A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL - A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR
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A PRÁTICA MÉDICA INTEGRAL : A DESCOBERTA DO BEM-ESTAR. Explorações de Roberta Ribeiro em sua prática médica. Roberta E. G. Ribeiro, 2012. Versão Beta, sem revisão.
A versão digital desta obra foi entregue ao Domínio
Público, editada com o selo MedIntegal por decisão unilateral da autora. Domínio Público, neste caso, significa que não há, em relação a versão digital desta obra, nenhum direito reservado e protegido, a não ser o direito moral de o autor ser reconhecido pela sua criação. É permitida a sua reprodução total ou parcial, por quaisquer meios, sem autorização prévia. Assim, a versão digital desta obra pode ser – na sua forma original ou modificada – copiada, impressa, editada, publicada e distribuída com fins lucrativos (vendida) ou sem fins lucrativos. Só não pode ser omitida a autoria da versão original. RIBEIRO, Roberta E. Garcia A prática médica Integral: a descoberta do bem-estar: Explorações de de Roberta Ribeiro em sua prática médica. / Roberta Ribeiro. – São Paulo: 2012. 96 p. A4 – (MedIntegal; 1) 1. Medicina Integral. 2. Bem-estar Integral. 3. MedIntegral. I. Título.
MedIntegral é um espaço onde a Dra. Roberta Ribeiro realiza a prática médica integral e junto com uma rede de pessoas se dedica à investigação da saúde e do bem-estar tanto pessoal como na rede social e à criação e transferência de práticas que promovam o bem-estar Integral. http://www.medintegral.com.br
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A prática médica Integal: a descoberta do bem-estar
Explorações de Roberta Ribeiro na sua prática médica
INTRODUÇÃO PÁGINAS- 4
A EPIDEMIA DO SENTIDO PÁGINA – 6
PENSAR PÁGINA - 13
MEDINTEGRAL PÁGINA -32
BEM-ESTAR INTEGRAL PÁGINA – 61
ÍNDICE DE BEM-ESTAR INTEGRAL PÁGINA - 68
EXISTÊNCIA PÁGINA -86
FELICIDADE AUTÊNTICA PÁGINA -89
SUSTENTABILIDADE PÁGINA - 92
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In
tradução
There is nothing but God, nothing but the Goddess, nothing but Spirit
in all directions, and not a grain of sand, not a speck of dust, is more
or less Spirit than any other"
Ken Wilber
Esse livro é um convite a uma mudança total de
percepção do mundo e de si mesmo, cuja pergunta
básica é: quem é que realmente vive em você?
Temos tanta certeza de quem somos e de que
somos nós mesmos, que a idéia dessa pergunta é
como estar doente. No entanto, essa certeza não é
mais do que a realidade dos sonhos e o eu certo de
que vive não passa de uma sombra ilusória daquilo
que vive em você.
Existo e então a existência pode ser em mim.
Não há esforço para mudar o modo como se vive,
mas antes, a descoberta daquilo que vive. Não se
dar conta disso é estar contaminado pela epidemia
do sentido e consequentemente viver à margem da
felicidade autêntica, quando o queo separa dela é o
intervalo entre o sonho e o que as experiências
fizeram de você, ou seja a sua certeza.
Perceber que aquilo que busca não pode ser
encontrado em suas conquistas nem no lugar para
onde você se dirige, mas na simples natureza dos
seus próprios passos e no encantamento que habita
o que é ordinário, é estar são, íntegro, inteiro,
completo.
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INTRODUÇÃO
Durante todos estes anos de prática médica, percebi que
medicamentos, na maioria dos casos, são agentes que
induzem o desaparecimento dos sintomas. No entanto,
saúde é muito mais do que a ausência de sintomas.
A OMS (Organização Mundial de Saúde) define saúde como
sendo um bem-estar físico, mental e social. Portanto, o
estado saudável é o resultado de atitudes diárias, do estilo
de vida e da percepção acerca de si próprio e das formas
mais adequadas de se viver.
Com base em tais conclusões, busquei caminhos que me
proporcionassem, em primeiro lugar, o desenvolvimento
de ferramentas e recursos nos diferentes aspectos do
curar, percorrendo os caminhos da medicina moderna, da
homeopatia, da antroposofia, da medicina chinesa e da
medicina ayurvédica. Em segundo, meios que me
auxiliassem a integrar os diferentes aspectos do
cuidar à ciência do curar com sentido,
confiabilidade, resultado: ciência e arte, como o
que é encontrado nas experiências da dinâmica
energética do psiquísmo, na Teoria Integral, nas
oficinas de clown e nas diversas leituras e
aprofundamentos da literatura ciêncífica pós-
moderna. Assim nasceu a MedIntegral, termo que
criei para designar esta nova prática, objeto deste
livro.
Para que o leitor possa entender este novo
conceito, convido-o a percorrer comigo um
caminho que ajudará a formulá-lo: a história do
desenvolvimento do conhecimento humano.
Com o intuito de dar algum suporte teórico ao leigo
em medicina, abordarei inicialmente, de forma
elementar, alguns aspectos da Fisiologia e da
Biologia necessários à compreensão do conceito
aqui apresentado. Posteriormente, relacionarei
aspectos advindos de áreas como a Economia, a
Sociologia, a Filosofia, entre outras, para completar
as formulações.
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A partir de tal introdução, abordarei a consciência e sua
complexidade, o bem-estar integral com todas as suas
perspectivas, a felicidade autêntica do existir e, por fim, a
sustentabilidade.
Concebendo a saúde como sensação de bem-estar integral,
minha intenção como médica é promovê-lo e dar às
pessoas as ferramentas e os meios para atingi-lo. Ao longo
dos anos, venho oferecendo atendimentos individuais e
atuando junto a corporações, governos e outras entidades,
contribuindo para a difusão deste novo conceito. Como
decorrência de tal processo, este livro tem a função de
sistematizar e divulgar a o conhecimento adquirido nesta
trajetória e ao mesmo tempo auxiliar o leitor na descoberta
do bem-estar integral.
E quem sabe o que parece ser um caminho de metas e
mudanças, seja a realização da existência que é em você.
EPIDEMIA DO SENTIDO
Apesar de todo o nosso conhecimento, ainda há muita
ignorância sobre quem somos, sobre nós mesmos.
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Aranhas tecem. Macacos pulam. Aves voam. O homem
pensa. Cada ser possui uma especialidade: a nossa é a
consciência.
O Homo sapiens difere dos outros seres vivos não apenas
pela anatomia do seu corpo, mas principalmente pela
anatomia do seu cérebro, que lhe permite o processo de
consciência de si mesmo. Ao homem é possível contemplar
o significado do infinito e também observar a si próprio
contemplando o significado do infinito. Nenhum outro ser
possui essa capacidade.
Entretanto, nossa consciência nos permite adentrar em
apenas uma parte do infinito, aquela que reconhecemos
como “realidade”. Isso porque nosso cérebro foi
desenvolvido para sobreviver no mundo de quatro
dimensões, sendo três de espaço (frente/trás,
esquerda/direita, acima/abaixo) e uma de tempo. Não
somos capazes, por exemplo, de enxergar o vazio das
rochas e nem nossos átomos. Não temos um olhar
quântico e nem tampouco macro. Desenvolvemo-nos em
um mundo concreto, de solidez e impenetrabilidade e
tendemos, por isso, a ter como reais apenas os objetos
sólidos. Ondas eletromagnéticas, por exemplo, nos
parecem irreais.
O mundo concreto, no qual nos sentimos
confortáveis e no qual evoluímos, não passa de
uma faixa estreita da realidade do universo.
Assemelha-se à nossa visão das cores, advinda da
percepção da radiação de uma pequena faixa do
espectro eletromagnético, cuja totalidade é
inacessível aos olhos humanos – salvo com ajuda de
instrumentos. A esse segmento limitado que
julgamos ser o normal (em contraste com a
estranheza do muito pequeno, do muito grande e
do muito rápido), chamamos realidade.
Como podemos perceber, o que vemos do mundo
não é o mundo em sua totalidade, mas um modelo
baseado em dados sensoriais, os quais nos auxiliam
a lidar e a viver nesse universo. E eis aqui nossa
chave para a compreensão do jogo da vida: a
natureza do modelo – e a ela atrelado, o “dom” de
cada espécie.
Assim, como macacos vivem em árvores, peixes no
mar e minhocas na terra, nós vivemos em
sociedade, navegamos em um mar de pessoas. Esse
fato já se mostra suficiente para tornar plural a
concepção de realidade. Contudo, acrescenta-se a
essa multiplicidade o fato de que, em relação ao
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Homo sapiens, a diversidade da percepção da realidade
aumenta consideravelmente devido à propriedade de
reflexão do cérebro humano, geradora de infinitas
interpretações, símbolos e diversas outras realidades. Cada
ser humano torna-se, com isso, um universo próprio e
particular, construído a partir das experiências pessoais, da
cultura, do meio ambiente e da estrutura biológica.
Seria insano pedir ao pássaro para não voar, à toupeira
para não cavar, ou ao cachorro para não latir (embora
muitas vezes o façamos!), pois todos eles estão realizando
o que nasceram para realizar. Do mesmo modo, seria
absurdo solicitar ao homem que não reflita, pois esse é o
seu instinto, a sua natureza. Obedecendo à sua natureza,
não por escolha, mas por imposição atávica, o homem
tenta dar sentido à natureza e à sua própria existência
através do ato de pensar. Esse processo é que deu origem
às diversas formas de ver e de conhecer o Universo, as
quais vêm sendo organizadas e transmitidas através das
gerações ao longo do tempo.
Na primeira fase de sua história, o pensamento humano foi
marcado pelo pensamento mítico. A explicação para os
fenômenos da natureza, assim como da própria
humanidade sempre era justificada pela existência de uma
força maior e externa ao homem. Tal modo de pensar deu
origem aos mitos, aos deuses e às religiões. Tempos
mais tarde, quando essa estrutura de pensamento
não pôde mais dar sentido à existência do homem,
nasceu a ciência.
A ciência em sua origem rompeu com a religião.
Curioso, o homem criou a ciência para que esta
buscasse as respostas que le não encontrava na
religião e com isso colocou um basta na situação de
inconsciência do homem e proclamou que, pelo
processo do pensar, ela faria consciente o
inconsciente, descobrindo seus segredos e
revelando o sentido da vida. E isso ela vem fazendo
até hoje.
Contudo, se pararmos alguns minutos para
observar nossa experiência de existência mais
elementar e fundamental, facilmente
perceberemos que o que nos mantêm vivos é o
inconsciente. Ninguém pensa para fazer seus
batimentos cardíacos, sua digestão, sua respiração
ou todas as reações bioquímicas que mantêm a
vida. E isso é uma grande vantagem. Se
dependêssemos de um comando consciente,
estaríamos todos mortos!
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Portanto, a qualidade de ser vivo, no homem, está
ancorada no inconsciente. Nenhuma consciência consegue
abarcar o inconsciente. Este é muito mais abrangente e a
consciência dele depende, uma vez que ela é apenas um
componente da nossa existência.
Logo, assim como o inconsciente é uma função fisiológica
do ser humano, a consciência também o é. Queiramos ou
não, ela estará presente nas nossas vidas. Só nos resta
percebermos isso. Neste caso, vejamos como ela funciona.
A CONSCIÊNCIA
A consciência é constituída de dois aspectos, o sensorial e o
mental. O sensorial do qual falamos aqui é representado
pelo ato de sentirmos a existência de forma não
discriminativa, ou seja, desprovida da noção dos processos
de diferenciação e discernimento que dela decorrem. Ao
mental, ao contrário, cabe a função discriminativa, ou seja,
o ato de pensar, que possibilita a reflexão sobre as
mudanças externas e a busca da adaptação.
Todo ser vivo possui a capacidade de adaptar-se ao
ambiente. Contudo, no Homo sapiens esse mecanismo
tornou-se mais complexo, envolvendo a formação de
conceitos e significados. Isso só é possível devido ao
aspecto mental da consciência dotado da
capacidade de observar-se a si mesmo, a qual
confere ao Homo sapiens a possibilidade de
conhecer-se e de saber sobre seu próprio universo
mental. Assim, somos capazes de criar um universo
subjetivo, interior e particular, sustentado sobre os
pilares de nossos próprios valores e significados e
construído a partir de nossas experiências. Esse
universo particular, reinado do eu, espelha de
forma metafórica as experiências captadas do
mundo exterior.
Para ilustrarmos essa ideia, podemos imaginar a
expansão do eu da seguinte forma:
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Devido à sua plasticidade, a mente é capaz de desenvolver-se
ampliando o repertório de significados e de valores ao infinito.
Ora, se denominamos eu o universo subjetivo da mente e se
esta pode expandir tal universo a partir de seu
desenvolvimento, então podemos também expandir o nosso
eu. É o que estuda a psicologia e todas as escolas religiosas
que prescrevem a iluminação ou conscientização. Tudo é uma
questão de saber onde seremos capazes de colocar o nosso
centro de gravidade psíquico, ou seja, o quanto poderemos
ampliar nossos significados. Vale lembrar que o eu que se
desenvolve é um aspecto fisiológico da mente dobrando-se
sobre si mesma (a inconsciência experimentando a si mesma
como consciência).
Assim, através da capacidade mental de observar-se a si
mesma, contruímos a dualidade objetivo/subjetivo, sendo o
subjetivo o que observa, ou seja o indivíduo que observa a si
mesmo, e o objetivo aquilo que é observado,neste caso o
próprio indivíduo e sua mente. Isso é denominado processo
reflexivo. A amplitude da nossa realidade depende, portanto,
da diversidade de significados e valores que podemos acessar.
Que tal organizarmos essas idéias? Pois bem, chegamos aos
seguintes conceitos:
- A consciência é um processo de individualização;
- O autoconhecimento é o conhecimento de si
mesmo, que é diferente do sujeito do conhecimento
em si;
- O sensorial é o saber em primeira pessoa, aquele
que experimenta, ou seja o aspecto fenomenológico
do saber. Seu centro é o senso de estar vivo, o existir.
Ele é primário e alimenta a mente.
- A mente é o saber em terceira pessoa (ele/ela),ou
seja sobre o que é falado, está fora do eu
(observador) e pode ser observado. Seu centro é o
conhecimento, o pensar. A mente possui um
mecanismo reflexivo e por ele cria a dualidade
objetivo/subjetivo.
- A subjetividade é o local onde se encontram todas
as nossas experiências, que por sua vez constroem as
nossas interpretações para em seguida construirem
os nossos valores.
O centro sensorial é o senso de estar vivo (a percepção
de estar vivo e simplesmente ser, existir). Ele é
primário e alimenta o centro do saber. Já o centro do
saber é o conhecimento, o pensar, a mente que tem o
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mecanismo reflexivo e por ele cria a dualidade do objetivo
versus subjetivo.
Assim, quando colocamos a atenção no centro sensorial –
sentimos, apenas - a vida faz sentido “experimentado,
sentido”: o sentido de ser vivida, de estar vivo, de ser. Ao
transferir nossa atenção para o centro do pensar – a mente –
a vida faz sentido lógico, pensado, conhecido. No primeiro
somos o verbo, ou seja, a ação. Já no segundo somos o
sujeito, isto é, o agente da ação.
Vejamos como ficou a nossa história, agora:
A mente e sua produção (o pensamento) possibilitam ao ser
humano abstrair, refletir. Essa particularidade do cérebro
humano se revela, por exemplo, no fato de que só o homem
se detém em problemas existenciais, justamente por conta da
reflexão. Quando Platão começa a pensar em suas questões
existenciais, isso é fruto da sua especialidade como ser
humano, pois ele é um homem e sua especialidade é refletir
sobre as coisas.
Ao longo do tempo, o ser humano ficou fixado em
conscientizar a inconsciência, e quem começou a vender esta
ideia foi a ciência. Quando o Iluminismo proclamou “penso,
logo existo”, criou a expectativa de que poderíamos
desmascarar o inconsciente, ter o controle das coisas,
e por consequência da própria vida. Triste ilusão!
Como bem vimos acima, o consciente, assim como o
pensar são funções do inconsciente, não podendo o
primeiro se sobrepor ao segundo.
Eis que a nossa limitação e o nosso instinto nos
aprisionam em uma realidade sonhada. E o que
fazemos ao acordar de um sonho? A nossa primeira
atitude é conectar-nos ao centro do sentir: abrimos os
olhos para sentir onde estamos e depois respiramos
aliviados. Só então pensamos.
“Existo, logo penso” é uma apologia ao “não-self”, o
convite da MedIntegral para uma mudança de
perspectiva, para uma existência em simplicidade e
plenitude. Para tanto, só precisamos estar conosco
mesmos, nesse lugar onde eu sinto que estou vivo, e
não onde eu penso que estou vivo (e logo existo). Eu
existo mesmo que eu não pense. Existir é uma
realização do inconsciente.
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PENSAR
“ A evolução tem uma direção: a complexidade.”
Ken Wilber
Vimos anteriormente que uma das características do
Homo sapiens é tentar, a partir da interpretação e da
reflexão, dar sentido aos fenômenos que observa e
vivencia. Mas como é que tudo isso acontece? Bem, o
processo reflexivo se desenvolve sobre uma estrutura,
a estrutura do pensar, a qual chamamos paradigma.
Trata-se de uma estrutura abstrata, composta de
valores, crenças e experiências do dia a dia.
O conceito de paradigma pode ser definido, de forma
geral, como modelo, uma referência, ou seja, um
conjunto de conhecimentos, opiniões ou crenças que
constitui a base para a compreensão de determinado
estudo, época ou sociedade.
Ao longo do desenvolvimento de sua espécie, o
homem criou diferentes formas de se relacionar com o
mundo e dar sentido aos fenômenos que permeavam
tanto o pensamento coletivo, quanto o individual.
Contudo, embora a evolução avance com o tempo, ela
não é linear. Não se trata de uma sucessão de
pensamentos e práticas que vão sendo abandonados e
substituídos por outros, mas de um conjunto
complexo em que os diferentes aspectos convivem
entre si.
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E aqui chamamos a atenção para um aspecto fundamental do
funcionamento do paradigma: sua existência confere ao
desenvolvimento do ser humano – ou do estudo, teoria,
época, enfim – uma estrutura paradoxal, pois, ao mesmo
tempo em que proporciona a criação das coisas também as
limita. Vejamos um exemplo simplificado dessa relação
paradoxal: Imaginemos a construção de duas casas, com duas
matérias primas diferentes. Para a primeira, teremos sólidos
blocos e, para a segunda, barro. Sem o material (que equivale
ao paradigma), não teríamos condições de construir as casas.
Por outro lado, cada um desses materiais nos dará
possibilidades e limitações específicas de criação (que
equivalem, no universo do raciocínio, aos pensamentos e
ideias, à política, à economia, ao comportamento, às crenças e
à cultura).
O foco do nosso olhar estará semprevoltado para a nossa
espécie. Dessa forma, recai sobre o ser humano e sobre aquilo
que o constitui enquanto tal. Trabalharemos, pois, com uma
noção específica, na qual o conceito de paradigma é definido
como sendo a estrutura da qual emergem todos os aspectos
do humano, sejam eles individuais ou coletivos. No caso dos
aspectos individuais, encontramos as formas de pensar,
estudar e refletir, a espiritualidade, as crenças e valores
individuais e o comportamento. Já nos aspectos coletivos,
encontram-se os modelos de relacionamento, as
crenças e os valores compartilhados, as estruturas
sociais e ambientais, assim como a cultura.
As reflexões acima nos levam a compreender que a
constituição da relação homem-mundo está, nos seus
mais diversos aspectos, fortemente marcada pela
presença de uma estrutura que sustenta a sua
existência. Com efeito, o pensamento médico, assim
como as demais áreas e construções humanas,
também é sustentado pelos paradigmas. Para
compreender a evolução do pensamento médico é
necessário, pois, entender a evolução dos paradigmas
que o sustentaram ao longo do tempo,
contextualizando-o em cada um deles (e, sobretudo,
observando a ordem, a disposição e a relação das
demais construções que lhe são paralelas, como os
valores sociais e os desdobramentos do pensamento).
