A questão regional - a hegemonia inacabada

download A questão regional - a hegemonia inacabada

of 21

Transcript of A questão regional - a hegemonia inacabada

  • 8/3/2019 A questo regional - a hegemonia inacabada

    1/21

    A questo regional:a hegemonia inacabadaF R A N C I S C O D E O L I V E I R AP or trs das recentes, e gravemente crescentes, manifestaes deseparatismo dos Estados do Sul e Sudeste do Brasil, que pode-ramos chamar o separatismo dos ricos ', espreita a Questo Regio-n a l , a fratura na unidade nacional constituda desde o sculo XIX, a qualalgumas vezes esteve prxima de consolidao e hoje apresenta-se com perdo da analogia ortopdico-traumtica em estado de fraturaexposta. Ela da mesma natureza que a guerra civil entre o IRA e aocupao inglesa na Irlanda, o separatismo da Liga Lombarda na Itliae a l impeza tnica na ex-Iugoslvia. Revela o fracasso das solues paraa unidade nacional, no moldadas emalgo que terminou com o que so,hoje, a autonomia das regies, no modelo espanhol, ou dos lnder , naAlemanha Federal.

    A Questo Regional h muito deixou de ser considerada umaquesto nacional. Depois da derrota, em 1964, das foras sociais e pol-ticas s quais deveu seu nascimento e seu auge, a SUDENE o ltimogrande esforo e momento de sua importncia nacional prosseguiunum xito administrativo que, ironicamente, iria marcar mais fundo seufracasso poltico. Na ditadura, a Questo Regional, enquanto tal, deixoude existir e foi rebaixada a planos administrativos, banhados em croco-dlicas lgrimas de generais-presidentes nas pocas das secas. Entre umregime carente de legitimidade e polticos faltos de representatividade,os planos regionais foram abastardados como moeda de troca que, deum lado, ajudava a manter a fachada das instituies representativas e,de outro, a fazer de conta que o regime era racional, para lograr emprs-timos e financiamentos dos Bancos Mundial e Interamericano de Desen-volvimento. Assim, a ditadura obtinha recursos externos para financiara expanso capitalista onde lhe interessava, utilizava-os para tratar dosproblemas de balano de pagamentos, e pagava ao s politicides locaiscom a moeda podre do novo clientelismo, com o libi da promoo dadesconcentrao da renda na regio mais miservel do pas. Mas no setratava de pacto, nem de negcios de ingnuos: o que estava em opera-o de todos os lados Bancos Mundial e Interamericano includos era salgar a terra do Nordeste, para matar a erva daninha da subversosocial.

  • 8/3/2019 A questo regional - a hegemonia inacabada

    2/21

    O sucesso da SUDENE sob a ditadura foi enorme, mas o Nor-deste transformou-se num gueto de nordestinos. Uma armadilha da his-tria, se permitido falar assim, ainda, dessa deusa a pregar peas smotivaes mais radicais: o xito da SUDENE marca o ponto de infle-xo da presena de nordestinos na poltica nacional, e o abastardamentotanto da Questo Regional quanto da poltica. Comparando-se com opassado mais longnquo, ou mais recente pr-64, no h, hoje, qualquergrande poltico nacional que tenha construdo sua reputao fazendocarreira no Nordeste, nem os polticos nordestinos participamdo debatenacional; ou, dizendo de outro modo, no h poltico algum do Nor-deste que consiga alar-se condio de liderana nacional. Esto imer-sos num mesquinho e limitado debate se aquilo pode se r chamadopor esse nome regional, ou, na maior parte das vezes, meramentelocal. Sarney no contra-exemplo, pois no passou de um acidente dodescalabro do Hospital de Base de Braslia; da teimosia de Tancredo emesconder uma doena que, se tratada a tempo, provavelmente teria de-senlace menos fatal a to curto prazo; e do descaso que o presidencialis-mo d ao cargo de vice-presidente. Nessa condio, cumprindo vere-dicto do prprio Tancredo, pois o Nordeste era o pas do PFL, foiescolhido para estruturar a malfadada Aliana Democrtica. Collor, en-to, ainda menos emblemtico; no foi por ter sido governador deAlagoas que chegou presidncia.Tal fato imediatamente claro paratodos, sem a necessidade de perder-se mais tempo com outras consi-deraes.

    No campo intelectual,a Questo Regional sempre foi tratada pornordestinos. Nenhum intelectual de fora do Nordeste ou da Amazniaabalanou-se a temas regionais ou Questo Regional propriamentedita. No h erro possvel: percorra-se a bibliografia, ou freqente-sequalquer das reunies das grandes sociedades cientficas das reas hu-manas e sociais, tais como ANPOCS, ABAS, SBS, SBPC. Nestas, q u an -do se estiver tratando de algum tema regional, haver apenas nordesti-nos. No caso amaznico, como a ecologia est em moda, h os verdesque so t ransamaznicos em sentido bem irnico e verdadeiro: elesreduzem a Amaznia a uma questo de ecologia. Ironicamente, nin-gum menos que Celso Furtado no tem qualquer produo sobre aQuesto Regional que se equipare sua produo sobre a economiabrasileira. A rigor, ele percebe a Questo Regional em termos de umdiagnstico, o qual foi a base da criao da SUDENE, com todos seusexplosivos ingredientes, mas inverte a equao: a migrao de nordesti-nos estaria fazendo baixar o salrio real dos trabalhadores da nova indus-trializao no Centro-Sul, considerada como ameaa unidade nacional,

  • 8/3/2019 A questo regional - a hegemonia inacabada

    3/21

    ao invs de soluo para a questo da mo-de-obra, clssico compo-nente, desde o sculo XIX, da Questo Regional!

    A Questo Regional:a unidade nacional mal resolvidaA Questo Regional , antes de tudo e sobretudo, o caso de umaunidade nacional mal resolvida. Tal como as clssicas questes regionaisno mundo Mezzogiorno , Sul dos Estados Unidos rigorosamente atas medidas do N ew Deal e saga dos direitos civis, particularmente aintegrao racial , no fundo da Questo Regional tipicamente brasi-leira jaz uma questo agrria irresoluta, de par com a do mercado de

    fora de trabalho. As duas formam uma unidade inextricvel, e suasgneses so praticamente simultneas em forma e fundo: a de uma novaforma de produo demercadorias.

    Mas um dos mitos brasileiros mais bem-construdos o de queresolvemos bem a unidade nacional. Preservou-se um imenso territrio,que na independncia passa integralmente nova nao, ao contrrio doestilhaamento que ocorre com as ex-colnias do Imprio Espanhol, naverdade j divididas, por necessidades e estratgia da explorao colonialem alguns vice-reinados. Uma lngua unifica de norte a sul e de leste aoeste o vasto territrio; lngua com vocao hegemnica, devido ao pesoda economia, das instituies, da Igreja, da destruio das sociedadestribais, mas ainda uma lngua minoritria, levando-se em conta noapenas os ainda vastos contingentes das naes indgenas, como os no-vos contingentes negros, que traziam nova contribuio lingstica. Ou-tra vez no se levou em considerao, na construo do mito, que doMxico Patagnia, com as excees inglesa, francesa e holandesa doCaribe, a lngua com vocao igualmente hegemnica era o espanhol, oque no impediu a fragmentao das ex-colnias em mais de vinte novospases independentes, todos eles tendo adotado a forma republicana.

