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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS PROJETO “A VEZ DO MESTRE” A PSICOMOTRICIDADE E SUA CONTRIBUIÇÃO NO PROCESSO DE APRENDIZAGEM DA CRIANÇA DE 0 A 6 ANOS RENATA GONÇALVES DA SILVA ORIENTADORA: YASMIM MARIA R. MADEIRA DA COSTA RIO DE JANEIRO Fevereiro/2002

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A PSICOMOTRICIDADE E SUA CONTRIBUIÇÃO NO PROCESSO DE

APRENDIZAGEM DA CRIANÇA DE 0 A 6 ANOS

RENATA GONÇALVES DA SILVA

ORIENTADORA: YASMIM MARIA R. MADEIRA DA COSTA

RIO DE JANEIRO

Fevereiro/2002

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UNIVERSIDADE CÂNDIDO MENDES

PRÓ-REITORIA DE PLANEJAMENTO E DESENVOLVIMENTO

DIRETORIA DE PROJETOS ESPECIAIS

PROJETO “A VEZ DO MESTRE”

A PSICOMOTRICIDADE E SUA CONTRIBUIÇÃO NO PROCESSO DE

APRENDIZAGEM DA CRIANÇA DE 0 A 6 ANOS

RENATA GONÇALVES DA SILVA

Trabalho monográfico apresentado como

requisito parcial para obtenção do grau de

especialista em Psicopedagogia.

RIO DE JANEIRO

Fevereiro/2002

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III

Agradeço primeiramente, a Deus e a

minha família pela compreensão.

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IV

À meu noivo Darlan, pela compreensão e paciência.

À minha família, pelo apoio.

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V

“Não se concebe um psicopedagogo que trabalhe com

o corpo estático e que desconheça os movimentos

desse no aprender. Não se concebe um psicomotricista

que trabalhe com o corpo em movimento e não

conheça o corpo discursivo do sujeito que aprende. É

preciso que haja uma interdisciplinaridade na ação

ensinar-aprender para que o sujeito que aprende seja

compreendido em sua totalidade, mesmo dentro de

uma abordagem específica”

Auredite Cardoso Costa

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VI

SUMÁRIO

P.

RESUMO ........................................................................................................................... 7

INTRODUÇÃO ................................................................................................................. 8

CAPÍTULO I – COMPREENDENDO A PSICOMOTRICIDADE .................................... 10

1.1 Histórico ...................................................................................................................... 10

1.2 Objeto de Estudo ......................................................................................................... 10

1.3 Área de Atuação .......................................................................................................... 11

1.4 Alguns Conceitos de Psicomotricidade ....................................................................... 11

CAPÍTULO II – O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA SEGUNDO ALGUNS

AUTORES .......................................................................................................................... 13

2.1 Henry Wallon ............................................................................................................... 13

2.2 Jean Peaget .................................................................................................................. 14

2.3 Vygotsky ..................................................................................................................... 16

2.3.1 – Aprendizagem e Desenvolvimento: A Zona de Desenvolvimento Proximal .........17

CAPÍTULO III – A PSICOMOTRICIDADE ALIADA A PRÁTICA DO PROFESSOR

EM SALA DE AULA: UM MEIO DE SUPERAR OS OBSTÁCULOS NO PROCESSO

DE APRENDIZAGAM ....................................................................................................... 19

3.1 Como a Criança Aprende ............................................................................................ 19

3.2 O Desenvolvimento das Habilidades Psicomotoras Deve Proceder Qualquer

Aprendizagem ................................................................................................................... 21

3.2.1 – Esquema Corporal ................................................................................................. 22

3.2.2 – Lateralidade ........................................................................................................... 22

3.2.3 – Estrutura Espacial .................................................................................................. 22

3.2.4 – Orientação Temporal .............................................................................................. 22

3.3 A Criança e suas Dificuldades no Processo de Aprendizagem .................................... 23

3.4 A Psicomotricidade como Ferramenta no Auxílio ao Professor no Processo de

Aprendizagem da Criança de 0 a 6 Anos ........................................................................... 24

CONCLUSÃO .................................................................................................................... 27

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................. 30

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RESUMO

“A Psicomotricidade está relacionada ao processo de maturação, onde o

corpo é a origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas” (SOCIEDADE

BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE, 1999, p. 1-2)

A maturação do sistema neurológico desempenha um papel importante no

desenvolvimento mental, mas também são imprescindíveis para tal desenvolvimento, fatores

como a transmissão social e a interação como o meio (estímulos).

A Escola tem o papel de mediar no processo de aprendizagem, o

desenvolvimento do aluno. Este trabalho será feito através do professor, que deverá ser

criativo, inovador, otimista e desafiador para bem desempenhar esta função.

O professor para trabalhar a área cognitiva, psicomotora e afetiva de forma

globalizada e conseguir atingir seu objetivo, o aprender, poderá apropriar-se de uma técnica

muito simples, porém muito eficaz, a brincadeira. Afirma Maranhão (2001, p. 12) que “o

brinquedo é parte integrante da vida da criança. Ao brincar organiza seu pensamento, faz uso

da linguagem e da sua criatividade”.

