A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

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A prática médica voltada para a sáude e o bem-estar envolve a mudança de foco da doença para a saúde e a inclusão das diversas dimensões do bem-estar humano. A obra discute e contextualiza as diferentes práticas médicas e como elas podem coexistir em um único mapa que objetiva a promoção do bem-estar e a ampliação da saúde humana.

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A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL : A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR. Explorações de Roberta Ribeiro em sua prática médica. Roberta E. G. Ribeiro, 2012. Versão Beta, sem revisão.

A versão digital desta obra foi entregue ao Domínio

Público, editada com o selo MedIntegal por decisão unilateral da autora. Domínio Público, neste caso, significa que não há, em relação a versão digital desta obra, nenhum direito reservado e protegido, a não ser o direito moral de o autor ser reconhecido pela sua criação. É permitida a sua reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização prévia. Assim, a versão digital desta obra pode ser – na sua forma original ou modificada – copiada, impressa, editada, publicada e distribuída com fins lucrativos (vendida) ou sem fins lucrativos. Só não pode ser omitida a autoria da versão original. RIBEIRO, Roberta E. Garcia A prática médica Integral: a descoberta do bem-estar: Explorações de de Roberta Ribeiro em sua prática médica. / Roberta Ribeiro. – São Paulo: 2012. 96 p. A4 – (MedIntegal; 1) 1. Medicina Integral. 2. Bem-estar Integral. 3. MedIntegral. I. Título.

MedIntegral é um espaço onde a Dra. Roberta Ribeiro realiza a prática médica integral e junto com uma rede de pessoas se dedica à investigação da saúde e do bem-estar tanto pessoal como na rede social e à criação e transferência de práticas que promovam o bem-estar Integral. http://www.medintegral.com.br

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A prática médica Integal: a descoberta do bem-estar

Explorações de Roberta Ribeiro na sua prática médica

INTRODUÇÃO PÁGINAS- 4

A EPIDEMIA DO SENTIDO PÁGINA – 6

PENSAR PÁGINA - 13

MEDINTEGRAL PÁGINA -32

BEM-ESTAR INTEGRAL PÁGINA – 61

ÍNDICE DE BEM-ESTAR INTEGRAL PÁGINA - 68

EXISTÊNCIA PÁGINA -86

FELICIDADE AUTÊNTICA PÁGINA -89

SUSTENTABILIDADE PÁGINA - 92

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In

tradução

There is nothing but God, nothing but the Goddess, nothing but Spirit

in all directions, and not a grain of sand, not a speck of dust, is more

or less Spirit than any other"

Ken Wilber

Esse livro é um convite a uma mudança total de

percepção do mundo e de si mesmo, cuja pergunta

básica é: quem é que realmente vive em você?

Temos tanta certeza de quem somos e de que

somos nós mesmos, que a idéia dessa pergunta é

como estar doente. No entanto, essa certeza não é

mais do que a realidade dos sonhos e o eu certo de

que vive não passa de uma sombra ilusória daquilo

que vive em você.

Existo e então a existência pode ser em mim.

Não há esforço para mudar o modo como se vive,

mas antes, a descoberta daquilo que vive. Não se

dar conta disso é estar contaminado pela epidemia

do sentido e consequentemente viver à margem da

felicidade autêntica, quando o queo separa dela é o

intervalo entre o sonho e o que as experiências

fizeram de você, ou seja a sua certeza.

Perceber que aquilo que busca não pode ser

encontrado em suas conquistas nem no lugar para

onde você se dirige, mas na simples natureza dos

seus próprios passos e no encantamento que habita

o que é ordinário, é estar são, íntegro, inteiro,

completo.

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INTRODUÇÃO

Durante todos estes anos de prática médica, percebi que

medicamentos, na maioria dos casos, são agentes que

induzem o desaparecimento dos sintomas. No entanto,

saúde é muito mais do que a ausência de sintomas.

A OMS (Organização Mundial de Saúde) define saúde como

sendo um bem-estar físico, mental e social. Portanto, o

estado saudável é o resultado de atitudes diárias, do estilo

de vida e da percepção acerca de si próprio e das formas

mais adequadas de se viver.

Com base em tais conclusões, busquei caminhos que me

proporcionassem, em primeiro lugar, o desenvolvimento

de ferramentas e recursos nos diferentes aspectos do

curar, percorrendo os caminhos da medicina moderna, da

homeopatia, da antroposofia, da medicina chinesa e da

medicina ayurvédica. Em segundo, meios que me

auxiliassem a integrar os diferentes aspectos do

cuidar à ciência do curar com sentido,

confiabilidade, resultado: ciência e arte, como o

que é encontrado nas experiências da dinâmica

energética do psiquísmo, na Teoria Integral, nas

oficinas de clown e nas diversas leituras e

aprofundamentos da literatura ciêncífica pós-

moderna. Assim nasceu a MedIntegral, termo que

criei para designar esta nova prática, objeto deste

livro.

Para que o leitor possa entender este novo

conceito, convido-o a percorrer comigo um

caminho que ajudará a formulá-lo: a história do

desenvolvimento do conhecimento humano.

Com o intuito de dar algum suporte teórico ao leigo

em medicina, abordarei inicialmente, de forma

elementar, alguns aspectos da Fisiologia e da

Biologia necessários à compreensão do conceito

aqui apresentado. Posteriormente, relacionarei

aspectos advindos de áreas como a Economia, a

Sociologia, a Filosofia, entre outras, para completar

as formulações.

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A partir de tal introdução, abordarei a consciência e sua

complexidade, o bem-estar integral com todas as suas

perspectivas, a felicidade autêntica do existir e, por fim, a

sustentabilidade.

Concebendo a saúde como sensação de bem-estar integral,

minha intenção como médica é promovê-lo e dar às

pessoas as ferramentas e os meios para atingi-lo. Ao longo

dos anos, venho oferecendo atendimentos individuais e

atuando junto a corporações, governos e outras entidades,

contribuindo para a difusão deste novo conceito. Como

decorrência de tal processo, este livro tem a função de

sistematizar e divulgar a o conhecimento adquirido nesta

trajetória e ao mesmo tempo auxiliar o leitor na descoberta

do bem-estar integral.

E quem sabe o que parece ser um caminho de metas e

mudanças, seja a realização da existência que é em você.

EPIDEMIA DO SENTIDO

Apesar de todo o nosso conhecimento, ainda há muita

ignorância sobre quem somos, sobre nós mesmos.

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Aranhas tecem. Macacos pulam. Aves voam. O homem

pensa. Cada ser possui uma especialidade: a nossa é a

consciência.

O Homo sapiens difere dos outros seres vivos não apenas

pela anatomia do seu corpo, mas principalmente pela

anatomia do seu cérebro, que lhe permite o processo de

consciência de si mesmo. Ao homem é possível contemplar

o significado do infinito e também observar a si próprio

contemplando o significado do infinito. Nenhum outro ser

possui essa capacidade.

Entretanto, nossa consciência nos permite adentrar em

apenas uma parte do infinito, aquela que reconhecemos

como “realidade”. Isso porque nosso cérebro foi

desenvolvido para sobreviver no mundo de quatro

dimensões, sendo três de espaço (frente/trás,

esquerda/direita, acima/abaixo) e uma de tempo. Não

somos capazes, por exemplo, de enxergar o vazio das

rochas e nem nossos átomos. Não temos um olhar

quântico e nem tampouco macro. Desenvolvemo-nos em

um mundo concreto, de solidez e impenetrabilidade e

tendemos, por isso, a ter como reais apenas os objetos

sólidos. Ondas eletromagnéticas, por exemplo, nos

parecem irreais.

O mundo concreto, no qual nos sentimos

confortáveis e no qual evoluímos, não passa de

uma faixa estreita da realidade do universo.

Assemelha-se à nossa visão das cores, advinda da

percepção da radiação de uma pequena faixa do

espectro eletromagnético, cuja totalidade é

inacessível aos olhos humanos – salvo com ajuda de

instrumentos. A esse segmento limitado que

julgamos ser o normal (em contraste com a

estranheza do muito pequeno, do muito grande e

do muito rápido), chamamos realidade.

Como podemos perceber, o que vemos do mundo

não é o mundo em sua totalidade, mas um modelo

baseado em dados sensoriais, os quais nos auxiliam

a lidar e a viver nesse universo. E eis aqui nossa

chave para a compreensão do jogo da vida: a

natureza do modelo – e a ela atrelado, o “dom” de

cada espécie.

Assim, como macacos vivem em árvores, peixes no

mar e minhocas na terra, nós vivemos em

sociedade, navegamos em um mar de pessoas. Esse

fato já se mostra suficiente para tornar plural a

concepção de realidade. Contudo, acrescenta-se a

essa multiplicidade o fato de que, em relação ao

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Homo sapiens, a diversidade da percepção da realidade

aumenta consideravelmente devido à propriedade de

reflexão do cérebro humano, geradora de infinitas

interpretações, símbolos e diversas outras realidades. Cada

ser humano torna-se, com isso, um universo próprio e

particular, construído a partir das experiências pessoais, da

cultura, do meio ambiente e da estrutura biológica.

Seria insano pedir ao pássaro para não voar, à toupeira

para não cavar, ou ao cachorro para não latir (embora

muitas vezes o façamos!), pois todos eles estão realizando

o que nasceram para realizar. Do mesmo modo, seria

absurdo solicitar ao homem que não reflita, pois esse é o

seu instinto, a sua natureza. Obedecendo à sua natureza,

não por escolha, mas por imposição atávica, o homem

tenta dar sentido à natureza e à sua própria existência

através do ato de pensar. Esse processo é que deu origem

às diversas formas de ver e de conhecer o Universo, as

quais vêm sendo organizadas e transmitidas através das

gerações ao longo do tempo.

Na primeira fase de sua história, o pensamento humano foi

marcado pelo pensamento mítico. A explicação para os

fenômenos da natureza, assim como da própria

humanidade sempre era justificada pela existência de uma

força maior e externa ao homem. Tal modo de pensar deu

origem aos mitos, aos deuses e às religiões. Tempos

mais tarde, quando essa estrutura de pensamento

não pôde mais dar sentido à existência do homem,

nasceu a ciência.

A ciência em sua origem rompeu com a religião.

Curioso, o homem criou a ciência para que esta

buscasse as respostas que le não encontrava na

religião e com isso colocou um basta na situação de

inconsciência do homem e proclamou que, pelo

processo do pensar, ela faria consciente o

inconsciente, descobrindo seus segredos e

revelando o sentido da vida. E isso ela vem fazendo

até hoje.

Contudo, se pararmos alguns minutos para

observar nossa experiência de existência mais

elementar e fundamental, facilmente

perceberemos que o que nos mantêm vivos é o

inconsciente. Ninguém pensa para fazer seus

batimentos cardíacos, sua digestão, sua respiração

ou todas as reações bioquímicas que mantêm a

vida. E isso é uma grande vantagem. Se

dependêssemos de um comando consciente,

estaríamos todos mortos!

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Portanto, a qualidade de ser vivo, no homem, está

ancorada no inconsciente. Nenhuma consciência consegue

abarcar o inconsciente. Este é muito mais abrangente e a

consciência dele depende, uma vez que ela é apenas um

componente da nossa existência.

Logo, assim como o inconsciente é uma função fisiológica

do ser humano, a consciência também o é. Queiramos ou

não, ela estará presente nas nossas vidas. Só nos resta

percebermos isso. Neste caso, vejamos como ela funciona.

A CONSCIÊNCIA

A consciência é constituída de dois aspectos, o sensorial e o

mental. O sensorial do qual falamos aqui é representado

pelo ato de sentirmos a existência de forma não

discriminativa, ou seja, desprovida da noção dos processos

de diferenciação e discernimento que dela decorrem. Ao

mental, ao contrário, cabe a função discriminativa, ou seja,

o ato de pensar, que possibilita a reflexão sobre as

mudanças externas e a busca da adaptação.

Todo ser vivo possui a capacidade de adaptar-se ao

ambiente. Contudo, no Homo sapiens esse mecanismo

tornou-se mais complexo, envolvendo a formação de

conceitos e significados. Isso só é possível devido ao

aspecto mental da consciência dotado da

capacidade de observar-se a si mesmo, a qual

confere ao Homo sapiens a possibilidade de

conhecer-se e de saber sobre seu próprio universo

mental. Assim, somos capazes de criar um universo

subjetivo, interior e particular, sustentado sobre os

pilares de nossos próprios valores e significados e

construído a partir de nossas experiências. Esse

universo particular, reinado do eu, espelha de

forma metafórica as experiências captadas do

mundo exterior.

Para ilustrarmos essa ideia, podemos imaginar a

expansão do eu da seguinte forma:

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Devido à sua plasticidade, a mente é capaz de desenvolver-se

ampliando o repertório de significados e de valores ao infinito.

Ora, se denominamos eu o universo subjetivo da mente e se

esta pode expandir tal universo a partir de seu

desenvolvimento, então podemos também expandir o nosso

eu. É o que estuda a psicologia e todas as escolas religiosas

que prescrevem a iluminação ou conscientização. Tudo é uma

questão de saber onde seremos capazes de colocar o nosso

centro de gravidade psíquico, ou seja, o quanto poderemos

ampliar nossos significados. Vale lembrar que o eu que se

desenvolve é um aspecto fisiológico da mente dobrando-se

sobre si mesma (a inconsciência experimentando a si mesma

como consciência).

Assim, através da capacidade mental de observar-se a si

mesma, contruímos a dualidade objetivo/subjetivo, sendo o

subjetivo o que observa, ou seja o indivíduo que observa a si

mesmo, e o objetivo aquilo que é observado,neste caso o

próprio indivíduo e sua mente. Isso é denominado processo

reflexivo. A amplitude da nossa realidade depende, portanto,

da diversidade de significados e valores que podemos acessar.

Que tal organizarmos essas idéias? Pois bem, chegamos aos

seguintes conceitos:

- A consciência é um processo de individualização;

- O autoconhecimento é o conhecimento de si

mesmo, que é diferente do sujeito do conhecimento

em si;

- O sensorial é o saber em primeira pessoa, aquele

que experimenta, ou seja o aspecto fenomenológico

do saber. Seu centro é o senso de estar vivo, o existir.

Ele é primário e alimenta a mente.

- A mente é o saber em terceira pessoa (ele/ela),ou

seja sobre o que é falado, está fora do eu

(observador) e pode ser observado. Seu centro é o

conhecimento, o pensar. A mente possui um

mecanismo reflexivo e por ele cria a dualidade

objetivo/subjetivo.

- A subjetividade é o local onde se encontram todas

as nossas experiências, que por sua vez constroem as

nossas interpretações para em seguida construirem

os nossos valores.

O centro sensorial é o senso de estar vivo (a percepção

de estar vivo e simplesmente ser, existir). Ele é

primário e alimenta o centro do saber. Já o centro do

saber é o conhecimento, o pensar, a mente que tem o

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mecanismo reflexivo e por ele cria a dualidade do objetivo

versus subjetivo.

Assim, quando colocamos a atenção no centro sensorial –

sentimos, apenas - a vida faz sentido “experimentado,

sentido”: o sentido de ser vivida, de estar vivo, de ser. Ao

transferir nossa atenção para o centro do pensar – a mente –

a vida faz sentido lógico, pensado, conhecido. No primeiro

somos o verbo, ou seja, a ação. Já no segundo somos o

sujeito, isto é, o agente da ação.

Vejamos como ficou a nossa história, agora:

A mente e sua produção (o pensamento) possibilitam ao ser

humano abstrair, refletir. Essa particularidade do cérebro

humano se revela, por exemplo, no fato de que só o homem

se detém em problemas existenciais, justamente por conta da

reflexão. Quando Platão começa a pensar em suas questões

existenciais, isso é fruto da sua especialidade como ser

humano, pois ele é um homem e sua especialidade é refletir

sobre as coisas.

Ao longo do tempo, o ser humano ficou fixado em

conscientizar a inconsciência, e quem começou a vender esta

ideia foi a ciência. Quando o Iluminismo proclamou “penso,

logo existo”, criou a expectativa de que poderíamos

desmascarar o inconsciente, ter o controle das coisas,

e por consequência da própria vida. Triste ilusão!

Como bem vimos acima, o consciente, assim como o

pensar são funções do inconsciente, não podendo o

primeiro se sobrepor ao segundo.

Eis que a nossa limitação e o nosso instinto nos

aprisionam em uma realidade sonhada. E o que

fazemos ao acordar de um sonho? A nossa primeira

atitude é conectar-nos ao centro do sentir: abrimos os

olhos para sentir onde estamos e depois respiramos

aliviados. Só então pensamos.

“Existo, logo penso” é uma apologia ao “não-self”, o

convite da MedIntegral para uma mudança de

perspectiva, para uma existência em simplicidade e

plenitude. Para tanto, só precisamos estar conosco

mesmos, nesse lugar onde eu sinto que estou vivo, e

não onde eu penso que estou vivo (e logo existo). Eu

existo mesmo que eu não pense. Existir é uma

realização do inconsciente.

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PENSAR

“ A evolução tem uma direção: a complexidade.”

Ken Wilber

Vimos anteriormente que uma das características do

Homo sapiens é tentar, a partir da interpretação e da

reflexão, dar sentido aos fenômenos que observa e

vivencia. Mas como é que tudo isso acontece? Bem, o

processo reflexivo se desenvolve sobre uma estrutura,

a estrutura do pensar, a qual chamamos paradigma.

Trata-se de uma estrutura abstrata, composta de

valores, crenças e experiências do dia a dia.

O conceito de paradigma pode ser definido, de forma

geral, como modelo, uma referência, ou seja, um

conjunto de conhecimentos, opiniões ou crenças que

constitui a base para a compreensão de determinado

estudo, época ou sociedade.

Ao longo do desenvolvimento de sua espécie, o

homem criou diferentes formas de se relacionar com o

mundo e dar sentido aos fenômenos que permeavam

tanto o pensamento coletivo, quanto o individual.

Contudo, embora a evolução avance com o tempo, ela

não é linear. Não se trata de uma sucessão de

pensamentos e práticas que vão sendo abandonados e

substituídos por outros, mas de um conjunto

complexo em que os diferentes aspectos convivem

entre si.

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E aqui chamamos a atenção para um aspecto fundamental do

funcionamento do paradigma: sua existência confere ao

desenvolvimento do ser humano – ou do estudo, teoria,

época, enfim – uma estrutura paradoxal, pois, ao mesmo

tempo em que proporciona a criação das coisas também as

limita. Vejamos um exemplo simplificado dessa relação

paradoxal: Imaginemos a construção de duas casas, com duas

matérias primas diferentes. Para a primeira, teremos sólidos

blocos e, para a segunda, barro. Sem o material (que equivale

ao paradigma), não teríamos condições de construir as casas.

Por outro lado, cada um desses materiais nos dará

possibilidades e limitações específicas de criação (que

equivalem, no universo do raciocínio, aos pensamentos e

ideias, à política, à economia, ao comportamento, às crenças e

à cultura).

O foco do nosso olhar estará semprevoltado para a nossa

espécie. Dessa forma, recai sobre o ser humano e sobre aquilo

que o constitui enquanto tal. Trabalharemos, pois, com uma

noção específica, na qual o conceito de paradigma é definido

como sendo a estrutura da qual emergem todos os aspectos

do humano, sejam eles individuais ou coletivos. No caso dos

aspectos individuais, encontramos as formas de pensar,

estudar e refletir, a espiritualidade, as crenças e valores

individuais e o comportamento. Já nos aspectos coletivos,

encontram-se os modelos de relacionamento, as

crenças e os valores compartilhados, as estruturas

sociais e ambientais, assim como a cultura.

As reflexões acima nos levam a compreender que a

constituição da relação homem-mundo está, nos seus

mais diversos aspectos, fortemente marcada pela

presença de uma estrutura que sustenta a sua

existência. Com efeito, o pensamento médico, assim

como as demais áreas e construções humanas,

também é sustentado pelos paradigmas. Para

compreender a evolução do pensamento médico é

necessário, pois, entender a evolução dos paradigmas

que o sustentaram ao longo do tempo,

contextualizando-o em cada um deles (e, sobretudo,

observando a ordem, a disposição e a relação das

demais construções que lhe são paralelas, como os

valores sociais e os desdobramentos do pensamento).

