A Rebelião das Trevas 4 - O Rei Cinza

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O Rei Cinzento

(The Grey King)

 Livro 4 de 5 na série "The Dark is Rising"  

Susan Cooper 

Tradução Não Oficial: Eduardo A. Chagas Jr.

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“W ill podia sentir a tensão aumentando por toda parte, avançando comouma lenta enchente incansável dos altos picos acima do fim do vale. A inimizadeestava começando a chocar-se contra ele. De forma lenta mas irresistível, a

 pressão da malevolência estava se acumulando até o ponto em que poderia desabar e subjugá-lo. Apenas os sentidos ocultos de um Antigo Escolhido poderiam sentir otrabalho do Escuro.. .”  

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Embora todos os personagens nesse livro sejam fictícios, os lugares são reais.Entretanto, tomei certas liberdades com a geografia de Vale Dysynni e Tal y Llyn, e nãohá nenhuma fazenda de verdade onde eu fiz Clwyd, a de Prichard e Ty-Bont.

A Brenin Llwyd eu não inventei.

Agradeço ao Rev. Kenneth Francis, Sr. J. L. Jones e Sra. Eira Crook por gentilmente checar meu Galês.

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 No dia dos mortos, quando o ano também morre, Deve o mais jovem abrir as colinas mais antigas Através da porta dos pássaros, onde quebra a brisa. Ali o fogo voará do garoto corvo, E os olhos prateados que enxergam o vento, E a Luz terá a Harpa de Ouro.

 No lago confortável jazem os Adormecidos, No Caminho de Cadfan onde gritam os falcões; Embora severas as sombras do Rei Cinzento caiam, Ainda cantando a harpa dourada guiará Para quebrar o sono deles e pedir que cavalguem.

Quando a luz da terra perdida retornar,Seis Adormecidos cavalgarão, seis Signos queimarão,

 E onde a árvore do solst ício de verão cresce alt iva Pela espada de Pendragon o Escuro cairá.

Y maent yr mynyddoedd yn canu, ac y mae'r arglwyddes yn dod.

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P ARTE UM : A H ARPA DOURADA

 A s Colinas Mais Antigas

O Caminho de Cadfan

O Garoto Corvo

F ogo Na Monatnha

Rocha dos Pássaros

O lhos Que Enxergam O vento

Raposa Cinza

P ARTE DOI S: OS ADORME CID OS 

 A Garota das Montanhas

O Rei Cinzento

O Lago Confortável 

O utensílio de pedra  

O Casebre No Pântano

O Despertar 

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Prólogo

“Você está acordado, Will? Will? Acorde, está na hora de seu remédio, amor.. .”  

O rosto balançou para frente e para trás como um pêndulo; levantou em um borrãorosado; caiu novamente; divididos em seis borrões rosados, todos girando como rodasloucamente. Ele fechou seus olhos. Podia sentir o suor frio em sua testa, pânico em suamente. Eu o perdi. Eu esqueci! Até mesmo na escuridão o mundo girava. Havia umenorme barulho em sua cabeça como o de água correndo, até que por um momento a vozirrompeu através dele novamente.

“Will! Só por um momento, acorde.. .”  

Era a voz de sua mãe. Ele sabia, mas não conseguia se concentrar. A escuridãogirava e rugia. Eu perdi alguma coisa. Se foi. O quê era? Era terrívelmente importante,tenho que lembrar, eu tenho!. Ele começou a fazer esforço, buscando pela consciência, ede muito longe ouviu a si mesmo gemendo.

“Aqui vamos nós.” Outra voz. O doutor. Um braço firme, apoiando seus ombros;metal frio em seus lábios, um líquido derramado cuidadosamente garganta abaixo. Eleengoliu automaticamente. O mundo rodopiou loucamente. O pânico veio transbordandode novo. Algumas palavras fracas passaram através de sua mente e desapareceram comoum pedacinho de uma música; sua memória apertou, sôfrega - “No dia dos mortos.. .”  

A Sra. Stanton observou o rosto branco ansiosamente, os olhos fechadosescurecidos, o cabelo úmido. “O quê ele disse?”  

De repente Will sentou-se, olhos arregalados e fixos. “No dia dos mortos…” Eleolhou para ela, suplicando, sem reconhecê-la, “É tudo que consigo me lembrar! Se foi!Tinha alguma coisa que eu tinha que lembrar, uma coisa que eu tinha que fazer, isso eramais importante do que qualquer coisa e eu perdi! Eu esqueci…” Seu rosto franziu e elecaiu desamparado, lágrimas descendo por suas bochechas. Sua mãe se inclinou sobre ele,os braços dela em torno dele, murmurando de modo acalentador como se ele fosse um bebê. Em poucos momentos ele começou a relaxar, e a respirar mais facilmente. Elaolhou para cima aflita.

“Ele está delirando?”  

O doutor balançou sua cabeça, seu rosto arredondado compassivo. “Não, ele passou disso. Fisicamente, o pior acabou. Isso é mais como um sonho ruim, umaalucinação  –  embora ele realmente possa ter perdido algo de sua memória. A mente podeter muita ligação com a saúde do corpo, mesmo em uma criança.. . Não se preocupe. Elavai dormir agora . E a partir de agora ficará melhor a cada dia.”  

A Sra. Stanton suspirou, acariciando a testa úmida de seu filho mais novo. “Ficomuito agradecida. Você tem vindo tantas vezes - não há muitos doutores que.. .”  

“Puf, puf ,” disse rapidamente o pequeno Dr. Armstrong, pegando o pulso de Willentre os dedos. “Somos todos velhos amigos. Ele foi um garoto muito, muito doente por algum tempo. Ele também vai ficar fraco por muito tempo  –  nem mesmo os mais jovens

se recuperam muito rápido desse tipo de coisa. Eu voltarei, Alice. Mas de qualquer 

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modo, cama por pelo menos outra semana, e nada de escola por um mês depois disso.Você pode mandar ele para algum lugar afastado? Que tal aquele primo seu em Wales,que levou Mary na Páscoa?”  

“Sim, ele poderia ir lá. Tenho certe za de que poderia. É muito bom em Outubro,também, e o ar do mar.. . Vou escrever para eles.”  

Will mexeu sua cabeça no travesseiro, resmungando, mas não acordou.

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Parte Um: A Harpa Dourada

As Colinas Mais Antigas

Ele lembrou que Mary havia dito, “Todos eles falam Galês, a maior parte dotempo. Até a tia Jen.”  

“Oh, Deus,” falou Will.  

“Não se preocupe,” sua irmã disse. “Mais cedo ou mais tarde eles trocam paraInglês, se perceberem que você está presente. Só lembre de ser paciente. E eles serãoextra gentis porque você esteve doente. Pelo menos eles foram comigo, depois da minhacaxumba.”  

Agora Will estava sozinho na ventilada plataforma cinza da pequena estação deTywyn, sob um fino chuvisco de uma chuva de Outubro esperando pacientementeenquanto dois homens de uniforme azul marinho da estrada de ferro discutiam de modosério em Galês. Um deles era pequeno e meio curvado, semelhante a um gnomo; o outrotinha uma leve aparência como a de um homem feito de massa.

O gnomo avistou Will. “Beth sy'n bod?” ele d isse.

“Hã - me desculpe,” disse Will. “Meu tio falou que me encontraria do lado de forado trem, na área da estação, mas não tem ninguém do lado de fora. Você poderia medizer se tem mais algum outro lugar ao qual ele podia estar se referindo?”  

O gnomo balançou a cabeça.“Então, quem é o seu tio?” perguntou o homem de rosto suave.  

“Sr. Evans, de Bryn -Crug. Fazenda Clwyd,” disse Will. O gnomo deu umarisadinha. “David Evans vai se atrasar um pouco, garoto. Você tem um bom sonhador  para um tio. David Evans va i se atrasar quando a Última Trombeta soar . Espere apenasum pouquinho. De férias, não é?” Escuros olhos brilhantes observaram inquisitivosdentro de seu rosto.

“Mais ou menos. Eu tive hepatite. O doutor disse que eu tinha que me afastar paraconvalescer.”  

“Ah!” O homem acenou com sua cabeça de modo sagaz . “Você parece um poucodebilitado, sim. Entretanto, veio ao lugar certo. O ar nessa costa é muito relaxante, elesdizem, muito relaxante. Mesmo nessa época do ano.”  

Um barulho de rugido surgiu de repente de além da bilheteria, e através da barreira Will viu um Land-Rover listrado de lama entrar no terreno. Mas a f igura queveio pulando dele não era a aquela do pequeno fazendeiro que ele lembrava vagamente;era um jovem magro e de aparência forte, balançando sua mão convulsivamente.

“Will, não é? Alô. Da me enviou para encontrar você. Sou Rhys.”  

“Como vai.” Will sabia que tinha dois primos Galeses crescidos, da idade de seus

irmãos mais velho, mas nunca tinha colocado os olhos em nenhum deles.

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Rhys levantou sua mala como se ela fosse uma caixa de fósforos. “Isso é tudo quevocê tem? Vamos indo, então.” Ele acenou com a cabeça para o homem da companhiaferroviária. “Sut 'dach chi?”  

“Lawn diolch,” disse o gnomo. “Caradog Prichard estava perguntando por você ouseu pai, por toda parte , essa manhã. Algo sobre cães.”  

“Uma pena que você não tenha me visto, hoj e,” Rhys disse.  

O gnomo riu. Ele pegou o bilhete de Will. “Fique logo bom, meu jovem.”  

“Obrigado,” disse Will.  

Empoleirado na frente da Land-Rover, ele olhou para a pequena cidade cinzaenquanto os limpadores de pára-brisa tentavam em vão, trick-crack, trick-crack, retirar afina chuva nebulosa do vidro. Lojas desertas alinhavam-se pela rua pequena, e umas poucas figuras curvadas em capas de chuva passavam apress adas; ele viu uma igreja, um pequeno hotel , ma is casas bem cuidadas. Então a estrada estava se alargando e elesestavam do lado de fora entre cercas enfeitadas, com campos abertos além, e colinas

verdes erguendo-se contra o céu: um céu cinza, sem formas com a neblina. Rhys pareciatímido; ele dirigiu sem nenhuma tentativa de conversar - embora o motor fizesse tanto barulho que a conversação teria sido difíci l de qualquer modo. Eles dirigiram passando por grupos de casas de campo silenciosas , as placas que anunciavam HÁ VAGAS ouCAMA E CAFÉ-DA-MANHÃ balançavam tristemente agora que a maioria dos visitantesdo feriado tinham ido embora.

Rhys virou o carro para o interior, em direção às montanhas, e quaseimediatamente Will teve uma estranha nova sensação de enclausuramento, quase deameaça. A pequena estrada era mais estreita aqui, como um túnel, com seus altos bancosde grama e cercas que erguiam-se como paredes verdes em ambos os lados. Sempre queeles passavam pela abertura onde uma cerca se abria para um campo através através de

um portão, ele podia ver a grande massa dos lados de colinas marrom esverdeadaselevando-se até o céu cinzento. E em frente, quando curvas na estrada exibiamrapidamente o céu aberto através das árvores, um conjunto mais alto de colinas verdesestendiam-se na distância, desaparecendo dentro de nuvens irregulares. Will sentiu queestava em uma parte da Inglaterra como nenhuma outra onde ele já estivera: um lugar secreto, isolado, com poderes escondidos em seus séculos encobertos sobre os quais elenão conseguia nem imaginar. Ele estremeceu.

 No mesmo momento, quando Rhys virava em uma curva fechada em direção a uma ponte estreita, o Land-Rover deu um estranho solavanco e inclinou para um lado, nadireção da cerca. Freiando com força, Rhys segurou firme no volante e parou em umângulo que pareceu indicar que uma roda estava em um buraco.

“Maldição!” ele disse com força, abrindo a porta.  

Will pulou atrás dele. “O que aconteceu?”  

“Ali está o que aconteceu.” Rhys apontou um dedo longo para a roda dianteira dolado mais próximo, seu pneu espremido contra uma pedra que projetava-se da cerca.“Olha só para isso. Rasgou ele todo, e esses pneus são tão grossos, você jamaisimaginaria. . .” A voz dele suave, meio rouca, estava elevada pelo espanto.

“A pedra estava na estrada?”  

Rhys balançou sua cabeça cacheada. “Vai para debaixo da cerca . Ela é imensa,

isso é só uma ponta.. . eu costumava sentar nessa pedra quando eu tinha metade do seu

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tamanho...” O espanto tinha banido sua timidez. “Então o que fez o carro pular? Essa é acoisa engraçada, pareceu pular, ela pareceu, ir direto nele, para o lado. Não foi o pneuestourando, que pareceu meio diferente.. .” Ele se endireitou, tirando a chuva que cobriasuas sobrancelhas. “Bem, bem. Agora, uma troce de pneu.”  

Will falou esperançoso, “Posso ajudar?”  

Rhys olhou para ele: para os olhos sombreados e o rosto pálido sob o espessocabelo castanho. Ele riu de repente, diretamente para Will pela primeira vez desde queeles tinham se conhecido; isso fez o rosto dele parecer um pouco diferente,despreocupado e jovem. “Você vem até aqui depois de estar tão doente, para se recuperar novamente, e eu vou fazer você sair na chuva para trocar um pneu velho? Sua mãe ficariafuriosa . Volte para o lugar aquecido, vamos lá.” Ele se moveu dando a volta até a portatraseira do pequeno carro quadrado, e começou a retirar ferramentas.

Will subiu obedientemente na frente do Land-Rover de novo; ele parecia uma pequena caixa quente, confortável, depois do vento gelado soprando o chuvisco em seurosto na estrada. Não havia som algum, ali entre os campos abertos sob as colinas que seagigantavam, apenas o suave lamento do vento nos fios telefônicos, e um ocasional béee

 profundo de uma ovelha distante . E o chocalhar de uma chave inglesa; Rhys estavaretirando os parafusos que seguravam o pneu reserva na porta de trás.

Will curvou sua cabeça de volta contra o assento, fechando seus olhos. Suaenfermidade o tinha mantido na cama por um longo tempo, em um longo nublado de dor,sofrimento e ligeiros rostos ansiosos, e embora ele estivesse de pé novamente por maisde uma semana, ainda ficava cansado muito facilmente. Às vezes era assustador sentir-sesem fôlego e exausto, depois de algo tão comum com subir um lance de escadas.

Ele sentou relaxado, deixando os suavens sons do vento e da ovelha que baliadeslizarem através de sua mente. Então outro som apareceu. Abrindo os olhos, ele viu noretrovisor lateral outro carro diminuindo a velocidade e parando atrás deles.

Um homem desceu, forte, volumoso, usando um chapéu achatado, e uma capa dechuva batendo sobre botas de borracha; ele estava rindo. Sem nenhuma boa razão, Willnão gostou do sorriso instantaneamente. Rhys abriu a traseira do Land-Rover novamente, para pegar seu macaco, e Will ouviu o recém-chegado saudá-lo em Galês; as palavraseram incompreensíveis, mas elas possuiam um tom zombeteiro inconfundível. Toda essa breve conversa, na verdade, f icou com significado tão aberto como se Will t ivesseentendido cada palavra.

O homem estava claramente zombando de Rhys por ter que trocar um pneu nachuva. Rhys respondeu, de modo curto mas sem mal-humor. O homem olhou para dentrodo carro deliberadamente, caminhando em frente para observar na janela; ele encarou

Will, sem sorrir, com estranhos olhos de cílios curtos, e perguntou alguma coisa paraRhys. Quando Rhys respondeu, uma das palavras foi “Will.” O homem na capa de chuvadisse mais alguma coisa, com um desdém que dessa vez foi direcionado para os dois, eentão sem aviso algum ele começou um discurso impressionante de rápidas palavras detom amargo, as palavras escorrendo agitadas e guturais como um rio turbulentotransbordando. Rhys pareceu não prestar atenção alguma. Finalmente o homem fez uma pausa, furioso. Ele se virou e marchou de volta para seu carro; então ele dir igiulentamente passando por eles, ainda encarando Will enquanto passava. Um cão preto e branco estava olhando sobre o ombro do homem, e Will viu que o carro era de fato umavan, cinza e sem janelas na traseira.

Ele deslizou para o banco do motorista e abriu a janela; o Land-Rover inclinou-se

levemente para cima debaixo dele quando Rhys levantou o macaco.

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“Quem era aquele?” Will disse.  

“Um colega chamado Caradog Prichard, lá de cima do vale.” Rhys bateu suas mãosenigmaticamente, e elvan tou de novo. “Um fazendeiro.”'  

“Ele poderia ter ficado e ajudado você.”  

“Ha!” Rhys disse. “Caradog Prichard não é muito bem conhecido por ajudar.”  

“O que ele disse?”  

“Ele me disse o quanto divertido me ver preso. E algumas coisas sobre umdesentendimento que temos. De nenhuma importância . E perguntou quem era você.” Rhysgirou sua chave inglesa, soltando os parafusos da roda, e olhou para cima com um tímidosorriso conspirador. “Foi muito bom que nossas mães não estivessem escutando, eu nãofui educado. Eu disse que você era meu primo e que não era da conta dele.”  

“Ele estava zangado?”  

Rhys fez uma pausa refletindo. “Ele disse –   Nós veremos quanto a isso .”  

Will olhou subindo a estrada do vale onde a van tinha desaparecido. “Essa é umacoisa engraçada para dizer.”  

“Oh,” Rhys disse, “esse é Caradog. O hobby dele é fazer as pessoas sentirem-sedesconfortáveis. Ninguém gosta dele, a não ser os seus cães, e ele nem ao menos gostadeles.”   Ele puxou a roda danificada. “Agora fique bem sentado.  Não vamos demorar muito.”  

 Na hora em que ele subiu de volta no banco do motorista, esfregando suas mãosem um farrapo oleoso, o chuvisco fino tinha se transformado em chuva de verdade; ocabelo escuro estava se enrolando molhado sobre sua cabeça. “Bem,” Rhys disse. “Esse é

o velho e bom clima saudando você, eu devo dizer. Mas isso não vai durar. Aindateremos uma boa amostra de sol, aparecendo e aceso, antes que o inverno caia sobrenós.”  

Will olhou para as montanhas, escuras e distantes, dançando no campo de visãoenquanto eles seguiam a estrada cruzando o vale. Nuvem branco-acinzentada pendia aoredor das colinas mais altas, os cumes delas invisíveis por trás da neblina. Ele disse, “Anuvem se espalhou ao redor do topo das montanhas. Talvez esteja se dispersando.”  

Rhys olhou casualmente. “O respirar do Rei Cinzento? Não, sinto muito dizer.Will, isso deve significar um mau sinal.”  

Will ficou sentado imóvel, um grande som veloz em seus ouvidos; agarrou a bordade seu assento até que o metal machucasse seus dedos. “Do que você a chamou?”  

“A nuvem? Oh, quando ela flutua dispersa desse jeito nós a chamamos o respirar do  Brenin Llwyd . O Rei Cinzento. Acredita-se que ele vive lá em cima na terra alta. É sóuma das antigas histórias.” Rhys olhou de lado para ele então freiou de repente; a Land-Rover diminuiu quase parando. “Will! Você está bem? Você parece branco como umfantasma. Você está se sentindo mal?”  

“Não. Não. Foi só que…” Will estava observando a massa verde das colinas. “Foi sóque... o Rei Cinzento, o Rei Cinzento.. . é parte de algo que eu conhecia, algo que eudeveria lembrar, para sempre.. . Pensei que tinha perdido. Talvez  –   talvez isso volte.. .”  

