A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para...

33

Transcript of A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para...

Page 1: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre
Page 2: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA: leitura, reflexões e escrita.

Autora: Denise Casola Nascimento1

Orientadora: Carmen Teresinha Baumgärtner2

Resumo

O artigo refere-se ao estudo do gênero textual crônica literária, e da produção escrita, com uma sequência didática abordando o mesmo gênero, para ser trabalhado com os alunos do primeiro ano do Ensino Médio, do período diurno, da Rede Estadual de Ensino. Para o desenvolvimento das atividades foram selecionadas quatro crônicas de épocas diferentes, das quais foram trabalhadas três, em relação ao tempo disponível, para proporcionar aos educandos uma leitura e discussão em relação ao momento de produção do gênero, ou seja, conhecer o contexto histórico no qual o cronista estava inserido. O gênero crônica relata os acontecimentos do cotidiano das pessoas, que muitas vezes passa despercebido. No entanto, o cronista com seu olhar aguçado consegue perceber a sensibilidade que existe entre um fato e outro e registra com muita perspicácia esses momentos breves e únicos, com uma linguagem simples e natural. A sequência didática contém as seguintes partes: análise dos elementos temáticos, estruturais e linguísticos, atividades de produção e reescrita do gênero, e uma coletânea de textos produzidos pelos educandos, sendo que a circulação do gênero será na biblioteca do colégio, cujo interlocutor é a comunidade escolar.

Palavras-chaves: crônica; sequência didática; produção.

1. Introdução

As Diretrizes Curriculares da Educação Básica de Língua Portuguesa

do Paraná (PARANÁ, 2008) propõem trabalhar com gêneros do discurso, pautados

1 Pós-graduada em Didática e Metodologia do Ensino, Professora PDE, Docente na área de Língua Portuguesa

no Colégio Estadual Antonio de Castro Alves, Capitão Leônidas Marques/PR. 2 Doutora em Estudos da Linguagem pela Universidade Estadual de Londrina/UEL, Professora do Colegiado do

Curso de Letras, no Centro de Educação, Comunicação e Artes da Universidade Estadual do Oeste do Paraná/UNIOESTE, Cascavel/PR.

Page 3: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

nas discussões de Bakhtin (1992) segundo o qual os gêneros são enunciados

relativamente estáveis, não aprisionando os textos em determinadas propriedades

formais. Marcuschi afirma que os gêneros “são textos materializados que

encontramos em nossa vida diária, e que apresentam características sócio-

comunicativas definidas por conteúdos, propriedades funcionais, estilo e composição

característica” (MARCUSCHI, 2002, p. 23-24). Referem-se a “toda e qualquer

manifestação concreta do discurso produzido pelo sujeito em uma dada esfera social

do uso da linguagem” (BRANDÃO, 2000, p. 08).

O documento traz também uma tabela com os gêneros conforme as esferas

de circulação, para que seja oportunizado e trabalhado com o educando o maior

número de gêneros possíveis, os quais circulam em nossa sociedade.

No entanto, o gênero textual crônica literária é abordado, na escola, como

sendo mais um texto dos gêneros planejados para o bimestre, com o educando do

Ensino Médio, sem muitas vezes trabalhá-lo didaticamente em todas as suas

dimensões, para que os mesmos percebam a criatividade e a riqueza de recursos

que os cronistas utilizam na elaboração dos textos.

É necessário desenvolver práticas sociais que envolvam a forma da escrita da

língua,

colocando o educando em contato com o papel do leitor e do escritor, para que o mesmo compartilhe a multiplicidade de finalidades que a leitura e a escrita possuem: ler por prazer, para se divertir, para buscar informações específicas de assuntos de sua relevância, para compartilhar emoções com os outros, para recomendar; escrever para expressar as ideias, para organizar o seu pensamento, para aprender mais, para registrar e conservar como memória, para informar, expressar sentimento, para se comunicar a distância e para influenciar os outros (BRASIL, 2009, p. 11).

Em relação à importância das informações cotidianas, Tufano (2009) comenta

que,

a crônica se alimenta do dia-a-dia, interessa-se por aqueles aspectos da vida exterior ou interior que podem parecer irrelevantes, mas que o olhar sensível do cronista sabe valorizar e transformar em matéria de leitura interessante, pelos comentários que gera e pela forma literária em que são expressos e que o gênero vai se modificando com o tempo e que hoje, são mais curtas, e os autores gozam de uma liberdade de expressão maior, o

Page 4: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

tom subjetivo é mais acentuado e os elementos ficcionais estão mais presentes. (p. 9).

É fundamental o papel do professor, para instigar os educandos, com

atividades de leitura e escrita, que despertem o interesse pelo gênero crônica, pois o

autor deverá demonstrar em seus textos a sensibilidade dos acontecimentos da

realidade.

Assim, torna-se importante que o educando perceba e aprecie a criatividade

na riqueza de recursos utilizados na produção do gênero, juntamente com uma

linguagem simples e espontânea. É necessário também, instigar o educando a

analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade.

Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre o gênero crônica,

para aprender a analisar, a ler, a entender e a contextualizar o processo de

produção, levando em conta o momento histórico, no qual o cronista estava inserido,

para que o educando possa fazer uma análise e escrever suas crônicas na escola.

Para Leal e Brandão (2006) “produzir textos escritos é um ato complexo, pois

envolve o desenvolvimento da capacidade de coordenar e integrar operações de

vários níveis e conhecimentos diversos: linguísticos, cognitivos e sociais”. Por isso,

no momento de produzir o texto, o educando precisa pensar no assunto que

pretende desenvolver, analisar os fatos com sensibilidade, em relação ao seu

cotidiano, e ao contexto histórico (p. 36).

As autoras (2006) defendem que “a leitura é primordial, mas que é necessário

promover muitas situações de produção de textos, e que a leitura, nos dota de

conhecimento sobre determinados temas, que favorecem a escrita”. (p. 21-22).

Diante desta realidade, o educando precisa ser instigado com bons materiais,

que estejam disponíveis, e com incentivadores de leitura, juntamente com a

indicação de obras literárias interessantes e importantes para o seu conhecimento

em relação aos temas trabalhados em sala de aula.

Se a escola disponibiliza bons livros aos alunos, a mídia mostra uma gama de

textos e outros materiais com recursos tecnológicos que chamam a atenção dos

leitores. Por que ainda temos educandos que não gostam de ler obras literárias,

jornais e revistas, com textos significativos, por exemplo, o gênero textual crônica?

Por que os educandos apresentam dificuldade na produção do gênero crônica?

Como está sendo trabalhado, em sala de aula, o gênero crônica?

Page 5: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

Leal e Brandão (2006) consideram que,

“quando escrevemos um texto, resgatamos os conhecimentos construídos a

partir do contato com outros textos usados em situações semelhantes à que

nos deparamos naquele momento, então, para aprender a escrever, é

necessário ler (e ler muito)”. (p. 21).

É importante salientar que o Ensino de Língua Portuguesa deve oferecer aos

educandos um conhecimento amplo de leitura, para que os mesmos consigam

entender a linguagem que está presente no gênero, e analisar o contexto de

produção.

Como forma de os alunos valorizarem as crônicas, foi elaborada uma

Sequência Didática, contendo os seguintes textos: “Carta do Achamento do Brasil”,

de Pero Vaz de Caminha, “Novo Manifesto”, de Lima Barreto, Crônica publicada no

Jornal Gazeta de Notícias, em “19 de Maio de 1988” de Machado de Assis, e “Meu

Gol Inesquecível”, de Cristovão Tezza. No entanto, não foram desenvolvidas

atividades em relação à crônica “19 de Maio de 1988,” porque ficaria muito extensa

e em um bimestre não haveria tempo suficiente para a realização das atividades

propostas.

Para o desenvolvimento das atividades, os objetivos foram: realizar um

estudo teórico sobre o gênero textual crônica literária; coletar vários textos do

gênero; disponibilizar aos educandos amostras de crônicas literárias de várias

épocas para analisar os estilos de produção daquele contexto histórico; identificar o

tom de lirismo, ironia, humor ou reflexão que o texto apresentava naquela situação

do dia-a-dia; analisar as diferenças de produções das crônicas literárias,

estabelecendo relações de significados e importância, partindo da literatura de

informação até a atualidade; identificar os temas, situação escolhida, a linguagem

em diferentes épocas, análise linguística, tom do texto e o foco narrativo; produzir

crônica literária com os educandos, trabalhando o contexto atual e na sequência

fazer uma coletânea dos textos, disponibilizando-os na biblioteca da escola.