De uma maneira geral, podemos considerar que a

história da espécie humana contou com a presença de

grandes transformações paradigmáticas no que se

refere ao desenvolvimento do pensamento. Tais

paradigmas ficaram conhecidos como Pré-

Modernismo, Modernismo e Pós-Modernismo, cada

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qual com seu modo particular de pensar, agir e se organizar.

PRÉ-MODERNISMO

Origem da civilização ocidental, o Pré-Modernismo se inicia

com os grande épicos (aproximadamente 1200 a.C a 700 a.C)

calçados em um pensamento mítico e uma cosmologia

plausível de personificação dos elementos e buscavam a

origem do Universo nas grande narrações de Deuses e heróis,

como fizeram Homero e Hesíodo.

“Filho de Laerte, de origem divina, Odisseu engenhoso, contra

vontade, por certo, não mais ficareis aqui em casa; mas é

preciso que empreendas, primeiro, outra viagem e que entres

à casa lúgubre de Hades e da pavorosa Perséfone,...”

(Homero, Odisséia)

“Do Caos nasceram a negra Escuridão e a Noite; e da Noite

nasceram o Éter e o Dia aos quais ela concebeu e pariu depois

de unir-se em amor com a Escuridão.” (Hesíodo, Teogonia,

123-126)

A partir daí o período pré-socrático de Tales de Mileto (624-

548 a.C.) foi marcado pelo surgimento da filosofia: do mito

passamos para a razão, e os grandes pensadores, com

apurado espírito de observação, dedicam-se a decifrar

os segredos do cosmo em termos de forças

impessoais, estudando a physis, ou natureza. Surge a

cosmologia: o homem busca determinar os princípios

da ordenação do mundo que o circunda pelo

argumento racional.

Na literatura não encontramos fragmentos de Tales de

Mileto, somente relatos dos seus sucessores, e,

segundo Diogenes Laércio, a máxima que constava no

pórtico de Delfos “Conhece-te a ti mesmo” é de sua

autoria.

Já Heráclito era chamado de o obscuro e amava o

paradoxo: “a maior parte das gentes não compreende

as coisas com que deparam, e tampouco sabem

quando aprenderam; mas a si mesmas parece-lhes o

contrário” (Fragmento B17).

Empédocles retrata a beleza das observaçoes: “Tal é

manifesto na massa dos membros mortais: pois ora

pelo Amor se reúnem em um, membros que o corpo

adquire quando a vida florescente está em seu ápice;

ora, ainda, apartados pelo perverso Conflito, cada qual

se distancia, errante pelas margens da vida.”

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Com Sócrates (469-399 a.C.) o interesse volta-se para as

questões humanas e o pensamento ocidental da Antiguidade

tem seu apogeu com Platão (427-346 a.C.) e Aristóteles (384-

322 a.C.). Ambos criticam o empirismo puro, anunciando a

aurora do modernismo. Passando por escolas diversas, tais

como o helenismo e a patrística, o Pré-Modernismo se

estende até o período renascentista, ou Renascimento, que

surge por volta dos séculos XIII e XIV.

Embora essas escolas, sobretudo as pré-socráticas,

apresentem muitas diferenças entre si, é possível identificar

um alicerce comum a todas elas: o pensamento (ou

paradigma) mítico, o qual pode ser explicado, de maneira

geral, como a forma de pensar as questões fundamentais do

homem a partir de dados externos. Com isso, o indivíduo pré-

moderno é sempre levado para fora de si, pois entende que

não tem controle algum sobre os fenômenos do mundo.

Vejamos como isso se manifestou na vida do homem.

Embora a Grécia tenha sido altamente evoluída politicamente

nesse período, cunhando a democracia verdadeira, nascida da

interação entre as pessoas comuns para evitar a tirania da

época..., em linhas gerais a percepção do homem sobre a

natureza e si mesmo era unificada, finita e pré-determinada:

tudo o que acontecia tinha uma razão de ser, embora essa

razão muitas vezes fosse conhecida somente por Deus. Isso

porque o período foi escasso de recursos e

instrumentos para a observação dos fenômenos

naturais. Tratava-se, coletivamente, de uma sociedade

marcada pelo poder monárquico sustentado por uma

sociedade agrícola e uma cultura tribal hierárquica.

Assim, a única maneira de construir o conhecimento

era a partir da experiência pessoal, motivo pelo qual o

homem pré-moderno adquiria conhecimento de forma

empírica e baseado em injunções. Este processo não

permitia a diferenciação do homem e da natureza e

consequentemente promovia uma consciência não

dissociada: o homem guiado pelo paradigma Pré-

Moderno crê-se como resultado de forças que não

consegue controlar, devendo, por conseguinte,

obedecer a essas forças.

Contudo, apesar da identificação entre o homem e a

natureza, havia uma clara separação entre o mundo

dos homens e o mundo dos céus, inclusive com teorias

que propunham diferentes leis para o funcionamento

dos dois. O mundo supralunar, referência que

Aristóteles usou para designar o universo dos céus, era

visto como inteligível e perfeito, constituído pela

quinta-essência, o éter. Já o mundo sublunar, dos

homens, era formado pelos quatro elementos, terra,

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fogo, água e ar. Na Cosmologia, a Terra ocuparia o centro do

Cosmos, por ser esta a sua posição natural.

Aristóteles também passou a sistematizar a ciência,

introduzindo o método indutivo-dedutivo, ocupando-se das

relações causais, demarcando as ciências e postulando o

status de verdade necessária dos primeiros princípios. Dono

de uma lógica implacável, Aristóteles foi, na verdade, o

começo da ciência como passamos a conhecê-la. Afinal, o seu

paradigma foi mantido por mais de um milênio.

Fundamentada nessa perspectiva, a medicina pré-moderna

via o homem como resultado da interação entre os elementos

formadores, cujo desequilíbrio resulta na doença. Vem daí o

princípio de trabalho dessas medicinas, hoje, denominadas de

tradicionais: se elas equilibrarem os elementos, o homem

volta a ter saúde. Enfocavam, pois, desequilíbrios e não

doenças, os quais eram diagnosticados através de um

meticuloso exame físico e intuitivamente e tratados com

elementos naturais já que não possuíam nem métodos mais

objetivos de observação (tais como exames laboratoriais),

nem medicamentos industrializados.

Hipócrates, o pai da medicina e colocava “faça do alimento o

seu remédio” e estudiosos vém a citação de Heráclito: A

natureza a si próprio ajuda (Fragmento 67 a) como

tipicamente hipocrática.

Pautadas nesse paradigma, os grandes exemplos das

medicinas que se mantiveram até hoje – nascidas há

cinco mil anos, diga-se de passagem – são as

chamadas medicinas tradicionais (chinesa, ayurvédica

e tibetana, por exemplo).

MODERNISMO

Repleto de revoluções, o Modernismo é marcado por

profundas mudanças no modo de vida humano, cujas

origens repousam em grandes fatores como as

revolucionárias descobertas científicas iniciadas com o

heliocentrismo, a sistematização de uma teoria do

método científico introduzida por Francis Bacon (1561-

1626), a separação de ciência e religião iniciada com o

pensamento de René Descartes (1596-1650), a

introdução da visão mecanicista da natureza

desenvolvida por Isaac Newton (1642-1727) , entre

outros. Juntos, esses aspectos deram origem a um

conhecimento mais estruturado e prático, baseado em

evidências e no racionalismo. Emergindo de um

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período histórico fortemente dominado pela teologia, o

homem moderno perde a inocência, não pode mais confiar

naquilo que vê, por isso precisa ampliar sua visão, que

culminará na Revolução Científica.

O grande protagonista da Revolução Científica do século XVII,

o heliocentrismo, de Nicolau Copérnico (1493-1543) e

Johannes Kepler (1571-1620), colocava o sol no centro do

universo, oferecia a possibilidade ímpar de demonstrar que o

reino dos céus e o reino dos homens não eram tão diferentes

quanto se postulava no Pré-Modernismo. No entanto,

Copérnico e seus contemporâneos não puderam demonstrar

suas ideias, pois faziam suas observações baseadas em

percepções sensoriais, as quais possibilitavam detectar a

mudança da posição dos astros no céu, mas não as mudanças

da Terra. Essa incapacidade de se colocarem no movimento

que observavam manteve a separação entre o reino dos céus

e do homem. Décadas mais tarde, Galileu Galilei (1564-1642),

com a invenção do telescópio, conduzindo à confirmação da

teoria heliocêntrica, fez ruir a visão aristotélica da separação

dos mundos supralunar perfeito e sublunar imperfeito, que

bem ou mal subsistira até então, ele demosntrou que o

supralunar não era nem um pouco perene e perfeito, e sim

sujeito a mudanças também.

A comprovação do heliocentrismo impunha a

unificação ontológica entre os mundos e,

inevitavelmente, trazia em seu encalço a unificação

epistemológica: uma vez unificado o mundo, o método

para se conhecer esse mundo deveria, pois, ser único,

do qual toda a experiência sensorial subjetiva

(injunções) estava eliminada. Este fato foi o

amotinador da Revolução Científica do século XVII,

que será o ponto de partida de Descartes que coloca

em dúvida a acuidade dos sentidos e propõe fiar-nos

na nossa capacidade de desenvolver idéias claras e

distintas, que nos são garantidas por Deus, desde que

façamos bom uso dessa capacidade como seres

pensantes que somos. Já os sentidos nos enganam:

segurando um pedaço de cera, observa: “enquanto

falo e me aproximo do fogo, o que permanecia de

gosto é exalado, o cheiro evapora, a cor se altera, a

forma é destruída, o tamanho aumenta, ele torna-se

líquido,...Certamente nada permanece, exceto uma

certa coisa extensa, que é flexível e móvel.” Descartes,

em Meditações)

Descartes, considerado o pai do pensamento

moderno, instituiu a dúvida: a afirmação da existência

de algo estava agora atrelada à prova dessa realidade.

Page 19: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

19

Ele critica a tradição e propõe uma reconstrução do saber pela

unificação do método que capacitaria a investigação científica

a produzir evidências a partir da dúvida metódica a ser

demolida sistematicamente pelas regras do pensamento

correto. Basicamente o seu método ordena a progressão do

conhecimento propondo estruturar o pensamento por meio

de quatro elementos: clareza e distinção no acolhimento da

verdade, de modo que toda dúvida seja afastada; análise

detalhada dos diversos aspectos do problema; ordenação dos

pensamentos num processo dedutivo, começando pelos mais

simples para desembocar nos mais complexos; síntese,

recuperando a visão do todo pela consideração e enumeração

de todos os elementos envolvidos.

Esse método conhecido como cartesianismo é o arcabouço do

determinismo, teoria filosófica que postula que todo

acontecimento é explicado pelas relações de causalidade, ou

seja pela relação entre um evento (causa) e sua consequência

(efeito), nas palavras de Descartes: “Tentei descobrir em

primeiro lugar os princípios gerais ou causas primeiras de tudo

que há. Ou de tudo que pode existir no mundo, sem

considerar nada que possa alcançar esta meta a não ser o

próprio Deus que criou o mundo, ou deduzindo-os de

qualquer fonte exceto certos germes de verdade que existem

naturalmente nas nossas almas.” (Descartes, em

Discurso sobre o Método).

Essa perspectiva foi aprofundada ademais pela visão

mecanicista desenvolvida por Newton que enxerga no

cosmo um mecanismo ordenado e previsível, em que a

função do todo é determinada pela soma das partes. E

se observadas e analisadas matematicamente

estabelecem leis que garantem a possibilidade de

antever a ação dos fenômenos naturais:

“Não devemos admitir mais causas das coisas naturais

do que aquela a um tempo verdadeiras e suficientes

para explicar as suas aparências.” ( Newton, em

Principia).

Logo, o mecanismo postula que todos os fenômenos

se explicam pela casualidade mecânica, esto é, a

relação linear de causa e efeito.

Como se vê, a perspectiva cartesiana é dualísta: separa

corpo e mente e explica a realidade de forma racional,

determinística, mecanicista e fragmentada. Por essa

nova visão, o universo é infinito, frio, linear e

composto por partículas.

Page 20: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

20

O homem moderno descobre, portanto, que pode explicar

fenômenos que antes aceitava como sendo mera vontade de

Deus, ampliando, assim, sua capacidade de percepção e

observação. Acredita ainda que pode desvendar as leis que

regem o Universo, , cujo entendimento lhe traria não só o

domínio e posse da natureza, mas sobretudo o comando de

seu destino. A palavra de ordem passa a ser Razão. Um dos

movimentos filosóficos mais importantes desta época, o

Iluminismo, cujas principais influências advinham dos

conceitos concebidos na Revolução Científica, defendia a

razão como base primária da autoridade. É interessante

notar, por exemplo, que uma das grandes figuras do

Iluminismo, Immanuel Kant, sente-se pouco a vontade em

aceitar o empirismo puro como base do conhecimento.

Segundo ele, para que o conhecimento se produza, seria

necessária também a experiência cognitiva de um sujeito

pensante.

Esse novo homem - que amplia seus sentidos e ultrapassa a

barreira do mítico tornando-se ele mesmo criador das coisas –

promove, na esfera social, a Revolução Industrial, que por sua

vez culmina na mudança do sistema feudal para o

mercantilista: os campos foram abandonados e o comércio

fortalecido e expandido, originando uma sociedade industrial

que sustentava um regime político republicano e um

sistema econômico capitalista.

Na medicina, essa nova perspectiva substitui a

percepção intuitiva pela análise concreta : o ser

humano (visto agora como um aglomerado de células

e órgãos ) é dissecado, de forma que se adquire um

conhecimento profundo da anatomia. Os diagnósticos

passam a ser dados por meio de exames laboratoriais

e imagens que enfocam as doenças, cujos tratamentos

contam agora com a indústria farmacêutica. A

medicina ocidental convencional (que estudamos até

hoje) é o maior exemplo desse paradigma, interpreta

que todos os fenômenos que se manifestam no

humano são mecanicamente determinados e, em

última análise, essencialmente de natureza

fisicoquímica.

PÓS-MODERNISMO

“Pessoas como nós que acretidam na física, sabem que

a distinção entre passado, presente e futuro é

somente uma ilusão teimosamente persistente.”

Albert Einstein

Page 21: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

21

No início dos anos 1950, a descoberta da relatividade de

tempo e espaço, postulada por Einstein em sua “Teoria da

Relatividade” e, posteriormente, a da não localidade da física

quântica, deflagraram discussões sobre as crenças pautadas

na suposta verdade absoluta alcançada pela razão do

Modernismo.

Na verdade, a formulação da Teoria da Relatividade advém da

própria compreensão de que referenciais diversos podem

oferecer visões perfeitamente plausíveis, mesmo que

diferentes, acerca de um mesmo fenômeno, nas palavras de

Einstein: realidade é meramente uma ilusão, ainda que muito

persistente. Formula-se, assim, o princípio segundo o qual o

resultado da observação está estritamente ligado ao ponto

pelo qual o observador se observa. Essa nova noção relativiza

a verdade absoluta do Modernismo e legitima diferentes

perspectivas de ver e interpretar o mundo.

O Pós-Modernismo maximiza essa noção, propondo que não

existe verdade, só interpretações, pensamento que ancora

seu pluralismo teórico. Partindo de tal concepção, o universo

é relativo: não existe por si só, depende de um observador,

sendo, portanto, efêmero, descontínuo e sistêmico.

No que se refere ao social, o Pós-Modernismo é marcado pelo

capitalismo contemporâneo pós- industrial, que privilegia a

produção de serviços e informações sobre a produção

material. Assim, a comunicação e a indústria cultural,

assentadas no desenvolvimento tecnológico e na

informática, exercem um papel fundamental na

disseminação das novas ideias e promovem a

globalização e a democracia.

Embora o Pós-Modernismo traga novos modos de

pensar e ver o mundo, ele mantém a sua estrutura no

modelo de base do Modernismo. Por outro lado,

dialoga com o Pré-Modernismo pois, semelhante à

interação entre os cinco elementos, o Pós-

Modernismo também leva em consideração a relação

e a interação entre as coisas, porém de maneira mais

concreta e organizada. Começam a ter espaço aqui as

medicinas complementares, como a ortomolecular,

que cuida do sistema bioquímico em sua interação

com o meio ambiente.

CENÁRIO ATUAL

Ainda que os paradigmas mostrem uma evolução

cronológica, estão longe de ser estruturas históricas

estanques e ultrapassadas; ao contrário, são flexíveis e

Page 22: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

22

coexistem, atualmente. Além disso, eles exercem um papel

central no desenvolvimento da consciência, sendo a

plataforma para o pensamento e o comportamento. Será que

você já tentou se benzer, fazer exames laboratoriais e

tratamentos alternativos alguma vez?

A simultaneidade paradigmática fomenta o conflito e conduz à

negação dos movimentos entre si. Conviver não é fácil nem

para os paradigmas... O Pré-Moderno critica o materialismo

do Modernismo que por sua vez censura os sistemas do Pós-

Modernismo. Este se opõe à verdade reducionista e à

compartimentalização do Modernismo.

Embora a humanidade tenha se servido, até então, dessas

ferramentas para solucionar os seus problemas, atualmente

elas se mostram insuficientes na busca de uma saída viável

para o cenário socioecológico da era global, no qual a Terra

apresenta mudanças climáticas, quase 7 bilhões de pessoas

povoam um planeta que, claramente, não oferece recursos

para a sustentação do modo de vida atual, oitocentos e

cinquenta milhões de pessoas sofrem com a fome e três

bilhões vivem com menos de um dólar por dia.

Tais desordens e a emergente falência dos órgãos

institucionais de controle social são ameaças que rondam a

estabilidade de nossos sistemas. A crise atual não é uma

simples crise de lideranças, de organizações e da

economia, é também a ruína de uma estrutura

sociocultural. Tempos em que nossos desafios não são

apenas individuais, mas coletivos de todas as ordens.

Esse panorama é o berço da manifestação de um novo

paradigma que, a partir da compreensão de que todos

os pontos de vista são genuínos e parciais, concilia as

suas verdades, destacando as qualidades de cada um e

oferecendo-lhes um lugar legítimo, arranjando-as lado

a lado em um único mapa. Temos agora um modelo

translógico de considerar o mundo: o paradigma

integral.

A Tabela 1 permite a observação comparativa das

principais características que definem cada um dos

períodos tratados acima.

PENSAMENTO MÉDICO

Vejamos um pouco mais sobre a influência dos

paradigmas no desenvolvimento do pensamento e das

práticas médicas.

Page 23: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

23

Na pré-modernidade, o homem sente que faz parte de algo, a

ideia que perpassa todos os aspectos do pensamento na

época é a da unificação harmoniosa do homem com a

natureza. Filósofos como Empédocles, Platão e Aristóteles

explicavam que o universo era constituído por água, terra,

fogo, ar e éter. A medicina pré-moderna, por sua vez,

baseava-se nessa concepção para explicar tanto a Fisiologia

como a Patologia. Para os médicos daquela época, a doença

era decorrente do desequilíbrio entre os elementos e

denotava uma instabilidade da união entre o homem e a

natureza, devendo assim ser tratada com terapias que

promovessem o equilíbrio inato e cujos métodos estivessem

de acordo com as leis da natureza. Trata-se da Fitoterapia, dos

métodos de desintoxicação e relaxamento e de dietas.

As grandes representantes desta prática são as medicinas

orientais, como a chinesa e a ayurvedha, denominadas

medicinas tradicionais. Por descenderem de tradições, elas

são representadas pelos sistemas médicos utilizados

secularmente.

Já a medicina convencional (termo utilizado para designar a

prática médica desenvolvida no ocidente), está alicerçada no

materialismo, na objetividade, na fragmentação e na lógica do

paradigma cartesiano, mecanicista. Compreende o homem

como um conjunto de partículas que formam células, órgãos e

sistemas, cujo funcionamento apropriado garante a

saúde. A doença, nesse sentido, é o resultado do mau

funcionamento de tais estruturas em decorrência de

fatores genéticos, traumáticos, infecciosos,

ambientais, comportamentais, desconhecidos, entre

outros. O papel do médico, a partir da visão deste

paradigma, é corrigir o erro através de tratamentos

químicos ou cirúrgicos, aliados (ou não), que têm

como propósito a cura ou o controle da doença.