    Justamente aqui comparece o outro grande mito da unidade na-cional, e que mais de perto comea a ter relao com o tema da QuestoRegional. A Coroa nascente, prolongao dos Bragana que saam coma Independncia, temperada e condicionada pelas novas foras sociais epolticas construdas ao longo da prpria colonizao, uma das garan-tias da unidade nacional, ou pelo menos, do reconhecimento imediato,pelas grandes potncias europias, da nova nao. A diplomacia doscasamentos dinsticos evita que as principais potncias, monarquias ain-da absolutamente absolutistas apenas a Inglaterra j havia abandona-

  • 8/3/2019 A questo regional - a hegemonia inacabada

    4/21

    do esse peloto tomem o partido de Portugal. Os Estados Unidostambm tomam o partido brasileiro, mas por razoes diferentes das euro-pias. As razes inglesas so menos dinsticas e mais econmicas, comoa histria j se cansou de reconhecer.A tese vale no que diz respeito ao reconhecimento da independn-cia, e menos manuteno da unidade nacional. Com toda a revernciaqu e se deve ao trabalho de Luiz Felipe de Alencastro, o mais notvelrenovador da interpretao da histria brasileira depois de FernandoNovaes, dessa renovao deve-se valorizar a questo da formao doEstado nacional, o ponto forte de sua tese de doctorat d'tat, e relativi-zar o ponto de vista sobre a unidade nacional a partir da continuidadedinstica, que apenas cereja em c ima do pudim.A unidade nacional ser o resultado do processo de competio

    entre burguesias nascentes, de um lado, e, de outro, das alianasque elasconseguem estabelecer com uma burocracia imperial propriamente dita.Esse processo inclui a formao das principais instituies do prprioImprio, no bojo da burocracia, inclusive Exrcito e Marinha, cujo papelextraordinrio na organizao da concorrncia foi justamente romancea-d o e ideologizado pela epopia da unidade nacional. Uma dasburguesias nascentes sedia-se no Rio, j a proprietria da cafeiculturaem expanso - advertncia aos que podem (ou querem) ver neste ensaiouma catilinria bobamente antipaulista e faz aliana com os negreirosos quais haviam transformado o Rio em principal praa comercial daspeas d'frica, uma das fontes da acumulao primitiva qu e pavimen-tam o caminho da expanso da cafeicultura, ao arrepio da natural izaodo capital das interpretaes de Caio Prado Jr. e Celso Furtado.

    Essa burguesia nascente tem importante ponte com a prpria bu-rocracia imperial, cujo projeto tem pretenses hegemnicas contra asforas centrfugas, em sua interpretao, representadas pelas nascentesoligarquias regionais e locais. Essa burguesia no tem projeto hegem-nico, mas sua ligao com a burocracia imperial e com a prpria for-mao do Exrcito lhe fornece os meios para impor uma organizaoprimi t iva da concorrncia, ao contrrio do paradigma, estranhamenteneoclssico, que se insinua entre os dois grandes clssicos da interpre-tao da histria econmica brasileira, Caio Prado e Celso Furtado,como se a concorrncia se organizasse a si mesma. Luis Alves de Limae Silva emblemtico dessa fuso de interesses entre a burguesia nas-cente do caf na Provncia do Rio, o projeto hegemnico da burocraciaimperial e a formao do Exrcito: ele a vertente latifundirio-burgue-sa do Exrcito, contra a vertente latifundirio-camponesa, cujo emblema Osrio, o Marqus de Herval.

  • 8/3/2019 A questo regional - a hegemonia inacabada

    5/21

    Pelo processo dessa luta, as revolues (Cabanada, Balaiada, Sa-binada, Confederao do Equador, Revolta dos Mals, Farroupilha ePraieira, j na metade do sculo XIX, esgotando e fechandoo ciclo ) sodegra(e)dadas condio de rebelies regionais a simples episdioslocais contra uma tendncia qu e estava escrita... nas estrelas. Coisa demarginais, d e gente sem importncia, contra a elite imperial. Desconhe-ce-se o carter de algumas transformaes econmicas que estavam nabase das revolues, para abastard-las num funcionalismo necessrio construo dos grandes mitos nacionais. Nas dobras desse funcionalis-mo e sob os gales do futuro Duque de Caxias, jazem as diferenas daformao econmica, reduzidas de agora por diante a movimento dedecadncia, que aguardariamo apocalipse do caf para uma nova chancesobre a terra. E a Questo Regional comea seu longo caminho de cons-truo.

    A unidade nacional mal resolvida simultaneamente a resoluoda questo do Estado nacional, a qual somente assegurada na medidaem que as questes do mercado de trabalho e da terra so enquadradaspelas novas classes dominantes. Historiografia suspeita e teoria econ-mica impotente do-se agora as mos para encontrar o empresrioschumpeteriano no desbravamento do Oeste paulista. A rigor, e nova-mente essa contribuio original de Luiz Felipe de Alencastro, do quese tratou menos de uma descoberta da superioridade do trabalho livresobre o escravo e mais das rebelies dos escravos, de um lado, e deoutro, da possibilidade de que, em presena de terras livres, a fuga deescravos se transformasse em estabelecimento de quilombos a lem-brana de Palmares no estava to extinta e mesmo em possibilidadede descontrole do processo de grilagem das terras. Ento, o apelo aoimigrante torna-se a soluo economicamente superior: na verdade, a so-cial e politicamente mais segura, e um mercado de terras comea a emer-gir na regio em expanso do caf.

    Burguesia cafeicultora e burocracia imperial:a organizao da concorrncia e adegra(e)dao dos adversriosNo mesmo momento em que a regio do caf resolve seus proble-mas de mo-de-obra e de terras, congela quase simetricamente os mes-mos problemas de mo-de-obra e de terras nas demais regies. Aqui, odesenvolvimento da questo ser mais apurado, para observar-se a cons-tituio da Questo Regional. O caf havia se expandido com mo-de-

  • 8/3/2019 A questo regional - a hegemonia inacabada

    6/21

    obra escrava; o Rio era seu grande abastecedor, ao contrario da tesefur tadiana de que esse abastecimento provinha de Minas. Eis uma dasprimeiras fontes da ac u mu la o primitiva do caf. Esgotado o ciclo doouro, a expanso do caf refaz a economia de Minas, agora como eco-nomia de subsistncia. O que vai congelar uma ques to agrria e umaques to do trabalho ou do mercado de trabalho naquele Estado.Na tradio de Caio Prado Ir. e de Celso Furtado, acostumamo-nos a pensar na expanso do caf como espcie de expanso da missocivilizadora do capital. Mas a adoo de uma soluo via imigrao eu-ropia para a questo da mo-de-obra na expanso do caf implica aprimeira e mais determinante segmentao do mercado de trabalho queestrutura a moderna economia brasileira. Segmentao que vai congelaro escravismo nas demais regies do pas, pelo fato de impor uma cisoentre os diversos mercados de trabalho que j se unificavam no pas, base mesmo da troca do excedente de escravos, que reforava a legisla-o precedente Abolio e anunciava o modo de produo de merca-dorias. Troca entre Nordeste e Sudeste, extino, finalmente, do trfico,abolio parcial da escravido nas provncias do Cear, Rio Grande doNorte, introduo do trabalho livre sob formas do aluguel dos prpriosescravos a que se referem tantos anncios na imprensa da poca para trabalhos fabris e de construes pblicas, no se tratando, pois, deempregos domsticos.