Rhys colocou o carro de novo em marcha. “Oh,” ele disse alegremente através do

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 barulho, “vamos deixar você melhor, você vai ver. Qualquer coisa pode acontecer naquelas velhas colinas .”  

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Parte Um: A Harpa Dourada

O Caminho de Cadfan

“Está vendo?” disse a Tia Jen. “Eu disse que ia clarear .”  

Will engoliu seu último bocado de bacon. Você não pensaria que esse era o mesmolugar. Incrível.” 

Os raios de sol da manhã jorraram como bandeiras através das janelas da compridacozinha da casa de fazenda. Eles cintilaram nas placas azuis de ardósia do chão, sobreum conjunto chinês com gravura de salgueiro no enorme guarda-louça negro; na prateleira de reluzentes canecas em forma de um homem gordo acima do fogão. Um arco-íris dançou sobre o teto baixo, lançado como um feitiço do sol vindo da alça da jarra deleite de vidro.

“Quente, também,” falou a Tia Jen. “Nós vamos ter um Indian summer para você.Will. E vamos engordar você um pouquinho também, meu querido. Coma mais um poucode pão.”  

“É maravilhoso. Eu não comia tanto faz meses.” Will observou a pequena Tia Jencom afeição quando ela correu para a cozinha. Falando corretamente, ela não era sua tia,mas uma prima de sua mãe; as duas tinham crescido como amigas íntimas, e aindatrocavam muitas cartas. Mas Tia Jen havia deixado Buckinghamshire fazia muito tempo;era uma das lendas mais românticas na família, a história de como ela foi para Wales passar um feriado, se apaixonou perdidamente por um jovem fazendeiro Galês , e nunca

mais foi para casa de novo. Agora ela até soava Galesa  –  e parecia, com sua pequenaforma rechonchuda e brilhantes olhos escuros.

“Onde está o Tio David?” e le disse.

“Lá f ora em algum lugar no quintal. Essa é uma época do ano trabalhosa com asovelhas, as fazendas da colina enviam os animais jovens aqui para baixo por causa doinverno... em breve ele terá que dirigir até Tywyn, ele quis saber se você gostaria de ir também. Você poderia ir até a praia, nesse sol. ”  

“Legal.”  

"Mas atenção, nada de natação,” a Tia Jen falou depressa.Will r iu. “Eu sei, estou frágil. Tomarei cuidado... eu adoraria ir. Posso mandar um

cartão para Mamãe, dizendo que cheguei aqui inteiro.”  

Um barulho e uma sombra surgiram na porta; era Rhys, desgrenhado, tirando umsuéter . “Bom dia , Will . Você deixou um pouco de café para nós?”  

“Você está atrasado,” Will falou de modo atrevido.

“Atrasado, não é?” Rhys olhou para ele fingindo raiva. “Escute só ele –  e nós láfora desde as seis com apenas uma velha xícara de chá nas entranhas. Amanhã de manhã,John, vamos arrancar esse jovem macaco da cama e levá-lo com agente. ”  

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Atrás dele uma voz profunda deu risadas. A atenção de Will foi atraída por umrosto que ele não tinha visto antes.

“Will, esse é John Rowlands. O melhor homem com ovelhas em Wales.”  

“E com a harpa também,” falou a Tia Jen.

Era um rosto magro, com os ossos abaixo dos olhos destacados, e muitas linhas emtoda parte, agora enrugadas ao redor dos olhos por causa do sorriso. Olhos escuros,castanhos como café; cabelo curto escuro, marcado em ciza nos lados; a boca de forma bem modelada do Celta. Por um momento Will observou, fascinado; havia uma curiosaforça indefinivel nesse John Rowlands, mesmo que ele não fosse um homem grande.

“Croeso , Will ,” falou John Rowlands. “Bem-vindo a Clwyd. Ouvi falar de você por sua irmã, na primavera passada.”  

“Minha nossa,” disse Will com inimaginável surpresa, e todos riram.  

“Nada de ruim,” Rowlands falou, sorrindo. “Como está Mary?”  

“Ela está bem,” Will disse. “Disse que teve ótimos momentos aqui, na últimaPáscoa. Eu também estava longe naquela época. Em Cornwall.”  

Ele ficou em silêncio por um momento, seu rosto repentinamente distraído evazio; John Rowlands olhou para ele rapidamente, então sentou-se na mesa onde Rhys jáestava posicionado sobre o bacon e os ovos. O tio de Will entrou, carregando um montede papéis.

“Cwpanaid o de, cariad” falou a Tia Jen, quando viu ele.

“ Diolch yn fawr,” falou David Evans, pegando a xícara de chá que ela oferecia para ele. “E então eu devo partir para Tywyn. Você quer ir, Will? ”  

“Sim, por favor.”  

“Devemos levar umas duas horas.” O som da voz dele era sempre muito preciso;ele era um homem pequeno de boa aparência, com traços bem definidos, mas às vezescom um vago olhar reflexivo em seus olhos escuros. “Tenho que ir ao banco, e ver LlewThomas, e também tem o pneu no vo para a Land-Rover. O carr o que saltou no ar e rasgouo seu prório pneu.”  

Rhys, com sua boca cheia, fez um barulho de protesto estrangulado. “Agora, Da,”ele disse, engolindo. “Eu sei como ficou parecendo, mas eu realmente não sou louco, nãotinha nada que pudesse fazer ela desviar para o lado daquele jeito e bater na pedra. A

não ser que a barra da caixa de direção esteja com defeito. ”  “Não tem nada de errado com a direção daquele carro,” David Evans falou.  

“Então muito bem!” Rhys estava indignado. “Eu digo que ela simplesmente virousem nenhum motivo. Pergunte a Will.” 

“É verdade,” disse Will. “O carro simplesmente deu u m tipo de pulo para o lado e bateu naquela pedra. Não vejo o que poderia ter feito ele pular, a não ser que tenha passado em cima de uma pedra solta na estrada  –  mas essa teria que ser uma pedra bemgrandinha. E não tinha sinal de nenhuma em lugar algum .”  

“Vocês dois já são grandes aliados,  posso ver ,” falou o tio dele . Ele esvaziou sua

xícara de chá, observando os dois por cima dela; Will não tinha certeza se ele estava

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rindo para eles ou não . “Bem, bem, vou mandar checar a direção de qualquer modo.John, Rhys, agora aquela cerca extra para i fr idd   –  ”  

Eles passaram a falar em Galês, sem pensar. Isso não incomodou Will. Ele estavaocupado tentando afastar uma pequena voz no fundo de sua mente, uma pequena vozirracional com uma sugestão irracional . “Se eles querem saber o que fez o carro pular,”essa parte de sua mente estava sussurrando para ele, “ porque eles não perguntam aCaradog Prichard?”  

David Evans deixou Will em uma pequena banca de jornais, onde ele poderiacomprar cartões postais, e saiu para deixar a Land-Rover em uma garagem. Will comprouum cartão que exibia um lago escuro sinistro cercado por montanhas de aparência bastante Galesa, escreveu nele “CHEGUEI AQUI! Todos mandam lembranças,” e enviou para sua mã e através do Correio, uma solene e inconfundível contrução de t i jolosvermelhos em uma esquina da Tywyn High Street. Então ele olhou ao redor, imaginando para onde ir em seguida.

Escolhendo aleatoriamente, esperando ver o mar, ele virou subindo para direitasubindo pela Rua Principal que fazia uma curva. Em pouco tempo descobriu que não

haveria mar algum nesse caminho: nem qualquer outra coisa a não ser lojas, casas, umcinema com uma imponente frente Vitoriana pomposamente rotulada ASSEMBLYROOMS, e o portão coberto por um telhado de uma igreja.

Will gostava de examinar igrejas, antes que sua doenças o tivesse atingido, ele edois amigos da escola tinham rodado por todo o Vale Thames para fazer polimento emmetal. Ele seguiu na pequena entrada para a igreja, para ver se podia haver alguma coisade metal aqui.

A entrada da igreja tinha um teto baixo, profundo como uma caverna; do lado dedentro, a igreja era sombria e fria, com robustas paredes pintadas de branco e massivos pilares brancos. Ninguém estava lá. Will não encontrou nada em metal para fazer 

 polimento, apenas monumentos para benfeitores impronunciáveis, como Gruffydd ap Adda do Ynysymaengwyn Hall . Nos fundos da igreja, no seu caminho de saída, ele notouuma estranha pedra cinza comprida colocada em uma ponta, com marcas gravadas antigasdemais para que ele decifrasse. Ele observou por um longo momento; pareceu como um presságio de algum tipo, embora ele não t ivesse a mínima idéia de que significância. Eentão, no pátio em sua saída, olhou distraidamente para o quadro de avisos com seusamontoados de notícias da paróquia, e ele viu o nome: Church of St.Cadfan .

A tontura surgiu novamente em seus ouvidos como o vento; atordoante, ele caiusobre o banco baixo no pátio. Sua mente girou, de repente ele estava de volta naturbulenta confusão de sua doença, quando ele tinha percebido que algo, algo muito precioso, t inha escapado ou sido retirado de sua memória . Palavras f lutuavam através de

sua consciência, sem ordem ou sentido, e então uma frase veio até a superfície como um peixe que saltava: “ No Caminho de Cadfan ondegritam os falcões .. .” Sua mente segurouisso de modo ávido, buscando por mais. Mas não houve mais. O turbilhão se desfez; Willabriu seus olhos, respirando de forma mais estável, a tontura desparecendogradualmente. Ele disse devagar, em voz alto, “ No Caminho de Cadfan onde gritam osfalcões.. . No Caminho de Cadfan... ” Sob o sol do lado de fora as lápides cinzentas e agrama verde brilharam, com o cintilar de jóias de luz aqui e ali por causa de gotas dechuva que ainda pendiam das hastes mais longas do dia anterior . Will pensou, “ No diados mortos.. . o Rei Cinzento . . .” devia ter algum tipo de aviso a respeito do ReiCinzento.. . e o que é Caminho de Cadfan?”  

“Oh,” ele disse bem alto com uma fúria súbita, “se ao menos eu pudesse me

lembrar!”  

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Ele se levantou e voltou até a banca de jornais. “Por favor,” ele disse, “tem umguia da igreja, ou da cidade?”  

“Nada em Tywyn,” disse a moça de bochechas vermelhas da banca, em seu ritmadoGalês sibilante . “Você está atrasado demais para a estação,.. mas o Sr. Owen tem umfolheto à venda na igreja, eu acho. E é isso, se você quiser. Cheio de adoráveis passeios.” Ela mostrou a ele um Guia para o Norte de Gales , por trinta e cinco pences.

“Bem,” disse Will, contando seu dinheiro de modo relutante. “Sempre podereilevar ele para casa mais tarde, eu imagino. ”  

“Seria um presente muito bom,” falou seriamente a garota. “Ele tem algumas fotoslindas. E olhe só para a capa!”  

“Obrigado,” disse Will.  

Quando olhou para o pequeno livro, do lado de fora, ele dizia que os Saxõestinham se estabelecido em Tywyn em A.D. 516, ao redor da igreja construída por St.Cadfan da Bretanha and his holy well, e que a pedra gravada na igreja er considerada a

mais antiga peça com escrita em Galês que existia, e podia ser traduzida:“O corpo de Cyngen está no lado entre o local onde as marcas estar ão. No refúgio

debaixo da colina estende-se Cadfan, said that it should enclose the praise of the earth.Que ele descanse sem ser maculado .” Mas não dizia uma palavra sobre o Caminho deCadfan. Nem, quando ele verificou, o folheto na igreja.

Will pensou: Não é Cadfan que eu quero, é o Caminho dele. Um caminho é umaestrada. Um caminho onde gritam os falcões deve ser uma estrada sobre um pântano, ouuma montanha.

Isso afastou até o litoral de sua mente, quando mais tarde ele caminhoudistraidamente por algum tempo entre os quebra-ondas da praia. Quando encontrou comseu t io para a viagem de volta até a fazenda, ele também não encontrou ajuda alguma.

“Caminho de Cadfan?” falou David Evans. “Você pronuncia Cadvan, a propósito;um f tem sempre o som de v em Galês.. . Caminho de Cadfan... Não. Isso realmente soaum pouco familiar, você entende. Mas eu não poderia dizer, Will. John Rowlands ao qualse deve perguntar coisas como essa. Ele tem uma mente como uma enciclopédia, o Johntem mesmo,” cheia de coisas antigas .”  

John Rowlands estava fora em algum lugar da fazenda, ocupado, então enquantoisso Will tinha que se conter com um mapa bem dobrado. Ele saiu com ele naquela tarde,sozinho no vale ensolarado, para caminhar pelos limites da fazenda; o tio dele os tinhamarcado grosseiramente a lápis para ele. Clwyd era uma fazenda da baixada, estendendo-

se pela maioria do vale do Rio Dysynni; uma parte de suas terras era pantanosa, perto dorio, e uma parte estendia-se subindo o lado cheio de pedras soltas da montanha, verde,cinza e marrom samambaia. Mas a maioria era terra de um luxuriante vale verde, fértil, eamistosa, parte dela deixada recém-arada desde a colheita da safra desse ano, e todo oresto servindo como pasto para o robusto gado Preto Galês. Na terra de montanha, apenasas ovelhas pastavam. Algumas das ladeiras mais baixas tinham sido aradas, muitoembora até mesmo elas precessem tão escarpadas para Will que ele ficava imaginandocomo um trator fazendo o arado poderia evitar virar. Acima destas, nada crescia a nãoser samambaia, grupos de pequenas árvores retorcidas pelo vento, e grama; a montanhaerguia-se para o céu, e o profundo grito sem objetivo de uma ovelha surgia de vez emquando flutuando no meio da tarde quente.

Foi por outro som que ele encontrou John Rowlands, inesperadamente. Enquanto

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ele estava caminhando através de um dos campos de Clwyd em direção ao rio, com umaalta cerca viva de um lado dele e o escuro solo arado do outro, ele ouviu um leve somabafado, em algum lugar em frente. Então de repente ele viu a figura em uma curva,movendo-se firme e ritmadamente como se estivesse em uma lenta dança proposital. Ele parou e observou, fascinado. Rowlands, his shir t half -open and a red kerchief t ied roundhis neck, was making a transformation. Ele se movia gradualmente pela cerca, primeiro

cortando aqui e ali com uma ferramenta assassina semelhante a um cruzamento entre ummachado e um cutelo de pirata, então abaixando, puxando e interweaving whatever remained of the long, rank growth. Diante dele, a cerca viva crescia alta e selvagem,grandes braços se esticando descontrolados em todas as direções enquanto a hazel andhawthorn faziam o melhor que podiam para crescer into full-fledged trees. Atrás dele,enquanto se movia por seu caminho cruel, ele deixava uma cerca limpa: montes de galhoscortados erguidos bem alto como lanças, com cada quinto galho curvado impiedosamenteem ângulos retos e entrelaçados pelo resto como se fosse parte of a hurdle.

Will observou, em silêncio, até que Rowlands percebeu a presença dele e seendireitou, respirando pesadamente. Ele soltou o lenço vermelho da cabeça, esfregou suatesta com ele e o amarrou frouxo ao redor de seu pescoço. No seu rosto moreno marcado,

as linhas ao lado dos olhos escuros ergueram-se só um pouco quando ele olhou para Will.“Eu sei,” ele disse, a voz de veludo solene. “Você está pensando, aqui está essa

maravilhosa cerca viva cheia de folhas e hawthorn berries, elevando-se até o céu, e aquiestá esse homem fazendo-a em pedaços como uma açougueiro retalhando uma ovelha,transformando-a em uma pequena cerca nua horrível, toda fina e sem graça. ”  

Will sorriu. “Bem,” ele disse. “Sim, algo assim.”  

“Ah,” falou John Rowlands. Ele se agachou, rep ousando a lâmina de seu machadono chão entre seus joelhos e apoiando-se nele. “ Duw , é muito bom que você tenha vindo.Eu não consigo ir tão rápido como costumava. Bem, deixa eu te dizer agora, sedeixarmos essa adorável cerca viva do jeito que está agora, e ela ficar por tempo demais,

tomaria conta da metade do campo antes dessa época no ano que vem. E mesmo que euesteja cortando fora sua cabeça e metade de seu corpo, todos esses tristes galhoscurvados que você vê irão gerar tantos braços novos na próxima primavera que você malvai notar qualquer diferença.”  

“Agora que você mencionou isso,” disse Will, “sim, é claro , as cercas vivas são asmesmas em casa, em Bucks. Só que na verdade eu nunca tinha visto ninguém fazendoisso.”  

“Estava de olho nessa cerca v iva faz um ano,” John Rowlands disse. “Ela foideixada no inverno passado. Pois ela é como a vida. Will  –  às vezes você parece ter queferir alguma coisa para lhe fazer algo de bom. Mas nem sempre um grande ferimento,

graças a Deus.” Ele f icou de pé novamente. “Você já parece mais saudável, ibachgen . Osol Galês é bom para você, ”  

Will olhou para o mapa em sua mão. “Sr. Rowlands,” ele disse, “você pode medizer alguma coisa sobre o Caminho de Cadfan? ”  

O Galês estivera correndo um forte dedo moreno pela extremidade de suaferramenta; houve uma pausa de um segundo no movimento, e então o dedo continuou semovendo . Ele disse tranqüilamente, “Agora o que colocou isso em sua cabeça,  possosaber?”  

“Eu realmente não sei. Acho que devo ter lido isso em algum lugar. Existe um

Caminho de Cadfan?”  

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“Oh, sim, com certeza,” John Rowlands disse. “ Llwybr Cadfan . Não há segredo arespeito disso, embora a maioria das pessoas nesses dias tenha esquecido. Acho que temuma Estrada Cadfan em um dos novos Tywyn housing estates instead.. . St. Cadfan eraum tipo de missionário, da França, nos dias em que a Bretanha, Cornwall e Gales tinhamfortes laços. Fourteen hundred years ago ele tinha sua igreja em Tywyn, and a holy well –  e diziam que ele tinha fundado o monastério em  Enll i , que é Bardsey em Inglês, as

well. Você conhece a Ilha de Bardsey, aonde os observadores de pássaros vão, lá fora da ponta de North Wales? As pessoas costumavam visitar Tywyn e seguir até Bardsey  –  eentão, dizem que há uma antiga estrada de peregrinos que vai sobre a montanha deMachynlleth até Tywyn, passando por Abergynolwyn. E pelo lado desse vale, semdúvida. Ou talvez mais alto. A maioria dos antigos caminhos seguem por lugareselevados, eles ficavam mais seguros ali. Mas agora ninguém sabe onde encontrar oCaminho de Cadfan.”  

“Entendo,” disse Will. Era mais do que suficiente; ele sabia que agora ele seriacapaz de encontrar o Caminho, com o tempo. Mas de modo crescente ele sentia que havia pouco tempo restando; que isso era urgente para sua busca, tão estranhamente perdido por sua memória , para ser consumado muito em breve .  No dia dos mortos . . . E qual era a

 busca, e onde, e porque? Se ao menos ele pudesse lembrar .. .John Rowlands virou em direção da cerca viva novamente. “Bem…”  

“Vejo você mais tarde,” disse Will. “Obrigado. Estou tentando caminhar por todaa extremidade da fazenda.”  

