A Prática Da Vegetoterapia
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REFERÊNCIA VOLPI, José Henrique. A prática da vegetoterapia. In: VOLPI, J. H.; VOLPI, S. M. Revista Psicologia Corporal. Curitiba: Centro Reichiano, 2003, vol. 3, pp-31-38 ______________________________
____________________________________________________ CENTRO REICHIANO DE PSICOTERAPIA CORPORAL LTDA
Av. Pref. Omar Sabbag, 628 – Jd. Botânico – Curitiba/PR – Brasil - CEP: 80210-000 (41) 3263-4895 - www.centroreichiano.com.br - [email protected]
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A PRÁTICA DA VEGETOTERAPIA
José Henrique Volpi
Enquanto psicanalista, a primeira técnica que Reich desenvolveu
recebeu o nome de técnica da Análise do Caráter. Ainda que fosse um trabalho
psicanalítico, cuja ênfase terapêutica se dá no conteúdo verbal, a forma de
Reich abordar seus pacientes tornava-a diferente dos ensinamentos de Freud,
mesmo porque o trabalho analítico já não mais era feito no divã e sim frente a
frente, de forma que as resistências do paciente até mesmo ao tratamento
analítico tornavam-se mais evidentes e podiam ser tratadas de forma mais
clara, direta, profunda e num menor espaço de tempo.
O trabalho sistemático com a técnica da análise do caráter levou Reich a
descobrir que os distúrbios psico-emocionais estão sempre associados a
disfunções anátomo-fisiológicas, que por sua vez fazem parte de um sistema
unitário. Este conjunto de disfunções corporais recebeu o nome de couraças
musculares, que são tensões crônicas que se formam no corpo ao longo da
vida, cuja função é proteger o indivíduo (ego) de experiências dolorosas e
ameaçadoras. Inclui tensão ou flacidez crônicas da musculatura esquelética
que são resultado de uma alteração nos comandos efetores do sistema extra-
piramidal, que talvez envolva até mesmo alterações na atividade dos neurônios
eferentes gama que são os que regulam o tônus muscular. Mas a couraça não
é apenas muscular. Podemos encontrá-la nos tecidos (tissular), envolvendo-se
na dinâmica intesticial, e nas vísceras (visceral), como resultado de alterações
crônicas no funcionamento do sistema nervoso autônomo, causando assim
disfunções nas secreções e na musculatura lisa dos órgãos (Boyesen, 1988).
Foi, então, que o trabalho que Reich vinha fazendo enquanto psicanalista
deixou de ser uma terapia somente psicológica e passou a ser uma
psicoterapia diretamente voltada ao corpo, ao sistema neurovegetativo. Por
esse motivo é que recebeu o nome de vegetoterapia caracteroanalítica,
incluindo num só conceito o trabalho nos aparelhos psíquico e físico.
À procura de uma lei que pudesse governar esses bloqueios corporais,
Reich percebeu que a couraça muscular está ordenada em segmentos e agem
como um anel que circula a região toda do corpo. Para uma melhor
REFERÊNCIA VOLPI, José Henrique. A prática da vegetoterapia. In: VOLPI, J. H.; VOLPI, S. M. Revista Psicologia Corporal. Curitiba: Centro Reichiano, 2003, vol. 3, pp-31-38 ______________________________
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compreensão pedagógica, mapeou o corpo em sete segmentos de couraças a
saber: ocular, oral, cervical, torácico, diafragmático, abdominal e pélvico, que
impedem o livre fluxo energético. Para compensar, o corpo adota novas
posturas (olhos arregalados, tensão no maxilar, desvios na coluna, etc).
Novas pesquisas revelaram a Reich um tipo de energia até então jamais
comentada pelos cientistas da época à qual Reich deu o nome de energia
orgone. Foi quando uma série de novas descobertas foram se descortinando à
sua frente e sendo incorporadas à técnica da vegetoterapia. Então, o nome da
técnica passa a ser agora, orgonoterapia e a ciência desenvolvida por Reich
recebe o nome de Orgonomia.
O interesse pelas pesquisas com a energia orgone desviaram Reich da
continuidade do trabalho clínico com a vegetoterapia. Sabia ele que a técnica
ainda precisava ser aprimorada, revista, complementada e foi quando pediu
ajuda a um de seus colaboradores e amigo, o ex-psicanalista norueguês Ola
Raknes. Mas Raknes disse não se julgar capaz de tal proeza porque sentia que
seus conhecimentos de neuropsicofisiologia eram precários visto não ser
médico, nem psicólogo, e repassou essa missão ao neuropsiquiatra italiano
Federico Navarro. É importante sabermos que Raknes foi o único não médico
que Reich permitiu que fosse treinado por ele e autorizado a fazer uso da
vegetoterapia. E foi assim que Navarro brilhantemente aceitou a missão e
reescreveu as tipologias de caráter, bem como desenvolveu uma metodologia
sistemática para a vegetoterapia.