O trabalho com o gênero crônica instiga o educando, a perceber que os textos

estão presentes na sociedade, e que são importantes para sua vida, para que sejam

Page 6: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

leitores e ao mesmo tempo autores.

2. Língua, Leitura e Linguagem

“É por meio da língua que o homem se comunica, tem acesso à informação,

expressa e defende seu ponto de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz

conhecimento” (BRASIL, 1997, p. 23).

Quanto à função da língua, de acordo com as Diretrizes Curriculares do

Paraná (2008, p. 53) “A língua é um instrumento de poder, e o acesso a esse poder

ou sua crítica, é legitimo e é de direito para todos os cidadãos”.

Costa-Hübes e Baumgärtener propõem que, “ao trabalhar com a língua, o

educador deve possibilitar ao educando refletir sobre sua própria fala e sobre as

outras situações com as quais interage no seu dia a dia” (AMOP, 2009, p. 11).

Gonçalves (2004) afirma que:

A interação tende a provocar mudanças tanto no sujeito quanto no destinatário, porque agimos sobre os outros e os outros sobre nós. A língua não se separa do individuo. Aprendê-la significa, a nosso ver, criar situações sociais idênticas às que vivenciamos no cotidiano. Em outros termos, o ato interlocutivo não deve se isolar das atividades cotidianas, visto que a linguagem não está dissociada de nossas ações e, portanto, aprender uma língua significa participar de situações concretas de comunicação (p. 02).

Nessa perspectiva, a aprendizagem visa aprimorar os conhecimentos

linguísticos e discursivos dos educandos, para que eles possam compreender os

discursos que os cercam, e ter condições de interagirem com esses discursos. Para

isso, é relevante que a língua seja percebida como uma arena em que as diversas

vozes sociais se defrontam, manifestando diferentes opiniões, como está posto nas

Diretrizes Curriculares do Paraná de Língua Portuguesa. A esse respeito, Bakhtin-

Volochinov (1999, p. 66) consideram que:

(...) cada palavra se apresenta como uma arena em miniatura onde se

Page 7: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

entrecruzam e lutam os valores sociais de orientação contraditória. A palavra revela-se, no momento de sua expressão, como produto da interação viva das forças sociais.

A linguagem é vista como fenômeno social, pois nasce da necessidade de

interação (política, social, econômica) entre os homens. Tendo como base teórica as

reflexões do Círculo de Bakhtin a respeito da linguagem, entende-se que na

interação verbal:

A verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema abstrato de formas linguísticas nem pela enunciação monológica isolada, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo fenômeno social da interação verbal, realizada através da enunciação ou das enunciações. A interação verbal constitui assim a realidade fundamental da língua (BAKHTIN/VOLOCHINOV, 1999, p. 123).

Segundo Melo (2000), “a linguagem é, pois, um lugar de interação humana,

de interação comunicativa pela produção de efeitos de sentido entre interlocutores,

em uma situação de comunicação e em um contexto sócio-histórico e ideológico” (p.

51). Sendo assim, os interlocutores interagem enquanto sujeitos, pois estão em

muitos espaços sociais concretos.

Dessa forma, têm-se mais possibilidades de entender o texto, lembrando que

precisam caminhar juntas: oralidade, leitura, escrita e análise linguística, com o

objetivo de proporcionar ao educando um conhecimento amplo sobre língua e

linguagem. Entende-se que “a aprendizagem acontece realmente na língua, quando

se tem um contato com a linguagem, nas diversas esferas sociais” (PARANÁ, 2008,

p. 55).

Bakhtin afirma que

todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem. Compreende-se que o caráter e as formas desse uso são tão multiformes quanto os campos da atividade humana, o que é claro não contradiz a unidade nacional de uma língua. O emprego da língua efetua-se em forma de enunciados (orais e escritos) concretos e únicos, proferidos pelos integrantes desse ou daquele campo da atividade humana (BAKHTIN, 2003, p. 261).

Page 8: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

Segundo o autor, “a língua é deduzida da necessidade do homem de auto-

expressar-se, de objetivar-se‟‟ (BAKHTIN, 2003, p. 270). Nesse sentido, a língua é

essencial na vida do homem, para comunicar-se e entender o mundo que o cerca.

Quando se trabalha com leitura em sala de aula, o professor deve saber quais

os objetivos pretendidos, qual a sua função social.

O trabalho com a leitura tem como finalidade a formação de leitores competentes e, consequentemente, a formação de escritores, pois a possibilidade de produzir textos eficazes tem sua origem na prática de leitura, espaço de construção da intertextualidade e fonte de referências, modalizadoras (BRASIL, 1997, p. 53).

Diante dessa preocupação do professor de que o aluno seja um leitor

atuante,

deve-se propiciar o desenvolvimento de uma atitude crítica que leva o aluno a perceber o sujeito presente nos textos e, ainda, tomar uma atitude responsiva diante deles. Sob esse ponto de vista, o professor precisa atuar como mediador, provocando os alunos a realizarem leituras significativas. Assim, o professor deve dar condições para que o aluno atribua sentidos a sua leitura, visando a um sujeito crítico e atuante nas práticas de letramento da sociedade (PARANÁ, 2008, p. 71).

Entende-se que somente uma leitura aprofundada, em que o educando é

capaz de enxergar os implícitos, permite que ele depreenda as reais intenções que

cada texto traz. Sabe-se das pressões uniformizadoras, em geral voltadas para o

consumo ou para a não-reflexão sobre problemas estéticos ou sociais, exercidas

pelas mídias. Essa pressão deve ser explicitada a partir de estratégias de leitura que

possibilitem ao aluno “percepção e reconhecimento - mesmo que inconscientemente

- dos elementos de linguagem que o texto manipula” (LAJOLO, 2001, p. 45). Desse

modo, “o aluno terá condições de se posicionar diante do que lê” (PARANÁ, 2008, p.

71).

Como leitor, é importante perceber as várias formas de fazer uma leitura,

Page 9: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

É importante perceber que não há uma única maneira de ler, ainda que toda a leitura tenha um propósito perfeitamente definido: lemos para nos divertir, para entender a sequência de uma receita, para resumir, para entender um texto mais complexo etc. Estar no mundo é interagir constantemente com o outro. Porque a leitura é necessária em todos os momentos da vida do ser humano (BRASIL, 2007, p. 21).

Freire (1994) relata que a importância de ler é um processo que reside na

necessidade de uma compreensão crítica da leitura, e não simplesmente o

decodificar de palavras. O autor afirma que:

A leitura do mundo precede a leitura da palavra, daí que a posterior leitura desta não possa prescindir da continuidade daquele. Linguagem e realidade se prendem dinamicamente. A compreensão do texto a ser alcançada por sua leitura crítica implica a percepção das relações entre texto e contexto (FREIRE, 1994, p. 11).

Para a interação com novas informações, novas formas de se expressar,

torna-se necessário que o educando conheça a diversidade de gêneros existentes

na esfera social: “É necessário, pois, estudar, em sala de aula, os vários gêneros

textuais e explorar, em diferentes situações e com objetivos diversos, como os textos

operam os registros linguísticos visando as finalidades comunicativas” (BRASIL,

2006, p. 21).

O ensino de leitura envolve a construção e a desconstrução desses textos,

ressalta os efeitos provocados pelas alterações, cria intertextos e exige um professor

e um educando envolvidos num processo de construção de sentidos efetivos

(BRASIL, 2006, p. 21).

3. Por que Estudar os Gêneros Textuais

A função social da linguagem está em possibilitar a interação entre os

homens, por meio de seus discursos, no contexto em que estão inseridos. Assim,

Page 10: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

considerar a natureza social da linguagem e o caráter dialógico e interacional da língua significa reconhecer os gêneros como a materialização da interação entre os sujeitos que, por intermédio do uso da língua, elaboram formas mais ou menos estáveis de discursos. Esses discursos, por sua vez, concretizam-se em textos socialmente construídos, denominados por Bakhtin (1992) de gêneros do discurso (BAUMGÄRTNER; COSTA-HÜBES, 2007, p. 14).