De uma maneira geral, podemos considerar que a
história da espécie humana contou com a presença de
grandes transformações paradigmáticas no que se
refere ao desenvolvimento do pensamento. Tais
paradigmas ficaram conhecidos como Pré-
Modernismo, Modernismo e Pós-Modernismo, cada
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qual com seu modo particular de pensar, agir e se organizar.
PRÉ-MODERNISMO
Origem da civilização ocidental, o Pré-Modernismo se inicia
com os grande épicos (aproximadamente 1200 a.C a 700 a.C)
calçados em um pensamento mítico e uma cosmologia
plausível de personificação dos elementos e buscavam a
origem do Universo nas grande narrações de Deuses e heróis,
como fizeram Homero e Hesíodo.
“Filho de Laerte, de origem divina, Odisseu engenhoso, contra
vontade, por certo, não mais ficareis aqui em casa; mas é
preciso que empreendas, primeiro, outra viagem e que entres
à casa lúgubre de Hades e da pavorosa Perséfone,...”
(Homero, Odisséia)
“Do Caos nasceram a negra Escuridão e a Noite; e da Noite
nasceram o Éter e o Dia aos quais ela concebeu e pariu depois
de unir-se em amor com a Escuridão.” (Hesíodo, Teogonia,
123-126)
A partir daí o período pré-socrático de Tales de Mileto (624-
548 a.C.) foi marcado pelo surgimento da filosofia: do mito
passamos para a razão, e os grandes pensadores, com
apurado espírito de observação, dedicam-se a decifrar
os segredos do cosmo em termos de forças
impessoais, estudando a physis, ou natureza. Surge a
cosmologia: o homem busca determinar os princípios
da ordenação do mundo que o circunda pelo
argumento racional.
Na literatura não encontramos fragmentos de Tales de
Mileto, somente relatos dos seus sucessores, e,
segundo Diogenes Laércio, a máxima que constava no
pórtico de Delfos “Conhece-te a ti mesmo” é de sua
autoria.
Já Heráclito era chamado de o obscuro e amava o
paradoxo: “a maior parte das gentes não compreende
as coisas com que deparam, e tampouco sabem
quando aprenderam; mas a si mesmas parece-lhes o
contrário” (Fragmento B17).
Empédocles retrata a beleza das observaçoes: “Tal é
manifesto na massa dos membros mortais: pois ora
pelo Amor se reúnem em um, membros que o corpo
adquire quando a vida florescente está em seu ápice;
ora, ainda, apartados pelo perverso Conflito, cada qual
se distancia, errante pelas margens da vida.”
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Com Sócrates (469-399 a.C.) o interesse volta-se para as
questões humanas e o pensamento ocidental da Antiguidade
tem seu apogeu com Platão (427-346 a.C.) e Aristóteles (384-
322 a.C.). Ambos criticam o empirismo puro, anunciando a
aurora do modernismo. Passando por escolas diversas, tais
como o helenismo e a patrística, o Pré-Modernismo se
estende até o período renascentista, ou Renascimento, que
surge por volta dos séculos XIII e XIV.
Embora essas escolas, sobretudo as pré-socráticas,
apresentem muitas diferenças entre si, é possível identificar
um alicerce comum a todas elas: o pensamento (ou
paradigma) mítico, o qual pode ser explicado, de maneira
geral, como a forma de pensar as questões fundamentais do
homem a partir de dados externos. Com isso, o indivíduo pré-
moderno é sempre levado para fora de si, pois entende que
não tem controle algum sobre os fenômenos do mundo.
Vejamos como isso se manifestou na vida do homem.
Embora a Grécia tenha sido altamente evoluída politicamente
nesse período, cunhando a democracia verdadeira, nascida da
interação entre as pessoas comuns para evitar a tirania da
época..., em linhas gerais a percepção do homem sobre a
natureza e si mesmo era unificada, finita e pré-determinada:
tudo o que acontecia tinha uma razão de ser, embora essa
razão muitas vezes fosse conhecida somente por Deus. Isso
porque o período foi escasso de recursos e
instrumentos para a observação dos fenômenos
naturais. Tratava-se, coletivamente, de uma sociedade
marcada pelo poder monárquico sustentado por uma
sociedade agrícola e uma cultura tribal hierárquica.
Assim, a única maneira de construir o conhecimento
era a partir da experiência pessoal, motivo pelo qual o
homem pré-moderno adquiria conhecimento de forma
empírica e baseado em injunções. Este processo não
permitia a diferenciação do homem e da natureza e
consequentemente promovia uma consciência não
dissociada: o homem guiado pelo paradigma Pré-
Moderno crê-se como resultado de forças que não
consegue controlar, devendo, por conseguinte,
obedecer a essas forças.
Contudo, apesar da identificação entre o homem e a
natureza, havia uma clara separação entre o mundo
dos homens e o mundo dos céus, inclusive com teorias
que propunham diferentes leis para o funcionamento
dos dois. O mundo supralunar, referência que
Aristóteles usou para designar o universo dos céus, era
visto como inteligível e perfeito, constituído pela
quinta-essência, o éter. Já o mundo sublunar, dos
homens, era formado pelos quatro elementos, terra,
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fogo, água e ar. Na Cosmologia, a Terra ocuparia o centro do
Cosmos, por ser esta a sua posição natural.
Aristóteles também passou a sistematizar a ciência,
introduzindo o método indutivo-dedutivo, ocupando-se das
relações causais, demarcando as ciências e postulando o
status de verdade necessária dos primeiros princípios. Dono
de uma lógica implacável, Aristóteles foi, na verdade, o
começo da ciência como passamos a conhecê-la. Afinal, o seu
paradigma foi mantido por mais de um milênio.
Fundamentada nessa perspectiva, a medicina pré-moderna
via o homem como resultado da interação entre os elementos
formadores, cujo desequilíbrio resulta na doença. Vem daí o
princípio de trabalho dessas medicinas, hoje, denominadas de
tradicionais: se elas equilibrarem os elementos, o homem
volta a ter saúde. Enfocavam, pois, desequilíbrios e não
doenças, os quais eram diagnosticados através de um
meticuloso exame físico e intuitivamente e tratados com
elementos naturais já que não possuíam nem métodos mais
objetivos de observação (tais como exames laboratoriais),
nem medicamentos industrializados.
Hipócrates, o pai da medicina e colocava “faça do alimento o
seu remédio” e estudiosos vém a citação de Heráclito: A
natureza a si próprio ajuda (Fragmento 67 a) como
tipicamente hipocrática.
Pautadas nesse paradigma, os grandes exemplos das
medicinas que se mantiveram até hoje – nascidas há
cinco mil anos, diga-se de passagem – são as
chamadas medicinas tradicionais (chinesa, ayurvédica
e tibetana, por exemplo).
MODERNISMO
Repleto de revoluções, o Modernismo é marcado por
profundas mudanças no modo de vida humano, cujas
origens repousam em grandes fatores como as
revolucionárias descobertas científicas iniciadas com o
heliocentrismo, a sistematização de uma teoria do
método científico introduzida por Francis Bacon (1561-
1626), a separação de ciência e religião iniciada com o
pensamento de René Descartes (1596-1650), a
introdução da visão mecanicista da natureza
desenvolvida por Isaac Newton (1642-1727) , entre
outros. Juntos, esses aspectos deram origem a um
conhecimento mais estruturado e prático, baseado em
evidências e no racionalismo. Emergindo de um
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período histórico fortemente dominado pela teologia, o
homem moderno perde a inocência, não pode mais confiar
naquilo que vê, por isso precisa ampliar sua visão, que
culminará na Revolução Científica.
O grande protagonista da Revolução Científica do século XVII,
o heliocentrismo, de Nicolau Copérnico (1493-1543) e
Johannes Kepler (1571-1620), colocava o sol no centro do
universo, oferecia a possibilidade ímpar de demonstrar que o
reino dos céus e o reino dos homens não eram tão diferentes
quanto se postulava no Pré-Modernismo. No entanto,
Copérnico e seus contemporâneos não puderam demonstrar
suas ideias, pois faziam suas observações baseadas em
percepções sensoriais, as quais possibilitavam detectar a
mudança da posição dos astros no céu, mas não as mudanças
da Terra. Essa incapacidade de se colocarem no movimento
que observavam manteve a separação entre o reino dos céus
e do homem. Décadas mais tarde, Galileu Galilei (1564-1642),
com a invenção do telescópio, conduzindo à confirmação da
teoria heliocêntrica, fez ruir a visão aristotélica da separação
dos mundos supralunar perfeito e sublunar imperfeito, que
bem ou mal subsistira até então, ele demosntrou que o
supralunar não era nem um pouco perene e perfeito, e sim
sujeito a mudanças também.
A comprovação do heliocentrismo impunha a
unificação ontológica entre os mundos e,
inevitavelmente, trazia em seu encalço a unificação
epistemológica: uma vez unificado o mundo, o método
para se conhecer esse mundo deveria, pois, ser único,
do qual toda a experiência sensorial subjetiva
(injunções) estava eliminada. Este fato foi o
amotinador da Revolução Científica do século XVII,
que será o ponto de partida de Descartes que coloca
em dúvida a acuidade dos sentidos e propõe fiar-nos
na nossa capacidade de desenvolver idéias claras e
distintas, que nos são garantidas por Deus, desde que
façamos bom uso dessa capacidade como seres
pensantes que somos. Já os sentidos nos enganam:
segurando um pedaço de cera, observa: “enquanto
falo e me aproximo do fogo, o que permanecia de
gosto é exalado, o cheiro evapora, a cor se altera, a
forma é destruída, o tamanho aumenta, ele torna-se
líquido,...Certamente nada permanece, exceto uma
certa coisa extensa, que é flexível e móvel.” Descartes,
em Meditações)
Descartes, considerado o pai do pensamento
moderno, instituiu a dúvida: a afirmação da existência
de algo estava agora atrelada à prova dessa realidade.
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Ele critica a tradição e propõe uma reconstrução do saber pela
unificação do método que capacitaria a investigação científica
a produzir evidências a partir da dúvida metódica a ser
demolida sistematicamente pelas regras do pensamento
correto. Basicamente o seu método ordena a progressão do
conhecimento propondo estruturar o pensamento por meio
de quatro elementos: clareza e distinção no acolhimento da
verdade, de modo que toda dúvida seja afastada; análise
detalhada dos diversos aspectos do problema; ordenação dos
pensamentos num processo dedutivo, começando pelos mais
simples para desembocar nos mais complexos; síntese,
recuperando a visão do todo pela consideração e enumeração
de todos os elementos envolvidos.
Esse método conhecido como cartesianismo é o arcabouço do
determinismo, teoria filosófica que postula que todo
acontecimento é explicado pelas relações de causalidade, ou
seja pela relação entre um evento (causa) e sua consequência
(efeito), nas palavras de Descartes: “Tentei descobrir em
primeiro lugar os princípios gerais ou causas primeiras de tudo
que há. Ou de tudo que pode existir no mundo, sem
considerar nada que possa alcançar esta meta a não ser o
próprio Deus que criou o mundo, ou deduzindo-os de
qualquer fonte exceto certos germes de verdade que existem
naturalmente nas nossas almas.” (Descartes, em
Discurso sobre o Método).
Essa perspectiva foi aprofundada ademais pela visão
mecanicista desenvolvida por Newton que enxerga no
cosmo um mecanismo ordenado e previsível, em que a
função do todo é determinada pela soma das partes. E
se observadas e analisadas matematicamente
estabelecem leis que garantem a possibilidade de
antever a ação dos fenômenos naturais:
“Não devemos admitir mais causas das coisas naturais
do que aquela a um tempo verdadeiras e suficientes
para explicar as suas aparências.” ( Newton, em
Principia).
Logo, o mecanismo postula que todos os fenômenos
se explicam pela casualidade mecânica, esto é, a
relação linear de causa e efeito.
Como se vê, a perspectiva cartesiana é dualísta: separa
corpo e mente e explica a realidade de forma racional,
determinística, mecanicista e fragmentada. Por essa
nova visão, o universo é infinito, frio, linear e
composto por partículas.
20
O homem moderno descobre, portanto, que pode explicar
fenômenos que antes aceitava como sendo mera vontade de
Deus, ampliando, assim, sua capacidade de percepção e
observação. Acredita ainda que pode desvendar as leis que
regem o Universo, , cujo entendimento lhe traria não só o
domínio e posse da natureza, mas sobretudo o comando de
seu destino. A palavra de ordem passa a ser Razão. Um dos
movimentos filosóficos mais importantes desta época, o
Iluminismo, cujas principais influências advinham dos
conceitos concebidos na Revolução Científica, defendia a
razão como base primária da autoridade. É interessante
notar, por exemplo, que uma das grandes figuras do
Iluminismo, Immanuel Kant, sente-se pouco a vontade em
aceitar o empirismo puro como base do conhecimento.
Segundo ele, para que o conhecimento se produza, seria
necessária também a experiência cognitiva de um sujeito
pensante.
Esse novo homem - que amplia seus sentidos e ultrapassa a
barreira do mítico tornando-se ele mesmo criador das coisas –
promove, na esfera social, a Revolução Industrial, que por sua
vez culmina na mudança do sistema feudal para o
mercantilista: os campos foram abandonados e o comércio
fortalecido e expandido, originando uma sociedade industrial
que sustentava um regime político republicano e um
sistema econômico capitalista.
Na medicina, essa nova perspectiva substitui a
percepção intuitiva pela análise concreta : o ser
humano (visto agora como um aglomerado de células
e órgãos ) é dissecado, de forma que se adquire um
conhecimento profundo da anatomia. Os diagnósticos
passam a ser dados por meio de exames laboratoriais
e imagens que enfocam as doenças, cujos tratamentos
contam agora com a indústria farmacêutica. A
medicina ocidental convencional (que estudamos até
hoje) é o maior exemplo desse paradigma, interpreta
que todos os fenômenos que se manifestam no
humano são mecanicamente determinados e, em
última análise, essencialmente de natureza
fisicoquímica.
PÓS-MODERNISMO
“Pessoas como nós que acretidam na física, sabem que
a distinção entre passado, presente e futuro é
somente uma ilusão teimosamente persistente.”
Albert Einstein
21
No início dos anos 1950, a descoberta da relatividade de
tempo e espaço, postulada por Einstein em sua “Teoria da
Relatividade” e, posteriormente, a da não localidade da física
quântica, deflagraram discussões sobre as crenças pautadas
na suposta verdade absoluta alcançada pela razão do
Modernismo.
Na verdade, a formulação da Teoria da Relatividade advém da
própria compreensão de que referenciais diversos podem
oferecer visões perfeitamente plausíveis, mesmo que
diferentes, acerca de um mesmo fenômeno, nas palavras de
Einstein: realidade é meramente uma ilusão, ainda que muito
persistente. Formula-se, assim, o princípio segundo o qual o
resultado da observação está estritamente ligado ao ponto
pelo qual o observador se observa. Essa nova noção relativiza
a verdade absoluta do Modernismo e legitima diferentes
perspectivas de ver e interpretar o mundo.
O Pós-Modernismo maximiza essa noção, propondo que não
existe verdade, só interpretações, pensamento que ancora
seu pluralismo teórico. Partindo de tal concepção, o universo
é relativo: não existe por si só, depende de um observador,
sendo, portanto, efêmero, descontínuo e sistêmico.
No que se refere ao social, o Pós-Modernismo é marcado pelo
capitalismo contemporâneo pós- industrial, que privilegia a
produção de serviços e informações sobre a produção
material. Assim, a comunicação e a indústria cultural,
assentadas no desenvolvimento tecnológico e na
informática, exercem um papel fundamental na
disseminação das novas ideias e promovem a
globalização e a democracia.
Embora o Pós-Modernismo traga novos modos de
pensar e ver o mundo, ele mantém a sua estrutura no
modelo de base do Modernismo. Por outro lado,
dialoga com o Pré-Modernismo pois, semelhante à
interação entre os cinco elementos, o Pós-
Modernismo também leva em consideração a relação
e a interação entre as coisas, porém de maneira mais
concreta e organizada. Começam a ter espaço aqui as
medicinas complementares, como a ortomolecular,
que cuida do sistema bioquímico em sua interação
com o meio ambiente.
CENÁRIO ATUAL
Ainda que os paradigmas mostrem uma evolução
cronológica, estão longe de ser estruturas históricas
estanques e ultrapassadas; ao contrário, são flexíveis e
22
coexistem, atualmente. Além disso, eles exercem um papel
central no desenvolvimento da consciência, sendo a
plataforma para o pensamento e o comportamento. Será que
você já tentou se benzer, fazer exames laboratoriais e
tratamentos alternativos alguma vez?
A simultaneidade paradigmática fomenta o conflito e conduz à
negação dos movimentos entre si. Conviver não é fácil nem
para os paradigmas... O Pré-Moderno critica o materialismo
do Modernismo que por sua vez censura os sistemas do Pós-
Modernismo. Este se opõe à verdade reducionista e à
compartimentalização do Modernismo.
Embora a humanidade tenha se servido, até então, dessas
ferramentas para solucionar os seus problemas, atualmente
elas se mostram insuficientes na busca de uma saída viável
para o cenário socioecológico da era global, no qual a Terra
apresenta mudanças climáticas, quase 7 bilhões de pessoas
povoam um planeta que, claramente, não oferece recursos
para a sustentação do modo de vida atual, oitocentos e
cinquenta milhões de pessoas sofrem com a fome e três
bilhões vivem com menos de um dólar por dia.
Tais desordens e a emergente falência dos órgãos
institucionais de controle social são ameaças que rondam a
estabilidade de nossos sistemas. A crise atual não é uma
simples crise de lideranças, de organizações e da
economia, é também a ruína de uma estrutura
sociocultural. Tempos em que nossos desafios não são
apenas individuais, mas coletivos de todas as ordens.
Esse panorama é o berço da manifestação de um novo
paradigma que, a partir da compreensão de que todos
os pontos de vista são genuínos e parciais, concilia as
suas verdades, destacando as qualidades de cada um e
oferecendo-lhes um lugar legítimo, arranjando-as lado
a lado em um único mapa. Temos agora um modelo
translógico de considerar o mundo: o paradigma
integral.
A Tabela 1 permite a observação comparativa das
principais características que definem cada um dos
períodos tratados acima.
PENSAMENTO MÉDICO
Vejamos um pouco mais sobre a influência dos
paradigmas no desenvolvimento do pensamento e das
práticas médicas.
23
Na pré-modernidade, o homem sente que faz parte de algo, a
ideia que perpassa todos os aspectos do pensamento na
época é a da unificação harmoniosa do homem com a
natureza. Filósofos como Empédocles, Platão e Aristóteles
explicavam que o universo era constituído por água, terra,
fogo, ar e éter. A medicina pré-moderna, por sua vez,
baseava-se nessa concepção para explicar tanto a Fisiologia
como a Patologia. Para os médicos daquela época, a doença
era decorrente do desequilíbrio entre os elementos e
denotava uma instabilidade da união entre o homem e a
natureza, devendo assim ser tratada com terapias que
promovessem o equilíbrio inato e cujos métodos estivessem
de acordo com as leis da natureza. Trata-se da Fitoterapia, dos
métodos de desintoxicação e relaxamento e de dietas.
As grandes representantes desta prática são as medicinas
orientais, como a chinesa e a ayurvedha, denominadas
medicinas tradicionais. Por descenderem de tradições, elas
são representadas pelos sistemas médicos utilizados
secularmente.
Já a medicina convencional (termo utilizado para designar a
prática médica desenvolvida no ocidente), está alicerçada no
materialismo, na objetividade, na fragmentação e na lógica do
paradigma cartesiano, mecanicista. Compreende o homem
como um conjunto de partículas que formam células, órgãos e
sistemas, cujo funcionamento apropriado garante a
saúde. A doença, nesse sentido, é o resultado do mau
funcionamento de tais estruturas em decorrência de
fatores genéticos, traumáticos, infecciosos,
ambientais, comportamentais, desconhecidos, entre
outros. O papel do médico, a partir da visão deste
paradigma, é corrigir o erro através de tratamentos
químicos ou cirúrgicos, aliados (ou não), que têm
como propósito a cura ou o controle da doença.