O corpo contém a história do indivíduo e é através dele que a
vegetoterapia busca resgatar as emoções mais profundas. Seu princípio básico
é o “restabelecimento da mobilidade biopsíquica através da anulação da rigidez
(encouraçamento) do caráter e da musculatura” (Reich, 1986, pg. 17),
mediante movimentos específicos, os quais Navarro chamou de actings,
seguidos sempre da análise dos conteúdos verbalizados pelo paciente.
De acordo com a metodologia de Navarro (1996), uma sessão de
vegetoterapia começa sempre pela anamnese, ou seja, coleta de dados da
história do paciente. É importante conhecermos um pouco da história da
gestação, parto, amamentação, doenças, infância, adolescência, idade adulta,
queixa atual, além de outras que julgarmos importantes para que também
REFERÊNCIA VOLPI, José Henrique. A prática da vegetoterapia. In: VOLPI, J. H.; VOLPI, S. M. Revista Psicologia Corporal. Curitiba: Centro Reichiano, 2003, vol. 3, pp-31-38 ______________________________
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possamos ter um panorama do funcionamento energético e caracterológico do
paciente.
Em paralelo a essa anamnese, o próximo passo é convidarmos o
paciente a se deitar no divã para aplicarmos a massagem reichiana. Isso pode
ser feito na mesma sessão, logo após a anamnese ou, se não houver tempo
hábil, na próxima sessão. É importante que para isso o paciente esteja trajando
uma roupa leve, ou fique apenas com a roupa íntima ou roupa de banho. Só
assim conseguiremos obter um diagnóstico real e preciso dos bloqueios do
corpo. Navarro diz que no início do tratamento, a massagem reichiana deve ser
feita no corpo todo, mas que quando estivermos procedendo com o
desbloqueio do terceiro nível (pescoço), podemos nos ater apenas ao rosto e
pescoço.
Com base na anamnese e na massagem reichiana é possível
estabelecermos um diagnóstico para nosso paciente, que segundo Navarro,
(1995) pode ser:
- Núcleo Psicótico: se o sujeito passou por uma situação de estresse durante
o período de gestação, parto ou primeiros dez dias de vida. Nesse caso, a
condição energética será de hipoorgonia (baixa carga energética);
- Borderline: se o estresse se deu durante a amamentação ou no desmame,
que deveria ocorrer por volta do oitavo ou nono mês - nem antes, nem depois
disso -; além disso, todo desmame deveria ser gradativo e não brusco como
acontece na maioria das vezes. Aqui encontramos o medo do abandono. A
condição energética é de desorgonia, ou seja, o paciente possui uma boa
quantidade e qualidade de energia, porém, mal distribuída pelo corpo;
- Duplo Núcleo Psicótico: a pessoa é considerada núcleo psicótico quando
teve uma vida intra-uterina sem qualidade e também pode ter um núcleo
psicótico depressivo do borderline porque teve uma maternagem deficitária;
- Psiconeurótico: o estresse ocorreu após o primeiro ano de vida, época em
que a criança é severamente treinada a controlar suas necessidades
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fisiológicas (treino ao banheiro). Também tem sua castração ameaçada pelo
pai do sexo oposto, que impede a função edipiana. A condição energética é de
hiperorgonia desorgonótica (alta energia, porém mal distribuída pelo corpo);
- Neurótico: o estresse ocorreu no período edípico, onde apareceu um forte
medo da entrega ao prazer. A condição energética é de hiperorgonia (alta
energia).
Cada paciente precisa ter seu próprio projeto terapêutico que por sua
vez, é aplicado de acordo com a estrutura caracterial/energética (Volpi & Volpi,
2003).
- Núcleo Psicótico: No momento em que se faz o diagnóstico energético,
sabe-se que o núcleo psicótico é hipoorgonótico. Portanto, precisa de energia.
Nesse caso podemos fazer uso da homeopatia, de vitaminas, do acumulador
ou manta orgonótica, acupuntura com agulha de ouro, etc.