A concepção de discurso nas Diretrizes Curriculares da Educação Básica-

Língua Portuguesa (2008), é que o discurso é efeito de sentidos entre interlocutores,

não é individual, ou seja, não é um fim em si mesmo, mas tem sua gênese sempre

numa atitude responsiva a outros gêneros (BAKHTIN, 1999).

Costa-Hübes define que, “os gêneros textuais são os textos que circulam em

nossa sociedade, presentes no nosso dia-a-dia, seja em casa, no trabalho, na igreja,

no mercado, enfim, espalhados por todos os lugares”(2007,p. 13).

Apoiadas nos estudos de Bakhtin, as autoras destacam que:

os gêneros se constituem historicamente a partir de nova interação verbal (ou outro material semiótico) da vida que vão (relativamente) se estabilizando, no interior de diferentes esferas sociais, tanto nas circunstâncias de comunicação verbal espontânea da vida cotidiana, em que constituem os ''gêneros primários”, como nas circunstâncias de comunicação culturais mais complexas e evoluídas em que se produzem os ''gêneros secundários‟‟. São aqueles que absorvem e transmutam os gêneros primários e, para a sua produção, necessita-se de capacidades de linguagem mais complexas (BAUMGÄRTNER; COSTA-HÜBES, 2007, p. 14).

Bakhtin (1992, p. 285) afirma que “quanto melhor dominamos os gêneros

tanto mais livremente os empregamos, tanto mais plena e nitidamente descobrimos

neles a nossa individualidade (onde isso é possível e necessário) (...)‟‟. Portanto, os

gêneros estão inseridos no contexto social e fazem parte da vida das pessoas, por

isso é necessário dominá-los.

Bakhtin afirma que os gêneros do discurso são pautados em:

Três elementos (conteúdo temático, estilo e construção composicional) estão indissociavelmente no todo do enunciado, e são igualmente

Page 11: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

determinados pela especificidade de um determinado campo de comunicação. Evidentemente, cada enunciado particular é individual, mas cada campo de utilização da língua elabora seus tipos relativamente estáveis de enunciados, os quais denominamos de gêneros do discurso (BAKHTIN, 2003, p. 262).

O autor afirma que:

(...) a língua passa a interagir na vida através de enunciados concretos (que realizam); é igualmente através de enunciados concretos que a vida entra na língua. O enunciado é um núcleo problemático de importância excepcional (BAKHTIN, 2003, p. 265).

Em relação à escrita, ressalta-se que as condições em que a produção

acontece determinam o texto ( PARANÁ, 2008, p. 56)

Quanto ao ensino, Antunes (2003) salienta a importância de o professor

desenvolver uma prática de escrita escolar que considere o leitor, uma escrita que

tenha um destinatário e finalidades, para então se decidir sobre o que será escrito,

tendo visto que “a escrita, na diversidade de seus usos, cumpre funções

comunicativas socialmente específicas e relevantes”( In PARANÁ, 2008, p. 56)

Todo gênero tem a sua estrutura própria, que deve ser respeitada, conforme

as Diretrizes Curriculares da Educação Básica-Língua Portuguesa “a composição, a

estrutura e o estilo, e variam conforme se produzam como, por exemplo; um poema,

um bilhete, uma receita, um texto de opinião ou científico” (2008, p. 56).

Essas e outras composições precisam circular na sala de aula em ações de

uso, e não a partir de conceitos e definições de diferentes modelos de textos. É

preciso que o aluno se envolva com os textos que produz, e que assuma a autoria

do que escreve, visto que ele é um sujeito que, espera-se, tenha o que dizer.

Quando escreve, ele diz de si, de sua leitura de mundo: “a produção escrita

possibilita que o sujeito se posicione, tenha voz em seu texto, interagindo com as

práticas de linguagem da sociedade” (PARANÁ, 2008, p. 56). Percebe-se a

necessidade de oportunizar ao educando contato com os gêneros textuais em

circulação, pois quanto mais gêneros textuais forem disponibilizados ao educando,

melhor tenderá a ser o seu entendimento e a sua capacidade discursiva.

Nessa perspectiva de desenvolver um trabalho didático com gêneros, um

Page 12: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

texto que se destaca na esfera literária é a crônica literária. Este gênero teve as suas

primeiras publicações no jornal, e se mantém até hoje, e também em outros meios

como livros, para se materializarem e continuarem tendo a sua existência na vida

dos leitores.

Em “Manifesto,” Rubem Braga dirige-se aos operários da construção civil,

afirmando:

Nossos ofícios são bem diversos. Há homens que são escritores e fazem livros que são verdadeiras casas, e ficam. Mas o cronista de jornal é como o cigano que toda a noite arma sua tenda e pela manhã a desmancha, e vai (BRAGA, 1980, p. 17).

Para Antunes (2003), as proposta de produção de texto precisam

“corresponder àquilo que, na verdade, se escreve fora da escola - e, assim, sejam

textos de gêneros que têm uma função social determinada, conforme as práticas

vigentes na sociedade”. (ANTUNES, 2003, p. 62-63). Convém salientar que as

práticas de produção precisam relacionar-se com os gêneros que estão presentes

na sociedade, conforme a proposta nas DCE, para que o educando perceba que

produzimos texto em todos os contextos sociais.

Conforme Sá, “a crônica, é uma tenda de cigano enquanto consciência da

nossa transitoriedade; no entanto é casa - e bem sólida até - quando reunida em

livros, onde se percebe com maior nitidez a busca de coerência no traçado da vida,

a fim de torná-la mais gratificante e, somente assim, mais perene” (1992, p. 17).

Sendo assim, a crônica literária é um gênero inspirado nos acontecimentos

diários, e o cronista dá um toque próprio, humanizando e fazendo o homem refletir

sobre os fatos do cotidiano.

4. Como a Crônica Surgiu

A contextualização histórica explicitada por Bender e Laurito, em relação ao

gênero crônica, informa o que segue:

Page 13: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

Gênero Crônica O Mito

Na mitologia clássica, o deus Cronos, filho de Urano (o Céu) e de Gaia (aTerra), destronou o pai e casou com a própria irmã, Réia. Urano e Gaia, conhecedores do futuro, predisseram-lhe, então, que seria, por sua vez, destronado por um dos filhos que gerasse. Para evitar a concretização da profecia, Cronos passou a devorar todos os filhos nascidos de sua irmã com Réia. Até que está, grávida mais uma vez, conseguiu enganar o marido, dando-lhe a comer uma pedra em vez da criança recém-nascida. E, assim, a profecia realizou-se: Zeus, o último da proledivina, conseguindo sobreviver, deu a Cronos uma droga que o fez vomitar todos os filhos que havia devorado. E liderou uma guerra contra o pai, que acabou sendo derrotado por ele e os irmãos (BENDER; LAURITO,1993, p. 10-11).

“Cronos é a personificação do tempo”. E, de acordo com uma das abordagens teóricas dos mitos clássicos, sua lenda pode ser lida como uma alegoria: a de que o tempo, em sua passagem fatal, engole tudo o que é criado e tudo o que é criatura (BENDER; LAURITO, 1993, p. 10-11). A Palavra

A palavra grega chronos, que significa “tempo”, encontra-se, em nossa língua, como radical de muitos termos que, etimologicamente, ligam-se ao sentido original. No Dicionário etimológico, de Antenor Nascentes, “a palavra crônico é dada como originária do grego chronikós (relativo ao tempo), recebida pelo latim chronicu” (BENDER; LAURITO, 1993, p. 10-11). O Gênero

“Designativo de um gênero específico de textos, o termo crônica mudou de sentido em sua evolução, mas nunca perdeu os vinculos com o sentido etimológico que lhe é inerente e que está em sua formação. O primeiro dos significados da crônica remete para o seu sentido primordial, de registro do passado e dos fatos que sucederam. O segundo encara a crônica em sua acepção atual, ou seja,enfoque dos fatos do dia-a-dia. Portanto, a crônica é sempre um resgate do tempo e poder-se-ia dizer que , assim como um Zeus humano, o cronista também arranca das entranhas de Cronos os filhos que ele quer devorar, na medida em que não deixa perecer no tempo a matéria fugaz da vida, registrando-a e salvando-a do esquecimento” (BENDER; LAURITO,1993, p. 10-11). O Sentido Histórico do Termo

O marco da crônica em Portugal foi no ano de 1434, em que o cronista passa a ser um escritor profissional, pago para trabalhar com a matéria histórica, para atear-se aos fatos e à interpretações desses fatos.