A seguir, caro leitor, gostaria de contar-lhe um pouco

mais sobre a medicina convencional, já que ela é

predominante no nosso cotidiano.

Embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) defina

a saúde como um estado de bem-estar físico, mental e

social, a medicina convencional vem enfocando muito

mais as doenças do que os demais aspectos implícitos

na orientação da instituição. É inegável a importância

do avanço da ciência médica, que, ao longo dos

últimos anos, aperfeiçoou inúmeros processos para

ampliar a sobrevida humana, desenvolveu métodos de

diagnósticos que possibilitam o tratamento precoce (e,

consequentemente, a cura) de várias doenças,

aprimorou técnicas cirúrgicas, permite a criação de

famílias com a fertilização in vitro e outros incontáveis

Page 24: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

24

benefícios para a vida do homem. Por outro lado, não vimos

ainda a solução, através da medicina, para certas doenças

crônicas, moléstias infecciosas (como a AIDS), enfermidades

degenerativas (como o Alzheimer), vários tipos de cânceres,

nem a mortalidade infantil. Tampouco oferece uma estrutura

eficiente para a perpetuação da saúde, uma vez que o foco de

suas pesquisas são as doenças. Como resultado, temos

inúmeros especialistas em enfermidades e raríssimos em

saúde.

No caso das doenças crônicas, além de representarem um

problema para os portadores, também assim se apresentam

para o sistema de saúde que, com, o intuito de controlá-las e

gerar qualidade de vida, realiza grandes esforços e

investimentos no acompanhamento médico-laboratorial e na

distribuição de medicamentos em longo prazo.

No esforço para atender a estas necessidades, a medicina

moderna buscou conhecer o perfil do ambiente e dos hábitos

que geram as enfermidades. Para tanto, recorreu ao método

da epidemiologia: estudo quantitativo da distribuição dos

fenômenos de saúde e doença, relacionando-os com seus

fatores condicionantes e determinantes na população

humana, tais como fatores ambientais, socioculturais, idade,

sexo, entre outros. Eis alguns resultados:

Publicados pelo Ministério da Saúde em 2008, os

dados sobre a mortalidade e suas causas nas

diferentes faixas etárias demonstram que o estilo de

vida, a alimentação, o ambiente em que se vive e o

poder econômico são aspectos indubitavelmente

importantes no desenvolvimento de doenças crônicas,

fato que já havia sido constatado no caso das doenças

infecciosas.

No Brasil, 74,7% das causas de morte são por doenças

crônicas. Ao sedentarismo se atribui 52% dos quadros

de hipertensão arterial, 48% das afecções

cardiovasculares, 14% dos quadros de diabetes, 16%

dos casos de câncer de cólon e 10% das manifestações

de câncer de mama.

Já a obesidade é responsável por 60% dos casos de

diabetes tipo dois, 25% de todos os cânceres, 1/5 dos

quadros de acidente vascular cerebral, 30% das

doenças coronarianas e 40% das manifestações de

hipertensão. A saúde mental (como depressão e

ansiedade, entre outros) é responsável por cinco em

cada dez enfermidades no Brasil.

Outro dado alarmante: causas externas, tais como

agressões e acidentes, são responsáveis por 38% dos

Page 25: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

25

óbitos na faixa etária de 15 a 49 anos. Esse número aumenta

significantemente quando é restrito à faixa etária de 15 a 24

anos, na qual representam 78% das causas de óbito. Demais

causas externas ocupam o quarto lugar dentre as causas de

morte do país.

A análise destes resultados evidencia que quase de três

quartos da população brasileira morre de doenças crônicas, as

quais têm, entre seus fatores determinantes, forte estímulo

da falta de exercício e a obesidade. No caso da população

jovem, intensificam-se os riscos de acidentes e da exposição à

violência.

A partir dos dados expostos acima, podemos observar – e

quero chamar a sua atenção para isso! – que, ao lado de

fatores genéticos, os aspectos socioambientais e culturais são

significativos para o desenvolvimento das enfermidades

supracitadas. Desta maneira, a epidemiologia de doenças não

transmissíveis demonstra a importância do enfoque na

qualidade de vida, na promoção da saúde, na comunidade e

no ambiente para a prevenção das moléstias crônicas.

Essa demanda vem a ser parcialmente atendida pela medicina

convencional. Entretanto, os dados enfatizam a urgência de

um modelo mais amplo, abrangente e inclusivo, que admita a

relação entre as dimensões emocional, mental, biológica,

ambiental, assim como a interferência da cultura nas

crenças e valores do indivíduo. Esse modelo mais

abrangente já existe, falamos agora da medicina pós-

moderna, na qual o homem é percebido não só como

o resultado de seu funcionamento, mas também da

interação entre corpo e sua relação com a cultura, a

estrutura social e o ambiente. O homem, aqui, é parte

de um sistema.

Nesse formato, o sistema médico deixa de abordar a

enfermidade e passa a abordar o indivíduo com suas

necessidades. Uma nova linguagem para o diálogo foi

descoberta e o médico se torna também um instrutor

de comportamento. O atendimento passa a ser

multidisciplinar e o tratamento objetiva a qualidade de

vida, além da cura e do controle da doença. Este é o

sistema praticado pela medicina integrativa. Trata-se

de um sistema contemporâneo, nascido no final dos

anos oitenta, e fundamentado em um trabalho

transdisciplinar que integra efetivamente as várias

formas terapêuticas em seu receituário. Nela, o

paciente pode ser tratado, ao mesmo tempo, com

remédios alopáticos, shiatsu, meditação, fitoterapia e

acupuntura, por exemplo.

Page 26: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

26

Não obstante, o princípio sistêmico da medicina pós-moderna,

que leva em consideração os vários aspectos da vida humana

e reconhece a sua influencia na saúde e doença, ainda cuida

de sintomas e do indivíduo sem levar em consideração a sua

inserção cultural e social, mesmo que seu pluralismo teórico

ofereça uma abordagem multidisciplinar.

PENSAMENTO MÉDICO INTEGRAL

O paradigma integral proporciona uma investigação total do

ser humano, apresentando todos os seus aspectos subjetivos

e objetivos “lado a lado”, em um mapa ímpar. Em uma visão

translógica, exibe todas os recursos terapêuticos e meios para

o desenvolvimento da consciência, com a finalidade de

promover a saúde e o bem-estar contínuo. E por bem-estar

contínuo, faço menção ao mais amplo e profundo bem-estar,

que está além do bem-estar físico ou a readaptação do

indivíduo aos moldes da sociedade. Refiro-me ao sentido e ao

valor de ser Humano, de conhecer sua mente e recursos e

utilizá-los para cultivar a sabedoria e a consciência.

Nesse modelo, o paciente deixa de ser passivo e passa a atuar,

informando-se sobre o seu estado de saúde e refletindo sobre

os seus padrões psíquicos e comportamentais. Esse processo

o capacita para agir em prol do seu bem-estar em

vários aspectos, realizar escolhas mais sábias,

personalizadas e originais; perceber-se como um

segmento de uma teia que permeia e conecta tudo e

todos; utilizar os seus recursos de forma mais eficiente

e sustentável e, por fim, modificar o seu estilo de vida.

O médico, por sua vez, vai além de sua atuação já

conhecida de receitar medicamentos e orientar

comportamentos de prevenção a doenças. Ele age

como um coach* promovendo a reflexão e solicitando

a consciência do indivíduo para que ele próprio seja o

instrumento de mudanças em seus hábitos, a fim de

alcançar o melhor estado de saúde possível na

estrutura na qual ele se encontra e encontrar o bem-

estar.

A Tabela 2 permite a observação comparativa das

principais características que definem cada um dos

períodos tratados acima.

*Coach –termo em inglês que significa treinador.

Page 27: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

27

TABELA -1

ASPECTO/PARADÍGMA PRÉ-MODERENISMO MODERNISMO PÓS MODERNISMO INTEGRAL

REGISTRA MÍTICO/SUBJETIVO REAL/OBJETIVO REAL/OBJETIVO SUBJETIVO/OBJETIVO

INSTRUMENTOS EXPERIÊNCIA PESSOAL INSTRUMENTOS

CONCRETOS: MICROSCÓPIO, TELESCÓPIO...

INSTRUMENTOS E ÍNDICES

EXPERIÊNCIA PESSOAL, INSTRUMENTOS E ÍNDICES

TIPO DE

CONHECIMENTO EMPIRISMO RACIONALISMO EMPÍRICO

RACIONALISMO EMPÍRICO

INCLUI A CONTEMPLAÇÃO

BASEA-SE EM INJUNÇÕES EVIDÊNCIAS EVIDÊNCIAS EVIDÊNCIAS E EXPERIÊNCIAS

INDIVIDUAIS PARADÍGMA HOLÍSTICO ATOMISTA SITÊMICO GLOBAL MÍSTICO FÍSICA FENOMENOLÓGICA MECÂNICA RELATIDADE/QUÂNTICA TEORIA INTEGRAL LÓGICA MONOLÓGICO DIALÓGICO DIALÓGICO TRANSLÓGICO PENSAMENTO MÍTICO CARTESIANO SISTÊMICO INTEGRAL

TEORIAS DEUS É O CRIADOR E

GOVERNADOR DO UNIVERSO

TEORIA MECANICISTA

TEORIA DO CAOS, TEORIA DOS SISTEMAS

DINÂMICOS, AUTOPOIESE E TEORIA

DA COMPLEXIDADE

TEORIA INTEGRAL

Page 28: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

TABELA -1

ASPECTO/PARADÍGMA PRÉ-MODERENISMO MODERNISMO PÓS MODERNISMO INTEGRAL

SOCIEDADE AGRÍCOLA INDUSTRIAL TECNOLÓGICA DIGITAL

PRESPECTIVA NÃO RACIONAL

RACIONALIDADE PERSPECTIVA

REDE LÓGICA NÃO PERSPECTIVA

TRANSRACIONAL

PODER MONÁRQUICO REPÚBLICA DEMOCRACIA GLOBALIZAÇÃO CULTURA TRIBAL / HIERÁRQUICA CAPITAL GLOBAL GLOBAL E INTEGRAL

CONSCIÊNCIA NÃO DISSOCIADA DISSOCIADA FRAGMENTADA DISSOCIDA

FRAGMENTADA INTEGRADA

MATRIARCAL HOLÍSTICO PATRIARCAL ANALÍTICO SISTEMÁTICA INTEGRADA

MÁXIMAS VERDADE NÃO EXISTE

VERDADE, SÓ INTERPRETAÇÕES

TUDO É VERDADE E TAMBÉM É PARCIAL

VISÃO DE MUNDO INDIFERENCIADO DIFERENCIADO DIFERENCIADO INTEGRADO EXTREMO UNIFICADO DISSOCIADO DISSOCIADO COMPLICADO

28

Page 29: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

29

ASPECTO/PARADÍGMA PRÉ-MODERENISMO MODERNISMO PÓS MODERNISMO INTEGRAL

PRONOME EU ELE/ELES ELE/ELES EUS, ELES E NÓS

MOVIMENTO INDIFERENCIAÇÃO COMPARTIMENTALIZAÇÃO CONTEXTUALIZAÇÃO INTEGRAÇÃO

OBSERVADOR E OBSERVADO

NÃO SEPARA SEPARA INCLUI INTEGRA

PAUTADO NA EXPERIÊNCIA INDIVIDUAL

VERDADE OBJETIVA E MENSURÁVEL

INCLUSÃO DO COLETIVO: A CULTURA E

ESTRUTURAS SOCIAIS

INTEGRAÇÃO DAS EXPERIÊNCIAS INDIVIDUAIS, VERDADES

OBJETIVAS, INTERSUBJETIVIDADE CULTURAL E A

INTEROBJETIVIDADE SOCIAL

ASPECTOS QUE IGNORA

OBJETIVO SUBJETIVO INDIVIDUAL /

EXPERIÊNCIAS INDIVIDUAIS E COLETIVAS

SUBJETIVIDADE INDIVIDUAL

AQUILO QUE NÃO PODE VER AINDA

ASPECTOS QUE ABORDA

SUBJETIVO INDIVIDUAL OBJETIVO INDIVIDUAL E

COLETIVO

SUBJETIVO COLETIVO E OBJETIVO COLETIVO

OBJETIVO E SUBJETIVO, COLETIVO E INDIVIDUAL

TABELA -1

Page 30: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

30

MEDICINA PRÉ-MODERNA MODERNA PÓS-MODERENA INTEGRAL

PRÁTICA

MEDICINAS TRADICIONAIS E

CIRUGIÕES BARBEIROS MODERNA

HOMEOPATIA, ANTROPOSOFIA, INTEGRATIVA

INTEGRAL

ESSENCIALMENTE INTUITIVA ANALÍTICA SISTÊMICA GLOBAL

ANATOMIA

BASICAMENTE INEXISTENTE

CONHECIMENTO PROFUNDO

CONTEXTUALIZA O INDIVÍDUO NA CULTURA

INCLUI AMBIENTE E ESTRUTURAS SOCIAIS

MÉTODOS DIAGNÓSTICOS

INTUITIVOS/MÍTICOS

EXAMES LABORATORIAIS, DE

IMAGENS E ANATOMIA

PATOLÓGICA

EXAMES LABORATORIAIS, DE IMAGENS E ANATOMIA

PATOLÓGICA

INTEGRA MÉTODOS MODERNOS E ÍNDICES DE

FELICIDADE, SATISFAÇÃO E QUALIDADE DE VIDA

PARADÍGMA HOLÍSTICO CARTESIANO SISTÊMICO INTEGRAL

O SER HUMANO É UNIFICADO COM O

UNIVERSO UM AGLOMERADO DE

CÉLULAS E ÓRGÃOS

UM SER COMPLEXO COM MUITAS CÉLULAS, CRENÇAS E

VALORES, INSERIDO EM CONTEXTO CULTURAL

VÁRIOS ASPECTOS INTEGRADOS - INTERIOR

INDIVIDUAL E COLETIVO E EXTERIOR INDIVIDUAL E

COLETIVO - QUE OCORREM AO MESMO TEMPO AGORA

MEDICAMENTOS

PLANTAS, RAÍZES E MINERAIS

INDÚSTRIA FARMACÊUTICA

INDÚSTRIA FARMACÊUTICA E DE MANIPULAÇÃO

TODOS

Page 31: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

31

MEDICINA PRÉ-MODERNA MODERNA PÓS-MODERENA INTEGRAL

FOCO DESEQUILÍBRIO DOENÇAS DOENÇA E PACIENTE SER HUMANO

VISA EQUILÍBRIO

CURA AUMENTO DA

SOBREVIDA

CURA, AUMENTO DA SOBREVIDA E QUALIDADE DE

VIDA

SAÚDE, BEM-ESTAR E DESENVOLVIMENTO DE

CONSCIÊNCIA

ATENDIMENTO GERAL ESPECIALIDADES MULTIDISCIPLINAR INTEGRADO

TRATAMENTO FITOTERAPIA,

VENTOSAS, DIETAS E COMPORTAMENTO

MEDICAMENTOS QUÍMICOS E CIRURGIAS

MEDICAMENTOS, CIRURGIAS, FITOTERÁPICOS, HOMEOPATIA,

TRATAMENTOS SUTIS COMO REIKI

CONSTRUÍDO JUNTAMENTE COM O INDIVÍDUO, LEVANDO EM CONSIDEREÇÃO TODAS AS POSSIBILIDADES - COACHING

DE VIDA

TRATA TRATA O DESEQUILÍBRIO TRATA O ÓRGÃO E A

DOENÇA TRATA O INDIVÍDUO E A

DOENÇA

CUIDA DO INDIVÍDUO E APRESENTA NOVAS

PERSPECTIVAS PARA PENSAR A DOENÇA, SI PRÓPRIO E O

MUNDO

TABELA -2

Page 32: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

32

MEDINTEGRAL

“Toda a experiência humana possui quatro aspectos

fundamentais, e se ignorarmos qualquer um deles,

deixaremos de contar com uma parte importante da

estória. O que acarretará uma visão parcial,

consequentemente traçaremos soluções, também,

parciais.”

Ken Wilber

Como vimos até agora, a medicina convencional é

classicamente uma abordagem biológica. Sua atuação

junto aos pacientes é baseada na doença, sobretudo

corporal, e os tratamentos por ela prescritos são, em

geral, também pautados no aspecto físico, como cirurgias,

drogas e mudança de comportamento.

Entretanto, este quadro está mudando. Segundo a revista

American Medical News, em publicação de outubro de

20111, atualmente 42% dos hospitais americanos

oferecem terapias alternativas. Quatro anos antes, a

National Health Interview Survey já havia realizado uma

pesquisa sobre o uso de medicina complementar e

alternativa pela população americana, constatando que

trinta e oito por cento dos americanos adultos utilizam

esse serviço2. Na Europa, já mais há de cem milhões de

pessoas usando o sistema alternativo de saúde em algum

momento de sua vida3.

Este enorme interesse por cuidados complementares,

paralelamente ao surgimento de novas disciplinas como a

psiconeuroimunologia – e até mesmo a medicina

integrativa – ,evidenciam uma nova percepção quanto ao

conceito de saúde, na qual as emoções, a atitude

Page 33: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

33

psicológica e a intenção possuem papel crucial tanto no

processo de doença quanto no de cura.

Nesse contexto, dois aspectos são de suma importância.

De um lado está a aceitação de que aspectos subjetivos

interferem nos níveis de saúde e, de outro, o fato de que a

consciência individual é intrínseca aos valores, crenças e

visão de mundo, e isso diz respeito diretamente ao modo

de vida das pessoas e, consequentemente, à saúde. Disso

decorre, por exemplo, maneira como um indivíduo

desenvolverá a sua percepção específica acerca de uma

determinada doença, tomando-a como preconceito ou

compaixão, percepção essa que o influenciará

profundamente na maneira de lidar com o sintoma e,

portanto, em sua evolução e prognóstico. Nesse sentido,

basta lembrarmos que muitos estudos mostram

consistentemente que pacientes com câncer, integrados a

grupos de apoio, vivem mais e melhor do que aqueles que

não contam com tal suporte, pois o território cultural em

que se encontram inseridos rege os processos de saúde e

doença. Tal suporte pressupõe a interação de fatores

intersubjetivos, como a comunicação entre paciente,

médico e a equipe de saúde; as atitudes familiares e de

amigos; a aceitação e valores culturais da doença.

Do mesmo modo, fatores socioeconômicos e materiais,

raramente incluídos como aspectos de promoção de

saúde ou doença, também causam grande impacto. No

Brasil, por exemplo, o sistema de segurança social mostra-

se altamente precário e a violência urbana atinge índices

alarmantes. Assim, quando analisamos a mortalidade,

percebemos que 78% dos óbitos de jovens entre 15 e 24

anos deve-se às causas externas como agressões e

acidentes. Entretanto, a segurança pública não é

considerada como um aspecto da saúde. Na esfera

socioambiental incluem-se fatores como economia,

seguro, saúde pública, saneamento básico e toxinas

ambientais.

A Medicina Integral, buscando uma apreensão ampla da

saúde e a construção de um modelo médico muito mais

compreensivo e efetivo, considera, em cada situação, a

incidência destes outros fatores no processo de avaliação

dos casos. A partir da coleta das informações, estes

aspectos são dispostos em um único gráfico.

Obtém-se, dessa forma, aquilo que designamos como os

“quadrantes” no processo e no gerenciamento da saúde.

Os quadrantes, por sua vez, apresentam níveis ou

camadas, sendo eles o físico, o emocional, o mental e o

espiritual, que se referem a todas às “linhas” do modelo

Page 34: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

34

Integral de saúde. Essa orientação pauta-se na

compreensão de que as diferentes perspectivas

apresentam ângulos de observação também diversos,

sendo, portanto, mais rico e eficaz reuni-las em um único

mapa, ampliando assim as chances de uma visão mais

abrangente sobre um aspecto particular.