    E essa ciso refora-se pelo aspecto tnico: introduz-se uma com-petio no mundo do trabalho pelos postos mais baixos, antes reserva-dos apenas aos negros, agora disputados entre brancos imigrantes e ne-gros; estes podiam ( ? ) emigrar por sua conta e risco, enquanto os euro-peus contavam com a proteo de seus pases de origem. Aqui encontra-se uma das razes mais fundas do estranhamento entre classes dominan-tes, elites dirigentes e mesmo vastas parcelas das classes mdias abasta-das do Sul e do Sudeste e os imigrantes vindos do Nordeste, que formao pano de fundo do separat ismo dos ricos em expanso hoje no RioGrande do Sul e Paran, sendo a seu modo uma espcie de l impezatnica. D, ainda, um carter peculiar ao conflito capital-trabalho, ge-rando uma das mais estranhas relaes, que s conheceu elementos ate-nuadores pela interveno de um Estado autoritrio, lembrando a Ale-manha de Bismarck.

    A historiografia e a moderna interpretao histrico-sociolgicada constituio dessa precoce segmentao tnica de um mercado detrabalho, que mal se constitua, silenciaram sobre o fator tnico que es-tava no centro da questo, uma espcie de preconceito ao revs. Para seser progressista, e ver na adoo do trabalho livre a superioridade sobre

  • 8/3/2019 A questo regional - a hegemonia inacabada

    7/21

    o trabalho escravo, fez-se silncio sobre a discr iminao tnica que aimigrao introduzia na estrutura o do m ercado de trabalho da regioem expanso capitalista, com pretenses de dominao. Tardiamente ,essa discriminao tnica aparecer na forma do separatismo do s r icos ,verso ainda s o f t da l impe za tnica que os atentados dos grupos de skin-heads neonazistas da Zona Leste da capital de So Paulo, contra rdiosque fazem programas nordestinos, expressam dramaticam ente.

    De outro lado, acostumamo-nos tambm ao decadentismo queimpregna a histria das regies, ao ponto de faz-las desaparecer, pararestar, apenas, a misso civilizadora do caf. A fora da demiurgia deCaio Prado e Celso Furtado levou a obscurecer um perodo que no fois de decadncia, e somente agora a nova pesquisa comea a pr emevidncia a debilidade da construo de Caio e Furtado (v. part icular-mente Stein, 1957 e Singer, 1969). Desde a segunda metade do sculoXIX, a ind stria txtil comeou a expandir -se no B rasil , at em razo daprpr ia Guerra de Secesso norte -am eric ana, qu and o o algodo brasi-leiro alcana um lugar ao sol no mercado interna ciona l. Segue-se da,depois da recuperao do lugar da produ o norte-ame ricano nesse mer -cado, um esforo de industr ial izao,que se d em todo o pas, de altoa baixo. D e Caxias, no Maranho , a Valena, na Bahia, onde j na me-tade do sculo XIX havia uma unid ade industr ial com m ais de 2000operrios escravos, grande mesmo para os padres de hoje, passandopor Pernambuco, Sergipe, Minas com Juiz de Fora (a Manchester bra-sileira, bom no esquecer, apesar de I t amar ) , Rio de Janeiro , SoPaulo , Rio Grande do Sul, num ciclo que vai at os anos vinte destesculo. A saga de Delmiro Gouveia , qu e arrosta contra si todas as po-testades da concorrncia inglesa em aliana com seus inim igos de classedentro de Pernambuco, e sendo derrotado, at a eliminao fsica, vperdidos os esforos de aproveitamento hidroeltrico do Rio So Fran-cisco. Meio sculo depois, seu c r i m e ser redimido, abrindo nova era naindustrializao do Nordeste. O processo desenvolvido foi, pois, de con-corrncia entre cap itais, e o que foi cap ital, para ornamentar com umafrase de efeito, foi a organizao da concorrncia. No se tratou de auto-organizao da concorrncia, ou auto-regulamentao do capital, comonunca pode se tratar. Aqui entra o papel do Estado, de forma forte.

    O papel do Estado esteve, especialmente, na uti l izao dos re-cursos pblicos na sustentao e expanso da cafeicultura, sobretudo naorganizao da concorrncia. No se tratava, ainda, de regulamentaesde limitao da concorrncia, nem sequer da proteo contra a dilap i-dao da fora de trabalho. Aqui vai se tecer uma poltica de organizaoda concorrncia que de liqu ida o dos outros capitais concorrentes

  • 8/3/2019 A questo regional - a hegemonia inacabada

    8/21

    e uma poltica de alianas, de uns setores contra outros. Para nohaver absolvies nem pelourinhos. A quem quer que tenha algumconhecimento das finanas do Imprio, no escapar dependerem estas,basicamente, das provncias da Bahia, Pernambuco e Minas. Nos termosde hoje, em que So Paulo discute a questo, elas tinham supervit sobreo que o Imprio nelas gastava. O Rio era o grande gastador, mas tam-bm arrecadador, e So Paulo j figurava como um grande perdulrio.Eis a segunda fonte da ac u mu la o primitiva que alimentou a expansocafeicultora, um mistrio que nem Caio Prado nem Furtado explicaram:de onde saram os recursos de capital do caf? Dele mesmo? Mas comocapital faz capital antes de ser capital? Pela a c u m u l a o primitiva: de umlado o Rio, com o comrcio de escravos, de outro as fontes fiscais,drenando recursos das provncias superavitrias para as deficitrias. CaioPrado no explica o ocorrido. As fortunas do caf surgiro quase comoque por mgica. Mesmo o preamento de ndios no ter sido capaz derealizar a a c u m u l a o primitiva, nem a acumulao de terras pelo ban-deirantismo, num perodo em que no havia mercado de terras. Furtadono est no terreno terico do marxismo e, portanto, no tem necessi-dade de explicar: ele no tem uma teoria da acumulao de capital, econsegue ir apenas ao ponto da formao de capital, e para isto a culturado caf auto-explicativa.Em que consistia essa a c u m u l a o primitiva?Nas garantias que o Imprio dava aos pases de onde importava mo-de-obra, no financiamento das ferrovias, que no foram custeadas pelocapital ingls, como diz a propaganda, no aval das operaes externas.Eis alguns exemplos.

    Na Repblica Velha os exemplos so mais fartos. So Paulo tenta,sozinho, bancar a sustentao dos preos do caf nos mercados inter-nacionais. Logo, essa funo transferida para o Estado nacional. Di-visas gastas nessa sustentao, que Villela & Suzigan (1973), em livrodo comeo dos anos setenta, demonstraram j serem superiores pr-pria receita das exportaes, constituam, concomitantemente, capital erecursos pblicos. Pelo uso simultneo da divisa, que amarrava , inclu-sive, a oferta monetria interna, e era tanto capital quanto recurso p-blico, o Estado tanto subsidiava o caf e obstaculizava a acumulao decapital em outros setores, quanto organizava a concorrncia, impedindoa expanso de outros segmentos. simples.