O professor deve ter muito cuidado ao tratar do aluno e suas dificuldades no

processo de aprendizagem, caso contrário, poderá fazer um diagnóstico errado e com isso,

trazer a esse aluno sérios traumas, rótulos e até bloqueios.

Então, podemos concluir que a Psicomotricidade é facilitadora do

desenvolvimento da criança, podendo intervir, diretamente na educação e reeducação de seus

movimentos, usando técnicas que irão gerar estímulos e consequentemente alcançará seu

objetivo: promover na criança o aprender de forma satisfatória.

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INTRODUÇÃO

A presente monografia tem como tema a

questão da psicomotricidade e sua

contribuição no processo de aprendizagem da

criança de 0 a 6 anos.

O interesse pelo tema surgiu quando participei do XVI Enepe (Encontro

Nacional dos Estudantes de Pedagogia), em julho de 1996, realizado em Curitiba, com

duração de uma semana, onde tive a oportunidade de conhecer vários assuntos, através de

oficinas, relatos de experiências e grupos de estudos, desenvolvidos por estudantes de

pedagogia de todo o país vindos de faculdades públicas e particulares. Foi assistindo a uma

oficina de trabalho que conheci a Psicomotricidade. O tema desenvolvido era

“Psicomotricidade e a Pré-escola”. Devido ao fato de ter sempre interesse em como a criança

aprende, resolvi associar a psicomotricidade ao processo de aprendizagem da criança na idade

pré-escolar.

O propósito da pesquisa abraçado foi o de demonstrar que a

Psicomotricidade pode ser uma forte aliada dos professores no processo de aprendizagem da

criança de 0 a 6 anos, evidenciando a importância da Psicomotricidade como meio de ajudá-

los a solucionar os problemas encontrados no desenvolvimento do processo de aprendizagem.

A Psicomotricidade pode ser usada de forma simples, divertida, o que seria

ótimo para atrair a atenção e interesse dos alunos, podendo ser utilizada em todas as

disciplinas (exemplo: um aluno com problemas em Matemática poderia ser utilizados jogos,

grupos de objetos para ajudá-lo na tabuada ou em contas de multiplicar), e em todos os

segmentos, bastando apenas, ser adaptada de acordo com os objetivos do professor e às

necessidades do aluno.

O presente trabalho monográfico parte da hipótese de que a

Psicomotricidade associada à prática docente, poderá ajudar os educadores a solucionar os

problemas que aparecem no decorrer do processo de aprendizagem, conforme destacou

Piaget, sobre a importância do movimento da ação, como meio de possibilitar ao indivíduo as

interações com o ambiente, ou seja, as estruturas mentais são construídas através da interação

da criança com o meio e a Psicomotricidade colabora para que tal interação ocorre e

consequentemente, ocorra o desenvolvimento da criança e que a mesma aprenda

satisfatoriamente.

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Para a elaboração do presente trabalho foi utilizado somente a pesquisa

bibliográfica, usando principalmente, os pensamentos de Piaget em seu livro “A Formação do

Símbolo na Criança” e de Vygotsky no livro “Pensamento e Linguagem”, enfocando a

posição de cada autor, a respeito da relação da criança com o meio e as pessoas que as

cercam, bem como a importância do movimento, da brincadeira para seu desenvolvimento

mental.

No capítulo I tratamos do conceito de Psicomotricidade, enfocando seu

histórico, objeto de estudo e campo de atuação.

No capítulo II fizemos uma análise do desenvolvimento da criança, sob a

luz de importantes autores dentro do âmbito educacional.

O capítulo III trata dos fundamentos teóricos da Psicomotricidade

enfatizando o movimento como um meio que a criança de 0 a 6 anos utiliza para atingir um

maior desenvolvimento em seu processo de aprendizagem.

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CAPÍTULO I

COMPREENDENDO A PSICOMOTRICIDADE

1.1 Histórico

A Psicomotricidade é uma ciência, nascida em 1907, a partir de observações

feitos por Ernest Dupré, um médico francês. Ele verificou que existiam relações entre as

dificuldades mentais (psíquicas e/ou cognitivos) e a expressão motora. Ao longo deste século,

esta ciência recebeu influência de outras áreas, como a Psiquiatria, a Psicanálise, a Pedagogia,

a Psiconeurofisiologia, entre outras.

Na Europa, a formação universitária do profissional que atua em

Psicomotricidade, o psimotricista, começou no início da década de 60. No Brasil, os estudos

começaram pouco depois, mas em cursos de pós-graduação. Em 1980, os estudiosos desta

ciência uniram-se e fundaram a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (SBP). Atualmente,

a formação do profissional é feita em cursos de pós-graduação.

1.2 Objeto de Estudo

O objeto de estudo da Psicomotricidade é o homem tendo como foco o seu

corpo/movimento de modo a interagir com o mundo que o cerca:

“A psicomotricidade é a ciência que tem como objeto de estudo o homem

através do seu corpo em movimento e em relação ao seu mundo interno e externo, bem como

suas possibilidades de perceber, atuar, agir com o outro, com os objetos e consigo mesmo”

(SOCIEDADE BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE, 1999, p. 13)

1.3 Área de Atuação

O Psicomotricista atua nas áreas de Educação, Clínica (reeducação, terapia),

consultoria e supervisão, para o tratamento das desarmonias e patologias psicomotoras. O

indivíduo é previamente submetido a um perfil psicomotor, para que se possa estabelecer um

projeto terapêutico, de acordo com o seu quadro clínico. O perfil psicomotor baseia-se na

leitura dos macro e micro movimentos do corpo, procurando traçar as conexões existentes

com os aspectos sensoriais, afetivos, cognitivos e de desenvolvimento da pessoa.