Um bom exemplo disso é a estória dos cegos encontrando

o elefante. Quem não conhece? Cinco cegos encontraram

um elefante. Cada um deles tocou uma parte do animal.

Um tocou a tromba, outro as patas, outro o rabo, outro as

orelhas e outro ainda a barriga. Ao se encontrarem,

começaram a definir o elefante e cada qual tinha uma

perspectiva do animal. O que tocou o rabo dizia que ele

era algo bem fininho e com o pelo grosso; aquele que

tocou na barriga discordou dizendo que ele era algo muito

grande, duro e redondo; o que tocou a pata concordou

com o que achara o animal redondo e duro, mas

discordou daquele que o achou muito grande; o cego que

tocou a tromba discordou daquele que avaliou o elefante

duro e grande, mas concordou com o que o achou

redondo. E, por fim, quem tocou na orelha discordou de

tudo e disse que ele era algo fino e com uma grande

superfície. Qual deles tem a verdadeira descrição do

elefante? Nenhum, e todos ao mesmo tempo. Certo?

Utilizamos essa estória como uma metáfora da

fragmentação versus a visão ampla. Essa é a grande

vantagem da abordagem integral: a sua amplitude. Ela

pode incluir e organizar as diversas e diferentes

perspectivas do elefante e com isso chegar mais perto

daquilo que o elefante realmente é.

Diferentemente do que ocorre nas demais formas de

práticas médicas, a Medicina Integral não se fixa apenas

em um determinado aspecto da saúde. Ao contrário, em

seu processo de avaliação busca-se a inclusão de todos os

aspectos envolvidos e suas terapias restauradoras seguem

o mesmo princípio. Baseadas na concepção de que a

estabilidade do corpo está amalgamada às demais

dimensões do ser, tudo se interliga e tudo é motivo de

interesse para o médico integral, que procura, de maneira

inclusiva, a conexão entre as inúmeras perspectivas de

saúde e bem-estar existentes, permitindo a escolha de

uma delas. Essa ampliação de horizontes cria uma matriz

terapêutica ao mesmo tempo integrada e personalizada e

aproveita o processo de cura para o desenvolvimento de

recursos para a evolução, ou seja, para o crescimento

pessoal e ampliação de consciência.

Essa ampliação da consciência é possibilitada justamente

por meio da personalização das modalidades de cuidados

Page 35: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

35

de saúde, intervenções e práticas, baseadas nas

necessidades individuais de cada paciente. O médico

americano David Tusek, em seu artigo publicado em 2009,

no blog de Ken Wilber, argumenta que, em linhas gerais,

o médico integral tenta responder à questão de como o

nível de consciência afeta o modo pelo qual o paciente

responde a uma determinada doença e busca, a partir

dessa constatação, otimizar a terapia e a cura. Tusek ainda

explica que, nesse contexto, alguns conceitos

intrinsecamente ligados ao processo precisam ser

compreendidos: de um lado a diferença entre saúde e

cura e, de outro, entre doença aguda e crônica.

a) Saúde e cura

A saúde é um estado de estabilidade relativa da simetria e

equilíbrio mente e corpo. No estado saudável, o

organismo desfruta de um equilíbrio adequado ao estágio

de desenvolvimento específico do indivíduo, dentro e

entre todas as dimensões do humano (subjetivas,

objetivas, individuais e coletivas).

A cura, por sua vez, implica necessariamente em

mudança, muitas vezes radical. Quando o organismo

adoece, ele é desafiado a se transformar: quando há um

ferimento na pele, por exemplo, as suas camadas se

reorganizam para transformar a ferida em cicatriz. Nesse

processo de cura estão envolvidas todas as dimensões

humanas, e ele pode ser rápido, indolor e completo ou

então ser marcado por dor, infecção ou deiscência e,

independente do resultado obtido, aquela área nunca

mais será a mesma. Ou seja, a mudança definitiva do

tecido está relacionada não apenas com a gravidade do

dano inicial, como também com as dimensões durante o

processo de cicatrização. Em alguns casos, o resultado do

processo de cura é o fortalecimento do organismo, isto é,

ele se torna melhor adaptado, como quando desenvolve

anticorpos contra um vírus. Em outros casos, o processo

pode ser pobre, interrompido ou marcado por

complicações, levando inclusive à morte.

De toda forma, o processo de cura envolve mudança, por

isso a doença pode ser considerada um ponto de

alavancagem para a transformação, ou seja, a cura é um

processo evolutivo, mais do que um retorno à

homeostase. A missão da MedIntegral é aproveitar este

potencial transformador intrínseco à doença e promover a

evolução do organismo em todas as dimensões.

Vejamos dois exemplos. No primeiro caso abordaremos os

aspectos individuais. No segundo, serão enfocados os

aspectos coletivos.

Page 36: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

36

No primeiro caso, podemos citar um processo verificado

ao longo da cura de um trauma ortopédico. No que se

refere ao aspecto emocional, o organismo pode alcançar

maior resiliência, enquanto que no plano espiritual esse

resultado pode se traduzir como uma experiência de

sensação de paz. O que queremos dizer aqui é que o

desenvolvimento da resiliência e da paz podem ser

concomitantes à reabilitação física na fisioterapia, ou seja,

existe uma simultaneidade no processo. A mudança não

acontece somente no aspecto físico, ela é acompanhada

de mudanças em todos os quadrantes, simultaneamente.

Foi o que aconteceu com um paciente meu, um jovem de

24 anos com uma lesão na vértebra cervical causada por

uma doença infecciosa, a tuberculose. A doença o levou a

paraplegia no aspecto físico, ao apavoramento emocional,

quase uma depressão, ao isolamento social, a vários

julgamentos culturais em relação à doença, e tudo isso

provocou ainda o desespero da família.

Durante o processo de cura, além dos medicamentos e

fisioterapia, fiz um vínculo familiar profundo. Passava

horas conversando com ele e a família, jogando, lendo e

estimulando-o a ver perspectivas diferentes daquela

situação. Todo o processo demorou cerca de três anos e

meio: seis meses de internação e três anos para a

recuperação quase total do andar. Junto à reabilitação,

este jovem desenvolveu maior resiliência, atingiu um nível

de compreensão da vida muito mais abrangente do que

experimentava anteriormente, passou a valorizar o seu

tempo sozinho, com amigos e com a família, além de

planejar a realização do seu sonho de morar fora e

concretizá-lo em um ano, com a assertividade que

“ganhou” no processo de cura.

Nos aspectos coletivos, podemos utilizar a visão das

pessoas que sofrem de uma determinada condição para

melhorar a salubridade dos ambientes, o acesso a vários

recursos salutares ou a melhoria das políticas de

assistência à saúde em geral. É o que acontece com a

dengue, por exemplo. Todos nós estamos desenvolvendo

uma cultura antidengue em nossas casas ao não deixar

água parada, enquanto todos os profissionais de saúde

(não só os infectologistas) estão sendo treinados para o

diagnóstico e o tratamento, além das condições de

atendimento em qualquer hospital que estão sendo

criadas atualmente. O mesmo aconteceu com a AIDS. Na

década de 90, só os hospitais de referência eram

equipados e possuíam profissionais treinados para cuidar

desses casos, e a mortalidade era enorme. Dez anos

depois, todos os hospitais tratam de AIDS e a mortalidade

Page 37: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

37

é muito baixa. Isso porque aprendemos coletivamente

com a epidemia e nos fortalecemos para preveni-la,

enfrentá-la e cuidá-la.

b) A diferença entre doença aguda e crônica e o impacto

do estilo de vida na saúde.

A doença aguda é um episódio pontual e, embora ela

aconteça em um contexto que pode ser modificado e

possua fatores que a favorecem, geralmente tem duração

definida. O objetivo do tratamento é a recuperação e o

retorno ao nível anterior de funcionamento do organismo,

por isso não tem uma conotação de cura profunda, ainda

que a recuperação envolva todas as dimensões.

Em contraste, a doença crônica tem um maior impacto

sobre a saúde e sua manifestação, desenvolvimento e

evolução estão fundamentalmente enraizadas no estilo de

vida do indivíduo que a manifesta. O estilo de vida envolve

aspectos emocionais, mentais, espirituais,

comportamentais, físicos, culturais, sociais e ambientais e

por isso pode ser definido como uma qualidade resultante

da interação e integração de todas essas dimensões. A

modificação do estilo de vida forma a base de qualquer

intervenção, tanto para prevenir quanto para tratar

doenças crônicas. Nessa perspectiva, os médicos deveriam

ser especialistas em lidar com esta questão. Contudo,

nada pode ser mais irreal. Infelizmente não estamos

preparados para lidar com essa situação.

Disso concluímosque a saúde possui claramente três

estados básicos: a ausência de doença, a doença aguda e a

doença crônica4. Esse princípio está completamente

incorporado no modelo da MedIntegral, que oferece

então tratamentos e práticas distintos para os diferentes

estados de saúde do indivíduo, inclusive para o estado de

ausência de doença, momento ideal para o trabalho de

prevenção e de promoção de saúde e atingir a

integralidade do bem estar (as doenças crônicas estão

intimamente ligadas ao estilo de vida).

Em linhas gerais, os tratamentos e práticas propostos pela

MedIntegral estão organizados três pilares de atuação, a

clínica médica integral, a promoção de bem estar e as

práticas de integração.

O modelo que sustenta a metodologia da medIntegral é o

AQAL5, da saúde - e que passamos a apresentar mais

detalhes para compreender a implementação do modelo

na vida real.

Page 38: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

38

AQAL DA SAÚDE

O modelo médico proposto pela Medicina Integral, em

que todos os aspectos envolvidos na investigação da

saúde estejam presentes, é denominado Mapa Integral ou

Sistema Operacional Integral (linhas, níveis, tipos, estados

e quadrantes). Tal designação é a denominação em

português do AQAL da saúde, que por sua vez indica a

abreviação de all quadrantes all levels, ou seja, todos os

quadrantes e todos os níveis.

Para uma idéia mais concreta do Mapa Integral, podemos

fazer uma analogia com uma máquina fotográfica. Em

uma máquina fotográfica existem várias maneiras de

flagrar o objeto, as lentes, os filtros, a velocidade, os

materiais da lente, a abertura da lente. Comparando o

modelo integral com cada um desses elementos, teríamos

as seguintes correspondências: as lentes, linhas de

desenvolvimento; os filtros, os estados de consciência; o

alcance das lentes, os níveis de consciência; os materiais,

os tipos e a abertura da lente como os quadrantes. Esses

são os aspectos fundamentais do Modelo Integral.

Por meio do Mapa Integral é possível observar o processo

de saúde e doença de pelo menos três ângulos diversos:

por meio de fatos concretos (como a fisiopatologia, a

etiologia, os tratamentos oferecidos e os exames); através

da percepção subjetiva do médico integral (como médica

e como pessoa); e ainda, por meio sob o ponto de vista do

próprio indivíduo que vive o evento. Um caminho

integralmente estruturado leva em consideração todas

essas dimensões.

OS ASPECTOS FUNDAMENTAIS DO MODELO

INTEGRAL

I. QUADRANTES - ASPECTOS FUNDAMENTAIS

APLICADOS À SAÚDE

Em seu livro “Integral Ecology”, Sean Esbjörn-Hargens

analisa a ecologia sob a ótica de quatro pilares,

demonstrando a interação entre eles e a importância de

colocá-los todos juntos para uma compreensão mais

ampla e integrada dos aspectos ecológicos. Propõe, assim,

uma visão mais sustentável acerca do tema Ecologia.

No que refere à medicina, os quadrantes possibilitam a

disposição das diversas perspectivas do processo da saúde

e da doença, assim como dos métodos terapêuticos de

diferentes práticas médicas em uma única tabela,

valorizando assim todos os aspectos envolvidos.

Os quatro quadrantes da saúde

Page 39: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

39

Aplicado à saúde, esse gráfico apresenta as seguintes

modalidades de observação da realidade: objetiva

individual ou biocomportamental (corpo físico, e

comportamento); objetiva coletiva ou socioambiental

(meio ambiente, sistema político, econômico, social);

subjetiva individual ou psicoespiritual (psique, valores e

espiritualidade); e subjetiva coletiva ou interpessoal

(cultura, relações afetivas e família).

Uma abordagem eficaz em relação às reordenações do

estilo de vida, por exemplo, deve forçosamente incorporar

uma perspectiva de âmbito multi e transdisciplinar, uma

vez que o estilo de vida, por si só, já é uma das funções

das dimensões humanas.

Por individualizar e ao mesmo tempo contextualizar todas

as realidades e perspectivas de uma dada situação em um

único mapa, os quadrantes se mostram eficazes e

abrangentes. O mapa por meio deles obtido mantém a

visão do todo sem perder de vista a parte; por outro lado,

ao ver a parte, não deixa de considerar o todo. Essa

plasticidade confere aos quatro quadrantes uma grande

flexibilidade, o que facilita a sua aplicação em diversas

ciências como uma ferramenta de integração.

Os quadrantes derivam do cruzamento de dois eixos, um

vertical (que caracteriza o dominio interior e exteriror), e

um horizontal (que determina os domínios individual e

coletivo), dos quais obtemos: Figura 1

Figura 1 – Os quadrantes

Com os dados dos quatro quadrantes nas mãos, a

MedIntegral desenha a Matrix Integral Personalizada, um

Page 40: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

40

mapa que permitirá o planejamento de ações visando a

melhoria da saúde e da qualidade de vida. Para tanto, é

preciso compreender os seguintes conceitos:

PERCEPÇÃO

Este é o domínio da subjetividade. Abrange todos os níveis

de percepção e entendimento do mundo, inclusive da

saúde; aquilo que ocorre no mundo interior e não pode

ser conhecido por outra pessoa (a menos que se

compartilhe); o que é particular e completamente íntimo.

Trata-se do conhecimento adquirido a partir da

experiência pessoal.

É o pilar que determina o modo como cada um pensa,

interpreta e dá significado à própria vida, a si mesmo e ao

mundo. Berço dos conceitos e valores pessoais, dentre

eles bem estar e plenitude.

MANIFESTAÇÃO INDIVIDUAL

Este campo diz respeito ao mundo objetivo individual,

aquilo que ainda é particular, mas pode ser visto por

outros. Equivale ao terreno do comportamento, da

anatomia e da fisiologia. É o conhecimento construído

pela observação.

Este domínio é o que estabelece como se comportar e agir

no mundo, ou seja, o estilo de vida e a expressão criativa.

CULTURA

A cultura refere-se à realidade intersubjetiva em todos os

níveis da comunhão: os valores e sentidos compartilhados.

Aqui o conhecimento obtido a partir da experiência

coletiva.

Este domínio estabelece a visão social de mundo, por

exemplo, o que a família ou comunidade entende por bem

estar e saúde. Neste caso, a concepção sobre as coisas e

sobre o mundo pode ser diferente da visão pessoal de

cada indivíduo acerca dos mesmos aspectos.

SISTEMAS

Os sistemas equivalem às intersecções e desenham uma

rede de conexões e processos. São as organizações nas

quais o indivíduo está inserido, tais quais o regime político

e econômico, o sistema de transporte e também o

ecossistema. No nosso caso, diz respeito ao conhecimento

conseguido a partir da análise dos sistemas.

Page 41: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

41

Os sistemas determinam as atitudes e comportamentos

coletivos, desde o padrão genético até os padrões de

comportamentos familiares.

II. LINHAS DE DESENVOLVIMENTO

Howard Gardner, professor de Cognição e Educação na

Escola de Educação na Universidade de Harvard e autor de

mais de vinte livros, desenvolveu a Teoria de múltiplas

inteligências. Segundo ele, os seres humanos possuem

uma variedade de inteligências (como a matemática-

lógica, a espacial, a interpessoal, musical e cinestésica).

Entretanto existem várias outras “inteligências”. No

modelo integral tais faculdades são denominadas linhas

de desenvolvimento, equivalem às capacidades humanas

passíveis de serem desenvolvidas.

Na área da saúde, o médico Elliot Dacher6 adaptou os

quatro quadrantes e as linhas de desenvolvimento

propostos por Wilber em uma ferramenta clínica. Para

tanto, Dacher acomodou três linhas de desenvolvimento

em cada um dos quadrantes – obtendo portanto doze

linhas – destacando que as mesmas não são exclusivas,

mas representativa, além de poderem ser concomitante

Como se observa, muitas são as linhas de

desenvolvimento passíveis de serem abordadas na saúde.

Entretanto, os estudos são escassos e,

conseqüentemente, ainda não existe uma sistematização

dos diferentes unidades de avaliação. O Dr. Elliot Dacher

propõe algumas linhas em seu livro “Saúde Integral”, mas

não há um consenso, entre os estudiosos da área, sobre

suas disposições. Joel Kreisberg, médico americano,

professor do curso de Medicina Corpo e Mente, da

Universidade de Berkley na Califórnia, em artigo7

publicado no livro Integral Education em 2010, afirma

utilizar o modelo de Darcher em suas aulas, acrescentando

que a avaliação proposta pelo médico tem contribuído

muito para o aprendizado e desenvolvimento de seus

estudantes.

As doze linhas da Saude Integral propostas por Dacher

estão distribuídas em quatro quadrantes, dois superiores,

dois inferiores: QSE - cognitiva, emocional e conotativa;

QSD - exercícios, nutricional e autorregulação; QIE -

pessoal, familiar e comunidade; QID - trabalho, ativismo

social e produtividade .

A MedIntegral também se faz uso, em sua avaliação de

saúde, da composição de várias linhas de

desenvolvimento (lembrando que elas são representativas

Page 42: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

42

e não exclusivas). Essas são definidas a partir de um

minucioso estudo da saúde individual e coletiva.

Atualmente, o mapa da MedIntegral reúne dezoito linhas,

também dispostas nos quadrantes, como mostra a figura

2.

FIGURA 2 – As linhas de desenvolvimento da medIntegral

nos quadrantes.

III. NÍVEIS OU ESTÁGIOS DE CONSCIÊNCIA NAS

LINHAS DE DESENVOLVIMENTO

Os níveis ou estágios de consciência referem-se à condição

de organização e complexidade. Um exemplo de estágios

de desenvolvimento pode ser verificado na sequência

átomos, moléculas, células, organismos. Cada estágio

dessa evolução envolve um nível maior de complexidade e

organização.

O modelo integral compreende diferentes níveis nas linhas

de desenvolvimento. Todavia, quando aplicado à saúde,

ainda não temos estudos suficientes para determinar os

níveis em cada uma das linhas. Esta é uma das propostas

do Índice de bem estar Integral, estudar o

desenvolvimento das linhas da saúde.

No Indice de Bem-Estar Integral, cada linha apresenta uma

graduação que varia de um a cinco, do mais primitivo ao

melhor estágio de saúde possível, respectivamente.

Ressaltamos que essa nomenclatura numérica não tem a

intenção de estabelecer os níveis de desenvolvimento da

linha, mas antes compilar dados para uma possível

formalização dos níveis de saúde em uma espiral

dinâmica, ou seja, o intuito é de avaliarmos a amplitude e

o desenvolvimento do indivíduo em uma dada linha.

BIOCOMPORTAMENTAL

Page 43: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

43

IV. ESTADO DE CONSCIÊNCIA E SAÚDE

Na medicina convencional temos alguns métodos para a

avaliação do estado de consciência que determinam se o

indivíduo está alerta, e portanto consciente, ou

inconsciente o que pode significar desde um coma até que

o indivíduo está dormindo ou sedado.

No entanto, essa avaliação médica leva em conta a

consciência como um estado de alerta e não a consciência

como uma forma de compreender e atuar no mundo

como no olhar do Modelo integral que entende que

existem três estados básicos de consciência: alerta,

dormindo ou sonhando. No estado de alerta podemos ter

estados alterados de consciência, como acontece com o

uso de drogas.

Platão afirmou que todo mundo se torna poeta ao ser

tocado pelo amor. O Modelo Integral percebe estados

alterados de consciência como algo próximo do que

chamamos, popularmente, de “estado de espírito”, como

afirmou Platão: “todo mundo se torna poeta ao ser tocado

pelo amor”. Quem de nós não viveu o mundo cor-de-rosa

quando alimentados pela paixão e em outros momentos a

escuridão do medo e da solidão quando rejeitados?