    Portanto, a Questo Regional , basicamente, a histria da reso-luo da questo do mercado de fora de trabalho, a qual vai ter con-seqncias sobre a irresoluo da questo agrria. Ela essa summa. Oque no significa colocar no pelourinho So Paulo, como regio porexcelncia do caf, mas como centro da nova classe social que est revo-

  • 8/3/2019 A questo regional - a hegemonia inacabada

    9/21

    lucionando o modo de produo; nem absolver oligarquias regionais,mas trat-las como aliadas da burguesia de So Paulo que, em deter-minados perodo e processo, caminharam, em razo de seus interesses e no de afinidades eletivas do tipo ethos protestante-capitalstico la Weber para liquidarem seus concorrentes locais e regionais na es-trutura de poder econmico e poltico. A Questo Regional o resul-tado desses processos.

    Unidade oligrquica e dominao pelo mercado:a locomotiva,puxando os vinte vages vaziosExaminando-se mais de perto, pois, a unidade nacional comps-sede um arquiplago de ilhotas oligrquicas, para o qual a literatura pol-tica j chamou a ateno reiteradamente; o conjunto de ilhotas, porm,no constitua uma ordem patrimonialista,nem a economia correspon-dia s ilhotas oligrquicas, havendo entre as duas esferas, como evi-dente, troca, reforo, sustentao e, sobretudo, contradio. Surda lutaentre formas distintas dos capitais agrrios e industriais e agroindus-

    triais e luta aberta nos perodos em que a contradio tornava-seinsuportvel. A dominao econmica da regio, cuja atividade estavaem expanso na literatura mais clssica atribuda expanso da de-manda internacional por caf , d-se atravs do pacto das ilhotas oli-grquicas, que pela poltica (Polanyi , 1970) operou uma unificao eco-nmica que o mercado no foi, nunca, capazde realizar. At os anos darevoluo de 1930, e muito mais para a frente, at praticamentea dcadados cinqenta, continuaram a existir, com leis e movimentos reprodu-tivos relativamente independentes, economias regionais, j ento der-rotadas do ponto de vista da concorrncia mais geral entre os capitaisdetodo o pas, mas suficientemente fortes para fecharem-se sobre si mes-mas. Ser apenas com os incentivos fiscaiscriados pela SUDENE, e logocopiados para a Amaznia, que as economias regionais sucumbiro.A contradio entre uma ordem econmica capitalista e uma or-dem poltica oligrquica no novidade alguma; o Japo assim. Istotem dado azo a teorizaes sobre a economia patrimonialista do Brasil,sobre organizao patrimonialista da sociedade, sobre Estado preben-drio, e sobre todas asoutras armas retiradas do arsenal weberiano. Que rico mas, neste caso, impropriamente utilizado.

    A Revoluo de 30 amplifica a unificao do mercado, derruba asfronteiras estaduais, criando o espao para a circulao ampliada dasmercadorias, o que significa imenso reforo acumulao de capital,

  • 8/3/2019 A questo regional - a hegemonia inacabada

    10/21

    pelo aumento da velocidade da sua circulao, pela mais rpida meta-morfose da forma-mercadoria para a forma-dinheiro e, desta, nova-mente para a forma capital-dinheiro. Mas no h, concomitantemente,circulao ampliada dos capitais, travada pela pr pria fratura na unidadenacional, ou pelas form as inacabadas ou imp erfeitas de sua resoluo.Para tanto, seria preciso ter resolvidas as questes agrria e do mercadode trabalho, as quais so precisamente duas travas do processo de acu-mulao, ou melhor dizendo, da possibilidade do processo de centrali-zao do capital, que do que se trata ao falar-se de circulao de capi-tais. No h transferncia de capitais entre as diversas regies do pas,uma das formas concretas que a centralizao adquire qu ando a unidad enacional se nacionaliza para o capital, pelas vias do capital. Tal fato spassou a existir no Brasil quand o o Estado criou o modelo institucional,seja pela forma fiscal, seja pelo cmbio favorecido. Depois, de maneiramais sofisticada j adiantada a dcada de cinqenta , ele criar osistema de incentivos fiscais; os juros reais negativos via sistema de cr-dito estatal, compreendendo todas formas de centralizao do capital,que o prprio capital no capaz de operar sem a regulao do Estado.Antes disso, o que acontece, e com maior freqncia, a implantao degrup os econmicos do Nordeste no Sudeste, a exportao de capitais daregio mais pobre para a regio mais rica, mas feita diretamente, sem ainterveno do que se chama, modernamente, de mercado de capitais enem sequer do mercado de credito.

    Gradualmente, com a prpria expanso da circulao de merca-dorias, So Paulo vence, dom ina, mas no hegemoniza. Porque seu me-canismo de dominao o mercado, e este insuficiente para forjar ahegem onia. D errub adas as fronteiras estaduais, a industrializao avanacleremente. Durante uma dcada, que para todo o mundo desenvol-vido foi de profunda depresso, a economia nacional iniciou um movi-mento ascensional, transferindo o motor da diviso social do trabalhoda agricultura para a indstria, cujo flego final somente expira rigoro-samente nos anos 80.No bojo da revoluo chamada keynesiana, que na verdade aresposta crise mais criadora neste sculo, o Brasil seadianta e inova. Onacionalismo brasileiro da industrializao no seno uma versokeynesiana do que os liberais chamaro interveno do Estado na eco-nomia.

    A hegemonia inacabada: as difceisrelaes de So Paulo com a diversidade nacionalNo se ir reconstituir todo esse processo. Importa reter aqui ape-

  • 8/3/2019 A questo regional - a hegemonia inacabada

    11/21

    nas um dos raros momentos em que a hegemonia esteve quase por com-pletar-se, quando So Paulo esteve na cabea de todos, principalmentedos que migravam em sua direo, e dos que permaneceram nas regiesmenos desenvolvidas. Importa reter um dos raros momentos em que,no por nostalgia dessa hegemonia inacabada, mas para tirar as conse-qncias dela, a liderana de So Paulo quase refez ou fez a nova unidadenacional, consolidando, pela analogia traumtico-ortopdica, a velhafratura do sculo XIX, dando incio a um processo de definitiva resolu-o da Questo Regional. Desde logo, uma das insuficincias respon-sveis pelo mais retumbante e, desta feita, definitivo fracasso, esteve emque o processo bsico dessa quase hegemonia foi sempre o mercado.

    Exatamente na passagem dos anos quarenta para cinqenta, e al-canando at o final da dcada de cinqenta, esteve-se perto da constru-o de uma unidade nacional forjada pela hegemonia paulista. Foi omomento em que, da liderana indiscutvel da produo industrial,emergiu a construo do imaginrio. Alou vo no imaginrio populara firme convico de que havia um futuro no Brasil, e esse futuro tinhaum nome e esse nome era So Paulo. No fusca, hoje s motivo dechacota, nos homens mal acomodados que comeavam a povoar as no-vas periferias industriais, no pai dizendo "vai, filho, cresce, para irt rabalhar em So Paulo", havia, menos que misria, a construo deuma hegemonia. Isto , de um mito, de uma viso de mundo, de umaforma de conceber, de uma unidade que, de alto a baixo, repete a mesmaladainha. Esta a definio gramsciana para hegemonia.

