A Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal Henriques

7
ALAGOA Memórias de Cascais em Ruínas João Aníbal Henriques

Transcript of A Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal Henriques

Page 1: A Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal Henriques

ALAGOAMemórias de Cascais em Ruínas

João Aníbal Henriques

Page 2: A Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal Henriques

A Quinta da Alagoa

Memórias de Cascais em Ruínas por João Aníbal Henriques

As ruínas da antiga Quinta da Alagoa, em Carcavelos, são o que resta de uma das mais antigas memórias de Cascais. A sua história rocambolesca e triste, marca de forma indelével o ataque cerrado de que tem sido vítima o património cultural municipal, num verdadeiro atentado contra a Identidade de Cascais. Em época de festas e foguetório eleitoral, vale a pena pensar... sobre as memórias de Cascais em ruínas.

Page 3: A Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal Henriques

A Quinta da AlagoaEdificada dentro do parque municipal a que dá nome, a Quinta da Alagoa situa-se muito perto do centro da povoação de Carcavelos, no  extremo  Nascente  do  concelho  de  Cascais.  Conjugando  dois estilos  arquitectónicos  distintos,  uma  parte  do  século  XVI  e  um palacete de finais do século XVIII, a Quinta da Alagoa pertenceu, até  1983,  aos  Morgados  da  Alagoa,  à  família  do  Eng.º  D.  Vasco Belmonte. Até essa altura, mercê da grande quantidade de vinha que possuía e da mata que envolvia quase toda a propriedade, foi um  dos  locais  importantes  da  freguesia  de  Carcavelos,  uma  vez que era aí, mais do que em qualquer outro lugar, que se produzia o  famoso  Vinho  de  Carcavelos,  que  possuía  projecção internacional  e  que  serviu  de  base  à  criação  de  uma  zona demarcada. Na  primeira  metade  da  década  de  oitenta  do  Século  XX,  por necessidades  várias,  a  família  de  Alagoa  acorda  com  a  Câmara Municipal de Cascais a cedência de todo o espaço. No protocolo assinado  nessa  época,  previa-se  a  manutenção  de  toda  a  zona rural, bem como a utilização do palacete e antigo convento como espaço  cultural,  ao  serviço  da  população  de  Carcavelos.  Ainda nesse documento, foi estipulada a adaptação de uma parte imóvel para sede dos escuteiros locais.

Page 4: A Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal Henriques

Dessa  data  até  1986,  não mais  se  ouviu  falar  da Quinta  da Alagoa,  sendo que,  dois  anos  após  a  transacção,  o antigo Jornal da Costa do Sol, em artigo publicado nas suas páginas, alerta as entidades competentes para o facto de numa dessas noites ter sido completamente destruído o recheio do imóvel, juntando mesmo uma fotografia do palacete, com portas e janelas abertas mas ainda com telhado. A então Câmara Municipal de Cascais, em resposta a tão categórico artigo, responde que não possuía verbas  para proceder a uma vigilância contínua ao local, pelo que, segundo a mesma entidade, a destruição que o Jornal da Costa do Sol   mostrava nas fotografias se ficava a dever a uma noite de vandalismo dos jovens locais! Após a urbanização da quase totalidade do espaço envolvente, a Quinta da Alagoa foi sujeita ao mais completo desprezo que  se prolongou ao  longo de  vários  anos.  Em 1990,  uma vez mais, o mesmo  Jornal  da Costa do Sol publica  novas  fotografias  do  sítio.  Nesta  data,  para  além  dos  problemas  já  anteriormente  mencionados, acrescenta-se o facto de ter desaparecido por completo o telhado do imóvel.

Page 5: A Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal Henriques

Em  Junho  de  1994,  inesperadamente,  o  então  executivo  da  C.M.C.  anuncia  publicamente  a  assinatura  de  um protocolo  com  uma  instituição  de  ensino,  visando  a  construção  neste  local  de  uma  universidade  privada.  O  alto patrocínio do Presidente da República, bem como a brevidade do anúncio, um dia antes da assinatura do protocolo, veio levantar alguma celeuma, uma vez que um terreno público passaria a ser explorado por particulares. Por outro lado,  os  trâmites  legais  não  foram  completamente  respeitados,  como  viria  a  ser  confirmado  pela  Assembleia Municipal em 01. 06. 1994, que declara a aprovação do protocolo como ilegal, baseado no facto de este órgão não ter  sido  consultado  antes  da  assinatura  do  mesmo,  como  estava  previsto  na  lei.  A  Associação  de  Moradores  da Quinta da Alagoa, que representava todos aqueles que compraram as suas casas nesse local com a condição de os terrenos  da  velha  quinta  se  destinarem  a  uso  público,  também  não  foram  consultados,  tendo  feito  um  abaixo-assinado para travar o projecto.

A Quinta da Alagoa

Page 6: A Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal Henriques

Neste ano de 2017, comemoram-se 27 anos desde este triste  incidente e  a  Quinta  da  Alagoa,  de  forma surpreendente,  mantém  o  estado de  abandono  e  de  ruína  que  a devastação  dessa  época  lhe  havia granjeado. Sendo  repositório  privilegiado  das memórias  daquela  localidade,  nela se centrando os testemunhos ainda vivos  da  exploração  outrora rendosa  do  afamado  Vinho  de Carcavelos,  e  sendo  o  palácio  e antigo  convento  peças  exemplares do  Património  Cascalense,  será aceitável o que por ali se continua a passar?

A Quinta da Alagoa

Page 7: A Quinta da Alagoa em Carcavelos - por João Aníbal Henriques

A Quinta da AlagoaMemórias de Cascais em Ruínas

João Aníbal [email protected]

Tel. +351 962 519 514