A seguir, caro leitor, gostaria de contar-lhe um pouco
mais sobre a medicina convencional, já que ela é
predominante no nosso cotidiano.
Embora a Organização Mundial da Saúde (OMS) defina
a saúde como um estado de bem-estar físico, mental e
social, a medicina convencional vem enfocando muito
mais as doenças do que os demais aspectos implícitos
na orientação da instituição. É inegável a importância
do avanço da ciência médica, que, ao longo dos
últimos anos, aperfeiçoou inúmeros processos para
ampliar a sobrevida humana, desenvolveu métodos de
diagnósticos que possibilitam o tratamento precoce (e,
consequentemente, a cura) de várias doenças,
aprimorou técnicas cirúrgicas, permite a criação de
famílias com a fertilização in vitro e outros incontáveis
24
benefícios para a vida do homem. Por outro lado, não vimos
ainda a solução, através da medicina, para certas doenças
crônicas, moléstias infecciosas (como a AIDS), enfermidades
degenerativas (como o Alzheimer), vários tipos de cânceres,
nem a mortalidade infantil. Tampouco oferece uma estrutura
eficiente para a perpetuação da saúde, uma vez que o foco de
suas pesquisas são as doenças. Como resultado, temos
inúmeros especialistas em enfermidades e raríssimos em
saúde.
No caso das doenças crônicas, além de representarem um
problema para os portadores, também assim se apresentam
para o sistema de saúde que, com, o intuito de controlá-las e
gerar qualidade de vida, realiza grandes esforços e
investimentos no acompanhamento médico-laboratorial e na
distribuição de medicamentos em longo prazo.
No esforço para atender a estas necessidades, a medicina
moderna buscou conhecer o perfil do ambiente e dos hábitos
que geram as enfermidades. Para tanto, recorreu ao método
da epidemiologia: estudo quantitativo da distribuição dos
fenômenos de saúde e doença, relacionando-os com seus
fatores condicionantes e determinantes na população
humana, tais como fatores ambientais, socioculturais, idade,
sexo, entre outros. Eis alguns resultados:
Publicados pelo Ministério da Saúde em 2008, os
dados sobre a mortalidade e suas causas nas
diferentes faixas etárias demonstram que o estilo de
vida, a alimentação, o ambiente em que se vive e o
poder econômico são aspectos indubitavelmente
importantes no desenvolvimento de doenças crônicas,
fato que já havia sido constatado no caso das doenças
infecciosas.
No Brasil, 74,7% das causas de morte são por doenças
crônicas. Ao sedentarismo se atribui 52% dos quadros
de hipertensão arterial, 48% das afecções
cardiovasculares, 14% dos quadros de diabetes, 16%
dos casos de câncer de cólon e 10% das manifestações
de câncer de mama.
Já a obesidade é responsável por 60% dos casos de
diabetes tipo dois, 25% de todos os cânceres, 1/5 dos
quadros de acidente vascular cerebral, 30% das
doenças coronarianas e 40% das manifestações de
hipertensão. A saúde mental (como depressão e
ansiedade, entre outros) é responsável por cinco em
cada dez enfermidades no Brasil.
Outro dado alarmante: causas externas, tais como
agressões e acidentes, são responsáveis por 38% dos
25
óbitos na faixa etária de 15 a 49 anos. Esse número aumenta
significantemente quando é restrito à faixa etária de 15 a 24
anos, na qual representam 78% das causas de óbito. Demais
causas externas ocupam o quarto lugar dentre as causas de
morte do país.
A análise destes resultados evidencia que quase de três
quartos da população brasileira morre de doenças crônicas, as
quais têm, entre seus fatores determinantes, forte estímulo
da falta de exercício e a obesidade. No caso da população
jovem, intensificam-se os riscos de acidentes e da exposição à
violência.
A partir dos dados expostos acima, podemos observar – e
quero chamar a sua atenção para isso! – que, ao lado de
fatores genéticos, os aspectos socioambientais e culturais são
significativos para o desenvolvimento das enfermidades
supracitadas. Desta maneira, a epidemiologia de doenças não
transmissíveis demonstra a importância do enfoque na
qualidade de vida, na promoção da saúde, na comunidade e
no ambiente para a prevenção das moléstias crônicas.
Essa demanda vem a ser parcialmente atendida pela medicina
convencional. Entretanto, os dados enfatizam a urgência de
um modelo mais amplo, abrangente e inclusivo, que admita a
relação entre as dimensões emocional, mental, biológica,
ambiental, assim como a interferência da cultura nas
crenças e valores do indivíduo. Esse modelo mais
abrangente já existe, falamos agora da medicina pós-
moderna, na qual o homem é percebido não só como
o resultado de seu funcionamento, mas também da
interação entre corpo e sua relação com a cultura, a
estrutura social e o ambiente. O homem, aqui, é parte
de um sistema.
Nesse formato, o sistema médico deixa de abordar a
enfermidade e passa a abordar o indivíduo com suas
necessidades. Uma nova linguagem para o diálogo foi
descoberta e o médico se torna também um instrutor
de comportamento. O atendimento passa a ser
multidisciplinar e o tratamento objetiva a qualidade de
vida, além da cura e do controle da doença. Este é o
sistema praticado pela medicina integrativa. Trata-se
de um sistema contemporâneo, nascido no final dos
anos oitenta, e fundamentado em um trabalho
transdisciplinar que integra efetivamente as várias
formas terapêuticas em seu receituário. Nela, o
paciente pode ser tratado, ao mesmo tempo, com
remédios alopáticos, shiatsu, meditação, fitoterapia e
acupuntura, por exemplo.
26
Não obstante, o princípio sistêmico da medicina pós-moderna,
que leva em consideração os vários aspectos da vida humana
e reconhece a sua influencia na saúde e doença, ainda cuida
de sintomas e do indivíduo sem levar em consideração a sua
inserção cultural e social, mesmo que seu pluralismo teórico
ofereça uma abordagem multidisciplinar.
PENSAMENTO MÉDICO INTEGRAL
O paradigma integral proporciona uma investigação total do
ser humano, apresentando todos os seus aspectos subjetivos
e objetivos “lado a lado”, em um mapa ímpar. Em uma visão
translógica, exibe todas os recursos terapêuticos e meios para
o desenvolvimento da consciência, com a finalidade de
promover a saúde e o bem-estar contínuo. E por bem-estar
contínuo, faço menção ao mais amplo e profundo bem-estar,
que está além do bem-estar físico ou a readaptação do
indivíduo aos moldes da sociedade. Refiro-me ao sentido e ao
valor de ser Humano, de conhecer sua mente e recursos e
utilizá-los para cultivar a sabedoria e a consciência.
Nesse modelo, o paciente deixa de ser passivo e passa a atuar,
informando-se sobre o seu estado de saúde e refletindo sobre
os seus padrões psíquicos e comportamentais. Esse processo
o capacita para agir em prol do seu bem-estar em
vários aspectos, realizar escolhas mais sábias,
personalizadas e originais; perceber-se como um
segmento de uma teia que permeia e conecta tudo e
todos; utilizar os seus recursos de forma mais eficiente
e sustentável e, por fim, modificar o seu estilo de vida.
O médico, por sua vez, vai além de sua atuação já
conhecida de receitar medicamentos e orientar
comportamentos de prevenção a doenças. Ele age
como um coach* promovendo a reflexão e solicitando
a consciência do indivíduo para que ele próprio seja o
instrumento de mudanças em seus hábitos, a fim de
alcançar o melhor estado de saúde possível na
estrutura na qual ele se encontra e encontrar o bem-
estar.
A Tabela 2 permite a observação comparativa das
principais características que definem cada um dos
períodos tratados acima.
*Coach –termo em inglês que significa treinador.
27
TABELA -1
ASPECTO/PARADÍGMA PRÉ-MODERENISMO MODERNISMO PÓS MODERNISMO INTEGRAL
REGISTRA MÍTICO/SUBJETIVO REAL/OBJETIVO REAL/OBJETIVO SUBJETIVO/OBJETIVO
INSTRUMENTOS EXPERIÊNCIA PESSOAL INSTRUMENTOS
CONCRETOS: MICROSCÓPIO, TELESCÓPIO...
INSTRUMENTOS E ÍNDICES
EXPERIÊNCIA PESSOAL, INSTRUMENTOS E ÍNDICES
TIPO DE
CONHECIMENTO EMPIRISMO RACIONALISMO EMPÍRICO
RACIONALISMO EMPÍRICO
INCLUI A CONTEMPLAÇÃO
BASEA-SE EM INJUNÇÕES EVIDÊNCIAS EVIDÊNCIAS EVIDÊNCIAS E EXPERIÊNCIAS
INDIVIDUAIS PARADÍGMA HOLÍSTICO ATOMISTA SITÊMICO GLOBAL MÍSTICO FÍSICA FENOMENOLÓGICA MECÂNICA RELATIDADE/QUÂNTICA TEORIA INTEGRAL LÓGICA MONOLÓGICO DIALÓGICO DIALÓGICO TRANSLÓGICO PENSAMENTO MÍTICO CARTESIANO SISTÊMICO INTEGRAL
TEORIAS DEUS É O CRIADOR E
GOVERNADOR DO UNIVERSO
TEORIA MECANICISTA
TEORIA DO CAOS, TEORIA DOS SISTEMAS
DINÂMICOS, AUTOPOIESE E TEORIA
DA COMPLEXIDADE
TEORIA INTEGRAL
TABELA -1
ASPECTO/PARADÍGMA PRÉ-MODERENISMO MODERNISMO PÓS MODERNISMO INTEGRAL
SOCIEDADE AGRÍCOLA INDUSTRIAL TECNOLÓGICA DIGITAL
PRESPECTIVA NÃO RACIONAL
RACIONALIDADE PERSPECTIVA
REDE LÓGICA NÃO PERSPECTIVA
TRANSRACIONAL
PODER MONÁRQUICO REPÚBLICA DEMOCRACIA GLOBALIZAÇÃO CULTURA TRIBAL / HIERÁRQUICA CAPITAL GLOBAL GLOBAL E INTEGRAL
CONSCIÊNCIA NÃO DISSOCIADA DISSOCIADA FRAGMENTADA DISSOCIDA
FRAGMENTADA INTEGRADA
MATRIARCAL HOLÍSTICO PATRIARCAL ANALÍTICO SISTEMÁTICA INTEGRADA
MÁXIMAS VERDADE NÃO EXISTE
VERDADE, SÓ INTERPRETAÇÕES
TUDO É VERDADE E TAMBÉM É PARCIAL
VISÃO DE MUNDO INDIFERENCIADO DIFERENCIADO DIFERENCIADO INTEGRADO EXTREMO UNIFICADO DISSOCIADO DISSOCIADO COMPLICADO
28
29
ASPECTO/PARADÍGMA PRÉ-MODERENISMO MODERNISMO PÓS MODERNISMO INTEGRAL
PRONOME EU ELE/ELES ELE/ELES EUS, ELES E NÓS
MOVIMENTO INDIFERENCIAÇÃO COMPARTIMENTALIZAÇÃO CONTEXTUALIZAÇÃO INTEGRAÇÃO
OBSERVADOR E OBSERVADO
NÃO SEPARA SEPARA INCLUI INTEGRA
PAUTADO NA EXPERIÊNCIA INDIVIDUAL
VERDADE OBJETIVA E MENSURÁVEL
INCLUSÃO DO COLETIVO: A CULTURA E
ESTRUTURAS SOCIAIS
INTEGRAÇÃO DAS EXPERIÊNCIAS INDIVIDUAIS, VERDADES
OBJETIVAS, INTERSUBJETIVIDADE CULTURAL E A
INTEROBJETIVIDADE SOCIAL
ASPECTOS QUE IGNORA
OBJETIVO SUBJETIVO INDIVIDUAL /
EXPERIÊNCIAS INDIVIDUAIS E COLETIVAS
SUBJETIVIDADE INDIVIDUAL
AQUILO QUE NÃO PODE VER AINDA
ASPECTOS QUE ABORDA
SUBJETIVO INDIVIDUAL OBJETIVO INDIVIDUAL E
COLETIVO
SUBJETIVO COLETIVO E OBJETIVO COLETIVO
OBJETIVO E SUBJETIVO, COLETIVO E INDIVIDUAL
TABELA -1
30
MEDICINA PRÉ-MODERNA MODERNA PÓS-MODERENA INTEGRAL
PRÁTICA
MEDICINAS TRADICIONAIS E
CIRUGIÕES BARBEIROS MODERNA
HOMEOPATIA, ANTROPOSOFIA, INTEGRATIVA
INTEGRAL
ESSENCIALMENTE INTUITIVA ANALÍTICA SISTÊMICA GLOBAL
ANATOMIA
BASICAMENTE INEXISTENTE
CONHECIMENTO PROFUNDO
CONTEXTUALIZA O INDIVÍDUO NA CULTURA
INCLUI AMBIENTE E ESTRUTURAS SOCIAIS
MÉTODOS DIAGNÓSTICOS
INTUITIVOS/MÍTICOS
EXAMES LABORATORIAIS, DE
IMAGENS E ANATOMIA
PATOLÓGICA
EXAMES LABORATORIAIS, DE IMAGENS E ANATOMIA
PATOLÓGICA
INTEGRA MÉTODOS MODERNOS E ÍNDICES DE
FELICIDADE, SATISFAÇÃO E QUALIDADE DE VIDA
PARADÍGMA HOLÍSTICO CARTESIANO SISTÊMICO INTEGRAL
O SER HUMANO É UNIFICADO COM O
UNIVERSO UM AGLOMERADO DE
CÉLULAS E ÓRGÃOS
UM SER COMPLEXO COM MUITAS CÉLULAS, CRENÇAS E
VALORES, INSERIDO EM CONTEXTO CULTURAL
VÁRIOS ASPECTOS INTEGRADOS - INTERIOR
INDIVIDUAL E COLETIVO E EXTERIOR INDIVIDUAL E
COLETIVO - QUE OCORREM AO MESMO TEMPO AGORA
MEDICAMENTOS
PLANTAS, RAÍZES E MINERAIS
INDÚSTRIA FARMACÊUTICA
INDÚSTRIA FARMACÊUTICA E DE MANIPULAÇÃO
TODOS
31
MEDICINA PRÉ-MODERNA MODERNA PÓS-MODERENA INTEGRAL
FOCO DESEQUILÍBRIO DOENÇAS DOENÇA E PACIENTE SER HUMANO
VISA EQUILÍBRIO
CURA AUMENTO DA
SOBREVIDA
CURA, AUMENTO DA SOBREVIDA E QUALIDADE DE
VIDA
SAÚDE, BEM-ESTAR E DESENVOLVIMENTO DE
CONSCIÊNCIA
ATENDIMENTO GERAL ESPECIALIDADES MULTIDISCIPLINAR INTEGRADO
TRATAMENTO FITOTERAPIA,
VENTOSAS, DIETAS E COMPORTAMENTO
MEDICAMENTOS QUÍMICOS E CIRURGIAS
MEDICAMENTOS, CIRURGIAS, FITOTERÁPICOS, HOMEOPATIA,
TRATAMENTOS SUTIS COMO REIKI
CONSTRUÍDO JUNTAMENTE COM O INDIVÍDUO, LEVANDO EM CONSIDEREÇÃO TODAS AS POSSIBILIDADES - COACHING
DE VIDA
TRATA TRATA O DESEQUILÍBRIO TRATA O ÓRGÃO E A
DOENÇA TRATA O INDIVÍDUO E A
DOENÇA
CUIDA DO INDIVÍDUO E APRESENTA NOVAS
PERSPECTIVAS PARA PENSAR A DOENÇA, SI PRÓPRIO E O
MUNDO
TABELA -2
32
MEDINTEGRAL
“Toda a experiência humana possui quatro aspectos
fundamentais, e se ignorarmos qualquer um deles,
deixaremos de contar com uma parte importante da
estória. O que acarretará uma visão parcial,
consequentemente traçaremos soluções, também,
parciais.”
Ken Wilber
Como vimos até agora, a medicina convencional é
classicamente uma abordagem biológica. Sua atuação
junto aos pacientes é baseada na doença, sobretudo
corporal, e os tratamentos por ela prescritos são, em
geral, também pautados no aspecto físico, como cirurgias,
drogas e mudança de comportamento.
Entretanto, este quadro está mudando. Segundo a revista
American Medical News, em publicação de outubro de
20111, atualmente 42% dos hospitais americanos
oferecem terapias alternativas. Quatro anos antes, a
National Health Interview Survey já havia realizado uma
pesquisa sobre o uso de medicina complementar e
alternativa pela população americana, constatando que
trinta e oito por cento dos americanos adultos utilizam
esse serviço2. Na Europa, já mais há de cem milhões de
pessoas usando o sistema alternativo de saúde em algum
momento de sua vida3.
Este enorme interesse por cuidados complementares,
paralelamente ao surgimento de novas disciplinas como a
psiconeuroimunologia – e até mesmo a medicina
integrativa – ,evidenciam uma nova percepção quanto ao
conceito de saúde, na qual as emoções, a atitude
33
psicológica e a intenção possuem papel crucial tanto no
processo de doença quanto no de cura.
Nesse contexto, dois aspectos são de suma importância.
De um lado está a aceitação de que aspectos subjetivos
interferem nos níveis de saúde e, de outro, o fato de que a
consciência individual é intrínseca aos valores, crenças e
visão de mundo, e isso diz respeito diretamente ao modo
de vida das pessoas e, consequentemente, à saúde. Disso
decorre, por exemplo, maneira como um indivíduo
desenvolverá a sua percepção específica acerca de uma
determinada doença, tomando-a como preconceito ou
compaixão, percepção essa que o influenciará
profundamente na maneira de lidar com o sintoma e,
portanto, em sua evolução e prognóstico. Nesse sentido,
basta lembrarmos que muitos estudos mostram
consistentemente que pacientes com câncer, integrados a
grupos de apoio, vivem mais e melhor do que aqueles que
não contam com tal suporte, pois o território cultural em
que se encontram inseridos rege os processos de saúde e
doença. Tal suporte pressupõe a interação de fatores
intersubjetivos, como a comunicação entre paciente,
médico e a equipe de saúde; as atitudes familiares e de
amigos; a aceitação e valores culturais da doença.
Do mesmo modo, fatores socioeconômicos e materiais,
raramente incluídos como aspectos de promoção de
saúde ou doença, também causam grande impacto. No
Brasil, por exemplo, o sistema de segurança social mostra-
se altamente precário e a violência urbana atinge índices
alarmantes. Assim, quando analisamos a mortalidade,
percebemos que 78% dos óbitos de jovens entre 15 e 24
anos deve-se às causas externas como agressões e
acidentes. Entretanto, a segurança pública não é
considerada como um aspecto da saúde. Na esfera
socioambiental incluem-se fatores como economia,
seguro, saúde pública, saneamento básico e toxinas
ambientais.
A Medicina Integral, buscando uma apreensão ampla da
saúde e a construção de um modelo médico muito mais
compreensivo e efetivo, considera, em cada situação, a
incidência destes outros fatores no processo de avaliação
dos casos. A partir da coleta das informações, estes
aspectos são dispostos em um único gráfico.
Obtém-se, dessa forma, aquilo que designamos como os
“quadrantes” no processo e no gerenciamento da saúde.
Os quadrantes, por sua vez, apresentam níveis ou
camadas, sendo eles o físico, o emocional, o mental e o
espiritual, que se referem a todas às “linhas” do modelo
34
Integral de saúde. Essa orientação pauta-se na
compreensão de que as diferentes perspectivas
apresentam ângulos de observação também diversos,
sendo, portanto, mais rico e eficaz reuni-las em um único
mapa, ampliando assim as chances de uma visão mais
abrangente sobre um aspecto particular.
