oportunidade de refletir sobre as diversas expressões

artísticas e manifestações culturais. Assim, os educandos poderão produzir

conhecimentos, vivenciar, identificar e incorporar valores e ter atitudes

importantes para que possam observar e interpretar fatos, situações e conflitos

sob diversas perspectivas e pontos de vista.

Ao apreciar, produzir e interpretar a obra de arte, portanto, os educandos

têm a oportunidade de refletir sobre si mesmos, sobre o objeto de arte e seu

tempo, lugar e contexto histórico. Eles têm a chance de refletir, comparar,

diferenciar e interpretar a obra de arte no seu contexto, a sua maneira. Assim,

vivenciar oportunidades educativas de apreciação e interpretação de obras de

arte é uma oportunidade singular para promover o desenvolvimento humano

dos educandos com necessidades especiais.

Então, é válido dizer que a leitura da obra de arte (que recentemente

tem sido chamada de apreciação) como o fazer artístico propõe uma leitura do

mundo e de nós mesmos neste mundo, uma leitura que é, na verdade, uma

interpretação cultural. É bom lembrar que não existe, segundo Umberto Eco,

uma interpretação correta. O que existe são interpretações mais ou menos

adequadas, mais ou menos relacionadas com o objeto a ser interpretado, pois

qualquer obra é aberta a diversas interpretações e depende muito do ponto de

vista, do ponto de largada do leitor/espectador.

Resultados e discussões

Pudemos, por meio de atividades práticas, apreciar e interpretar obras

de arte contribui para que o educando aprenda a produzir conhecimento, ao

invés de apenas assimilar os conhecimentos que a sociedade já produziu. Ao

acessar conhecimentos e refletir e dialogar com os colegas, arte/educadores e

artistas sobre uma determinada obra de arte, o educando coloca-se no lugar de

produtor de novos conhecimentos. Foi possível apreciar e interpretar obras de

arte que contribuem para que o educando conviva com a diferença e

reconheça-se como parte de um todo. Ao conhecer e confrontar-se com as

diversas manifestações culturais da humanidade o educando tem a

oportunidade de respeitar e valorizar a diversidade cultural.

Já apreciar, produzir e interpretar obras de arte é um processo criativo

que contribui para que o educando tenha a oportunidade de ampliar sua visão

de mundo e de criar soluções para se transformar e transformar o próprio

contexto.

Ao analisar as aulas de artes neste contexto, pode-se constatar que o

ensino da arte contribui para o desenvolvimento e formação desses alunos com

suas especificidades, uma vez que ao realizar atividades de artes em sala de

aula podem produzir obras de arte e também aprender a ter senso crítico e

estético tendo a oportunidade de perceber, observar, entender e criticar os

sentidos das obras de arte produzidas no decorrer do desenvolvimento

histórico da humanidade.

Ao concluir a análise das observações feitas pelas professoras

relacionadas à pesquisa de campo, verifica-se que os resultados encontrados

evidenciam a importância do ensino da arte para alunos da EJA, principalmente

em classes com alunos com necessidades especiais, visto que a Arte é uma

área com conteúdos próprios a serem desenvolvidos para a construção do

conhecimento, é indispensável que se apresentem objetivos, metodologias e

intencionalidades bem definidas, para que o estudante consiga compreender a

sequência e a lógica daquilo que está construindo. Nessa perspectiva, verifica-

se que ensino da arte para alunos da EJA no contexto da Educação especial

contribui para a sua formação cultural e artística dos alunos.

Abaixo, algumas imagens que comprovam o crescimento coletivo do

grupo, no que diz respeito à autonomia, autoestima, motivação e

expressividade:

Figura 1: oficina de criação

Fonte: aula em instituição analisada

Figura 2: oficina de criação

Fonte: aula em instituição analisada

Figura 3: oficina de criação

Fonte: aula em instituição analisada

Figura 4: oficina de criação

Fonte: aula em instituição analisada

Foi possível chegar a esta conclusão porque no decorrer das atividades

realizadas com as duas professoras que têm experiência e formação específica

na área de Artes na EJA, que os alunos da educação inclusiva tiveram a

possibilidade de vivenciar a arte, conhecer cores e formas; desenvolver a

criatividade; a imaginação, a percepção; a sensibilidade. Também, estes

alunos também podem refletir, produzir e apreciar produções em Artes;

Enfim, segundo os Parâmetros Curriculares Nacionais, a escola deve

colaborar para que os alunos passem por um conjunto amplo de experiências

de aprender e criar, articulando percepção, imaginação, sensibilidade,

conhecimento e produção artística pessoal e grupal. (PCN/Arte, 1997:61)

Para que o ensino da arte seja ofertado com qualidade nesta

modalidade de ensino, é preciso que a escola possua infraestrutura adequada,

assim como recursos pedagógicos. Estes são fundamentais para qualquer

modalidade de ensino e para qualquer disciplina que se queira ensinar. Assim,

a escola, como espaço social de inclusão e não de exclusão, deve criar

mecanismos para que os alunos com necessidades educacionais especiais

inseridos no Ensino Fundamental modalidade da EJA Educação Especial

tenham à sua disposição recursos pedagógicos adequados para que

desenvolvam suas aulas de artes.

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científico; elaboração de trabalhos na graduação. -6 edição-São Paulo:

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