“Vá com calma. Essa é uma longa caminhada para um convalescente, toda ela. ”  Rowlands ficou ereto de repente, apontando um dedo para ele fazendo um aviso. “E sevocê for subir o vale e chegar até o final de Craig yr Aderyn  –  por aquele caminho  –  certifique-se de checar as fronteiras em seu mapa, e não saia da terra de seu tio. Alémdali fica a fazenda de Caradog Prichard, e ele não é gentil com invasores. ”  

Will pensou nos olhos maliciosos de cílios curtos no rosto zombeteiro que eletinha visto da Land-Rover com Rhys. “Oh,” ele disse. “Caradog Prichard. Tudo bem.Obrigado.  Diolch yn fawr . Está certo?”  

O rosto de John Rowlands se encheu de rugas ao rir, “Nada mal,” ele disse. “Mastalvez você devesse ficar só com idiolch.”  

A suave batida de seu machado diminuiu atrás de Will e se perdeu no zunido dosinsetos dentro da tarde ensolarada, com os dispersos gritos de aves e ovelhas . Ocaminho pelo qual Will estava seguindo conduzia pelo lado do vale, with the grey-greensweep da montanha erguendo-se sempre em frente a ele; ela bloqueava mais e mais docéu enquanto ele caminhava. Logo ele estava começando a subir, e então a samambaia

começou a cobrir a grama em um carpete murmurante da altura dos joelhos, comamontoados de tojo verde pontudo, suas flores amarelas ainda claras em meio aos ferozestalos espetantes. Nenhuma cerca viva subia a montanha, apenas uma parede de rochaseca, curvando-se a cada contorno, quebrada de vez em quando por um degrau baixo o bastante para homens mas alto demais para ovelhas .

Will sentiu que estava perdendo o fôlego muito mais rapidamente do que onormal. Logo que ele se aproximou de uma pedra arredondada do tamanho certo parasentar, ele se curvou agradecido de modo ofegante. Enquanto ele esperava para recuprerao fôlego, olhou o mapa novamente. A terra da fazenda Clwyd parecia terminar cerca demetade do caminho subindo a montanha  –  mas não havia, é claro, nada para garantir queele chegaria até o Caminho de Cadfan antes que atingisse a fronteira. Ele começou a

desejar um pouco nervosamente que o resto da montanha acima não fosse terra de

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Caradog Prichard.

Enfiando o mapa de volta em seu bolso, ele seguiu em frente, mais alto, atravésdas folhagens estalantes da samambaia. Agora ele estava subindo diagonalmente,enquanto o declive ficava mais escarpado. Pássaros voavam para longe dele agitados; emalgum lugar lá em cima, uma cotovia estava lançando sua forte canção pulsante. Então derepente, Will começou a ter uma inexplicável sensação de que estava sendo seguido.

Ele parou abruptamente, dando meia volta. Nada se moveu. A ladeira marromsamambaia jazia tranqüila sob o sol, com protuberâncias de pedra branca cintilando aquie ali. Um carro zuniu passando na estrada abaixo, invisível através das árvores; agora eleestava alto acima da fazenda, olhando sobre a linha prateada do rio até as montanhas seelevando em verde, cinza e marrom por trás, e finalmente desparecendo no azul dentro dadistância. Mais longe subindo o vale o lado da montanha no qual ele ficava estavacoberto de verde escuro com plantações de árvores de abeto, e além daquelas ele podiaver um grande precipício negro-acinzentado elevando-se, um cume soli tár io, menor doque as montanhas ao redor ainda dominando toda a terra ao redor. Alguns poucos grandes pássaros negros circulavam seu topo; enquanto ele observava, eles se juntaram na formade um longo V, como os gansos fazem, e voaram sem pressa para longe sobre a montanhana direção do mar.

Então, de algum lugar próximo, ele ouviu um curto latido agudo de um cão.

Will deu um pulo. Nenhum cão costumava ficar sozinho em uma montanha. Mesmoassim não havia sinal algum de outro ser humano em parte alguma. Se alguém estava nas proximmidades, porque estava se escondendo?

Ele se virou para continuar subindo a ladeira, e só então ele viu o cão. Ele ficouimóvel. Estava posicionado diretamente acima dele, alerta, esperando; um cão branco, brano em toda parte a não ser uma pequena mancha preta em sua costa, como uma cela.Exceto pelo curioso tip de coloração, parecia um cão pastor Galês tradicional, forte e

com uma focinheira, de pernas e cauda peludas: uma versão menor de collie. Willestendeu sua mão. “Aqui, garoto,” ele disse. Mas o cão mostrou seus dentes, e deu um profundo rosnado baixo ameaçador bem no fundo de sua garganta .

Will arriscou dar alguns passos pequenos subindo a ladeira, na diagonal, nadireção em que estava indo antes. Se agachando sobre o estômago, o cão se moveu comele, os dentes brilhando, a língua para fora. O comportamento era estranho e ainda assimfamiliar, e de repente Will percebeu que tinha visto isso na noite anterior nos dois cãesque estavam ajudando Rhys a conduzir as vacas para serem ordenhadas, na fazenda deseu tio. Era o movimento de controle  –  o agachar alerta com o qual um cão pastor selança, para organizar os animais que está conduzindo para uma determinada direção.

Mas para onde esse cão estava tentando conduzí-lo?Claramente, só tinha um jeito de descobrir. Dando uma respirada profunda, Will

se virou para encarar o cão e começou a subir propositalmente a ladeira. O cão parou, elongo e profundo rosnado começou em sua garganta novamente; ele se agachou, curvadocomo se todas as suas quatro patas estivessem plantadas no chão como árvores. O ranger dos dentes brancos disse, muito claramente:  Por esse caminho não . Mas Will, cerrandoseus punhos, continuou subindo. Ele mudou levemente de direção de modo a passar pertodo cão sem tocá-lo. Mas então inesperadamente, com um latido curto, o cão se atirou emdireção a ele, se agachando, e Will pulou involuntariamente  –  e perdeu o equilíbrio. Elecaiu de lado na encosta íngreme da colina. Esticando seus braços desesperadamente paraevitar cair rolando, ele escorregou e bateu de cabeça para baixo por algumas jardas, o

terror alto como um grito em sua cabeça, até que sua queda foi interrompida por algo

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sacudindo furiosamente em sua manga. Ele se chocou contra uma pedra, com um baqueentorpecedor.

Ele abriu os olhos. A linha onde a montanha encontrava o céu estava girandodiante dele. O cão estava muito perto, seus dentes fixos na manga de sua jaqueta, puxando ele de volta , respiração quente, nariz preto e olhos vidrados. E ao ver os olhos,o mundo de Will girou e girou tão rápido que ele pensou que ainda devia estar caindo. Orugido estava em seus ouvidos novamente, e todas as coisas normais de repente setornaram caos. Pois os olhos desse cão não eram como nenhum que ele já tivesse visto;onde deveriam ser castanhos, eram branco-prateados: olhos da cor da cegueira, colocadosem animal que conseguia enxergar. E enquanto os olhos prateados olhavam dentro dosdele, e a respiração do cão ofegava quente em seu rosto, em um confuso instante Willlembrou tudo que sua doença havia tirado dele. Lembrou dos versos que haviam sidocolocados dentro de sua cabeça como guia para a solitária e triste busca que agora eleestava destinado a seguir; lembrou quem ele era e o que ele era  –  e reconheceu a formaque sob a máscara da coincidência tinha trazido ele até aqui em Gales.

Ao mesmo tempo outro tipo de inocência se desfez, e ele também estavaconsciente de um imenso perigo, como uma grande sombra sobre o mundo, esperando por ele através de toda essa terra estranha de vales verdes e picos de montanha escuros pelanévoa. Ele era como um comandante de guerra a quem de repente eram dadas novidades:tornando-se ciente de repente, como não estivera um momento antes, de que logo alémdo horizonte um grande e ameaçador exército aguardava, preparando-se para para seerguer como uma grande onda e arrastar todos aqueles que ficassem em seu caminho.

Tremendo de espanto, Will esticou seu outro braço e acariciou as orelhas do cão.Ele soltou sua manga e ficou olhando para ele, língua rosada para fora de uma boarosada.

“Bom cão,” Will disse. “Bom cão.” Então uma figura escura bloqueou o sol, e elerolou rapidamente para sentar e ver quem estava parado ali delineado contra o céu pelo

sol.

Uma clara voz Galesa disse: “Você está ferido?”  

Era um garoto. Ele estava bem vestido no que parecia um uniforme escolar: calçascinza, camisa branca, meias vermelhas e gravata. Ele tinha uma mochila pendurada sobreum ombro, e parecia ter mais ou menos a mesma idade de Will. Mas havia uma qualidadede estranheza nele, assim como acontecia com o cão, que fez a garganta de Will ficar seca e o deixou imóvel com um olhar vidrado; pois esse garoto era desprovido de cor,como uma concha esbranquiçada pelo sol de verão. O cabelo dele era branco, e suassobrancelhas. Sua pele era pálida. O efeito era tão impressionante que por um momentoWill ficou imaginando se o cabelo foi esbranquiçado propositalmente  –  feito com algum

objetivo, para criar surpresa e espanto. Mas a idéia desapareceu tão rapidamente quantohavia surgido. A mistura de arrogância e hostilidade que o encarava mostrou claramenteque esse não era de modo algum aquele tipo de garoto.

“Estou bem.” Will ficou de pé, balançando, jogando pedaços de samambaia de seucabelo e de suas ropuas. Ele disse, “Você deveria ensinar ao seu cão a dife rença entre pessoas e ovelhas.”  

“Oh,” disse o garoto de modo indiferente, “ele sabia o que estava fazendo.  Nãoiria lhe causar nenhum mal.” Ele disse algo em Galês para o cão, e ele trotou de voltasubindo a colina e sentou-se ao lado dele, observando os dois.

“Bem” - Will começou, e então parou. Tinha olhado para o rosto do garoto e

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descobriu ali outro par de olhos que tiravam seu equilíbrio. Não era, dessa vez, aquelaaparência sobrenatural que tinha visto no cão; foi a súbita surpresa de sentir que os tinhavisto antes em algum lugar. Os olhos do garoto eram de uma estranha, cor douradamarrom-amarelada como os olhos de um gato ou de um pássaro, margeado por cílios tão pálidos que pareciam quase invisíveis , eles possuiam um brilho frio impenetrável .

“O garoto corvo ,” ele disse instantaneamente. “É quem você é, é do que ele techama, o antigo verso. Agora eu sei ele todo, consigo me lembrar. Mas corvos são pretos. Porque ele chama você assim?”  

“Meu nome é Bran,” disse o garoto, sem sorrir, olhando alerta pa ra ele. “BranDavies. Eu moro lá embaixo na fazenda do seu tio.”  

Will foi pego de surpresa por um momento, por causa da nova informação dele.“Na fazenda?”  

“Com meu pai. Em uma pequena casa. Meu pai trabalha para David Evans.” Ele piscou na luz do sol, t irou um par de óculos escuros de seu bolso, e colocou-os; os olhosmarrom-amarelados desapareceram na sombra. Ele disse, exatamente no mesmo tom de

conversa, “Bran realmente é a palavra em Galês para corvo. Mas pessoas chamadas Brannas histórias antigas também são relacionadas com o corvo. Tem um monte de corvosnessas colinas. Então acho que você pode me chamar de “o garoto corvo” se desejar .Como um tipo de licença Poética.”  

Ele tirou a mochila de seu ombro e sentou-se em uma pedra ao lado de Will,mexendo na alça de couro.

Will disse, “Como sabia quem eu era? Aquele David Evans é meu tio?”  

“Eu também poderia perguntar como você me conhecia,” Bran disse . “Como vocêsabia, para me chamar de o garoto corvo? ”  

Ele correu um dedo para cima e para baixo da alça. Então ele sorriu de repente,um sorriso que iluminou seu rosto pálido como fogo ardendo rapidamente, e ele tirou denovo os óculos escuros.

“Vou lhe dar as respostas para as duas perguntas, Will Stanton,” ele disse. “É porque você não é exatamente humano, e sim um dos Antigos Escolhidos da Lu zcolocado aqui para conter o terrível poder do Escuro. Você é o último daquele círculo anascer na terra. E eu estive esperando por você.”  

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Parte Um: A Harpa Dourada

O Garoto Corvo

“Você sabe,” Will disse, “é a pri meira busca, sem ajuda, para mim  –  e a últ ima, porque agora esse é o levante da últ ima defesa que a Luz criar , para estar pronta . Temuma grande batalha à frente. Bran  –  agora ainda não, mas não está muito longe. Pois oEscuro está se erguendo, para fazer sua grande tentativa de conquistar o mundo até o fimdos tempos. Quando isso acontecer, devemos lutar e temos que vencer. Mas só podemosvencer se tivermos as armas certas. Isso é o que estivemos fazendo, e ainda estamos, emuma busca como essa  –  reunindo as armas forjadas para nós há muito, muito tempo. SeisSignos da Luz encantados, um Graal dourado, uma harpa maravilhosa, uma espada decristal. . . Agora todos foram alcançados menos a harpa e a espada, e eu não sei qual será

o modo de encontrar a espada. Mas a busca pela harpa é minha . . .”  Ele pegou um raminho de tojo, e ficou sentado olhando para ele. “ Vindo de um

longo tempo no passado, foram criados três versos,” ele disse, “para me dizer o quefazer. Eles não estão mais escritos, embora uma vez estivessem. Estão apenas em minhamente. Ou pelo menos costumavam estar  –  para sempre, eu pensava. Mas então não fazmuito tempo eu fiquei muito doente, e quando retornei da doença, os versos tinhamsumido. Eu os esqueci. Não sei se o Escuro teve alguma coisa a ver com isso. É possível,enquanto eu.. . não era eu mesmo. Eles mesmo não poderiam ter arrancado as palavras,mas poderiam ter evitado que eu as recuperasse novamente. Pensei que iria ficar louco,tentando lembrar. Eu não sabia o que fazer. Algumas pedaços voltaram, mas nãomuitos.. . não muitos. Até que eu vi o seu cão. ”  

“Cafall,” disse Bran. O cão levantou a cabeça.

“Cafall. Aqueles olhos dele, aqueles olhos prateados.. . foi como se quebrassem umfeitiço. Ele também tinha me colocado no Antigo Caminho, o Caminho de Cadfan  –  bemaqui. E eu lembrei. Todos os versos. Tudo.”  

“Ele é um cão especial,” Bran disse. “Ele não é.. . comum. Quais são os seusversos?”  

Will olhou para ele, abriu sua boca, fechou-a novamente, e olhou para asmontanhas confuso. O garoto de cabelo branco riu. Ele disse, “Eu sei. Pelo que você pode dizer , eu poderia estar com o Escuro ao invés de Cafall .  Não é isso?”  

Will balançou a cabeça. “Se você fosse do Escuro, eu saberia muito bem. Tem umsentido, que nos diz.. . o problema é, que o mesmo sentido em particular que diz que vocênão é do Escuro também não diz nada mais a seu respeito. Nadinha. Nada ruim, nada bom. Eu não entendo.”  

“Ah,” Bran disse de forma zombeteira. “Eu mesmo nunca entendi isso. Mas possodizer, eu sou como Cafall  –  também não sou exatamente comum.” Ele olhou para Will , osolhos de cílios pálidos observando, misteriosos. Então ele disse, recitandointencionalmente, soando em um Galês cantado:

“ No dia dos mortos, quando o ano também morre,

 Deve o mais jovem abrir as colinas mai s antigas

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 Através da porta dos pássaros, onde quebra a brisa. ”  

Will ficou sentado imóvel, horrorizado, olhando para ele. A terra se partiu emondas. O céu estava caindo. Ele falou depressa, “O começo. Mas você não pode saber. Não é possível. Só tem três pessoas no mundo que.. .”  

Ele parou.

O garoto de cabelo branco disse, “Eu estava aqui em cima com Cafall, uma semanaatrás, aqui em cima onde você nunca encontra ninguém, e encontramos um velho. Era umvelho estranho, com um monte de cabelo branco e um grande nariz curvado. ”  

Will disse lentamente, “Ah.”  

“Ele não era Inglês,” disse Bran, “e também não era Galês, ainda que falasseGalês muito bem, e Inglês muito bem também, pelo jeito.. . Ele devia ser um dewin , ummago, sabia muito sobre mim...” Ele puxou uma folhagem de samambaia, franzindo atesta, e começou a picá-la em pedaços. “Muito sobre mim . . . Então ele me falou sobre o

Escuro e a Luz. Nunca tinha ouvido nada em que acreditasse tanto, imediatamente, semquestionar. E ele me falou sobre você. Disse que era minha tarefa ajudá-lo em sua busca,mas que  –  uma nota de zombaria surgiu novamente na voz clara, perceptivel só por uminstante  –   “mas que porque você não confiaria em mim , eu deveria aprender essas trêslinhas, como um sinal. E então ele me ensinou .”  

Will levantou a cabeça para olhar o vale, para as colinas cinza-azuladas nebulosassob a luz do sol e estremeceu; a sensação de uma sombra que se erguia estava sobre elenovamente, como uma nuvem negra flutuando. Então ele disse, deixando isso de lado,agora falando sem a tensão da suspeita, “Tem três versos . Mas os dois primeiros são osque importam, por enquanto. As linhas que o meu mestre Merriman ensinou a vocêaparecem no começo.

 No dia dos mortos, quando o ano também morre, Deve o mais jovem abrir as colinas mais antigas Através da porta dos pássaros, onde quebra a brisa. Ali o fogo voará do garoto corvo, E os olhos prateados que enxergam o vento, E a Luz terá a Harpa de Ouro.

 No lago confortável jazem os Adormecidos, No Caminho de Cadfan onde gri tam os falcões; Embora severas as sombras do Rei Cinzento caiam, Ainda cantando a harpa dourada guiará

 Para quebrar o sono deles e pedir que cavalguem.

Ele se esticou e esfregou as orelhas de Cafall. “Os olhos prateados,” ele disse.Houve um silêncio, com apenas uma cotovia distante ainda cantando levemente no ar.Bran tinha escutado sem se mover, seu rosto pálido concentrado. Finalmente ele disse,“Quem é Merriman?”  

“O velho que você encontrou, é claro. Se você quer dizer, o que ele é, isso é maisdifícil. Merriman é meu mestre. Ele é o primeiro dos Antigos Escolhidos, e o mais forte,e o mais sábio.. . Agora ele não tomará parte nessa busca, eu acho. Não na procura. Temcoisas demais para nós todos fazermos, em lugares demais. ”  

“Caminho de Cadfan, dizia n o verso. Lembro que ele me falou mais uma coisa,

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disse que Cafall colocaria você no Caminho, de modo que as duas coisas juntas, o lugar eo próprio Cafall, seriam importantes  –  então ele disse, e também no Caminho para maistarde . Mais tarde  –  então ainda não agora, eu imagino.” Bran suspirou. “O que tudo issosignifica?” Para toda sua estranheza, essa foi uma pergunta triste de um garoto bemnormal.

“Eu estava pensando,” disse Will, “que o dia dos mortos deve ser  All Hallows'Eve. Você não acha? Dia das Bruxas, quando as pessoas costumavam acreditar que todosos fantasmas caminhavam.”  

“Eu conheço alguns que ainda acreditam que eles andam,” Bran disse. Coisascomo essas duram muito tempo, aqui em cima. Eu sei de uma senhora idosa que colocacomida do lado de fora para os espíritos, no Dia das Bruxas. Ela diz que eles tambémcomem, ainda que se você me perguntar eu diga que são os gatos, ela tem quatro.. . o Diadas Bruxas será no próximo Sábado, você sabe.”  

“Sim,” disse Will. “Eu sei. Muito perto.”  