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O mercado de trabalho da psicomotricidade abrange várias instituições, tais

como: creches, escolas, escolas especiais, clínicas multidisciplinares, consultórios, clínicas

geriátricas, postos de saúde, hospitais e empresas, onde atendem:

• Crianças em fase de desenvolvimento;

• Crianças com dificuldades/atrasos no desenvolvimento global;

• Bebês de alto risco;

• Pessoas portadoras de necessidades especiais (deficiências sensorias,

motoras, mentais e psíquicas);

• Pessoas que apresentam distúrbios sensorias, perceptivos, motores e

relacionais em consequências de lesões neurológicas;

• A família;

• A 3º idade.

1.4 Alguns Conceitos de Psicomotricidade

“A Psicomotricidade é o controle mental sobre a expressão motora. Objetiva

obter uma organização que pode atender de forma consciente e constante as necessidades do

corpo. Esse tipo de educação é justificado quando qualquer defeito localiza o indivíduo à

margem das normas mentais, fisiológicas, neurológicas ou afetivas. É, também, a percepção

de um estímulo, interpretação deste e elaboração de uma resposta adequada”. (SOUZA,

disponível: <http://www.terravista.pt/aguaalto/index1 .htm>. Acesso em 16 nov.2001)

“A psicomotricidade é a ciência da educação que educa o movimento, ao

mesmo tempo em que põe em jogo as funções da inteligência. A partir desta posição, pode-se

ver a relação intrínseca das funções motoras cognitivas e que, também pela afetividade,

encaminha o movimento. Movimento é o deslocamento de qualquer objeto e na

Psicomotricidade o importante não é o movimento do corpo como o de qualquer outro objeto,

mas a ação corporal em si, a unidade bio-psicomotora em ação”. (SOUZA, disponível:

<http://www.terravista.pt/aguaalto/index1 .htm>. Acesso em 16 nov.2001).

“A psicomotricidade está associada à afetividade e personalidade, porque o

indivíduo utiliza seu corpo para demonstrar o que sente, e uma pessoa com problemas

motores passa a ter problemas de expressão” (SOUZA, disponível:

<http://www.terravista.pt/aguaalto/index1 .htm>. Acesso em 16 nov.2001).

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CAPÍTULO II

O DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA SEGUNDO ALGUNS AUTORES

Neste capítulo iremos observar as idéias de alguns autores com relação ao

desenvolvimento psicomotor da criança.

2.1 Henry Wallon

Henry Wallon estabelece ligações estreitas entre maturação orgânica e

experiência neuromotora, passando, a criança, por vários estágios:

• Estado de impulsividade motora, contemporânea ao nascimento: os

atos são simples descargas de reflexos ou de automatismo.

• Estados emotivos: as primeiras emoções aparecem no tônus muscular,

na função postural. As situações são conhecidas não por si mesmas e,

sim, pela agitação que produzem.

• Estado sensitivo-motor: coordenação mútua de percepções diversas

(andar, formação da linguagem).

• Estado progetivo: advento da mobilidade intencional dirigida para o

objeto.

Em todos estes estados, o dinamismo motor é estreitamente ligado à

atividade mental: do ato motor à representação mental graduam-se todos os níveis de relação

entre o organismo e o meio.

Durante a 1º infância, a motricidade e psiquismo são superpostos, fundidos,

são indissociáveis do funcionamento de uma mesma organização.

Na 2º infância surgem em funcionamento territórios nervosos ainda

adormecidos. As aquisições motoras, neuromotoras e perceptivo-motoras efetuam-se, então,

num ritmo rápido: tomada de consciência de seu próprio corpo, afirmação da dominância

lateral, orientação a si mesmo, adaptação ao mundo exterior. Este período de 3-4 anos a 7-8

anos é, ao mesmo tempo, o período de aprendizagens essenciais e de integração progressiva

no plano social, onde a ligação motricidade-psiquismo vai se diferenciando.

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2.2 Jean Piaget

Jean Piaget é o mais conhecido dos teóricos que defendem a visão

interacionista do desenvolvimento. Ele considerou que a maneira pela qual as crianças

constróem as nações fundamentais de conhecimento lógico, tais como: tempo, espaço, objeto,

causalidade e outros, poderia compreender o gênese e a evolução do conhecimento humano.

Daí o nome dado a sua ciência de Epistemologia Genética, que é entendida como o estudo dos

mecanismos do aumento dos conhecimentos. Convém esclarecer que, as teorias de Piaget tem

comprovação científica em bases científicas, ou seja, ele não somente descreveu o processo de

desenvolvimento da inteligência mas, experimentalmente, comprovou suas teses.

