A Pregação No Movimento Puritano

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    William Perkins e a pregação no movimento puritano

     

    Franklin Ferreira

    1. Modelos de pregação no fim da Idade Média e na Renascença

    Ao fim da Idade Média e no começo da Renascença havia dois métodos de pregação principais:

    O método antigo, surgido na Antigüidade, chamado desta forma por estar ligado aos primeiros pregadores, como Crisstomo e Agostinho, e por ocasião da Reforma, a !oão

    Calvino" O método antigo de pregação não tinha nenhuma estrutura ela#orada deorgani$ação, seguindo a ordem do te%to, com e%egese e aplicação, muitas ve$es deforma e%tempor&nea"

    O método moderno, surgido na Idade Média" 'ra um estilo de pregação (ue sedesenvolveu com #ase na oratria ciceroniana e supunha uma vasta cultura filosfica,oratria, poética e histrica, além do e%erc)cio e a imitação dos melhores autores, dassuas sentenças e de seu conte*do moral, como presente nas homilias anglicanas" Mas+illiam er-ins tomou esta forma de pregação e eliminou todo pedantismo e linguagemva$ia e sem sentido, criando um novo estilo de sermão" or (ue essa necessidade dereformar até mesmo o estilo da pregação. or(ue, para os puritanos, até mesmo pregarera uma atividade su#versiva e seu o#/etivo era a reforma do car0ter e da ação 12reformar a vida da impiedade3, como er-ins afirmou"

    2. Reformando a piedade

    +illiam er-ins nasceu em 4556, no vilare/o de Marston !a##et, em +ar7ic-shire,Inglaterra" 8a#emos pouco so#re sua /uventude até ele dei%ar sua casa para começarseus estudos na Faculdade de Cristo, em Cam#ridge, em /unho de 4599" er-ins sematriculou na faculdade como pensionista, o (ue sugere (ue ele pertencia a uma fam)liade classe média #em esta#elecida" A vida na universidade desafiou a criação religiosa de

    er-ins" 'le parecia ter perdido toda e (ual(uer fé cristã (ue um dia possu)ra" essev0cuo espiritual surgiu um su#stituto novo, mais fascinante: o oculto" Anos mais tarde,er-ins descreveria assim essa fascinação pela m0gica e pelo oculto: 2;urante muitotempo, estudei essa arte e nunca me satisfa$ia até desco#rir todos os seus segredos" Masdepois, aprouve a ;eus colocar diante de mim a #lasf

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     #eneficiado de alguma maneira de sua instrução3" ma das coisas (ue atra)a seus alunosera o seu amor pela simetria e precisão lgica" 8egundo seu amigo Ro#ert Bill, 2eletinha um e%celente dom para definir de maneira correta, dividir com e%atidão,argumentar com sutile$a, responder diretamente, falar com vigor e escrever de maneira

     /udicial3" Além de suas tarefas rotineiras de professor, er-ins, pelo restante de sua vida,

    foi palestrante na igre/a de 8anto André, locali$ada #em em frente da Faculdade deCristo" 8eu ministério no p*lpito pulsava com a mesma força (ue animava os seusensinamentos" homas Duller nos di$ (ue, 2do p*lpito, ele pronunciava a palavraEperdiçãoF com tamanha

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    ministerial,treinando uma nova geração na arte da pregação e%positiva eaconselhamento pastoral" 'le escreveu um cl0ssico intitulado a Arte de Profetizar ,usando a palavra 2profeti$ar3 no sentido de pregar" O propsito era dar aos pregadoresingleses um livro de homilética para usarem no preparo dos seus sermGes" Dinalmente,ele defendeu a necessidade de uma renovação moralpor meio de manuais de vida cristã,

    escrevendo so#re a oração do 8enhor, o culto cristão, a vocação cristã e v0rios casos deconsci

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    do sermão o pregador deveria dei%ar de lado a sa#edoria humana e pregar emdemonstração do 'sp)rito3" A sa#edoria humana deveria estar oculta dentro do conte*dodo sermão e na sua entrega" Isso por(ue 2a pregação da alavra é o testemunho de ;euse a confissão do conhecimento de Cristo e não da ha#ilidade humana3" or(ue, no fim:2Os ouvintes não deveriam ter uma fé dependente da ha#ilidade humana, e, sim, do

     poder da alavra de ;eus3"

    #. $ preparação para o sermão

    er-ins dedicou os primeiros cap)tulos de seu tratado a uma e%posição do (ue é a'scritura" 'le fala inicialmente da e%cel

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    4" 2A leitura do te%to claramente das 'scrituras cannicas3" Uer atentamente o te%to nas'scrituras no idioma do povo comum"

    ?" 2'%plicação do seu sentido, aps ter sido lido, > lu$ das prprias 'scrituras3" ;ar osentido e a compreensão do (ue est0 sendo lido pela prpria 'scritura e tirar do te%to o

    seu significado natural, segundo o conte%to onde se encontra a passagem, retirandoalguns pontos *teis da doutrina" 8eguindo este método o pregador mostra de forma clara> sua congregação (ue a doutrina (ue est0 pregando vem diretamente de uma e%egeseda 'scritura" 'ntão, desenvolve a doutrina (ue e%traiu da 'scritura através dedemonstraçGes e argumentos" esse conte%to precisamos enfati$ar (ue os puritanosenfati$aram a pregação e%positiva, não raro, pregando anos a fio em um livro da Q)#lia"'m sua pregação, er-ins e%ps W0latas 4J5, Mateus 5J9, !udas, Be#reus 44 eApocalipse 4JV"

