A Produção de Florestas Plantadas de Eucalipto sob a Ótica da ...

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  • Julho 2008

    Celso Foelkel

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    www.abtcp.org.br

    A Produo de Florestas Plantadas de Eucalipto sob a

    tica da Ecoeficcia, Ecoeficincia e

    da Produo mais Limpa

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    Empresas patrocinadoras:

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    A Produo de Florestas Plantadas de Eucalipto sob a

    tica da Ecoeficcia, Ecoeficincia e

    da Produo mais Limpa

    Celso Foelkel

    CONTEDO

    INTRODUO

    REVISANDO CONCEITOS SOBRE ECOEFICCIA, ECOEFICINCIA E PRODUO MAIS LIMPA

    ASPECTOS DO SUCESSO TECNOLGICO DAS PLANTAES FLORESTAIS DE EUCALIPTOS NO BRASIL E SUA POTENCIAL

    OTIMIZAO PELA ECOEFICCIA, ECOEFICINCIA E P+L

    ESTUDOS DE CASO PARA NOVAS OPORTUNIDADES EM ECOEFICINCIA E P+L NA REA FLORESTAL

    ALGUNS CASOS DA VIDA REAL EXEMPLIFICANDO SITUAES DE ECOEFICINCIA OU DE ECO-INEFICINCIA

    CONSIDERAES FINAIS

    REFERNCIAS DA LITERATURA E SUGESTES PARA LEITURA

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    A Produo de Florestas Plantadas de Eucalipto sob a

    tica da Ecoeficcia, Ecoeficincia e

    da Produo mais Limpa

    Celso Foelkel

    www.celso-foelkel.com.br

    www.eucalyptus.com.br

    www.abtcp.org.br

    INTRODUO

    Dentre as muitas atividades de sucesso do setor empresarial brasileiro

    destaca-se aquela correspondente s florestas plantadas e manufatura dos

    produtos delas derivados. Esse setor bastante jovem no Brasil,

    corresponde a cerca de um sculo de realizaes, sempre com continuado

    sucesso e crescimento.

    Toda essa histria se iniciou nos princpios dos anos 1900s com a

    introduo dos eucaliptos para plantaes comerciais para fornecimento de

    madeira para a Cia. Paulista de Estradas de Ferro, no estado de So Paulo.

    Com seu crescimento rpido e alta qualidade, essas florestas logo mostraram

    seu potencial para suprir de matria-prima outros setores industriais no pas.

    A partir dos anos 1950s, as madeiras dos eucaliptos foram gradualmente

    conquistando novos mercados para fabricao de celulose, papel, chapas de

    fibras, aglomerados de madeira, siderurgia com base no carvo vegetal, etc.

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    Mais recentemente, por volta dos anos 1990s, o eucalipto deu o salto que

    precisava para conquistar mercados mais nobres da madeira, como aqueles

    para produo de mveis, construo de residncias, pisos, esquadrias de

    madeira, laminados e aglomerados, MDF, etc., etc. Enfim, um sucesso

    tecnolgico e mercadolgico graas a esses imigrantes vegetais que vieram

    da Austrlia e da Indonsia. Juntos a eles se agruparam outros importantes

    imigrantes, como as espcies dos Pinus, que vieram dos Estados Unidos da

    Amrica, Mxico e pases da Amrica Central e Caribe.

    importante se ressaltar porm, que foi s a partir dos anos 1960s

    que a Silvicultura brasileira ganhou o status de cincia prpria, libertando-

    se da Agronomia para caminhar por si mesmo, apesar das suas muitas

    interaes com outras cincias. A introduo da carreira de engenharia

    florestal no Brasil logo permitiu a formao de profissionais apropriados para

    as realidades do setor. A criao de institutos de pesquisas cooperativos

    entre empresas e universidades veio a consolidar as necessrias bases

    cientficas e tecnolgicas para que o Brasil passasse a desfrutar da liderana

    tecnolgica e de produtividade florestal a nvel mundial. O IPEF (Instituto de

    Pesquisas e Estudos Florestais www.ipef.br), a SIF (Sociedade de

    Investigaes Florestais - www.sif.org.br ), o CEPEF (Centro de Pesquisas

    Florestais www.ufsm.br/cepef) e a FUPEF (Fundao de Pesquisas

    Florestais do Paran www.fupef.ufpr.br) ajudaram com a gerao de

    conhecimentos e a formao de profissionais nas correspondentes

    universidades onde estavam instalados (USP, UFV, UFSM e UFPR).

    Todo esse desenvolvimento no ocorreu apenas na produtividade das

    plantaes, mas ocorreu tambm na rea de gesto empresarial e na gesto

    ambiental. A desejada Sustentabilidade tem sido buscada atravs da

    eficiente gesto atravs de certificaes como IS0 9000, IS0 14000, OHSAS

    18000 e certificaes florestais FSC e CERFLOR (ABNT/INMETRO, com

    reconhecimento mtuo do PEFC Programme for Endorsement of Forest

    Certification Schemes - www.pefc.org ). Enfim, ganhamos muita

    produtividade e competitividade florestal, mas ao mesmo tempo, ganhamos

    qualidade, segurana e sade ambiental.

    Estou sempre mencionando que Sustentabilidade uma estrada sem

    caminho final. Nunca podemos dizer que atingimos a Sustentabilidade, pois

    seu conceito envolve altssimo dinamismo e uma constante e permanente

    viso de futuro. Afinal, estamos sempre trabalhando para que nossas aes

    no hoje no venham a trazer problemas para as geraes futuras. Portanto,

    como o futuro nunca chega, est sempre adiante do hoje, sempre deveremos

    estar buscando a Sustentabilidade, no importa quando e onde!

    Um dos conceitos ainda pouco difundidos no setor de base florestal

    o da Ecoeficincia, que est intimamente relacionado com o que se denomina

    de Produo mais Limpa (P+L). Por incrvel que possa parecer, quando se faz

    uma pesquisa com o mecanismo de busca do www.google.com.br ou

    qualquer outro, se encontra uma enormidade de citaes para essas

    palavras: ecoeficincia e produo mais limpa. Entretanto, quando se

    http://www.ipef.br),http://www.sif.org.brhttp://www.ufsm.br/cepef)http://www.fupef.ufpr.br)http://www.pefc.orghttp://www.google.com.br

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    refina a busca para tentar se encontrar exemplos claros dessas ferramentas

    no setor de florestas plantadas, em qualquer lugar do nosso planeta, os

    resultados so poucos, vagos e sem nenhuma orientao de como se fazer o

    dever de casa, caso se queira utilizar das mesmas no setor. Eu

    particularmente tenho escrito e falado muito sobre isso. Entendo que o setor

    brasileiro de florestas plantadas tem mostrado forte envolvimento nos temas

    ambientais, mas encontra-se at certo ponto guiado e centrado pelas

    certificaes e orientaes IS0 e FSC/CERFLOR. Acredito que a introduo

    das vertentes ecoeficcia, ecoeficincia e produo mais limpa pode melhorar

    ainda mais a performance ambiental do setor. A razo para dizer isso, depois

    de completar 10 anos praticando com esses conceitos, porque entendo que

    esses conceitos ajudam a ver melhor o mundo. So conceitos interessantes,

    intrigantes e motivadores. Eles buscam orientar, aos que os conhecem, para

    solucionar os problemas na origem e no para buscar alternativas tardias

    para se mitigar os efeitos depois que os problemas ocorreram. Com essa

    filosofia de trabalho implantada, estreitam-se ainda mais as inter-relaes na

    cadeia produtiva, envolvendo o ciclo de vida completo e no apenas uma

    fase dele. Por exemplo, ao iniciarmos o nosso ciclo de vida ainda no desenho

    da semente ou do material clonal para a fabricao de MDF (Medium

    Density Fiberboard) de eucalipto, nosso foco dever se estender por toda a

    cadeia de produo, uso e destinao final do MDF e no apenas nas

    florestas produtoras de madeira para a fabricao desse produto. Muitas das

    decises sobre a qualidade da madeira ou sobre o potencial da prpria

    floresta plantada poder receber e ter resduos (lodos compostados) da

    fabricao desse MDF incorporados ao solo podero ser entendidas como

    importantes e aceitas como desafios pelos envolvidos. Caso raciocinemos

    separadamente, dificilmente a rea florestal se mostraria interessada em ter

    resduos orgnicos de lodos industriais aplicados sobre seus solos, pois isso

    estaria agregando custos importantes. A visibilidade da cadeia produtiva ou

    da rede de valor seria mnima nesse caso, cada um pensando e olhando

    apenas o seu prprio umbigo.

    No caso da fabricao do papel por exemplo, o final da rede de valor

    a prpria reciclagem do papel. A fabricao de papel reciclado rejuvenesce o

    papel velho, d a ele nova chance de ser usado, agrega vantagem ambiental

    e permite reduo de material para os aterros sanitrios. Para a fabricao

    desse papel reciclado h gerao de novos resduos, tais como lodos

    secundrios biolgicos, lodos primrios fibrosos e ricos em cargas minerais,

    cinzas de caldeiras de biomassa, etc. Alguns desses materiais podem

    retornar para a floresta plantada como compostos fertilizantes, agindo

    positivamente na riqueza mineral e na estruturao dos solos florestais.

    Reduzem-se com isso, os resduos na cadeia produtiva para a qual esto

    nossas rvores sendo plantadas. Muito bonito e sustentvel isso. Entretanto,

    essas prticas precisam ser feitas com muita cincia, para evitar que o solo

    florestal assuma um indesejvel papel de aterro industrial pelos que gostam

    de tirar proveito do meio ambiente.

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    Quando damos uma passeada pelas nossas reas de florestas

    plantadas, sentimos um enorme orgulho do que fizemos nessas poucas

    dcadas de desenvolvimento florestal no Brasil. Entretanto, se podem notar

    muitas oportunidades para maior ecoeficincia. Isso sempre ser assim. A

    regra que devemos perseguir a mesma que norteia a melhoria contnua:

    sempre existir um meio mais simples e mais eficiente de se fazer algo do

    que a maneira pela qual estamos fazendo hoje. Mostrei a vocs, em captulo

    anterior (captulo 07) desse Eucalyptus Online Book, as enormes

    possibilidades que existem para se recuperar grandes quantidades de

    madeira sendo atualmente desperdiadas pelos plantadores de florestas, que

    deixam para trs substanciais volumes de madeira boa e apta para ser

    consumida (Gesto ecoeficiente dos resduos florestais lenhosos da

    eucaliptocultura http://www.eucalyptus.com.br/capitulos/PT07_residuoslenhosos.pdf).