Idéias centrais:

A inteligência para Piaget é o mecanismo de adaptação do organismo a uma

situação nova, e, como tal, implica a construção contínua de novas estruturas. Esta adaptação

refere-se ao mundo exterior, como toda adaptação biológica. Desta forma, os indivíduos se

desenvolvem intelectualmente a partir de exercícios e estímulos oferecidos pelo meio.

1) Para Piaget o comportamento é construído numa interação entre o meio

e o indivíduo. Esta teoria epistemológica (epistemo=conhecimento;

lógica=estudo) é caracterizado como interacionista.

2) Sua teoria nos mostra que o indivíduo só recebe um determinado

conhecimento se estiver preparado para recebê-lo. Não existe um novo

conhecimento sem que o organismo tenha já um conhecimento anterior

para poder assimilá-lo e tranformá-lo. O que implica os 2 pólos da

atividade inteligente: assimilação e acomodação. É assimilação a medida

em que incorporar a seus quadros todo o dado da experiência; é

acomodação a medida em que a estrutura se modifica em função do

meio, de suas variações.

3) O desenvolvimento do indivíduo inicia-se no período intra-uterino e vai

até aos 15 ou 16 anos. A construção da inteligência dá-se portanto, em

etapas sucessivas, com complexidade crescentes, encadeadas uma às

outras. A isto Piaget chamou de “construtivismo sequêncial”

Períodos em que ocorrem o desenvolvimento motor, verbal e mental do

indivíduo:

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• Período sensório-motor (0 a 2 anos): a ausência da função semiótica é a principal

característica deste período. A inteligência trabalha através das percepções (simbólica) e

das ações (motor) através dos deslocamentos do próprio corpo. É uma inteligência

eminentemente prática. Sua linguagem vai da ecolalia (repetição de sílabas) à palvra-frase,

sua conduta social, neste período, é de isolamento e indiferença (o mundo é ele).

• Período simbólico (2 a 4 anos): Neste período surge a função semiótica que permite o

surgimento da linguagem, do desenho, da imitação, da dramatização, etc. Podendo criar

imagens mentais na ausência do objeto ou da ação é o período da fantasia, do faz de conta,

do jogo simbólico. A linguagem está a nível de monólogo coletivo, ou seja, todos falam

ao mesmo tempo sem que respondam às argumentações dos outros. Sua socialização é

vida de forma isolada, mas dentro do coletivo.

• Período intuitivo (4 a 7 anos): Este período é a “idade dos porquês”, onde o indivíduo

pergunta o tempo todo. Distingue a fantasia do real, podendo dramatizar a fantasia sem

que acredite nela. Seu pensamento continua centrado no seu próprio ponto de vista.

Quanto à linguagem não mantém uma conversa longa mas já é capaz de adaptar sua

resposta às palavras do companheiro.

• Período operatório concreto (7 a 11 anos): Neste período torna-se mais comunicativo,

as palavras tornam-se instrumentos do processo do pensamento. Passa a perceber que é

membro de uma sociedade, e que as tarefas realizadas em conjunto se revestem de maior

significado. Nesta fase a criança argumenta bastante, especialmente com outras crianças e

não tanto com os adultos. O argumento tende a ser em voz alta e de forma agressiva. Os

jogos são coletivos e menos individualistas. Mostram desejo de regras definidas para

regular o jogo. Emerge um forte sentimento de competição.

• Período operário abstrato (11 anos em diante): Corresponde a nível de pensamento

lógico-matemático. E quando o indivíduo está apto para calcular uma probabilidade,

libertando-se do concreto em proveito de interesses orientados para o futuro. A linguagem

se dá a nível de discussão para se chegar a uma conclusão. Sua organização grupal pode

estabelecer relações de cooperação e reciprocidade.

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É importante ressaltar que embora as etapas possam ter uma faixa de

duração diferenciada, e que pode variar de criança para criança, a passagem de uma etapa para

outra não pode ocorrer com a supressão de uma delas.

2.3 Lev Semenovick Vygotsky

Embora as formulações de Vygotsky sobre a gênese do desenvolvimento

humano não se apresentem como um sistema teórico organizado e articulado com o do

epistemológico suíço Jean Piaget e do psicólogo Henry Wallon, que chegaram a delinear os

traços fundamentais do processo de estruturação psicológica do bebê até a fase adulta,

encontramos em seu pensamento reflexos abrangentes e relevantes acerca dos processos de

desenvolvimento e aprendizagem do ser humano.

Vygotsky atribui enorme importância ao papel da interação social ao

desenvolvimento do ser humano. Uma das mais significativas contribuições das teses que

formulou está na tentativa de explicitar (e não apenas pressupor) como o processo de

desenvolvimento é socialmente constituído. Essa é a principal razão de seu interesse no

estudo da infância. Ele compara o estudo da criança à botânica, ou seja, entende que o

desenvolvimento da criança depende de um processo de maturação do organismo como um

todo. Esta concepção se apóia na idéia de que “a mente da criança contém todos os estágios

do futuro desenvolvimento intelectual: eles existem já na sua forma completa, esperando o

momento adequado para emergir” (VYGOTSKY, 1984, p. 26). Para ele, no entanto, a

maturação biológica é um fator secundário no desenvolvimento das formas complexas do

comportamento humano pois essas dependem da interação da criança e sua cultura.