Um bom exemplo disso é a estória dos cegos encontrando
o elefante. Quem não conhece? Cinco cegos encontraram
um elefante. Cada um deles tocou uma parte do animal.
Um tocou a tromba, outro as patas, outro o rabo, outro as
orelhas e outro ainda a barriga. Ao se encontrarem,
começaram a definir o elefante e cada qual tinha uma
perspectiva do animal. O que tocou o rabo dizia que ele
era algo bem fininho e com o pelo grosso; aquele que
tocou na barriga discordou dizendo que ele era algo muito
grande, duro e redondo; o que tocou a pata concordou
com o que achara o animal redondo e duro, mas
discordou daquele que o achou muito grande; o cego que
tocou a tromba discordou daquele que avaliou o elefante
duro e grande, mas concordou com o que o achou
redondo. E, por fim, quem tocou na orelha discordou de
tudo e disse que ele era algo fino e com uma grande
superfície. Qual deles tem a verdadeira descrição do
elefante? Nenhum, e todos ao mesmo tempo. Certo?
Utilizamos essa estória como uma metáfora da
fragmentação versus a visão ampla. Essa é a grande
vantagem da abordagem integral: a sua amplitude. Ela
pode incluir e organizar as diversas e diferentes
perspectivas do elefante e com isso chegar mais perto
daquilo que o elefante realmente é.
Diferentemente do que ocorre nas demais formas de
práticas médicas, a Medicina Integral não se fixa apenas
em um determinado aspecto da saúde. Ao contrário, em
seu processo de avaliação busca-se a inclusão de todos os
aspectos envolvidos e suas terapias restauradoras seguem
o mesmo princípio. Baseadas na concepção de que a
estabilidade do corpo está amalgamada às demais
dimensões do ser, tudo se interliga e tudo é motivo de
interesse para o médico integral, que procura, de maneira
inclusiva, a conexão entre as inúmeras perspectivas de
saúde e bem-estar existentes, permitindo a escolha de
uma delas. Essa ampliação de horizontes cria uma matriz
terapêutica ao mesmo tempo integrada e personalizada e
aproveita o processo de cura para o desenvolvimento de
recursos para a evolução, ou seja, para o crescimento
pessoal e ampliação de consciência.
Essa ampliação da consciência é possibilitada justamente
por meio da personalização das modalidades de cuidados
35
de saúde, intervenções e práticas, baseadas nas
necessidades individuais de cada paciente. O médico
americano David Tusek, em seu artigo publicado em 2009,
no blog de Ken Wilber, argumenta que, em linhas gerais,
o médico integral tenta responder à questão de como o
nível de consciência afeta o modo pelo qual o paciente
responde a uma determinada doença e busca, a partir
dessa constatação, otimizar a terapia e a cura. Tusek ainda
explica que, nesse contexto, alguns conceitos
intrinsecamente ligados ao processo precisam ser
compreendidos: de um lado a diferença entre saúde e
cura e, de outro, entre doença aguda e crônica.
a) Saúde e cura
A saúde é um estado de estabilidade relativa da simetria e
equilíbrio mente e corpo. No estado saudável, o
organismo desfruta de um equilíbrio adequado ao estágio
de desenvolvimento específico do indivíduo, dentro e
entre todas as dimensões do humano (subjetivas,
objetivas, individuais e coletivas).
A cura, por sua vez, implica necessariamente em
mudança, muitas vezes radical. Quando o organismo
adoece, ele é desafiado a se transformar: quando há um
ferimento na pele, por exemplo, as suas camadas se
reorganizam para transformar a ferida em cicatriz. Nesse
processo de cura estão envolvidas todas as dimensões
humanas, e ele pode ser rápido, indolor e completo ou
então ser marcado por dor, infecção ou deiscência e,
independente do resultado obtido, aquela área nunca
mais será a mesma. Ou seja, a mudança definitiva do
tecido está relacionada não apenas com a gravidade do
dano inicial, como também com as dimensões durante o
processo de cicatrização. Em alguns casos, o resultado do
processo de cura é o fortalecimento do organismo, isto é,
ele se torna melhor adaptado, como quando desenvolve
anticorpos contra um vírus. Em outros casos, o processo
pode ser pobre, interrompido ou marcado por
complicações, levando inclusive à morte.
De toda forma, o processo de cura envolve mudança, por
isso a doença pode ser considerada um ponto de
alavancagem para a transformação, ou seja, a cura é um
processo evolutivo, mais do que um retorno à
homeostase. A missão da MedIntegral é aproveitar este
potencial transformador intrínseco à doença e promover a
evolução do organismo em todas as dimensões.
Vejamos dois exemplos. No primeiro caso abordaremos os
aspectos individuais. No segundo, serão enfocados os
aspectos coletivos.
36
No primeiro caso, podemos citar um processo verificado
ao longo da cura de um trauma ortopédico. No que se
refere ao aspecto emocional, o organismo pode alcançar
maior resiliência, enquanto que no plano espiritual esse
resultado pode se traduzir como uma experiência de
sensação de paz. O que queremos dizer aqui é que o
desenvolvimento da resiliência e da paz podem ser
concomitantes à reabilitação física na fisioterapia, ou seja,
existe uma simultaneidade no processo. A mudança não
acontece somente no aspecto físico, ela é acompanhada
de mudanças em todos os quadrantes, simultaneamente.
Foi o que aconteceu com um paciente meu, um jovem de
24 anos com uma lesão na vértebra cervical causada por
uma doença infecciosa, a tuberculose. A doença o levou a
paraplegia no aspecto físico, ao apavoramento emocional,
quase uma depressão, ao isolamento social, a vários
julgamentos culturais em relação à doença, e tudo isso
provocou ainda o desespero da família.
Durante o processo de cura, além dos medicamentos e
fisioterapia, fiz um vínculo familiar profundo. Passava
horas conversando com ele e a família, jogando, lendo e
estimulando-o a ver perspectivas diferentes daquela
situação. Todo o processo demorou cerca de três anos e
meio: seis meses de internação e três anos para a
recuperação quase total do andar. Junto à reabilitação,
este jovem desenvolveu maior resiliência, atingiu um nível
de compreensão da vida muito mais abrangente do que
experimentava anteriormente, passou a valorizar o seu
tempo sozinho, com amigos e com a família, além de
planejar a realização do seu sonho de morar fora e
concretizá-lo em um ano, com a assertividade que
“ganhou” no processo de cura.
Nos aspectos coletivos, podemos utilizar a visão das
pessoas que sofrem de uma determinada condição para
melhorar a salubridade dos ambientes, o acesso a vários
recursos salutares ou a melhoria das políticas de
assistência à saúde em geral. É o que acontece com a
dengue, por exemplo. Todos nós estamos desenvolvendo
uma cultura antidengue em nossas casas ao não deixar
água parada, enquanto todos os profissionais de saúde
(não só os infectologistas) estão sendo treinados para o
diagnóstico e o tratamento, além das condições de
atendimento em qualquer hospital que estão sendo
criadas atualmente. O mesmo aconteceu com a AIDS. Na
década de 90, só os hospitais de referência eram
equipados e possuíam profissionais treinados para cuidar
desses casos, e a mortalidade era enorme. Dez anos
depois, todos os hospitais tratam de AIDS e a mortalidade
37
é muito baixa. Isso porque aprendemos coletivamente
com a epidemia e nos fortalecemos para preveni-la,
enfrentá-la e cuidá-la.
b) A diferença entre doença aguda e crônica e o impacto
do estilo de vida na saúde.
A doença aguda é um episódio pontual e, embora ela
aconteça em um contexto que pode ser modificado e
possua fatores que a favorecem, geralmente tem duração
definida. O objetivo do tratamento é a recuperação e o
retorno ao nível anterior de funcionamento do organismo,
por isso não tem uma conotação de cura profunda, ainda
que a recuperação envolva todas as dimensões.
Em contraste, a doença crônica tem um maior impacto
sobre a saúde e sua manifestação, desenvolvimento e
evolução estão fundamentalmente enraizadas no estilo de
vida do indivíduo que a manifesta. O estilo de vida envolve
aspectos emocionais, mentais, espirituais,
comportamentais, físicos, culturais, sociais e ambientais e
por isso pode ser definido como uma qualidade resultante
da interação e integração de todas essas dimensões. A
modificação do estilo de vida forma a base de qualquer
intervenção, tanto para prevenir quanto para tratar
doenças crônicas. Nessa perspectiva, os médicos deveriam
ser especialistas em lidar com esta questão. Contudo,
nada pode ser mais irreal. Infelizmente não estamos
preparados para lidar com essa situação.
Disso concluímosque a saúde possui claramente três
estados básicos: a ausência de doença, a doença aguda e a
doença crônica4. Esse princípio está completamente
incorporado no modelo da MedIntegral, que oferece
então tratamentos e práticas distintos para os diferentes
estados de saúde do indivíduo, inclusive para o estado de
ausência de doença, momento ideal para o trabalho de
prevenção e de promoção de saúde e atingir a
integralidade do bem estar (as doenças crônicas estão
intimamente ligadas ao estilo de vida).
Em linhas gerais, os tratamentos e práticas propostos pela
MedIntegral estão organizados três pilares de atuação, a
clínica médica integral, a promoção de bem estar e as
práticas de integração.
O modelo que sustenta a metodologia da medIntegral é o
AQAL5, da saúde - e que passamos a apresentar mais
detalhes para compreender a implementação do modelo
na vida real.
38
AQAL DA SAÚDE
O modelo médico proposto pela Medicina Integral, em
que todos os aspectos envolvidos na investigação da
saúde estejam presentes, é denominado Mapa Integral ou
Sistema Operacional Integral (linhas, níveis, tipos, estados
e quadrantes). Tal designação é a denominação em
português do AQAL da saúde, que por sua vez indica a
abreviação de all quadrantes all levels, ou seja, todos os
quadrantes e todos os níveis.
Para uma idéia mais concreta do Mapa Integral, podemos
fazer uma analogia com uma máquina fotográfica. Em
uma máquina fotográfica existem várias maneiras de
flagrar o objeto, as lentes, os filtros, a velocidade, os
materiais da lente, a abertura da lente. Comparando o
modelo integral com cada um desses elementos, teríamos
as seguintes correspondências: as lentes, linhas de
desenvolvimento; os filtros, os estados de consciência; o
alcance das lentes, os níveis de consciência; os materiais,
os tipos e a abertura da lente como os quadrantes. Esses
são os aspectos fundamentais do Modelo Integral.
Por meio do Mapa Integral é possível observar o processo
de saúde e doença de pelo menos três ângulos diversos:
por meio de fatos concretos (como a fisiopatologia, a
etiologia, os tratamentos oferecidos e os exames); através
da percepção subjetiva do médico integral (como médica
e como pessoa); e ainda, por meio sob o ponto de vista do
próprio indivíduo que vive o evento. Um caminho
integralmente estruturado leva em consideração todas
essas dimensões.
OS ASPECTOS FUNDAMENTAIS DO MODELO
INTEGRAL
I. QUADRANTES - ASPECTOS FUNDAMENTAIS
APLICADOS À SAÚDE
Em seu livro “Integral Ecology”, Sean Esbjörn-Hargens
analisa a ecologia sob a ótica de quatro pilares,
demonstrando a interação entre eles e a importância de
colocá-los todos juntos para uma compreensão mais
ampla e integrada dos aspectos ecológicos. Propõe, assim,
uma visão mais sustentável acerca do tema Ecologia.
No que refere à medicina, os quadrantes possibilitam a
disposição das diversas perspectivas do processo da saúde
e da doença, assim como dos métodos terapêuticos de
diferentes práticas médicas em uma única tabela,
valorizando assim todos os aspectos envolvidos.
Os quatro quadrantes da saúde
39
Aplicado à saúde, esse gráfico apresenta as seguintes
modalidades de observação da realidade: objetiva
individual ou biocomportamental (corpo físico, e
comportamento); objetiva coletiva ou socioambiental
(meio ambiente, sistema político, econômico, social);
subjetiva individual ou psicoespiritual (psique, valores e
espiritualidade); e subjetiva coletiva ou interpessoal
(cultura, relações afetivas e família).
Uma abordagem eficaz em relação às reordenações do
estilo de vida, por exemplo, deve forçosamente incorporar
uma perspectiva de âmbito multi e transdisciplinar, uma
vez que o estilo de vida, por si só, já é uma das funções
das dimensões humanas.
Por individualizar e ao mesmo tempo contextualizar todas
as realidades e perspectivas de uma dada situação em um
único mapa, os quadrantes se mostram eficazes e
abrangentes. O mapa por meio deles obtido mantém a
visão do todo sem perder de vista a parte; por outro lado,
ao ver a parte, não deixa de considerar o todo. Essa
plasticidade confere aos quatro quadrantes uma grande
flexibilidade, o que facilita a sua aplicação em diversas
ciências como uma ferramenta de integração.
Os quadrantes derivam do cruzamento de dois eixos, um
vertical (que caracteriza o dominio interior e exteriror), e
um horizontal (que determina os domínios individual e
coletivo), dos quais obtemos: Figura 1
Figura 1 – Os quadrantes
Com os dados dos quatro quadrantes nas mãos, a
MedIntegral desenha a Matrix Integral Personalizada, um
40
mapa que permitirá o planejamento de ações visando a
melhoria da saúde e da qualidade de vida. Para tanto, é
preciso compreender os seguintes conceitos:
PERCEPÇÃO
Este é o domínio da subjetividade. Abrange todos os níveis
de percepção e entendimento do mundo, inclusive da
saúde; aquilo que ocorre no mundo interior e não pode
ser conhecido por outra pessoa (a menos que se
compartilhe); o que é particular e completamente íntimo.
Trata-se do conhecimento adquirido a partir da
experiência pessoal.
É o pilar que determina o modo como cada um pensa,
interpreta e dá significado à própria vida, a si mesmo e ao
mundo. Berço dos conceitos e valores pessoais, dentre
eles bem estar e plenitude.
MANIFESTAÇÃO INDIVIDUAL
Este campo diz respeito ao mundo objetivo individual,
aquilo que ainda é particular, mas pode ser visto por
outros. Equivale ao terreno do comportamento, da
anatomia e da fisiologia. É o conhecimento construído
pela observação.
Este domínio é o que estabelece como se comportar e agir
no mundo, ou seja, o estilo de vida e a expressão criativa.
CULTURA
A cultura refere-se à realidade intersubjetiva em todos os
níveis da comunhão: os valores e sentidos compartilhados.
Aqui o conhecimento obtido a partir da experiência
coletiva.
Este domínio estabelece a visão social de mundo, por
exemplo, o que a família ou comunidade entende por bem
estar e saúde. Neste caso, a concepção sobre as coisas e
sobre o mundo pode ser diferente da visão pessoal de
cada indivíduo acerca dos mesmos aspectos.
SISTEMAS
Os sistemas equivalem às intersecções e desenham uma
rede de conexões e processos. São as organizações nas
quais o indivíduo está inserido, tais quais o regime político
e econômico, o sistema de transporte e também o
ecossistema. No nosso caso, diz respeito ao conhecimento
conseguido a partir da análise dos sistemas.
41
Os sistemas determinam as atitudes e comportamentos
coletivos, desde o padrão genético até os padrões de
comportamentos familiares.
II. LINHAS DE DESENVOLVIMENTO
Howard Gardner, professor de Cognição e Educação na
Escola de Educação na Universidade de Harvard e autor de
mais de vinte livros, desenvolveu a Teoria de múltiplas
inteligências. Segundo ele, os seres humanos possuem
uma variedade de inteligências (como a matemática-
lógica, a espacial, a interpessoal, musical e cinestésica).
Entretanto existem várias outras “inteligências”. No
modelo integral tais faculdades são denominadas linhas
de desenvolvimento, equivalem às capacidades humanas
passíveis de serem desenvolvidas.
Na área da saúde, o médico Elliot Dacher6 adaptou os
quatro quadrantes e as linhas de desenvolvimento
propostos por Wilber em uma ferramenta clínica. Para
tanto, Dacher acomodou três linhas de desenvolvimento
em cada um dos quadrantes – obtendo portanto doze
linhas – destacando que as mesmas não são exclusivas,
mas representativa, além de poderem ser concomitante
Como se observa, muitas são as linhas de
desenvolvimento passíveis de serem abordadas na saúde.
Entretanto, os estudos são escassos e,
conseqüentemente, ainda não existe uma sistematização
dos diferentes unidades de avaliação. O Dr. Elliot Dacher
propõe algumas linhas em seu livro “Saúde Integral”, mas
não há um consenso, entre os estudiosos da área, sobre
suas disposições. Joel Kreisberg, médico americano,
professor do curso de Medicina Corpo e Mente, da
Universidade de Berkley na Califórnia, em artigo7
publicado no livro Integral Education em 2010, afirma
utilizar o modelo de Darcher em suas aulas, acrescentando
que a avaliação proposta pelo médico tem contribuído
muito para o aprendizado e desenvolvimento de seus
estudantes.
As doze linhas da Saude Integral propostas por Dacher
estão distribuídas em quatro quadrantes, dois superiores,
dois inferiores: QSE - cognitiva, emocional e conotativa;
QSD - exercícios, nutricional e autorregulação; QIE -
pessoal, familiar e comunidade; QID - trabalho, ativismo
social e produtividade .
A MedIntegral também se faz uso, em sua avaliação de
saúde, da composição de várias linhas de
desenvolvimento (lembrando que elas são representativas
42
e não exclusivas). Essas são definidas a partir de um
minucioso estudo da saúde individual e coletiva.
Atualmente, o mapa da MedIntegral reúne dezoito linhas,
também dispostas nos quadrantes, como mostra a figura
2.
FIGURA 2 – As linhas de desenvolvimento da medIntegral
nos quadrantes.
III. NÍVEIS OU ESTÁGIOS DE CONSCIÊNCIA NAS
LINHAS DE DESENVOLVIMENTO
Os níveis ou estágios de consciência referem-se à condição
de organização e complexidade. Um exemplo de estágios
de desenvolvimento pode ser verificado na sequência
átomos, moléculas, células, organismos. Cada estágio
dessa evolução envolve um nível maior de complexidade e
organização.
O modelo integral compreende diferentes níveis nas linhas
de desenvolvimento. Todavia, quando aplicado à saúde,
ainda não temos estudos suficientes para determinar os
níveis em cada uma das linhas. Esta é uma das propostas
do Índice de bem estar Integral, estudar o
desenvolvimento das linhas da saúde.
No Indice de Bem-Estar Integral, cada linha apresenta uma
graduação que varia de um a cinco, do mais primitivo ao
melhor estágio de saúde possível, respectivamente.
Ressaltamos que essa nomenclatura numérica não tem a
intenção de estabelecer os níveis de desenvolvimento da
linha, mas antes compilar dados para uma possível
formalização dos níveis de saúde em uma espiral
dinâmica, ou seja, o intuito é de avaliarmos a amplitude e
o desenvolvimento do indivíduo em uma dada linha.
BIOCOMPORTAMENTAL
43
IV. ESTADO DE CONSCIÊNCIA E SAÚDE
Na medicina convencional temos alguns métodos para a
avaliação do estado de consciência que determinam se o
indivíduo está alerta, e portanto consciente, ou
inconsciente o que pode significar desde um coma até que
o indivíduo está dormindo ou sedado.
No entanto, essa avaliação médica leva em conta a
consciência como um estado de alerta e não a consciência
como uma forma de compreender e atuar no mundo
como no olhar do Modelo integral que entende que
existem três estados básicos de consciência: alerta,
dormindo ou sonhando. No estado de alerta podemos ter
estados alterados de consciência, como acontece com o
uso de drogas.
Platão afirmou que todo mundo se torna poeta ao ser
tocado pelo amor. O Modelo Integral percebe estados
alterados de consciência como algo próximo do que
chamamos, popularmente, de “estado de espírito”, como
afirmou Platão: “todo mundo se torna poeta ao ser tocado
pelo amor”. Quem de nós não viveu o mundo cor-de-rosa
quando alimentados pela paixão e em outros momentos a
escuridão do medo e da solidão quando rejeitados?