Grosseiramente esses seriam exemplos de estados de

consciência.

Quando falamos em “estado de saúde”, queremos

descrever a situação de saúde geral de um dado indivíduo.

A MedIntegral trabalha com cinco estados de saúde:

Doença crônica

Doença aguda

Ausência de doença

Bem estar

Felicidade autêntica ou plenitude

V. TIPOS DE PERSONALIDADES - DIFERENTES

REAÇÕES E MANIFESTAÇÕES DE DOENÇAS

É consensual, dentro da comunidade médica, a concepção

de que “cada paciente é um paciente”. Isso significa que

cada paciente apresenta um determinado quadro clínico,

experimenta uma dada reação medicamentosa, possui

uma vida particular, assim como sua autopercepção. Um

Page 44: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

44

dos fatores envolvidos na promoção dessa diversidade é o

tipo de personalidade do paciente.

O primeiro a trabalhar com a tipologia envolvendo a

personalidade foi Hipócrates, considerado o pai da

medicina. Esse grande pesquisador, no intuito de melhor

compreender o funcionamento do corpo humano, levou

em consideração a própria personalidade do homem e

criou a célebre doutrina dos quatro humores, fleumático,

melancólico, sanguíneo e colérico. Ele relaciona os quatro

temperamentos a determinadas reações e dieta.

Porém, antes de Hipócrates, na Índia, a medicina

ayurvédica já havia proposto cinco elementos que formam

toda a manifestação material do universo, éter, ar, fogo,

água e terra. Segundo essa tradição, os seres humanos são

influenciados por esses cinco elementos através do dosha,

que nada mais é do que a caracterização do perfil

biológico do indivíduo. Os doshas são vata, regido por ar e

éter, pitta, regido por fogo e água, e kapha, regido por

terra e água. Todas as pessoas possuem os três doshas,

mas em diferentes proporções.

Modernamente, nos fins dos anos cinqüenta, os

cardiologistas americanos Rosenman e Friedman

descreveram um comportamento ao qual denominaram

“personalidade tipo A”. Os indivíduos assim caracterizados

são agressivos, competitivos, impacientes e explosivos,

personalidade essa que constitui fator de risco das

cardiopatias isquêmicas. As pessoas assim caracterizadas

apresentam dois e meio por cento a mais de

probabilidades de apresentar angina e infarto do

miocárdio.

Já a psiconeurociência (área que surgiu como um espaço

transdiciplinar de estudo das relações entre a mente e o

cérebro e entre as neuro e as psicociências), comparando

o comportamento otimista e o pessimista, afirma que

pessoas otimistas apresentam menor risco de

desenvolvimento de cânceres e doenças mentais, sistema

imunológico mais saudável, recuperam-se mais

rapidamente de episódios agudos de doenças e também

enfrentam melhor doenças crônicas, apresentando menos

sintomas e crises.

Como vemos a tipologia exerce um rol pertinente no

processo de saúde e bem estar. A medicina Integral, ao

levar em conta as personalidades pode utilizar

comunicação e ferramentas adequadas a cada tipologia

aumentando significativamente os caminhos para alcançar

melhores resultados e maiores benefícios.

Page 45: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

45

DIAGNÓSTICO

O diagnóstico é um conjunto de métodos que permitem

ao médico determinar a natureza e as causas de uma

doença, com base nos sinais, nos sintomas e nas

investigações laboratoriais do paciente. Na MedIntegral, o

diagnóstico é realizado por meio de uma metodologia que

envolve avaliações objetivas e subjetivas, conforme a

figura 3 abaixo.

Figura 3 – As dimensões objetiva e subjetiva avaliadas pela

medIntegral.

Nas figuras que seguem, vejamos os desdobramentos dos

aspectos acima contemplados no processo de diagnóstico

da medIntegral.

FIGURA 4 – Matriz Integral do Bem-Estar

Na figura 4, observamos alguns dos fatores envolvidos na

construção do diaganóstico Integral do Indivíduo, a

construção da Matriz Integral do Bem-estar Atual.

Page 46: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

46

FIGURA 5 – Construção da Matriz Terapêutica Integral

Na figura 5, observamos algumas das investigações

pessoal realizadas para a construção da Matriz Integral de

Tratamento do indivíduo.

Ao utilizar esse mapa como uma Matriz Integral do Bem-

Estar, o médico pode construir o perfil integral do

paciente de uma maneira rápida e abrangente, interpretá-

lo no contexto do estado de saúde atual, compreender o

seu nível de entendimento, assim como suas crenças e sua

intenção. A partir dessas constatações, poderá orientar

esse indivíduo dentro de suas possibilidades de

compreensão, entendimento e cura. Com isso, o médico

terá maiores condições de transmitir as informações de

modo eficiente, além de utilizar os recursos de forma mais

eficaz.

Além disso, a MedIntegral desenvolveu um sistema de

indicadores para avaliação de saúde. Os indicadores são

reunidos em um quadro avaliativo moldável, o que

propicia que os índices sejam construídos, por exemplo,

conforme a população a ser avaliada, o que se quer avaliar

e quais os parâmetros utilizados para isso. Trata-se de um

framework integral que funciona em três níveis, as linhas

de desenvolvimento, os quadrantes e os aspectos.

Por sua importância e complexidade, os índices serão

apresentados em um capítulo próprio.

Page 47: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

47

MÉDICO INTEGRAL

I. A PRÁTICA DO MÉDICO INTEGRAL

O trabalho do médico integral começa pela compreensão

abrangente dos aspectos referentes ao ser humano, assim

como das mais variadas conquistas médicas. O leitor

poderá questionar se o médico focado no modelo da

MedIntegral possui habilidades para tais procedimentos.

De fato, ainda não existe formação em MedIntegral, pois

ela não é uma especialidade, mas antes um modo de

pensar o paciente, a si mesmo e o mundo. É um

paradigma. Para se ter essa abordagem é preciso em

primeiro lugar pensar de forma integral e, para isso,

estudar a Teoria Integral é fundamental. Essa formação,

atualmente, está disponível na Universidade JFK nos

Estados Unidos, como um mestrado. Depois disso alguns

caminhos são possíveis, como estudar medicinas

complementares, assim como psicologia. Porém, ainda

não existe nenhum curso regular. O pensamento integral é

absolutamente novo, foi concebido no final do século

passado, é uma criança. Mas algumas iniciativas estão

ocorrendo, aqui no Brasil, por exemplo, a MedIntegral

promove um treinamento para médicos e profissionais de

saúde se tornarem integralmente informados na saúde e

bem-estar.

Outra prática fundamental do médico integral é o

desenvolvimento de sua própria consciência, a aquisição

de diferentes perspectivas e a sua inclusão como fator não

menos importante que os medicamentos e praticas para a

cura do indivíduo. A relação entre o médico e o paciente é

construída sobre as bases de confiança mutua,

vulnerabilidade mutua, igualdade e transparência, o que

permite um acoplamento terapêutico, um sistema que se

cria em conjunto com feedbacks e percepções de ambos a

cerca do processo.

II. A RELAÇÃO ENTRE O MÉDICO INTEGRAL E O

“PACIENTE”

No que se refere ao indivíduo, o médico integral busca

compreendê-lo como um todo; concebe seu trabalho não

somente como meio de cura para uma doença específica e

pontual, mas também como suporte para que o indivíduo

alcance a capacidade de compreender e perceber a si

próprio, mantendo-se atento à dinâmica do seu corpo, às

interferências externas (poluição, clima, meio profissional,

alimentação, horários, funcionamento do intestino,

intensidade da fome, qualidade do sono etc.), bem como

as internas (sensações de alegria, tristeza, bem-estar,

recorrência de incômodos, relacionamentos afetivos,

pensamentos recorrentes, crenças, valores etc.).

Page 48: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

48

Entendemos que saber compreender e reconhecer a si

próprio, criando uma espécie de diapasão, ou seja, um

nível, um padrão comparativo introspectivo como medida

de autoavaliação e a atenção no momento presente é o

método mais viável para a manutenção de uma vida com

qualidade.

A relação aqui tem tanta importância quanto os

medicamentos ou praticas, pois entendemos que ela é um

dos fatores do processo de “cura” desenvolvimento

mutuo.

A CULTURA MÉDICA: CLÍNIA E PROMOÇÃO DE

SAÚDE

Pelo ângulo clínico, trata-se de uma abordagem

absolutamente inclusiva, que permite a coexistência de

todas as práticas médicas, sejam elas advindas da

medicina tradicional ou das medicinas complementares.

Aliás, vale ressaltar que várias medicinas complementares

têm comprovação científica - acupuntura, homeopatia,

antroposofia, medicina ayurvédica e ortomolecular.

Muitas escolas médicas hoje apresentam em sua grade

curricular a homeopatia e a acupuntura. Práticas como

reiki e a meditação, por exemplo, são modalidades

oferecidas no Hospital Albert Einstein atualmente.

Nesse sentido, queremos mostrar que a MedIntegral

possui um espectro abrangente, ela promove um conjunto

de tratamentos e práticas que visam à restauração da

saúde de forma rápida e eficiente com intervenções mais

integradas e menos invasivas possíveis; não tem a

intenção de descartar a medicina convencional, isto é, não

descarta cirurgias, antibióticos, anti-depressivos ou

qualquer tipo de tratamento prescrito por ela,

simplesmente entende que eles podem ser

complementados e ampliados em seu poder de cura (vista

aqui como evolução) com outros tratamentos.

Outro diferencial da MedIntegral é que seu foco não está

apenas no processo de cura, mas também na promoção

de saúde e bem-estar, uma vez que as doenças crônicas

são, em sua maioria, resultantes de estilos de vida

insalubres.

Quando falamos em promoção de saúde, encontramos

diversas ideias espalhadas nas diversas práticas que, de

alguma maneira, almejam um estilo de vida salutar. Na

MedIntegral, reunimos essas ideias em dois grandes

Page 49: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

49

grupos de atuação, o comportamento individual e a

própria compreensão da noção de saúde.

No que se refere ao comportamento, a promoção da

saúde consiste em atividades dirigidas a cada indivíduo,

cuja finalidade reside na transformação do seu

comportamento. Aqui, o foco recai sobre o estilo de vida e

a relação com os espaços nos quais esse indivíduo transita,

desde a família até o ambiente das culturas da

comunidade em que se encontra. Nesse caso, os

programas ou atividades de promoção da saúde tendem a

concentrar-se em componentes educativos,

primariamente relacionados com os comportamentos

passíveis de mudanças, que estariam, pelo menos em

parte, sob o controle dos próprios indivíduos.

Em relação à compreensão do significado de saúde,

compartilhamos com a OMS a noção de que esta é

produto de um amplo espectro de fatores relacionados

com a qualidade de vida: padrões adequados de

alimentação, nutrição, habitação e saneamento; boas

condições de trabalho; oportunidades de educação ao

longo de toda a vida; apoio social para famílias e

indivíduos; ambiente físico limpo e estilo de vida

responsável.

A orientação individual

A partir da obtenção e compreensão das informações

acerca de cada indivíduo, assim como sua própria

compreensão (consciência), vontade e recursos, sejam

eles de tempo, emocionais ou financeiros, o médico

integral buscará, em seu escopo, relacionar o que

observou em seu paciente com as diversas possibilidades

oferecidas pelas medicinas e terapias complementares.

TRATAMENTOS E PRÁTICAS

Como fazemos isso?

Em linhas gerais, podemos dizer que o processo acima

apresentado se dá em duas etapas, quais sejam:

A) Avaliação global do paciente. Avaliação através de

anamnese médica e aplicação de questionários para

designar o índice de bem-estar atual e a construção da

Matriz Integral do Bem Estar Atual (MIBEA).

Preparação para a mudança . Construção da Matriz

Terapêutica Integral – clínica integral para o estado de

saúde e coaching – no intuito de melhorar e alterar o

estilo de vida por meio do desenvolvimento de práticas

Page 50: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

50

personalizadas que contemplam todas as dimensões do

bem-estar, as práticas de integração. Um projeto de

qualidade de vida que é moldado e renovado no decorrer

da vida do indivíduo. Basicamente, a Matriz Terapêutica

Integral é a dimensão experimental do modelo integral,

aplicada ao tratamento e às práticas. Ela é obtida por meio

da combinação cruzada de vários métodos de tratamento

e desenvolvimento pessoal que se mostraram eficientes.

Assim, se tomarmos a saúde física, mental e espiritual e

combiná-las com as terapias tradicionais, a moderna e a

pós-moderna, obteremos nove possíveis formas de

tratamento e desenvolvimento que incluem atividades

meditativas e contemplativa, prática do campo

bioeletromagnético, aquisição de novas perspectivas,

prática corporal e prática emocional.

Os possíveis recursos a serem utilizados:

1. Medicamentos

2. Exercício físico regular (todos os três tipos: força,

cardio, e alongamento)

3. Rejuvenescimento - sono reparador

4. Alimentação ideal para o situação específica

Abordagem formal para a redução do stress e

relaxamento

Acupuntura

5. Práticas de Integração - um crosstraining para o cropo,

a mente e o espírito.

a. Programas de promoção de bem estar

b. Atividades culturais

c. Oficinas

PRÁTICAS DE INTEGRAÇÃO – O CROSSTRAINING

PARA O CORPO, A MENTE E O ESPÍRITO.

I. PRÁTICA DO CAMPO BIOELETROMAGNETICO

Muitas práticas complementares são baseadas no

vitalismo, a noção de que o organismo possui uma

qualidade, o élan vital, que lhe confere a capacidade de

ser vivo. A crença na existência dessa força é milenar. Os

hindus chamam-na de prana, os chineses de qi ou chi e é

Page 51: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

51

possível encontramos mais de 96 termos que designam

algo parecido nas mais diversas culturas.

Segundo a descrição dos chineses, chi é uma energia

eletromagnética sutil que permeia tudo que conhecemos

e carrega a informação de e por onde passa. O chi fluindo

em seu corpo carregará os seus pensamentos, emoções e

sentimentos, mas também outras energias ao seu redor. É

como se fosse um campo eletromagnético.

A ciência também se refere a tal força vital como campo

bioenergético ou bioletromagnético. Numerosas pesquisas

têm sido realizadas na direção de se esclarecer esse

fenômeno. São muitas as suas aplicações e teorias, no

entanto, ainda há muito que se pesquisar.

O biofisíco James L. Oschman defende que a atividade

bioquímica do corpo resulta em uma campo

bioeletromagnético que é responsável pela comunicação

dos tecidos do organismo e pelo controle da reposição

tecidual.

“O tecido conectivo é um tecido contínuo que se estende

por todo o corpo do animal e consiste em uma estrutura

insolúvel de fibras de colágeno embebidas em uma

substância parecida com o gel e ordenadas como um

cristal. Como qualquer outro cristal ele gera um campo

eletromagnético quando se contrai ou alonga, portanto

todo e qualquer movimento do corpo gera um campo

eletromagnético que se transmite para os tecidos

subjacentes, uma vez que o colágeno é bom condutor. Isso

permite que todas as partes do organismo se comuniquem

entre si. ” 8

Ele coloca ainda: “A estrutura do corpo adulto não é

permanente e nem estática, está em constante mudança,

os tecidos estão regularmente sendo repostos. O campo

eletromagnético pode ser o regulador dessa tarefa.”

Os fisiologistas, ao discutirem o tema, dão muita ênfase ao

sistema nervoso. No entanto, muitas outras formas de

comunicação acontecem no organismo. A farmacologista

Candance Pert em seu livro “Molecules of Emotion”

argumenta que as emoções são neuropeptídeos que ao

carregam aquela determinada informação, a pesquisadora

também advoga que os receptores são dinâmicos e

podem modificar a sua forma para se ligar ao receptor.

Outro meio de comunicação é o campo

bioeletromagnético, nas palavras de James L. Oschamn :

Page 52: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

52

A comunicação bioeletromagnetica está envolvida na

formação de partes do corpo, pequenas e grandes, da

integração de estruturas, da interação

receptor/homônios, do reconhecimento celular para que

possam se juntar para formar tecidos e para a

manutenção e regulação da forma corporal. A

comunicação também está envolvida no processo de cura

como regeneração, reparação tecidual e ativação do

sistema imunológico.” 7

Biologistas celulares têm descoberto que toda a célula

contém um citoesqueleto que é conectado através da

superfície celular com o tecido conectivo extracelular. Esta

evidencia nos permite visualizar uma estrutura contínua

que se estende por todo o corpo. James L. Oschman se

refere a isso como “tecido conectivo citoesquelético."

Muitos cientistas começam a reconhecer a ideia da

existência de um sistema global, conexões e interações

composto pelo tecido conectivo do músculo esquelético,

citoesquelético e genético. Ao contrário do que se supõe

hoje, de que sejam sistemas isolados e estruturas únicas.

A abordagem global, funcional e contínua é referida como

a matriz viva que, conforme mostram as investigações, é

uma fábrica contínua que produz toda e qualquer parte do

organismo, define a forma e função de cada célula, tecido,

órgão e do corpo como um todo.

Mas não é somente no organismo que o campo

eletromagnético tem sido estudado. O fisiologista inglês

Ruppert Sheldarke criou a “Teoria dos Campos

Morfogenéticos”. Segundo ele, tais corpos são estruturas

invisíveis que se estendem no espaço, no tempo e moldam

forma e comportamento de todos os sistemas do mundo

material. Todo átomo, molécula, célula ou organismo que

existe geram um campo organizador invisível que afeta

todas as unidades desse tipo, e ainda não detectável

pelos instrumentos de que dispomos.

Existem várias pesquisas atuais em um campo

absolutamente novo, a medicina energética, que inclui

terapias (como o reiki, bodytalk, rolfing) e até a terapias

tradicionais, como acupuntura, tai chi chuan e artes

marciais. Tais investigações tentam, através do estudo dos

campos bioeletromagnético e da teoria quântica, explicar

o funcionamento dessas terapias. No entanto, esse ainda

é um campo a ser estudado mais profundamente.

Já o cientista brasileiro, Miguel Nicholelis, que trabalha no

Departamento de Neurociência da “Universidade de

Duke” nos Estados Unidos, vem utilizando a tecnologia

Page 53: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

53

para ler o campo eletromagnético do cérebro no intuito

de gerar movimentos motores fora do corpo físico.

Como vimos, vasto é o caminho para o domínio do

conhecimento sobre os campos bioeletromagnéticos. Suas

aplicações também têm possibilidades diversas: desde

terapias energéticas ao desenvolvimento de avatares.

Baseada nestas constatações, a MedIntegral criou as

práticas do campo bioeletromagnético, que é a integração

de diversos métodos milenares (como o tai chi e o katta)

com a psicologia moderna, com a bioenergética e a

dinâmica energética do psiquismo. Essas práticas

promovem o bem-estar através da harmonização do

sistema global como ativação do sistema linfático, mais

vitalidade e disposição, maior consicência corporal e

capacidade de concentração.

II. PRÁTICA CORPORAL

Da mesma forma com o que ocorre com a

bioeletromagnética, também existem várias escolas que

utilizam o trabalho corporal para a saúde. Desde a

medicina moderna convencional até os métodos

tradicionais têm como princípio que a atividade física

regular é imprescindível para a manutenção da saúde

cardiovascular e o controle do estresse. A yoga, prática

milenar, se difundiu pelo ocidente por ser uma prática que

combina saúde física com mental.

Um estudo publicado no “Journal of Research in Indian

Medicine” constatou que a prática diária dos asanas

(posturas yogues), durante seis meses, levava à

diminuição do ritmo cardíaco, à queda de pressão arterial,

à perda de peso, a uma taxa inferior de respiração, com o

aumento da capacidade pulmonar e da expansão torácica,

e ao declínio da incidência de ansiedade. Um estudo

subsequente descobriu que a prática regular do yoga

levava à redução do estresse fisiológico, a taxas mais

baixas de colesterol, ao equilíbrio do nível de açúcar no

sangue, ao aumento das ondas cerebrais alfa (associadas

ao relaxamento) e à diminuição geral dos problemas

físicos. Os benefícios incluem o aumento do sentimento

de calma, relaxamento e alegria, melhora nas relações

interpessoais e o aumento da capacidade de

concentração.