2.3.1 – Aprendizagem e Desenvolvimento: A Zona de Desenvolvimento Proximal.

“A aprendizagem e o desenvolvimento estão inter-relacionados desde o

primeiro dia de vida da criança” (VYGOTSKY, 1991, p. 95)

Sabemos que a escola, de forma sistemática, tem a função de desenvolver o

indivíduo de forma a promover sua aprendizagem. Não podemos deixar de considerar

também, o importante papel no processo de aprendizagem que exerce a família e o grupo

social deste indivíduo.

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A criança, a partir de seu nascimento, estabelece contato com os adultos,

devido a sua dependência para sobreviver. Com o passar do tempo surgem, por exemplo, os

amigos, a escola, a creche, o clube, e através desta integração social é que a criança se

desenvolverá, pois terá contato com a cultura de sua sociedade, com o mundo.

“Na perspectiva vigotskiana o desenvolvimento das funções intelectuais

especificamente humanas é mediado socialmente pelos signos e pelo outro. Ao

internacionalizar as experiências fornecidas pela cultura, a criança reconstrói individualmente

os modos de ação realizados externamente e aprende a organizar os próprios processos

mentais. O indivíduo deixa, portanto, de se basear em signos externos e começa a se apoiar

em recursos internalizados (imagens, representações mentais, conceitos, etc.)”. (REGO, 1995,

p. 62)

Com base em Vygotsky podemos afirmar que o aprendizado da criança

precede à escolarização. Quando a criança vai à escola, leva consigo uma “bagagem” que é o

resultado de vivências anteriores.

“Precisamos ter certeza de que o desenvolvimento da criança não precisa ou

não tem de coincidir com a aprendizagem ou com o seu potencial de aprender”

(MARANHÃO, 2001, p. 33)

A bagagem que a criança leva à escola, é relacionada com conceitos

ensinados pela escola e dessa relação originam-se resultados variados. Segundo Vygotsky isto

se dá devido à zona de desenvolvimento proximal 1.

________________

1 “Zona de desenvolvimento proximal é a distância entre o nível de desenvolvimento real, que se determinaatravés da solução independente de problemas e o nível de desenvolvimento potencial, determinado pela soluçãode problemas sob a orientação de um adulto ou em colaboração com companheiros mais capazes”(VYGOTSKY, 1991, p. 97)

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CAPÍTULO III

A PSICOMOTRICIDADE ALIADA À PRÁTICA DO PROFESSOR EM SALA DE

AULA: UM MEIO DE SUPERAR OS OBSTÁCULOS NO PROCESSO DE

APRENDIZAGEM

3.1 Como a Criança Aprende.

Para que haja a aprendizagem é necessário que a criança atenda a um pré-

requisito imprescindível que é a maturação do sistema nervoso.

É do sistema nervoso que emana todo e qualquer movimento e ação, enfim a

integração do homem à condições do meio ambiente dependem desse sistema. É responsável

também pelo controle total do corpo.

“O sistema nervoso coordena e controla

todas as atividades do organismo, desde as

contrações musculares, o funcionamento

de órgãos e até mesmo a velocidade de

secreções das glândulas endócrinas.

Integra sensações e idéias, opera os

fenômenos da consciência, interpreta os

estímulos advindos da superfície do corpo

[...]” (OLIVEIRA, 1997, p. 16)

As células do sistema nervoso são chamadas neurônios. Um adulto possui

aproximadamente cem bilhões de neurônios. O neurônio é uma célula muito importante, pois

possui a função de receber e conduzir os estímulos ao organismo, bem como, selecionar e

processar as informações, canalizá-las para as regiões motoras correspondentes do cérebro

para depois emitir respostas adequadas, de acordo com a vivência e experiência de cada

indivíduo.

O córtex cerebral, substância cinzenta que reveste o cérebro e onde estão

localizadas as funções superiores (controle consciente do comportamento, atenção, lembrança

voluntária, memorização ativa, pensamento abstrato, raciocínio dedutivo, capacidade de

planejamento, etc.), está presente no nascimento de forma rudimentar, mas vai se

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desenvolvendo ao longo do tempo. É o centro onde são avaliadas as informações e são

processadas as instruções ao organismo.

Para que o sistema nervoso se desenvolva é preciso que haja condições

favoráveis para o seu pleno funcionamento e desenvolvimento, principalmente o fator

nutricional.

“As células nervosas vão se desenvolver

bastante entre o 6º mês de gestação até

mais ou menos os 6 anos de idade da

criança e para que isto ocorra necessitam

de energia – que são os açucares e

gorduras – e de proteínas. Das proteínas

que vêm pelo sangue da mãe para

alimentar o feto, 80% vão para o cérebro”

(OLIVEIRA, 1997, p. 19)

A sinapse é uma conexão entre os neurônios, na qual um neurônio estimula

o seguinte através da liberação de uma substância chamada neurotransmissor, propagando-se

assim os impulsos nervosos e transmitindo as informações2. As sinapses são numerosas,

várias centenas por um único neurônio. Cada neurônio é submetido a diversos estímulos, uns

agindo no sentido de folicitação e outros no sentido de inibição. Uns ocorrem em grande

número e uns atuam mais que outros devido ao hábito.