    V" 2A e%tração de alguns pontos doutrin0rios a partir do sentido natural da passagem3:!untar uns poucos e proveitosos pontos doutrinais, e%tra)dos do sentido natural" A

    doutrina é o resumo das verdades encontradas no te%to" Como e%emplo: 2Osverdadeiros minstros do evangelhoS não devem pregar nem somente a lei nem oevangelho, como alguns sem sa#edoria o fa$em""" anto a lei como o evangelho devemser pregadosK a lei para dar > lu$ o arrependimento e o evangelho para condu$ir > fé"Mas eles devem ser pregados na ordem apropriada, primeiro a lei para produ$irarrependimento, e então o evangelho para operar fé e perdão 1 nunca ao contr0rio3"

    =" 28e o pregador for suficientemente dotado, a aplicação das doutrinas e%plicadas >vida e pr0tica da congregação em palavras diretas e claras3" Aplicar as doutrinasselecionadas, de forma precisa, > vida e ao modo de agir dos homens em umaapresentação simples, clara e pr0tica" er-ins classificou os ouvintes regulares em umacongregação em sete categorias: 4 a(uele (ue é a#solutamente ignorante e incapa$ deser ensinadoK ? a(uele (ue é completamente ignorante, (ue não sa#e de nada, mas podeser instru)doK V a(uele (ue teve algum conhecimento, mas não foi humilhado ou(ue#rantadoK = a(uele (ue est0 (ue#rantadoK 5 a(uele (ue cr

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    irrefut0veis da e%egese e, se houvesse necessidade, estes princ)pios poderiam serrepetidos através de demonstração e argumentação" ma ve$ (ue a pessoa aceitasse averdade (ue estava sendo proclamada, ela estava em condiçGes de aplicar > sua vida eao seu pensamento a(uilo (ue o pastor estava falando" ão é somente se dirigir aointelecto da congregação, mas persuadir as pessoas intelectualmente da verdade da

    'scritura" 8o#re este fundamento ele partia para a aplicação3"

    V" O sermão deve ser de f0cil memori$ação e claro" er-ins afirmou (ue pregar 2deveser simples, perspica$ e evidente""" X um provér#io entre ns: Efoi um sermão muitosimplesF" ' eu digo de novo, (uanto mais simples, melhor3"

    =" O sermão deve ser transformador" Dica #vio (ue er-ins sa#ia o (ue (ueria alcançarcom sua pregação 1 ele era orientado por um o#/etivo m0%imo, a vida santaK e a verdadedoutrin0ria era um meio para esse fim"

    %. Pregando &risto

     a Inglaterra do século YTII, VZ da população eram catlicos, 45Z influenciada pelos puritanos e 95Z religiosamente indiferente" Ou se/a, a vasta maioria do povo nãodemonstrava interesse pelo evangelho" Os puritanos (ueriam reformar a igre/a inglesa eo (ue eles fi$eram para conseguir isso. Colocar em cada parte da Inglaterra um pastor(ue fosse competente para pregar a alavra de ;eus" O impacto desse novo modelo de

     pregação pode ser evidenciado na imagem do pregador (ue rece#emos na grandealegoria cristã escrita (uase cem anos depois do ministério de er-ins, por !ohnQunan:

    Cristão 1 8enhor, venho da Cidade da ;estruição e me diri/o ao monte 8ião" O homem(ue fica > porta me disse no in)cio deste caminho (ue, se eu #atesse a(ui, o senhor memostraria coisas e%celentes, coisas (ue me seriam proveitosas na /ornada"

    Intérprete 1 'ntre" Tou mostrarJlhe algo (ue lhe ser0 proveitoso"

    Mandou seu servo acender a vela, e fe$ sinal para (ue Cristão o acompanhasse" UevouJoa um aposento e mandou o servo a#rir a porta" Deito isso, Cristão viu pendurado na

     parede o (uadro de uma pessoa #astante séria" 'ra esta a sua apars suas costasK pela postura parecia apelar aos

    homens, e da ca#eça lhe pendia uma coroa de ouro"Cristão 1 O (ue significa isso.

    Intérprete 1 O homem cu/a figura voc< est0 vendo é um dentre mil" ode gerar filhos,d0Jlos > lu$ e ainda amament0Jlos ele mesmo, depois" ' se voc< o v< de olhos erguidosaos céus, com o melhor dos livros nas mãos e a lei da verdade gravada nos l0#ios, é paramostrarJlhe (ue o tra#alho dele é conhecer e revelar coisas som#rias aos pecadores,como tam#ém apelar aos homens"

     1 8e voc< v< o mundo >s suas costas 1 continuou Intérprete 1 e uma coroa pendendo da

    ca#eça dele, isto é para mostrarJlhe (ue, despre$ando e desdenhando as coisas presentes pelo amor com (ue serve ao seu Mestre, certamente ter0 por recompensa a glria, no

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    mundo (ue h0 de vir"

     1 Ora 1 disse ele ainda 1, mostreiJlhe primeiro este (uadro por(ue o homem cu/a figuravoc< est0 vendo é o *nico homem a (uem o 8enhor do lugar para onde voc< est0 indoautori$ou para gui0Jlo em todos os lugares dif)ceis (ue voc< talve$ encontre pelo

    caminho" ortanto, preste #astante atenção ao (ue lhe mostrei" Wuarde #em o (ue voc ru)na e > morte"

    Como resultado do ministério de er-ins, pelo menos uma centena de pregadores seespalhou pela Inglaterra e pela colnia americana, sendo instrumentais na segundareforma inglesa" X apropriado terminarmos com o resumo (ue ele oferece no fim de seumanual de pregação: 2O cerne da (uestão é este: pregar Cristo, por meio de Cristo, paralouvor de Cristo3" ', (ue como er-ins, digamos: 2ara o ;eus trino se/a a glria3"