Grosseiramente esses seriam exemplos de estados de
consciência.
Quando falamos em “estado de saúde”, queremos
descrever a situação de saúde geral de um dado indivíduo.
A MedIntegral trabalha com cinco estados de saúde:
Doença crônica
Doença aguda
Ausência de doença
Bem estar
Felicidade autêntica ou plenitude
V. TIPOS DE PERSONALIDADES - DIFERENTES
REAÇÕES E MANIFESTAÇÕES DE DOENÇAS
É consensual, dentro da comunidade médica, a concepção
de que “cada paciente é um paciente”. Isso significa que
cada paciente apresenta um determinado quadro clínico,
experimenta uma dada reação medicamentosa, possui
uma vida particular, assim como sua autopercepção. Um
44
dos fatores envolvidos na promoção dessa diversidade é o
tipo de personalidade do paciente.
O primeiro a trabalhar com a tipologia envolvendo a
personalidade foi Hipócrates, considerado o pai da
medicina. Esse grande pesquisador, no intuito de melhor
compreender o funcionamento do corpo humano, levou
em consideração a própria personalidade do homem e
criou a célebre doutrina dos quatro humores, fleumático,
melancólico, sanguíneo e colérico. Ele relaciona os quatro
temperamentos a determinadas reações e dieta.
Porém, antes de Hipócrates, na Índia, a medicina
ayurvédica já havia proposto cinco elementos que formam
toda a manifestação material do universo, éter, ar, fogo,
água e terra. Segundo essa tradição, os seres humanos são
influenciados por esses cinco elementos através do dosha,
que nada mais é do que a caracterização do perfil
biológico do indivíduo. Os doshas são vata, regido por ar e
éter, pitta, regido por fogo e água, e kapha, regido por
terra e água. Todas as pessoas possuem os três doshas,
mas em diferentes proporções.
Modernamente, nos fins dos anos cinqüenta, os
cardiologistas americanos Rosenman e Friedman
descreveram um comportamento ao qual denominaram
“personalidade tipo A”. Os indivíduos assim caracterizados
são agressivos, competitivos, impacientes e explosivos,
personalidade essa que constitui fator de risco das
cardiopatias isquêmicas. As pessoas assim caracterizadas
apresentam dois e meio por cento a mais de
probabilidades de apresentar angina e infarto do
miocárdio.
Já a psiconeurociência (área que surgiu como um espaço
transdiciplinar de estudo das relações entre a mente e o
cérebro e entre as neuro e as psicociências), comparando
o comportamento otimista e o pessimista, afirma que
pessoas otimistas apresentam menor risco de
desenvolvimento de cânceres e doenças mentais, sistema
imunológico mais saudável, recuperam-se mais
rapidamente de episódios agudos de doenças e também
enfrentam melhor doenças crônicas, apresentando menos
sintomas e crises.
Como vemos a tipologia exerce um rol pertinente no
processo de saúde e bem estar. A medicina Integral, ao
levar em conta as personalidades pode utilizar
comunicação e ferramentas adequadas a cada tipologia
aumentando significativamente os caminhos para alcançar
melhores resultados e maiores benefícios.
45
DIAGNÓSTICO
O diagnóstico é um conjunto de métodos que permitem
ao médico determinar a natureza e as causas de uma
doença, com base nos sinais, nos sintomas e nas
investigações laboratoriais do paciente. Na MedIntegral, o
diagnóstico é realizado por meio de uma metodologia que
envolve avaliações objetivas e subjetivas, conforme a
figura 3 abaixo.
Figura 3 – As dimensões objetiva e subjetiva avaliadas pela
medIntegral.
Nas figuras que seguem, vejamos os desdobramentos dos
aspectos acima contemplados no processo de diagnóstico
da medIntegral.
FIGURA 4 – Matriz Integral do Bem-Estar
Na figura 4, observamos alguns dos fatores envolvidos na
construção do diaganóstico Integral do Indivíduo, a
construção da Matriz Integral do Bem-estar Atual.
46
FIGURA 5 – Construção da Matriz Terapêutica Integral
Na figura 5, observamos algumas das investigações
pessoal realizadas para a construção da Matriz Integral de
Tratamento do indivíduo.
Ao utilizar esse mapa como uma Matriz Integral do Bem-
Estar, o médico pode construir o perfil integral do
paciente de uma maneira rápida e abrangente, interpretá-
lo no contexto do estado de saúde atual, compreender o
seu nível de entendimento, assim como suas crenças e sua
intenção. A partir dessas constatações, poderá orientar
esse indivíduo dentro de suas possibilidades de
compreensão, entendimento e cura. Com isso, o médico
terá maiores condições de transmitir as informações de
modo eficiente, além de utilizar os recursos de forma mais
eficaz.
Além disso, a MedIntegral desenvolveu um sistema de
indicadores para avaliação de saúde. Os indicadores são
reunidos em um quadro avaliativo moldável, o que
propicia que os índices sejam construídos, por exemplo,
conforme a população a ser avaliada, o que se quer avaliar
e quais os parâmetros utilizados para isso. Trata-se de um
framework integral que funciona em três níveis, as linhas
de desenvolvimento, os quadrantes e os aspectos.
Por sua importância e complexidade, os índices serão
apresentados em um capítulo próprio.
47
MÉDICO INTEGRAL
I. A PRÁTICA DO MÉDICO INTEGRAL
O trabalho do médico integral começa pela compreensão
abrangente dos aspectos referentes ao ser humano, assim
como das mais variadas conquistas médicas. O leitor
poderá questionar se o médico focado no modelo da
MedIntegral possui habilidades para tais procedimentos.
De fato, ainda não existe formação em MedIntegral, pois
ela não é uma especialidade, mas antes um modo de
pensar o paciente, a si mesmo e o mundo. É um
paradigma. Para se ter essa abordagem é preciso em
primeiro lugar pensar de forma integral e, para isso,
estudar a Teoria Integral é fundamental. Essa formação,
atualmente, está disponível na Universidade JFK nos
Estados Unidos, como um mestrado. Depois disso alguns
caminhos são possíveis, como estudar medicinas
complementares, assim como psicologia. Porém, ainda
não existe nenhum curso regular. O pensamento integral é
absolutamente novo, foi concebido no final do século
passado, é uma criança. Mas algumas iniciativas estão
ocorrendo, aqui no Brasil, por exemplo, a MedIntegral
promove um treinamento para médicos e profissionais de
saúde se tornarem integralmente informados na saúde e
bem-estar.
Outra prática fundamental do médico integral é o
desenvolvimento de sua própria consciência, a aquisição
de diferentes perspectivas e a sua inclusão como fator não
menos importante que os medicamentos e praticas para a
cura do indivíduo. A relação entre o médico e o paciente é
construída sobre as bases de confiança mutua,
vulnerabilidade mutua, igualdade e transparência, o que
permite um acoplamento terapêutico, um sistema que se
cria em conjunto com feedbacks e percepções de ambos a
cerca do processo.
II. A RELAÇÃO ENTRE O MÉDICO INTEGRAL E O
“PACIENTE”
No que se refere ao indivíduo, o médico integral busca
compreendê-lo como um todo; concebe seu trabalho não
somente como meio de cura para uma doença específica e
pontual, mas também como suporte para que o indivíduo
alcance a capacidade de compreender e perceber a si
próprio, mantendo-se atento à dinâmica do seu corpo, às
interferências externas (poluição, clima, meio profissional,
alimentação, horários, funcionamento do intestino,
intensidade da fome, qualidade do sono etc.), bem como
as internas (sensações de alegria, tristeza, bem-estar,
recorrência de incômodos, relacionamentos afetivos,
pensamentos recorrentes, crenças, valores etc.).
48
Entendemos que saber compreender e reconhecer a si
próprio, criando uma espécie de diapasão, ou seja, um
nível, um padrão comparativo introspectivo como medida
de autoavaliação e a atenção no momento presente é o
método mais viável para a manutenção de uma vida com
qualidade.
A relação aqui tem tanta importância quanto os
medicamentos ou praticas, pois entendemos que ela é um
dos fatores do processo de “cura” desenvolvimento
mutuo.
A CULTURA MÉDICA: CLÍNIA E PROMOÇÃO DE
SAÚDE
Pelo ângulo clínico, trata-se de uma abordagem
absolutamente inclusiva, que permite a coexistência de
todas as práticas médicas, sejam elas advindas da
medicina tradicional ou das medicinas complementares.
Aliás, vale ressaltar que várias medicinas complementares
têm comprovação científica - acupuntura, homeopatia,
antroposofia, medicina ayurvédica e ortomolecular.
Muitas escolas médicas hoje apresentam em sua grade
curricular a homeopatia e a acupuntura. Práticas como
reiki e a meditação, por exemplo, são modalidades
oferecidas no Hospital Albert Einstein atualmente.
Nesse sentido, queremos mostrar que a MedIntegral
possui um espectro abrangente, ela promove um conjunto
de tratamentos e práticas que visam à restauração da
saúde de forma rápida e eficiente com intervenções mais
integradas e menos invasivas possíveis; não tem a
intenção de descartar a medicina convencional, isto é, não
descarta cirurgias, antibióticos, anti-depressivos ou
qualquer tipo de tratamento prescrito por ela,
simplesmente entende que eles podem ser
complementados e ampliados em seu poder de cura (vista
aqui como evolução) com outros tratamentos.
Outro diferencial da MedIntegral é que seu foco não está
apenas no processo de cura, mas também na promoção
de saúde e bem-estar, uma vez que as doenças crônicas
são, em sua maioria, resultantes de estilos de vida
insalubres.
Quando falamos em promoção de saúde, encontramos
diversas ideias espalhadas nas diversas práticas que, de
alguma maneira, almejam um estilo de vida salutar. Na
MedIntegral, reunimos essas ideias em dois grandes
49
grupos de atuação, o comportamento individual e a
própria compreensão da noção de saúde.
No que se refere ao comportamento, a promoção da
saúde consiste em atividades dirigidas a cada indivíduo,
cuja finalidade reside na transformação do seu
comportamento. Aqui, o foco recai sobre o estilo de vida e
a relação com os espaços nos quais esse indivíduo transita,
desde a família até o ambiente das culturas da
comunidade em que se encontra. Nesse caso, os
programas ou atividades de promoção da saúde tendem a
concentrar-se em componentes educativos,
primariamente relacionados com os comportamentos
passíveis de mudanças, que estariam, pelo menos em
parte, sob o controle dos próprios indivíduos.
Em relação à compreensão do significado de saúde,
compartilhamos com a OMS a noção de que esta é
produto de um amplo espectro de fatores relacionados
com a qualidade de vida: padrões adequados de
alimentação, nutrição, habitação e saneamento; boas
condições de trabalho; oportunidades de educação ao
longo de toda a vida; apoio social para famílias e
indivíduos; ambiente físico limpo e estilo de vida
responsável.
A orientação individual
A partir da obtenção e compreensão das informações
acerca de cada indivíduo, assim como sua própria
compreensão (consciência), vontade e recursos, sejam
eles de tempo, emocionais ou financeiros, o médico
integral buscará, em seu escopo, relacionar o que
observou em seu paciente com as diversas possibilidades
oferecidas pelas medicinas e terapias complementares.
TRATAMENTOS E PRÁTICAS
Como fazemos isso?
Em linhas gerais, podemos dizer que o processo acima
apresentado se dá em duas etapas, quais sejam:
A) Avaliação global do paciente. Avaliação através de
anamnese médica e aplicação de questionários para
designar o índice de bem-estar atual e a construção da
Matriz Integral do Bem Estar Atual (MIBEA).
Preparação para a mudança . Construção da Matriz
Terapêutica Integral – clínica integral para o estado de
saúde e coaching – no intuito de melhorar e alterar o
estilo de vida por meio do desenvolvimento de práticas
50
personalizadas que contemplam todas as dimensões do
bem-estar, as práticas de integração. Um projeto de
qualidade de vida que é moldado e renovado no decorrer
da vida do indivíduo. Basicamente, a Matriz Terapêutica
Integral é a dimensão experimental do modelo integral,
aplicada ao tratamento e às práticas. Ela é obtida por meio
da combinação cruzada de vários métodos de tratamento
e desenvolvimento pessoal que se mostraram eficientes.
Assim, se tomarmos a saúde física, mental e espiritual e
combiná-las com as terapias tradicionais, a moderna e a
pós-moderna, obteremos nove possíveis formas de
tratamento e desenvolvimento que incluem atividades
meditativas e contemplativa, prática do campo
bioeletromagnético, aquisição de novas perspectivas,
prática corporal e prática emocional.
Os possíveis recursos a serem utilizados:
1. Medicamentos
2. Exercício físico regular (todos os três tipos: força,
cardio, e alongamento)
3. Rejuvenescimento - sono reparador
4. Alimentação ideal para o situação específica
Abordagem formal para a redução do stress e
relaxamento
Acupuntura
5. Práticas de Integração - um crosstraining para o cropo,
a mente e o espírito.
a. Programas de promoção de bem estar
b. Atividades culturais
c. Oficinas
PRÁTICAS DE INTEGRAÇÃO – O CROSSTRAINING
PARA O CORPO, A MENTE E O ESPÍRITO.
I. PRÁTICA DO CAMPO BIOELETROMAGNETICO
Muitas práticas complementares são baseadas no
vitalismo, a noção de que o organismo possui uma
qualidade, o élan vital, que lhe confere a capacidade de
ser vivo. A crença na existência dessa força é milenar. Os
hindus chamam-na de prana, os chineses de qi ou chi e é
51
possível encontramos mais de 96 termos que designam
algo parecido nas mais diversas culturas.
Segundo a descrição dos chineses, chi é uma energia
eletromagnética sutil que permeia tudo que conhecemos
e carrega a informação de e por onde passa. O chi fluindo
em seu corpo carregará os seus pensamentos, emoções e
sentimentos, mas também outras energias ao seu redor. É
como se fosse um campo eletromagnético.
A ciência também se refere a tal força vital como campo
bioenergético ou bioletromagnético. Numerosas pesquisas
têm sido realizadas na direção de se esclarecer esse
fenômeno. São muitas as suas aplicações e teorias, no
entanto, ainda há muito que se pesquisar.
O biofisíco James L. Oschman defende que a atividade
bioquímica do corpo resulta em uma campo
bioeletromagnético que é responsável pela comunicação
dos tecidos do organismo e pelo controle da reposição
tecidual.
“O tecido conectivo é um tecido contínuo que se estende
por todo o corpo do animal e consiste em uma estrutura
insolúvel de fibras de colágeno embebidas em uma
substância parecida com o gel e ordenadas como um
cristal. Como qualquer outro cristal ele gera um campo
eletromagnético quando se contrai ou alonga, portanto
todo e qualquer movimento do corpo gera um campo
eletromagnético que se transmite para os tecidos
subjacentes, uma vez que o colágeno é bom condutor. Isso
permite que todas as partes do organismo se comuniquem
entre si. ” 8
Ele coloca ainda: “A estrutura do corpo adulto não é
permanente e nem estática, está em constante mudança,
os tecidos estão regularmente sendo repostos. O campo
eletromagnético pode ser o regulador dessa tarefa.”
Os fisiologistas, ao discutirem o tema, dão muita ênfase ao
sistema nervoso. No entanto, muitas outras formas de
comunicação acontecem no organismo. A farmacologista
Candance Pert em seu livro “Molecules of Emotion”
argumenta que as emoções são neuropeptídeos que ao
carregam aquela determinada informação, a pesquisadora
também advoga que os receptores são dinâmicos e
podem modificar a sua forma para se ligar ao receptor.
Outro meio de comunicação é o campo
bioeletromagnético, nas palavras de James L. Oschamn :
52
A comunicação bioeletromagnetica está envolvida na
formação de partes do corpo, pequenas e grandes, da
integração de estruturas, da interação
receptor/homônios, do reconhecimento celular para que
possam se juntar para formar tecidos e para a
manutenção e regulação da forma corporal. A
comunicação também está envolvida no processo de cura
como regeneração, reparação tecidual e ativação do
sistema imunológico.” 7
Biologistas celulares têm descoberto que toda a célula
contém um citoesqueleto que é conectado através da
superfície celular com o tecido conectivo extracelular. Esta
evidencia nos permite visualizar uma estrutura contínua
que se estende por todo o corpo. James L. Oschman se
refere a isso como “tecido conectivo citoesquelético."
Muitos cientistas começam a reconhecer a ideia da
existência de um sistema global, conexões e interações
composto pelo tecido conectivo do músculo esquelético,
citoesquelético e genético. Ao contrário do que se supõe
hoje, de que sejam sistemas isolados e estruturas únicas.
A abordagem global, funcional e contínua é referida como
a matriz viva que, conforme mostram as investigações, é
uma fábrica contínua que produz toda e qualquer parte do
organismo, define a forma e função de cada célula, tecido,
órgão e do corpo como um todo.
Mas não é somente no organismo que o campo
eletromagnético tem sido estudado. O fisiologista inglês
Ruppert Sheldarke criou a “Teoria dos Campos
Morfogenéticos”. Segundo ele, tais corpos são estruturas
invisíveis que se estendem no espaço, no tempo e moldam
forma e comportamento de todos os sistemas do mundo
material. Todo átomo, molécula, célula ou organismo que
existe geram um campo organizador invisível que afeta
todas as unidades desse tipo, e ainda não detectável
pelos instrumentos de que dispomos.
Existem várias pesquisas atuais em um campo
absolutamente novo, a medicina energética, que inclui
terapias (como o reiki, bodytalk, rolfing) e até a terapias
tradicionais, como acupuntura, tai chi chuan e artes
marciais. Tais investigações tentam, através do estudo dos
campos bioeletromagnético e da teoria quântica, explicar
o funcionamento dessas terapias. No entanto, esse ainda
é um campo a ser estudado mais profundamente.
Já o cientista brasileiro, Miguel Nicholelis, que trabalha no
Departamento de Neurociência da “Universidade de
Duke” nos Estados Unidos, vem utilizando a tecnologia
53
para ler o campo eletromagnético do cérebro no intuito
de gerar movimentos motores fora do corpo físico.
Como vimos, vasto é o caminho para o domínio do
conhecimento sobre os campos bioeletromagnéticos. Suas
aplicações também têm possibilidades diversas: desde
terapias energéticas ao desenvolvimento de avatares.
Baseada nestas constatações, a MedIntegral criou as
práticas do campo bioeletromagnético, que é a integração
de diversos métodos milenares (como o tai chi e o katta)
com a psicologia moderna, com a bioenergética e a
dinâmica energética do psiquismo. Essas práticas
promovem o bem-estar através da harmonização do
sistema global como ativação do sistema linfático, mais
vitalidade e disposição, maior consicência corporal e
capacidade de concentração.
II. PRÁTICA CORPORAL
Da mesma forma com o que ocorre com a
bioeletromagnética, também existem várias escolas que
utilizam o trabalho corporal para a saúde. Desde a
medicina moderna convencional até os métodos
tradicionais têm como princípio que a atividade física
regular é imprescindível para a manutenção da saúde
cardiovascular e o controle do estresse. A yoga, prática
milenar, se difundiu pelo ocidente por ser uma prática que
combina saúde física com mental.
Um estudo publicado no “Journal of Research in Indian
Medicine” constatou que a prática diária dos asanas
(posturas yogues), durante seis meses, levava à
diminuição do ritmo cardíaco, à queda de pressão arterial,
à perda de peso, a uma taxa inferior de respiração, com o
aumento da capacidade pulmonar e da expansão torácica,
e ao declínio da incidência de ansiedade. Um estudo
subsequente descobriu que a prática regular do yoga
levava à redução do estresse fisiológico, a taxas mais
baixas de colesterol, ao equilíbrio do nível de açúcar no
sangue, ao aumento das ondas cerebrais alfa (associadas
ao relaxamento) e à diminuição geral dos problemas
físicos. Os benefícios incluem o aumento do sentimento
de calma, relaxamento e alegria, melhora nas relações
interpessoais e o aumento da capacidade de
concentração.