    Naquele captulo mencionei valores de perdas que podem variar de 2 a 8%

    do que a floresta produziu. Valores como esse surpreendem a muitos, que

    no esto vendo essa enormidade de madeira perdida e deixada sem uso.

    Alguns at tentam mostrar uma vocao ambientalista e dizem que muito

    bom deixar essa madeira perdida no campo para ajudar na ciclagem de

    nutrientes. Apesar disso ser at certo ponto verdadeiro; nem toda verdade

    a melhor das verdades. J existem muitos resduos orgnicos nutritivos para

    serem deixados como resduos valiosos da colheita: galhos finos, cascas,

    folhas, etc. Eles estaro cumprindo melhor esse papel do que a madeira de

    rvores finas, ponteiros e galhos grossos. A madeira pobre em nitrognio,

    demora para degradar e compete pelo nitrognio do solo para sua

    biodegradao. Alm disso, a madeira foi produzida pela floresta para ser

    usada como matria-prima ou como produto da floresta plantada. Caso no

    a usemos, deixando-a no campo, teremos que plantar mais florestas para ter

    acesso a essas quantidades desperdiadas, no mesmo? Veja-se que uma

    fbrica que tenha a necessidade de 100.000 hectares de florestas

    efetivamente plantadas para seu abastecimento contnuo, se ela assumir um

    desperdcio de 4% de madeira, ter no mais a necessidade de 100.000

    hectares, mas de 104.000. Novos custos, novos impactos, mais operaes

    sero consumidas, aumentando a demanda de bens da Natureza. Esse

    talvez seja um dos exemplos mais gritantes de nossa atuao em termos de

    eco-ineficincia. Mas existem outras oportunidades a mais para que eu possa

    dialogar com vocs ao longo desse captulo.

    Foi muito bom usar a palavra Dialogar na frase anterior. Isso porque

    um dos fundamentos mais bsicos que batalho para que pratiquemos a

    ecoeficincia o que chamo de Dilogo com o processo, com as plantas e

    com os operadores. Falar com a floresta, falar com a biodiversidade,

    procurar entender seus sentimentos, suas dificuldades e seus problemas

    muito importante. Temos que aprender a desenvolver isso, pois essa

    percepo do que a Natureza nos conta ajuda muito a se melhorar a

    ecoeficincia ambiental. Dialogar com as pessoas tambm ajuda, e muito!

    http://www.eucalyptus.com.br/capitulos/PT07_residuoslenhosos.pdf).

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    Gostaria de dar alguns exemplos simples sobre isso para vocs. Vou

    lhes contar nossos primeiros dois exemplos agora que chamarei de exemplos

    01 e 02. Sero muitos outros exemplos que usarei ao longo desse captulo

    para lhes mostrar como se raciocinar sob a tica da ecoeficcia, ecoeficincia

    e da P+L. Esses dois exemplos se referem ao Dilogo com os Habitantes da

    Floresta.

    Exemplo 01:

    Tenho sido consultor por alguns anos da empresa Nobrecel S/A., no Vale do

    Paraba, estado de So Paulo. Quando l iniciei minhas atividades no ano

    2000, a empresa no possua plantios clonais de eucaliptos. Toda a produo

    se baseava em plantaes de Eucalyptus grandis, sendo as mudas obtidas a

    partir de sementes adquiridas junto ao IPEF. Ocorriam graves problemas

    fitossanitrios com essa espcie na regio, que muito propcia ao ataque da

    doena conhecida por ferrugem (causada pelo fungo Puccinia psidii). Com

    isso, a produtividade era muito prejudicada. Decidimos por introduzir tanto o

    plantio por mudas obtidas de sementes como o plantio clonal do hbrido

    Eucalyptus urograndis, que bem mais tolerante a essa doena e tambm

    ao cancro do eucalipto (causada pelo fungo Cryphonectria cubensis).

    Conseguimos mudas clonais excelentes junto empresa Riocell S/A, que

    vendeu as mudas com um dossier tcnico sobre o material. Foram

    inicialmente adquiridos alguns milhares de mudas clonais desse clone e essas

    foram produzidas no Rio Grande do Sul. Uma beleza de mudas, muito

    adequadas para o plantio imediato quando chegaram ao Vale do Paraba. Na

    poca, a empresa no tinha tradio em plantar clones e a tecnologia

    florestal estava passando por rpido processo de transformao. Um dos

    supervisores da rea florestal, meu estimado amigo Saul da Silva Garcez

    curiosamente no se simpatizou de imediato com as mudas recm chegadas

    do clone. Comentou comigo que pareciam pequenas e que estavam muito

    verdes, querendo dizer que deveriam ter sofrido mais antes de irem para o

    campo para plantio. Quando a primeira rea foi plantada , cerca de uns 25%

    das mudas no resistiram e morreram. Na minha primeira visita aps esse

    evento, o Saul veio me dizer: Prof. Celso, como me chama ele, aquelas

    mudas no eram boas mesmo, muitas morreram no primeiro plantio que

    fizemos. E eu disse ao amigo Saul: Voc por acaso conversou com elas e

    lhes perguntou porque elas morreram?. O Saul se mostrou intrigado com

    essa pergunta e me questionou como fazer isso se muda no fala, por isso

    mesmo muda e elas ainda no poderiam falar porque estavam mortas.

    Disse eu ento, vamos visit-las e ver porque morreram. Subimos

    valentemente o morro com declive forte onde elas haviam sido plantadas na

    Fazenda Estiva. Muitas plantas fomos encontrando vivas, vegetando bem e

    formando suas copas novas e razes. Efetivamente, existiam muitas mudas

    mortas, acima do esperado para uma situao como aquela. No havia

    indicaes de ataque de formigas, outros insetos ou de dficit hdrico ou

    dano mecnico. Peguei uma haste de madeira e comecei a perguntar a uma

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    muda morta a razo de sua morte. Comecei a cavar o solo em redor dela e a

    acarici-la, e subitamente ela despencou para dentro da cova. Saul se

    surpreendeu com a descoberta. Fizemos isso com outras mudas mortas e o

    mesmo ocorria. As mudas de tubetes, foram mal plantadas, as razes no

    estavam em contato com o solo. O operador do plantio, possivelmente novo

    na empresa, ou mal treinado, ou ainda com pressa de fazer o servio, havia

    chegado terra apenas no colo da muda para sustent-la na superfcie do

    solo. Abaixo do nvel do solo, bem abaixo do colo da potencial nova rvore,

    ela ficava com suas razes suspensas no ar do buraco aberto da cova.

    Morriam por falta de gua e de comida, mesmo havendo gua e nutrientes

    do adubo to perto delas. Saul, uma pessoa notvel e muito religiosa,

    respondeu-me rpido: Deus sempre nos ensinando coisas novas, vou a

    partir de agora falar mais com a Natureza. Tenho absoluta certeza que ele

    est fazendo isso muito bem.

    Exemplo 02:

    Em um trabalho de consultoria que realizei para a International Paper do

    Brasil no municpio de Trs Lagoas, estado de Mato Grosso do Sul, fomos em

    um dado momento visitar a rea florestal. As florestas eram magnficas e

    havia grande entusiasmo do engenheiro florestal Leonardo Bertola Abreu,

    que foi quem me acompanhou na visita. Expressei diversas vezes minha

    admirao pelo que estavam fazendo naquela poca (em 2006). Entretanto,

    notei que existiam dois talhes de um clone de eucalipto, exatamente um ao

    lado do outro, que tinham mesmo gentipo e mesma poca de plantio. Eles

    se diferenciavam muito em relao ao sub-bosque. Em um deles, existia

    praticamente uma infestao de uma arbusto nativo muito folhudo, que

    estava vegetando muito. No outro, nada se notava. A distncia era de

    poucos metros, o tipo de solo o mesmo, mas a vegetao era distinta no

    sub-bosque. Paramos e decidimos conversar com a floresta. Todos as

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    indicaes eram de que o banco de sementes do solo tinha sofrido algum

    tipo de quebra de dormncia especificamente para aquele tipo de vegetao.

    Perguntei s plantas se elas tinhas sido ativadas por algum incndio no local,

    antes do plantio. O Leonardo se antecipou resposta e me disse:

    Realmente, esse talho sofreu um pequeno incndio e decidimos reformar

    toda a rea, inclusive esse talho ao lado, que no teve a ao do fogo.

    Mais uma vez, dentre os muitos exemplos que todos ns temos para contar,

    podemos ver que o dilogo uma das melhores formas de entender a

    Natureza.

    O que me preocupa um pouco que muitos engenheiros da nova

    gerao de tcnicos florestais esto demasiadamente ocupados com seus

    computadores, checando suas mensagens de e-mail, ou elaborando belos

    grficos estatsticos para a reunio diria com as chefias. Eles visitam cada

    vez menos as florestas. Temo que desaprendam a ler as mensagens da

    Natureza, ou que nunca pratiquem o dilogo com os seres da floresta

    plantada.

    Atravs desses dois exemplos muito simples e de muitos outros mais

    que cada um de vocs possuem, possvel se ver que podemos sim

    conversar com as nossas florestas, seja com as plantadas ou com as nativas.

    tambm possvel se dialogar com nossos rios, cursos dgua, com a fauna,

    com a flora, etc. Vejam o caso de nossos rios. Se notamos que um pequeno

    ribeiro ou um rio que corta nosso horto florestal est com suas guas

    barrentas em um dia de chuva forte, no devemos olhar para isso como se

    no tivssemos nada a ver com o fato. Temos isso sim que ir at ele e lhe

    perguntar de onde esto vindos esses sedimentos todos que esto a sujar

    suas guas. Ser por acaso uma eroso de solo em alguma de nossas reas

    florestais? Onde estaria acontecendo? Se estiver ocorrendo em rea de um

    vizinho e no na nossa, o que devemos fazer? Achar que o problema dele

    apenas? Erradssimo, se estiver na terra de terceiros, o exato momento de

    praticarmos a tal de chamada Responsabilidade Social Corporativa de

    irmos l lhe contar sobre as tcnicas de preveno eroso e de

    conservao do solo.

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    A eroso do solo uma das maiores causas de poluio de nossos rios

    Enfim amigos, existem milhares de oportunidades em nosso dia-a-dia

    florestal. um privilgio se trabalhar em uma rea florestal. Deveramos dar

    um muito obrigado a Deus todo dia em que nos deslocamos por essas

    florestas e interagimos com o meio ambiente. Como maravilhoso poder ir

    trabalhar desfrutando as belezas de nosso eco-mosaico florestal onde se

    mesclam as reas de Natureza protegidas e as plantaes orientadas para a

    produo e produtividade. Se porm, ao irmos para nossas florestas,

    estivermos com a mente desviada apenas para os nmeros de custos, horas

    trabalhadas, nmero de homens.hora por cada atividade, auditorias e outras

    ferramentas mais de gesto operacional, podemos estar desprezando essa

    maravilhosa oportunidade que enxergar os indcios que a Natureza nos

    aponta de sua sade e vigor. Temos apenas e to somente que balancear

    isso: as ferramentas de gesto so importantes, estar na frente do

    computador para melhor nos preparar, idem. Entretanto, um bom

    engenheiro e tcnico florestal no pode deixar de conversar com suas

    florestas, correto? Voc j falou com elas recentemente?