Em outra experiência, o Dr. V. H. Dhanaraj, da “University

of Alberta”, no Canadá, comparou um grupo de pessoas

que se dedicou à prática do yoga durante seis semanas

com o outro que fez exercícios convencionais no mesmo

Page 54: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

54

período. Ele constatou que os que praticaram o yoga

apresentavam uma melhora bem mais significativa no

metabolismo celular, no consumo de oxigênio, na

capacidade pulmonar, na eficiência cardíaca, na função

tireóidea, na contagem de hemoglobina e glóbulos

vermelhos e na estabilidade geral.

A pesquisa do efeito da yoga em sobreviventes de câncer

de mama demonstrou que essa prática promoveu

melhoras significativas na fadiga persistente dessas

sobreviventes.9

A pesquisadora Elisa Harumi Kozasa da UNIFESP, em São

Paulo, publicou em 2010 na “Revista Brasileira de

Psiquiatria” que houve melhora do sono em pacientes

com insônia após tratamentos da mente e do corpo como

yoga, relaxamento e tai chi.10

A integração destes métodos no crosstrainer das práticas

de integração traz benefícios tanto para o corpo físico,

como para o controle do estresse, além de ampliar a

vitalidade e a consciência.

III. PRÁTICAS MEDITATIVAS

A palavra meditação vem do latim, meditare, que significa

voltar-se para o centro, no sentido de desligar-se do

mundo exterior e voltar a atenção para dentro de si.

A meditação costuma ser definida das seguintes maneiras:

um estado que é vivenciado quando a mente se torna

vazia e sem pensamentos; prática de focar a mente em um

único objeto (por exemplo: em uma estátua religiosa, na

própria respiração, em um mantra); uma abertura mental

para o divino, invocando a orientação de um poder mais

alto;análise racional de ensinamentos religiosos (como a

impermanência, para os Budistas)

O maior objetivo da meditação é o encontro com aquilo

que é permanente, com o Absoluto. Ken Wilber em seu

talk “Potenciais e ciladas no caminho espirittual” para o

curso virtual do Craig Hamilton Integral Enlightenment -

Acordando para uma relação evolutiva com a vida, disse

que meditação é o caminho para encontrar Deus e

reconhecer o espirito. Qualquer forma de meditação tem

o objetivo de acordar o meditador para a realidade Última

daquilo que é Permanente.

Page 55: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

55

Basicamente a meditação permite relaxar o autocontração

e expandir no vasto Universo a percepção de um eu

separado, trazendo a pura consciência como o

Permanente, aquilo que é não dual. Nesse estado você

não vê a montanha você é a montanha. Você se torna um

com o Espírito, transcendendo a dualidade do objeto e

subjeto.

A meditação é o processo de desidentificação com os

subjetos, isto é quando me torno consciente do subjeto

ele passa a ser objeto da minha consciência. Por exemplo,

quando me torno consciente de minha mente, posso

observá-la com minha consciência e passo a dizer que

tenho uma mente, mas não sou minha mente. u tenho

pensamentos mas não sou meus pensamentos. Portanto,

uma compreensão típica da meditação é: eu tenho

sentimentos mas não sou meus sentimentos. Tenho

sensações, mas não sou essas sensações, sou centro de

pura consciência.

Essa experiência pode ser interpretada a partir de

diferentes perspectivas denominadas primeira, segunda

ou terceira pessoa. de tal forma que ao dizer que

experiência a Realidade Permanente é possível falar sobre,

com ou como isso. Falar sobre é a perspectiva de terceira

pessoa, com é a segunda pessoa e falar como é a terceira

pessoa. Ao falar sobre isso, o Permanente pode ser

descrito como a grande teia da vida, enquanto na segunda

pessoa o discurso será sobre a relação com essa Realidade

Última e finalmente ao calçar os sapatos da primeira

pessoa a expressão será como o Permanente. Jesus, por

exemplo, falou das três perspectivas: Ele falou de Deus,

falou com Deus e falou como Deus.

Cada uma dessas perspectivas é uma experiência

profundamente distinta que se manifesta em diferentes

modos de meditação: na primeira pessoa, o formato é o

clássico sentar e concentrar sua mente, quando na

segunda pessoa a forma é a prece, por exemplo. Já na

terceira pessoa, é a contemplação. As práticas

meditativas das práticas de integração incluem todas elas.

Na meditação, experiência de primeira pessoa do mistério,

é nova na academia e tem ganhado espaço como método

de relaxamento, redução de estresse e de promoção de

bem-estar. Existem diversas técnicas meditativas e um

interesse particular na mindifulness, que enfatiza a

instância observadora e não reativa do pensamento,

emoção e estado do corpo. Ela tem sido muito eficaz na

redução das taxas de depressão.

Page 56: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

56

Em 2007 a psiquiatra americana Lidia Zylowska realizou

um estudo piloto sobre 8 semanas do treinamento de

mindffulness com 24 adultos e 8 adolescentes com o

diagnóstico de ADHD nos critério IV DSM, no qual concluiu

que essa técnica é uma intervenção de sucesso para

adultos e adolescente com ADHD e pode melhorar o

comportamento e os comprometimentos

neurocognitivos.11

Durante a meditação, as ondas cerebrais de baixa

frequência (alfa, teta e delta), que estão relacionadas ao

estado de relaxamento, tomam conta do cérebro. Em

contrapartida, as ondas beta, de alta frequência - que são

relacionadas ao estado de vigília ou atividade normal -,

aparecem em menor quantidade. Com o cérebro tomado

por ondas de baixa frequência, o organismo todo

desacelera: diminuem a frequência cardíaca, a pressão

arterial e o ritmo respiratório.

MINDFULNESS

É uma técnica meditativa que tem como objetivo a

disciplina consciente da regulação intencional da atenção.

Um de seus componentes envolve a autorregulação da

atenção de forma a mantê-la na experiência imediata.

Consequentemente, permite o aumento do

reconhecimento dos eventos mentais no momento

presente. O segundo componente envolve a orientação

particular para a experiência no momento presente

caracterizada por curiosidade, abertura e aceitação.12

Jon Kabat-Zinn, professor emérito de medicina e diretor

fundador da Clinica de Redução de Estresse e Centro de

Mindfulness, na “Universidade de Medicina de

Massachusetts”, ensina mindfulness como uma técnica

para lidar com o estresse, a ansiedade, a dor e a doença.

Ele oferece a prática em seu programa de redução de

estresse em centros médicos, hospitais e organizações de

manutenção de saúde. Segundo ele, mindfulness é estar

totalmente atento na vida. Trata-se de perceber a beleza

vivida e especial de cada momento. Neste estado, “nos

sentimos mais vivos e imediatamente acessamos nossos

recursos internos para insigths, transformação e cura."

(Kabat-Zinn, 1998).

Existem muitas técnicas de meditação. No entanto, todas

elas compartilham o treino intencional de atenção e

concentração. As diferentes técnicas têm diferentes

objetos de atenção. Por exemplo, o foco na repetição

Page 57: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

57

silenciosa de um mantra, som, imagem, frases ou questão.

Na técnica mindfulness o individuo deliberadamente

mantém a sua atenção na respiração ao mesmo tempo

que cultiva a concentração. (Kabat-Zinn, Massion, Hebert,

& Rosenbaum, 1998).

A prática constante deste método desenvolve a

estabilidade, a paz interna e a não reatividade da mente.

Consequentemente, permite o enfrentamento e até a

inclusão de todos os aspectos da vida, independente da

dor, ansiedade, ou medo. A estabilidade e não

reatividade sustenta a habilidade de observar com

compaixão a si mesmo e aos outros.

A técnica encoraja, portanto, os participantes a

concentrarem-se em seus sentimentos, pensamentos e

experiências corporais, incluindo a dor, sem julgamentos

ou tentativas de evitá-la.

Em Dezembro de 2011, um estudo piloto randomizado

mostrou que o treinamento de mindfulness produziu

alívio significativo e duradouro para pacientes com o

diagnóstico de artrite reumatóide.

A Annual Rheumatic Disease publicou em Dezembro de

2011 um estudo que concluiu que o treinamento de

mindfulness reduz o estresse psicológico e a fadiga em

pacientes com doença reumática.13

Todos nós, em algum momento, naturalmente,

experimentamos a perspectiva de terceira pessoa da

meditação quando contemplamos a beleza da natureza: o

céu azul, o pôr do sol, a lua cheia, a imensidão do mar, o

desabrochar das flores, o desenvolvimento de um filho...

A palavra contemplação vem do latim e é a palavra grega

para teoria. Ambas referem-se a revelar e manifestar a

natureza da realidade. Para o teólogo cristão Josef Pieper

o primeiro elemento da contemplação é a percepção

silenciosa da realidade.

Inúmeros são os seus benefícios: redução do estresse,

desenvolvimento de resiliência, diminuição da reatividade,

melhora da dor e maior capacidade de lidar com os

desafios, para citar alguns.

Muitos de nós temos o hábito de nos relacionar com o

Divino através de preces e orações, ou seja a partir da

conversa. Esse hábito precisa ser estudado pela academia

que está voltada sobretudo, para a perspectiva de

primeira pessoa da meditaçnao. No entanto, no Brasil, a

Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São

Page 58: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

58

paulo, tem estudado o impacto da religião nas doenças

psiquiátricas e encontrar evidências de que a

religiosidade, na qual a prece é um dos rituais, melhora a

qualidade de vida dos doentes.

Os Pilares da MedIntegral

O processo de construção da aplicação da Matriz

Terapêutica Integral está a serviço tanto da solução clínica

quanto da promoção de saúde. Na primeira ela tem o foco

na cura, é o pilar de soluções clínicas integrais, já na

segunda o foco está na mudança do estilo de vida – pilar

de promoção de saúde e bem-estar.

Assim a MedIntegral apresenta três pilares de atuação

prática:

SOLUÇÕES CLÍNICAS – Gestão dos recursos e processos

para a saúde e bem-estar.

Por meio de um atendimento médico diferenciado e

personalizado, a MedIntegral apresenta soluções clínicas

integradas e participativas, desenvolvidas sob medida para

cada indivíduo, levando em consideração seus hábitos,

crenças, ambiente onde vive, comunidade e estilo de vida.

As soluções são construídas com inclusão de todas as

terapias consagradas pela ciência, provenientes tanto da

medicina convencional quanto da complementar.

PROMOÇÃO DO BEM-ESTAR – Projeto de qualidade de

vida continuado e sustentado.

Desenvolvimento de habilidades pessoais: apoio ao

desenvolvimento da habilidades individuais, sociais e

políticas que capacitem indivíduos a tomarem atitudes de

promoção de saúde, por meio de práticas diárias que

promovam excelência física, equilíbrio emocional, clareza

mental e plenitude.

Fortalecimento de ações comunitárias: apoio a ações

comunitárias concretas e eficazes na definição de

prioridades, na tomada de decisões e no planejamento e

implantação de estratégias para a promoção de saúde e

bem-estar.

PRÁTICAS DE INTEGRAÇÃO – Gestão de informação e

formação. Programas, atividades e práticas.

Page 59: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

59

Visando a sustentabilidade pessoal, a MedIntegral propõe

a adoção de práticas que não só melhoram o estado de

bem-estar na vida contemporânea, mas também o

cultivam.

Faz isso em programas coletivos, pois acredita que a

convivência e a experiência de comunidade fomentam a

criatividade e propiciam o surgimento de boas idéias. O

que promove a possibilidade de desenvolvimento de

projetos e sonhos pessoais (aqueles que fazem sentido

para nós) que por sua vez aumenta a satisfação pessoal, a

vontade de estar vivo e o humor.

1-http://www.ama-

assn.org/amednews/2011/10/03/prsd1004.htm –

pesquisado em 26.02.2012.

2- http://nccam.nih.gov/health/whatiscam - pesquisado

em 26.02.2012.

3- -http://www.efcam.eu/content/view/27/45/ -

pesquisado em 26.02.2012

4- Baseamos nossa discussão nas idéias do médico

americano David Tusek, em seu artigo The Integral Path to

Medicine, publicado em 5 de Abril de 2009 no blog de Ken

Wilber,

5- Wilber, Ken - IntroductiontotheIntegralApproach,

http://www.kenwilber.com/Writings/PDF/Introductiontot

heIntegralApproach_GENERAL_2005_NN.pdf

6- Dacher, Elliot. Integral Health, Basic Health Publication,

Incc, CA, 2006.

7- “Integral Education, Integral Transformation and The

Teaching of Mind-body medicine, que se encontra no livro

Integral Education: new directions for a higher learning,

Esbjorn-hargens, Sean, State University of New York

Press, Abany, NY, 2010.

Scientific Basis of Bodywork and Movement Therapies

8- Oschaman, James L. – Energy medicine - the scientific

basis, Churchill Livingstone, Toronto, 2009.

Page 60: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

60

9- Yoga for persistent fatigue in breast cancer survivors: A

randomized controlled trial.

Bower JE, Garet D, Sternlieb B, Ganz PA, Irwin MR,

Olmstead R, Greendale G. - Cancer. 2011 Dec 16. doi:

American J Midlife Health. 2010 Jul;1(2):56-8.

10- Mind-body interventions for the treatment of

insomnia: a review

KOZASA, Elisa Harumi et al. Mind-body interventions for

the treatment of insomnia: a review. Rev. Bras. Psiquiatr.

[online]. 2010, vol.32, n.4 [cited 2012-02-15], pp. 437-

443 . Available from:

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=

S1516-44462010000400018&lng=en&nrm=iso>. ISSN

1516-4446. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-

44462010000400018.

11- Journal of Attention Disorders OnlineFirst, published

on November 19, 2007 as

doi:10.1177/1087054707308502

Journal of Attention Disorders

http://jad.sagepub.com hosted at

http://online.sagepub.com

12-Scott R. Bishop, Mark Lau, Shauna Shapiro, Linda

Carlson, Nicole D. Anderson, James Carmody, Zindel V.

Segal, Susan Abbey, Michael Speca, Drew Velting & Gerald

Devins (2004). "Mindfulness: A proposed operational

definition". Clinical Psychology: Science & Practice 11 (3):

230–241.

13- Janis C. Kelly Ann Rheum Dis. Published online

December 20, 2011

Ann Rheum Dis doi:10.1136/annrheumdis-2011-200351

Page 61: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

61

BEM-ESTAR INTEGRAL

Tranquilidade, conforto e satisfação – todos nós

desejamos essas três coisas. De fato, é sobre este tripé

que se sustenta o mecanismo que garante o nosso bem-

estar. Apesar de termos percepções diferentes sobre o

que seja tal sensação, bem-estar é antes de tudo o

exercício da plena liberdade, a liberdade de ser quem

verdadeiramente somos.

Esta é a razão pela qual o bem-estar vem ganhando

destaque nas ciências e invadiu os patamares da

Sociologia, ocupando o centro do mais novo índice de

desenvolvimento, o índice de Felicidade Interna Bruta

(FIB). Nele, o bem-estar é apresentado em nove

dimensões, que veremos a seguir.

O centro do FIB é a satisfação no aspecto psicológico, que

abrange três níveis: saúde mental; equilíbrio emocional e

espiritualidade. As demais dimensões influenciam e são

influenciadas por este núcleo: bom padrão de vida

econômica; gestão equilibrada do tempo e boa

governança; educação de qualidade; saúde, vitalidade

comunitária; proteção ambiental e acesso à cultura.

Page 62: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

62

FIGURA6- FIB

Criada e aplicada no Butão, um país entre a China e a Índia

encravado nas montanhas do Himalia, a moderna medida

demonstra que apesar do baixo PIB os butaneses possuem

um alto nível de saúde, bem-estar e qualidade de vida. Tal

constatação vem promovendo a reflexão sobre os valores

e critérios utilizados para aferir o crescimento e

desenvolvimento das populações mundiais. Atualmente,

tais critérios levam em consideração apenas a atividade

econômica, o que por si só já é reducionista. O conceito

proposto pelo FIB, ao contrário, espelha com maior

amplitude os aspectos necessários à aferição da qualidade

de vida da sociedade. O índice proposto pelo país budista

revela, assim, valores mais condizentes com a nova

configuração social, política e econômica mundial, no qual

temas como sustentabilidade, educação, espiritualidade e

felicidade entram no rol das preocupações.

A importante contribuição do FIB, portanto, é conceber o

homem em seu aspecto multidimensional.

AS DIMENSÕES DO BEM-ESTAR INTEGRAL

Ser feliz é o propósito de todo ser humano. Felicidade e

bem-estar andam de mãos dadas, por isso todos nós

buscamos caminhos para a satisfação plena. Nesse

sentido, a contribuição de um índice aos moldes do FIB é o

de oferecer ferramentas mais adequadas e atuais para

aferir o nível de bem-estar coletivo. Tal busca também

pode ser verificada hoje em dia em diversos outros

campos da ciência. É o que motivou o surgimento da

Page 63: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

63

reengenharia mental, por volta da década de 1990, que

trouxe à tona o conceito multidimensional para o bem-

estar focado nas seis dimensões do ser (o físico, o

emocional, o mental, o profissional, o cultural e o

ambiental).

O bem-estar integral coloca uma dimensão central (a

existência) nesse modelo, ampliando-o. A integração

desses aspectos constituintes do ser pressupõe uma total

mudança de paradigma acerca do nosso papel enquanto

seres humanos. Figura 7

Seria, em último grau, o despertar para o que temos de

mais sagrado em nós.

Para compreendermos melhor o valor de cada dimensão,

resumo abaixo as principais especificidades de cada uma

delas.

FIGURA 7- O modelo do Bem -Estar Integral

FÍSICA

Refere-se a todos os processos do corpo e diz respeito

ainda aos níveis de vitalidade, à flexibilidade e ao grau de

condicionamento físico. Traduz a consciência acerca da

nutrição, o processo de repouso e relaxamento, a

qualidade do sono, a periodicidade e a qualidade das

atividades sexuais, a gestão do estresse e das doenças e as

Page 64: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

64

demais escolhas relacionadas diretamente com a

atividade física. Em suma, o bom nível da dimensão física é

decorrência natural da qualidade e da responsabilidade

das escolhas diárias que fazemos no que concerne ao

nosso corpo.

FIGURA 8 – As instâncias da dimensão Física do Bem-Estar

Integral

EMOCIONAL

Trata-se da capacidade de percepção e de manifestação

dos sentimentos de maneira saudável e natural. É

decorrência do aprimoramento da competência de ser

capaz de focar-se no tempo presente, ter controle sobre

os níveis de ansiedade e tristeza, além de exercitar o

autoconhecimento. Quanto maior a capacidade de

elaboração de conceitos realistas sobre si (e também de

reconhecer os seus potenciais e limitações), maior será a

qualidade da saúde emocional.

FIGURA 9 – As instâncias da dimensão Emocional do Bem-

Estar Integral

Page 65: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

65

MENTAL

Representada pela capacidade de uso da mente lógica e

intuitiva – o que se traduz, por exemplo, no potencial de

realizar conexões, representações do mundo real,

construção de metáforas, além do exame de opiniões,

elaboração de questionamentos etc. Pressupõe, em suma,

a capacidade de o indivíduo compreender a si mesmo e ao

universo.

FIGURA 10 – As instâncias da dimensão Mental do Bem-

Estar Integral

PROFISSIONAL

Refere-se ao universo do trabalho e, consequentemente, à

vida financeira. Pressupõe a capacidade de escolha da

profissão, o nível de adequação aos processos inerentes a

tal atividade, o grau de satisfação, de motivação e a

sensação de justa recompensa financeira. Pressupõe

também o grau de comprometimento, a qualidade do

ambiente de trabalho, o equilíbrio entre trabalho e a vida

privada e a administração responsável e consciente dos

recursos financeiros.

Page 66: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

66

FIGURA 11 – As instâncias da dimensão Profissional do Bem-

Estar Integral

CULTURAL

Diz respeito ao contato (ou encontro) com o outro. Abarca

as relações em casa, no trabalho, com amigos e as

relações com todos os povos e gerações. Será mais

saudável quanto maior for a contribuição para o bem

comum.