A crônica, no sentido em que o termo é comumente usado, que começou na França, no século XIX, para designar um texto jornalístico que abordava os mais diversos assuntos. Nasceu de um filão chamado Folhetim (do francês feuilleton), que era um espaço livre no rodapé do jornal, destinado a entreter o leitor e a dar-lhe uma pausa de descanso em meio à enxurrada de notícias graves e pesadas.

“O marco da crônica no Brasil, foi em 1500, com a Carta de Pero Vaz de Caminha, que na verdade era uma crônica enviada ao rei D. Manoel contando os

Page 14: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

lances da descoberta do Brasil” (BENDER; LAURITO,1993, p. 11-15).

4.1 Conceitos de crônica literária

O gênero compreende subgêneros como, por exemplo, a crônica esportiva,

jornalística, do cotidiano e a literária, dentre outros. Na sequência, apontaremos

algumas informações/opiniões sobre a crônica literária de alguns estudiosos do

assunto.

A Crônica Literária

Laurito comenta que “a crônica remete ao seu sentido primordial, de registro do passado e dos fatos na ordem em que sucederam e também que encara o gênero em sua acepção atual, ou seja, enfoca os fatos do cotidiano” (BENDER; LAURITO, 1993, p. 11).

Bender observa que, “para registrarmos os fatos do nosso cotidiano, o espaço literário é a crônica. No gênero é fundamental o humor, bem como a leveza e o tom coloquial” (In BENDER; LAURITO, 1993, p. 43). Mas de tanto se dizer que a crônica é um gênero menor, talvez o próprio cronista acabe se convencendo disso e não se leve muito a sério. A esse respeito, diz Antonio Candido, professor e crítico literário:

“A crônica não é um gênero maior. Não se imagina uma literatura feita de grandes cronistas, que lhe dessem o brilho universal dos grandes romancistas, dramaturgos e poetas. Nem se pensaria em atribuir o Prêmio Nobel a um cronista, por melhor que fosse. Portanto, parece mesmo que a crônica é um gênero menor. „‟Graças a Deus”, - seria o caso de dizer, porque sendo assim ela fica perto de nós” (In BENDER; LAURITO, 1993, p. 43).

Outro estudioso de crônica literária, Sá prenuncia que

“o cronista age de maneira mais solta, dando a impressão de que pretende apenas ficar na superficie de seus próprios comentários, sem ter se quer a preocupação de colocar-se na pele de um narrador, que é, principalmente, personagem ficcional ( como acontece nos contos, novelas e romances). Assim, quem narra uma crônica é seu autor mesmo, e tudo o que ele diz parece ter acontecido de fato, como se nós, leitores, estivéssemos diante de uma reportagem” (SÁ, 1992, p. 09).

A crônica, apesar de toda a sua aparente simplicidade - pode ser valorizada

quando lemos criticamente, descobrindo a sua significação (SÁ, 1992, p. 79). O cronista, com o seu toque de lirismo reflexivo capta esse instante

brevíssimo, que também faz parte da condição humana e lhe confere (ou lhe devolve) a dignidade de um núcleo estruturante de outros núcleos, transformando a

Page 15: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

simples situação no diálogo sobre a complexidade das nossas dores e alegrias. Somente nesse sentido crítico é que nos interessa o lado circunstancial da vida (SÁ, 1992, p. 24).

Todo o texto literário pressupõe várias leituras, sendo que a primeira costuma ser bastante superficial. Apenas para tomar conhecimento do que se trata num primeiro registro, assumimos a posição de leitor ingênuo - e lemos sem esperar do ato de ler nada mais do que o simples ato de ler. Em outro momento temos a segunda leitura do gênero, a qual atinge o leitor com maior profundidade, em relação à carga emotiva (SÁ, 1992, p. 79).

Rubem Braga afirma que:

“A verdade não é o tempo que passa, a verdade é o instante. Brevissímo instante, onde se oculta a complexidade das nossas dores e alegrias, protegidas pela máscara da banalidade. Em nome dessa aparência amena é que muitas vezes nos desobrigamos de pensar na vida. Em nome dessa mesma aparência, o escrivão do cotidiano compõe um claro caminho, através do qual o leitor reencontra o prazer da leitura e - mesmo que não

perceba - aprende a ler na história “ inventada” a sua própria história” (In SÁ, 1992, p. 12).

Aponta o crítico Eduardo Portella para o fato de as crônicas tomarem as mais

variadas formas, podendo ser até fabulas. E chama a atenção para a crônica enquanto um fazer literário:

“A estrutura da crônica é uma desestrutura; a ambiguidade é a sua lei. A crônica tanto pode ser um conto, como um poema em prosa, um pequeno ensaio, como as três coisas simultaneamente. Os gêneros literários não se excluem: incluem-se. O que interessa é que a crônica, acusada injustamente como um desdobramento marginal ou periférico do fazer literário, é o próprio fazer literário. E quando não o é, não é por causa dela, a crônica, mas por culpa dele o cronista. Aquele que se apega à notícia, que não é capaz de construir uma existência além do cotidiano, este se perde no dia-a-dia e tem apenas a vida efêmera do jornal. Os outros, esses transcendem e permenecem” (In BENDER; LAURITO, 1993, p. 53).

5. Elaboração da Sequência Didática

Para a realização do trabalho em sala de aula, foi construída uma sequência

didática, com três textos do gênero crônica, de épocas diferentes.

Dolz e Schneuwly (2004, p. 60) propõem “um trabalho de progressão com os

gêneros, agrupando-os, quanto a seu “(...) aspecto tipológico, que segundo eles, são

as capacidades de linguagem com as quais se devem trabalhar.” Os autores (2004,

p. 97) definem uma sequência textual como “(...) um conjunto de atividades

escolares organizadas, de maneira sistemática, em torno de um gênero textual (oral

Page 16: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

ou escrito)”.

Assim, por meio do material “sequência didática” apresentou ao educando o

gênero textual, para que o mesmo possa produzir uma crônica em situações

escolares; e se preparar para a interlocução em situações reais de comunicação,

fazendo-o com segurança.

Nessa proposta de atividades é importante ter modelos para a escrita de

texto, ou seja, para aprender a escrever, precisa ter textos variados, para construir

uma bagagem de conhecimentos temáticos e de conhecimento relativos às

características dos vários gêneros textuais.

A sequência didática proposta por Dolz; Noverraz e Schneuwly compreendem:

“uma produção inicial (de leitura, escrita ou fala), na qual os educandos fazem uma tentativa de ler, ou de elaborar, no registro escrito ou falado, um primeiro texto do gênero escolhido, para atender uma necessidade real de comunicação, numa dada esfera social, de forma a revelar as representações que têm do mesmo” (2004, p. 95-128).

A sequência didática proposta para este trabalho tem a seguinte forma de

organização:

1. Apresentação de uma situação (necessidade/motivo de produção).

2. Seleção do gênero textual (tendo em vista o que se quer dizer, para quem,

em que local de circulação etc.).

3. Reconhecimento do gênero selecionado (por meio de:)

4. Pesquisa sobre o gênero.

5. Leitura de textos do gênero, explorando e estabelecendo relações entre:

- sua função social,

- seu conteúdo temático,

- sua estrutura composicional (características, tipologia predominante etc.),

- seu estilo (análise linguística).

6. Seleção de um texto do gênero para um estudo mais específico:

- de sua função social,

- de seu contexto temático,

Page 17: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

- de sua estrutura composicional,

- de seu estilo (análise linguística).

7. Produção de texto do gênero, tendo em vista a necessidade apresentada.

8. Reescrita de texto do texto produzido, com o objetivo de aproximá-lo, o

máximo possível, de seus “modelos” que circulam socialmente.

9. Circulação do gênero, tendo em vista o(s) interlocutor (es) definido(s)

inicialmente.

Fonte: BAUMGÄRTNER; COTSA-HÜBES (2007, p. 17).