Em outra experiência, o Dr. V. H. Dhanaraj, da “University
of Alberta”, no Canadá, comparou um grupo de pessoas
que se dedicou à prática do yoga durante seis semanas
com o outro que fez exercícios convencionais no mesmo
54
período. Ele constatou que os que praticaram o yoga
apresentavam uma melhora bem mais significativa no
metabolismo celular, no consumo de oxigênio, na
capacidade pulmonar, na eficiência cardíaca, na função
tireóidea, na contagem de hemoglobina e glóbulos
vermelhos e na estabilidade geral.
A pesquisa do efeito da yoga em sobreviventes de câncer
de mama demonstrou que essa prática promoveu
melhoras significativas na fadiga persistente dessas
sobreviventes.9
A pesquisadora Elisa Harumi Kozasa da UNIFESP, em São
Paulo, publicou em 2010 na “Revista Brasileira de
Psiquiatria” que houve melhora do sono em pacientes
com insônia após tratamentos da mente e do corpo como
yoga, relaxamento e tai chi.10
A integração destes métodos no crosstrainer das práticas
de integração traz benefícios tanto para o corpo físico,
como para o controle do estresse, além de ampliar a
vitalidade e a consciência.
III. PRÁTICAS MEDITATIVAS
A palavra meditação vem do latim, meditare, que significa
voltar-se para o centro, no sentido de desligar-se do
mundo exterior e voltar a atenção para dentro de si.
A meditação costuma ser definida das seguintes maneiras:
um estado que é vivenciado quando a mente se torna
vazia e sem pensamentos; prática de focar a mente em um
único objeto (por exemplo: em uma estátua religiosa, na
própria respiração, em um mantra); uma abertura mental
para o divino, invocando a orientação de um poder mais
alto;análise racional de ensinamentos religiosos (como a
impermanência, para os Budistas)
O maior objetivo da meditação é o encontro com aquilo
que é permanente, com o Absoluto. Ken Wilber em seu
talk “Potenciais e ciladas no caminho espirittual” para o
curso virtual do Craig Hamilton Integral Enlightenment -
Acordando para uma relação evolutiva com a vida, disse
que meditação é o caminho para encontrar Deus e
reconhecer o espirito. Qualquer forma de meditação tem
o objetivo de acordar o meditador para a realidade Última
daquilo que é Permanente.
55
Basicamente a meditação permite relaxar o autocontração
e expandir no vasto Universo a percepção de um eu
separado, trazendo a pura consciência como o
Permanente, aquilo que é não dual. Nesse estado você
não vê a montanha você é a montanha. Você se torna um
com o Espírito, transcendendo a dualidade do objeto e
subjeto.
A meditação é o processo de desidentificação com os
subjetos, isto é quando me torno consciente do subjeto
ele passa a ser objeto da minha consciência. Por exemplo,
quando me torno consciente de minha mente, posso
observá-la com minha consciência e passo a dizer que
tenho uma mente, mas não sou minha mente. u tenho
pensamentos mas não sou meus pensamentos. Portanto,
uma compreensão típica da meditação é: eu tenho
sentimentos mas não sou meus sentimentos. Tenho
sensações, mas não sou essas sensações, sou centro de
pura consciência.
Essa experiência pode ser interpretada a partir de
diferentes perspectivas denominadas primeira, segunda
ou terceira pessoa. de tal forma que ao dizer que
experiência a Realidade Permanente é possível falar sobre,
com ou como isso. Falar sobre é a perspectiva de terceira
pessoa, com é a segunda pessoa e falar como é a terceira
pessoa. Ao falar sobre isso, o Permanente pode ser
descrito como a grande teia da vida, enquanto na segunda
pessoa o discurso será sobre a relação com essa Realidade
Última e finalmente ao calçar os sapatos da primeira
pessoa a expressão será como o Permanente. Jesus, por
exemplo, falou das três perspectivas: Ele falou de Deus,
falou com Deus e falou como Deus.
Cada uma dessas perspectivas é uma experiência
profundamente distinta que se manifesta em diferentes
modos de meditação: na primeira pessoa, o formato é o
clássico sentar e concentrar sua mente, quando na
segunda pessoa a forma é a prece, por exemplo. Já na
terceira pessoa, é a contemplação. As práticas
meditativas das práticas de integração incluem todas elas.
Na meditação, experiência de primeira pessoa do mistério,
é nova na academia e tem ganhado espaço como método
de relaxamento, redução de estresse e de promoção de
bem-estar. Existem diversas técnicas meditativas e um
interesse particular na mindifulness, que enfatiza a
instância observadora e não reativa do pensamento,
emoção e estado do corpo. Ela tem sido muito eficaz na
redução das taxas de depressão.
56
Em 2007 a psiquiatra americana Lidia Zylowska realizou
um estudo piloto sobre 8 semanas do treinamento de
mindffulness com 24 adultos e 8 adolescentes com o
diagnóstico de ADHD nos critério IV DSM, no qual concluiu
que essa técnica é uma intervenção de sucesso para
adultos e adolescente com ADHD e pode melhorar o
comportamento e os comprometimentos
neurocognitivos.11
Durante a meditação, as ondas cerebrais de baixa
frequência (alfa, teta e delta), que estão relacionadas ao
estado de relaxamento, tomam conta do cérebro. Em
contrapartida, as ondas beta, de alta frequência - que são
relacionadas ao estado de vigília ou atividade normal -,
aparecem em menor quantidade. Com o cérebro tomado
por ondas de baixa frequência, o organismo todo
desacelera: diminuem a frequência cardíaca, a pressão
arterial e o ritmo respiratório.
MINDFULNESS
É uma técnica meditativa que tem como objetivo a
disciplina consciente da regulação intencional da atenção.
Um de seus componentes envolve a autorregulação da
atenção de forma a mantê-la na experiência imediata.
Consequentemente, permite o aumento do
reconhecimento dos eventos mentais no momento
presente. O segundo componente envolve a orientação
particular para a experiência no momento presente
caracterizada por curiosidade, abertura e aceitação.12
Jon Kabat-Zinn, professor emérito de medicina e diretor
fundador da Clinica de Redução de Estresse e Centro de
Mindfulness, na “Universidade de Medicina de
Massachusetts”, ensina mindfulness como uma técnica
para lidar com o estresse, a ansiedade, a dor e a doença.
Ele oferece a prática em seu programa de redução de
estresse em centros médicos, hospitais e organizações de
manutenção de saúde. Segundo ele, mindfulness é estar
totalmente atento na vida. Trata-se de perceber a beleza
vivida e especial de cada momento. Neste estado, “nos
sentimos mais vivos e imediatamente acessamos nossos
recursos internos para insigths, transformação e cura."
(Kabat-Zinn, 1998).
Existem muitas técnicas de meditação. No entanto, todas
elas compartilham o treino intencional de atenção e
concentração. As diferentes técnicas têm diferentes
objetos de atenção. Por exemplo, o foco na repetição
57
silenciosa de um mantra, som, imagem, frases ou questão.
Na técnica mindfulness o individuo deliberadamente
mantém a sua atenção na respiração ao mesmo tempo
que cultiva a concentração. (Kabat-Zinn, Massion, Hebert,
& Rosenbaum, 1998).
A prática constante deste método desenvolve a
estabilidade, a paz interna e a não reatividade da mente.
Consequentemente, permite o enfrentamento e até a
inclusão de todos os aspectos da vida, independente da
dor, ansiedade, ou medo. A estabilidade e não
reatividade sustenta a habilidade de observar com
compaixão a si mesmo e aos outros.
A técnica encoraja, portanto, os participantes a
concentrarem-se em seus sentimentos, pensamentos e
experiências corporais, incluindo a dor, sem julgamentos
ou tentativas de evitá-la.
Em Dezembro de 2011, um estudo piloto randomizado
mostrou que o treinamento de mindfulness produziu
alívio significativo e duradouro para pacientes com o
diagnóstico de artrite reumatóide.
A Annual Rheumatic Disease publicou em Dezembro de
2011 um estudo que concluiu que o treinamento de
mindfulness reduz o estresse psicológico e a fadiga em
pacientes com doença reumática.13
Todos nós, em algum momento, naturalmente,
experimentamos a perspectiva de terceira pessoa da
meditação quando contemplamos a beleza da natureza: o
céu azul, o pôr do sol, a lua cheia, a imensidão do mar, o
desabrochar das flores, o desenvolvimento de um filho...
A palavra contemplação vem do latim e é a palavra grega
para teoria. Ambas referem-se a revelar e manifestar a
natureza da realidade. Para o teólogo cristão Josef Pieper
o primeiro elemento da contemplação é a percepção
silenciosa da realidade.
Inúmeros são os seus benefícios: redução do estresse,
desenvolvimento de resiliência, diminuição da reatividade,
melhora da dor e maior capacidade de lidar com os
desafios, para citar alguns.
Muitos de nós temos o hábito de nos relacionar com o
Divino através de preces e orações, ou seja a partir da
conversa. Esse hábito precisa ser estudado pela academia
que está voltada sobretudo, para a perspectiva de
primeira pessoa da meditaçnao. No entanto, no Brasil, a
Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Universidade de São
58
paulo, tem estudado o impacto da religião nas doenças
psiquiátricas e encontrar evidências de que a
religiosidade, na qual a prece é um dos rituais, melhora a
qualidade de vida dos doentes.
Os Pilares da MedIntegral
O processo de construção da aplicação da Matriz
Terapêutica Integral está a serviço tanto da solução clínica
quanto da promoção de saúde. Na primeira ela tem o foco
na cura, é o pilar de soluções clínicas integrais, já na
segunda o foco está na mudança do estilo de vida – pilar
de promoção de saúde e bem-estar.
Assim a MedIntegral apresenta três pilares de atuação
prática:
SOLUÇÕES CLÍNICAS – Gestão dos recursos e processos
para a saúde e bem-estar.
Por meio de um atendimento médico diferenciado e
personalizado, a MedIntegral apresenta soluções clínicas
integradas e participativas, desenvolvidas sob medida para
cada indivíduo, levando em consideração seus hábitos,
crenças, ambiente onde vive, comunidade e estilo de vida.
As soluções são construídas com inclusão de todas as
terapias consagradas pela ciência, provenientes tanto da
medicina convencional quanto da complementar.
PROMOÇÃO DO BEM-ESTAR – Projeto de qualidade de
vida continuado e sustentado.
Desenvolvimento de habilidades pessoais: apoio ao
desenvolvimento da habilidades individuais, sociais e
políticas que capacitem indivíduos a tomarem atitudes de
promoção de saúde, por meio de práticas diárias que
promovam excelência física, equilíbrio emocional, clareza
mental e plenitude.
Fortalecimento de ações comunitárias: apoio a ações
comunitárias concretas e eficazes na definição de
prioridades, na tomada de decisões e no planejamento e
implantação de estratégias para a promoção de saúde e
bem-estar.
PRÁTICAS DE INTEGRAÇÃO – Gestão de informação e
formação. Programas, atividades e práticas.
59
Visando a sustentabilidade pessoal, a MedIntegral propõe
a adoção de práticas que não só melhoram o estado de
bem-estar na vida contemporânea, mas também o
cultivam.
Faz isso em programas coletivos, pois acredita que a
convivência e a experiência de comunidade fomentam a
criatividade e propiciam o surgimento de boas idéias. O
que promove a possibilidade de desenvolvimento de
projetos e sonhos pessoais (aqueles que fazem sentido
para nós) que por sua vez aumenta a satisfação pessoal, a
vontade de estar vivo e o humor.
1-http://www.ama-
assn.org/amednews/2011/10/03/prsd1004.htm –
pesquisado em 26.02.2012.
2- http://nccam.nih.gov/health/whatiscam - pesquisado
em 26.02.2012.
3- -http://www.efcam.eu/content/view/27/45/ -
pesquisado em 26.02.2012
4- Baseamos nossa discussão nas idéias do médico
americano David Tusek, em seu artigo The Integral Path to
Medicine, publicado em 5 de Abril de 2009 no blog de Ken
Wilber,
5- Wilber, Ken - IntroductiontotheIntegralApproach,
http://www.kenwilber.com/Writings/PDF/Introductiontot
heIntegralApproach_GENERAL_2005_NN.pdf
6- Dacher, Elliot. Integral Health, Basic Health Publication,
Incc, CA, 2006.
7- “Integral Education, Integral Transformation and The
Teaching of Mind-body medicine, que se encontra no livro
Integral Education: new directions for a higher learning,
Esbjorn-hargens, Sean, State University of New York
Press, Abany, NY, 2010.
Scientific Basis of Bodywork and Movement Therapies
8- Oschaman, James L. – Energy medicine - the scientific
basis, Churchill Livingstone, Toronto, 2009.
60
9- Yoga for persistent fatigue in breast cancer survivors: A
randomized controlled trial.
Bower JE, Garet D, Sternlieb B, Ganz PA, Irwin MR,
Olmstead R, Greendale G. - Cancer. 2011 Dec 16. doi:
American J Midlife Health. 2010 Jul;1(2):56-8.
10- Mind-body interventions for the treatment of
insomnia: a review
KOZASA, Elisa Harumi et al. Mind-body interventions for
the treatment of insomnia: a review. Rev. Bras. Psiquiatr.
[online]. 2010, vol.32, n.4 [cited 2012-02-15], pp. 437-
443 . Available from:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=
S1516-44462010000400018&lng=en&nrm=iso>. ISSN
1516-4446. http://dx.doi.org/10.1590/S1516-
44462010000400018.
11- Journal of Attention Disorders OnlineFirst, published
on November 19, 2007 as
doi:10.1177/1087054707308502
Journal of Attention Disorders
http://jad.sagepub.com hosted at
http://online.sagepub.com
12-Scott R. Bishop, Mark Lau, Shauna Shapiro, Linda
Carlson, Nicole D. Anderson, James Carmody, Zindel V.
Segal, Susan Abbey, Michael Speca, Drew Velting & Gerald
Devins (2004). "Mindfulness: A proposed operational
definition". Clinical Psychology: Science & Practice 11 (3):
230–241.
13- Janis C. Kelly Ann Rheum Dis. Published online
December 20, 2011
Ann Rheum Dis doi:10.1136/annrheumdis-2011-200351
61
BEM-ESTAR INTEGRAL
Tranquilidade, conforto e satisfação – todos nós
desejamos essas três coisas. De fato, é sobre este tripé
que se sustenta o mecanismo que garante o nosso bem-
estar. Apesar de termos percepções diferentes sobre o
que seja tal sensação, bem-estar é antes de tudo o
exercício da plena liberdade, a liberdade de ser quem
verdadeiramente somos.
Esta é a razão pela qual o bem-estar vem ganhando
destaque nas ciências e invadiu os patamares da
Sociologia, ocupando o centro do mais novo índice de
desenvolvimento, o índice de Felicidade Interna Bruta
(FIB). Nele, o bem-estar é apresentado em nove
dimensões, que veremos a seguir.
O centro do FIB é a satisfação no aspecto psicológico, que
abrange três níveis: saúde mental; equilíbrio emocional e
espiritualidade. As demais dimensões influenciam e são
influenciadas por este núcleo: bom padrão de vida
econômica; gestão equilibrada do tempo e boa
governança; educação de qualidade; saúde, vitalidade
comunitária; proteção ambiental e acesso à cultura.
62
FIGURA6- FIB
Criada e aplicada no Butão, um país entre a China e a Índia
encravado nas montanhas do Himalia, a moderna medida
demonstra que apesar do baixo PIB os butaneses possuem
um alto nível de saúde, bem-estar e qualidade de vida. Tal
constatação vem promovendo a reflexão sobre os valores
e critérios utilizados para aferir o crescimento e
desenvolvimento das populações mundiais. Atualmente,
tais critérios levam em consideração apenas a atividade
econômica, o que por si só já é reducionista. O conceito
proposto pelo FIB, ao contrário, espelha com maior
amplitude os aspectos necessários à aferição da qualidade
de vida da sociedade. O índice proposto pelo país budista
revela, assim, valores mais condizentes com a nova
configuração social, política e econômica mundial, no qual
temas como sustentabilidade, educação, espiritualidade e
felicidade entram no rol das preocupações.
A importante contribuição do FIB, portanto, é conceber o
homem em seu aspecto multidimensional.
AS DIMENSÕES DO BEM-ESTAR INTEGRAL
Ser feliz é o propósito de todo ser humano. Felicidade e
bem-estar andam de mãos dadas, por isso todos nós
buscamos caminhos para a satisfação plena. Nesse
sentido, a contribuição de um índice aos moldes do FIB é o
de oferecer ferramentas mais adequadas e atuais para
aferir o nível de bem-estar coletivo. Tal busca também
pode ser verificada hoje em dia em diversos outros
campos da ciência. É o que motivou o surgimento da
63
reengenharia mental, por volta da década de 1990, que
trouxe à tona o conceito multidimensional para o bem-
estar focado nas seis dimensões do ser (o físico, o
emocional, o mental, o profissional, o cultural e o
ambiental).
O bem-estar integral coloca uma dimensão central (a
existência) nesse modelo, ampliando-o. A integração
desses aspectos constituintes do ser pressupõe uma total
mudança de paradigma acerca do nosso papel enquanto
seres humanos. Figura 7
Seria, em último grau, o despertar para o que temos de
mais sagrado em nós.
Para compreendermos melhor o valor de cada dimensão,
resumo abaixo as principais especificidades de cada uma
delas.
FIGURA 7- O modelo do Bem -Estar Integral
FÍSICA
Refere-se a todos os processos do corpo e diz respeito
ainda aos níveis de vitalidade, à flexibilidade e ao grau de
condicionamento físico. Traduz a consciência acerca da
nutrição, o processo de repouso e relaxamento, a
qualidade do sono, a periodicidade e a qualidade das
atividades sexuais, a gestão do estresse e das doenças e as
64
demais escolhas relacionadas diretamente com a
atividade física. Em suma, o bom nível da dimensão física é
decorrência natural da qualidade e da responsabilidade
das escolhas diárias que fazemos no que concerne ao
nosso corpo.
FIGURA 8 – As instâncias da dimensão Física do Bem-Estar
Integral
EMOCIONAL
Trata-se da capacidade de percepção e de manifestação
dos sentimentos de maneira saudável e natural. É
decorrência do aprimoramento da competência de ser
capaz de focar-se no tempo presente, ter controle sobre
os níveis de ansiedade e tristeza, além de exercitar o
autoconhecimento. Quanto maior a capacidade de
elaboração de conceitos realistas sobre si (e também de
reconhecer os seus potenciais e limitações), maior será a
qualidade da saúde emocional.
FIGURA 9 – As instâncias da dimensão Emocional do Bem-
Estar Integral
65
MENTAL
Representada pela capacidade de uso da mente lógica e
intuitiva – o que se traduz, por exemplo, no potencial de
realizar conexões, representações do mundo real,
construção de metáforas, além do exame de opiniões,
elaboração de questionamentos etc. Pressupõe, em suma,
a capacidade de o indivíduo compreender a si mesmo e ao
universo.
FIGURA 10 – As instâncias da dimensão Mental do Bem-
Estar Integral
PROFISSIONAL
Refere-se ao universo do trabalho e, consequentemente, à
vida financeira. Pressupõe a capacidade de escolha da
profissão, o nível de adequação aos processos inerentes a
tal atividade, o grau de satisfação, de motivação e a
sensação de justa recompensa financeira. Pressupõe
também o grau de comprometimento, a qualidade do
ambiente de trabalho, o equilíbrio entre trabalho e a vida
privada e a administração responsável e consciente dos
recursos financeiros.
66
FIGURA 11 – As instâncias da dimensão Profissional do Bem-
Estar Integral
CULTURAL
Diz respeito ao contato (ou encontro) com o outro. Abarca
as relações em casa, no trabalho, com amigos e as
relações com todos os povos e gerações. Será mais
saudável quanto maior for a contribuição para o bem
comum.