Figura 12– As instâncias da dimensão Cultural do Bem-

Estar Integral

SOCIOAMBIENTAL

Indica o processo de fazer escolhas que contribuam para a

manutenção e melhoria da qualidade de vida no planeta.

Inclui escolhas responsáveis sobre o uso de água, energia,

combustível, ar e terra e a preocupação com o bem-estar

das gerações futuras. Supõe ainda o reconhecimento da

interdependência entre os seres.

Page 67: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

67

No social, diz respeito ao acesso ao sistema de saúde,

lazer, transporte e moradia, o poder econômico, a

distribuição de renda e as condições de trabalho.

FIGURA 13– As instâncias da dimensão socioambiental do

Bem-Estar Integral

EXISTÊNCIA

Ocupa o centro das dimensões do bem-estar porque é o

resultado da integração das demais dimensões.

FIGURA 14– As instâncias da dimensão central do Bem-

Estar Integral

Como vimos, a sensação de bem-estar é resultado da

soma dos níveis de satisfação nas mais diversas dimensões

do ser. Decorre da combinação de um cem número de

fatores intimamente ligados ao nível da qualidade de vida.

Em um mundo dominado pelo caos, pelas transformações

vertiginosas e pela ansiedade, atingir tal percepção parece

algo utópico. O que tentamos demonstrar através deste

Page 68: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

68

livro é que tal busca não só é possível, como também que

a conquista deste estado é viável em curto prazo. A chave,

para tanto, está na mudança de paradigma.

ÍNDICE DE BEM-ESTAR INTEGRAL

Page 69: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

69

Todo ser humano sabe, por experiência em diferentes

aspectos da vida, que em muitos momentos as coisas

parecem estar bem e em outros não. Às vezes, essas

sensações passam como cotidianas, naturais, fazendo

parte simplesmente da experiência do viver, outras vezes

deixam a sensação de que algo incomoda. Por vezes,

ainda, essa visão de que algo não vai bem é até mesmo

alheia à pessoa que vivencia a situação, sendo veiculada

apenas por aqueles que a rodeiam, que a avaliam, então,

como doente ou potencialmente fragilizada. Observando

esse quadro, surge-nos o questionamento sobre o que é

saudável e o que não é. O que seria uma pessoa

plenamente sã, enfim? Tal indagação, por consequência,

nos leva à questionar também o conceito de saúde.

Trata-se de uma reflexão complexa que vem sendo

pensada talvez desde que o homem se deu conta de que

algumas coisas o fazem viver melhor, e outras não, ou até

mesmo tirar-lhe a vida. Sem dúvida, as primeiras e mais

expressivas preocupações humanas, no sentido de

estabelecer o estado de saúde, estão ligadas à

sobrevivência frente aos acontecimentos geradores de

mortalidade, como a presença de doenças (sobretudo as

transmissíveis), fome e estados de miséria. Com o passar

do tempo, a atenção voltou-se para um âmbito mais

amplo, coletivo e nos dias de hoje ganham crucial

importância nos setores governamentais fiscalizadores da

saúde pública.

Embora muitos outros órgãos tenham atuado – a ainda

atuam – na história do estabelecimento da saúde coletiva,

a mais importante instância destinada a esse aspecto é a

Organização Mundial de Saúde (OMS), criada em 1948,

após a Segunda Guerra Mundial, tendo como objetivo

desenvolver ao máximo a saúde de todos os povos. No

preâmbulo do texto que estabelece as suas incumbências,

a saúde é definida como um “estado de completo bem-

estar físico, mental e social, não consistindo apenas da

Page 70: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

70

ausência de doença ou enfermidade”. Essa definição

implica na compreensão de que a saúde consiste na

satisfação de todas as necessidades fundamentais sejam

elas afetivas, sanitárias, nutricionais, sociais ou culturais,

do embrião à pessoa idosa. Trata-se de uma definição

ampla e, portanto, complexa, abrangendo implicações

legais, sociais, ambientais, políticas, econômicas, entre

outras.

Neste livro, queremos chamar a atenção para o fato de

que a noção de saúde vai muito além do âmbito

individual. A saúde de um indivíduo está intrinsecamente

ligada ao seu contexto, à sua coletividade, o que acarreta,

por exemplo, a preocupação frequente com doenças

sazonais e geográficas.

Na Amazônia, por exemplo, a incidência de diarreia e

desidratação em crianças é muito mais alta que em São

Paulo, pois lá não há um sistema adequado de

saneamento básico. Em São Paulo, por sua vez, assistimos

a um número muito maior de doenças respiratórias,

ligadas à baixa qualidade do ar, que por sua vez advém da

poluição e daí por diante. Podemos perceber, então, que

esses contextos não estão ligados apenas à região, mas ao

sistema social, cultural, político e econômico nos quais o

indivíduo está inserido.

Como podemos observar, dada a complexidade do

conceito de saúde, a tarefa de mensurá-la também é

complexa. São muitos ângulos de aproximação, como a

mortalidade, a morbidade, a incapacidade física, o grau de

autonomia das pessoas, a estrutura etária da população, a

qualidade da prestação de determinado cuidado de saúde,

entre outros.

No intuito de estabelecer um parâmetro de avaliação,

pontos de referência foram criados e são conhecidos

como indicadores. Assim, nas diversas regiões do globo,

vários são os indicadores de saúde existentes que buscam

medir o nível de vida e saúde da população – questão

atualmente muito estudada pela comunidade

internacional, a fim de que se construa a comparação

Page 71: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

71

entre os indicadores de diferentes países e regiões. Por

esta razão, a Organização Mundial de Saúde formou um

comitê para definir os métodos mais satisfatórios na

determinação e avaliação do nível de vida e, na

impossibilidade de construir um índice único, o Comitê

Internacional sugeriu que fossem considerados

separadamente doze componentes passíveis de

quantificação:

1. Saúde, incluindo condições demográficas

2. Alimentos e nutrição

3. Educação, incluindo alfabetização e ensino técnico

4. Condições de trabalho

5. Situação de emprego

6. Consumo e economia gerais

7. Transporte

8. Moradia, incluindo saneamento e instalações

domésticas

9. Vestuário

10. Recreação

11. Segurança social

12. Liberdade humana

Contudo, como ressaltamos anteriormente, os contextos

específicos interferem de forma decisiva no

estabelecimento ou explicação de uma dada situação de

saúde. Assim, vale reconhecer a importância de se

recorrer a indicadores inter-setoriais (como a evolução do

nível de emprego, a renda média do trabalhador, ou o

consumo de energia elétrica, entre outros) para se

averiguar o nível médio da qualidade da saúde de uma

dada população. Outra dificuldade encontrada na tarefa

de descobrir indicadores e índices de saúde é que, no

intuito de mensurar a saúde, avalia-se doença ou morte

(ausência definitiva de saúde). Nesse caso, o esforço está

em encontrar indicadores “positivos” de saúde. Porém,

muitos indicadores ditos positivos são de difícil estimativa

e trazem em seu bojo enorme subjetividade, conforme se

observa em itens como “bem-estar”, “qualidade de vida”,

Page 72: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

72

“normalidade”, temas de difícil mensuração por vias

racionais. Podemos citar como exemplo a percepção da

violência por moradores de São Paulo e Rio de Janeiro

frente à percepção de moradores de outras capitais com

menores índices de violência, ou mesmo dos moradores

de cidades do interior.

A fim de se estabelecer uma organização nas avaliações

por meio de indicadores, estes foram, então, classificados

em modalidades, cujas principais são:

• Mortalidade / sobrevivência

• Morbidade / gravidade / incapacidade

• Nutrição / crescimento e desenvolvimento

• Aspectos demográficos

• Condições socioeconômicas

• Saúde ambiental

• Serviços de saúde.

Nesse sentido, os indicadores conduzem a uma percepção

mais ampla de saúde, muito além da saúde individual.

Funcionam como um panorama, uma fotografia de um

elemento específico, seja esse o hospital, a casa, o bairro o

mundo, ou mesmo o indivíduo. Servem, assim, ao

estabelecimento de um diagnóstico sistêmico da saúde

com o objetivo de que medidas específicas sejam tomadas

no aperfeiçoamento da saúde de que estamos tratando.

Para exemplificar essa ideia, podemos pensar na alta taxa

de mortalidade infantil no Brasil, que se deve

principalmente à inexistência de saneamento básico,

pronto socorros ou unidade de saúde onde a mãe pudesse

levar a criança. Qual seria então a medida para diminuir

essa taxa? Dar fortificante para criança? Dar informação à

mãe? Na verdade, as causas e consequências relativas ao

diagnóstico e providências necessárias vão muito além das

atribuições dos setores ligados especificamente à saúde. É

preciso, pois que se faça um “diagnóstico sistêmico” da

situação, no intuito de se buscar formas de atuação para

Page 73: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

73

trazer saneamento básico, para trazer uma unidade de

saúde para próximo dessa mãe, entre outras coisas. E isso

não tem a ver com saúde, mas políticas públicas. É um

paradoxo, portanto: a saúde, no caso, não tem a ver com

o médico; porém, o indivíduo precisa estar saudável para

brigar por essas condições. O problema, então, vive uma

retroalimentação que só o potencializa ainda mais. Essas

pessoas não têm força e informação suficientes para atuar

mais, escolher seus dirigentes, agir na comunidade, ou

seja, cria-se um círculo vicioso. E nesse contexto são as

medidas externas que devem ser tomadas.

INDICE INTEGRAL

Ainda que a criação dos índices tenha trazido uma

referência para a avaliação dos estados de saúde, o

objetivo de desenvolver a saúde dos povos ainda está

longe de acontecer. Os índices de saúde, embora

numerosos e abrangentes, ainda olham para a situação de

maneira fragmentada, há ainda a visão do ser humano

como indivíduo, alheio ao mundo e à sociedade que o

cerca. Essa concepção não contribui para uma visão mais

ampla do conceito de saúde.

Esse contexto de escassez de métodos de avaliação dos

níveis de saúde e de bem-estar numa perspectiva integral,

acrescentado da necessidade de criar e ao mesmo tempo

autenticar os seus próprios protocolos, conduziram a

MedIntegral a adaptar o Modelo Integral de Wilber,

também chamado de AQAL ( all quadrantes all levels), em

uma estrutura capaz de analisar, investigar e harmonizar

os índices e indicadores para uma visão mais ampla e

completa daquilo que se deseja explorar. Uma vez que a

saúde vai além do indivíduo e atinge comunidades e

estruturas socioambientais, também é preciso definir a

saúde de quem queremos medir e estudar.

Desenvolvemos, então, o Índice Integral que é, grosso

modo, a proposta de uma visão panorâmica do processo e

que, como tal, apresenta-se como mais eficaz na busca do

Page 74: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

74

estabelecimento integral da saúde e bem-estar. Com

efeito, este índice, ao possibilitar a observação dos

diferentes aspectos em um conjunto, apresenta grande

versatilidade, pois agrega diferentes índices

concomitantemente, em uma estrutura unificadora, a

partir da qual se pode avaliar integralmente a saúde e

determinar linhas de desenvolvimento em saúde,

divididos em aspectos básicos.

A escolha dos índices, ou das linhas, depende dos

objetivos da avaliação e da saúde de quem está sendo

avaliado (indivíduos, comunidades ou sistema ambiental),

bem como dos aspectos metodológicos, éticos e

operacionais da questão em estudo.

Vejamos, então, como isso se desenvolve.

A avaliação do Índice Integral tem como pressuposto

entender saúde em seus atributos objetivos, subjetivos,

individuais ou coletivos do bem estar e seu impacto na

qualidade de vida. Tais atributos, embora simultâneos,

são divididos em quadrantes, como se observa na Figura

15.

FIGURA 15 - quadrantes

A figura apresenta dois eixos: horizontal e vertical. O

primeiro separa o que é coletivo do que é individual –

Page 75: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

75

figura 16a e o segundo o que é subjetivo do que é

objetivo – figura 16b.

FIGURA 16A FIGURA 16B

Sobrepondo esses eixos, obtemos uma figura com quatro

quadrantes e cada um representa a superposição dos

atributos encontrados nos eixos originais resultando em

quatro dimensões conjugadas: o individual objetivo (A),

individual subjetivo (B), coletivo subjetivo (C), coletivo

objetivo(D). Figura 16c

FIGURA 16C

O segundo passo na construção do índice é a inclusão dos

níveis de desenvolvimento na estrutura dos quadrantes.

Quando jogamos uma pedra no lago, do centro se

propagam ondas para a periferia. Na avaliação através dos

quadrantes, os níveis de desenvolvimento também são

assim. Mas por que os níveis não são linhas e são ondas?

Porque, por exemplo, um ponto no anel do quadrante

superior esquerdo, tem um ponto correspondente no

Page 76: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

76

quadrante superior direito – figura 17. Em Integrales,

esses anéis são níveis de consciência.

FIGURA 17

Se tomarmos essa

propagação do anel – as

ondas - (partimos do

princípio de que há uma

propagação evolutiva do

centro para a periferia), perceberemos que há infinitos

pontos no anel.

Quando escolhemos um ponto e acompanhamos a sua

evolução para os anéis seguintes, obtemos uma sucessão

de pontos nos sucessivos

anéis. Ligando esses pontos,

obteremos uma linha que

perpassa todos os anéis

chegando ao centro. Essa

linha é chamada de linha de

desenvolvimento na Teoria

Integral, como na figura ao

lado. (os quadrantes são tetra-emergentes, é que estamos

olhando por aspectos, quando avançamos em uma linha,

as outras também avançam: ela se espelha nos outros

quadrantes).

Dentro do anel

existem milhões de

pontos e portanto

milhões de linhas.

Page 77: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

77

Todos os pontos no mesmo anel são equidistantes do

centro, ou seja, têm o mesmo nível de desenvolvimento.

No entanto, cada ponto é particular e em cada quadrante

se manifesta de forma específica correspondente à

dimensão do quadrante.

Exemplo: o cérebro réptil não consegue fazer mais do que

manter a sobrevivência. Enquanto que o cérebro límbico

já traz questões emocionais. Emoção é “subjetivo” (do

quadrante superior esquerdo). Quando existe um

desenvolvimento do quadrante superior direito, este se

reflete para o direito.

Na prátia para se chegar a tal índice, em primeiro lugar,

estabelece-se um ponto qualquer de referência a partir de

um dado qualquer que mereça ser estudado. Por exemplo:

um paciente chega ao consultório com determinado

sintoma e comportamento. Desse ponto inicial, cria-se

então um ponto de referência. A partir desse ponto

averigua-se o espelhamento dele nos quatro quadrantes, a

evolução do aspecto estudado e a variação entre este

ponto e seu nível mais periférico. Tem-se, como resultante

deste primeiro passo, uma reta que invariavelmente chega

ao centro dos eixos dos quadrantes, e perpassam todos os

anéis (ou ondas). Essas ondas têm por objetivo

estabelecer a interação entre o ponto inicial e os demais

atributos.

Essa reta constituída (que parte do centro para a periferia)

será uma linha de desenvolvimento que responderá

especificamente ao dado abordado. Podemos, então,

escolher milhares de dados e consequentemente teremos,

milhares de linhas de desenvolvimento..

O ponto de referência, por fazer parte de um anel de

desenvolvimento, está ligado aos outros quadrantes, ou

seja, tem manifestações também nos outros quadrantes,

sempre no mesmo anel, de forma equidistante ao centro

(representa o mesmo nível de consciência).

Page 78: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

78

Como é um ponto de referência, é possível, num outro

quadrante, seguir o anel de desenvolvimento (do ponto

para o próximo ponto mais periférico), e encontrar um

novo ponto e traçar outra linha que invada um outro

quadrante.

Essas linhas, traçadas sucessivamente, possibilitarão uma

avaliação integral daquele ponto primeiro que estamos

buscando conhecer.

Então, tomando-se por base que o índice é uma esfera e

indo do centro para a periferia, encontraremos três

camadas: qualidades, quadrantes e linhas. As qualidades

são varreduras de 180 graus do indice, ou seja são eixos.

Portanto as qualidades emergem da junção de dois

quadrantes. Essa é a terceira camada do índice. Sendo

assim, estamos de fora para dentro.

Depois desta segunda camada temos os quadrantes (eles

mesmos), que são resultado da função matemática entre

as linhas daquele quadrante.

E finalmente,na primeira camada, temos as linhas de

desenvolvimento.

O Índice avalia três camadas, na primeira camada observa

as linhas de desenvolvimento; na segunda, com os

quadrantes e na terceira, opera com as qualidades

objetivos, subjetivos, individuais ou coletivos do bem estar

e seu impacto nas qualidades dos três aspectos estudados

( individual, comunitário ou ainda sistêmica-ambiental).

APLICAÇÃO

O primeiro passo é definir o objeto de estudo, que pode

ser indivíduos, comunidades e/ou sistema ambiental. Isso

implica em uma composição diferente do índice, pois as

linhas de desenvolvimento escolhidas serão diferentes.

Page 79: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

79

São três os estágios de trabalho da aplicação do índice: 1)

Estatística: É a compilação de dados do Índice. Realizada

em uma plataforma com um questionário composto de

quatro etapas. 2) Analítica: Análise dos resultados por um

profissional treinado para isso, detectando as áreas a

serem trabalhas para a melhoria das qualidades por ele

avaliada e também para o impacto socioambiental dessas

mudanças. 3) Soluções: apresentação de soluções

integradas para as questões, tendo como centro o bem-

estar integral em todas as suas dimensões para o desenho

estratégico das ações a serem realizadas.

COMO USAR O ÍNDICE?

Há uma ordem para trabalhar com o índice:

Em primeiro lugar, medimos as linhas (centro, elas

irradiam do centro - quadrante é uma função do resultado

dessas linhas). A partir da junção (considerada dentro de

uma expressão matemática que é uma função) das linhas

obtém-se os quadrantes. A partir da função dos

quadrantes, da somatória (função matemática

novamente) dos quadrantes, obtêm-se as qualidades

acima descritas.

Como vimos, o Índice Integral permite avaliar a saúde

Integral dos indivíduos, das comunidades dos sistemas (e,

consequentemente, pode oferecer soluções mais

integradas e combinadas para os problemas atuais).

A versatilidade do índice Integral proporciona muitas

outras configurações em outras áreas de estudos como a

sustentabilidade, a economia, a sociologia e etc. Portanto,

esse aparato serve como um framework para o

desenvolvimento de índices mais amplos e integrados em

todas as instâncias. Para compor o Indice particular de

cada área, é suficiente organizar os indicadores e índices

particulares daquela área em um modelo AQAL e

acrescentar outras linhas necessárias para a avaliação

Page 80: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

80

integral da mesma. Na sustentabilidade, por exemplo,

trabalharemos com linhas como impacto social,

sustentabilidade economica e ambiental o que atribui ao

Índice Integral- e portanto outro cenário - sem que

perca, contudo, a sua amplitude.

SAÚDE DO INDIVÍDUO

Ao estudar a saúde de indivíduos, o índice serve como

uma ferramenta clínica chamada Índice de Bem-Estar

Integral (IBEI) utilizada para identificar e acessar a saúde

do indivíduo de uma perspectiva AQAL. É estruturado em

um quadrilátero, em cujas bases estão quatro aspectos

básicos da saúde do indivíduo: a saúde física; a saúde

psicoespiritual; a saúde das suas interações humanas e a

saúde sistemico-ambiental. A cada um desses aspectos,

damos o nome de quadrante. A aplicação do IBEI consiste

na hospedagem de várias linhas de desenvolvimento em

cada quadrante, linhas essas que, apesar de serem

representativas e não exclusivas, são específicas de cada

um dos quadrantes.

Para compor esse Índice de Bem-Estar Integral Individual

utilizamos alguns indicadores e índices de saúde

individuais existentes como o WHOQAL e o SF36 e ainda

acrescentamos outras linhas que complementam e

integraram os aspectos de saúde com a avaliação

metabólica, o nível de consciência, as crenças, os valores,

as relações, a educação e o acesso a qualidade de vida e

moradia, por exemplo.