A sequência didática tem como objetivo trabalhar um gênero textual,

explorando-o, com atividades variadas, para ser entendido, compreendido pelo

educando, para haver aprendizagem. As Diretrizes Curriculares trazem uma tabela

de gêneros conforme as esferas sociais de circulação:

Esfera Social de Circulação Gêneros do Discurso

Literária/Artística

- Autobiografia - Biografias - Contos - Crônica - Escultura - Fábulas - Haicais - Histórias em quadrinho - Lendas - Literatura de cordel - Memórias - E outros gêneros que pertencem a este discurso.

Fonte: PARANÁ (2008, p. 100).

As atividades desenvolvidas na sequência didática foram na esfera literária e

o gênero do discurso foi à crônica.

Page 18: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

5.1 Gêneros trabalhados na sequência didática

Crônica Autor Ano da

Publicação

Veículo de

Circulação

Meu Gol Inesquecível Cristovão Tezza 2002 Folha de

São Paulo

Carta do Achamento do Brasil Pero Vaz de Caminha 1500 Documento

Novo Manifesto Lima Barreto 1995 Folha de

são Paulo

Fonte: <http://www.cristovãotezza.com.br>; livro Cronistas do Descobrimento de Olivierri e Villa; Antologia da Crônica Brasileira de Machado de Assis à Lourenço Diaféria de Tufano (2009).

Com esta estratégia de ação, objetivou-se a elaboração de atividades com o

gênero escolhido, que foram trabalhadas com os educandos do primeiro ano do

Ensino Médio, matutino. Para a operacionalização das atividades foram propostas

leitura, oralidade, análise linguística, escrita e reescrita de textos, especificamente os

da crônica literária.

O intuito é de que o educando, a partir do gênero trabalhado, entender as

competências de leitura, buscando o entendimento dos fatos ligados à vida

cotidiana, percebendo a sensibilidade, o lirismo, a leveza, a brevidade, o uso da

linguagem e de suas potencialidades como meio ou pretexto para o artista exercer

seu estilo e sua criatividade, e que o educando também, identifique e diferencie a

crônica, de outros gêneros textuais, que pertencem à mesma esfera literária.

A ênfase do trabalho com crônicas ocorreu quando os educandos eram

orientados para que percebesse, que não se lê da mesma forma uma crônica que

está divulgada no suporte de um jornal, e uma crônica publicada em um livro, tendo

em vista a finalidade de cada uma delas.

Na crônica do jornal, é importante considerar a data de publicação, a fonte, os acontecimentos dessa data, o diálogo entre a crônica e outras notícias veiculadas nesse suporte. Já a leitura da crônica do livro representa um fato cotidiano independente dos interesses deste ou daquele jornal (PARANÁ, 2008, p. 72).

Page 19: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

Laurito deixa claro que “a crônica tanto em relação ao sentido tradicional do

termo quanto em relação ao sentido moderno, ela é sempre um resgate do tempo”

(BENDER; LAURITO, 1993, p. 11). Portanto, o educando deve perceber o quanto o

tempo é essencial no gênero.

5.2 O desenvolvimento da sequência didática em sala de aula

Para iniciar o trabalho com o gênero foi realizada uma pesquisa com os

educandos, dividindo-os em grupos e questionando-os sobre: Quais os textos que

haviam lido e produzido? Por que produziram? Explique oralmente como é a

estrutura do texto que vocês produziram? O que é um texto? O que é um texto

narrativo, descritivo e dissertativo? Quem leu crônica?

Após os educandos realizarem a atividade em grupo, os mesmos

apresentaram aos colegas o resultado do trabalho, e foi-se pontuando as dúvidas

que tinham em relação a texto.

Percebeu-se que tinham a compreensão da tipologia narrativa, mas não de

toda a estrutura. Entretanto, evidenciaram dificuldades no que se refere à tipologia

dissertativa. Alguns educandos não sabiam se já haviam escrito algum texto no qual

tivesse predominado tal tipo de sequência.

Para iniciar o trabalho com o gênero crônica literária, foi comentado com os

mesmos sobre o texto e sobre o quanto era interessante na disciplina de Língua

Portuguesa, pois relatava os fatos do cotidiano.

O primeiro contato dos educandos com o gênero foi a leitura de vários

subgêneros como, por exemplo, a crônica esportiva, jornalística, do cotidiano e a

literária, dentre outros, para que sentissem o quanto o gênero está ligado ao nosso

dia-a-dia. O trabalho de leitura em livros foi realizado na biblioteca do Colégio, onde

os educandos estavam em lugar mais agradável, que poderia instigar o contato com

o texto.

O início da sequência didática foi com o texto “Meu Gol Inesquecível”, de

Cristovão Tezza, um escritor paranaense que reside na cidade de Curitiba, Paraná.

Page 20: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

Para chamar a atenção dos educandos, o texto foi impresso com a marca d‟água de

uma bola, e gravado pelo locutor da emissora que transmite os jogos que acontecem

no município. Todos os educandos ficaram concentrados para ouvirem o texto.

Os textos trabalhados em sala de aula tiveram as mesmas partes no

desenvolvimento das atividades, mas com temas diferentes. A amostra a seguir é

um modelo de como foram desenvolvidas as atividades na sequência didática,

trabalhadas em sala de aula, com o educando.

Texto - 01 Folha de São Paulo CADERNO MAIS! São Paulo, 26 de maio de 2002

“Meu Gol Inesquecível”

Cristovão Tezza

Era o último amistoso da seleção antes da Copa de 82; era o Maracanã numa tarde magnífica de domingo. Brasil e Alemanha Oriental. Duas da tarde e eu já fazíamos parte de uma multidão semovente e animada, subindo rampas de concreto de um lado a outro até perder as referências. Súbito o mundo se abriu azul-e longe, embaixo, aquele campo verde brilhante, pequeno à distância, exato como uma mesa de botões atraentes como um brinquedo. Fui sendo arrastado em direção a algum espaço na arquibancada e ao me acomodar percebi que estava no centro de toda a torcida vascaína do mundo que, a cada nome de jogador que ressoava pelos alto-falantes, trocava insultos e ovações ritmadas com a torcida do Flamengo, um vermelho e negro ondulante adiante. O jogo começou. Num momento um vendedor equilibrando-se à minha frente levou com os passos dele a ponta do meu cadarço; baixei a cabeça para amarrar o cordão do sapato e no primeiro nó houve um princípio de terremoto e milhões de pessoas se ergueram ao mesmo tempo num desvario ululante - tentei também ficar em pé e, quando consegui, vi sobre as cabeças, lá longe, jogadores amarelinhos se abraçando, pulando uns sobre os outros, e de relance percebi um alemãozinho tímido buscando a pequena bola no fundo da rede. Reflexo condicionado, busquei em vão alguma tela em busca do gol perdido, para voltar os segundos que avançavam impiedosos. Inútil; a partida terminou um - a zero. Meu gol inesquecível restou vazio na memória.

(Disponível em: <http://www.cristovaotezza.com.br>. Acesso em: 28/07/2011).

1.1 Biografia do autor Para realizar a pesquisa sobre o autor da crônica, foi utilizada a tecnologia, já que a mesma está para auxiliar o ser humano em sua aprendizagem. Assim, no laboratório de informática do colégio os educandos realizaram uma pesquisa no site Dia a dia Educação. O objetivo do trabalho foi instigar os alunos a perceberem o quanto é necessário conhecer a biografia do cronista, e também o contexto social no

Page 21: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

qual o mesmo estava inserido, para entender o olhar do autor em relação aos fatos do cotidiano, e o porquê do texto produzido.

Site da pesquisa: <http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br>.