Figura 12– As instâncias da dimensão Cultural do Bem-
Estar Integral
SOCIOAMBIENTAL
Indica o processo de fazer escolhas que contribuam para a
manutenção e melhoria da qualidade de vida no planeta.
Inclui escolhas responsáveis sobre o uso de água, energia,
combustível, ar e terra e a preocupação com o bem-estar
das gerações futuras. Supõe ainda o reconhecimento da
interdependência entre os seres.
67
No social, diz respeito ao acesso ao sistema de saúde,
lazer, transporte e moradia, o poder econômico, a
distribuição de renda e as condições de trabalho.
FIGURA 13– As instâncias da dimensão socioambiental do
Bem-Estar Integral
EXISTÊNCIA
Ocupa o centro das dimensões do bem-estar porque é o
resultado da integração das demais dimensões.
FIGURA 14– As instâncias da dimensão central do Bem-
Estar Integral
Como vimos, a sensação de bem-estar é resultado da
soma dos níveis de satisfação nas mais diversas dimensões
do ser. Decorre da combinação de um cem número de
fatores intimamente ligados ao nível da qualidade de vida.
Em um mundo dominado pelo caos, pelas transformações
vertiginosas e pela ansiedade, atingir tal percepção parece
algo utópico. O que tentamos demonstrar através deste
68
livro é que tal busca não só é possível, como também que
a conquista deste estado é viável em curto prazo. A chave,
para tanto, está na mudança de paradigma.
ÍNDICE DE BEM-ESTAR INTEGRAL
69
Todo ser humano sabe, por experiência em diferentes
aspectos da vida, que em muitos momentos as coisas
parecem estar bem e em outros não. Às vezes, essas
sensações passam como cotidianas, naturais, fazendo
parte simplesmente da experiência do viver, outras vezes
deixam a sensação de que algo incomoda. Por vezes,
ainda, essa visão de que algo não vai bem é até mesmo
alheia à pessoa que vivencia a situação, sendo veiculada
apenas por aqueles que a rodeiam, que a avaliam, então,
como doente ou potencialmente fragilizada. Observando
esse quadro, surge-nos o questionamento sobre o que é
saudável e o que não é. O que seria uma pessoa
plenamente sã, enfim? Tal indagação, por consequência,
nos leva à questionar também o conceito de saúde.
Trata-se de uma reflexão complexa que vem sendo
pensada talvez desde que o homem se deu conta de que
algumas coisas o fazem viver melhor, e outras não, ou até
mesmo tirar-lhe a vida. Sem dúvida, as primeiras e mais
expressivas preocupações humanas, no sentido de
estabelecer o estado de saúde, estão ligadas à
sobrevivência frente aos acontecimentos geradores de
mortalidade, como a presença de doenças (sobretudo as
transmissíveis), fome e estados de miséria. Com o passar
do tempo, a atenção voltou-se para um âmbito mais
amplo, coletivo e nos dias de hoje ganham crucial
importância nos setores governamentais fiscalizadores da
saúde pública.
Embora muitos outros órgãos tenham atuado – a ainda
atuam – na história do estabelecimento da saúde coletiva,
a mais importante instância destinada a esse aspecto é a
Organização Mundial de Saúde (OMS), criada em 1948,
após a Segunda Guerra Mundial, tendo como objetivo
desenvolver ao máximo a saúde de todos os povos. No
preâmbulo do texto que estabelece as suas incumbências,
a saúde é definida como um “estado de completo bem-
estar físico, mental e social, não consistindo apenas da
70
ausência de doença ou enfermidade”. Essa definição
implica na compreensão de que a saúde consiste na
satisfação de todas as necessidades fundamentais sejam
elas afetivas, sanitárias, nutricionais, sociais ou culturais,
do embrião à pessoa idosa. Trata-se de uma definição
ampla e, portanto, complexa, abrangendo implicações
legais, sociais, ambientais, políticas, econômicas, entre
outras.
Neste livro, queremos chamar a atenção para o fato de
que a noção de saúde vai muito além do âmbito
individual. A saúde de um indivíduo está intrinsecamente
ligada ao seu contexto, à sua coletividade, o que acarreta,
por exemplo, a preocupação frequente com doenças
sazonais e geográficas.
Na Amazônia, por exemplo, a incidência de diarreia e
desidratação em crianças é muito mais alta que em São
Paulo, pois lá não há um sistema adequado de
saneamento básico. Em São Paulo, por sua vez, assistimos
a um número muito maior de doenças respiratórias,
ligadas à baixa qualidade do ar, que por sua vez advém da
poluição e daí por diante. Podemos perceber, então, que
esses contextos não estão ligados apenas à região, mas ao
sistema social, cultural, político e econômico nos quais o
indivíduo está inserido.
Como podemos observar, dada a complexidade do
conceito de saúde, a tarefa de mensurá-la também é
complexa. São muitos ângulos de aproximação, como a
mortalidade, a morbidade, a incapacidade física, o grau de
autonomia das pessoas, a estrutura etária da população, a
qualidade da prestação de determinado cuidado de saúde,
entre outros.
No intuito de estabelecer um parâmetro de avaliação,
pontos de referência foram criados e são conhecidos
como indicadores. Assim, nas diversas regiões do globo,
vários são os indicadores de saúde existentes que buscam
medir o nível de vida e saúde da população – questão
atualmente muito estudada pela comunidade
internacional, a fim de que se construa a comparação
71
entre os indicadores de diferentes países e regiões. Por
esta razão, a Organização Mundial de Saúde formou um
comitê para definir os métodos mais satisfatórios na
determinação e avaliação do nível de vida e, na
impossibilidade de construir um índice único, o Comitê
Internacional sugeriu que fossem considerados
separadamente doze componentes passíveis de
quantificação:
1. Saúde, incluindo condições demográficas
2. Alimentos e nutrição
3. Educação, incluindo alfabetização e ensino técnico
4. Condições de trabalho
5. Situação de emprego
6. Consumo e economia gerais
7. Transporte
8. Moradia, incluindo saneamento e instalações
domésticas
9. Vestuário
10. Recreação
11. Segurança social
12. Liberdade humana
Contudo, como ressaltamos anteriormente, os contextos
específicos interferem de forma decisiva no
estabelecimento ou explicação de uma dada situação de
saúde. Assim, vale reconhecer a importância de se
recorrer a indicadores inter-setoriais (como a evolução do
nível de emprego, a renda média do trabalhador, ou o
consumo de energia elétrica, entre outros) para se
averiguar o nível médio da qualidade da saúde de uma
dada população. Outra dificuldade encontrada na tarefa
de descobrir indicadores e índices de saúde é que, no
intuito de mensurar a saúde, avalia-se doença ou morte
(ausência definitiva de saúde). Nesse caso, o esforço está
em encontrar indicadores “positivos” de saúde. Porém,
muitos indicadores ditos positivos são de difícil estimativa
e trazem em seu bojo enorme subjetividade, conforme se
observa em itens como “bem-estar”, “qualidade de vida”,
72
“normalidade”, temas de difícil mensuração por vias
racionais. Podemos citar como exemplo a percepção da
violência por moradores de São Paulo e Rio de Janeiro
frente à percepção de moradores de outras capitais com
menores índices de violência, ou mesmo dos moradores
de cidades do interior.
A fim de se estabelecer uma organização nas avaliações
por meio de indicadores, estes foram, então, classificados
em modalidades, cujas principais são:
• Mortalidade / sobrevivência
• Morbidade / gravidade / incapacidade
• Nutrição / crescimento e desenvolvimento
• Aspectos demográficos
• Condições socioeconômicas
• Saúde ambiental
• Serviços de saúde.
Nesse sentido, os indicadores conduzem a uma percepção
mais ampla de saúde, muito além da saúde individual.
Funcionam como um panorama, uma fotografia de um
elemento específico, seja esse o hospital, a casa, o bairro o
mundo, ou mesmo o indivíduo. Servem, assim, ao
estabelecimento de um diagnóstico sistêmico da saúde
com o objetivo de que medidas específicas sejam tomadas
no aperfeiçoamento da saúde de que estamos tratando.
Para exemplificar essa ideia, podemos pensar na alta taxa
de mortalidade infantil no Brasil, que se deve
principalmente à inexistência de saneamento básico,
pronto socorros ou unidade de saúde onde a mãe pudesse
levar a criança. Qual seria então a medida para diminuir
essa taxa? Dar fortificante para criança? Dar informação à
mãe? Na verdade, as causas e consequências relativas ao
diagnóstico e providências necessárias vão muito além das
atribuições dos setores ligados especificamente à saúde. É
preciso, pois que se faça um “diagnóstico sistêmico” da
situação, no intuito de se buscar formas de atuação para
73
trazer saneamento básico, para trazer uma unidade de
saúde para próximo dessa mãe, entre outras coisas. E isso
não tem a ver com saúde, mas políticas públicas. É um
paradoxo, portanto: a saúde, no caso, não tem a ver com
o médico; porém, o indivíduo precisa estar saudável para
brigar por essas condições. O problema, então, vive uma
retroalimentação que só o potencializa ainda mais. Essas
pessoas não têm força e informação suficientes para atuar
mais, escolher seus dirigentes, agir na comunidade, ou
seja, cria-se um círculo vicioso. E nesse contexto são as
medidas externas que devem ser tomadas.
INDICE INTEGRAL
Ainda que a criação dos índices tenha trazido uma
referência para a avaliação dos estados de saúde, o
objetivo de desenvolver a saúde dos povos ainda está
longe de acontecer. Os índices de saúde, embora
numerosos e abrangentes, ainda olham para a situação de
maneira fragmentada, há ainda a visão do ser humano
como indivíduo, alheio ao mundo e à sociedade que o
cerca. Essa concepção não contribui para uma visão mais
ampla do conceito de saúde.
Esse contexto de escassez de métodos de avaliação dos
níveis de saúde e de bem-estar numa perspectiva integral,
acrescentado da necessidade de criar e ao mesmo tempo
autenticar os seus próprios protocolos, conduziram a
MedIntegral a adaptar o Modelo Integral de Wilber,
também chamado de AQAL ( all quadrantes all levels), em
uma estrutura capaz de analisar, investigar e harmonizar
os índices e indicadores para uma visão mais ampla e
completa daquilo que se deseja explorar. Uma vez que a
saúde vai além do indivíduo e atinge comunidades e
estruturas socioambientais, também é preciso definir a
saúde de quem queremos medir e estudar.
Desenvolvemos, então, o Índice Integral que é, grosso
modo, a proposta de uma visão panorâmica do processo e
que, como tal, apresenta-se como mais eficaz na busca do
74
estabelecimento integral da saúde e bem-estar. Com
efeito, este índice, ao possibilitar a observação dos
diferentes aspectos em um conjunto, apresenta grande
versatilidade, pois agrega diferentes índices
concomitantemente, em uma estrutura unificadora, a
partir da qual se pode avaliar integralmente a saúde e
determinar linhas de desenvolvimento em saúde,
divididos em aspectos básicos.
A escolha dos índices, ou das linhas, depende dos
objetivos da avaliação e da saúde de quem está sendo
avaliado (indivíduos, comunidades ou sistema ambiental),
bem como dos aspectos metodológicos, éticos e
operacionais da questão em estudo.
Vejamos, então, como isso se desenvolve.
A avaliação do Índice Integral tem como pressuposto
entender saúde em seus atributos objetivos, subjetivos,
individuais ou coletivos do bem estar e seu impacto na
qualidade de vida. Tais atributos, embora simultâneos,
são divididos em quadrantes, como se observa na Figura
15.
FIGURA 15 - quadrantes
A figura apresenta dois eixos: horizontal e vertical. O
primeiro separa o que é coletivo do que é individual –
75
figura 16a e o segundo o que é subjetivo do que é
objetivo – figura 16b.
FIGURA 16A FIGURA 16B
Sobrepondo esses eixos, obtemos uma figura com quatro
quadrantes e cada um representa a superposição dos
atributos encontrados nos eixos originais resultando em
quatro dimensões conjugadas: o individual objetivo (A),
individual subjetivo (B), coletivo subjetivo (C), coletivo
objetivo(D). Figura 16c
FIGURA 16C
O segundo passo na construção do índice é a inclusão dos
níveis de desenvolvimento na estrutura dos quadrantes.
Quando jogamos uma pedra no lago, do centro se
propagam ondas para a periferia. Na avaliação através dos
quadrantes, os níveis de desenvolvimento também são
assim. Mas por que os níveis não são linhas e são ondas?
Porque, por exemplo, um ponto no anel do quadrante
superior esquerdo, tem um ponto correspondente no
76
quadrante superior direito – figura 17. Em Integrales,
esses anéis são níveis de consciência.
FIGURA 17
Se tomarmos essa
propagação do anel – as
ondas - (partimos do
princípio de que há uma
propagação evolutiva do
centro para a periferia), perceberemos que há infinitos
pontos no anel.
Quando escolhemos um ponto e acompanhamos a sua
evolução para os anéis seguintes, obtemos uma sucessão
de pontos nos sucessivos
anéis. Ligando esses pontos,
obteremos uma linha que
perpassa todos os anéis
chegando ao centro. Essa
linha é chamada de linha de
desenvolvimento na Teoria
Integral, como na figura ao
lado. (os quadrantes são tetra-emergentes, é que estamos
olhando por aspectos, quando avançamos em uma linha,
as outras também avançam: ela se espelha nos outros
quadrantes).
Dentro do anel
existem milhões de
pontos e portanto
milhões de linhas.
77
Todos os pontos no mesmo anel são equidistantes do
centro, ou seja, têm o mesmo nível de desenvolvimento.
No entanto, cada ponto é particular e em cada quadrante
se manifesta de forma específica correspondente à
dimensão do quadrante.
Exemplo: o cérebro réptil não consegue fazer mais do que
manter a sobrevivência. Enquanto que o cérebro límbico
já traz questões emocionais. Emoção é “subjetivo” (do
quadrante superior esquerdo). Quando existe um
desenvolvimento do quadrante superior direito, este se
reflete para o direito.
Na prátia para se chegar a tal índice, em primeiro lugar,
estabelece-se um ponto qualquer de referência a partir de
um dado qualquer que mereça ser estudado. Por exemplo:
um paciente chega ao consultório com determinado
sintoma e comportamento. Desse ponto inicial, cria-se
então um ponto de referência. A partir desse ponto
averigua-se o espelhamento dele nos quatro quadrantes, a
evolução do aspecto estudado e a variação entre este
ponto e seu nível mais periférico. Tem-se, como resultante
deste primeiro passo, uma reta que invariavelmente chega
ao centro dos eixos dos quadrantes, e perpassam todos os
anéis (ou ondas). Essas ondas têm por objetivo
estabelecer a interação entre o ponto inicial e os demais
atributos.
Essa reta constituída (que parte do centro para a periferia)
será uma linha de desenvolvimento que responderá
especificamente ao dado abordado. Podemos, então,
escolher milhares de dados e consequentemente teremos,
milhares de linhas de desenvolvimento..
O ponto de referência, por fazer parte de um anel de
desenvolvimento, está ligado aos outros quadrantes, ou
seja, tem manifestações também nos outros quadrantes,
sempre no mesmo anel, de forma equidistante ao centro
(representa o mesmo nível de consciência).
78
Como é um ponto de referência, é possível, num outro
quadrante, seguir o anel de desenvolvimento (do ponto
para o próximo ponto mais periférico), e encontrar um
novo ponto e traçar outra linha que invada um outro
quadrante.
Essas linhas, traçadas sucessivamente, possibilitarão uma
avaliação integral daquele ponto primeiro que estamos
buscando conhecer.
Então, tomando-se por base que o índice é uma esfera e
indo do centro para a periferia, encontraremos três
camadas: qualidades, quadrantes e linhas. As qualidades
são varreduras de 180 graus do indice, ou seja são eixos.
Portanto as qualidades emergem da junção de dois
quadrantes. Essa é a terceira camada do índice. Sendo
assim, estamos de fora para dentro.
Depois desta segunda camada temos os quadrantes (eles
mesmos), que são resultado da função matemática entre
as linhas daquele quadrante.
E finalmente,na primeira camada, temos as linhas de
desenvolvimento.
O Índice avalia três camadas, na primeira camada observa
as linhas de desenvolvimento; na segunda, com os
quadrantes e na terceira, opera com as qualidades
objetivos, subjetivos, individuais ou coletivos do bem estar
e seu impacto nas qualidades dos três aspectos estudados
( individual, comunitário ou ainda sistêmica-ambiental).
APLICAÇÃO
O primeiro passo é definir o objeto de estudo, que pode
ser indivíduos, comunidades e/ou sistema ambiental. Isso
implica em uma composição diferente do índice, pois as
linhas de desenvolvimento escolhidas serão diferentes.
79
São três os estágios de trabalho da aplicação do índice: 1)
Estatística: É a compilação de dados do Índice. Realizada
em uma plataforma com um questionário composto de
quatro etapas. 2) Analítica: Análise dos resultados por um
profissional treinado para isso, detectando as áreas a
serem trabalhas para a melhoria das qualidades por ele
avaliada e também para o impacto socioambiental dessas
mudanças. 3) Soluções: apresentação de soluções
integradas para as questões, tendo como centro o bem-
estar integral em todas as suas dimensões para o desenho
estratégico das ações a serem realizadas.
COMO USAR O ÍNDICE?
Há uma ordem para trabalhar com o índice:
Em primeiro lugar, medimos as linhas (centro, elas
irradiam do centro - quadrante é uma função do resultado
dessas linhas). A partir da junção (considerada dentro de
uma expressão matemática que é uma função) das linhas
obtém-se os quadrantes. A partir da função dos
quadrantes, da somatória (função matemática
novamente) dos quadrantes, obtêm-se as qualidades
acima descritas.
Como vimos, o Índice Integral permite avaliar a saúde
Integral dos indivíduos, das comunidades dos sistemas (e,
consequentemente, pode oferecer soluções mais
integradas e combinadas para os problemas atuais).
A versatilidade do índice Integral proporciona muitas
outras configurações em outras áreas de estudos como a
sustentabilidade, a economia, a sociologia e etc. Portanto,
esse aparato serve como um framework para o
desenvolvimento de índices mais amplos e integrados em
todas as instâncias. Para compor o Indice particular de
cada área, é suficiente organizar os indicadores e índices
particulares daquela área em um modelo AQAL e
acrescentar outras linhas necessárias para a avaliação
80
integral da mesma. Na sustentabilidade, por exemplo,
trabalharemos com linhas como impacto social,
sustentabilidade economica e ambiental o que atribui ao
Índice Integral- e portanto outro cenário - sem que
perca, contudo, a sua amplitude.
SAÚDE DO INDIVÍDUO
Ao estudar a saúde de indivíduos, o índice serve como
uma ferramenta clínica chamada Índice de Bem-Estar
Integral (IBEI) utilizada para identificar e acessar a saúde
do indivíduo de uma perspectiva AQAL. É estruturado em
um quadrilátero, em cujas bases estão quatro aspectos
básicos da saúde do indivíduo: a saúde física; a saúde
psicoespiritual; a saúde das suas interações humanas e a
saúde sistemico-ambiental. A cada um desses aspectos,
damos o nome de quadrante. A aplicação do IBEI consiste
na hospedagem de várias linhas de desenvolvimento em
cada quadrante, linhas essas que, apesar de serem
representativas e não exclusivas, são específicas de cada
um dos quadrantes.
Para compor esse Índice de Bem-Estar Integral Individual
utilizamos alguns indicadores e índices de saúde
individuais existentes como o WHOQAL e o SF36 e ainda
acrescentamos outras linhas que complementam e
integraram os aspectos de saúde com a avaliação
metabólica, o nível de consciência, as crenças, os valores,
as relações, a educação e o acesso a qualidade de vida e
moradia, por exemplo.