    Os conceitos de ecoeficcia, ecoeficincia e de produo mais limpa

    foram bastante enfatizados em nosso captulo 09 do Eucalyptus Online

    Book (Ecoeficincia e produo mais limpa para a indstria de celulose e

    papel de eucalipto - http://www.eucalyptus.com.br/capitulos/PT09_ecoeficiencia.pdf).

    Agora, pretendo escrever um pouco e refletir com vocs sobre sua prtica na

    rea florestal. No tenho o objetivo de escrever um tratado de engenharia

    florestal, prometo. Seria impossvel se apresentar em um captulo de cerca

    de 110 pginas todas as centenas de oportunidades que existem para se

    otimizar as operaes florestais atravs da ecoeficincia e da P+L. Deixarei

    essa tarefa para vocs, aps a leitura desse captulo. O que tenho em mente

    trazer a vocs algumas situaes de nossa vida diria na rea de florestas

    http://www.eucalyptus.com.br/capitulos/PT09_ecoeficiencia.pdf).

  • 12

    plantadas e inserir nelas os conceitos fundamentais de ecoeficcia,

    ecoeficincia e da produo mais limpa. Atravs das mesmas, espero que

    muitos dos leitores passem a refletir a gesto e a sua vida profissional com

    um pouco desses conceitos inseridos. Evidentemente, estou me referindo

    apenas queles que ainda no conhecem e no praticam essas tcnicas

    ambientais. Mesmo aqueles que as praticam com outro nome podem

    eventualmente se re-motivarem para a gesto mais ecoeficiente em suas

    atividades profissionais.

    Comearemos lembrando que toda vez que perdemos ecoeficincia

    estaremos desperdiando insumos, matrias-primas e/ou tempo e

    prejudicando nossa produo. Tudo isso significa desperdiar Recursos

    Naturais, cada vez mais escassos. Tudo o que temos nossa disposio para

    operar e gerenciar nossas plantaes florestais so recursos naturais. Se

    usarmos mal dos mesmos, se os desperdiarmos, vamos estar colaborando

    para se esgotar esse banco da Natureza. Alm disso, desperdcios geram

    custos adicionais e menores resultados nos negcios.

    Vamos exemplificar ento com nossos exemplos 03 e 04.

    Exemplo 03:

    Quando adubamos mal nossas recm plantadas florestas, sem uma

    adequada avaliao da fertilidade do solo, sem conhecer as demandas

    nutricionais da planta ou sem saber distribuir bem o adubo para a planta o

    consumir, estaremos desperdiando recursos naturais triplamente. Porque?

    Fcil, vejam. Primeiro o adubo custoso que ser mal aproveitado pela planta.

    Segundo, na perda de produtividade da planta, que crescer menos rpido

    do que deveria. Agrava-se com o fato a mato-competio que ser maior e

    mais tratamentos com herbicidas se faro necessrios. Perdermos

    triplamente, em todos os casos com reduo dos estoques de recursos

    naturais.

    Muito importante a boa nutrio mineral das mudas para elas crescerem bem

  • 13

    Exemplo 04:

    Temos que desenvolver seriamente a conscincia de alcanar a produtividade

    florestal potencial e vivel em nossas reas florestais. Se a meta factvel de

    uma produtividade de 45 m/ha.ano e com colheita prevista para os 7 anos,

    devemos nos esforar para manter efetivamente essas metas. Se isso no

    ocorrer, as conseqncias para a Natureza sero perversas. A primeira delas

    que vai faltar madeira e os gestores da empresa com enorme probabilidade

    vo optar pela agresso s florestas mais jovens, colhendo-as com 5 ou 6

    anos, mesmo e apesar das menores produes que oferecero. Afinal diro,

    nossas fbricas no podem parar por falta de madeira. Ao se fazer isso

    estaremos impactando em muito a Natureza. O impacto sobre o solo ser

    muito mais acentuado, j que ser reduzido o perodo para o conhecido

    fenmeno da ciclagem dos nutrientes. Alm disso, a menor produtividade e

    oferta de madeira produzida exigir mais reas a serem plantadas. Isso

    significa mais impactos ambientais: mais insumos agrcolas, mais consumo

    de combustveis nas mquinas, etc., etc. Acredito que nem todos que

    trabalham no setor imaginam que quanto menor a produtividade florestal em

    termos de ritmo de crescimento, maior pode ser o impacto ambiental.

    Florestas altamente produtivas e implantadas com tcnicas adequadas de

    sustentabilidade podem ser muito mais ecoeficientes do que florestas de

    baixo incremento mdio anual. uma questo apenas de se avaliar como

    essas florestas produtivas foram plantadas, manejadas e colhidas. Se

    seguiram os princpios de bom manejo florestal, elas definitivamente so

    mais ecoeficientes do que as de menor crescimento.

    Muitas vezes, so as decises tomadas no planejamento das

    operaes que prejudicam a performance ambiental de nosso

    empreendimento. Escolhendo opes inadequadas estaremos sendo

    ineficazes e resultando em maiores danos ambientais. Segue nosso exemplo

    05 para lhes mostrar como a ineficcia na deciso pode resultar em uma

    escalada de problemas ambientais.

    Exemplo 05:

    muito comum que o projeto de uma fbrica de celulose ou papel considere

    o uso da casca da rvore como fonte de biomassa combustvel, alm da

    tambm utilizada lenha fina. O nosso projeto em questo prev que quando

    as rvores so abatidas, as toras colhidas so levadas do campo para a

    fbrica com casca. Tambm as toras de pequeno dimetro como as de

    ponteiros, galhos grossos e rvores finas so tambm colhidas e levadas

    para serem queimadas. Alm disso, no processamento interno da madeira na

    fbrica se geram novas fontes de biomassa. So madeiras resultantes da

    picagem das toras: lascas, cavacos sobre-dimensionados, serragem, etc. O

    resultado tem sido muito comum na grande maioria das empresas: sobra

    biomassa energtica na fbrica. Em geral sobra a casca, pois ela a de pior

    qualidade dentre essas biomassas citadas. Hoje, as modernas fbricas de

  • 14

    celulose e de papel so muito mais ecoeficientes no consumo de energia

    eltrica e trmica. Por isso, as demandas diminuram muito para esses tipos

    de energia nas recm construdas fbricas. Caso a empresa no tenha

    projetado formas para queimar toda a biomassa e vender energia eltrica

    para o mercado, a sobra de biomassa ser inevitvel. Surgiram ento

    fantsticos projetos de compostagem de biomassa para retorn-la floresta

    como adubo orgnico. Ou ento, surgem clientes externos para comprar o

    resduo casca, em geral pagando um preo miservel por ela. Isso porque o

    objetivo da empresa se livrar do resduo, evitando que ele se acumule e

    tenha que custar uma enormidade para ser disposto em um aterro. A pior e

    mais eco-ineficiente das solues desenvolvidas por muitas empresas se

    colocar essa casca toda em bota-foras ou aterros industriais da fbrica.

    Quando isso vier a acontecer, pelo menos que no se misturem os resduos

    de casca com outros resduos qumicos industriais. Se isso acontecer,

    estaremos condenando a casca a dormir para sempre no aterro.

    Alguns at usam esse resduo de casca biomassa para aterrar reas, coisa

    completamente desaconselhvel, pois trata-se de material orgnico que se

    decompor e perder volume com o tempo. Alm disso, essa decomposio

    quando anaerbia gerar metano, um gs indesejvel para a atmosfera.

    rea de disposio de casca excedente em aterro industrial

    Tenho visto muitos projetos de compostagem dessa casca excedente.

    Quando est envolvida apenas a casca removida na lavagem das toras

    descascadas, acho isso muito bom. A casca rica em nutrientes e melhora a

    estruturao da pilha a compostar. Ideal associar sua compostagem com a

    dos lodos da rea de tratamento de efluentes. Entretanto, retirar a casca

    biomassa em grandes volumes, compost-la e lev-la de novo floresta,

    considero medida ambiental de segunda categoria. Isso porque assumimos

    que a casca dever vir para a fbrica e sobrar nela como resduo.

    Consumimos energia e trabalho para transport-la, manuse-la, armazen-la

  • 15

    e devolv-la ao campo. Toda gerao de resduos implica em grandes

    despesas com mquinas, reas de disposio e estocagens, operaes, etc.

    Tudo isso tem custos e gera impactos ambientais.

    Em uma situao como essa, basta que os ecoeficientes engenheiros

    florestais e da rea de projetos faam um adequado balano da oferta e

    demanda de biomassa energtica. Conhecido quanto de casca vai sobrar ou

    est sobrando, basta redesenhar a colheita florestal de forma que essa parte

    que sobra permanea no campo sobre o solo florestal. Isso significa ter um

    sistema misto de colheita, uma parte colhendo as rvores sem descasc-las

    e outra parte, descascando. Apenas a quantidade necessria de toras com

    casca seria colhida dessa forma e encaminhada para a fbrica.

    Esse um exemplo muito simples para a prtica da ecoeficcia, com

    economia de custos, investimentos, simplificaes e menores impactos

    ambientais.

    to simples se raciocinar em base dos princpios da ecoeficcia e da

    ecoeficincia, no mesmo?

    Um comportamento inadequado em nossa forma de atuar

    gerencialmente que toda vez que um problema surge, tentamos resolv-lo

    onde ele est ocorrendo. Veja o exemplo da casca recm mencionado. Se a

    casca est sobrando, pensamos: o que vou fazer com ela? Compostar? Levar

    para a floresta? Vender? Aterrar? Poucos esto orientados para achar a

    origem do problema, que nesse caso exatamente o envio da casca em

    excesso para a fbrica. A soluo est ento em enviar a exata quantidade

    de casca que ser utilizada como biomassa combustvel e nada mais que

    isso. Ao sobrar como resduo, esse excedente de casca estar sendo tratada

    como resduo, mudar de dono na gesto, consumir recursos,

    prejudicando o negcio e o meio ambiente.