1.2 Discussão sobre o contexto de produção a) Como é o nome desse texto? ( ) Poema ( ) Conto ( ) Crônica b) Onde e quando foi publicado? _______________________________________________________________ c) Para quem foi produzido? ___________________________________________________________________ d) A organização e a linguagem utilizada favorecem a interação do leitor com o texto? ___________________________________________________________________ e) Quem produziu o texto? O que você sabe sobre esse autor? Faça uma pesquisa sobre o mesmo. ___________________________________________________________________ f) Você gosta de ler crônica literária? Este gênero chama sua atenção para a leitura? ___________________________________________________________________ g) Você lê com frequência jornais e revistas? Quantas vezes você leu esse texto neste material? ___________________________________________________________________ 1.3 Conteúdo temático a) Ao ler o título, você consegue dizer qual é o assunto do texto? ___________________________________________________________________ b) Após a leitura do texto. Qual é o assunto? Você permaneceu com a mesma ideia, por quê? ___________________________________________________________________ c) O texto flagra situações do cotidiano. Quais são estas situações? ___________________________________________________________________ d) Em que momento do texto o cronista fala do gol inesquecível. Por quê? ___________________________________________________________________ 1.4 Estrutura composicional 1.4.1 Na perspectiva literária, as características comuns da crônica literária são:

Page 22: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

Narrativa curta e muitas vezes sucinta;

Linguagem simples e espontânea;

Personagens ficcionais ou reais;

Discursos diretos, indiretos e livres;

Tema são os flagrantes do cotidiano;

Muitas vezes aparece no gênero carta, poema, conto e fábula;

O cronista dá um toque próprio, incluindo em seu texto elementos como ficção, fantasia e criticismo;

É narrado em 1ª pessoa ou 3ª pessoa;

Geralmente é estruturada em parágrafos curtos e longos;

O cronista ao desenvolver a sua crônica, apresenta sua visão no que se refere a um determinado assunto, ou seja, está transmitindo a sua visão de mundo ao leitor.

a) Baseando-se na leitura do texto que você leu, e naquilo que foi discutido em sala de aula, assinale (V) para as alternativas verdadeiras e (F) para as alternativas falsas, com relação às características da crônica literária “Meu Gol Inesquecível”. ( ) A crônica é um fato do cotidiano. ( ) A crônica é uma narrativa curta. ( ) O suporte de circulação dessa crônica foi o jornal. ( ) O texto não é narrado em 1ª pessoa. ( ) A linguagem não é simples e espontânea. ( ) O texto não apresenta discursos indiretos. b) Agora reescreva as alternativas falsas, transformando-as em verdadeiras. ___________________________________________________________________

c) É possível localizar o conflito? E o desfecho? ___________________________________________________________________ 1.5 Interpretação do texto a) Como o autor descreve o Maracanã, onde ocorreu o jogo? ___________________________________________________________________ b) O personagem sentou-se junto a qual torcida? ( ) Vasco ( ) Grêmio ( ) Fluminense c) E com qual torcida trocava insultos e ovações ritmadas? ( ) Palmeiras ( ) Flamengo ( ) Internacional d) Por que o personagem do texto não assistiu o gol? ___________________________________________________________________ e) Qual foi o terremoto que houve no estádio? ___________________________________________________________________ f) Quando o personagem conseguiu levantar-se, o que presenciou.

Page 23: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

( ) O gol ( ) Os telespectadores comemorando g) Por que o autor terminou o texto com a seguinte frase: “Meu Gol Inesquecível restou vazio na memória”. ___________________________________________________________________ h) O cronista relatou como foi assistir a um jogo no Maracanã. Você acha que é dessa maneira que as pessoas se comportam em um estádio? ___________________________________________________________________ 1.6 Trabalhando o vocabulário 1.6.1 Substitua as palavras sublinhadas, por outra de mesmo sentido. a) Parte de uma multidão semovente e animada. ___________________________________________________________________ b) A cada nome de jogador que ressoava pelos alto-falantes. ___________________________________________________________________ c) Trocava insultos e ovações ritmadas com a torcida do Flamengo. ___________________________________________________________________ d) Um vermelho e negro ondulante adiante. ___________________________________________________________________ e) Ao mesmo tempo num desvario ululante - tentei também ficar em pé. ___________________________________________________________________ 1.6.2 Explique o sentido da palavra sublinhada na oração. a) Era o último amistoso da seleção antes da Copa de 82. ___________________________________________________________________ 1.7 Análise linguística a) Ao ler o texto, você percebeu alguma diferença em relação à paragrafação. Qual? ___________________________________________________________________ b) O titulo do texto “Meu Gol Inesquecível” apresenta uma ambiguidade, ou seja, um duplo sentido com a palavra gol. Quais são as interpretações. ___________________________________________________________________ c) Na primeira linha aparece duas vezes o verbo conjugado “era”. Em que sentido e em que tempo foi usado. ___________________________________________________________________ d) A expressão “Perder as referências” (linha 04), refere-se ao:

Page 24: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

( ) Jogo ( ) Maracanã ( ) Telespectador e) A palavra “súbito” (linha 04) está empregada no texto em que sentido? Troque-a por outra, com o mesmo sentido. ___________________________________________________________________ f) Como o autor descreveu o campo? ___________________________________________________________________ g) Com que o autor compara o campo? (linha 05). Assinale o que for correto: ( ) Mesa de botões ( ) Brinquedo ( ) Azul brilhante h) Que sentido tem, no texto, a palavra “começou” (linha 9). Que outra palavra (verbo) poderia ser usada. ___________________________________________________________________ i) Em “Levou com os passos dele a ponta do meu cadarço” (linha 10-11), a que se referem os pronomes a seguir?

Dele __________________________________________________________

Meu __________________________________________________________ j) O número ordinal empregado no texto (linha 11) refere-a: ( ) Nó ( ) Gol ( ) Cordão k) O advérbio de lugar “lá longe” (linha 14) indica: ( ) Vestiários ( ) Campo ( ) Arquibancadas

l) No trecho “de relance percebi um alemãozinho tímido buscando a pequena bola no fundo da rede” (linha 15),

Quem era o alemãozinho tímido. ___________________________________

Em que sentido foi empregado o adjetivo “pequena” na oração anterior? _________________________________________________________________

m) Por que a palavra “também” (linha 13) foi empregada? ___________________________________________________________________ n) Em “Vi sobre as cabeças” (linha 13).

Qual o sentido da palavra “sobre”. __________________________________

Reescreva a oração no singular. Poderia ser usado dessa forma no texto. Por quê? __________________________________________________________

o) Na sequência “busquei em vão alguma tela em busca do gol perdido” (linha 16).

Que outro verbo pode ser usado no lugar de “busquei”. _________________________________________________________________

Troque o substantivo “tela”, por outro. _________________________________________________________________

O verbo “busquei” refere-se a quem? _________________________________________________________________

p) Analise o fragmento e responda:

Page 25: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

“Jogadores amarelinhos se abraçando, pulando uns sobre os outros”.

O pronome sublinhado “outros” refere a: _____________________________

Os “jogadores amarelinhos” referem-se a: ____________________________ As atividades propostas com o texto foram desenvolvidas pelos alunos com

habilidade, pois gostaram de trabalhar com a metodologia usada, que foi a sequência didática. Texto - 02

“A Carta do Achamento do Brasil” Pero Vaz de Caminha

O texto foi escrito em 1500, quando a frota de Cabral se preparava para

deixar o Brasil, seguindo em direção à Índia, no entanto, a carta foi encontrada na Torre do Tombo, em 1773, por Seabra da Silva (SÁ, 1992).

Sá, em sua definição sobre crônica afirma que, A carta de Pero Vaz de Caminha a el-rei D. Manoel assinala o momento em que, pela primeira vez, a paisagem brasileira desperta o entusiasmo de um cronista , oferecendo-lhe a matéria para o texto que seria considerado a nossa certidão de nascimento. O texto, indiscutivelmente é a criação de um cronista no melhor sentido literário do termo, pois ele recria com engenho e arte tudo o que ele registra no contato direto com os índios e seus costumes, naquele instante de confronto entre a cultura européia e a cultura primitiva (SÁ, 1992).

Para iniciar o trabalho com a sequência didática, o texto foi impresso em um papel reciclado, para tentar aproximar a um papel desgastado pelo tempo e o mesmo não estava na íntegra. O texto também foi gravado em CD, e os educandos o ouviram, com atenção e curiosidade, pois a voz do locutor instigava-os a ouvirem o gênero, não sendo, portanto, uma atividade cansativa, pois o texto é uma narrativa longa com muitas descrições do ambiente, dos índios, enfim da cultura do povo nativo.

Os educandos realizaram pesquisa em livros e na internet, utilizando o laboratório de informática do colégio, para pesquisarem em relação à biografia do autor, onde encontraram poucas informações. Pesquisaram sobre o manuscrito original do texto, com o objetivo de analisar o papel, escrita e o símbolo que constava no texto.