“Algumas pessoas dizem que se você sentar na entrada da igreja até chegar a

meia-noite. Dia das Bruxas, você escuta uma voz gritando nomes de todos que morrerãono ano seguinte,” Bran r iu. “Eu nunca tentei.”  

Mas Will não estava rindo enquanto escutava. Ele disse pens ativo, “Você acaboude dizer, no ano seguinte i. E o verso diz, “ No dias dos mortos quando o ano tambémmorre.” Mas isso não faz sentido. O Dia das Bruxas não é o fim do ano. ”  

“Talvez uma vez tenha sido,” Bran disse. “O fim e o começo, uma vez, ao invés deDezembro. Em Galês, o Dia das Bruxas é chamado Calan Gaeaf , e isso significa o primeiro dia do inverno. Um pouco quente para o inverno, é claro. Preste atenção,ninguém vai me fazer passar a noite no terreno da igreja de St. Cadfan, não importa oquanto esteja quente.”  

“Eu estive lá essa manhã, em St. Cadfan,” Will disse . “Foi isso que colocou onome de volta na minha cabeça, de algum modo, vir procurar pelo Caminho. Mas agoraque eu tenho o verso, devo começar do início.”  

“A parte mais difícil,” falou Bran . Ele afrouxou sua gravata da escola, enrolou-a ea enfiou dentro do bolso de sua calça . “Ele diz, o mais jovem deve abrir as colinas maisantigas, através das portas dos pássaros . Certo? E você é o mais jovem dos AntigosEscolhidos, e essas são as colinas mais antigas na Grâ Bretanha, essas e as colinasEscocesas. Mas a porta dos pássaros, isso é difícil. . . Os pássaros têm seus buracos eninhos por toda parte, as montanhas estão cheias de pássaros. Corvos, gaviões, falcões, plovers, carriças, wheatears , pipits, curlews  –  é maravilhoso, escutar os curlews down on

the marshes na primavera. E veja, lá está um peregrino*.” Ele apontou para cima, parauma mancha escura no claro céu azul deslizando preguiçosamente em uma grande curva,longe acima das cabeças deles.

“Como pode saber?”  

“Um falcão seria menor, então um esmerilhão também. Não é um corvo. Poderiaser a buzzard. Mas acho que é um peregrino  –  você começa a conhecê-losyou, agora elessão tão raros que você olha mais cuidadosamente.. . e também tenho uma razão minha, porque peregrinos gostam de incomodar corvos , e como você disse, eu sou o garotocorvo.”  

Will estudou ele: os olhos estavam escondidos novamente por trás dos óculos

escuros, e o rosto pálido, quase tão pálido quanto o cabelo, estava inexpressivo. Sempre

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deve ser difícil analisar esse garoto Bran; para saber direito o que ele estava pensandoou sentindo. E ainda assim aqui estava ele, parte do conjunto: encontrado por Merriman,o mestre de Will, e agora por Will  –  e descrito em um verso profético que tinha sidofeito mais de mil anos atrás.. .

Ele disse, experimentalmente, “Bran.”  

“Que foi?”  

“Nada. Só estava praticando. É um nome engraçado, nunca ouvi antes. ”  

“O único jeito em que ele é engraçado é nessa sua voz inglesa.  Não é bran comoum cereal do café-da-manhã, tem um som mais longo, braaan , braaan .”  

“ Braaaaaaan ,” disse Will .  

“Melhorou.” Ele deu uma olhada para Will por cima dos óculos escuros. “Isso éum mapa saindo do seu bolso? Dexa eu ver ele aqui um minuto. ”  

Will o entregou. Agachando-se na encosta da colina. Bran abriu ele sobre asamambaia farfalhante . “Agora,” ele disse. “Lei a os nomes que eu apontar.”  

Will olhou obediente para o dedo que se mexia. Ele viu: Tal y Llyn, MynyddCeiswyn, Cenimaes, Llanwrin, Machynlleth, Afon Dyfi, Llangelynin. Ele leu alto,arduamente, “Tally-lin, Minid Seeswin, Semeyes, Lan-rin Machine-leth, Affron Diffy,Lang-elly-nin. ”  

Bran lamentou suavemente. “Eu tinha medo disso.”  

“Bem,” disse Will defensivamente, “é exatamente asim que eles parecem. Oh,espere um minuto, lembro que Tio David disse que você pronuncia  f  como v . Então issofaz esse aqui Avon Divvy. ”  

“Duvvy,” falou Bran. “Escrito em Inglês, Dovey. O Afon Dyfi é o Rio Dovey, eaquele lugar bem ali é chamado Aberdyfi, que significa a boca do Dovey, Aberdovey. O

 y Galês é mais como o u Inglês em run ou hunt .”  

“Geralmente” Will disse com suspeita.  

“Bem, às vezes não. Mas seria melhor você considerar assim por enquanto. Olhaaqui.. .” Ele remexeu dentro de sua mochila de couro e tirou um caderno e um lápis. Eleescreveu:

Mynydd Ceiswyn. “Agora aquele,” ele disse, “é pronunciado  Munuth Kice i -iooin.  Kice  como rice . Vá em frente, diga.”  

Will falou, observando incredulamente a pronúncia.

“Três coisa ali,” disse Bran, escrevendo. Ele parecia estar adorando. “Duplo d  temsempre um som de th , mas um som suave, como em leather  , não em  smith . Então, c  sempre é um som difícil em Galês, como em cat . Então é  g , para dizer a verdade  –  ésempre  g  como em  go , não  g  como em  gentle . E o w Galês é como o som de oo em  pool ,quase sempre. Então é por isso que Mynydd Ceiswyn é pronunciado Munuth Kice-oo- in.”  

Will disse, “Mas deve ser  un no final, não in , porque você disse que o  y Galês eracomo u em run .”  

Bran deu risadas. “Boa lembrança. Sinto muito. Essa é uma das vezes em que não

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é assim. Você simplesmente terá que se acostumar com eles se você for dizer os lugarescorretamente. No final das contas você não pode reclamar que nós não somosconsistentes, não quando o seu Inglês antigos está cheio de coisas como dough , throughand thorough .”  

Will pegou o lápis e copiou do mapa “Cemmaes” e “Llangelynin.” “Então muito bem,” ele disse. “Se o c é difícil, então isso deve ser  Kem -eyes .”  

“Muito bem,” Bran disse. “Mas um  s forte, não suave. Dizendo rápido ele soa Kemmess . Como chemist , sem o t .”  

Will suspirou, olhando bastante para o próximo exemplo dele, “Som forte de  g , e y . Então fica.. .  Lan-gel-un-in .”  

“Você etá chegando lá,” Bran disse; “Tudo o que tem de aprender agora é o únicosom que a maioria dos ingleses jamais consegue. Abra sua boca um pouco e coloque a ponta de sua l íngua contra a parte de tr ás de seus dentes da frente . Como se estivesse prestes a dizer  lan .”  

Will deu a ele um olhar duvidoso, mas fez o que lhe foi dito. Então ele moveuseus lábios para cima, e fez uma cara semelhante a de um coelho.

“Pare,” Bran disse, depressa. “Seja educado, rapaz. Agora enquanto sua línguaestá lá, sopre pelos lados dela. Dos dois lados ao mesmo tempo.”  

Will soprou.

“Está certo. Agora, diga a palavra lan mas dê um pequeno sopro antes de soltá-la.Desse jeito: l lan, l lan.”  

“ Llan , llan ,” Will disse, sentindo -se como uma máquina a vapor, e parou surpreso.“Ei, isso soa Galês!”  

“Muito bom,” Bran falou de modo crítico. “Você terá que praticar . Na verdadequando um Galês diz isso, sua língua não fica assim e o som todo sai dos lados de sua boca, ma s isso não é bom para um Sais . Você vai fazer muito bem. E se você ficar cansado em tentar, pode usar o outro modo Inglês e dizer  II  como i thl  .”  

“Chega,” disse Will. “Chega.”'  

“Tente só mais uma,” Bran disse. “Você não acreditaria no modo como algumas pessoas dizem essa . Bem, sim, você acreditaria, porque também fez isso.” Ele escreveu:Machynlleth.

Will gruniu, e deu uma respirada profunda. “Bem –  tem o  y - e o l l . . .”  “E o ch é meio que respirado, do jeito que Escoceses dizem loch . Como que no

fundo de sua garganta.”  

“Porque vocês tornam tudo t ão complicado? Mach... un.. . lleth.”  

“Machynlleth.”  

“Machynlleth.”  

“Nada mal mesmo.”  

“Mas o meu realmente não soa como o seu. O seu soa mais molhado. Como

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Alemão.  Achtung !  Achtung !” Will gritou de repente bem alto, e Cafall pulou e latiu, acauda balançando.

“Você fala Alemão .”  

“Meu Deus, não! Eu ouvi isso em algum velho f i lme.  Achtung !  Machynlleth!” ,

“ Machynlleth ,” disse Bran.  

“Está vendo, o seu parece mais molhado. Sploshier, acho que todos os bebesGaleses babam bastante.”  

“Cai fora daqui,” disse Bran, e tentou agarrar ele enquanto Will se esquivava. Elescorreram descendo a montanha, rindo, fazendo um louco zigue-zague, com Cafall pulando alegremente ao lado.

Mas no meio do caminho. Will tropeçou e diminuiu a velocidade; sem aviso, elesentiu-se tonto, suas pernas fracas e inseguras. Ele cambaleou até uma parede próxima ese apoiou nela, ofegando. Bran gritava alegremente enquanto corria, mochila voando;

então diminuiu, parou, olhou mais cuidadosamente e voltou.“Você está bem?”  

“Acho que sim. A cabeça dói. Mas o problema é com minhas pernas estúpidas,elas desistem fácil demais. Na verdade, acho que ainda estou me recuperando  –  eu estavadoente,  por algum tempo...”  

“Eu sabia, e deveria ter me lembrado.” Bran ficou inquieto, irritado com sua própria atitude . “Seu amigo Sr. Merriman disse que você esteve mais doente do quequalquer um percebia.”  

“Mas ele não estava lá,” Will disse. “Bem. Não que isso signifique alguma coisa,

é claro.”  

“Sente -se,” Bran disse. “Ponha sua cabeça para baixo, sobre os joelhos.”  

“Estou bem. De verdade. Só tenho que recuperar meu fôlego.”  

“Estamos bem perto de casa, ou devemos estar. Só algumas jardas por aquelecaminho...” Bran subiu na alta parede de  pedra para ter uma visão melhor.

Mas enquanto ele estava ali, de repente um enorme grito furioso veio do outrolado da parede, e o latido de cães. Will viu Bran se levantar onde estava na parede,olhando para baixo de modo arrogante. Ele se ergueu para espiar por cima da parede, perto dos pés de Bran, e viu um homem se aproximando em uma “meia” corr ida ,gritando, e balançando um braço furiosamente; no outro braço ele carregava o que parecia uma espingarda. Quando chegou mais perto, começou a gri tar para Bra n emGalês, a princípio Will não o reconheceu, pois ele não usava chapeu, e a cabeçadesgrenhada de cabelo vermelho não estava familiar. Então ele viu que era CaradogPrichard.

Quando o fazendeiro fez uma pausa para tomar ar, Bran falou claramente, usandoInglês, “Meu cão não caça ovelhas , Sr. Prichard. E de qualquer modo ele não está na suaterra, ele está desse lado da parede.”  

“Eu digo que ele é um cão perigoso, e que esteve incomodando minhas ovelhas!”  Prichard disse furiosamente; o seu Inglês era sibilante, pesadamente acentuado,

intensif icado pela fúria. “Ele e aquele maldito cão de caça de John Rowlands. Vou atirar 

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nos dois se eu os pegar, pode ter certeza que vou. E será melhor que você e o seuamiguinho Inglês fiquem fora da minha terra também, se vocês sabem o que é melhor  para vocês .” Os pequenos olhos em seu rosto rechonchudo avermelhado observaram Willmaliciosamente.

Will não disse nada. Bran não se mexeu; ele ficou ali olhando para o furiosofazendeiro. Ele disse suavemente, “Você teria má sort e, se atirar em Cafall, CaradogPrichard.” Passou uma das mãos pelo seu cabelo branco, puxando-o para trás, com umgesto que para Will pareceu um tanto quanto afetado. “Você deveria vigiar maisatentamente essas ovelhas,” Bran disse, “antes de culpar os c ães pelo trabalho dasraposas.”  

“Raposas!” Prichard falou desdenhosamente. “Eu reconheço matança feita por raposa quando vejo, e também reconheço quando é de um cão de caça. Fiquem longe deminha terra, os dois.” Mas agora não estava encarando os olhos de Bran, nem olhando para Will; ele se virou sem dizer mais nenhuma palavra e saiu caminhando pelo pasto,com seus cães trotando nos calcanhares.

Bran desceu da parede.

“Bah!” ele disse. “Incomodando ovelhas! Cafall é comparável a qualquer cão quetrabalha nesse vale; ele jamais iria correr atrás de qualquer ovelha, deixada sozinha naterra de Caradog Prichard.” Ele olhou para Prichard que desaparecia, e então para Will, esorriu. Foi um estranho sorriso dissimulado; Will não tinha certeza se havia gostadodisso.

“Você vai descobrir,” Bran falou, “que pessoas como ele t êm um certo medo demim, lá no fundo. É porque sou albino, você entende. O cabelo branco, e olhosengraçados, e sem muito pigmento na pele  –  um certo tipo de aberração, você poderiadizer.”  

“Eu não diria isso,” Will falou lentamente.“Talvez não,” Bran disse sem acreditar muito, com acidez em sua l íngua. “Mas

isso é dito com bastante freqüencia na escola.. . e do lado de fora também, por homens bons como o Sr. Prichard. Você entende, todos os bons Galeses são escuros, de cabelos eolhos escuros, e as únicas criaturas de pele clara em Gales, nos dias antigos, eram osTylwyth Teg . Os antigos espíritos, as pessoas pequenas. Qualquer um com a pele tãoclara quanto eu deve ter alguma relação com os Tylwyth Teg . . . Ninguém acredita mais emtais coisas, ah não, é claro que não, mas no meio da noite do inverno quano o vento estásoprando escuro e a velha televisão não está ligada, aposto com você que metade das pessoas nesse vale não gostaria de jurar que eu n ão poderia lançar o Olho do Mal sobreeles .”  

Will coçou sua cabeça. “Certamente havia algo.. . desagradável.. . no modo queaquele homem olhou para você, quando você disse. . .” Ele balançou os ombros, como umcão saindo da água. Não olhou para Bran; ele não gostou das sombras de ardilosaarrogância que essa conversa tinha colocado no rosto do rapaz. Era uma pena, isso nãodeveria ser necessário; um dia ele iria take it away... Ele disse , “Caradog Prichard não éescuro. Ele tem cabelo vermelho. Como cenouras.”  

“Sua família é de Dinas Mawddwy way,” disse Bran. “A mãe dele, de qualquer  jeito. Acreditava-se que uma vez houve toda uma tribo de vilões lá em cima, todos decabelos vermelhos, verdadeiros terrores. Em todo caso, até hoje ainda tem cabeçasvermelhas vindo de Dinas.”  

“Ele realmente atiraria em Cafall?”  

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“Sim,” Bran falou de modo curto. “ Caradog Prichard é muito estranho. Há umaconversa de que qualquer um que passar a noite lá em cima sozinho em Cader na manhãseguinte descerá um poeta, ou louco. E meu pai diz que uma vez quando era jovem,Caradog Prichard passou a noite sozinho lá em cima em Cader, porque ele queria ser umgrande poeta.”  

“Isso não pode ter funcionado.”  

“Bem. Talvez tenha funcionado de uma certa forma. Ele não é muito poeta, masgeralmente e le age como se fosse mais do que um pouquinho louco.”  

“O que é Cader?”  

Bran olhou para ele. “Não sabe muito sobre Gales, sabe? Cader Idris, bem ali.”Ele apontou para a linha de picos cinza azulados cruzando o vale. “Uma das mais altasmontanhas em Gales. Você deveria saber sobre Cader. Afinal de contas ela aparece emseu verso.”  

Will franziu o rosto. “Não, não aparece.”  

“Ah, sim.  Não pelo nome, não  –  mas é importante naquela segunda parte. É ondeele mora, você entende, lá em cima em Cader. O Brenin Llwyd. O Rei Cinzento .”  

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Parte Um: A Harpa Dourada

Raposa Cinza

 Ninguém mais poderia sentir . Will sabia. Tanto quanto as aparências mostravamno exterior, não havia razão alguma porque alguém deveria sentir a mínima inquietação.Os céus estavam de um tranqüilo azul claro; o sol brilhava com um calor fora de estação,então Rhys sentou sobre a traseira descoberta do trator enquanto arava os últimoscampos, cantando um claro tenor acima do rugido da máquina. A terra cheirava pura.Yarrow and ragwort enchiam a cerca viva de branco e amarelo, com os grãos vermelhosespessos de hawthorn acima deles; as ladeiras onde o vale começava a se erguer estavammarrom-douradas de samambaia, seca como um estopim nesse estranho sol de Indian-summer. Nebulosas no horizonte ao redor, as montanhas jaziam como animais que

dormiam, suas cores suaves mudando a cada hora do dia do castanho para verde, para púrpura e de volta sutilmente .

Ainda por trás de toda essa delicadeza outonal, enquanto ele vagava pelos campose pela montanha cheia de tojo, Will podia sentir a tensão aumentando por toda parte,avançando como uma lenta enchente incansável dos altos picos acima do fim do vale. Ainimizade estava começando a chocar-se contra ele. De forma lenta mas irresistível, a pressão da malevolência estava se acumulando até o ponto em que poderi a desabar esubjugá-lo. Apenas os sentidos ocultos de um Antigo Escolhido poderiam sentir otrabalho do Escuro.

Tia Jen estava maravilhada com a mudança na aparência de Will. “Olhe para você

 –  só alguns dias, mas agora tem cor nas suas bochechas, e se esse sol continuar você vaificar moreno. Eu estava escrevendo para Alice ontem a noite. Eu disse, você não oreconheceria, ele parece um garoto diferente . . .”  

“Um sol muito bom, com certeza,” disse o Tio de Will, David. “Mas um poucoexagerado, para essa época do ano, obrigado. Os pastos estão ficando secos, e asamambaia na montanha  –  agora um pouco de chuva seria muito bom.”  

“Escute o que está dizendo ,” falou Tia Jen, rindo. “Chuva é uma coisa que nuncatemos  pouco por aqui.”  

Mas ainda assim o céu ensolarado sorria, e Will saiu com John Rowlands e seuscães para conduzir um bando de jovens ovelhas que deveriam passar o inverno na

Fazenda Clwyd. O fazendeiro que era dono delas já as tinha levado descendo a metade docaminho até outra fazenda na cabeça do vale. Enquanto ele olhava para o amontoado caos branco de costas cheias de l ã, saltando e empurrando, oitenta ou mais ovelhas jovensvigorosas balindo e gritando em um coro de arrebentar os ouvidos, Will não conseguiaimaginar como elas poderiam ser levadas intactas até Clwyd. Quando apenas uma dasovelhas se afastava do resto e seguia para o lado em direção a ele, no local em queestava no campo, ele não conseguia persuadí-la a voltar para junto de suas colegas nemmesmo gritando, empurrando e batendo em seus flancos lanudos. “Baaaa,” dizia aovelha, em um estúpido barítono profundo, como se ele não estivesse ali, e ela ficava perambulando e começava a mastigar na cerca viva . Foi nesse instante que Tip, o cão pastor de John Rowlands, trotou de forma decidida na direção dela e a ovelha deu meia-volta obediente, saltando de volta para o grupo.