    Quando meu tio Joo Rodrigues, ento jovem tenente da BrigadaMilitar de Pernambuco, visitou So Paulo, entre 1946-1947, e ouviu deCsar Lattes a promessa de, dentro em pouco, alimentar todas as in-dstrias, casas e ruas com a energia eltrica das p i lhas atmicas, nacabea de um annimo oficial de polcia mili tar de Pernambuco cons-trua-se a hegemonia de So Paulo.

    Amavelmente, Alfredo Bosi me recorda que o imaginrio nacio-nalista, a ideologia nacionalista foi muito mais um produto do Rio,num a longa derivao que comeou como uma elaborao da direita eterminou como uma teorizao da esquerda. O ISEB, como instituiocoroadora dessa ideologia, o Exrcito (e a notvel ausncia de paulistasno Exrcito, como se comentar adiante), com o Clube Militar, soinstituies do Rio. A produo intelectual paulista nas cincias sociaissempre foi avessa ao nacionalismo, e o mais notvel de seus gruposintelectuais, justamente conhecido como o Grupo de O Capital, elabo-rou sofisticada interpretao do Brasil que, deitando razes em CaioPrado Jr., passa ao largo do nacionalismo, no dialoga com ele e elabora

  • 8/3/2019 A questo regional - a hegemonia inacabada

    12/21

    na vertente da classe social e no da nao. Tem razo Alfredo Bosi. Maso imaginrio de que estou falandoera o do povo, e no o dos intelectu-ais. E o povo, que emigra, pois a migrao um fenmeno de classessociais, tinha os olhos fixos em So Paulo. Tal como o ditado dizia, SoPaulo era para se trabalhar, e o Rio para se arranjar emprego.

    Esse processo abortou e j no comeo dos anos sessenta era visvelo esgotamento da possibilidade de constituio da hegemonia paulista.O deslocamento do imaginrio para o tema das reformase da revoluo no importando aqui quo plausvel fosse ou pudesse ter sido indica claramente que a burguesia havia perdido sua oportunidade deplasmar o pas sua imagem e semelhana. A burguesia perde a lide-rana do processo, ningum mais imag ina migrar para So Paulo embora ainda o faam cotidianamente e os cones do breve perodoso substitudos na ao poltica e no imaginrio popular, para nuncamais voltarem. Mesmo quando o neoliberalismo seapresentar, nos diasde hoje, com sua cara hedionda disfarada nas lantejoulas e paets damodernizao e no banho de champanhe dos Ch a mp s Elyses, ele can-sao da burguesia, no mais ousadia. Quando a misria um pesadelo eno mais desafio, passou a hora da hegemonia.

    E possvel listar algumas das condies no cumpridas, que expli-cam parcialmente o fracasso da hegemonia inacabada, ou o inacabamen-to do mito. Um dos pontos mais visveis desse fracasso diz respeito aoEstado, e particularmente formaode sua burocracia. Embora a bur-guesia paulista sujeito principalda economia capitalista brasileiratenha sido, sempre, assaz freqentadora dos gabinetes estatais, e bene-ficiada por uma longa srie de subsdios estatais, que comeou desde oImprio ao contrrio da lenda de uma burguesia auto-suficiente, decostas para o Estado, construda, com perdo do trocadilho, pelo Esta-d o , a burguesia paulista jamais se preocupou com o prprio Estadonacional ou com a formao de sua burocracia. Ao contrrio de suaatitude dentro do Estado de So Paulo, onde modelares instituiescomo a prpria USP e todos os grandes institutos, Adolfo Lutz, Bu-tantan, Biolgico, marcaram verdadeira revoluo, a burguesia paulistavirou as costas para o Estado brasileiro do ponto de vista dos interessesmais gerais que cabia ao Estado atender.

    Em todos os aparelhos ideolgicos, para usar a expresso althusse-riana, a no presena de So Paulo notvel. Na Igreja Catlica, de queo primeiro cardeal paulista era pernambucano e seu grande e nobre car-deal de hoje, que Deus o mantenha por muitos e muitos anos, contra avontade de Wojtyla, ... catarinense. No h muitos generais paulistas,e isto no se deve, certamente, ao fato de no haver colgios militares

  • 8/3/2019 A questo regional - a hegemonia inacabada

    13/21

    em So Paulo, como uma sociologia de araque pode imediatamentededuzir. A Academia da Fora Area localiza-seem Pirassununga, ondeo nmero de paulistas tambm reduzido, enquanto no ITA, por muitotempo representando a vanguarda da formao da tecnologia de ponta,o nmero de paulistas sempre foi proporcionalmente maior que emqualquer outra instituio militar. No h generais paulistas porque osucesso est em outro lado. Apesar de, na galeria de ex-ministros daFazenda, So Paulo comparecer com uma quota notvel (mesmo quan-do no paulistas de nascimento, paulistanizam-se rapidamente pelos in-teresses. De Oswaido Aranha a Mailson da Nbrega, essa a lio daexceo, porque a regra no precisa de demonstrao), a burocracia doministrio permaneceu notavelmente no-paulista. Quando DelfimNetto l chegou, levando toda sua equipe, ao contrrio do que fizeramos anteriores ministros paulistas, o Ministrio da Fazenda ficou conhe-cido como Recre io dosBandeirantes, apelido que o humor carioca logopespegou para marcar o fato de serem to desconhecidos quanto a entoremota praia para alm da Barra da Tijuca, no prprio Rio.

    Mui recentemente, h cerca de trs anos, entrei nos bastidores doCNPq, como membro de um dos Comits Assessores. H muito, ouviade meus colegas paulistas que o CNPq era o reino da incompetncia dosnordestinos, e por isso, concluso bvia mas obscura para mim, a cinciano caminhava. Constatei, pelos sobrenomes e nomes prprios, sobre-tudo porque sou do Nordeste no precisaria treino sociolgico paratanto que, efetivamente, a maior parte da burocracia do CNPq constituda por no-paulistas, isto , nordestinos e seus descendentes,mas tambm goianos, mineiros. Indo ao ponto, a grande incompetncia dos cientistas, particularmentea dos radicados em So Paulo, a maio-ria absoluta no pas, que jamais ligaram para o CNPq, e mais, nunca seabalanaram para largar-se de So Paulo e organizarem a promoo dapesquisa cientfica e tecnolgica inicialmente no Rio e h mais de vinteanos emBraslia.