A literatura de informação contribui para o entendimento do contexto histórico, e para o desenvolvimento das atividades propostas em relação ao gênero. Os educandos foram percebendo a ordenação cronológica, em que o texto foi construído pelo cronista, e a visão sobre a realidade, comportamento e as atitudes dos nativos, que o mesmo percebeu e deixou registrado em forma de carta, mas, no gênero crônica, porque o cronista deve ter uma visão diferente para perceber as peculiaridades que estão a sua volta, como Caminha registrou em seu texto, deixando um legado para os brasileiros. Como no fragmento a seguir: “Eram pardos, todos nus, sem coisa alguma que lhes cobrisse suas vergonhas. Nas mãos traziam arcos com suas setas. Vinham todos rijamente sobre o batel; e Nicolau Coelho lhes fez sinal que pousassem os arcos. E eles os pousaram” (OLIVIERRI; VILLA, 1999, p. 20).

O relatar do cotidiano transforma a crônica em um texto único, descrevendo o

Page 26: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

cenário, as ações das personagens, os fatos históricos. Como explica Sá, “Caminha estabeleceu o princípio básico da crônica: registrar o circunstancial. A história da nossa literatura se inicia, pois, com a circunstância de um descobrimento: oficialmente, a Literatura Brasileira nasceu da crônica” (1992, p. 06 e 07).

Portanto, estudar crônica é despertar no educando a curiosidade pelo texto e que não é apenas mais um texto, mas sim, o texto, a crônica, pois é um gênero que traz o nascimento da Literatura Brasileira a “Carta do Achamento do Brasil.”

O gênero em discussão é um texto híbrido, pois utiliza o suporte de uma crônica, relatando os fatos que observa no Achamento do Brasil. No entanto, utiliza a estrutura do gênero carta, para escrever e mandar ao rei D. Manoel, seu destinatário, o que presenciou na nova terra. Texto - 03

“O Novo Manifesto” Lima Barreto

O desenvolvimento das atividades na sequência didática seguiu a mesma

estrutura do texto 01 - Meu Gol Inesquecível. Neste momento, já era trabalhado o terceiro texto do gênero, ou seja, permanecendo a mesma estrutura de atividades, no entanto relacionadas com o tema da crônica. Todo o trabalho tinha como objetivo que os educandos entendessem e percebessem que o gênero era o mesmo, mas o contexto histórico não, e que o contexto literário compreendia o pré-modernismo, que o cronista precisava entender o momento social, para ter uma visão e escrever a crônica.

O trabalho com esse gênero iniciou-se com o questionamento do título, para que os educandos analisassem o que cada palavra queria dizer, mesmo sem ler o texto na íntegra, e que percebessem, após a leitura do texto, se o conceito que haviam construído no início sobre o titulo seria o mesmo, ou mudariam de opinião, após a leitura. As discussões foram calorosas em relação ao tema, e na sequência com a leitura do texto, que fica claro sobre a intenção de ser candidato, ou seja, a política, que é um fato social, que continua acontecendo até hoje, e por ser um assunto em que os educandos estão formulando seus conceitos e opinando sobre o tema. Realizaram comparações com os candidatos nos dias atuais, no sentido de sua proposta de campanha à população e a metodologia de suas propagandas para convencer o eleitorado a votar, para conseguirem cargos políticos nas esferas municipais, estaduais e federais.

Seguindo a discussão do referido tema, foi realizada uma pesquisa para conhecer a biografia do autor Lima Barreto, o contexto histórico no qual estava inserido, para entender por que teve um olhar tão peculiar sobre o assunto exposto no seu texto. Em relação ao autor, um fato que chamou a atenção dos educandos foi que o mesmo procurou nas classes populares da época a matéria para os seus textos, observando a vida do povo, juntamente com o sarcasmo no qual ironizara os políticos daquela época.

No momento de realizar as atividades, os educandos demonstraram interesse, atenção e concentração, pois as atividades estavam todas relacionadas com o mesmo gênero, pois a sequência didática proporciona está metodologia, onde se realiza atividades em torno de um gênero, que no momento foi à crônica.

O veículo de circulação do gênero foi em um livro que reuniu várias crônicas

Page 27: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

de autores diferentes, organizado por Tufano (2009). O autor organizou uma coletânea de crônicas de vários autores, e a crônica em estudo, presente na sequência didática, consta dessa coletânea, sendo o veículo de circulação do gênero.

5.3 Produção e reescrita de texto

As Diretrizes Curriculares sugerem propostas de produção textual que

precisam “corresponder àquilo que, na verdade, se escreve fora da escola – e,

assim, sejam textos de gêneros que têm uma função social determinada, conforme

as práticas vigentes na sociedade” (ANTUNES, 2003, p. 62-63).

Há diversos gêneros que podem ser trabalhados em sala de aula para

aprimorar a prática de escrita. A seguir citam-se alguns, contudo

“ressalta-se que os gêneros escritos não se reduzem somente a esses exemplos: convite, bilhete, carta, cartaz, notícia, editorial, artigo de opinião, carta do leitor, relatórios, resultados de pesquisa, resumos, resenhas, solicitações, requerimentos, crônica, conto, poema, relatos de experiência, receitas” (PARANÁ, 2008, p. 69).

Na prática da escrita, há três etapas interdependentes e inter

complementares, que podem ser ampliadas e adequadas de acordo com o contexto

(ANTUNES, 2003) e adaptadas às propostas das Diretrizes Curriculares do Paraná

de Língua Portuguesa, que norteia a língua, que são:

• Inicialmente, essa prática requer que tanto o professor quanto o aluno

planejem o que será produzido: é o momento de ampliar as leituras sobre a temática

proposta; ler vários textos do gênero solicitado para a escrita, a fim de melhor

compreender a esfera social em que este circula; delimitar o tema da produção;

definir o objetivo e a intenção com que escreverá; prever os possíveis interlocutores;

pensar sobre a situação em que o texto irá circular; organizar as ideias;

• Em seguida, o aluno escreverá a primeira versão sobre a proposta

apresentada, levando em conta a temática, o gênero e o interlocutor, selecionará

Page 28: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

seus argumentos, suas ideias; enfim, tudo que fora antes planejado, uma vez que

essa etapa prevê a anterior (planejar) e a posterior (rever o texto);

• Depois, é hora de reescrever o texto, levando em conta a intenção que se

teve ao produzi-lo: nessa etapa, o aluno irá rever o que escreveu refletir sobre seus

argumentos, suas ideias, verificar se os objetivos foram alcançados; observar a

continuidade temática; analisar se o texto está claro, se atende à finalidade, ao

gênero e ao contexto de circulação; avaliar se a linguagem está adequada às

condições de produção, aos interlocutores; rever as normas de sintaxe, bem como a

pontuação, ortografia, paragrafação (PARANÁ, 2008, p. 69).

Por meio desse processo, que vivencia a prática de planejar, escrever, revisar

e reescrever seus textos, o educando perceberá que a reformulação da escrita não é

motivo para constrangimento. Sendo que “o ato de revisar e reformular é antes de

mais nada um processo que permite ao autor/leitor refletir sobre seus pontos de

vista, sua criatividade e o seu imaginário na produção textual do gênero” (PARANÁ,

2008, p. 70).

A primeira produção é o marco inicial para a preparação de diversos módulos

que darão conta dos problemas que nela aparecerão, na perspectiva de fornecer aos

educandos os instrumentos necessários para atingirem o objetivo de produzirem o

gênero discursivo escolhido.

Ressalta-se que, no percurso da produção de texto do educando, outras

práticas de escrita podem acontecer para, então chegar ao gênero pretendido.

Considerando que os educandos já adquiriram um conhecimento sobre o gênero e a

realização de todas as atividades, é possível solicitar a produção de uma crônica

literária, conforme foi proposto na sequência didática.

Neste momento de conversação sobre a produção textual dos educandos, o

educador deve estar atento em relação à produção do gênero, orientando-os em

todas as dúvidas que surgirem.

Em conjunto com a turma, foi feita uma relação de temas sociais que são

pertinentes como: escola, família, sociedade, política, futebol e outros temas que a

turma verificou que serão relevantes para a produção do gênero. Na primeira

produção, os educandos foram orientados para que produzissem o seu texto, sendo

o cronista aquele que analisa os fatos do cotidiano, pelo seu conhecimento de

mundo.