As linhas do Índice de Bem-Estar Integral guardam a

aptidão de mensurar todas as dimensões discutidas no

capítulo anterior e quando organizadas em 4 quadrantes

resultam na seguinte configuração: Mostrar o índice das

linhas nos quatro quadrantes.

Page 81: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

81

O Índice de Bem-Estar Integral organiza a complexidade da

saúde, reunindo aqueles 12 componentes em um único

índice mostrado na figura abaixo.

Além disso, esse índice é um indicador positivo de saúde

na medida em que avalia a subjetividade como qualidade

de vida e bem-estar combinados a aspectos objetivos,

como estado nutricional e metabólico.

SAÚDE COMUNITÁRIA

Já no contexto comunitário, esse implemento mostra e

exprime o impacto da sustentabilidade pessoal, ambiental

e social na saúde e bem estar da comunidade estudada.

Sua estrutura é bem parecida com a Individual, porém

acrescenta linhas ao quadrante sistemicoambiental.

SAÚDE SISTEMICAMBIENTAL

Na circuntância sistemicambiental, o Índice Integral tem

sido aplicado em corporações como instrumento para

apontar e determinar a saúde e o bem estar daquele

sistema e das pessoas envolvidas. O denominado HEBTIDA

– (Human Earning Before Tension, Irritability Disease and

Absence). é um quadrilátero com o seguinte formato:

Page 82: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

82

FIGURA 18 -

HEBTIDA

Page 83: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

83

AS CAMADAS DOS INDICE INTEGRAL DE SAÚDE

O Índice avalia três camadas, na primeira camada ele

trabalha com as linhas de desenvolvimento, na segunda,

com os quadrantes e na terceira, ele opera com as

atributos objetivos, subjetivos, individuais ou coletivos do

bem estar e seu impacto nas qualidades dos 3 aspectos

estudados - individual, comunitário ou ainda sistêmica-

ambiental.

Por exemplo, para montar o modelo teórico do HEBTIDA,

partimos do pressuposto de que a alta performance é uma

qualidade emergente das dimensões biocomportamental

e psicoespiritual do indivíduo, que por sua vez emergem

das linhas de saúde dentro desses quadrantes específicos

como o metabolismo, a educação, a qualidade de vida, o

desenvolvimento emocional, os hábitos alimentares e o

sono.

Já o comprometimento exige valores, motivação e apoio

da comunidade na qual se está inserido. Isso significa que

essa qualidade emerge das dimensões psicoespiritual e

das intereações humanas. Enquanto a excelência está

ligada a valores compartilhados e ao mesmo tempo ao

acesso de recursos e estrutura, o que é a mesma coisa que

falar que ela surge das dimensões das intereações e da

socioambental. Uma vez que para ser efetivo é necessário

estar bem fisicamente, ter uma atitude e

Page 84: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

84

ao mesmo tempo ter recursos para a realização, então

podemos concluir que a efetividade aflora dos espaços

socioambiental e biocomportamental.

RESULTADOS

Quantitativos

1 - pessoal - ser uma pessoa melhor.

2 - comunidade - ter uma comunidade melhor para se

viver.

3 - sistêmica-ambiental - ser uma empresa melhor para se

trabalhar e ter um planeta melhor para se viver.

Qualitativos

1- pessoal - ter mais vitalidade, conquistar longevidade,

melhor qualidade de vida e bem estar contínuo e integral.

2-comunidade - aumentar o poder de criação, construir

uma comunidade melhor para se viver, com

equanimidade, igualdade e respeito.

3- sistêmica-ambiental - aumentar a produtividade,

eficiência. inovatividade, melhor gestão do tempo,

diminuir o absenteísmo, diminuir as faltas, aumentar o

nível de satisfação dos colaboradores e consumidores,

diminuir o gasto com as operadoras de saúde.

Page 85: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

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FIGURA 19 -

modelo

teórico do

Índece

Integral de

Bem-Estar

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86

EXISTÊNCIA

“Sofrimento significa estar tendo um pesadelo. Felicidade

é um sonho bom. Realização significa estar fora de ambos

os sonhos, ou seja acordado.”

Jed Mackenna

Existência é o fato de existir. Nos seres humanos,

concretiza-se na consciência de si mesmo. Mas o que é a

experiência da consciência, afinal?

Atributo dos seres humanos, a consciência recebeu desde

cedo a atenção de diferentes áreas do conhecimento. Tal

busca está implícita nas indagações dos primeiros

filósofos, nas formulações teológicas, no campo da

metafísica, na solução de Descartes e no pioneirismo do

Iluminismo. A Biologia contemporânea deu relevante

contribuição ao tema ao explicar as relações anatômicas,

bioquímicas, celulares e sistêmicas, acabando por definir

consciência como resultante das reações químicas e

elétricas da rede neuronal. Humberto Maturana e

Francisco Varella, no campo da Biologia e da Cognição, vão

além, ao demonstrarem que os sistemas vivos constituem-

se a partir de elementos que criam e recriam a si mesmos

– ao que denominam autopoiese. É como se houvesse um

grande lego onde pudéssemos, a todo e a qualquer

momento, recriar com as mesmas peças, diferentes

formas mantendo a identidade da criação original.

Pela interpretação dos dois pesquisadores podemos

ilustrar o seguinte exemplo: ao olharmo-nos no espelho,

não nos damos conta do acelerado processo de mutação

por que passam nossas células. São milhares de milhões

Page 87: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

87

de partículas passeando para lá e para cá, construindo e

renovando células para definir a forma física que o

espelho projeta.

Influenciado por tais achados, o sociólogo Niklas Luhmann

desenvolveu a “Teoria de Sistemas Autopoiéticos”. Para o

autor, a sociedade seria como um grande lego (no qual

cada indivíduo é uma peça) formando ao final um corpo

coletivo. Essa forma de pensar originou a expressão

“acoplamento estrutural” para designar o processo de

adaptação do organismo ao seu meio como sendo uma

interação. Assim como ocorre ao lego, os indivíduos em

sociedade dependem uns dos outros e dos seus “encaixes”

para originar uma estrutura maior.

No entanto, apesar dos grandes avanços e descobertas,

pouco sabemos sobre o “acontecer” da consciência. É

aquele fenômeno que experimentamos ao nascimento de

um filho, ao ver um botão em flor, ao contemplar o nascer

do sol, ao colocar os pés na areia da praia. Aquilo que só

os poetas se arriscam a expressar entre metáforas,

brincadeiras e enigmas. E por que sabemos tão pouco

sobre isso? Para podermos responder a essa pergunta,

precisamos ir para outra área da consciência, que é a

linguagem. Toda a nossa experiência é transformada em

linguagem na nossa racionalização das coisas e do mundo.

Um dos elementos da linguagem são os pronomes. Eu

(primeira pessoa) designa o autor ou aquele que vive a

experiência. Já você (o que o ocupa o lugar de segunda

pessoa) é o outro, com quem falo, a quem me dirijo. E,

finalmente ele (terceira pessoa) é sobre quem falo.

Nas metodologias utilizadas para a construção do

conhecimento dentro das mais diversas áreas

predominam a observação, ou seja, o foco é centrado

sobre algo, aquilo que se quer observar. Apesar de haver

uma percepção em primeira pessoa (uma vez que o

cientista ou pensador elabora a apreensão da realidade

observada a partir de seu eu), aquilo que é observado é

sempre uma terceira pessoa. Esse modo de apreensão das

coisas tornou-se praticamente regra para todos nós. É

assim que aprendemos na escola e é assim que desde

cedo somos treinados para compreendermos a “lógica”

das coisas.

A maioria das pesquisas realizadas com vista à

compreensão do cérebro aborda a consciência seguindo o

protocolo do método científico, que pressupõe a

existência de um observador e de algo observado (no

caso, o cérebro). Trata-se, portanto, de uma abordagem

em terceira pessoa. No entanto, a consciência daquele

que observa também integra o todo observado.

Page 88: A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR

88

No método que propomos neste livro não há separação

entre o observador e o observado. Aquele que observa é a

própria experiência. Trata-se, portanto, de uma

abordagem de primeira pessoa. É o eu quem vive a

experiência.

A ciência pode nos falar sobre consciência, mas não nos

ensina como nos tornarmos conscientes. Este processo só

pode ser cultivado como uma habilidade na perspectiva de

primeira pessoa. Ou seja, vivenciando a consciência no

aqui e agora. A única forma de estar consciente é deixar

viver a inconsciência conscientemente. Parece paradoxal,

mas é isso mesmo.

O tempo todo estamos alerta. Pensamos, elaboramos,

racionalizamos, julgamos etc. Isso é natural em todos nós.

Entretanto, na maior parte do tempo não nos damos

conta do que está por trás de tais raciocínios, não nos

vemos além dessa consciência primeira (mental), que é a

que aflora. Mas não falo aqui de racionalização. O que

quero dizer com “estar atento” é que a percepção do

existir desbloqueia a consciência da mente que discrimina

o mundo externo, e assim flui com liberdade.

Existem infinitas práticas que visam a promover tal

experiência, e todas elas convergem para o silêncio

interior (quando excluímos todas as percepções do meio

externo e voltamos nossa atenção para o mundo interior).

Como diria o pensador Ken Wilber, criador da “Teoria

Integral”, esse olhar para dentro permite encontrarmos a

nossa face original. Segundo Otto Scharmer, um dos

maiores consultores de companhias globais da atualidade,

o contato com o interior mais profundo gera a presença e

permite o acesso ao campo criativo. Para estes dois

autores, o olhar para si mesmo é capaz de transformar

não apenas o indivíduo, mas também a sociedade,

possibilitando soluções inovadoras para os desafios atuais

e promovendo a adoção de modos de vida mais honestos

e éticos.

Este modo de convívio com a consciência, de certa forma,

é o que pode ser observado nos poetas, pintores e artistas

em geral. Os rituais dos monges, das freiras no claustro e

daqueles adeptos da meditação também buscam essa

realização. Em todos esses exemplos, notamos uma

dedicação exclusiva dessas pessoas a algo que lhes

permitisse tal prática. Não é o que proponho aqui. Para

mim, todos nós podemos atingir tal nível, seja qual for o

nosso modo de vida.

Estar consciente podee ser descrito como estar acordado,

prestando atenção em si mesmo, naquilo que surge em

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você e passa através de você. É como canta Gilberto Gil,

“eu preciso aprender a só ser”.

FELICIDADE AUTÊNTICA

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Quanto custa a felicidade? Essa parece ser uma questão incidental frequente na mente de grande parte da população mundial. A força motriz do capitalismo financeiro está centrada no desenfreado desejo de consumo das multidões, induzidas pelo perfume sedutor da publicidade. Na era em que vivemos, felicidade é frequentemente equiparada à posse de dinheiro. Mas na realidade, ainda sabemos muito pouco sobre o que é estar feliz. Quando somos instigados a descrever o que de fato sentimos quando nos percebemos felizes, quase sempre titubeamos, tergiversamos.

Foi pensando nisso que o psicólogo israelense Daniel Kahneman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2002, desenvolveu a chamada “ciência hedônica”, com o intuito de compreender e decifrar os elos que conduzem à sensação de plenitude de prazer nas pessoas. Em suas primeiras investigações, a “ciência hedônica” demonstrou que o sucesso material de fato contribui para a conquista da felicidade - mas até certo nível. Segundo tais estudos, se, por exemplo, uma pessoa em estado de absoluta pobreza e miséria obtém algum avanço e alcança o atendimento das suas necessidades básicas de sobrevivência, posteriormente, passa desse nível para uma situação de vida confortável e dessa situação para uma condição de certo grau de luxo, sua felicidade de fato aumenta. Contudo, após um certo ponto, mais bens materiais não trariam mais satisfação a essa pessoa. O que

importará a esta altura são os chamados “fatores não-materiais”, tais como companheirismo, famílias harmoniosas, relacionamentos amorosos, e a sensação de viver uma vida significativa.

Um exemplo que corrobora as descobertas dos pesquisadores da felicidade é o fato de observarmos uma grande quantidade de pessoas infelizes vivendo nos Estados Unidos, a maior economia do planeta. Pesquisas indicam que um em cada quatro americanos é infeliz ou deprimido. Durante as décadas de acelerado crescimento econômico, nos pós-guerra, período no qual o PIB praticamente triplicou; os EUA também viram triplicar o número de suicídios entre adolescentes, quadruplicar o número de mortes violentas e quintuplicar a quantidade de presidiários. Para os estudiosos, a causa desse descompasso é a falta de significado. Se as pessoas não veem significado em suas realizações, não conseguem se perceber felizes. Parece ser esta a chave para a compreensão: uma vida feliz é uma vida significativa.

FELICIDADE AUTÊNTICA

Todo o trabalho da MedIntegral é ancorado no bem-estar

contínuo. Este é algo que pertence às aspirações e desejos

do homem identificado com a sua história.

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O que queremos dizer é que não há um topo, um cume,

um tempo em nossas vidas em que permaneceremos

felizes para sempre, como nos contos de fada. Não há

como conceber uma vida em que haja apenas o bem-

estar. Ao atingirmos uma dada realização ou algo

almejado, automaticamente entraremos novamente em

um novo ciclo de buscas, em um novo estágio de menor

bem-estar. Ser feliz o tempo todo é algo impossível, e caso

houvesse tal possibilidade, a vida seria um tédio total,

provavelmente infeliz. O que devemos ter consciência é de

que esta oscilação entre momentos de maior e de menor

intensidade no nível de bem-estar é que é a lógica da

dualidade da vida.

No entanto, existe um lugar não dual, no qual não há

identificação com os aspectos opostos da dualidade. É um

estado contínuo de ser. E esse é o conceito de “felicidade

autêntica”.

A “felicidade autêntica” difere muito da noção habitual de

felicidade. Não é prazer, não é vitória, não é uma

conquista. É realização (como consciência de estar sendo).

Para atingi-la, não temos que seguir nenhum fluxo. Somos

o fluxo e pertencemos a ele. Tal qual uma gota no oceano.

Ela não segue o fluxo do oceano, pois é o próprio oceano.

Assim é a felicidade autêntica.

Por todas estas características, podemos depreender a

felicidade autêntica como fruto do autoconhecimento.

Este é, talvez, o único pré-requisito ao qual você deverá

submeter-se. E deverá ser um desejo totalmente

voluntário já que tal processo o conduzirá a uma revisão

plena de todos os seus valores e suas crenças. A mudança

de paradigma reformulará toda a sua vida, seu

comportamento e sua cultura. A realidade será percebida

por você com olhares muito mais abrangentes. Você será

diferente. Será verdadeiro, adulto, realizado.

Não propomos aqui a adoção de um determinado estilo

de vida. Ter estilo de vida é submeter-se a um dado

número de pré-conceitos. É não ser você. É viver em

função do olhar do outro, das convenções de um dado

grupo social ou do modismo da época. A realização, fruto

da consciência da felicidade autêntica, é exatamente não

ter um estilo de vida definido, mas estar presente para a

criatividade e decisão a cada momento do que e se fazer.

Nos manuais de autoajuda é comum encontrarmos

estudos acerca do comportamento das pessoas tidas

como realizadas e felizes. Na grande maioria deles são

feitas enumerações contendo o comportamento adotado

por tais pessoas. Para atingirmos o mesmo grau de

realização daquelas pessoas bastaria (segundo tais

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manuais) seguir à risca os itens enumerados. E assim

passamos a imitar Buda, Jesus Cristo, Ghandi, Bill Gates e

tantos outros. É claro que isto não dará certo. O

comportamento e estilo de vida deles é a representação

objetiva daquilo que neles é individual e interno. Eles

foram assim por um sem número de razões que não nos

cabe compreender. Aquele comportamento não é um

modelo, o modelo eram eles.

Você pode estar se questionando se a MedIntegral

também não repete em parte a forma dos manuais

referidos acima. De certa forma, sim. Este livro não deixa

de ter o seu caráter indutor, afinal, estamos propondo

algo que interferirá no seu modo de viver. Mas

diferentemente de tais métodos, não propomos aqui

nenhum Eldorado no fim do caminho. Demonstramos,

apenas, que há um caminho, que é feito de consciência e

percepção da existência. E neste caminho pode acontecer

a realização.

SUSTENTABILIDADE

Sustentabilidade não é um knowhow, é ser de outra

maneira.

Augusto de Campos

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A palavra “sustentabilidade”, apesar de muito em voga

atualmente, quase sempre é compreendida de forma

reduzida, com a ênfase voltada apenas no que no termo

concerne ao meio ambiente. No entanto, meio ambiente é

apenas uma das dimensões desse conceito

multidimensional.

A manutenção das condições de vida do homem e dos

demais seres vivos da Terra engloba desde aspectos

econômicos e sociais até culturais. A emissão de carbono

não promove somente o efeito estufa, mas também

doenças. Os agrotóxicos, por exemplo, provocam uma

ação em cadeia, sendo a contaminação do alimento, dos

rios (e dos peixes que neles vivem) apenas uma pequena

parte do problema. Sustentabilidade é, portanto, um tema

que diz respeito à saúde pública e por consequência à

medicina. Nesse sentido, é preciso que os administradores

das políticas de saúde pública se comprometam em

oferecer ensinamentos e alternativas.

Como seria, então, um sistema de saúde que praticasse

essa abordagem, e pudesse ensinar às pessoas como lidar

com formas mais simples e eficientes de se utilizar das

vantagens do meio, sem obrigá-las a adotar um estilo

alternativo de vida?

Penso que, nesse sentido, o modelo proposto pela

MedIntegral tem muito a contribuir para esse avanço. Em

todos os significados do verbo “sustentar” pressupomos a

necessidade de ação, o que nos induz a supor que, se

necessário, é preciso adaptar-nos às condições impostas

para nos manter vivos. É com base em tal leitura que

proponho este novo método.

Ao observar a natureza, verificamos que isso ocorre o

tempo todo. Os sistemas vivos constroem seus

componentes a partir da transformação de si mesmos,

adaptam-se para se sustentar. Como, por exemplo, o

processo de digestão: ingere-se uma fruta, esta será

quebrada em açúcar (frutose), e, absorvida pelo

organismo, tornar-se-á energia, após sucessivas reações

químicas. É o corpo agindo para manter-se vivo,

conservado. Tudo se resolve com os próprios

componentes do sistema. Quando há pouco cálcio no

sangue, o organismo retira-o dos ossos para manter o

nível de pH dentro da normalidade. A tudo isso

denominamos “equilíbrio”, e equilíbrio é sustentação.

Se, como vimos, um dos aspectos da sustentação é a

transformação, somente a mudança de paradigma (como

a proposta pela MedIntegral) é a saída para uma vida mais

saudável e plena.

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O CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE INTEGRAL As discussões acerca da sustentabilidade estão fortemente focadas no convívio entre a preservação dos recursos naturais e o desenvolvimento econômico. De fato, esse é um ponto nevrálgico da equação, mas há outras faces do problema pouco vislumbradas pela maioria dos analistas. Pouco se fala, por exemplo, das dimensões biológica (saúde, bem-estar, alimentação e comportamento), pessoal (cognitiva, emocional e valores pessoais) e na sociocultural (cooperação, promovido pelas redes sociais e liberdade ensejada pela democratização das relações).

Um outro ponto a ser considerado é que as políticas

públicas voltadas para esse tema visam soluções pontuais

e pragmáticas, como se houvesse um caminho próprio

para se atingir a sustentabilidade. Tal caminho,

entretanto, não existe. A sustentabilidade é o caminho. É

um processo contínuo da humanidade. Não é um know-

how, mas um modo de ser. Em outras palavras, para ser

sustentável um sistema qualquer tem que aprender a se

autorregular.

É com base nessa consciência que formulamos o conceito

de sustentabilidade integral, segundo o qual cabe a cada

indivíduo promover ininterruptamente a sua adaptação às

novas demandas do mundo. Se cada um de nós for

integralmente sustentável, criaremos uma cultura de

sustentabilidade e consequentemente uma estrutura

sustentável na qual encontraremos os atributos

necessários para a saúde e bem-estar integral equânimes.

Eis a base do conceito.

1- Augusto de Franco - Escolas de redes- Tudo que é

sustentável tem o padrão de rede.

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