    Apesar de tudo, a burocracia ainda consegue funcionar devido aosnordestinos, goianos, mineiros, que, faltos de oportunidades melhoresem seus Estados, arriscam-seem Braslia e nos demais postos da admi-nistrao federal. Mas essa seria uma explicao ingnua e comprome-tida, afinal de contas. Ingnua, porque h fisiologismo no apenas emBraslia, e h de monto, mas o surpreendente, h mais fisiologismo emSo Paulo que em todas as reparties federais somadas. O fisiologismodas empresas junto com os diversos nveis de governo em So Paulo competente; talvez seja esta a diferena. Mas faltam tambm paulistasno Itamaraty, no Banco do Brasil e em algumas das melhores burocra-cias que o pas j teve. O que se quer dizer ter So Paulo ficado isolado:

  • 8/3/2019 A questo regional - a hegemonia inacabada

    14/21

    no conheceu o Estado brasileiro por dentro, sua mquina, seus modosde funcionamento.Jnio, com seus caractersticos bilhetes, que os apologetas logo seencarregaram de transformar em revoluo na administrao, revelavato somente, atravs deles e por eles, total desconhecimento e ignornciados mecanismos e das entranhas da mquina do poder federal. Porqueo presidente despacha documentos oficiais, no apropriados para a emis-so de opinies pessoais, ainda que sejam do presidente, procedimentoque qualquer mineiro, baiano, pernambucano, gacho sabe por treino enecessidade. No se est postulando aqui que a burocracia deveria tersido preenchida por paulistas, o que seria economicismo primitivo, re-duo do poltico ao econmico, e equivalncia das estruturas estatais-

    oficiais s econmicas, de forma primriae elementar. O que se quer prem relevo que, se a burguesia dominante de So Paulo alguma vez teveprojeto hegemnico, algo como uma tica, paulis ta nunca fecundou oEstado brasileiro, visto do ngulo da formao de sua burocracia.

    O que no significa que a administrao do Estado no Brasil fosseretrgrada: pelo contrrio, a burocratizao, no sentido positivo atri-budo por Weber, marcante nas instituies da meritocracia do novoEstado brasileiro, como o DASP, com os concursos pblicos parapreenchimento dos cargos e as regras da modernizao administrativa,o Banco do Brasil,a prpria burocracia do Itamaraty, o BNDE, o IBGEde antes das sbitas mudanas dos ndices que apurava, feitas para es-conder o desastre dos planos ou para baralharas reivindicaesdos tra-balhadores, a reorganizao das prprias Foras Armadas logo depois daSegunda Guerra, as grandes estatais etc. O desmantelamento da buro-cracia estatal comea como um projeto sistemtico de Roberto Campos,ainda no primeiro governo da ditadura. Mas isto , tambm, outra his-tria. Enquanto a maioria das empresas privadas patinava em adminis-trao personalista e primitiva, de que d prova a liquidao de gruposoutrora poderosssimos, como Matarazzo e Jafet, precisamente de SoPaulo, os quais puderam manter-se cabea de seus vastos impriosconglomerados avant Ia lettre enquanto manipulavam as rdeas do po-der.

    A relao de So Paulo com a formao da cultura brasileira igualmente problemtica. Esse campo suficientemente minado paraextrair-se concluses sobre a relao entre dominao econmica e ela-borao cultural hegemnica. Arrisco-me, no entanto, sem postularqualquer relao causai aceitando, como a maior parte da crtica jfez, que houve uma nova elaborao cultural em So Paulo com oadvento da industrializao, sendo a Semana de Arte Moderna o marco

  • 8/3/2019 A questo regional - a hegemonia inacabada

    15/21

    dessa nova relao a dizer que a interpenetrao, a fecundao, entrea cultura de So Paulo e a das diversas regies brasileiras no ocorreram.Agora, sob a gide da indstria, cultural, h um intercmbio que notvel sobretudo na msica popular, mas j no se trata de hegemonia;a liderana que So Paulo assumiu, desde h algum tempo, no campo daproduo intelectual e na imprensa escrita, no um projeto de hege-monia burguesa. Em muitos casos, o resultado, sobretudo na rea daproduo intelectual, de um projeto de hegemonia contraburgus, quetampouco se realizou plenamente.

    Nunca houve uma arte, uma literatura, uma pintura nacionais,com a marca de So Paulo; a que existe a do Rio. E fcil af i rmar queessa marca deve-se condio de antiga capital, o que verdade, masno toda a verdade. O real que as artes nacionais so uma espcie desntese da diversidade regional do pas, elaborada cariocamente. Mas asimples condio de capital no responde por tudo, pois Washingtonno o grande centro das artes nos EUA, enquanto possvel encontrarnos museus de New York, no MoMa, no Metropolitan, no Guggen-heim, as marcas de um projeto hegemnico da burguesia norte-ameri-cana. Parte do enigma pode ser decifrado decodificando-se as relaesde classe na sociedade brasileira,e particularmenteas relaes desta como Estado: decididamente as relaes sociais no Brasil foram moldadassegundo um padro que requereu, desde a colnia, formas estatais, oque se projetou, tambm sobre a cultura. A burguesia, portanto, semprefoi estadocrata, e iniciativas culturais liberais no so muito comuns nopas. Projetada para o campo da hegemonia, essa estadocracia das rela-es sociais revelou-se mortal.

    De outro lado, migravampara SoPaulo trabalhadores de todo oBrasil , e particularmente de Minas e do Nordeste. Intelectuais, ou mem-bros das classes mdias, mais aptos para a produo cultural, por razesde classe, evidentemente, no migravam para SoPaulo, mas para o Rio.E geralmente para serem funcionrios pblicos. Tome-se as profisses eorigens sociais de Jos Lins do Rego, Raquel de Queiroz, Jos Amricode Almeida, Graciliano Ramos, Guimares Rosa, Carlos Drummond deAndrade, e mesmo no passado mais remoto, Jos de Alencar e Machadode Assis. Escritores, romancistas, poetas, e diplomatas, fiscal do impostode consumo, funcionrio do Ministrio da Educao, funcionrios p-blicos em geral, imigrantes de Minas e do Nordeste, ao lado, evidente-mente, de Machado, carioca. A simbiose entre burocracia espcie demecenato implcito, simulacro do mecenato explcito que o Estado nun-ca fez, ou fez mal e porcamente e substituto do mecenato que a bur-guesia nunca ousou , destino de classe e produo cultural explica o

  • 8/3/2019 A questo regional - a hegemonia inacabada

    16/21

    papel do Rio na formao da cultura nacional e a simtrica ausncia deSo Paulo.As artes paulistas so muito mais de So Paulo, fechadas sobre simesmas. Mais recentemente, no captulo da grande indstria cultural,

    no cinema, o esforo fracassado de So Paulo atesta no apenas a invia-bilidade econmica do empreendimento, mas a impotncia de constru-o de uma indstria cultural que lidava mal com a diversidade regionaldo pas. Os filmes da Vera Cruz foram no apenas uma tentativa v defazer f ilmes srios para exportao : eles fracassaram porque no passa-vam de pastiches europeus, e por isso, no diziamnada a algum fora deSo Paulo. Como a prpria populao local, nos estratos de classe queformavam a opinio sobre o cinema, j estava acima desse pastiche, en-to a Vera Cruz no falava sequer ao s paulistas. O maior comediantepaulista, Mazzaroppi, um desconhecido no resto do Brasil. Seu humorcaipira no dizia nada ao resto do pas, e apenas agora seu talento podeser reconhecido. Mas como fenmeno de massas, para os demais estadosbrasileiros, ele foi um tremendo fracasso.

    A incomunicabilidade paulista to dramtica que a prpria tele-viso, que tal como a Rede Globo o faz, lida com a diversidade regionalem termos idiossincrticos, como pastiche, tem sede no Rio e no emSo Paulo. Porque, mesmo no seu reducionismo pobre, ela conseguelidar com a diversidade regional no Brasil, enquanto So Paulo noconsegue faz-lo. Esse isolamento paulista,que alguns interpretaroco-mo a ilha de capitalismo num mar de formaes precapitalistas, versoapenas mais elaborada da sempre arrogante locomotiva q u e puxa os vintevages vazios, demonstra que o tempo da construo da hegemonia haviapassado irremediavelmente. Mesmo um grande talento paulista, comoChico Buarque, para alar vo e transformar-se em unanimidade nacio-nal, mudou-se para o Rio para no ficar condenado ao que alguns cha-maram s a m b a paulista, do qual se tem alguns excelentes exemplares,como o saudoso e inimitvel Adoniran, mas incapaz de constituir ouformar escola; incapaz de se tornar nacional.