Page 29: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

Após a leitura, todas as produções textuais foram devolvidas aos educandos,

para que lessem e observassem a estrutura, a linguagem, a paragrafação, a

pontuação, e para que melhorassem a sua produção. Realizou-se uma recapitulação

sobre o gênero crônica, e solicitou-se uma reescrita dos textos. Compararam a 1ª

produção com a 2ª produção, para que analisassem se os textos haviam

melhorados. Os textos foram devolvidos, e foi solicitado que trocassem com seus

colegas, e que cada um deveria ler dois textos da turma. Essa prática foi produtiva,

porque despertou o gosto pela leitura dos textos dos colegas, pois cada um

observava as cenas de maneira diferente, sendo o mesmo tema, mas com um olhar

de um cronista, ou seja, de leitor e de produtor de texto.

Proporcionou-se uma discussão com a turma em relação ao gênero

trabalhado durante o bimestre, para avaliar se dessa maneira, ou melhor, se

utilizando a metodologia da sequência didática teria sido mais fácil entender o

gênero. Os educandos comentaram que foi positivo o trabalho, porque concentrou

as atividades, e na sequência houve a produção textual sem mudar de gênero,

facilitando o entendimento.

Durante a produção de texto, o educando aumenta seu universo referencial e

aprimora sua competência de escrita, apreende as exigências dessa manifestação

linguística e o seu sistema de organização próprio. Ao analisar seu texto conforme

as intenções e as condições de sua produção, o educando adquire a necessária

autonomia para avaliá-lo (PARANÁ, 2008).

Os educandos digitaram o texto no laboratório de informática do Colégio

(primeiramente combinou-se com a turma as regras de digitação do texto) e

entregaram ao educador para fazer a coletânea e encaderná-la, para deixar

disponível na biblioteca.

5.4 Circulação do gênero

O gênero produzido precisa ter um veículo de circulação, para estar próximo

do leitor, que no caso do estudo em foco são os alunos do Colégio. Após a coleta

dos textos, o educador encaminhou-os à mecanografia (setor em que funcionários

digitam atividades para os educadores), para organizar: capa, abertura, dedicatória,

Page 30: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

nome dos autores, e encadernar o material para deixar disponível na biblioteca do

Colégio.

Foi realizada uma cerimônia com os alunos do período matutino, para

entregar a coletânea de crônicas à diretora e à bibliotecária.

6. Considerações Finais

O trabalho com o gênero textual crônica literária foi um desafio, pois se

percebeu que o texto deve ser valorizado e trabalhado com os educandos, para que

possam entender o quanto o mesmo está presente no cotidiano das pessoas.

Um dos momentos em que fica claro o entendimento de todo o trabalho com o

gênero é na sequência didática, ou seja, várias atividades em torno de um gênero,

para que os educando entendam o texto e para concluir as atividades propostas

conseguem fazer sua produção textual de forma coesa e coerente.

A produção textual foi um ponto importante em todo o trabalho desenvolvido,

pois instigava o educando a escrever e reescrever o seu texto quantas vezes fosse

necessário, sem ser uma forma de punição, mas sim, como uma maneira de

melhorar a sua aprendizagem em relação à produção textual.

Na avaliação final do trabalho com os educandos, percebeu-se que o

interesse em relação ao gênero, no sentido de leitura e de produção, aumentou.

Page 31: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

Referências

ALVES, Rubens. O retorno e terno crônicas. 9ª ed. Campinas SP: Papirus,1997.

AMOP. Associação dos municípios do Oeste do Paraná. Sequência didática: uma proposta para o ensino da Língua Portuguesa nas Séries Iniciais. (Organizadora: Terezinha da Conceição Costa-Hübes). Cascavel: Assoeste. Caderno Pedagógico 01.

______. Associação dos municípios do Oeste do Paraná. Sequência didática: uma proposta para o ensino da Língua Portuguesa nas Séries Iniciais. (Organizadora: Carmen Teresinha Baumgärtener e Terezinha da Conceição Costa-Hübes). Cascavel: Assoeste, 2007. Caderno Pedagógico 02.

______. Associação dos municípios do Oeste do Paraná. Sequência didática: uma proposta para o ensino da Língua Portuguesa nas Séries Iniciais. (Organizadora: Carmen Teresinha Baumgärtener e Terezinha da Conceição Costa-Hübes). Cascavel: Assoeste, 2007. Caderno Pedagógico 03.

ANDRADE, Carlos Drummond de; SABINO, Fernando; CAMPOS, Paulo Mendes; BRAGA, Rubem. Para gostar de ler. São Paulo: Ática, 1987. v.01.

BAJARD, Elie. Ler e dizer: compreensão e comunicação do texto escrito. São Paulo: Cortez, 1994 - (Coleção questões da nossa época. v.28).

BAKHTIN, Mikhail. Estética da criação verbal. 4ª ed. Martins Fontes, São Paulo, 2003.

BENDER, Flora Christina; LAURITO, Ilka Brunhilde. Crônica história, teoria e prática. São Paulo: Scipione, 1993.

BRAGA, Rubem. Para gostar de ler. V. 05, crônicas. São Paulo: Ática, 1991.

BRASIL. Ministério da Educação. Coleção cadernos de EJA: Caderno metodológico. Brasília: 2007.

______. Parâmetros Curriculares Nacionais: Língua Portuguesa. 3ª ed. Brasília, 2001, MEC - MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO.

______. Saeb/Prova. Língua Portuguesa: Orientações para o professor, 4ªSérie/5ºAno, Ensino Fundamental - Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira, 2009.

Page 32: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

FREIRE, Paulo. A importância do ato de ler: em três artigos que se completam. 29ª ed. São Paulo: Cortez, 1994.

GONÇALVES, Adair V. O fazer significar por escrito. Selisigno - IV Seminário de Estudos sobre a Linguagem e Significação, v. único, p.01-10, 2004.

LEAL, Telma Ferraz; BRANDÃO, Ana Carolina Perussi (orgs). Produção de textos na escola: reflexões e práticas no Ensino Fundamental. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.

MELO, Márcia Helena. A apropriação de um gênero: um olhar para a gênese de texto no Ensino Médio. Instituto de Estudos da Linguagem. Campinas. São Paulo, 2000.

NASCENTES, Antenor. Dicionário etimológico da Língua Portuguesa. Rio de Janeiro, 199, v. 01.

NICOLA, J de; Cavallete, F. T.; Terra, E. Português para o Ensino Médio: língua, literatura e produção de textos. São Paulo: Scipione, 2002.

OLIVIERI, Antonio Carlos; VILLA, Marco Antonio. Cronistas do descobrimento. São Paulo: Fundação Nestlé de Cultura, Ática, 1999.

PARANÁ. Secretaria de Estado de Educação. Superintendência Educação. Diretrizes Curriculares de Língua Portuguesa: para os anos finais do Ensino Fundamental e Ensino Médio. Curitiba, Paraná: 2008.

QUEIROZ, Rachel. Para gostar de ler crônicas brasileiras. 4ª ed. Vol. 17. São Paulo: Ática, 1997.

SÁ, Jorge de. A crônica. 4ª ed. São Paulo: Ática, 1992.

SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Gêneros orais e escritos na escola. (Tradução e organização: Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro). Campinas, 2ª ed. São Paulo: Mercado de Letras, 2010.

TUFANO, Douglas. Antologia da crônica brasileira de Machado de Assis à Lourenço Diaféria. 1ª ed. São Paulo: Moderna, 2005.

Page 33: A PRODUÇÃO DO GÊNERO CRÔNICA · analisar os fatos do cotidiano com um olhar diferente, para perceber a sensibilidade. Então, faz-se necessária a realização de estudos sobre

Sites Pesquisados

<http://www.cristovaotezza.com.br/textos/p_contos.htm>. Acesso em 28/07/2011 às 09h 55min.

<http://www.bibvirt.futuro.usp.br>. Acesso em 15/05/2011 às 10h30min.

<http://www.educacao.uol.com.br/biografias/ult1789u456.jhtm>. Acesso em 01/07/2011 às 9h40min.

<http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br>. Acesso em 29/07/2011 às 10h24min.

<http://www.superdownloads.com.br>. Acesso em 05/07/2011 às 8h05min.