    Acredito que agora, depois desses argumentos iniciais, poderemos

    iniciar nosso captulo em si. Inicialmente farei algumas consideraes sobre

    os conceitos de ecoeficcia, ecoeficincia e produo mais limpa, procurando

    continuar a associar esses conceitos produo de florestas plantadas. A

    seguir, procurarei dar um passeio pela rea florestal com vocs. Iremos

    visitar as mais diversas das operaes florestais, no intuito de encontrar

    oportunidades de melhorias juntos. Finalmente, trarei mais alguns exemplos,

    com avaliaes mais detalhadas de como deveriam ser avaliados luz dos

    conceitos que estamos apresentando.

    Alguns dos leitores podem se questionar porque estou mostrando

    apenas pontos a melhorar e a otimizar. Fao isso na maior das boas

    intenes. Tenho absoluta certeza dos enormes ganhos e da maravilhosa

    tecnologia que temos no Brasil para o setor de florestas plantadas. Mas j

    disse antes: sempre possvel se melhorar ainda mais. Por isso meu foco

    apenas em alguns itens que suspeito que podem ser significativamente

    melhorados pela adoo da tica da ecoeficcia, ecoeficincia e P+L.

  • 16

    Portanto, no fiquem tristes ou irritados com meus exemplos de eco-

    ineficincias.

    =============================================

    REVISANDO CONCEITOS SOBRE ECOEFICCIA, ECOEFICINCIA E

    PRODUO MAIS LIMPA

    Nessa seo pretendo trazer alguns conceitos bsicos para os

    iniciantes nessas ferramentas de gesto de negcios associada gesto

    ambiental. Existe uma enormidade de publicaes sobre ecoeficincia e

    produo mais limpa. Alguns de meus captulos anteriores procuraram

    detalhar bastante esses conceitos. Sugiram que dem uma navegada por

    eles, so grtis e podem ser descarregados por vocs, bastando clicar no

    endereo de URL correspondente.

    Sugiro que leiam:

    Casca da rvore do eucalipto: aspectos morfolgicos, fisiolgicos, florestais,

    ecolgicos e industriais, visando a produo de celulose e papel. (1.5 MB em

    PDF)

    http://www.eucalyptus.com.br/capitulos/capitulo_casca.pdf

    Resduos slidos industriais da produo de celulose kraft de eucalipto -

    Parte 01: Resduos orgnicos fibrosos .(9 MB em PDF)

    http://www.eucalyptus.com.br/capitulos/PT05_residuos.pdf

    Ecoeficincia na gesto da perda de fibras de celulose e do refugo gerado na

    fabricao do papel. (8.8 MB em PDF)

    http://www.eucalyptus.com.br/capitulos/PT06_fibras_refugos.pdf

    Uma pequena

    aula de P+L e

    de

    ecoeficincia

    para vocs

  • 17

    Gesto ecoeficiente dos resduos florestais lenhosos da eucaliptocultura. (6.9

    MB em PDF)

    http://www.eucalyptus.com.br/capitulos/PT07_residuoslenhosos.pdf

    Ecoeficincia e produo mais limpa para a indstria de celulose e papel de

    eucalipto. (1.3 MB em PDF)

    http://www.eucalyptus.com.br/capitulos/PT09_ecoeficiencia.pdf

    Oportunidades para ecoeficcia, ecoeficincia e produo mais limpa na

    fabricao de celulose kraft de eucalipto. (21.3 MB em PDF)

    http://www.eucalyptus.com.br/capitulos/PT10_ecoeficiencia.pdf

    Apesar de muito existir publicado sobre esses fundamentos, eles so

    muito pouco utilizados ainda nas reas florestais das empresas que plantam

    florestas de eucaliptos. Aparentemente, os gestores desse tipo de empresas

    encontram-se to ocupados e maravilhados com a utilizao das normas das

    sries IS0 9000, IS0 14000, OHSAS 18000 e com as certificaes florestais

    do manejo e da cadeia de custdia (FSC, CERFLOR ou algum outro sistema

    reconhecido pelo PEFC) que ainda no descobriram as vantagens da

    ecoeficincia, ecoeficcia e da P+L. No vou propor nesse captulo que a

    ferramenta que vamos relatar passe a ser a mais importante ou a nica

    para o setor florestal. Tenho certeza que o setor florestal brasileiro vem

    sendo bastante competente com o que vem realizando na sua busca da

    sustentabilidade. Por outro lado, ficarei muito feliz e realizado se os leitores

    desse captulo aprenderem a essncia conceitual do que tenho como objetivo

    lhes passar.

    Na realidade, a ecoeficincia e a P+L ajudam e muito a se enxergar

    melhor o mundo do desperdcio. Elas nos permitem escolher opes para

    eliminar ou reduzir perdas, retrabalhos, desperdcios, resduos, poluio, etc.

    Elas tambm nos conduzem a resolver os problemas onde eles esto sendo

    gerados e no a procurar medidas mitigadoras para as conseqncias desses

    problemas. muito comum pela tica normal que quando um resduo ou

    uma poluio surja que se questione como trat-lo. J pela tica da P+L,

    quando um resduo aparece a primeira pergunta porque esse resduo est

    aparecendo? As que se seguem so: quais as causas de sua gerao e como

    eliminar essas causas geradoras em sua raiz?

    Vou lhes trazer mais dois exemplos ento para elucidar isso.

    Exemplo 06:

    Caso no meu viveiro florestal eu tenha uma certa percentagem de mudas

    refugadas que acabam se transformando em um resduo orgnico e tambm

    gerem um substrato dos tubetes a ser descartado, disposto ou reprocessado,

    a ecoeficincia e a P+L no vo se ocupar apenas em tentar resolver o

    problema desses resduos (material orgnico das mudas mortas e substrato

  • 18

    perdido). A P+L vai procurar descobrir a razo de tantas mudas defeituosas

    ou mortas. Seriam as sementes de m qualidade? Seria a forma de cortar as

    mini-estacas? Seria a juvenilidade do material do jardim clonal? Seria a

    inadequao do substrato(pH, umidade, patgenos, etc.)?

    Material que virou resduo retirado dos tubetes de mudas que no vingaram

    Exemplo 07:

    Ao se implantar um povoamento, temos sempre algumas mudas que morrem

    e precisam ser replantadas. Os ndices de replantio so baixos, variam entre

    1,5 a 5% nas boas empresas florestais. Entretanto, isso um retrabalho,

    uma perda de mudas, de insumos e de incremento florestal. A ecoeficincia

    no se contenta em aceitar essa operao de replantio como se ela fosse

    uma operao necessria para o reflorestamento: sua meta acabar com

    ela. A ecoeficincia impe que busquemos todas as causas para a morte das

    mudas no campo e que encontremos solues para elas. Essa operao de

    replantio viciosa, ela no agrega nada, s consome recursos naturais,

    custo, desperdcio. Maior o replantio, mais eco-ineficientes estamos sendo.

    As mudas recm plantadas no deveriam morrer. Temos mais uma vez que

    perguntar a elas porque esto morrendo?

    Mudas de eucaliptos: plantio em cova esquerda e em sulco direita

  • 19

    A gesto pela ecoeficincia est na constante busca de melhores

    tecnologias, que gerem menos perdas, menos refugos, menos desperdcios,

    menos resduos, menos poluio e menos retrabalho. O objetivo no atuar

    sobre a poluio, sobre os resduos e aceitar os retrabalhos como parte do

    processo. O objetivo elimin-los ou reduzi-los. S ento aceitar tratar o

    que foi impossvel de se reduzir (por enquanto!!).

    Conceitualmente, quando introduzimos essa forma de raciocinar,

    passamos a enxergar de outra forma nossas operaes, mquinas, pessoas

    que trabalham conosco, etc. Agregamos muito em nossa gesto por

    continuadas melhorias. Deixamos de conviver passivamente com os

    problemas, acreditando que eles sempre existiram, ento poderiam continuar

    a existir.

    Eficcia est associada frase escolher certo o que deve ser feito.

    J Eficincia est ligada frase fazer bem o que deve ser feito. Isso

    significa que mesmo que nossa deciso pelo pouco uso da eficcia no tenha

    sido boa, ao escolher um processo no adequado, se o fizermos operar muito

    bem, estaremos sendo eficientes. Eficcia e eficincia devem ser praticadas

    juntas. Em primeiro lugar devemos buscar sermos eficazes, selecionando

    bem as alternativas que se oferecem a ns. Isso pode ser tambm

    denominado de Estratgia. Analisamos alternativas estratgicas e

    selecionamos as que parecem mais favorveis ao nosso negcio, nossa

    vida e ao ambiente que ser impactado. Aps elegermos as alternativas que

    queremos implementar, devemos procurar faz-las bem, o melhor possvel.

    aqui que entra a eficincia, fazermos o melhor possvel essa

    implementao. Eficincia resultado de Gesto, podendo essas palavras

    serem confundidas na vida empresarial. Portanto, a Ecoeficcia consiste em

    se eleger as alternativas de processo que sejam melhores tanto para a

    empresa como para o meio ambiente. No devemos escolher uma alternativa

    que s privilegie o meio ambiente e no resulte em produo

    economicamente sustentvel ou seja socialmente injusta. Tampouco

    devemos escolher uma alternativa que s d resultados empresariais e seja

    altamente danosa ao meio ambiente ou s pessoas da empresa e da

    comunidade.

    Tenho visto esses conceitos de ecoeficincia e ecoeficcia sendo

    tomados com sendo a mesma coisa. Um pouco de ingenuidade de quem

    assim considera, j que as palavras origens so definitivamente distintas. Por

    essa razo enfatizaremos muito nesse captulo de nosso livro que nossos

    tcnicos devem avaliar muito bem as alternativas tecnolgicas de que

    dispem para escolher as melhores (ecoeficcia) e depois de escolhidas, ao

    us-las devem fazer isso com os menores desperdcios possveis,

    minimizando perdas e resduos (ecoeficincia).

  • 20

    J mencionamos diversas vezes que o nosso propsito com essa srie

    de captulos sobre ecoeficincia e produo mais limpa dar nossa

    colaborao, que agregadas a outras, possa ajudar para que os setores, que

    se apoiam nos eucaliptos como base de seus negcios, possam caminhar

    mais rapidamente na busca da sonhada Sustentabilidade.

    Conforme caminhamos com a tica desses conceitos passamos a

    enxergar mais e mais problemas a serem atacados e resolvidos. No se

    desesperem se eles parecerem muitos, vocs esto apenas comeando a

    enxergar mais daquilo que estavam perdendo sem colocar ateno. Esse

    desafio estimulante, quanto mais pessoas envolvidas melhor.

    Curioso que passamos a ver os problemas sobre um prisma

    completamente diferente do usual. Mais ou menos do tipo desse pequeno

    exemplo a seguir: meu carro est funcionando mal, o motor est falhando.