    As conseqncias da impotncia hegemnicada burguesia paulistaEssa hegemonia inacabada, essa dominao apenas pelo mercado,tem enormes conseqncias, e no fosse por elas, no valeria a pena estedebate. No se trata, pois, de reivindicao regionalista, no sentido dequ e se a hegemonia tivesse sido de outra regio, a obra teria sido melhor

  • 8/3/2019 A questo regional - a hegemonia inacabada

    17/21

    acabada. Nem se trata, tampouco, agora, de bradar pelo acabamentodessa hegemonia. Seu tempo passou, e desde h muito, os problemas eas fraturas da sociedade que a ausncia de hegemonia deixou so tarefasdas novas foras sociais e polticas, contra-hegemnicas, antiliberais,para alm do mercado. E, finalmente, no se trata de pr So Paulo nopelourinho: aqui a equivalncia entre So Paulo e a burguesia deve serentendida como a expresso mxima da potncia burguesa no Brasil, poca da hegemonia possvel. De fato, a territorialidade, o arcabouojurdico-poltico do Estado, sem nenhum reducionismo vulgar, consti-tuam foras produ t ivas burguesas, assim como o Estado-nao da pocado imperialismo constituiu, sua poca, igual fora produtiva imperia-lista. A R o y a l Navy que o diga. As outras burguesias regionais no Brasiltambm utilizaram o poder de seus Estados circunscritos. A freqentereduo entre Nordeste e latifndio rural, se hoje j corresponde menos verdade dessa relao de mtua representatividade substitutiva, nopassado j foi bem mais real.

    A hegemonia inacabada criou um monstro, que foi, durante muitotempo, uma aliana de interesses entre a burguesia industrial e oligar-quias agrrias retrgradas. O famoso mistrio do pas que se industria-lizava sob a batuta de dois partidos de base rural PSD e UDN esclarecido quando pensado de outra forma: tratou-se da aliana entrea burguesia industrial e poderosas e reacionrias oligarquias rurais, lati-fundirios para sermos mais precisos. Esse monstrengo deixou intacta aquesto agrria, irresoluta a questo do mercado de trabalho no campo,com o que reiterava a prpria questo agrria e, por extenso, tambmsem resoluo a questo negra no corao da prpria industrializao.Oitenta anos depois da Abolio, a Lei Afonso Arinos ainda tentavaexorcizar a discriminao racial em pleno desenvolvimento do Brasilurbano, cuja estaca da segmentao tnica do mercado de trabalho foradefinitivamente fincada pela soluo da imigrao estrangeira para ex-panso da cafeicultura em So Paulo. E todas as disposies da CLT queprocuraram anular aquela ancestral diviso tnica do trabalho foramimpotentes at agora, assim como os renovados dispositivos da Consti-tuio de 1988.

    O captulo dos direitos civis pagou alto tributo hegemonia inaca-bada, simples dominao pelo mercado, a essa trama entre oligarquiasretrgradas e uma burguesia vitoriosa pela manipulao da violnciacomo organizadora da concorrncia . Esse , no fundo, o tema de Ro-berto Schwarz de idias fora de lugar e em toda sua explorao do ro-mance machadiano. No h barreiras para a ignomnia, e o liberalismosempre foi uma caricatura. No porque inexistisse esprito de lucro; ao

  • 8/3/2019 A questo regional - a hegemonia inacabada

    18/21

    contrrio, a sociedade est pejada dele. Mas o lucro construdo numat rama na qual violncia privada e violncia do Estado organizam a espo-liao do escravo e a prpria concorrncia entre os que deviam seriguais: os prprios burgueses.

    Essa aliana, ao contrrio da teoria da expanso da industrializaocomo mancha que se expande a partir de um centro, foi responsvel peloaborto da industrializaoem vrias regies do pas, em vrios Estados,ento provncias. A liquidao de vrios empreendimentos no ocorreuporque eram feudais: feudal ainda a Votorantim, assim como a Cidadede Deus, do Bradesco, em Osasco. Ou todo o Japo. A liquidaose deuporque a aliana entre a burguesia cafeicultora e posteriormente a bur-guesia industrial com latifundirios retrgrados em todo o Brasil util i-zou os poderes do Estado para manejar a concorrncia, para organizaraconcorrncia. De vrias maneiras, como j foi sugerido e exemplificado,s quais no preciso voltar.

    Esse tipo de aliana sustentou um sistema poltico que entrou emcolapso repetidas vezes, mas foi reposto quase sempre pelo poder dasarmas a servio da burguesia industrial, mesmo quando j havia perdidoa exclusividade da dominao econmica, dividida agora com forte par-cela da burguesia internacional. O golpe de 1964 tragicamente o ep-logo de uma burguesia sem brilho: enquanto as foras populares luta-vam por uma Reforma Agrria que, no fundo, era uma das formas deresoluo da velha Questo Agrria, a burguesia industrial unificava-secom o velho latifndio e com a burguesia internacional com quem jestava unificadado ponto de vista econmico , dando o golpe de graana armao ideolgica de sua prpria hegemonia, na sua ltima mani-festao, de que apenas restava como porta-voz o Partido ComunistaBrasileiro. O Nordeste parece ser o centro da revoluo: ele apenas ademonstrao de sua impossibilidade, de um lado, e do fracasso defi-nit ivo da burguesia brasileira, de outro. A reivindicao de reformaagrria no Nordeste no se destinava a viabilizar o capitalismono campono Brasil, mas a solucionar a questo agrria e a questo do mercado detrabalho, e sua summa, a questo regional. O ponto de fuga da resolu-o dado no Sudeste, mas o estrondo, no Nordeste.

    J mais recentemente, quando a ditadura dava sinais de incapaci-dade para seguir, e o voto popular transformou um simulacro de opo-sio em real, em 1974, a ditadura interveio para, alterando as propor-cionalidades da representao, manter a sustentao congressual do re-gime militar, fazendo com que um eleitor de Roraima ou do Acre valhadez de So Paulo. Mas o importante dizer que essa proposio basi-camente paulista, verbi gratiae, da burguesia, que t inha o agora humo-