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Will não conseguia ver como John Rowlands se comunicava com seus cães. Haviadois: o malhado Tip, que recebera esse nome por causa dos salpicados de branco sobre oseu focinho e na ponta de sua cauda balançante, e um cão maior, de aparência maisformidável chamado Pen, com um casaco de longo pêlo negro e uma orelha deformada,machucada em alguma briga muito tempo atrás. Rowlandsnão precisava fazer mais doque olhar para eles, um sorriso enrugando seu magro rosto moreno, com uma palavra

suave em Galês, ou um rápido assobio, e eles partiam em alguma manobra complicadaque um homem comum só entenderia após dez minutos de uma detalhada explicação.

“Ande na frente,” ele gritou para Will através do profundo e enervante coro de baaas, enquanto abriu o portão e as avelhas jorraram para a estrada como leite . “Bem afrente, para fazer sinal para qualquer carro que vier e fazê-lo parar. ”  

Wi ll piscou assustado. “Mas como eu mantenho as ovelhas afastadas? Todas vão passar por mim correndo!”  

O sorriso de John Rowlands cintilou branco no escuro rosto Galês. “Não se preocupe. Pen cuidará delas.”  

E assim Pen fez; era como se ele tivesse uma corda amarrada na frente do rebanhode ovelhas para mantê-lo em uma perfeita curva bem apertada. Trotando, correndo,deitando sobre a bariga, movendo-se sempre em frente, às vezes conduzindo uma ovelhaerrante na direção certa com um simples latido curto, ele as manteve todas movendo-seobedientes pela estrada. E Will, segurando a vara que John Rowlands havia entregue aele, cavalgava em frente transbordando de orgulho, sentindo-se como se tivesse sido umverdadeiro pastor desde o início dos tempos.

Eles encontraram apenas dois carros, na verdade, por todo o caminho descendo aestrada do vale, mas até mesmo conduzir esses dois para o lado da cerca viva foi batante prazeroso , com as ovelhas se amontoando em uma ondulante maré cinza . Will estavagostando tanto de seu trabalho que talvez, ele pensou mais tarde, deixou sua profunda

cautela fraquejar. Pois quando o ataque veio, não sentiu aviso algum.

Eles estavam em uma parte deserta da estrada, com uma árida extensão de terra pantanosa de um lado da estrada e o lado escuro da montanha cheio de árvores elevando-se do outro. Aqui nenhum campo era cultivado. Samambaia e pedras adornavam a beirada estrada como se ela fosse uma trilha sobre a montanha aberta. De repente Will percebeu uma mudança no som das ovelhas atrás de le: uma nota de susto mais alta emseu balir, uma confusão de cascos que se debatiam. Primeiro ele pensou que deveria ser John Rowlands e Tip, cercando uma ovelha fugitiva; mas então ele ouviu um assobioagudo que em um momento fez Pen girar ao redor das ovelhas, rosnando, latindo,ameaçando-as para que ficassem imóveis. E ele ouviu John Rowlands gritando: “Will!Rápido! Will”  

Ele correu de volta, contornando as assustadas ovelhas que baliam; então paroucom um solavanco. A meio caminho passando pela manada, na borda da estrada, haviauma grande mancha vermelha na garganta de um dos animais que saltitava, menor do queo restante. Will viu um movimento de relance na samambaia quando alguma criaturafugiu. Ela seguiu para longe em direção da montanha, e as folhagens balançaram e entãoficaram paradas. Will observou aterrorizado enquanto a ovelha ferida cambaleou para olado e caiu. Suas companheiras se afastaram dela, assustadas; os cães rosnaram eameaçaram, contendo freneticamente o rebanho, e Will ouviu John Rowlands gritando, eo golpear de seu cajado contra a estrada. Ele também gritava e balançava os braços parao rebanho de ovelhas ondulante, mantendo-as juntas enquanto elas tentavam fugir em pânico pelo terreno, e gradualmente os animais nervosos se acal maram e ficaram

 parados.

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John Rowlands estava se inclinando sobre a ovelha ferida.

Will gritou, por cima das costas que balançavam, “Ela est á bem?”  

“Não está muito ferida. Errou a veia.  Nós temos sorte.” Rowlands se abaixou,ergueu a ovelha inerte sobre seus ombros e segurou suas patas dianteiras e traseirasseparadamente, de modo que ela ficou pendurada pela costa de seu pescoço como um

grande cachecol. Grunindo com o esforço, ele ficou de pé lentamente; seu pescoço e bochecha estavam manchados de vermelho pela lã ensangüentada da ovelha .

Will foi até ele. “Era um cão?”  

Rowlands não podia mover sua cabeça, por causa da ovelha, mas seus olhos bri lhantes giraram rapidamente . “Você viu um cão?”  

“Não.”  

' ”Tem certeza?”  

“Vi alguma coisa correndo para longe pela samambaia, mas não poderia dizer oque era. Só pensei que deveria ser um cão  –  quer dizer, o que mais poderia ter sido? ”  

Rowlands não respondeu, mas fez sinal para que ele seguisse em frente e assobiou para os cães. O rebanho come çou a descer a estrada. Agora ele caminhava ao lado,deixando a retaguarda inteiramente para Tip; de modo eficiente e ordenado o cãomanteve as ovelhas se movendo.

Logo eles chegaram até um casebre deserto um pouco afastada da estrada: com paredes de pedra, coberta por telhas, de aparência robusta, mas com o vidro quebrado emsuas duas pequenas janelas. John Rowlands a pesada porta de madeira com um chute,cambaleou para debtro, e saiu sem a ovelha, respirando pesadamente e esfregando seurosto em sua manga. Ele fechou a porta. “Ela vai ficar segura ali até que possamos

voltar,” ele falou para Will. “Agora não falta muito.”  

Em pouco tempo eles estavam em Clwyd. Will abriu o portão do pasto largo ondesabia que as ovelhas deveriam ficar, e os cães as cutucaram e empurraram para dentro.Por alguns momentos as ovelhas se moveram como um redemoinho, balindo eresmungando; então elas se acalmaram fazendo um barulho voraz sobre a gramaexuberante.

John Rowlands pegou a Land-Rover e levou Will para buscar a ovelha ferida; noúltimo momento o cão negro Pen saltou para dentro do carro e se enfiou entre os pés deWill. Will esfregou suas orelhas macias.

“Deve ter sido um cão que atacou aquela ovelha, com certeza?” ele disse enquantoeles seguiam.

Rowlands suspirou. “Espero que não. Mas na verdade , não consigo pensar emqualquer criatura selvagem que atacaria um rebanho, com homens e cães perto. Nada anão um lobo faria isso, e não há lobos em Gales faz uns duzentos anos ou mais. ”  

Eles sairam do casebre. Rowlands virou o carro para que a porta traseira ficassede fácil alcance, e entrou na pequena construção de pedra.

Ele estava do lado de fora quase no mesmo instante, de mãos vazias, olhandoinquieto para ele. “Ela sumiu!”  

“Sumiu!”  

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“Deve ter algum sinal - Pen! Tyrd yma !” John Rowlands foi rodeando pelo lado defora do casebre, olhando atentamente para a grama, samambaia e tojo, e o cão negro saiuvasculhando ao redor dele, nariz abaixado. Will também olhou esperançoso, procurando por plantas esmagadas , sinais de lã ou sangue. Não viu nada. Uma pedra irregular dequartzo branco cintilou diante deles sob o sol. A woodlark cantou. Então de repente, Pendeu um curto latido agudo e saiu seguindo um cheiro, trotando confiante, cabeça

abaixada, através da grama.Eles o seguiram. Mas Will estava confuso, e podia ver a mesma confusão no rosto

marcado de John Rowlands  –  pois o cão estava farejando por grama intocada, nenhumtalo curvado pela passagem de nem mesmo uma criatura menor, quanto mais de umaovelha. Havia o som de água correndo em algum lugar a frente deles, e logo eleschegaram a uma pequena corrente que descia em direção ao rio, as pedras que se projetavam em seu curso mostrando o quão abaixo do normal ela estava correndo na parte seca .

Pen fez uma pausa, olhou subindo e descendo a corrente sem sucesso, e foi atéJohn Rowlands choramingando.

“Ele perdeu,” o pastor disse. “Seja lá o que fosse . Poderia não ter sido mais doque um coelho, é claro  –  embora eu jamais tenha ouvido falar de coelhos que teriam ocuidado de esconder seu rastro em água corrente. ”  

Will disse: “Mas o que aconteceu com a ovelha? Ela estava ferida, não poderia ter ido embora caminhando.”  

“Principalmente através de uma porta fechada,” Rowlands disse secamente.

“Está certo, é claro! Você tem idéia de que animal seria esperto o bastante paravoltar e levá-la embora?”  

“Esperto o bastante, talvez,” Rowlands disse, olhando novamente para o casebre.“Mas não forte o bastante . Uma ovelha jovem pesaria cerca de cem libras, eu quasequebrei minhas costas carregando-a por um caminho curto. Seria necessário um grandecão bem forte para arrastar esse peso.”  

Will ouviu a si próprio dizendo, “Dois cães?”  

John Rowlands olhou para ele com olhos arregalados. “Você tem algumas idéiasinesperadas, Will, para alguém que não cresceu em uma fazenda... sim, dois cães juntos poderiam arrastar uma ovelha . Mas como far iam isso sem deixar um grande rastro? E dequalquer modo, como poderiam dois ou vinte cães abrirem aquela porta? ”  

“Só Deus sabe,” disse Will. “Bem –  talvez não tenha sido nenhum animal. Talvez

alguém estivesse dirigindo por perto, ouviu a ovelha balindo, tirou-a do casebre e alevou. Quero dizer que eles não poderiam saber que voltaríamos. ”  

“Sim,” John Rowlands disse. Ele não pareceu convencido. “Bem, se alguém fezisso, deveremos encontrar a ovelha em casa quando chegarmos lá, pois ela tem a marcaPentref em sua orelha e qualquer um das redondezas saberia que no inverno nósguardamos as ovelhas de William Pentref. Agora vamos lá.” Ele assobiou para Pen.

Eles ficaram em silêncio no caminho para casa, cada um perdido em concentrada econfusa conjectura. John Rowlands, Will sabia, estava preocupado por causa danecessidade de encontrar a ovelha rapidamente, para tratar de seus ferimentos. Ele, Will,tinha suas próprias preocupações. Embora não tivesse mencionado para Rowlands, e

dificilmente ousaria até mesmo pensar o que isso teria significado, sabia que no

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momento em que a ovelha ferida tinha cambaleado e caído ao lado do rebanho, ele tinhavisto algo mais do que aquele desforme relance de movimento na samambaia onde oatacante fugiu. Tinha visto o brilho de um corpo prateado, e o focinho do que pareceumuito com um cão branco.

Música estava fluindo da casa da fazenda em uma cadeia dourada, como se o solestivesse dentro da janela, brilhando para fora. Will parou, surpreso, e ficou escutando.Alguém estava tocando uma harpa, longos arpeggios ondulando como a canção de um pássaro; então sem pausa alguma a música se transformou em algo como uma sonata deBach, notas e padrões tão precisos como flocos de neve. Por um momento John Rowlandsolhou para ele com um sorriso, então abriu a porta e entrou. Uma porta lateral estavaaberta dando acesso a uma pequena sala que Will não havia notado antes; parecia umquerto principal decrépito, afastado da grande sala de estar cozinha onde toda averdadeira vida da casa acontecia. A música vinha desta sala; Rowlands enfiou suacabeça através da porta, e assim também fez Will. Sentado, ali, correndo suas mãos sobreas cordas de uma harpa que tinha duas vezes a altura dele, estava Bran.

Ele parou, fazendo as cordas pararem com suas palmas. “Alô, para vocês.”  

“Muito melhor” disse John Rowlands. “Muito melhor mesmo, isso, hoje.”  

“Bom,” falou Bran.  

Will disse, “Não sabia que você tocava harpa.”  

“Ah,” Bran disse de modo solene.  “Tem um monte de coisas que o Inglês nã o sabe.O Sr. Rowlands me ensina. Ensinou sua tia também, essa aqui é dela.” Ele correu umdedo pelas cordas sonoras. “Esse quarto congela no inverno, sempre, mas a melodia ficamelhor do que no calor.. . Ah, Will Stanton, não sabe em que ilustre lugar você está. Essaé a única fazenda em Gales onde há duas harpas. O Sr. Rowlands também tem uma nacasa dele.” Ele apontou com a cabeça através da janela, para o trio de casas d e fazenda

 pelo terreno . “Geralmente eu pratic o lá. Mas hoje o Sr. Rowlands está ocupado fazendolimpeza.”  

“Onde está David Evans?” perguntou John Rowlands.  

“No quintal com Rhys. No estábulo, eu acho.”  

“ Diolch .” Ele saiu, preocupado.

“Pensei que você estaria na escola,” disse Will .

“Meio-feriado. Esqueci porque.” Bran esava os óculos protetores cor de fumaçaaté dentro de casa; eles o faziam parecer excêntrico e irreal, os círculos escuros

inescrutáveis tirando toda a expressão de seu rosto pálido. Ele também estava usandocalças escuras, e um suéter escuro, tornando seu cabelo branco ainda maisimpressionante e incomum. Will pensou de repente: ele deve fazer isso de propósito, ele

 gosta de ser diferente .

“Uma coisa terrível aconteceu,” ele disse, e contou a Bran sobre a ovelha. Masnovamente ele falou sobre a rápida visão que teve do atacante que o fez pensar que eraum cão branco.

“Tem certeza que a ovelha estava viva quando John a deixou?” Bran disse.

“Oh, sim, acredito que sim. Sempre tem uma chance de que alguém simplesmente

tenha parado ali e levado ela embora. I expect John's checking .”  

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“Que coisa estranha,” disse Bran. Ele ficou de pé, se esticando. “Eu já pratiquei bastante. Quer sair?”  

“Vou falar para Tia Jen.”  

 No caminho da saída. Bran pegou sua mochila de couro de uma cadeira ao lado da porta. “Tenho que deixar isso em casa . E colocar a chaleira para Da. Ele virá tomar uma

xícara de chá, daqui a pouco, se estiver trabalhando por perto. ”  

Will disse curioso, “A sua mãe trabalha também?”  

“Oh, ela está morta. Morreu quando eu era bebê, não lembro d ela.” Bran deu a eleuma estranha olhada de lado. “Então ninguém falou a você sobre mim ? Meu pai e eu, nóssomos solteiros que cuidam da casa. A Sra. Evans é muito legal, sempre. Nós fazemos aceia na fazenda, nos fins-de-semana. É claro, você ainda não esteve aqui no fim-de-semana.”  

“Sinto como se estivesse aqui faz semanas,” Will disse, levantando seu rosto parao sol. Algo no modo como Bran falou estava deixando ele estranhamente inquieto, e ele

não quis pensar demais a respeito disso. Colocou o pensamento no fundo de sua mente, junto com aquela imagem da vis ão de relance do focinho branco através da samambaia .

“Onde está Cafall?” e le disse.

“Oh, ele fai ficar fora com Da. Pensando que ainda estou na escola.” Bran riu. “Osmomentos que tivemos quando Cafall era jovem, tentando mostrar a ele que escola é paragarotos e não para cachorrinhos. Quando fui para a escola primária na vila, elecostumava sentar no portão o dia todo, apenas esperando. ”  

“Onde você vai agora?”  

“Tywyn Grammar. Em um ônibus.”  

Eles arrastaram seus pés pela poeira do caminho descendo até as casas, umcaminho feito por rodas, dois sulcos com grama irregular crescendo entre eles. Haviatrês casas, mas só duas estavam ocupadas. Agora que ele estava mais perto, Will podiaver que a terceira tinha sido transformada em uma garagem. Ele olhou além, subindo ovale, onde as montanhas se erguiam azul-nebulosas e belas no céu claro, e ele tremeu.Embora o mistério da ovelha ferida tivesse tomado a frente de sua mente por um brevemomento, agora a profunda inquietação estava crescendo novamente. Por toda parte,através do campo, ele conseguia sentir a malevolência do Escuro crescendo, fazendo pressão. Ela não conseguia se concentrar sobre ele, seguindo -o como o olhar f ixo de umgrande olho feroz; um Antigo Escolhido tinha o poder de ocultar a si mesmo de modoque sua presença não podia ser sentida tão precisamente. Mas claramente o Rei Cinzento

sabia que ele estava destinado a vir, em breve, de algum lugar. Eles tinham suas profecias, assim como a Luz. As barreiras haviam se elevado, e estavam ficando maisfortes a cada dia. De repente Will sentiu o quão estranho era para ele ser o invasor; poisa Luz estava avançando contra o Escuro. Antes, através dos séculos, sempre tinha sido ocontrário, com os poderes do Escuro lançando terríveis ataques repetidamente sobre asterras dos homens protegidos pela Luz. A Luz sempre havia sido defensora dos homens,campeã de todos que o Escuro procurou arruinar. Agora, um Antigo Escolhido deveria propositalmente inverter o longo hábito da mente; agora ele deveria encontrar o impulso para o ataque, ao invés da resoluta defesa vigorosa que por tanto tempo havia mantido oEscuro afastado.

Mas é claro, ele pensou, até mesmo esse ataque é uma pequena parte de uma

defesa, para criar resistência para aquele outro terrivelmente e último momento quando o

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Escuro se erguerá novamente. É uma busca, para despertar os últimos aliados da Luz. Ehá pouquíssimo tempo.

Bran falou de repente, ecoando de forma assustadora a sua última linha de pensamento, “Dia das Bruxas, hoje à noite.”  

“Sim,” Disse Will.  

Antes que pudesse falar mais, eles estavam na porta do casebre; ela estava parcialme nte aberta , uma porta baixa pesadaa colocada na parede de pedra . O cão Cafal lveio pulando aos pés de Bran, um pequeno redemoinho branco, saltando e choramingandode prazer, lambendo a mão dele. Foi evidente o fato dele não ter latido. Lá dentro, umavoz de homem gritou, “Bran?” e começou a falar em Galês. Então quando Will seguiuBran através da porta, o homem que falava, em mangas de camisa em uma mesa, ficouem um semi-silêncio e o avistou . Ele parou de repente e disse formalmente, “Peçodesculpas.”  

“Esse é Will,” disse Bran, jogando sua bolsa de livros sobre a mesa. “O sobrinhodo Sr. Evans.”  

“Sim, pensei que talvez ele fosse. Como vai você, jovem?” O pai de Bran seaproximou, estendendo sua mão; o seu olhar era direto e seu aperto de mão firme,embora Will tivesse uma curiosa sensação imediata de que que o homem de verdade nãoestava ali por trás dos olhos. “Eu sou Owen Davies. Tenho ouvido falar a seu respeito.”  

“Cmo vai, Sr. Davies,” disse Will. Ele estava tentando não parecer surpreso. Oque quer que ele esperasse no pai de Bran, não era esse homem: um homem tãocompletamente comum e pouco notável, pelo qual você poderia passar na rua sem perceber que ele estava lá . Alguém tão incomum como Bran deveria ter um pai incomum.Mas Owen Davies era totalmente mediano e normal: altura normal, cabelo castanhomédio em uma quantidade média; um rosto agradável, comum, com um nariz levemente

 pontudo e lábios finos; uma voz comum, nem profunda nem alta , com a mesmaenunciação precisa que, Will estava começando a aprender, pertencia a todos os homensGaleses do Norte. Suas roupas eram comuns, a mesma camisa, calças e botas que seriamusadas por qualquer um em uma fazenda. Até mesmo o cão que ficava ao seu lado,observando todos eles tranqüilamente, era um cão de caça Galês padrão, de costasnegras, tórax branco, de cauda negra, completamente comum. Diferente de Cafall: domesmo modo que o pai de Bran não era nem um pouco como Bran.