Como essa condição de núcleo psicótico é decorrente de um estresse
que aconteceu durante a vida intra-uterina, a postura do terapeuta deve ser de
um útero quente, caloroso, acolhedor, disponível, que dá contato, carinho e
calor para que o paciente se sinta aceito. Nesse caso, a massagem reichiana é
muito importante porque oferece um contato físico real.
- Borderline: O problema é decorrente do período neo-natal, época da
amamentação e desmame. Nesse caso, o terapeuta deve representar a mãe
boa que o paciente não teve. Deve fazer a maternagem como se o paciente
fosse um recém-nascido. Se a condição energética da cobertura é boa, ele não
precisa de vitaminas, mas pode precisar da acupuntura.
- Psiconeurótico: A problemática é decorrente do medo da castração e nesse
caso a postura do terapeuta deve ser a de um pai que permite a expressão da
função edipiana e não um pai que a impede.
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- Neurótico: No neurótico, o medo é de não conseguir uma vida realmente
satisfatória. Nesse caso o ponto fraco é a incapacidade de se abandonar. A
postura do terapeuta é de um “amigo” ao qual o paciente pode se abandonar.
Federico Navarro parafraseia um ditado que diz que encontrar um amigo é
também encontrar um tesouro. Como é um pouco difícil encontrar um tesouro,
também é difícil encontrar um verdadeiro amigo. Uma pessoa que diz ter
apenas um amigo já tem bastante na vida. Diz Navarro que nós mesmos
devemos ser nosso primeiro amigo. Isso nos deixa mais seguros, contentes,
sem ansiedade para querer mais e mais amigos. No momento que o neurótico
aprende a se dar, a se abandonar ao terapeuta que para ele é um “amigo”, ele
aprende a se abandonar ao próprio partner que deveria ser fundamentalmente
o melhor amigo depois dele mesmo para que pudesse ter uma relação inteira e
verdadeira. Continua Navarro dizendo que é importante lembrar que não existe
amizade e amor sem estima. Para amar uma pessoa é preciso estimar. Para
considerar alguém como amigo é preciso estimar. Isso é fundamental para
todos e para o neurótico em particular.
O trabalho de desbloqueio das couraças (vegetoterapia) tem inicio pelo
primeiro segmento (ocular) e segue em direção ao último (pélvico). Permite
assim o livre fluxo energético e uma mudança física e caracterológica quando
conseguimos eliminar a base geral caracterológica e biofísica dos sintomas
individuais, ou seja, a neurose de caráter. Busca, em outras palavras,
restabelecer a total capacidade de pulsação do organismo como um todo.
Para o desbloqueio de cada segmento de couraça, a vegetoterapia
propõe a execução de actings específicos, seguindo, portanto, um protocolo de
forma progressiva, que começa a ser aplicado no primeiro segmento (ocular),
em direção ao último (pélvico), levando o indivíduo ao amadurecimento
caracterológico, aproximando-o cada vez mais do caráter genital. Actings são
movimentos específicos propostos pelo terapeuta ao paciente, cujo objetivo é
provocar uma mobilização funcional dos segmentos do corpo que se
encontram encouraçados.
A execução “mecânica” de um acting, sem aliança terapêutica, não
poderá provocar o aparecimento das emoções reprimidas. Portanto, o
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terapeuta deve ter uma participação ativa durante a sessão a fim de observar
“como” os actings são executados pelo paciente, antes que este verbalize o
que sentiu ao realizá-los.
Então, após termos feito a anamnese e a massagem reichiana pela
primeira vez no novo paciente, a próxima sessão deveria começar sempre com
a massagem reichiana, aplicada no corpo todo. Em seguida, procedemos com
a investigação da gestação e posteriormente das relações do paciente com a
mãe e com o pai. Para investigar a gestação fazemos uso da concha aberta
(15 minutos) e para investigar as relações parentais, fazemos uso da lanterna,
tapando um olho de cada vez, começando pelo direito e pedindo que o
paciente olhe firmemente com o olho esquerdo para o ponto luminoso
(lanterna), colocada a uma distância de 20 a 30 cm de seu rosto, pelo tempo
máximo de 15 minutos. Após intercalar os olhos, pede-se ao paciente que com
os dois olhos fixe o ponto luminoso por mais 15 minutos. E assim terminamos
esse primeiro “pacote” de actings indicados como um protocolo a ser seguido
para o início do desbloqueio do segmento ocular que é composto de:
massagem, concha aberta, luz no olho esquerdo, luz no olho direito e luz nos
dois olhos – pelo tempo máximo de 15 minutos cada um desses actings.