    Levo oficina para consertar o motor, gasto uma enormidade com o suposto

    conserto e ajuste, mas o problema continua. Troco de posto de gasolina por

    acaso em uma viagem e noto que o problema desaparece. O problema no

    estava no motor e sim no combustvel adulterado. Podemos com alguma

    facilidade quantificar esse problema em termos de seus valores econmicos

    desperdiados com a gasolina pior performante, com os ajustes de motor,

    etc. Isso tambm muito importante ao gestor. No se contentar apenas

    com a troca do posto de gasolina, mas em comparar esse novo com o

    anterior. Para isso, ele criar indicadores para medir as eficincias. Quem

    nos garante que no poder encontrar logo um outro posto com melhores

    resultados para esses indicadores criados? A ecoeficincia implica em medir,

    quantificar, comparar e em desenvolver indicadores chaves para que a

    gesto do problema se faa de forma melhor.

    Vamos ento de forma muito objetiva definir finalmente esses

    conceitos aos que nos lem pela primeira vez:

    Produo mais limpa (P+L) est relacionada reduo de poluio ou do desperdcio na sua origem. Ou seja: se um resduo ou um desperdcio

    existe, onde ele foi ou est sendo gerado, e o que deve ser feito para

    evit-lo em sua origem?

    Produo mais limpa pode ser entendida como uma estratgia para melhorar continuamente os processos, produtos e servios, a eficincia

    operacional, a qualidade ambientais, aumentando resultados econmicos

    por reduo de custos; e, finalmente, permitindo se caminhar em direo

    ao desenvolvimento sustentvel.

    Ecoeficincia pode ser resumida pela prtica dos 3 Ms: fazer Mais, com Menos e Melhor. Significa incluir a melhor eficincia possvel em nossos

    processos, quaisquer que seja eles: administrativos, industriais, florestais,

    gerenciais, etc. Isso significa se fazer o melhor produto com o menor uso

    de insumos tais como madeira, fibras, energia, gua, etc. e com as

  • 21

    mnimas perdas. A pouca eficincia resulta em resduos, poluio,

    desperdcios e retrabalhos.

    Ecoeficcia consiste fundamentalmente em escolher melhor as alternativas que temos nossa disposio quando gerenciamos nossas

    atividades, nesse caso as nossas florestas. Essas alternativas devem focar

    no apenas na produo, no processo e nos custos envolvidos, mas ainda

    nos impactos Natureza e s pessoas. Seremos ecoeficazes quando

    aprendermos a ponderar bem esses trs pilares do desenvolvimento

    sustentvel com o foco no longo prazo e no s na viso imediatista do

    curto ou curtssimo prazo.

    Existe uma muito pequena diferena conceitual entre Ecoeficincia e

    Produo mais Limpa. A ecoeficincia tem o foco no processo tecnolgico, ela

    busca torn-lo mais eficiente, consumindo menos gua, matrias-primas,

    energia, etc. Com mais ecoeficientes operaes teremos menores geraes

    de resduos, perdas, poluies. A P+L foca diretamente o desperdcio, o

    resduo, a perda. Conhecendo o valor considerado destrudo por eles, a

    P+L busca encontrar as solues para mudar processos, mtodos,

    procedimentos, etc., de forma a eliminar ou reduzir esses desperdcios.

    Ambos os conceitos so interdependentes e buscam formas melhores de se

    produzir alguma coisa, qualquer coisa, seja em qualquer tipo de atividade

    humana. Pode ser uma atividade florestal, industrial, de servios, ou mesmo

    atividades rotineiras em nossa vida domstica. Por essa razo, elas so mais

    do necessrias em nossas florestas plantadas.

    Para se praticar a ecoeficcia e a ecoeficincia h que se ter

    quantificaes, sendo essas tanto de natureza de impactos ambientais,

    econmicos e sociais. muito difcil se tomar decises apenas baseadas em

    feelings. Para o gestor de nossas florestas plantadas de eucaliptos, sempre

    importante a avaliao das alternativas para ser mais eficaz. Como somos

    tcnicos, os nmeros ajudam muito nas decises. Portanto, a adequada

    mensurao de custos, retornos, danos e gerao de desperdcios

    fundamental para a prtica da produo mais limpa. Alis, quantificar o valor

    de uma perda, de um desperdcio ou de um resduo a ferramenta bsica na

    aplicao da produo mais limpa. Com isso, podemos tomar decises mais

    seguras (praticando a ecoeficcia) e buscar tanto os resultados econmicos

    para que a empresa cresa e melhore, como para minimizar seus impactos

    ambientais.

    Qualquer quantificao implica em se medir com ferramentas e

    mtodos adequados, sem empirismos e sem tendncias ou preconceitos. A

    quantificao deve ser feita com a maior qualidade possvel e sem a

    indesejvel prtica de se tentar provar as nossas idias e o que estamos

    pensando. As quantificaes iro orientar nas decises para sermos mais

    ecoeficazes, para escolhermos as coisas mais corretas a se fazer. Quando

    temos ineficincias elas aparecem na forma de perdas de produo, de

  • 22

    energia, de matrias-primas, etc. Ao termos perdas, como na Natureza nada

    desaparece sem deixar vestgios, geramos mais poluio, mais efluentes,

    mais resduos. Em resumo, impactamos mais e danificamos mais o meio

    ambiente (pouca ecoeficincia no processo). Gastamos mais para tratar essa

    poluio e aumentamos nossos custos pelo maior uso de matrias-primas

    insumos, energia, etc. Gastamos ainda mais para tratar e dispor os resduos.

    Em resumo, o mundo do menos est criado e ns seremos responsveis por

    ele.

    Uma adequada quantificao implica em se levantar os seguintes

    dados:

    Valor negativo da perda fsica e monetria de produo;

    Valor negativo da matria-prima desperdiada;

    Valor negativo da agregao de custos no processo e que descartamos junto com a perda ou resduo;

    Valor negativo para manusear, tratar e dispor esse resduo gerado pela nossa ineficincia ou eco-ineficincia, j que os resduos impactaro o

    meio ambiente;

    Valor positivo da eventual venda do resduo.

    Valores fsicos negativos dos impactos ambientais causados pela eco-ineficincia em questo (Demanda Qumica de Oxignio, consumo de

    gua, gerao de efluente, consumo de energia, reduo da qualidade de

    vida da fauna e flora, etc.)

    Valores negativos para as pessoas da empresa e da comunidade (ergonometria, trabalho inseguro e difcil, odor e desconforto,

    insatisfaes com o trabalho difcil no manuseio do resduo, toxicidade no

    ambiente, doenas resultantes da operao ineficiente, etc.)

    Na seo sobre Estudos de caso para novas oportunidades em

    ecoeficincia e P+L na rea florestal, ainda nesse captulo de nosso livro,

    teremos alguns exemplos apresentados com esse tipo de quantificaes a

    ttulo de exemplos para vocs.

    Qualquer implementao de um programa de ecoeficincia e de P+L

    em um empresa exige dois condicionantes bsicos:

    Comprometimento gerencial; Sensibilizao e conscientizao de todos os envolvidos.

  • 23

    Essa ordem muito importante e quem primeiro deve ser

    sensibilizado exatamente o corpo gerencial da empresa. A obteno de

    resultados depende necessariamente e decisivamente do nvel de

    conscientizao e de comprometimento dos gestores da empresa.

    A etapa seguinte para Avaliar a cultura e Identificar as possveis

    barreiras que possam existir na empresa e nas pessoas da empresa. Cultura

    empresarial algo muito importante. Muitas vezes, a cultura que se

    desenvolveu em uma empresa por demais focada em custos e em

    resultados. Todos trabalham forte para isso, pois so fortemente cobrados.

    Quando isso ocorre, as pessoas tendem a deixar escapar indicadores

    importantes de como nossas plantas de eucaliptos esto crescendo nas

    florestas. Quando um tcnico com forte cultura para custos e resultados

    entra em uma plantao florestal, ele s enxerga operaes que custem

    valores monetrios e entende que deve minimizar as despesas com as

    mesmas. Ele tambm foca muito sua atuao no inventrio florestal,

    acompanhando os incrementos mdios anuais e os incrementos correntes,

    imaginando a hora que deve cortar a floresta para mximo resultado

    econmico. Em resumo, sua mente est desviada para planilhas de custos,

    indicadores de performance operacional e para os resultados dos inventrios

    florestais. Ele deixa com isso de dialogar com as florestas, talvez at mesmo

    nunca tenha tido essa felicidade. Mas nunca tarde para se aprender isso,

    at mesmo porque agrega uma enorme felicidade na nossa vida de tcnico

    florestal.

    Exatamente pela necessidade de se definir o escopo de nosso estudo,

    importante se comear uma etapa de Descrio do processo. O ideal se

    fazer inicialmente uma descrio global do fluxograma produtivo geral da

    empresa desde a obteno das sementes ou estacas at a sada da madeira

    dos portes dos hortos florestais. A seguir, esse macro-processo pode ser

    dividido em processos menores, na maioria das vezes associados a uma rea

    de gesto. Para cada rea do processo se deve ento se repetir o trabalho de

    se criar uma descrio para ele.

    Uma nova etapa e muito importante em qualquer programa de

    ecoeficincia a de Identificar todas as perdas, desperdcios, retrabalhos e

    gerao de refugos e de poluio que estejam ocorrendo na empresa. Isso

    pode at mesmo ser uma parte do chamado Diagnstico ambiental das

    perdas e desperdcios nos processos, onde no apenas as perdas so

    identificadas, mas elas so tambm quantificadas pelas equipes

    operacionais. Por processos podemos entender qualquer uma fase

    empresarial que se queira avaliar. Pode ser o viveiro, a operao de plantio,

    a colheita florestal, o transporte de toras, o planejamento prvio da rea

    florestal, a rea de recursos humanos, o treinamento dos funcionrios, etc.,

    etc. H empresas que procuram aplicar os conceitos da ecoeficincia apenas

  • 24

    em setores crticos e que so grandes consumidores de matrias-primas e/ou

    grandes geradores de resduos. Essa tambm uma opo. Melhor do que

    nada fazer. Como j dispomos da descrio do processo produtivo geral e

    das reas a avaliar, fica bem mais fcil se debruar sobre essas reas j bem

    conhecidas e identificadas em seus limites e escopos.

    Tenho absoluta certeza de que, por mais certificada e ambientalmente

    correta que seja a empresa, com a equipe da empresa avaliando com toda

    sua criatividade os processos da mesma, vo ser identificadas algumas

    centenas de ineficincias. preciso no ter receio de se exp-las, j que

    todos estaro buscando a soluo das mesmas. No se trata de caa aos

    culpados, mas de caa nossa reconhecida capacidade de desperdiar

    coisas, atributo inerente ao ser humano.