“Tem chá no bule, Bran, caso vocês dois queiram uma x ícara,” disse o Sr. Davies.“Eu já tomei a minha, vou sair para o grande pasto. E vou esta noite, tem um encontro nacapela. A Sra. Evans vai lhes dar sua ceia.”  

“Isso é bom,” Will falou alegremente. “Ele pode me judar com meu dever decasa.”  

“Dever de casa?” disse Bran.

“Oh, sim. Esse não é apenas um feriado para mim, você entende. Eles me deramtodo tipo de trabalho da escola, para que eu não ficasse atrasado. Álgebra, hoje. EHistória.”  

“Isso vai ser muito bom,” Sr. Davies disse sério, colocando seu colete, “enquantoBran se preocupar em fazer o seu próprio trabalho também. É claro, sei que ele vai fazer isso. Bem, é muito bom ver você, Will. Vejo você mais tarde, Bran. Cafall pode ficar.”  

E ele saiu, acenando para eles cordialmente mas com muita seriedade, deixando

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Will com o pensamento de que afinal de contas havia uma coisa sobre Owen Davies quenão era totalmente comum; ele não possuia nem uma centelha de r iso.

 Não houve espressão a lguma no rosto de Bran. Ele disse simplesmente, “Meu pai éuma pessoa importante para a capela. Ele é um diácono, e há dois ou três encontros paraele em uma semana. E nós vamos duas vezes aos Domingos. ”  

“Oh,” disse Will.

“Sim. Oh, está certo. Quer uma xícara de chá?”  

“Na verdade não, obrigado.”  

“Então, vamos sair.” De modo distraído Bran lavou o bule e o deixou emborcadosobre o escorredor de pratos. “Tyrd yma , Cafall .”  

O cão branco saltou feliz ao lado deles enquanto eles atravessavam os campos, para longe do casebre e da fazenda, subindo o vale em direção às montanhas e o picosoli tár io próximo. Ele f icava em um ângulo reto em relação a montanha por trás dele,

destacando-se dentro do chão plano do vale.“É engraçado como aquela rocha sticks out desse jeito, ” disse Will.

“Craig yr Aderyn? É especial, é o único lugar na Grã Bretanha onde os cormorantsfazem ninho no interior das terras. Não muito distante, é claro. Quatro milhas vindo domar, estamos aqui. Você nunca esteve ali? Vamos lá, nós temos tempo.” Bran mudou dedireção levemente. “Você pode ver os pássaros muito bem da estrada .”  

“Pensava que a estrada era por aquele caminho,” disse Will, apontando.

“É meso. Nós podemos cortar até ela por esse caminho.” Bran abriu um portão quelevava a uma trilha, cruzava o caminho e seguia sobre a parede no outro lado . “O único

detalhe é o seguinte, você tem que passar sem fazer barulho, ” ele disse com um sorriso.“Essa é a terra de Caradog Prichard.”  

“Depressa, Cafall,” Wi ll disse com um sussurro pesado, virando sua cabeça. Mas ocão não estava lá. Will fez uma pausa, confuso. “Bran? Onde está Cafall?”  

Bran assobiou. Os dois ficaram esperando, olhando para trás, para a long sweep of the slate-edged stone wall along the stubbled field. Nada se moveu. O sol brilhou. Bemlonge, uma olvelha baliu. Bran assobiou novamente, sem resultado. Então ele retornou,com Will bem perto atrás, e eles sibiram a parede novamente e desceram até a trilha quehaviam cruzado.

Bran assobiou uma terceira vez, e chamou em Galês. Havia preocupação em suavoz.

Will disse, “Onde ele pode ter ido? Ele estava bem atrás de mim quando eu subi a parede.”  

“Ele nunca faz isso. Nunca. Ele nunca se afasta de mim sem permissão, ou deixade voltar quando é chamado.” Bran olhou ansioso pela trilha de cima abaixo. “ Não gostodisso. Não deveria ter deixado ele chegar tão perto da terra do Sr. Prichard. Você e eu éuma coisa, mas Cafall. . .” Ele assobiou novamente, alto e desesperado.

“você não acha.. .” Will disse. Ele parou.

“Que Prichard atiraria nele, do jeito que disse?”  

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“Não, eu ia dizer, você não acha que Cafall não viria porque sabe que n ão deveriaentrar na terra do Sr. Prichard. Mas isso é bobagem, nenhum cão poderia pensar em algodesse jei to.” 

“Oh,” Bran disse   triste, “cães podem pensar coisas muito mais complicadas do queisso. Eu não sei. Vamos tentar por esse caminho. Leva até o rio.”  

Eles seguiram pelo caminho, para longe da grandiosa massa de rocha de Craig yr Aderyn. Em algum lugar a frente deles, bem longe, um cão latiu.

“É ele?” Will disse esperançoso.  

A cabeça branca de Bran estava inclinada para um lado. O cão latiu novamente,mais perto. “ Não. Esse é o grande cão de John Rowlands, Pen. Mas Cafall deve ter ido por aquele caminho quando escutou ele.”  

Os dois começaram a correr, pelo caminho pedregoso cheio de grama. Will logo perdeu o fôlego e f icou para trás. Bran desapareceu em uma curva no caminho em frentea ele. Quando Will fez a curva, duas coisas atingiram sua consciência simultaneamente: a

visão de Bran  –  sem Cafall  –  conversando com seu pari e John Rowlands, e a terrívelcerteza de que algo maligno havia tomado o controle de tudo que estava acontecendoagora na Fazenda Clwyd. Era uma percepção, como a súbita sensação de um forte som oucheiro.

Ele chegou perto deles ofegando, enquanto Bran dizia: “.. .escutei Pen latir, e pensei que ele poderia ter vindo por esse cami nho, ent ão viemos correndo.”  

“E você não viu nada?” Owen Davies disse. Seu rosto estava tenso com algum tipode profunda preocupação. Vendo isso, Will sentiu um mau pressentimento se agarrar na boca de seu estômago.

John Rowlands disse, sua voz profunda excitada, “E voc ê, Will? Você viu alguém,alguma coisa, agorinha mesmo no caminho? ”  

Will ficou surpreso. “Não. Só Cafall, antes, e agor a perdemos ele.”  

“Nenhuma criatura passou por você?”  

“Nadinha mesmo. Porque? Qual é o problema?”  

Owen Davies falou, desolado , “No grande pasto subindo o caminho, tem quatroovelhas mortas som suas gargantas dilaceradas, e não há portão algum aberto ou qualquer s inal do que pode ter atacdo eles . ”  

Will olhou assustado para John Rowlands. “Esse é o mesmo...”  “Quem pode dizer?” disse o pastor tristemente. Como Davies, ele pareceu preso

entre a agonia e a raiva. “Mas não são cães, não vejo como poderiam ser c ães. Parecemais o trabalho de raposas, embora como pode ser, eu não sei.”  

“O milgwn , das colinas,” disse Bran.  

“Bobagem,” seu pai disse.  

“O quê?” disse Will.  

“O milgwn ,” falou Bran. Seus olhos ainda estavaml girando rapidamente

 procurando por Cafall, e ele f alou automaticamente. “Raposas cinza. Alguns dos

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fazendeiros dizem que tem grandes raposas cinza que vivem lá em cima na montanhas,maiores e mais rápidas do que as nossas raposas vermelhas aqui embaixo. ”  

Owen Davies disse, “Isso é bobagem.  Não existe tais coisas. Eu disse a vocêantes, não quero que você fique escutando essas velhas histórias estúpidas.”  

Seu tom era áspero. Bran encolheu os ombros.

Mas na frente da mente de Will surgiu de repente uma imagem brilhante, claracomo um filme exibido em uma tela: ele viu três grandes raposas trotando em linha,enormes animais branco-acinzentados com casacos espessos crescendo largos como golasao redor de seus pescoços, e com caudas parecidas com escovas. Elas se moveram pelaencosta da colina, entre as rochas, e por um instante uma delas virou sua cabeça e olhoudiretamente para ele, com claros olhosvigilantes. Naquele instante ele conseguiu vê-lastão claramente quanto conseguia ver Bran. Então a imagem se foi, elas desapareceram, eele estava para ao sol novamente, mudo, confuso, sabendo que em uma das brevesmensagens que poder surgir  –  muito raramente, apenas muito raramente  –  desprotegidasde um Antigo Escolhido para outro, seus mestres tinham lhe enviado uma imagem dascriaturas do Rei Cinzento como aviso, agentes do Escuro.

Ele disse abruptamente, “Não são apenas histórias. Bran está certo.”  

Bran olhou para ele, abalado pela ligeira certeza em sua voz. Mas Owen Daviesolhou para longe com clara reprovação, os cantos de sua boca baixaram. “Não seja tolo,gar oto,” ele disse friamente. “O que você pode saber sobre as nossas raposas?”  

Will jamais soube o que poderia ter dito em resposta, pois quebrando o tensosilêncio da tarde ensolarada veio um grito de John Rowlands, urgente, alto.

“Tan! Olhe ali! Tem fogo na montanha! Fogo!”  

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Parte Um: A Harpa Dourada

Fogo na Montanha

 Não havia muita fumaça, para tanto fogo. Em uma linha pela ladeira mais baixa damontanha, que de onde eles estavam só conseguiam ver por cima da cerca viva, chamasestavam ardendo na samambaia. Era como uma ferida comprida, um corte na pacíficaladeira castanha, agitando-se com vida mortal e sinistra. Também havia um pouco de cor nela, e eles estavam longe demais para ouvir qualquer som. Por um momento Will sótomou consciência da surpresa que John Rowlands deveria ter ao ver tudo isso.

Eles estavam concentrados nas instruções, e na urgência da voz suave deRowlands. “Para a fazenda, vocês dois, rápido. Liguem para os bombeiros de Tywyn e

 para a polícia, e então voltem com qualquer um que est eja lá. Todas as mã os que puiderem conseguir . E tragam vassouras para combater o fogo . Bran, você sabe onde elasestão. Vamos lá, Owen.”  

Os dois homens correram subindo o caminho cruzando o vale, e os garotosmergulharam pelo portão que conduzia aos campos da Fazenda Clwyd, Bran girou suacabeça ao redor em um redemoinho de cabelo branco: “Agora faça isso com cuidado ,” eledisse seriamente, “ou você vai ficar mais doente.. .” e ele partiu como um velocista,deixando Will para fechar o portão e trotar resignadamente em seu rastro.

O telefonema tinha sido feito no momento em que ele alcançou Bran na fazenda.David Evans os levou com ele na Land-Rover, junto com Rhys e um fazendeiro altochamado Tom Ellis que estava lá, quando eles chegaram. A traseira do pequeno carrotinha sido rapidamente preenchida com vassouras e sacos, e muitos baldes que o tio deWill parecia ter pouca esperança de usar. Os cães, dessa vez, foram deixados para trás.

“Eles não terão utilidade alguma contra o fogo,” disse Rhys, vendo Will in clinar  sua cabeça para os latidos queixosos . “E as ovelhas podem sair do caminho por elasmesmas  –  embora elas fiquem todas bem longe, por enquanto. ”  

“Fico imagindo onde está Cafall,” Will disse, e então avistou o rosto de Bran edesejou que não tivesse visto.

De perto, o fogo na montanha era muito mais assustador do que havia parecido delonge. Agora podiam sentir o cheiro, e escutar; cheiro de fumaça mais amargo do que o

de uma fogueira de fazenda; ouvir o suave som ameaçador das chamas consumindo asamambaia, como papel sendo amassado na mão, e o súbito rugido estalante enquanto umarbusto ou uma fila de tojo went up. E eles podiam ver as chamas, saltando alto,vermelhas claras e amarelas nas bordas do fogo mas ferozes e quase invisíveis em seucentro.

Enquanto eles desciam do carro David Evans estava pedindo as vassouras. Will eBran as retiraram: vassouras feitas como aquelas antigas, mas com as cerdas mais longase mais largas. John Rowlands e o pai de Bran, já equipados, estavam batendo na borda dofogo, tentando contê-lo; ma o vento estava soprando mais alto, e as chamas, agorasaltando, agora rastejando, logo estavam passando por eles e viajando pela borda mais baixa da montanha. Enquanto elas contuavam subindo, rugindo pela encosta da colina

através da samambaia seca inflamável, Owen Davies pulou fora do caminho bem a

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tempo.

O estalo aumentou; o ar estava cheio de vapor, fumaça e partículas negras decarvão e cinza rodopiando. Grande calor irradiava de encontro a eles. Estavam todos emuma linha atacando as chamas, batendo com todas as suas forças e ainda assim,extiguindo apenas uma centelha de vez em quando. John Rowlands gritou algo em Galêsdesesperadamente; então vendo o rosto de Will perto dele que mostrava não ter entendido, soltou com esforço: “Devemos conduzir o fogo para mais alto , antes que possa alcançar Prichard! Manter ele afastado da rocha !”  

Olhando em frente para a grande ladeira rochosa de Craig yr Aderyn, Will avistou pela prime ira vez o canto de uma construç ão de rocha cinza projetando-se além de seulado mais distante. A luz cintilou em uma jato de água sendo lançado ao lado da casa;alguém estava molhando a terra ao redor dela, em um esforço para enfraquecer o fogo seele chegar tão longe. Mas Will, batendo desanimado com sua comprida vassoura larga,sentiu que nada poderia deter ou controlar o inferno diante deles, agora resmungandoalto acima de suas cabeças enquanto alcançava um amontoado de arbustos de amorassilvestres. Era como uma enorme besta furisoa sobre a montanha, engolindo tudo em seucaminho com avidez irresistível. Era tão poderoso, e eles tão pequenos, que até mesmosos esforços de controlar seu caminho pareciam ridículos. Ele pensou:  É como o Escuro   –  e pela primeira vez encontrou-se imaginando como o fogo poderia ter começado.

Abaixo deles, da rua passando ao pé do grande Craig, surgiu o retinit do sino docarro de bombeiros, e Will viu caminhos vermelhos através das árvores, e uma mangueiraserpenteando através do ar. Vozes de homens estavam gritando fracamente e havia umsom de motores. Mas ali em cima na ladeira, o fogo estava ficando mais volumoso,enquanto o vento que soprava forte o conduzia em caminhos,e gradualmente eles foramforçados para baixo, para dentro das árvores margeando a estrada. Em um trovãotriunfante o fogo rugiu atrás deles.

“Desçam a estrada!” gritou o homem magro Tom Ellis. “Aquelas árvores serão

atingidas em um minuto!”  

Will ofegou ao lado de John Rowlands. “O que vai acontecer ?”  

“Vão queimar, eventualmente.” Mas o rosto enrugado do Galês esta va amargo.

Bran veio trotando do seu outro lado, sua pele branca manchada e suja. “O problema é esse vento, levando ele subindo o vale  –  a terra de Prichard está mesmo em perigo, Sr . Rowlands?”  

John Rowlands diminuiu seu passo por um momento, para olhar pelo céu. Agoranuvens estavam se formando no ar azul, estranhas nuvens brancas sujas irregulares que

 pareciam estar vindo de lugar algum. “Eu não sei. . . o vento causa uma mudança notempo, e ele está virando, mas é difícil dizer para onde.. . devemos ter chuva mais cedoou mais tarde.”  

“Bem,” Will disse esperançosamente, “a chuva vai apagar o fogo, n ão vai?” Masenquanto falava ele podia ouvir o estalo e o rugido do fogo como uma risada em suascostas, e não ficou surpreso quando John Rowlands balançou sua cabeça.

“Só um grande monte de chuva... o solo está tão seco, seco como nunca nessaépoca do ano  –  nada além de um aguaceiro terá algum efeito.” Ele olhou ao redor denovo, franzindo o rosto para as montanhas e para o céu . “Tem alguma coisa estranha,sobre esse fogo e tudo mais.. . algo está errado... ” Ele balançou seus ombros, desistindode procurar , e continuou andando enquanto eles faziam a curva e seguiam em direç ão docarro de bombeiros e seu motor barulhento.

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Will pensou:  Ah, John Rowlands, você vê mais do que acha que vê; embora nãoexatamente o bastante. O Lorde do Escuro começou seu trabalho nessas monatnhas, o

 Rei Cinzento está construindo uma barreira para isolar a harpa dourada, e, os Adormecidos que devem ser despertados , para que eu não consiga chegar até eles ecompletar a busca. Pois se ele puder afastá-los do alcance da Luz, então os Antigos

 Escolhidos não conseguirão alcançar seu poder máximo , e não haverá ninguém para

impedir o Escuro de se erguer.. .  Ele disse, sem saber que falava alto: “Mas isso não vai funcionar!”  

Uma voz disse suavemente em seu ouvido, “O que n ão vai funcionar?” os óculosescuros de Bran, cobrindo os seus olhos, estavam observando seu rosto.

Will olhou para ele e disse com súbita honestidade, “Não sei o que fazer comvocê.”  

“Eu sei que não sabe.” Bran disse, um rápido sorriso contorcendo seu estranhorosto pálido. “Mas vai precisar de mim so mesmo jeito.” Ele deu um giro, quando fumaçado fogo lá em cima da encosta da colina veio crescendo e descendo ao redor deles. “Não

se  preocupe,” ele disse, sorrindo. “Ninguém mais também nunca soube o que fazer comigo.” E ele se foi, girando, correndo, quase dançando subindo a estrada na direção docarro de bombeiros.

Will correu atrás dele. E então em um momento os dois foram brought up short por uma visão mais surpreendente do que qualquer outra. Debaixo da grande massa deCraig yr Aderyn os bombeiros tinham duas mangueiras trabalhando, molhando tanto amontanha quanto a beira da estrada em uma tentativa de impedir que o fogo saltassesobre Craig e descesse até a Fazenda Prichard. Outros corriam aqui e ali com baldes,vassouras, tudo com o que centelhas desgarradas poderiam ser apagadas antes queganhassem força. A estrada estava zumbindo de ansiosa atividade. Mesmo assim, no meiode tudo isso, parado ali rígido e consumido pela fúria, estava Caradog Prichard com seu

cabelo vermelho eriçado, sangue em sua camisa e uma espingarda segura em uma dasmãos  –  e a outra mão estendida firme, apontando de modo acusador enquanto gritava comraiva para John Rowlands.

“Traga o cão para mim! Traga ele! Vou provar que foi ele, ele e aquela aberração branca daquele estranho garoto Davies! Vou mostrar ! Seis ovelhas em meu campo, temseis delas, com suas gargantas dilaceradas, maldição, suas cabeças por um fio  –  e tudo por diversão, e foi isso que esses c ães sanguinários fizeram e é por isso que vou atirar neles! Traga eles aqui! Traga eles! E eu vou provar! ”  

Os garotos ficaram congelados, olhando para ele com horror; naquele momento elenão era um ser humano, mas uma criatura enlouquecida possuida pela fúria, transformado

em um animal irracional. Tudo o que poderia ser visto nele era o desejo de ferir, e essaera, como sempre seria, a visão mais assustadora no mundo.