Existem sinapses que, provavelmente, não trabalham em certas pessoas mas

guardam um potencial funcional, isto é, podem começar a ser usadas dependendo do

aprendizado. Temos sinapses que nunca usamos e nunca iremos usar.

“Aprender, neurologicamente falando,

significa usar sinapses normalmente não

usadas. O uso, portanto, de maior ou menor

número de sinapses é o que condiciona uma

aprendizagem no sentido neurológico”

(OLIVEIRA, 1997, p. 20).

Então, pode-se concluir que, o professor que estimula o aluno, estará

ajudando-o a diferenciar seu sistema nervoso, de forma a ampliar seu número de sinapses.

____________________

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2 “Informações neste contexto podem significar muitas coisas: fatos, lembranças,

conhecimentos, valores, intensidade de luz ou qualquer outro significante” (OLIVEIRA,

1997, p. 19).

O sistema nervoso não se desenvolve de uma só vez, obedece a uma

seqüência, o seu desenvolvimento se dá de forma intra-uterina e pós-nascimento,

progressivamente.

“Acreditam que se pode construir a maturidade de forma progressiva

contando com a interação de fatores internos e externos. Acreditam que, para isto, devem ser

proporcionadas ‘condições nutricionais, afetivas e estimulação que são indispensáveis’”

(CONDEMARÍN, Chadwick e Milicic, 1986, p. 4)

A maturação desempenha um papel muito importante no desenvolvimento

mental, mas também são imprescindíveis para tal desenvolvimento, fatores como a

transmissão social, e a interação com o meio (estímulos),

Podemos afirmar que, quando uma criança está pronta para aprender, está

em estado de prontidão.

“Prontidão: em uma disposição, um estar

pronto para ...’ determinada aprendizagem [...]

a definição do temo inclui as atividades ou

experiências destinadas a preparar a criança

para enfrentar as distintas tarefas que a

aprendizagem escolar exige”

(CONDEMARÍN, Chadwick e Milicic, 1986,

p. 5).

De acordo com a afirmação da Sociedade Brasileira de Psicomotricidade

(1999): “A Psicomotricidade está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a

origem das aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas”. Podemos concluir que a

Psicomotricidade pode auxiliar o aluno a alcançar um desenvolvimento mais integral, que o

preparará para uma aprendizagem mais satisfatória.

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3.2 O Desenvolvimento das Habilidades Psicomotoras deve Preceder Qualquer

Aprendizagem

Conforme vimos na unidade anterior, a condição primordial para que a

criança esteja pronta para iniciar sua aprendizagem, é a maturidade neurológica, além disso é

necessário que ela desenvolva suas habilidades psicomotoras, a seguir iremos explicá-las:

3.2.1 – Esquema Corporal

É a formação do “eu”, da personalidade da criança, através do qual toma

consciência de seu corpo e das possibilidades de expressar-se por meio de seu corpo.

3.2.2 – Lateralidade

Durante o crescimento, naturalmente se define uma dominância lateral na

criança: será mais forte, mais ágil do lado esquerdo ou direito. A lateralidade corresponde a

dados neurológicos, mas também é influenciado por hábitos sociais.

3.2.3 – Estrutura Espacial

É a orientação do mundo exterior referindo-se primeiro ao “eu” referencial,

depois a outros objetos e pessoas em movimentos ou estáticas.

3.2.4 – Orientação Temporal

É a capacidade de situar-se em função:

• Da sucessão dos acontecimentos: antes, depois, após, durante;

• Da duração de intervalos:

- noções de tempo longo e curto (1 hora, 2 horas);

- noções de ritmo regular e irregular (aceleração, freada);

- noções de regularidade de movimentos lentos e rápidos (corrida,

andar normal).

• Da renovação cíclica de períodos: os dias da semana, os meses, as

estações do ano;

• Do caráter irreversível do tempo: “já passou ... não se pode revivê-

lo”, você tem 5 anos ... está indo para os seus 6 anos”, noções de

envelhecimento (pessoas, plantas).

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Podemos afirmar que o desenvolvimento das habilidades psicomotoras são

fundamentais para dar início a qualquer aprendizagem, podendo citar, por exemplo: a escrita.

Antes da criança iniciar a aprendizagem da escrita, deve estar atenta a algumas regras:

• Precisar ter direção gráfica: lemos e escrevemos sempre da esquerda

para a direita;

• Precisa ter noções de em cima e embaixo: para diferenciar o “u” do “n”

e o “6” do “9”, por exemplo;

• Precisa ter noções de antes e depois: para diferenciar o “pa” do “ap” e o

“13” do “31”, por exemplo.

Portanto, o desenvolvimento psicomotor é caráter imprescindível para que a

criança inicie seu processo de aprendizagem, pois é necessário que “a criança atinja o domínio

do gesto, do instrumento, a percepção e a compreensão da imagem a reproduzir”, conforme

cita De Meur e Ateus (1984, p. 17)

3.3 A Criança e suas Dificuldades no Processo de Aprendizagem

A Escola tem o papel de mediar no processo de aprendizagem, o

desenvolvimento do aluno, este trabalho será feito através o professor, que deverá ser criativo,

inovador, otimista e desafiador para bem desempenhar esta função.