    Na maioria das empresas em que realizamos esse trabalho surgem

    sempre listas com centenas de ineficincias. Toda e qualquer ineficincia

    consome mais recursos do que deveria e com isso gera mais perdas e

    prejuzos econmicos e ambientais. Com isso, aumenta a poluio, aumenta

    a quantidade de resduos e os custos para se processar isso tudo. Aumentam

    tambm os custos de produo pelo maior consumo de energia, matrias-

    primas, trabalho, etc.

    Identificados os desperdcios e as ineficincias em nossos processos,

    a fase seguinte uma das mais importantes: Quantificao das perdas.

    O Uso de balanos de massa e de energia nos ajudam a entender

    melhor cada uma das nossas perdas. Quem melhor do que os tcnicos da

    empresa e dos setores em avaliao para fazer esses balanos. Muitos

    jamais fizeram isso, sempre acreditaram que balanos de massa eram coisas

    de engenharia qumica e no da rea florestal. Entretanto, a ferramenta do

    balano de massa to simples e to til que pode e deve ser usada por

    qualquer um da empresa. to somente uma forma de se enxergar melhor

    as entradas e as sadas de qualquer processo.

    Identificadas as perdas, quantificadas as mesmas em suas dimenses,

    a prxima etapa a de Entender as causas dessas perdas e desperdcios.

    Essa etapa s vezes a mais difcil, pois pode mexer com a vaidade de

    algumas pessoas, que no admitem serem elas as responsveis pela gerao

    das ineficincias. Como reage um gestor de rea quando se descobre que

    sua rea est perdendo muita madeira por procedimentos que ele mesmo

    havia estabelecido. Como ele reagiria quando so desvendados nmeros das

    quantificaes, que ele nunca havia medido e desconhecia completamente.

    Por isso, muito importante se ter um trabalho a nvel comportamental,

    durante a implementao da cultura de se trabalhar pela ecoeficincia e

    produo mais limpa. Com isso, poderemos ajudar que as pessoas

    entendam que as fraquezas e debilidades podem ser alavancas para se

    conquistar fortalezas logo a seguir. E elas so partes vitais para essas novas

    conquistas.

  • 25

    Conhecendo os problemas; quantificados os mesmos em seus valores

    econmicos, ambientais e sociais; identificadas as causas; est agora ento

    no momento de se Identificar as oportunidades e de se Selecionar as

    mais relevantes para serem enfrentadas e solucionadas. A seguir, para as

    oportunidades selecionadas, deve-se Definir as mudanas necessrias para

    a eliminao ou reduo da ineficincia. Essas mudanas podem ser de

    tecnologias, de procedimentos, de pessoas, de simplificaes processuais, de

    gesto, de manuteno, etc., etc. Mais uma vez as quantificaes so vitais.

    Com a nova tecnologia ou com a nova metodologia, quanto esperamos

    reduzir de perdas? Quais sero os investimentos? Quais sero os novos

    custos? Quais sero os valores de produtividade esperados? Qual ser o

    pay-back das modificaes sugeridas para implementao? Quais os

    indicadores a avaliar para acompanhar o sucesso da mudana? Como ser

    garantida a perpetuao dos ganhos conseguidos? Como o processo ser

    monitorado?

    Outra coisa muitssimo importante e que nunca deve ser esquecida

    a interdependncia que existe entre as diversas reas de uma empresa

    florestal. No podemos tentar solucionar apenas nossos problemas sem

    plena avaliao das implicncias de nossas aes nas reas que so afins e

    relacionadas nossa. Por exemplo, a rea da colheita florestal se relaciona

    muitssimo com a rea da silvicultura. Uma atividade de baixa ecoeficincia

    na colheita pode prejudicar a rea de silvicultura. Ao se trocar a colheita

    semi-mecanizada pela colheita mecanizada com mquinas pesadas podemos

    ter um efeito de compactao do solo que agravaria as operaes da

    silvicultura ao se reformar a rea recm colhida. Por essa razo, sempre

    deve existir um dilogo forte e honesto entre as reas para que as mudanas

    sejam para melhorar o todo e no apenas parte do todo.

    A colheita florestal mecanizada pode trazer o problema de compactao do solo para as

    operaes subsequentes da silvicultura Algo a ser estudado e evitado

    Gosto muito de usar a etapa de Descrio do Processo Produtivo

    associada com a Quantificao de Perdas e de Eficincias valendo-me de

  • 26

    Balanos de Massa para calcular as ineficincias e as eficincias. Vejamos

    um exemplo de um viveiro clonal de produo de mudas a ttulo de

    exemplificao bem sucinta.

    Exemplo 08: Descrio do processo produtivo de um viveiro de mudas

    clonais

    Entradas Operao Sadas

    gua

    Tubetes

    Substrato

    Adubo

    Energia eltrica

    Preparao e

    enchimento dos

    recipientes

    Recipientes cheios

    Efluentes lquidos

    Resduos slidos

    Tubetes defeituosos

    gua evaporada

    gua perdida para o solo

    Entradas Operao Sadas

    gua

    Adubos

    Agroqumicos

    Insolao

    Energia eltrica

    Produo de mini-

    estacas em mini-

    jardim clonal

    Mini-estacas

    Efluentes lquidos

    Material orgnico

    (resduos de plantas)

    gua evaporada

    gua perdida para o solo

    Entradas Operao Sadas

    Mini-estacas

    gua

    Agroqumicos

    Eventualmente hormnio

    Energia eltrica

    Plantio das mini-

    estacas

    Mini-estacas plantadas

    em tubetes

    Efluentes lquidos

    Resduos slidos de

    material orgnico e

    substrato descartados

    gua evaporada

    gua perdida para o solo

    Entradas Operao Sadas

    Tubetes com substrato e

    mini-estacas

    gua

    Agroqumicos

    Adubos

    Energia eltrica

    Fase de enraizamento

    e crescimento inicial

    em estufa

    Mudas enraizadas

    Efluentes lquidos

    Material orgnico como

    resduos

    gua evaporada

    gua perdida para o solo

  • 27

    Entradas Operao Sadas

    Mudas enraizadas

    gua

    Agroqumicos

    Adubos

    Energia eltrica

    Fase de crescimento e

    adaptao

    Seleo

    Mudas prontas

    Efluentes lquidos

    Resduos slidos de

    descarte de mudas

    defeituosas ou mortas

    gua evaporada

    gua perdida para o solo

    Entradas Operao Sadas

    Mudas prontas

    Recipientes porta-mudas

    gua

    Agroqumicos

    Estocagem de mudas

    prontas

    Mudas para o plantio

    Efluentes lquidos

    gua evaporada

    Resduos slidos

    Tubetes estragados

    gua perdida para o solo

    Todas essa entradas e sadas devem ser quantificadas pela rea que

    busca melhorar a eficincia operacional.

    Por exemplo:

    quantos tubetes entram em cada fase do processo? Quantos tubetes se perdem nas diversas fases do processo: porque

    se estragam? esto defeituosos, etc.?

    Quanto de gua entra em cada fase do processo? Quanto de gua realmente aproveitada pelas plantas e quanto de

    gua se perde pela evaporao, pela infiltrao no solo e pelo

    efluente?

    Quanto de fertilizantes e de agroqumicos so colocados em cada fase ou etapa do processo?

    Quanto de fertilizantes e de agroqumicos se perdem? Por quais sadas? Para o solo? Nos resduos slidos? Nos efluentes lquidos?

    Etc., etc.

    Essas avaliaes podem ser feitas com dados diretos da produo ou

    solicitadas medies aos laboratrios da empresa. Preparem-se para grandes

    surpresas meus amigos, estamos quase sempre desperdiando muita gua,

    muitos agroqumicos, muitos fertilizantes nesses viveiros mais convencionais.

    Podemos em fase seguinte voltar ao mesmo fluxograma do processo

    do viveiro acima e colocar os dados quantitativos levantados. importante

  • 28

    se definir qual ser a base do balano de massa, na forma de um perodo de

    produo: pode ser um dia, ou uma semana. No pode ser muito longo

    porque o perodo de produo de mudas curto, no mximo 90 a 120 dias.

    Muitas vezes, para se obter tais dados se faz necessrio usar os

    nossos amigos Balanos de Massa. Eles se baseiam nas quantificaes das

    entradas e sadas, quer sejam de matrias-primas, gua, etc. As sadas

    fluem nos efluentes lquidos, infiltrao no solo, evaporaes, junto com as

    mudas, nos resduos slidos, etc. No podemos nos esquecer de tambm

    computar nos clculos os dados referentes aos estoques e acumulaes

    embutidas no processo, quer seja de produtos, matrias-primas, etc.

    Operaes de produo de mudas em viveiros de sementes e de clones

    Vamos agora dar um pequeno exemplo de como se fazer um balano

    de material ou de massa em nosso acima estudado viveiro. O valor para a captao de gua em geral fcil de se obter em funo da bomba utilizada

    para buscar a gua na fonte de suprimento, em geral um curso dgua ou

  • 29

    um aude. Entretanto, muitos poucos sabem para onde essa gua vai e quo

    eficientemente ela usada no viveiro, em suas diferentes sees. Tambm

    poucos conhecem ou j calcularam quanto de gua migra para o solo, ou se

    evapora sem sequer atingir as mudas ou o solo, etc. Essas quantificaes

    so fundamentais j que elas vo nos ajudar a conhecer quo eficientes ou

    ineficientes estamos sendo no uso da gua captada. Nosso balano ter a

    finalidade de esclarecer, de identificar e para ajudar a tomadas de decises.

    Ele pode ser em alguns momentos baseado na melhor estimativa, j que no

    um balano estequeomtrico, nem para ter uma preciso topogrfica.

    Exemplo 09: Balano de gua na seo de lavagem dos tubetes

    (recipientes)

    Seria difcil se quantificar isso? Com certeza no ! Basta algumas

    medies simples, at mesmo por meios empricos. A mais difcil delas talvez

    seja a medio de umidade a ser feita no laboratrio. Como em todo bom

    balano de massa, a gua evaporada pode ser calculada por diferena.

    Tratamento

    Efluentes

    GUA

    gua ao

    Solo

    OUTROS

    PROCESSOS

    LAVAGEM

    TUBETES

    Efluentes

    gua que vem

    com tubetes

    gua que entra

    para a lavagem

    gua saindo

    junto tubetes

    Evaporao

  • 30

    Com esse tipo de modelo de balano e mesma forma de procedimento

    podemos fazer os balanos de cada rea do viveiro e assim conhecer muito

    bem nossas eficincias e ineficincias no uso da gua captada para ele.