Olhando para Prichard com o olho de um humano e a visão de um AntigoEscolhido, Will estava cheio de uma opressora compaixão: uma consciência do queinevitavelmente deveria dominar Caradog Prichard se ele não fosse controlado, agora, para sempre, nessa raiva antes que fosse tarde demais . Pare, ele desejou gritar para ele: pare, antes que o Rei Cinzento o veja, estenda sua mão em um gesto de amizade, e voc ê,ingenuamente, aceite e seja destruido. . .

Antes de pensar no que estava fazendo ele caminhou em frente, e o movimentotrouxe o homem de cabelo vermelho em direção a ele. O dedo balançando cruelmente,

golepando através do ar.

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“Você aí também, Sais bach , você é parte disso, você e a fazenda de seu tio. Elessão cães de Clwyd, esses brutos assassinos, isso tudo está em suas mãos, e todos vocêsvão me pagar, todos vocês.. .”  

Saliva espumou nos cantos de sua boca. Não havia como conversar com ele. Willse afastou, e com a fúria dos gritos de Prichard até mesmo os comabtentes do fogofizeram uma pausa, surpresos. Não havia som algum a não ser a pancada do carro de bombeiros ecoando e o estalar das chamas que se aproximavam, e por um instante,movimento algum em toda parte. Então David Evans foi em frente, uma pequena formaligeira com uma vassoura em sua mão e manchas de fuligem em seu rosto e em suacamisa, e ele pegou Prichard pelo ombro sem medo e o balançou, com força.

“O fogo estará sobre nós em minutos, Caradog Prichard –  você quer que a suafazenda queime? Todos nós aqui trabalhando com nossas mãos machucadas para manter as chamas longe de seu telhado, e a sua esposa lá dentro fazendo o mesmo, e você ficaaqui gritando suas bobagens e sem pensar em nada a não ser algumas ovelhas mortas!Você terá mais um monte de ovelhas mortas, homem, e uma fazenda morta também, sevocê não se recompor agora. Agora !”  

Prichard olhou para ele inexpressivamente, os pequenos olhos brilhantes tortosmostrando suspeita no rosto rechonchudo, e então ele pareceu acordar gradualmente, e perceber onde estava e o que estava acontecendo. Chocado, ele olhou para as chamassaltando perto além da cerca viva. A batida do carro de bombeiros cresceu tornando-seum som agudo mais alto, enquanto os trabalhadores balançavam suas mangueiras paraencarar o fogo que avançava; centelhas voavam em todas as direções enquanto batedoresgolpeavam freneticamente a samambaia. Caradog Prichard deu um curto grito agudo deterror, virou, e correu de volta em direção de sua casa na fazenda.

Sem dizer uma palavra Will e Bran juntaram-se às linhas de batedores, margeandodiagonamente subindo a encosta da colina em um esforço para impedir que o fogoseguisse acima e além de Craig. O céu estava ficando mais escuro enquanto as nuvens

ficavam mais espessas e a noite se aproximava, mas não havia sinal algum de chuva. Novamente o vento soprou forte, reduziu ao nada, ergueu-se em um súbito e novo soproforte; não havia como dizer o que ele faria em seguida. Mais e mais forte Will conseguiasentir a inimizade do Rei Cinzento pressionando-o dos altos picos na cabeça do vale;isso criava uma parede tão feroz quanto a parede de chamas que rugiam em direção a elesda outra direção, embora o único que podia sentir ambas as forças, o único que podiaficar preso entre as duas, fosse um Antigo Escolhido, Will Stanton, obrigado desde onascimento a seguir nessa para onde quer que ela pudesse levar.. . De repente elefoiacometido de uma louca excitação, trazendo energia de lugar algum para fortalçecer suas pernas e braços enfraquecidos. Gritando com súbita exultação, sorrindo loucamente para Bran, ele golpeou com força as chamas lambendo a samambaia aos seus pés como se pudesse esmagá-las contra o chão em um instante .

Então a visão de relance de um movimento mais acima na montanha desviou seusolhos da linha das chamas, e surgindo lá no alto das rochas ele viu, lançando-se emfrente com velocidade surpreendente, a forma de uma raposa branco-acinzentada.Arbustos voando em sua esteira, orelhas inclinadas para trás; ela saltou o lado elevadode Craig yr Aderyn. A fumaça aumentou, subindo com o vento, e a raposa sumiu. Willtinha visto apenas por um rápido momento.

Ele ouviu um lamento alto de Bran. “Cafall!”  

Então o garoto Galês estava escalando a ladeira, ignorando os gritos preocupadosabaixo, ignorando o fogo, a fumaçae e tudo mais exceto a visão do animal branco que

havia pensado ser o seu cão.

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“Bran, volte! Não é Cafall!” Will subiu desesperado atrás dele, seu coração pulsando como se fosse saltar de seu peito. “Bran! Volte!”  

A ladeira ficava mais e mais escarpada, até que eles estavam acima da própriaCraig, passando através de samambaia, sobre grama escorregadia, ao redor deamontoados de rocha cinza. Finalmente Bran fez uma pausa em um desses montes,ofegando, olhando para ele fixamente. Will foi para o lado dele, mal conseguindo falar.

“Cafall!” Bran gritou dentro do nada.

“Não era Cafall, Bran.”  

“É claro que era. Eu vi ele.”  

“Era uma raposa, Bran. Uma das milgwn . Bran, é um truque, não percebe? ”  

Will tossiu, sufocando com um sopro de fumaça negra que espalhava-se ao redor da ladeira por trás e abaixo deles. Eles não conseguiam ver nada a não fumaça e asrochas íngremes, com caminhos de céu cinzento acima de suas cabeças. Abaixo, não

havia sinal da fazenda, homens ou do vale, e em seus ouvidos nenhum som a não ser osuspiro do vento, e em algum lugar as vozes fracas dos pássaros.

Bran olhou para Will mostrando dúvida.

“Bran, eu tenho certeza.”  

“Está bem. Eu tinha tanta certeza.. . Sinto muito.”  

“Não precisa. Não foi você que viu. Foi o Rei Cinzento fazendo que visse. Mas o problema é, não podemos voltar por aquele cami nho, o fogo está subindo atrás de nós.. .”  

“Tem um caminho descendo pelo outro lado,” Bran disse, esfregando suor de seus

olhos. “Não tem samambaia para o fogo queimar ali, só pedras. Mas é um caminhodifícil.” Ele olhou com dúvida para o pálido rosto sujo de Will .

“Eu estou bem. Vamos lá, vamos lá. ”  

Eles escalaram a rude escada de grama e pedra, agora apoiando-se com ambas asmãos e pés.

“Tem um ninho de passarinho aqui!” Will tinha visto uma pilha desarrumada degalhos e samambaia a um pé de distância de sua cabeça.

Teria passarinhos também, se não fosse o fogo. É um local para fazer ninhos na primavera, eu disse. Não apenas para os cormorants  –  corvos também. Montes de

 pássaros.. . é por isso que a chama m de Rocha do s Pássaros, é claro. Aqui.. .” Bran parouereto em uma grande monte pedra, ladeado por samambaia. “Esse é o cume . Ela desce para o outro lado em direção da Fazenda Prichard.”  

Mas Will estava imóvel, olhando para ele. “Rocha dos Pássaros?”  

“Isso mesmo,” Bran disse, surpreso. “Rocha dos Pássaros . Craig yr Aderyn, rochados pássaros. Pensei que soubesse disso.”  

Will falou suavemente, refletindo:

 No dia dos mortos, quando o ano também morre,

 Deve o mais jovem abrir as colinas mais antigas

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 Através da porta dos pássaros, onde quebra a brisa .. .

Bran ficou olhando para ele. “Você quer dizer.. . a porta dos pássaros.. . aqui?”  

“Rocha do Pássaro. Deve ser  isso. Eu sei. E esse é o dia dos mortos.. . ” Will virousua cabeça depressa, olhando para o céu onde nuvens flutuavam como montes cinzentosde fumaça. “E o vento est á mudando, sinta.. . Não... Sim, lá está de novo... Um ventoruim, um vento do Escuro. Não gosto disso. Bran, o Rei Cinzento está nele.” Agora elefalou sem nenhum pensamento em Bran como qualquer outra coisa a não ser um aliado,sempre.

O garoto de cabelo branco falou desolado, “Está virando para o norte . Esse é o pior vento de todos, o vento do norte. Gwynt Traed yr Meirw , eles oo chamam, o ventoque sobra ao redor dos pés dos mortos. Ele traz tempestades. E coisa pior, às vezes.”  

O estalar distante do fogo parecia mais alto agora. Will olhou por cima de seuombro, descendo a colina; a fumaça estava mais espessa ali, e ele sentiu mais calor noar. O vento rodopiava em rajadas, carregando cinzas e fuligem da parte de baixo emestranhos redemoinhos escurosao redor de suas cabeças. De repente Will soube com

terrível certeza que o Rei Cinzento estava consciente de sua presença, precisamenteconsciente, reunindo seu poder para atacar    –  e foi nesse primeiro momento deconsciência que o fogo na montanha tinha começado. Ele mostrou medo em uma súbitasensação de terrível solidão. Um Antigo Escolhido, sozinho sem os outros da Luz, estavavunerável ao Escuro em sua plenitude. Embora ele não pudesse ser destruido parasempre, ainda poderia ser desarmado; o poder total do Senhor do Escuro poderia, se oatingisse sem defesa, lançá-lo para fora do Tempo por um espaço tão grande que ele não poderia ajudar seus companheiros até que fosse tarde demais. Então o Rei Cinzentoatacava Will com o fogo agora, e com tudo mais que pudesse estar ao seu comando.

E Bran estava mais vulnerável ainda. Will virou para trás depressa. “Bran, vamoslá, pelas montanhas até o topo. Antes que o fogo...”  

A voz dele morreu em sua garganta. Silencioamente no terreno ao redor deles,saindo dos buracos e fendas, fazendo a volta nas curvas e penhascos, surgiramfurtivamente as formas fantasmagóricas branco-acinzentadas das milgwn , mais de vintedelas: cabeças abaixadas, mostrando os dentes, um punhado branco cintilando em cadacauda cinzenta espessa rígida. O cheiro de raposa delas estava mais forte no ar do que oda fumaça. Na cabeça delas estava o rei raposa, o líder delas, a língua vermelhaestendida de uma boca aberta em um largo sorriso ameaçador, seus dentes brancos longoscomo dedos e pontudos como pregos, estalactites de ossos. Os olhos eram brilhantes; agola projetava-se branca ao redor dos ombros e pescoço largo.

Will cerrou os punhos, gritando furiosas palavras de poder na Linguagem Antiga,

mas a grande raposa cinza não demonstrou medo. Ao invés disso deu um súbito salto noar, posicionando-se direto em um lugar elevado, como Will uma vez tinha visto umaraposa fazer em um campo de Buckinghamshire, muito longe desse vale, para descobrir que perigo espreitava em um campo de trigo mais alto do que a cabeça dela. Quandosaltou, o rei raposa deu um curto latido agudo, profundo e claro. Os milgwn soltaram umrosnado baixo. E uma súbita labareda de chama subiu ao lado de Will com um som parecido com o de tecido rasgando, enquanto o fogo na montanha f in almente explodiu noterreno de Craig yr Aderyn e rugiu estalando ao redor deles na samambaia.

Will retrocedeu encolhido. Não havia como escapar a não ser passando pelo reiraposa. E a grande raposa estava agachada imóvel, abaixada sobre sua barriga, preparando-se para sal tar .

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Houve um agudo grito repentino no ombro de Will. Bran saltou para frente, balançando em sua mão um galho torto ardendo em chamas, um feixe de chamas; ele oenfiou no rosto da raposa cinza. Gritando, o animal caiu para trás em meio aos seuscompanheiros, e as raposas correram confusas. Antes que o galho pudesse descer queimando até seu braço, Bran o atirou para o lado. Mas inesperadamente, pego por umarajada de vento, ele caiu sobre o lado oposto do cume, descendo em direção da colina

que não foi queimada. Ele passou por cima da borda, e desceu para o lado mais distantede Craig onde o fogo de outro modo não deveria ter chegado. Houve um soprar de chamaquando o fogo tocou em sua nova presa. Bra n gemeu de horror.

“Will! Eu mandei o fogo descendo até a fazenda Prichard  –  estamos cercados pelos dois caminhos!”  

“O topo!” Will gritou depressa. “Temos que chegar até o topo!” Com toda acerteza dos antigos instintos ele sabia o lugar que deviam encontrar; ele tinha começadoa chamar por ele de modo persuasivo, invisível, acordando para sua busca. Ele sabiacomo ele deveria parecer; sabia o que deveria fazer quando chegassem até lá. Mas chegar até lá era outra questão. Chamas estalavam em ambos os lados deles, fazendo arder suas peles secas; em frente, as milgwn se agrupavam em um semi-círculo apertado, esperando,esperando...

Desesperadamente Will colocou proteção sobre ele mesmo e Bran, standingfoursquare virado para o norte e gritando algumas palavras na Linguagem Antiga: era oFeitiço de Helledd, para dar liberdade a um andarilho contra qualquer imposiçãodaqueles que mantinham a terra sobre a qual ele andava. Mas não havia muita esperançanele; ele sabia que isso não poderia durar muito tempo. Ao seu lado ele ouviu Bran soltar um grande grito implorando, como uma criança pequena pedindo ajuda sem saber a quemchamar.

“Cafall! Cafall!”  

E surgindo do nada vindo em direção a eles apareceu uma listra branca, saltandona raposa mais próxima, arrastando-a para o lado, de modo que ela girou com um gemidoe foi rolando e rolando. O apertado semi-círculo ondulou, incerto. Cafall pulou rangendoos dentes sobre a próxima raposa, suas mandíbulas se fechando rápida e forte sobre oombro dela, e os animais uivaram de modo horrível e se afastaram. There in the rent hehad torn in the rank of the milgwn the white dog stood, guerreiro como um touro, comsuas pernas plantadas firmes na rocha, e a mensagem cintilando em seus estranhos olhos prateados era clara. Will agarrou Bran pelo braço e deslizou com ele passa ndo por Cafall, livre, enquanto as raposas ofegantes hesitavam.

“Lá em cima, Bran, rápido! É o único lugar!”  

Os olhos de Bran tremularam sobre a terra negra e pêlo branco, colinas escuras ecéu cinza; ele viu o grande rei raposa das milgwn observando-os, controlado novamente, preparado para a perseguição . Então Cafall , curvando-se apra encarar o animal, começoua dar um grande rosnado crescente mais terrível do que qualquer som que Bran já tinhaouvido em sua vida. Como que em cumprimento de algum tipo de destino, o cão estavatornando possível que eles escapassem. Não havia motivo para não obedecer. Com umasúbita torrente de confiança e humildade, Bran virou e começou a subir atrás de Will.

Escalando com mãos e pés sobre o cume rochoso. Will seguia para o lugar ondeeles deveriam ir; esse lugar cantava para ele, chamando. Abaixo das pedras nas quaiseles de agarravam, fumaça rodopiava como um mar escuro; lá em cima, pássarosinvisíveis gritavam e grasnavam com medo feroz. Quando ele não conseguiu subir mais.

Will viu uma fissura saliente nas rocas diante dele, uma longa fenda alargada e

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desgastada pelo frio, vento e chuva. Seus lados de granito cinza estavam com placas delíquen. Irresistívelmente, ele o chamava.

Ele gritou para Bran: “Aqui!” Então sua voz ficou mais alta, comandando.“Cafall!”  

Os lados de granito da rachadura elevavam-se três vezes mais altos do que sua

cabeça. Ao entrar, Will olhou para trás por cima do ombro; ele viu Bran seguindo,confuso, e então uma veloz forma branca deslizando atrás dele, enquanto Cafall disparouem frente, encostando brevemente seu nariz na mão de Bran quando passou. Do lado defora sobre a rocha, uma tumultuada gritaria de fúria confusa ergueu-se das milgwn ,impedidas de entrar. O poder do mestre delas, Will agora sabia, tinha poder sobre asrochas e monatnhas e todos os lugares altos de Gwynedd; mas apenas sobre aqueles. Olado de dentro da rocha e da montanha era um domínio diferente.

Ele seguiu em frente. Na sua parte mais distante, a rachadura rochosa alargava um pouco. A luz era fraca . As coisas pareciam indistintas, como que em um sonho. Do ladode fora, as raposas latiam e gemiam. E então não havia mais nada na frente de Will a nãoser rocha cinza: uma formidável parede lisa, no fim da fenda. Will olhou a rocha, e sua

mente se encheu de uma calorosa sensação de descoberta e alívio tão intensa quantoalegria. O cão Cafall estava ao lado dele, ereto e orgulhoso como um jovem cavalo. Will baixou uma das mãos para repousar na cabeça branca. O outro braço ele ergueu d iante dedele, com dedos bem estendidos em um gesto de comando, e ele falou três palavras naLinguagem Antiga.

E diante dele, a rocha se partiu, como um grande portão, com um som suave,muito suave de música delicada que era pesarosmanete familiar e ao mesmo tempoestranha, desaparecendo tão logo era ouvida. Will caminhou em frente através das portasrochosas, com Cafall trotando confiante ao lado dele, cabeça erguida e cauda balançando. E Bran, um pouco hesitante, seguiu atrás deles.

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Parte Um: A Harpa Dourada

Rocha dos Pássaros

 Não havia como dizer se eles estavam mais fundo dentro de Craig yr Aderyn, outinham caminhado pelas rochosas portas cinzentas para dentro de outro lugar e tempo.Para Will isso não tinha importância. A excitação estava pulsando através dele, nestaestava o verdadeiro início de sua primeira busca como um Antigo Escolhido. Virando para olhar para trás, ele viu sem surpresa que as portas pelas quais eles t inham vindo nãoestavam mais lá. A parede rochosa no final da câmara agora estavam planas e inteiras, esobre ela, bem alto, pendia um escudo dourado redondo, cintilando fracamente em umaluz que vinha de algum lugar bem fundo dentro da sala.

Will olhou para Bran, mas o garoto Galês pareceu não estar perturbado. Seu rosto pálido estava estranhame nte vulnerável sem os seus óculos protetores, mas Will nãoconseguiu ler nenhuma expressão nos olhos parecidos com os de um gato; mais uma vezele sentiu uma intensa curiosidade a respeito desse estranho garoto que não tinha cor,nascido no vale assombrado pelo Escuro  –  mortal, e ainda assim também uma criaturaque já era conhecida pelos Antigos Escolhidos séculos antes. Como será que ele. Will,ele mesmo um Antigo Escolhido, poderia sentir tão pouco da natureza de Bran?

“Você está bem?” ele disse.

“Estou bem,” disse Bran. Ele estava olhando para cima nas paredes, além de.“ Duw ,” ele disse suavemente. “Lindo. Olhe para aquelas.”  

Era uma comprida sala vazia. Em suas paredes estavam penduradas tapeçarias,duas de cada lado, suas cores ricas tão profundamente brilhantes que também pareciam brilhar na meia-luz, como o escudo dourado. Will piscou reconhecendo as imagens bordadas ali , tão r icas quanto aço inox: Um unicórnio prateado, um campo de rosas , umcintilante sol dourado...

Toda a luz nesse quarto pareceu, agora ele viu, vir de apenas uma chama. Em umcastiçal de ferro projetando-se da parede de pedra próximo ao fim da sala, ali estavaapenas uma vela enorme. Tinha vários pés de altura, e ardia com brilho intenso e umachama que não balançava. A comprida sombra da vela estendia-se sobre a parede e ochão, imóvel, sem dançar. Sua imobilidade, Will percebeu, era a imobilidade da AltaMagia, um poder além da Luz e do Escuro ou qualquer fidelidade  –  a mais forte e mais

remota força no universo, que em breve ele e Bran deveriam encarar nesse lugar.