O professor, uma vez que detecta que seu aluno está encontrando problemas

no processo de aprendizagem, deve ter bem claro que, com a evolução dos estudos sobre as

questões do não aprender, evidenciou-se uma diferença entre distúrbios, problemas e

dificuldades de aprendizagem.

“A concepção de distúrbios de

aprendizagem que circula por muito

tempo nos meios educacionais brasileiros

tem sua origem na Medicina [...] tal

concepção, organicista e linear,

apresentava uma conotação patologizante,

uma vez que todo indivíduo com

dificuldades na escola era considerado

portador de disfunções psiconeurológicas”

(SCOZ, 1994, p. 59).

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Sabe-se que a criança pode apresentar dificuldades no processo de

aprendizagem por várias causas, tanto de ordem emocional quanto estrutural. Cada sujeito é

único, portanto, diferentes causas podem criar obstáculos no aprender.

“O termo distúrbios da aprendizagem está

mais ligado a fatores orgânicos: os

problemas de aprendizagem está mais

ligado às questões emocionais, sociais e

familiares; e as dificuldades de

aprendizagem estão mais ligadas ao

processo de aprendizagem normal e

podem ser decorrentes de oscilações que

marcam as diferentes etapas do

desenvolvimento, mas podem ter como

causa uma inadaptação a uma

metodologia, ou a uma relação mal

estabelecida com a escola ou o professor”

(COSTA, 2001, p. 35).

O professor deve ter muito cuidado ao tratar do aluno e suas dificuldades no

processo de aprendizagem, caso contrário, poderá fazer um diagnóstico errado e com isso,

trazer a esse aluno sérios traumas, rótulos e até bloqueios.

“O mais importante é que toda criança merece ser tratada devidamente para que

consiga alcançar seu objetivo: aprender. O biológico, o emocional, o cognitivo e o

motor estão presentes no não aprender, seja ele classificado por qualquer um dos

conceitos” (COSTA, 2001, p. 35)

O não aprender deve ser combatido com busca constante de uma visão

multidisciplinar para ajudar o aluno quando ocorrer alguma dificuldade, de modo que o aluno

depare-se com a urgência de reestruturar sua forma de aprender, sem o risco de ser rotulado.

3.4 A Psicomotricidade como uma Ferramenta no Auxílio ao Professor no Processo de

Aprendizagem da Criança de 0 a 6 anos.

“A Psicomotricidade é avaliação e terapia com

crianças que apresentam dificuldades de

aprendizagem e socialização, assim como

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comprometimentos especiais, enfocando o

desenvolvimento cognitivo e psicomotor”

(ROSA, 1999, p. 1)

A Psicomotricidade está voltada para o corpo em movimento. Por isso tem

ma contribuição indispensável nos processos de aprendizagem, pois “desde o princípio até o

fim, a aprendizagem passa pelo corpo”, segundo Fernandez (1990, p. 59)

Podemos concluir que a Psicomotricidade é facilitadora do desenvolvimento

da criança, podendo intervir, diretamente, na educação e reeducação de seus movimentos,

usando técnicas que irão gerar estímulos, e consequentemente alcançará seu objetivo:

promover na criança o aprender de forma satisfatória.

“A função motora, desenvolvimento

intelectual e o desenvolvimento afetivo

estão intimamente ligados à criança: a

Psicomotricidade quer justamente destacar

a relação existente entre motricidade,

mente e a afetividade e a facilitar a

abordagem global da criança por meio de

uma técnica” (DE MEUR E STAES,

1984, p. 5).

Com base na afirmação anterior, os fatores cognitivos, psicomotores e

afetivos são mediadores do desenvolvimento do processo de aprendizagem. Os três fatores

devem ser trabalhados de forma global, pois o aprender depende do desenvolvimento dos 3

fatores, de forma integrada. Há professores que só preocupam-se em trabalhar o cognitivo e

esquecem que deve haver um trabalho harmonioso entre os três fatores, e por isso, fracassam

no processo para alcançar a aprendizagem.

O professor, para trabalhar a área cognitiva, psicomotora e afetiva de forma

globalizada e conseguir atingir seu objetivo, o aprender, poderá apropriar-se de uma técnica

muito simples, porém muito eficaz: a brincadeira. O brincar é imprescindível para a criança,

faz parte de sua vida, geralmente o fazem com frequência, virando um hábito prazeroso.

Conforme afirma Maranhão (2001, p. 21) que “o brinquedo é parte integrante da vida da

criança. Ao brincar organiza seu pensamento, faz uso da linguagem e da sua criatividade”.

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Através da brincadeira, a criança estabelece um contato entre o imaginário e

o real, onde satisfaz suas necessidades, realiza seus desejos, percebe que, assim como na

brincadeira cotidiana existem regras a serem cumpridas.