    Tubetes sujos e aguardando para remoo do substrato e posterior lavagem

    Nos consumos de gua de um viveiro de mudas, no podemos

    esquecer que as mudinhas possuem muito pouca folhas, elas no fazem

    muita transpirao. As formas de se perder gua so outras. A maior parte

    da gua que se lana por irrigao ou evapora, ou cai ao solo, ou vai para os

    efluentes do viveiro. uma parte do processo que desperdia muita gua. O

    pior que a gua um veculo para arrastar junto tudo que ela encontra:

    fungicidas, herbicidas, inseticidas, fertilizantes, argila, areia, patgenos, etc.,

    etc. Ela entra no viveiro como gua limpa, mas a maioria se perde e vira um

    efluente carregado de poluio. Esse efluente inclusive merecedor de uma

    estao especial de tratamento de efluentes por causa dos materiais

    perigosos que contm.

    Pergunto ento: O que mais caro e mais ineficiente? Ou mais ecoeficiente?

    Perder gua, fertilizantes, agroqumicos e ainda ter que se tratar os efluentes contaminados em estao especial para esse tipo de efluentes,

    como esse caso citado;

    ou ento;

    Buscar uma forma de irrigar as mudas sem desperdiar gua, encontrando ainda mecanismos de reuso interno das guas possveis de

    serem recuperadas. Hoje j temos viveiros hidropnicos e semi-

    hidropnicos e as tcnicas de gotejamento tambm so factveis conforme

    a situao.

  • 31

    Com base nos ensinamentos da ecoeficincia e em nossa criatividade

    intelectual podemos avaliar as diversas alternativas e ver qual delas custaria

    menos em termos econmicos e quais os ganhos ambientais e sociais que

    uma teria em relao outra. Com isso, nossa capacidade de decidir seria

    mais eficaz.

    Espero que esse exemplo possa ter servido para quem estiver

    pensando em ampliar seu viveiro de produo de mudas, algo muito comum

    no Brasil nos dias de hoje. O setor florestal baseado em plantaes de

    eucaliptos cresce rpido e as necessidades de mudas tambm.

    Macro-estacas em processo de enraizamento e recm irrigadas

    Viveiro irrigado por hidroponia e com ferti-irrigao

    (mnimo desperdcio de gua e de nutrientes mnima poluio tambm)

  • 32

    Mudas clonais hidropnicas

    As avaliaes e as quantificaes do suporte para as Avaliaes

    tcnicas, econmicas e sociais e para a Seleo de oportunidades

    tecnolgicas possveis de serem implantadas.

    Na Avaliao Tcnica do processo produtivo muito importante se

    responder s seguintes perguntas?

    Os dados medidos e quantificados so confiveis? Existem dados importantes que no esto sendo medidos? Quais?

    O processo est operando conforme o projetado? Est acima de seus limites? Onde?

    A manuteno das mquinas do processo tem sido adequada? Existem fases ou operaes desnecessrias no processo? Faltam informaes tecnolgicas relevantes para a operao do processo? As matrias-primas utilizadas esto conforme os padres exigidos em

    qualidade e confiabilidade?

    H carncias constantes nos suprimentos de insumos? O planejamento das operaes permite ou no se trabalhar dentro de

    padres razoveis de presso? Ou estamos sempre correndo atrs da

    mquina para atender demandas novas e imprevistas?

    Os estoques internos no processo so em nvel adequando, estudados para no serem sobre-dimensionados? As condies de estocagem so

    adequadas?

    Existe muita gerao de resduos e de desperdcios? Quais? Onde? Quanto? Por qu?

    Existem produtos perigosos sendo perdidos para o solo, efluentes, etc.? Existem adequados sistemas de preveno de perdas? Existem adequados sistemas de tratamento de efluentes, resduos slidos,

    rudos, emisses areas, etc.?

    A embalagem dos produtos adequada? Existem perdas dos produtos devido a elas na estocagem e transporte?

  • 33

    As operaes de manuseio e transporte so adequadas? H perdas nessas operaes? Que tipos de perdas? Elas geram retrabalhos?

    Existe foco exagerado em custos (mnimo custo) e no em otimizao de custos (relao custo/benefcio)?

    H escassez de recursos na empresa e que dificulta as mudanas para melhorias processuais?

    Existe a cultura de se elaborar cuidadosos relatrios tcnicos justificando os novos investimentos para upgrades tcnicos no processo?

    Existem desperdcios de energia eltrica no processo? Onde? Existem medies de consumo de energia eltrica nas fases mais importantes

    desse consumo no processo? Algum avalia e otimiza esses consumos ou

    a energia eltrica considerada um presente de Deus?

    A gua tambm considerada um presente gratuito, por isso no se faz controle de suas quantidades e qualidades?

    Existem cuidados em relao sade, segurana e aspectos ergonmicos do trabalho?

    Os recursos humanos para operao so adequados em qualificao, motivao e comprometimento?

    O trabalho sempre feito sob presso e com isso a qualidade no a ideal?

    Os fornecedores de matrias-primas so confiveis e sempre fornecem produtos de acordo com as especificaes? Existem especificaes feitas

    com clareza de nossa parte?

    H bom intercmbio tcnico e relacional entre as reas que compem o fluxograma do processo produtivo? E com fornecedores? E com clientes?

    Existe apropriado nvel de domnio tecnolgico para os processos em que estamos trabalhando hoje na empresa?

    Qual o nvel tecnolgico desse processo? H tecnologias ultrapassadas sendo utilizadas? Quais? Elas geram muitos desperdcios e ineficincias?

    Quais? J foram quantificadas? Existem valoraes para essas

    ineficincias, perdas, etc.?

    Etc.; etc.

    J a Avaliao Ambiental implica em se ter uma viso clara de:

    Quantidades geradas de resduos, efluentes, emisses areas, poluies, desperdcios, perdas de materiais, etc.;

    Uso a maior de matrias-primas em relao ao que seria necessrio; Reciclagens internas de guas, materiais, compostos orgnicos, solos,

    substratos, etc. que poderiam ser implementados mas no o foram e

    sequer existem planos para isso;

    Avaliao dos impactos positivos e negativos das atividades que estamos praticando (em qualquer das fases do processo, mesmo as no ligadas

    diretamente com a produo);

  • 34

    Atividades de preveno s perdas que esto implementadas ou esto em processo de avaliao;

    Atividades de preveno e combate s perdas que sabemos que poderiam ser adotadas, mas nada estamos fazendo para tal;

    Reduo de ameaas ambientais que possam resultar em multas, passivos ambientais, penalidades legais, etc.;

    Avaliao da real adequao e conformidade legislao pertinente; Etc., etc.

    Na Avaliao Social importante no mnimo considerar os seguintes

    pontos:

    Qualidade do trabalho (sade ocupacional, segurana, riscos, etc.); Qualificao dos operadores; Aspectos comportamentais dominantes nas relaes no trabalho; Clima organizacional; Aspectos motivacionais; Cultura da empresa em relao participao dos funcionrios em

    aspectos decisrios;

    Cultura da empresa em relao as aspectos ambientais nas operaes; Etc., etc.

    Na Avaliao Econmica importante considerar:

    A demanda de investimentos para as modificaes necessrias; O pay-back dos investimentos, ou melhor, o tempo em que esses

    investimentos se pagaro pelos ganhos econmicos que proporcionaro;

    Os custos operacionais atuais e os novos custos operacionais conforme se implementem as medidas de ecoeficincia propostas. Nesse caso, devem

    ser levantados todos os custos do processo e no apenas os custos da

    rea onde sero implantadas as medidas. Isso porque os processos so

    muito inter-conectados e uma alterao em uma rea resulta em efeitos

    em algumas outras reas da empresa. Por exemplo, uma alterao no

    espaamento das rvores afeta a rea de silvicultura, mas afeta tambm

    o viveiro (mudas a produzir) e a colheita florestal (rvores a colher).

    A reduo de onerosos passivos ambientais; Etc., etc.

    Como j vimos anteriormente, aps a perfeita identificao das

    oportunidades, com suas quantificaes tcnicas, ambientais e sociais, cabe

    agora a fase de Seleo das oportunidades a implementar. Deve ficar bem

    claro dentro da equipe gestora que nem todos os projetos de melhoria

    podero ser implementados. Afinal, a gesto de qualquer negcio se baseia

    em recursos escassos. Por essa razo, aqueles que trabalharam muito para

    uma determinada oportunidade, se ela no for selecionada para

  • 35

    implementao, no devem ficar revoltados, magoados ou tristes. Eles

    ajudaram a construir um banco de dados importante nas trs vertentes do

    desenvolvimento sustentvel: econmica, ambiental e social. O simples fato

    de se terem feitas essas quantificaes e pela ateno que se deu a essa

    fase do processo, ele j deve ter evoludo algo em suas operaes. A viso

    dos operadores se despertou e com certeza, estaro operando com mais

    ateno. Alm disso, no se pode dizer que em futuro prximo, em nova

    rodada de decises, que essa oportunidade no ser implementada. Isso

    pode ocorrer at mesmo de forma melhor ainda pelo maior tempo para se

    estudar alternativas.

    Considero ainda muito importante que ocorra um processo de Jbilo

    e comemorao com relao s melhorias alcanadas. Todos na empresa

    devem festejar as melhorias da ecoeficincia de alguma forma. Cabe a cada

    empresa escolher a melhor forma de mostrar os ganhos alcanados e

    comemorar isso com a equipe de colaboradores.

    =============================================

    ASPECTOS DO SUCESSO TECNOLGICO DAS PLANTAES

    FLORESTAIS DE EUCALIPTOS NO BRASIL E SUA POTENCIAL

    OTIMIZAO PELA ECOEFICCIA, ECOEFICINCIA E P+L

    Foto: Aracruz, 2005

    Existe uma srie de boas razes para que a silvicultura no Brasil

    adquirisse o atual status tecnolgico e de utilizao bem sucedida dessas

    tecnologias pelo setor plantador de florestas. Pretendo dar uma navegada

  • 36

    sobre cada uma delas, mostrando alguns potenciais pontos de ecoeficincia

    para esses fatores chave de sucesso. Com isso, esperamos trazer algumas

    reflexes para vocs com o intuito de tornar essas atividades ainda mais

    eficazes e eficientes.

    Planejamento florestal e planejamento das operaes florestais

    Comearei por essa importante rea da silvicultura, pois ela pode ser

    razo para muita ecoeficcia e ecoeficincia florestal. Ou ineficincias e

    ineficcias tambm. Nessa rea se tomam muitas decises que podem

    impactar a ecoeficincia de nossas florestas. Importante para quem planeja

    antever os impactos sobre o que planeja. Caso as operaes sejam

    realizadas da forma como esto sendo planejadas, quais seus possveis

    impactos, gargalos e desperdcios? Onde e como elas podero vir a acumular

    ineficincias? Em quais reas afins teremos chances reais de perdas devido a

    essas operaes assim planejadas? A partir do momento em que o

    planejador passa a refletir sobre isso, ele poder ter importante influncia na

    melhoria das operaes, no apenas nas partes fsicas e econmicas, mas

    tambm na ambiental. Isso porque poder associar produtividade das

    operaes com melhor e mais eficiente utilizao dos recursos naturais.