  • 8/3/2019 A questo regional - a hegemonia inacabada

    19/21

    rista Delfim Netto, um ano antes como todopoderoso ministro da Fa-zenda, e voltou a t-lo ainda com Figueiredo.Uma hegemonia inacabada significou, do ponto de vista dos di-reitos sociais, pesada herana. Tal como na histria de pases cuja uni-dade tambm foi realizada autoritariamente a Alemanha o exemplomais notvel , a ausncia de hegemonia torna a burguesia t o irres-ponsvel politicamente que o prprio autoritarismo levado a corrigir

    su a irrefrevel volpia dilapidadora. Assim como Bismarck inaugurou oWelfare State, em parte para cortar a progresso do movimento socia-lista, mas tambm para educar sua prpria burguesia, no Brasil o auto-ritarismo de Vargas teve que apropriar-se dos projetos longamente ela-borados pela prpria experincia operria, e transform-los na CLT enos Institutos de Previdncia.Uma hegemonia inacabada teve por conseqncia, por fim, o cul-to mais completo e acabado do autoritarismo, esse permanente ciclo

    pendular entre populismo e interveno militar. O populismo foi a for-ma por excelncia da irrupo do proletariado na poltica, rompendo ocerco da questo social como caso depol c ia. Mas o populismo formapor inteiro dependente da tutela exercida pelo Estado sobre os sindica-tos, freqentemente atribuda a uma pura relao entre movimentooperrio e Estado, que esconde a parte da burguesia nessa organizaoda questo social. Formas gmeas, populismo e autoritarismo so cria-turas desse inacabamento, que deixaram o pas, beira do sculo XXI,com um a estrutura poltica infantilizada. Apenas nos ltimos dez anos,a rebeldia, a iniciativa da sociedade civil, sobretudo dos sindicatosope-rrios, o nascimento de uma classe mdia moderna, foi capaz e estsendo capaz de trazer o pas aos umbrais da modernidade. Classe sociale individualidade so, agora, perceptveis. visvel j um projeto quedispensa a tutela do Estado, mas no lhe d as costas. Uma nova cultura,hegemnica, nascida das duras experincias da ditadura, do novoope-rariado, das novas classes mdias, de uma sociedade plural, est emer-gindo. A hegemonia burguesa, inacabada, est dispensada de seu papel,que no soube cumprir. Mas o desastre que legou no foi pequeno e oatraso que gerou apenas pode ser reparado a duras penas.Referncias bibliogrficasALENCASTR.O, Luiz Felipe de. Memrias da Balaiada: introduo ao relato de GonalvesMagalhes. Novos Estudos C ebr a p , So Paulo, n.23, p.7-13,1989.

    . Le co m m e rce desvivants: traite d 'esclaves et"pax lusi tania" ans l 'Atlantique Sud.Paris, tese (doutoramento) apresentada Universit de Paris X, 1985/86. 3 v.

  • 8/3/2019 A questo regional - a hegemonia inacabada

    20/21

    CORN, G. (org.). Adorno. SoPaulo, tica, 1986.FURTADO, Celso. Formao econmica aoBrasil , 8 ed. So Paulo, Nacional, 1968.GRAMSCI, Antonio. Lo s intelectuales y la organizacin de la cultura. Buenos Aires, Ed .Lautaro, 1972. 183 p.HORKHEIMER, Max & ADORNO, Theodor W. La dialect ique de la raison. Paris,Gallimard, 1974.MARX, Karl. A chamadaacumulao primitiva. In: O Capital: crtica da economia pol t ica .Rio de Janeiro, CivilizaoBrasileira, 1980.NOVAES, Fernando A. Portugal e Brasil na crise do antigo sistema colonial (1777-1808), 4ed. SoPaulo, Hucitec, 1986.OLIVEIRA, Francisco de . Elegia para u m a Re(li)gio: Sudene, Nordeste. Planejamento e

    conflito de classes. Rio de Janeiro, Paz e Terra, 1977.POLANYI, Karl. Th e great transformation . Boston, Bencon, 1970.PRADO JR., Caio. Histria doBras i l , 7 ed. So Paulo, Brasiliense, 1962.REIS, Elisa Maria Pereira. The agrar ian roots o f author i tar ian modernization in Brazi l ,1880-1930. Cambridge, MIT, Tese de Doutoramento, 1979.SCHWARZ, Robert. Um mestre na periferia do Capitalismo: Machado de Assis. So Paulo,Duas Cidades, 1990.SINGER, Paul I. Desenvolvimento urbano e populao. So Paulo, Nacional, 1969.STEIN, Stanley J. Origens e evoluo da indstria txtil no Brasil - 1850-1950. Rio deJaneiro, Campus, 1957.VILLELA, Annibal Villa nova & SUZIGAN, Wilson. Poltica de governo e crescimento daeconomia brasileira (1889-1945). Rio de Janeiro, IPEA/INPES, 1973.WEBER, Max. A tica protestante c o esprito do Capital ismo. So Paulo, Pioneira,1981.

    ResumoA Questo Regional, que no Brasil classificamente refere-se ao Nordeste, constituiu-se nosculo XIX, como resultado da forma de resoluo das questes do mercado de trabalho eda terra, pela economia em expanso, no caso a cafeicultura capitalista do Sudeste. Depoisde ter anulado seus concorrentes, pela violnciafsica (represso s revolues regionais) epelo uso dos recursos fiscais para autoincentivar-se, numa forma privatista, a burguesiapaulista-cafeicultora revela-se incapaz parao exerccio da hegemonia.Os anos 40 e 50 destesculo foram a ltima oportunidade desperdiada para reparar umprocesso fratuado e re-solver a Questo Regional quando So Paulo no apenas sediava o poder industrial, comoconstitua a esperana. Novas foras sociais e polticas, complexamente maturadas nas duasltimas dcadas, so agora os principaisatores, aptos a resgatar o pas e a Nao para amodernidade, mas a herana da hegemonia inacabada deixou um longo roteiro dedesastres,

  • 8/3/2019 A questo regional - a hegemonia inacabada

    21/21

    que cabe, precisamente, desfazer. O estudo da Questo Regional, menos que um plaidoyernordestino, pode ser a chave para a compreenso daquela herana.

    AbstractThe Regional Question, which in Brazil traditionally refers to the Northeast, developedoriginally in the nineteenth century as a result of the manner in which economic expansion,namely capitalist coffee agriculture in southeastern Brazil, resolved the issue of land andlabor markets. After having eliminating its competitors, either through the use of force(suppression of regional revolts) or through fiscal incentives for their own private benefit,the coffee-growing bourgeoisie of So Paulo State proved incapable of exercisinghegemony effectively. During the 1940s and 50s, the last chance of mending a fracturedprocess and resolving the Regional Question were wasted, as this was a period when SoPaulo not only concentrated industrial power but also constituted the nation's principalhope. New social an d political forces, which have matured in a complex fashion over th e lasttwo decades, have become the main actors most capable of recovering the country and theNation in terms of modernity, though they inherit an incomplete hegemony that has left along line of disasters in its wake,.which are precisely what must be undone. An analysis ofth e Regional Question, rather than simply a northeastern plaidoyer, may provide the keyto understanding such an inheritance.

    Francisco de Oliveira, economista, professor titular do departamento de Socio-logia da Faculdade de Filosofia, Letras e Cincias Humanas (FFLCH) da USP,presidente do Centro Brasileiro de Anlise e Planejamento (Cebrap) e ps-dou-torado pela Escola de Altos Estudos em Cincias Sociais de Paris. Desenvolveuatividades profissionais na Sudene, empresas de consultoria, instituies de pes-quisas estrangeiras e programas internacionais de desenvolvimento. autor,entre outros, dos livros "Collor, a Falsificao da Ira" (1992), "OElo Perdi-do" (1987), "A Economia Brasileira" (1981) e "O Banquete e o Sonho"(1976)Conferncia do Ms do IEA feita pelo autor no dia 31 de maro de 1993.