A utilização da luz para o desbloqueio da couraça do segmento ocular,
foi proposta por Bárbara Goldenberg. Acredita a autora que a luz seja a melhor
forma de se atingir o nível profundo da couraça no parênquima cerebral. Essa
técnica é seguida de dois objetivos: “(1) a estimulação direta da luz sobre a
substância cerebral propriamente dita; (2) forçar o paciente a ultrapassar o
limiar do estímulo visual, de modo que ele seja obrigado a abandonar sua
contenção ocular (Apud Baker, 1980, p. 73). Os relatos dos pacientes após o
trabalho da luz sobre os olhos são sempre de um bem-estar e sentimento de
segurança, ampliação da percepção e muitos outros efeitos benéficos. Alguns
também chegam a relatar e a comprovar uma redução ou até mesmo
eliminação de erros de refração da visão como astigmatismo, miopia,
hipermetropia, etc.
A próxima sessão de vegetoterapia inicia-se pela massagem, seguida da
aplicação da concha fechada, por 15 minutos. Passamos então para a luz
como ponto fixo, depois para a boca aberta, para o ponto fixo no teto e para
REFERÊNCIA VOLPI, José Henrique. A prática da vegetoterapia. In: VOLPI, J. H.; VOLPI, S. M. Revista Psicologia Corporal. Curitiba: Centro Reichiano, 2003, vol. 3, pp-31-38 ______________________________
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finalizar, voltamos à boca aberta – pelo tempo máximo de 15 minutos cada um
desses actings. Nessa sessão, já começamos a intercalar o trabalho dos olhos
(1o segmento) com o da boca (2o segmento). Se até aqui o paciente
respondeu a contento e não tem um bloqueio considerável de núcleo psicótico,
nas duas próximas sessões repetimos a mesma seqüência, porém
aumentamos o tempo para o trabalho com os olhos tanto com a luz quanto com
o ponto fixo no teto, para 20 minutos e depois para 25 minutos quando
“fechamos” o primeiro pacote de actings integrando agora os olhos com a boca
ou seja, pedimos ao paciente que fixe os olhos num ponto imaginário no teto ao
mesmo tempo que deixa a boca aberta, por um tempo máximo de 25 minutos.
É importante ressaltarmos novamente que a aplicação de um acting não
pode ser mecânica e sempre deve ser acompanhada da verbalização. Só
assim podemos avaliar o quanto o trabalho está tendo resultado e o paciente
está conseguindo obter o seu amadurecimento caracterológico.
Junto com o trabalho da vegetoterapia aconselhamos o paciente a
buscar um tratamento homeopático, massagens, acupuntura, ortomolecular ou
qualquer outra terapia energética convergente. Assim nosso trabalho será mais
eficaz, rápido e profundo.
Finalizada a aplicação do primeiro “pacote” de actings (ponto fixo com
boca aberta), que representa a gestação, parto e primeiros dias de vida, cujo
bloqueio responde pelo núcleo psicótico e astigmatismo, damos início agora ao
segundo pacote (convergência com boca em sucção). Esse pacote leva ao
amadurecimento da situação oral, cujo comprometimento se deu durante o
período de amamentação e desmame, responsável pelos traços depressivos e
pela miopia. E assim, seguimos com o protocolo proposto pela escola de
Navarro, através de outros actings, até chegarmos ao desbloqueio do
segmento pélvico quando, depois de aproximadamente 80 sessões de uma
hora e meia cada, o paciente recebe alta do tratamento.
REFERÊNCIAS
BAKER, E. F. O labirinto humano. Causas do bloqueio da energia sexual. São Paulo: Summus, 1980
REFERÊNCIA VOLPI, José Henrique. A prática da vegetoterapia. In: VOLPI, J. H.; VOLPI, S. M. Revista Psicologia Corporal. Curitiba: Centro Reichiano, 2003, vol. 3, pp-31-38 ______________________________
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BOYESEN, G. Entre psiquê e soma. Introdução à Psicologia Biodinâmica. São Paulo: Summus, 1986 NAVARRO, F. Caracterologia pós-reichiana. São Paulo: Summus, 1995 NAVARRO, F. Metodologia da Vegetoterapia. São Paulo: Summus, 1996 VOLPI, J. H. & VOLPI, S. M. Reich: Da vegetoterapia à descoberta da energia orgone. Curitiba: Centro Reichiano, 2003
AUTOR Federico Navarro/Itália – Médico neuropsiquiatra. Orgonoterapeuta. Criador da somatopsicodinâmica.