A racionalidade científica e a questão da objectividade RESUMO

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 Escola secundária Gabriel Pereira A racionalidade científica e a questão da objectividade A ciência dá conta dos factos, explicando-os por hipóteses. A descoberta das leis e teorias científicas é uma criação racional, um trabalho intelectual pois se essas leis se encontrassem na natureza o fi cari am tanto tempo por descobrir. A racionalidade manifesta-se pela sistematização dos factos, partindo de factos particulares e concretos para o geral. A ciência provém da razão, pois é feita pelas teorias construídas. A racionalidade científica apresenta os conceitos e as teorias como uma construção elaborada pela razão. O conhecimento não é empírico e só começa quando o cientista constrói as teorias para explicar os factos. Um facto é algo que acontece e para o entendermos precisamos de formular teorias. Os cientistas excluem tudo o que há de subjectivo nos factos. Galileu e Descartes foram dois dos homens que explicaram objectivamente os factos naturais, pela investigação segundo a razão. Galileu aposta na matematização do real, uma vez que a matemáti ca se apresenta como linguagem científica ideal, fazendo com que as investigações sejam rigorosas e objectivas (podem ser quantificadas). Descartes partilha deste modo de pensar, dando valor às qualidades pri már ias e objectivas. Ass im, a racionalidade científica apresenta-se aos cientistas como uma meta até à objectividade. Mas, será que a ciência retrata a realidade tal como ela é? Davi d Bohm considera que a ciência não passa de um sistema linguístico limitado para interpretar a realidade, ou seja, diz que a realidade nunca é o que dizemos, apenas um dos modos humanos de a int erpretar. Einstein evidencia o afastamento entre ciênci a como imagem do mundo real e a próp ria realidade. Assim, a ci ência é um modo do ser humano co mp reender e ex pl icar a organização do mundo. De todas as formas de aproximação ao real, a ciência aparece como a mais objectiva. Na medida em que os cienti stas sempre tr abalharam na pers pectiva de conseguirem explicar objectivamente a realidade, tentaram atender só ao que pod e ser rigorosamente qua ntificado, usando uma lin gua gem rig orosa na apresentação dos resultados de modo a não caírem na subjectividade. Mas, ao reduzir a objectividade a números, a ciência afasta-se da realidade . Assim, que sentido tem falar de objectividade na ciência? Deste modo, atribuiu- se um duplo sentido à objectividade: Object ividade forte é aludir à universalidade dos conceitos científicos que devem traduzir a verdade dos factos, sendo válidos para todos. A objectividade forte tem a ver com o al cance da re al idad e to tal pelo ho mem, send o inquestionável. Por outro lado, fala-se em object ividade fraca como sendo uma objectividade relativa, a propósito do estado actual da ciência, constituída por enu nci ado s aceite s pel as comuni dad es cie ntí ficas enq uanto não for em substituídos por outros. A complexidade de determinados aspectos da realidade e as limitações da condição humana impedem o conhecimento absoluto da realidade pois nem sempre é possível captar os fenómenos exactamente como eles são, nem todo o objecto de estudo é susceptível de tratamento rigoroso e o conhecimento cient ífico é relativo às possibilidades humanas. Os resultados científicos são como conceitos provisórios, podendo ser substituídos por outros mais credíveis. As noções ci entíficas são Ana Pasadas, nº 4, 11ºC

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A racionalidade científica e a questão da objectividade

A ciência dá conta dos factos, explicando-os por hipóteses. A descoberta das

leis e teorias científicas é uma criação racional, um trabalho intelectual pois se

essas leis se encontrassem na natureza não ficariam tanto tempo por

descobrir. A racionalidade manifesta-se pela sistematização dos factos, partindode factos particulares e concretos para o geral. A ciência provém da razão, pois

é feita pelas teorias construídas.

A racionalidade científica apresenta os conceitos e as teorias como uma

construção elaborada pela razão.

O conhecimento não é empírico e só começa quando o cientista constrói as

teorias para explicar os factos. Um facto é algo que acontece e para o

entendermos precisamos de formular teorias. Os cientistas excluem tudo o que

há de subjectivo nos factos.

Galileu e Descartes foram dois dos homens que explicaram objectivamente os

factos naturais, pela investigação segundo a razão. Galileu aposta na

matematização do real, uma vez que a matemática se apresenta comolinguagem científica ideal, fazendo com que as investigações sejam rigorosas e

objectivas (podem ser quantificadas). Descartes partilha deste modo de pensar,

dando valor às qualidades primárias e objectivas. Assim, a racionalidade

científica apresenta-se aos cientistas como uma meta até à objectividade.

Mas, será que a ciência retrata a realidade tal como ela é? David Bohm

considera que a ciência não passa de um sistema linguístico limitado para

interpretar a realidade, ou seja, diz que a realidade nunca é o que dizemos,

apenas um dos modos humanos de a interpretar. Einstein evidencia o

afastamento entre ciência como imagem do mundo real e a própria realidade.

Assim, a ciência é um modo do ser humano compreender e explicar aorganização do mundo. De todas as formas de aproximação ao real, a ciência

aparece como a mais objectiva.

Na medida em que os cientistas sempre trabalharam na perspectiva de

conseguirem explicar objectivamente a realidade, tentaram atender só ao que

pode ser rigorosamente quantificado, usando uma linguagem rigorosa na

apresentação dos resultados de modo a não caírem na subjectividade. Mas, ao

reduzir a objectividade a números, a ciência afasta-se da realidade .

Assim, que sentido tem falar de objectividade na ciência? Deste modo, atribuiu-

se um duplo sentido à objectividade:

Objectividade forte é aludir à universalidade dos conceitos científicos que

devem traduzir a verdade dos factos, sendo válidos para todos. A objectividadeforte tem a ver com o alcance da realidade total pelo homem, sendo

inquestionável. Por outro lado, fala-se em objectividade fraca como sendo

uma objectividade relativa, a propósito do estado actual da ciência, constituída

por enunciados aceites pelas comunidades científicas enquanto não forem

substituídos por outros. A complexidade de determinados aspectos da realidade

e as limitações da condição humana impedem o conhecimento absoluto da

realidade pois nem sempre é possível captar os fenómenos exactamente como

eles são, nem todo o objecto de estudo é susceptível de tratamento rigoroso e o

conhecimento científico é relativo às possibilidades humanas. Os resultados

científicos são como conceitos provisórios,podendo ser substituídos por outros mais

credíveis. As noções científicas são

Ana Pasadas, nº 4, 11ºC

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revisíveis, ou seja, são como hipóteses mais ou menos plausíveis. A ideia de

ciência como visão aproximada da realidade faz cada vez mais sentido.

“O lugar privilegiado que a ciência ocupa nos nossos dias não faz

dela um saber definitivo, antes sujeito a críticas e contínuas

revisões.”

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