“Pode-se propor que não exista brinquedo sem regras. A situação

imaginária de qualquer forma de brinquedo já contém regras de

comportamento, embora possa não ser um jogo com regras formais

estabelecidas a priori. A criança imagina-se como mãe e a boneca

como criança e, dessa forma, deve obedecer as regras do

comportamento maternal [...] o que na vida real passa despercebido

pela criança torna-se uma regra de comportamento no brinquedo”

(VYGOTSKY, 1991, p. 18)

Às vezes, a brincadeira não é tão prazerosa

quanto parece, pois a criança passa a ter

sensações que não lhe trazem prazer. Pode

citar como exemplo o fato de, num jogo ela

não consegue vencer. “A derrota é processo

doloroso”, conforme afirma Maranhão (2001).

Cabe ao professor, conhecer as necessidades do desenvolvimento de cada

criança, para melhor direcionar as atividades, visando proporcionar as oportunidades que cada

uma necessita, de forma inovadora e criativa, atraindo a atenção e interesse das mesmas, para

que atinjam a aprendizagem.

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CONCLUSÃO

A Psicomotricidade está intimamente ligada ao desenvolvimento mental da

criança, de modo a promover o seu desenvolvimento psicomotor, que é essencial para o seu

processo de aprendizagem.

O desenvolvimento psicomotor se caracteriza pela maturação que integra o

movimento, o ritmo, a construção espacial, e também o reconhecimento dos objetos, das

posições, imagem ou o esquema corporal e, por fim a linguagem.

Para iniciar o processo de aprendizagem, a criança depende de dois fatores:

o interno e o externo. O fator interno refere-se ao aspecto orgânico, significa que a criança

deverá ter a maturidade de seu sistema neurológico e o fator externo refere-se ao aspecto

social, significa toda e qualquer influência do meio em que vive, são as aquisições culturais e

as relações que estabelecem com os que cercam.

Para Fernandez (1990) “desde o princípio até o fim, a aprendizagem passa

pelo corpo” e de acordo com a afirmação da Sociedade Brasileira de Psicomotricidade de que

a “Psicomotricidade está relacionada ao processo de maturação, onde o corpo é a origem das

aquisições cognitivas, afetivas e orgânicas” então, podemos concluir que o professor poderá

incorporar, à sua prática pedagógica, a Psicomotricidade, como mediadora do

desenvolvimento do processo de aprendizagem da criança.

O professor poderá adotar a Psicomotricidade a sua práxis educacional,

através de técnicas, de forma criativa e atraente para as crianças, com a finalidade de motivá-

los atraindo sua atenção e despertando seu interesse para aprender. A técnica a ser usada é a

brincadeira.

O brinquedo é peculiar à criança. Desde cedo ela brinca, seu primeiro

brinquedo é o seu próprio corpo, podemos citar como exemplo disso, o fato dela brincar com

as mãos e com os pés, levando-os à boca.

“Os jogos de exercícios, que à primeira

vista parecem ser apenas a repetição

mecânica de gestos automáticos,

caracterizam para os bebês os efeitos

esperados, isto é, a criança age para ser o

que sua ação vai produzir, sem que por

isso se trate de uma ação exploratória. O

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efeito é buscado pelo efeito naquilo que

justamente de comum: a criança toca,

empurra, desloca e amontoa, justapõe e

superpõe para ‘ver no que vai dar’.

Portanto, desde do início introduz na

atividade lúdica da criança uma dimensão

de risco e de gratuidade em que o prazer

da surpresa opõe-se à curiosidade

satisfeita” (ALMEIDA, 1998, p. 43)

Através da brincadeira a criança começa a construir sua visão de mundo,

seus conceitos vão tomando forma, o que possibilitará sua ação sobre o meio em que vive.

“Para Piaget (1971), quando brinca, a criança assimila o mundo à sua

maneira, sem compromisso com a realidade, pois sua interação com o objeto não depende da

natureza do objeto, mas da função que a criança lhe atribui” (KISHIMOTO, 1999, p. 59).

Convém lembrar que, o professor antes de diagnosticar que um aluno tem

dificuldades de aprendizagem e encaminhá-lo para as diversas clínicas de reeducação, deve

procurar ele mesmo descobrir o que está acontecendo. Em vez de transferir para outros o

encargo de cuidar de suas crianças, ele próprio deve tomar sob sua responsabilidade não só os

bons alunos, mas também, os que têm mais dificuldades. É preciso que o professor leve em

conta o fato de que as crianças não progridem de forma homogênea, pois possuem ritmos

diferentes. As habilidades psicomotoras necessárias para a aprendizagem nem sempre são

desenvolvidas. Cabe a ele auxiliar seus alunos neste sentido antes de iniciar qualquer

aprendizagem.

O objetivo da presente monografia foi alcançado, pois podemos concluir a

partir da mesma, que os recursos da psicomotricidade devem ser levados para a sala de aula,

com o propósito de aumentar o potencial motor da criança de 0 a 6 anos, dando-lhe mais

atenção e afetividade, capacitando-o para um melhor desenvolvimento e aproveitamento. É o

professor com sua capacidade técnica e experiência profissional quem tem condições de

provocar um maior desenvolvimento cognitivo e propiciar uma aprendizagem

verdadeiramente significativa.

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BIBLIOGRAFIA

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