    Seria possvel se exemplificar inmeras oportunidades para essa rea,

    mas vou-me concentrar apenas em 5 delas a ttulo de exemplo.

  • 37

    Exemplo 10: A definio do espaamento de plantio

    Quando Edmundo Navarro de Andrade, o pai da silvicultura brasileira,

    nos entregou as florestas plantadas de eucalipto conforme seus

    desenvolvimentos, ele recomendava espaamentos entre rvores de 2x2

    metros, ou seja, 4 m por rvore para seu efetivo uso. Naquela poca

    praticamente inexistiam operaes mecanizadas e o material gentico era

    bastante inferior ao atualmente disponvel. As produtividades florestais

    variavam entre 15 a 20 m/ha.ano para toras com casca. A partir dos anos

    1970s, com a gradual mecanizao florestal e melhoria de nossos materiais

    genticos, a produtividade florestal passou para 30 a 35 m/ha.ano e o

    espaamento florestal pulou para 3x2 metros, sendo 3 metros a distncia

    entre linhas e 2 metros a distncia entre plantas na linha de plantio.

    Resultava ento 6 metros quadrados por planta. Esse espaamento continua

    a ser muito praticado at nos dias de hoje, com algumas ligeiras variaes.

    As mais usuais so onde se adotam 3x3 metros (9 m/planta) ou 3,5x3

    metros (10,5 m/planta). Existem ainda alguns espaamentos esdrxulos

    como 4x1,5 metros ou 4x2 metros, que no se mostraram bem sucedidos

    por provocar forte competio das razes e copas muito prximas na linha de

    plantio. O preparo do solo na maioria das vezes feito por sulcamento do

    solo por subsolador (ripper). No caso de solos por demais argilosos ou

    compactados, as plantas tendem a desenvolver suas razes na linha de

    plantio que foi preparada e que est com o solo mais afrouxado. Por isso,

    mais rapidamente uma planta passa a competir com a outra por nutrientes e

    gua do solo. Com isso, muito comum que passe a ocorrer uma

    dominncia de plantas sobre outras. O povoamento fica muito irregular

    nesse tipo de espaamentos retangulares. Muito mais indicado buscar

    espaamentos mais quadrados do tipo 3x3 metros ou 3,5x3 metros do que

    espaamentos 3,5x2,5 m, ou 4x2m ou 4x2,5 metros.

    Livro de Navarro de Andrade O Eucalipto Segunda edio de 1961

  • 38

    Espaamento muito apertado na linha de plantio (4x1,75 metros) gerando competio e

    variao de crescimento entre as plantas Observar variao do dimetro das rvores

    De qualquer forma, vejamos a situao que se oferece para ns em

    termos de ecoeficincia pela definio do espaamento, olhando os nveis de

    produtividade entre as diversas situaes histricas comentadas:

    Produtividade

    histrica mdia

    Espaamento de

    plantio

    Nmero de plantas

    por hectare

    15 a 20 m/ha.ano

    2x2 ; 2,5x2

    2000 a 2500

    25 a 35 m/ha.ano

    3x2 ; 3,5x2

    1428 a 1667

    40 a 45 m/ha.ano

    3x3

    1111

    45 a 55 m/ha.ano

    3,5x3 ; 4x3

    833 a 952

    muito claro para mim que se temos um potencial gentico e

    ambiental para altas produtividades no podemos e no devemos plantar

    muitas rvores por hectare. Se fizermos isso, muito cedo elas comeam a

    competir pelos nutrientes, gua e luz solar. Com isso, apesar do Incremento

    Corrente Anual (ICA) ser grande nos dois a trs primeiros anos de idade do

    povoamento, logo o ICA cai acentuadamente (4 a 6 anos) e o povoamento

    para de crescer. Muito inteligentemente os tcnicos recomendam,

    baseados em suas bem-elaboradas planilhas de inventrio, que a floresta

    seja cortada aos 5 ou 6 anos de idade. Consideram alcanada a idade da

    rotao de mxima produtividade. Os gestores ficam eufricos, pois 5 a 6

  • 39

    anos significa antecipao de receitas. Passa a haver a intrigante suspeita de

    que o eucalipto possa ter seu ciclo abreviado para 5 a 6 anos de idade para

    colheita. O jbilo geral, infelizmente. To unicamente devido ao

    espaamento apertado entre rvores.

    Ora meus amigos, quanto mais cedo cortamos nossas plantaes,

    mais estaremos impedindo que a ciclagem dos nutrientes ocorra com mais

    efetividade. Mais operaes antrpicas que causam danos aos solos

    ocorrero. Aumentar a perda de fertilidade dos solos, aumentar a

    compactao, a eroso, etc. Melhor definitivamente se trabalhar com

    espaamentos mais abertos e com isso se prolongar a rotao, colhendo-se

    os povoamentos em idades mais avanadas. Teremos novos valores de ICAs

    que se estagnaro e cairo em maiores idades, concordam? Minha

    recomendao avaliar sabiamente a produtividade esperada com base no

    material gentico disponvel e nas disponibilidades de gua e nutrientes. A

    partir da, estabelecer o nmero mais adequado de rvores a se colocar por

    hectare. Lembrar que quando colocamos muitas rvores por hectare, muito

    cedo elas estaro competindo entre si. Se no vamos manejar nossas

    florestas com desbastes e a forma de colheita ser baseada em corte raso

    por talhadia simples, melhor abrir mais o espaamento. As plantas crescero

    mais em dimetro, cada rvore ser mais volumosa e os custos de

    manuseio, colheita e transporte sero tambm menores.

    Alm disso, ao colocarmos menos plantas por hectare estaremos

    economizando recursos naturais tais como mudas florestais, combustveis

    das mquinas, herbicidas, etc., etc.

    Recapitulando, com espaamentos mais abertos e com menos plantas

    por hectare teremos economias em:

    quantidade de mudas; preparo do solo; controle da mato-competio; replantios; todas operaes que impliquem em, trabalhos manuais ou de

    mquinas (adubao por cobertura, capinas, podas, etc.)

    Quando aumentamos o espaamento na entrelinha de 3 para 3,5

    metros teremos uma reduo no nmero de sulcos a serem produzidos pelo

    subsolador em 14%. Igualmente para o nmero de covas a serem abertas,

    se esse for o caso. So fantsticas ecoeficincias que se conseguem de

    forma to simples. Para os que no conseguem ver isso como ecoeficincias,

    acabam enxergando apenas como redues de custos. Na verdade, a

    ecoeficincia conduz a redues de custos, sem dvidas. Mas tambm

    conduz a reduo de impactos ambientais tais como nesse exemplo acima a:

    15% a menos na desagregao do solo, no consumo de combustvel das

    mquinas, nas perdas de sedimentos, etc., etc. J no caso da irrigao e da

    adubao, podemos inclusive manter as mesmas quantidades de gua e de

  • 40

    = 20

    L

    adubo dos espaamentos mais apertados. Com isso, forneceremos mais

    recursos vitais para as plantas, melhorando o seu crescimento inicial

    Outra coisa que muitos tcnicos se esquecem que a declividade do

    terreno afeta e muito o espaamento entre as rvores. Quando definimos

    um espaamento 3x3 metros, ou seja, 1111 rvores por hectare, estamos

    nos referindo a um terreno plano, ou a valores planificados de rea. A

    declividade no est aqui considerada. As rvores crescem na vertical,

    independentemente da declividade do terreno.

    Vamos supor que tenhamos uma declividade de por exemplo 20. Se

    plantamos baseados em rguas de exatamente 3 metros para se medir

    diretamente a distncia no terreno, o espaamento ser na verdade de

    2,82x3 metros se estivermos plantando em linhas no nvel do terreno. Na

    linha de nvel no teremos a influncia da declividade, mas para as

    entrelinhas sim, e muito. J se o plantio for morro abaixo, o espaamento

    poderia ficar 3x2,82 metros. Enfim h muitas outras situaes, dependendo

    da maneira como as linhas de plantio forem demarcadas.

    Vejam como fcil se entender porque o espaamento muda com a

    declividade do terreno:

    Coseno 20 = (Espaamento L) : 3 (hipotenusa inclinada)

    L = 0,94 x 3 = 2,82 metros

    Com isso, ao invs de termos 1111 rvores por hectare como

    planejado, teremos 1182, ou seja, 6% a mais. Fica fcil se entender ento

    porque s vezes o nmero de mudas planejado no corresponde ao

  • 41

    efetivamente plantado. Quanto maior a declividade, maior o erro cometido.

    Na verdade, a cada mudana de declividade do terreno, dever-se-ia

    recalcular o espaamento sobre o solo para se garantir o espaamento

    terico na projeo planificada do terreno. Algo parecido com o que a

    topografia faz. Plantar mais rvores por hectare uma medida de baixa

    ecoeficincia como j vimos. Estaremos gastando mais recursos naturais do

    que devamos. Estaremos tambm incentivando uma competio mais cedo

    entre as plantas. Por essa e muitas outras razes que o ICA acaba sendo

    prejudicado.

    Ao se plantar como nesse exemplo 6% a mais de mudas estaremos

    mostrando algumas importantes eco-ineficincias tais como:

    gastamos mais mudas que o necessrio e todos os insumos usados para produzir essas mudas;

    aumentaremos os gastos em trabalho de pessoas e de mquinas para as operaes de preparo do solo e plantio;

    aumentaremos as necessidades de replantio; gastaremos mais adubos, gel, gua de irrigao, etc.; prejudicaremos o crescimento das rvores em dimetro pois essa

    propriedade definitivamente regulada pelo espaamento e pela rea

    destinada a cada planta para crescer.

    Por falar em ICA (Incremento Corrente Anual) e em IMA (Incremento

    Mdio Anual), estamos sempre vendo nossos tcnicos medi-los, apresent-

    los e us-los para decises de planejamento com base em volume de

    madeira. s vezes, h os que os expressam em toneladas de

    celulose/ha.ano. Nesse caso, preciso saber muito bem como se fazer o

    clculo. Se o IMA calculado ao final do ciclo por abate das rvores, medio

    do volume e tomada de amostras representativas para clculo da densidade

    bsica mdia da madeira e rendimento da converso a celulose, nada a

    questionar. Isso admitido que estamos trabalhando com amostras

    representativas e com adequado nmero de repeties em nossos ensaios

    para medies no campo e nos laboratrios.

    Entretanto, a rea de inventrios florestais nas empresas se baseia

    em medies anuais de volume