As linhas do Índice de Bem-Estar Integral guardam a
aptidão de mensurar todas as dimensões discutidas no
capítulo anterior e quando organizadas em 4 quadrantes
resultam na seguinte configuração: Mostrar o índice das
linhas nos quatro quadrantes.
81
O Índice de Bem-Estar Integral organiza a complexidade da
saúde, reunindo aqueles 12 componentes em um único
índice mostrado na figura abaixo.
Além disso, esse índice é um indicador positivo de saúde
na medida em que avalia a subjetividade como qualidade
de vida e bem-estar combinados a aspectos objetivos,
como estado nutricional e metabólico.
SAÚDE COMUNITÁRIA
Já no contexto comunitário, esse implemento mostra e
exprime o impacto da sustentabilidade pessoal, ambiental
e social na saúde e bem estar da comunidade estudada.
Sua estrutura é bem parecida com a Individual, porém
acrescenta linhas ao quadrante sistemicoambiental.
SAÚDE SISTEMICAMBIENTAL
Na circuntância sistemicambiental, o Índice Integral tem
sido aplicado em corporações como instrumento para
apontar e determinar a saúde e o bem estar daquele
sistema e das pessoas envolvidas. O denominado HEBTIDA
– (Human Earning Before Tension, Irritability Disease and
Absence). é um quadrilátero com o seguinte formato:
82
FIGURA 18 -
HEBTIDA
83
AS CAMADAS DOS INDICE INTEGRAL DE SAÚDE
O Índice avalia três camadas, na primeira camada ele
trabalha com as linhas de desenvolvimento, na segunda,
com os quadrantes e na terceira, ele opera com as
atributos objetivos, subjetivos, individuais ou coletivos do
bem estar e seu impacto nas qualidades dos 3 aspectos
estudados - individual, comunitário ou ainda sistêmica-
ambiental.
Por exemplo, para montar o modelo teórico do HEBTIDA,
partimos do pressuposto de que a alta performance é uma
qualidade emergente das dimensões biocomportamental
e psicoespiritual do indivíduo, que por sua vez emergem
das linhas de saúde dentro desses quadrantes específicos
como o metabolismo, a educação, a qualidade de vida, o
desenvolvimento emocional, os hábitos alimentares e o
sono.
Já o comprometimento exige valores, motivação e apoio
da comunidade na qual se está inserido. Isso significa que
essa qualidade emerge das dimensões psicoespiritual e
das intereações humanas. Enquanto a excelência está
ligada a valores compartilhados e ao mesmo tempo ao
acesso de recursos e estrutura, o que é a mesma coisa que
falar que ela surge das dimensões das intereações e da
socioambental. Uma vez que para ser efetivo é necessário
estar bem fisicamente, ter uma atitude e
84
ao mesmo tempo ter recursos para a realização, então
podemos concluir que a efetividade aflora dos espaços
socioambiental e biocomportamental.
RESULTADOS
Quantitativos
1 - pessoal - ser uma pessoa melhor.
2 - comunidade - ter uma comunidade melhor para se
viver.
3 - sistêmica-ambiental - ser uma empresa melhor para se
trabalhar e ter um planeta melhor para se viver.
Qualitativos
1- pessoal - ter mais vitalidade, conquistar longevidade,
melhor qualidade de vida e bem estar contínuo e integral.
2-comunidade - aumentar o poder de criação, construir
uma comunidade melhor para se viver, com
equanimidade, igualdade e respeito.
3- sistêmica-ambiental - aumentar a produtividade,
eficiência. inovatividade, melhor gestão do tempo,
diminuir o absenteísmo, diminuir as faltas, aumentar o
nível de satisfação dos colaboradores e consumidores,
diminuir o gasto com as operadoras de saúde.
85
FIGURA 19 -
modelo
teórico do
Índece
Integral de
Bem-Estar
86
EXISTÊNCIA
“Sofrimento significa estar tendo um pesadelo. Felicidade
é um sonho bom. Realização significa estar fora de ambos
os sonhos, ou seja acordado.”
Jed Mackenna
Existência é o fato de existir. Nos seres humanos,
concretiza-se na consciência de si mesmo. Mas o que é a
experiência da consciência, afinal?
Atributo dos seres humanos, a consciência recebeu desde
cedo a atenção de diferentes áreas do conhecimento. Tal
busca está implícita nas indagações dos primeiros
filósofos, nas formulações teológicas, no campo da
metafísica, na solução de Descartes e no pioneirismo do
Iluminismo. A Biologia contemporânea deu relevante
contribuição ao tema ao explicar as relações anatômicas,
bioquímicas, celulares e sistêmicas, acabando por definir
consciência como resultante das reações químicas e
elétricas da rede neuronal. Humberto Maturana e
Francisco Varella, no campo da Biologia e da Cognição, vão
além, ao demonstrarem que os sistemas vivos constituem-
se a partir de elementos que criam e recriam a si mesmos
– ao que denominam autopoiese. É como se houvesse um
grande lego onde pudéssemos, a todo e a qualquer
momento, recriar com as mesmas peças, diferentes
formas mantendo a identidade da criação original.
Pela interpretação dos dois pesquisadores podemos
ilustrar o seguinte exemplo: ao olharmo-nos no espelho,
não nos damos conta do acelerado processo de mutação
por que passam nossas células. São milhares de milhões
87
de partículas passeando para lá e para cá, construindo e
renovando células para definir a forma física que o
espelho projeta.
Influenciado por tais achados, o sociólogo Niklas Luhmann
desenvolveu a “Teoria de Sistemas Autopoiéticos”. Para o
autor, a sociedade seria como um grande lego (no qual
cada indivíduo é uma peça) formando ao final um corpo
coletivo. Essa forma de pensar originou a expressão
“acoplamento estrutural” para designar o processo de
adaptação do organismo ao seu meio como sendo uma
interação. Assim como ocorre ao lego, os indivíduos em
sociedade dependem uns dos outros e dos seus “encaixes”
para originar uma estrutura maior.
No entanto, apesar dos grandes avanços e descobertas,
pouco sabemos sobre o “acontecer” da consciência. É
aquele fenômeno que experimentamos ao nascimento de
um filho, ao ver um botão em flor, ao contemplar o nascer
do sol, ao colocar os pés na areia da praia. Aquilo que só
os poetas se arriscam a expressar entre metáforas,
brincadeiras e enigmas. E por que sabemos tão pouco
sobre isso? Para podermos responder a essa pergunta,
precisamos ir para outra área da consciência, que é a
linguagem. Toda a nossa experiência é transformada em
linguagem na nossa racionalização das coisas e do mundo.
Um dos elementos da linguagem são os pronomes. Eu
(primeira pessoa) designa o autor ou aquele que vive a
experiência. Já você (o que o ocupa o lugar de segunda
pessoa) é o outro, com quem falo, a quem me dirijo. E,
finalmente ele (terceira pessoa) é sobre quem falo.
Nas metodologias utilizadas para a construção do
conhecimento dentro das mais diversas áreas
predominam a observação, ou seja, o foco é centrado
sobre algo, aquilo que se quer observar. Apesar de haver
uma percepção em primeira pessoa (uma vez que o
cientista ou pensador elabora a apreensão da realidade
observada a partir de seu eu), aquilo que é observado é
sempre uma terceira pessoa. Esse modo de apreensão das
coisas tornou-se praticamente regra para todos nós. É
assim que aprendemos na escola e é assim que desde
cedo somos treinados para compreendermos a “lógica”
das coisas.
A maioria das pesquisas realizadas com vista à
compreensão do cérebro aborda a consciência seguindo o
protocolo do método científico, que pressupõe a
existência de um observador e de algo observado (no
caso, o cérebro). Trata-se, portanto, de uma abordagem
em terceira pessoa. No entanto, a consciência daquele
que observa também integra o todo observado.
88
No método que propomos neste livro não há separação
entre o observador e o observado. Aquele que observa é a
própria experiência. Trata-se, portanto, de uma
abordagem de primeira pessoa. É o eu quem vive a
experiência.
A ciência pode nos falar sobre consciência, mas não nos
ensina como nos tornarmos conscientes. Este processo só
pode ser cultivado como uma habilidade na perspectiva de
primeira pessoa. Ou seja, vivenciando a consciência no
aqui e agora. A única forma de estar consciente é deixar
viver a inconsciência conscientemente. Parece paradoxal,
mas é isso mesmo.
O tempo todo estamos alerta. Pensamos, elaboramos,
racionalizamos, julgamos etc. Isso é natural em todos nós.
Entretanto, na maior parte do tempo não nos damos
conta do que está por trás de tais raciocínios, não nos
vemos além dessa consciência primeira (mental), que é a
que aflora. Mas não falo aqui de racionalização. O que
quero dizer com “estar atento” é que a percepção do
existir desbloqueia a consciência da mente que discrimina
o mundo externo, e assim flui com liberdade.
Existem infinitas práticas que visam a promover tal
experiência, e todas elas convergem para o silêncio
interior (quando excluímos todas as percepções do meio
externo e voltamos nossa atenção para o mundo interior).
Como diria o pensador Ken Wilber, criador da “Teoria
Integral”, esse olhar para dentro permite encontrarmos a
nossa face original. Segundo Otto Scharmer, um dos
maiores consultores de companhias globais da atualidade,
o contato com o interior mais profundo gera a presença e
permite o acesso ao campo criativo. Para estes dois
autores, o olhar para si mesmo é capaz de transformar
não apenas o indivíduo, mas também a sociedade,
possibilitando soluções inovadoras para os desafios atuais
e promovendo a adoção de modos de vida mais honestos
e éticos.
Este modo de convívio com a consciência, de certa forma,
é o que pode ser observado nos poetas, pintores e artistas
em geral. Os rituais dos monges, das freiras no claustro e
daqueles adeptos da meditação também buscam essa
realização. Em todos esses exemplos, notamos uma
dedicação exclusiva dessas pessoas a algo que lhes
permitisse tal prática. Não é o que proponho aqui. Para
mim, todos nós podemos atingir tal nível, seja qual for o
nosso modo de vida.
Estar consciente podee ser descrito como estar acordado,
prestando atenção em si mesmo, naquilo que surge em
89
você e passa através de você. É como canta Gilberto Gil,
“eu preciso aprender a só ser”.
FELICIDADE AUTÊNTICA
90
Quanto custa a felicidade? Essa parece ser uma questão incidental frequente na mente de grande parte da população mundial. A força motriz do capitalismo financeiro está centrada no desenfreado desejo de consumo das multidões, induzidas pelo perfume sedutor da publicidade. Na era em que vivemos, felicidade é frequentemente equiparada à posse de dinheiro. Mas na realidade, ainda sabemos muito pouco sobre o que é estar feliz. Quando somos instigados a descrever o que de fato sentimos quando nos percebemos felizes, quase sempre titubeamos, tergiversamos.
Foi pensando nisso que o psicólogo israelense Daniel Kahneman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia em 2002, desenvolveu a chamada “ciência hedônica”, com o intuito de compreender e decifrar os elos que conduzem à sensação de plenitude de prazer nas pessoas. Em suas primeiras investigações, a “ciência hedônica” demonstrou que o sucesso material de fato contribui para a conquista da felicidade - mas até certo nível. Segundo tais estudos, se, por exemplo, uma pessoa em estado de absoluta pobreza e miséria obtém algum avanço e alcança o atendimento das suas necessidades básicas de sobrevivência, posteriormente, passa desse nível para uma situação de vida confortável e dessa situação para uma condição de certo grau de luxo, sua felicidade de fato aumenta. Contudo, após um certo ponto, mais bens materiais não trariam mais satisfação a essa pessoa. O que
importará a esta altura são os chamados “fatores não-materiais”, tais como companheirismo, famílias harmoniosas, relacionamentos amorosos, e a sensação de viver uma vida significativa.
Um exemplo que corrobora as descobertas dos pesquisadores da felicidade é o fato de observarmos uma grande quantidade de pessoas infelizes vivendo nos Estados Unidos, a maior economia do planeta. Pesquisas indicam que um em cada quatro americanos é infeliz ou deprimido. Durante as décadas de acelerado crescimento econômico, nos pós-guerra, período no qual o PIB praticamente triplicou; os EUA também viram triplicar o número de suicídios entre adolescentes, quadruplicar o número de mortes violentas e quintuplicar a quantidade de presidiários. Para os estudiosos, a causa desse descompasso é a falta de significado. Se as pessoas não veem significado em suas realizações, não conseguem se perceber felizes. Parece ser esta a chave para a compreensão: uma vida feliz é uma vida significativa.
FELICIDADE AUTÊNTICA
Todo o trabalho da MedIntegral é ancorado no bem-estar
contínuo. Este é algo que pertence às aspirações e desejos
do homem identificado com a sua história.
91
O que queremos dizer é que não há um topo, um cume,
um tempo em nossas vidas em que permaneceremos
felizes para sempre, como nos contos de fada. Não há
como conceber uma vida em que haja apenas o bem-
estar. Ao atingirmos uma dada realização ou algo
almejado, automaticamente entraremos novamente em
um novo ciclo de buscas, em um novo estágio de menor
bem-estar. Ser feliz o tempo todo é algo impossível, e caso
houvesse tal possibilidade, a vida seria um tédio total,
provavelmente infeliz. O que devemos ter consciência é de
que esta oscilação entre momentos de maior e de menor
intensidade no nível de bem-estar é que é a lógica da
dualidade da vida.
No entanto, existe um lugar não dual, no qual não há
identificação com os aspectos opostos da dualidade. É um
estado contínuo de ser. E esse é o conceito de “felicidade
autêntica”.
A “felicidade autêntica” difere muito da noção habitual de
felicidade. Não é prazer, não é vitória, não é uma
conquista. É realização (como consciência de estar sendo).
Para atingi-la, não temos que seguir nenhum fluxo. Somos
o fluxo e pertencemos a ele. Tal qual uma gota no oceano.
Ela não segue o fluxo do oceano, pois é o próprio oceano.
Assim é a felicidade autêntica.
Por todas estas características, podemos depreender a
felicidade autêntica como fruto do autoconhecimento.
Este é, talvez, o único pré-requisito ao qual você deverá
submeter-se. E deverá ser um desejo totalmente
voluntário já que tal processo o conduzirá a uma revisão
plena de todos os seus valores e suas crenças. A mudança
de paradigma reformulará toda a sua vida, seu
comportamento e sua cultura. A realidade será percebida
por você com olhares muito mais abrangentes. Você será
diferente. Será verdadeiro, adulto, realizado.
Não propomos aqui a adoção de um determinado estilo
de vida. Ter estilo de vida é submeter-se a um dado
número de pré-conceitos. É não ser você. É viver em
função do olhar do outro, das convenções de um dado
grupo social ou do modismo da época. A realização, fruto
da consciência da felicidade autêntica, é exatamente não
ter um estilo de vida definido, mas estar presente para a
criatividade e decisão a cada momento do que e se fazer.
Nos manuais de autoajuda é comum encontrarmos
estudos acerca do comportamento das pessoas tidas
como realizadas e felizes. Na grande maioria deles são
feitas enumerações contendo o comportamento adotado
por tais pessoas. Para atingirmos o mesmo grau de
realização daquelas pessoas bastaria (segundo tais
92
manuais) seguir à risca os itens enumerados. E assim
passamos a imitar Buda, Jesus Cristo, Ghandi, Bill Gates e
tantos outros. É claro que isto não dará certo. O
comportamento e estilo de vida deles é a representação
objetiva daquilo que neles é individual e interno. Eles
foram assim por um sem número de razões que não nos
cabe compreender. Aquele comportamento não é um
modelo, o modelo eram eles.
Você pode estar se questionando se a MedIntegral
também não repete em parte a forma dos manuais
referidos acima. De certa forma, sim. Este livro não deixa
de ter o seu caráter indutor, afinal, estamos propondo
algo que interferirá no seu modo de viver. Mas
diferentemente de tais métodos, não propomos aqui
nenhum Eldorado no fim do caminho. Demonstramos,
apenas, que há um caminho, que é feito de consciência e
percepção da existência. E neste caminho pode acontecer
a realização.
SUSTENTABILIDADE
Sustentabilidade não é um knowhow, é ser de outra
maneira.
Augusto de Campos
93
A palavra “sustentabilidade”, apesar de muito em voga
atualmente, quase sempre é compreendida de forma
reduzida, com a ênfase voltada apenas no que no termo
concerne ao meio ambiente. No entanto, meio ambiente é
apenas uma das dimensões desse conceito
multidimensional.
A manutenção das condições de vida do homem e dos
demais seres vivos da Terra engloba desde aspectos
econômicos e sociais até culturais. A emissão de carbono
não promove somente o efeito estufa, mas também
doenças. Os agrotóxicos, por exemplo, provocam uma
ação em cadeia, sendo a contaminação do alimento, dos
rios (e dos peixes que neles vivem) apenas uma pequena
parte do problema. Sustentabilidade é, portanto, um tema
que diz respeito à saúde pública e por consequência à
medicina. Nesse sentido, é preciso que os administradores
das políticas de saúde pública se comprometam em
oferecer ensinamentos e alternativas.
Como seria, então, um sistema de saúde que praticasse
essa abordagem, e pudesse ensinar às pessoas como lidar
com formas mais simples e eficientes de se utilizar das
vantagens do meio, sem obrigá-las a adotar um estilo
alternativo de vida?
Penso que, nesse sentido, o modelo proposto pela
MedIntegral tem muito a contribuir para esse avanço. Em
todos os significados do verbo “sustentar” pressupomos a
necessidade de ação, o que nos induz a supor que, se
necessário, é preciso adaptar-nos às condições impostas
para nos manter vivos. É com base em tal leitura que
proponho este novo método.
Ao observar a natureza, verificamos que isso ocorre o
tempo todo. Os sistemas vivos constroem seus
componentes a partir da transformação de si mesmos,
adaptam-se para se sustentar. Como, por exemplo, o
processo de digestão: ingere-se uma fruta, esta será
quebrada em açúcar (frutose), e, absorvida pelo
organismo, tornar-se-á energia, após sucessivas reações
químicas. É o corpo agindo para manter-se vivo,
conservado. Tudo se resolve com os próprios
componentes do sistema. Quando há pouco cálcio no
sangue, o organismo retira-o dos ossos para manter o
nível de pH dentro da normalidade. A tudo isso
denominamos “equilíbrio”, e equilíbrio é sustentação.
Se, como vimos, um dos aspectos da sustentação é a
transformação, somente a mudança de paradigma (como
a proposta pela MedIntegral) é a saída para uma vida mais
saudável e plena.
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O CONCEITO DE SUSTENTABILIDADE INTEGRAL As discussões acerca da sustentabilidade estão fortemente focadas no convívio entre a preservação dos recursos naturais e o desenvolvimento econômico. De fato, esse é um ponto nevrálgico da equação, mas há outras faces do problema pouco vislumbradas pela maioria dos analistas. Pouco se fala, por exemplo, das dimensões biológica (saúde, bem-estar, alimentação e comportamento), pessoal (cognitiva, emocional e valores pessoais) e na sociocultural (cooperação, promovido pelas redes sociais e liberdade ensejada pela democratização das relações).
Um outro ponto a ser considerado é que as políticas
públicas voltadas para esse tema visam soluções pontuais
e pragmáticas, como se houvesse um caminho próprio
para se atingir a sustentabilidade. Tal caminho,
entretanto, não existe. A sustentabilidade é o caminho. É
um processo contínuo da humanidade. Não é um know-
how, mas um modo de ser. Em outras palavras, para ser
sustentável um sistema qualquer tem que aprender a se
autorregular.
É com base nessa consciência que formulamos o conceito
de sustentabilidade integral, segundo o qual cabe a cada
indivíduo promover ininterruptamente a sua adaptação às
novas demandas do mundo. Se cada um de nós for
integralmente sustentável, criaremos uma cultura de
sustentabilidade e consequentemente uma estrutura
sustentável na qual encontraremos os atributos
necessários para a saúde e bem-estar integral equânimes.
Eis a base do conceito.
1- Augusto de Franco - Escolas de redes- Tudo que é
sustentável tem o padrão de rede.
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