Houve um fraco choramingo ao seu lado, malmente audível. Ele olhou para baixo,e viu o cão Cafall olhando para trás, para Bran.

Will disse suavemente, “Então , vamos lá.”  

O nariz frio do cão tocou em sua mão, e Cafall virou e trotou rapidamente para seumestre, balançando sua cauda. Bran enfiou seus dedos no pelo da cabeça do cão comrápida e forte afeição, e Will soube que mesmo com toda a sua calma aparente havia namente dele um incerto pânico que se aproximava, que Cafall havia sentido e procuroualiviar. Will sentiu uma rápida ponta de simpatia por Bran, mas não havia tempo para

explicações. Ele sabia que devia confiar em sua sensação instintiva de que, em último

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caso, a estranha distância sempre aparente em Bran provaria ser a estranheza da grandeforça.

He disse bem alto, sem se virar, “Por aqui.” Então ele caminhou firmementedescendo a longa câmara alta. Bran seguiu com Cafall; Will conseguiu ouvir os passosecoando no chão pavimentado de rocha. Chegou até a vela alta na parede. Seu candelabrode ferro estava preso na parede na altura de seu ombro; os lados lisos da vela chegavam bem mais alto, acima de sua cabeça, de mo do que a chama branca brilhava lá em cimacomo uma cinti lante lua cheia.

Will fez uma pausa. “Primeiro a lua,” ele disse. “Então estrelas e, se tudo estiver  bem, um cometa, e então o pó das estrelas . E finalmente, o sol.”  

“O que?” disse Bran.

Will olhou sem realmente enxergar. Por trás de seus olhos ele estava olhandodentro de sua própria mente e memória, não para Bran. Aqui nesse lugar ele era umAntigo Escolhido, ocupado com os assuntos da Luz; nada mais tinha muita relevância.Ele disse, “Essa é a ordem das coisas, pela qual a Alta Magia deve ser conhecida. De

modo que ninguém deve estar ao alcance dela exceto por direito de nascença. ”  

Bran disse, “Ainda não sei sobre o que você está falando.” Então balançou suacabeça em um rápido gesto de nervosa desculpa . “Sinto muito, não quis parecer.. .”  

“Não importa,” disse Will. “Apenas siga . Você verá.”  

Os passos ecoaram novamente, e então eles estavam no fim da sala comprida e nãohavia nada diante deles a não ser um buraco no chão. Bran olhou desconfiado para o buraco.

Will disse, “Faça o que eu fizer.” Ele sentou na borda da rude abertura retângular  no chão, e em poucos momentos conseguiu ver uma escada, descendo em um ânguloíngreme. Abaixando-se cautelosamente, ele descobriu que a escadaria era estreita eescura; era como descer em um poço. Quando estendeu uma das mãos para cada lado,elas tocaram a rocha no mesmo instante, e a rocha do teto também estava muito perto desua cabeça. Ele seguiu descendo lentamente. Em um momento ele conseguiu ouvir os passos cuidadosos de Bran seguindo logo atr ás, e o suave arranhar das garras de Cafall .Por algum tempo o brilho da câmara superior chegou atrás deles lá embaixo, lançandoformas dançantes de sombras nas paredes próximas, mas logo até mesmo elasdesapareceram, e não havia mais nenhuma luz no túnel escadaria. Em seus lados, osdedos de Will encontraram dois canais feitos para formar balaustradas, um refúgioestável para as mãos de qualquer um que estivesse descendo. Ele disse baixinho, sua vozmalmente ecoando, “Bran, se estender suas mãos.. .”  

“Eu encontrei,” Bran disse. “Como corrimões, não são? Essa foi uma idéia br ilhante de alguém.” As palavras eram tranquilas, mas havia tensão por tr ás delas. Suasvozes soram suavemente na escadaria, abafadas como que abafadas pela neblina.

Will disse, “Vá com cuidado. Posso parar de repente.” Ele estava se esforçando para ouvir a voz de seus instintos; imagens aleat órias e impressões tremularam entrandoe saindo de sua mente. Alguma coisa estava chamando ele, algo próximo, próximo...

Ele colocou uma das mãos para frente, bem a tempo de evitar chocar-se contrauma parede de pedra. Não tinha nenhuma outra escada a frente: só um beco sem saídarochoso.

“O que é isso?” disse, atrás .

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“Espere um momento.” Uma instrução estava crescendo dentro da memória deWill, como um eco de outro mundo. Ficando com seu pés plantados firmemente no últimodegrau, ele colocou a palma de ambas as mãos contra a face áspera invisível da rocha barrando o caminho deles , e empurrou. Ao mesmo tempo ele falou certas palavras naLinguagem Antiga que surgiram em sua mente.

E a rocha se partiu, silenciosamente, como tinha feito quando as grandes portas seabriram silenciosamente na Rocha dos Pássaros, embora aqui nenhuma música tocasse.Com Bran e Cafall em seus calcanhares. Will andou para frente dentro de um leve brilhode luz que o fez sentir tal admiração que só conseguiu ficar parado e contemplar.

Eles não estavam mais onde estiveram. Estavam parados em algum lugar em outrotempo, no teto do mundo. Ao redor deles estava o céu aberto noturno, como uma grande bola negra invertida , e nela bri lhavam as estrelas , milhares sobre milhares de bri lhantescentelhas de fogo. Will ouviu Bran soltar um rápido suspiro. Eles ficaram imóveis,olhando para cima. As estrelas cintilavam ao redor deles. Não havia som algum em toda parte, em toda a imensidão do espaço. Will sentiu uma onda de vertigem; foi como seeles estivessem na última fronteira do universo, e se caissem, cairiam fora do Tempo...Enquanto observava, reconheceu gradualmente a estranha inversão da realidade na qualeles estavam. Ele e Bran não estavam em uma noite sem tempo observando as estrelas nocéu. Era o contrário. Eles próprios eram observados. Cada ponto ardente naquele grandehemisfério profundo de estrelas e sóis estava focado sobre eles, contemplando,considerando, julgando. Pois ao seguir na busca pela harpa dourada, ele e Bran estavamdesafiando o poder sem fronteiras da Alta Magia do universo. Deveriam ficar desprotegidos diante dele, no caminho deles, e lhes seria permitido passar apenas setivessem o direito por nascimento. Sob aquela luz das estrelas do infinito inclemente,qualquer desafiante sem o devido direito seria lançado ao nada tão facilmente quanto umhomem lançar uma formiga de sua manga.

Will ficou parado, esperando. Não havia mais nada que pudesse fazer. Procurou por amigos no céu. Encontrou a Águia e o Touro, com Aldebarã bri lhando vermelha e asPleiades cintilando; ele viu Orion brandindo sua clava bem alto, encorajando, comBetelgeuse e Rigel winking at shoulder and toe. Ele viu o Cisne e a Águia voando emdireção um ao outro pelo reluzente rastro do Caminho Leitoso; viu o confuso brilho dadistante Andrômeda, e os vizinhos próximos da Terra Tau Ceti e Procyon, e Sirius aestrela cão. Com desejosa esperança Will olhou para elas; com esperança em saudação, pois durante seu momento de aprendizado dos caminhos de um Antigo Escolhido elehavia flutuado entre todos elas.

Então o céu girou, e as estrelas se inclinaram e mudaram; agora o Centaurogalopava acima, e a dupla estrela azul Acrux suportando a Cruzeiro do Sul. A Hidraestendia-se preguiçosamente sobre os céus, com o Leão marchando, e o grande Shipnavegava em seu tranqüilo caminho eterno. E finalmente um reluzente ponto de luz, comuma longa cauda curvada, surgiu brilhando no campo de visão sobre metade da bolainvertida do céu, passando em um longo movimento progressivo majestoso; e Will soubeque ele e Bran tinham sobrevivido na primeira prova deles.

Ele pressionou levemente o braço de Bran, e viu um tremeluzir de luz refletidaenquanto a cabeça branca virava.

“É um cometa!” Bran sussurrou.  

Will falou em resposta suavemente, “Espere . Tem mais, se tudo correr bem. ”  

A comprida cauda cintilante do cometa moveu-se gradualmente para fora de vista,

descendo no horizonte do mundo sem nome e tempo deles. No hemisfério negro as

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estrelas ainda brilhavam e viraram lentamente; debaixo delas Will sentiu-se tãoinfinitesimalmente pequeno que pareceu impossivel que ele pudesse ao menos existir. Aimensidão fazia pressão sobre ele, apavorante, ameaçadora  –  e então, em um ligeiro flashde movimento parecido com uma dança, como o cintilar de um peixe que saltava, surgiuuma leve claridade de uma estrela cadente no céu. Então outra, e outra, aqui, ali, por todo redor. Ele ouviu Bran soltar um pequeno chiado de prazer, uma centelha com o

mesmo súbito brilho de alegria que preenchia seu próprio ser. Faça um pedido a umaestrela, disse uma voz baixa em sua cabeça de algum dia distante de sua infância:  Façaum pedido a uma estrela   –  o grito de um prazer e fé tão antiga quanto os olhos dohomen.

“Faça um pedido a uma estrela cadente,” disse Bran suavemente em seu ouvido.Ao redor deles os meteoros morriam rapidamente e desapareciam, enquanto pequenos pontos de poeira estelar em seu longo rastro nebuloso agarravam-se ao halo etéreo daterra, ardiam brilhantes e sumiam.

 Eu desejo , disse Will com força em sua mente:  Eu desejo.. . Oh, Eu desejo.. .  

E toda a brilhante luminosidade do céu se foi, em um trenular de tempo que eles

não podiam segurar, e a escuridão surgiu ao redor deles tão rápido que eles piscaram semem descrença em seu espesso vazio. Estavam de volta na escadaria debaixo da Rocha dosPássaros, com degraus de pedra sob seus pés e uma balaustrada de pedra curva sensívelao menor toque de suas mãos. E quando Will esticou uma das mãos para tatear adiante,descobriu que não havia parede de pedra alguma ali para barra seu caminho, mas apenaslivre espaço aberto.

Lentamente, vacilante, ele seguiu descendo a escura escadaria, e Bran e Cafall oseguiram.

Então muito gradualmente uma luz fraca começou a surgir vindo debaixo. Will viuum cintilar das paredes que os confinavam; então a forma dos degraus abaixo de seu pés;

então, aparecendo ao redor uma curva na comprida escadaria em forma de túnel, ocírculo brilhante que marcava o seu fim. A luz ficou mais brilhante, o círculo mais largo;Will sentiu seus passos tonarem-se mais rápidos e mais ansiosos, e mocked himself, masnão conseguiu evitar.

Então o instinto fez com que tivesse cautela, e nós últimos degraus da escadaria,diante da luz, ele parou. Atrás dele, ouviu Bran e o cão pararem também, ao mesmotempo. Will ficou escutando seus sentidos, tentando definir a origem do alerta. Ele viu,sem ver exatamente, que os degraus nos quais ele estava tinham sido feitos na rocha comimenso cuidado e simetria, com ângulos perfeitos, lisos como vidro, cada detalhe tãoclaro quanto se a rocha tivesse sido cortada logo no dia anterior. Ainda assim, havia um perceptível furo no centro de cada degrau, que só poderiam ter sido criado por séculos de

 pés que passaram. Então ele parou de notar tais coisa, pois a consciência o tocou na parte mais profunda de sua mente e disse a ele o que deveria fazer .

Cuidadosamente Will ergueu a manga esquerda de seu suéter até o cotovelo,deixando o antebraço nú. Na parte inferior de seu braço cintilava a lívida cicatriz queuma vez tinha sido queimada ali acidentalmente como uma marca a ferro: o signo da Luz,um círculo cortado por uma cruz. Com um lento gesto proposital, meio defensivo, meiodesafiador, ele ergueu seu braço marcado diante de seu rosto, como se estivesse protegendo seus olhos da luz , ou se protegendo de um ataque inesperado . Então elecaminhou descendo os últimos degraus da escadaria e entrou na luz. Assim que pisou nochão, ele sentiu o choque de uma sensação como nada que já tinha conhecido. Umcintilar de um brilho branco o cegou, e sumiu; um rápido trovão estourou em seus

ouvidos, e sumiu; uma força como o golpear de uma onda de alguma grande explosão

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atingiu levemente seu corpo, e sumiu. Will ficou imóvel, respirando depressa. Ele sabiaque sob sua singular proteção, havia trazido eles através da última porta da Alta Magia:uma barreira viva que consumiria qualquer invasor em uma lufada de energia tãoimpensável quanto o holocausto do sol. Então ele olhou dentro da sala diante dele, e por um momento de ilusão pensou ter visto o próprio sol.

Era uma imensa sala cavernosa, de teto alto, iluminada por tochas enfiadas emsuportes nas paredes de pedra, e nebulosa por causa da fumaça. A fumaça vinha dastochas. Mesmo assim, no centro do chão ardia uma grande chama cintilante, sozinha, semnenhuma chaminé ou lareira para contê-la. Ela não soltava fumaça alguma, mas queimavacom uma luz branca de tal brilho que Will não conseguia olhar diretamente para ela. Nenhum calor intenso vinha desse fogo, mas o ar estava carregado com o cheiroaromático de madeira queimando, e havia o som do estalar de uma tora no fogo.

Will seguiu em frente passando pelo fogo, acenando para que Bran o seguisse;então ele parou abruptamente quando viu o que estava logo adiante.

Três figuras sentavam obscuros no fim da câmara, em três grandes tronos que pareciam ser feitos de ardósia Galesa azul esverdeada . Eles não se moveram. Pareciam

ser homens, vestidos em longos hobes com capuz de diferentes tonalidades de azul. Umrobe era escuro, um era claro, e o robe entre eles era o azul-esverdeado de um mar deverão. Entre os três tronos estavam dois baús de madeira entalhada. No início não parecia haver mais nada na grande sala, mas após um momento de observação Will soubeque havia movimento nas sombras profundas além do fogo, na escuridão ao redor dostrês lordes iluminados. Essas eram figuras brilhantes em uma tela escura, iluminadas para capturar os olhos; na escuridão além delas outras coisa s de natureza desconhecidaespreitavam.

Ele não conseguia dizer nada sobre a natureza das três figuras, além de sentir grande poder. Nem seus sentidos como um Antigo Escolhido conseguiam penetrar naescuridão ao redor. Era como se uma barreira invisível permanecesse ao redor deles,

através da qual nenhum encanto poderia passar.

Will ficou perto diante dos tronos, olhando. Os rostos dos três lordes estavamescondidos nas sombras de seus robes encapuzados. Por um momento houve silêncio,quebrado apenas pelo suave estalar do fogo que ardia; então saindo das trevas uma voz profunda disse, “Nós o saudamos . Will Stanton. E o nomeamos pelo signo. Will Stanton,Buscador dos signos.”  

“Saudações,” Will disse, com a mais forte e clara voz que conseguia mostrar, eabaixou sua manga sobre o seu braço marcado. “Meus lordes,” ele disse, “é o dia dosmortos.”  

“Sim,” disse a figura no robe azul mais claro. Seu rosto pareeu fino nas sombrasde seu capuz, os olhos brilhando, e sua voz era suave, sibilante, assobiante.“Simmmmmm...” Ecos sussurravam como serpentes surgindo do escuro, como secentenas de outras pequenas vozes sibilantes viessem de formas indefinidas atrás dele, eWill sentiu os cabelos menores da costa de seu pescoço se eriçarem. Atrás dele escutouBran soltar um lamento involuntário abafado, e soube que o horror deveria estar rastejando como uma névoa branca através da mente dele. A força de Will como umAntigo Escolhido se rebelou. Ele disse com fria reprovação repentina, “Meu lorde?”  

O horror se desfez, como uma nuvem soprada pelo vento, e o lorde no robe azulclaro riu suavemente. Will ficou ali franzindo o rosto para ele, imóvel: um pequenogaroto de jeans e suéter, que apesar de tudo sabia poder digno de encontrar esses três.

Ele disse, agora confiante, “É o dia dos mortos, e o mais jovem abriu as antigas colinas,

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através da porta dos pássaros . E teve permissão de passar do olho da Alta Magia. EU vimem busca da harpa dourada, meus lordes.”  

A segunda figura no robe azul-marinho disse, “E o garoto corvo com voc ê.”  

“Sim.”  

Will virou para Bran, que estava hesitante mais perto do fogo, e acenou para ele.Bran seguiu em frente bem lentamente, os pés tão relutantes como se lutassem contramelado, e ficou ao seu lado. A luz das tochas nas paredes brilharam em seu cabelo branco.

O lorde no robe azul-marinho se inclinou de seu trono um pouco para frente; elesviram um rosto forte e sério e uma barba cinza pontuda. Ele disse, surpreendentemente,“Cafall?” 

Ao lado de Bran o cçao branco estava ereto e tremendo. Ele não se moveu uma polegada para frente, como que obedecendo alguma instrução interior que dizia a ele seulugar, mas sua cauda balançava furiosamente de um lado para o outro como nunca tinha

 balançado para ninguém a não ser Bran. Ele emitiu um leve e curto choramingo.Dentes brancos cintilaram no rosto encapuzado. “Ele foi bem nomeado . Bem

nomeado.”  

Bran disse com ciúmes, em uma súbita ansiedade feroz, “Ele é meu cão!” Entãoadicionou, um pouco abafado, “Meu lorde.” Will conseguiu sentir a preocupaç ão neleassim como a sua própria temeridade.

Mas a risada das sombras foi amigável. “Não tenha medo, garoto. A Alta Magia jamais t iraria o seu cão de você. Certamente os Antigos Escolhidos também não, e oEscuro poderia tentar mas não teria sucesso.” Ele se curvou para frente de repente, demodo que por um instante o rosto forte e barbado estava claro; a voz abrandou, e houveuma dolorosa tristeza nela. “Apenas as criaturas da terra tiram umas das outras, garoto.Todas as criaturas, mas os homens mais do que todas. Eles tiram a vida, e liberdade, etudo que outro homem possa ter  –  às vezes por ganância, às vezes por estupidez, masnunca por qualquer escolha a não ser a sua própria. Tenha cuidado com sua própria raça,Bran Davies  –  eles são os únicos que sempre irão machucá-lo, no final. ”  

O temor correu por Will quando sentiu a profunda tristeza na voz, pois havia umacompaixão nela direcionada somente a Bran, com se o garoto Galês estivesse próximo dealguma grande aflição. Ele teve uma rápida sensação de uma misteriosa proximidadeentre esses dois, e soube que o lorde no robe azul-marinho estava tentando dar a Branforça e ajuda, sem ser capaz de explicar porque. Então a figura encapuzada se inclinou para trás súbitamente, e aquele modo de agir desapareceu.

Will disse roucamente, “Entretanto, m eu lorde, os direitos daquela raça sempreforam assuntos da Luz. E em uma busca deles eu reinvindico a harpa dourada.”  

O lorde de voz suave no robe mais claro, que tinha falado primeiro, swiftly stood.Sua capa girou ao redor dele como uma névoa azul; olhos brilhantes cintilaram do tênuerosto fino no capuz.

“Responda os três enigmas como exige a lei, Antigo Escolhido, você e o CorvoBranco, aquele seu ajudante ali, e a harpa será sua. Mas se responder errado, as portas de pedra fecharão, e vocês serão deixados indefesos na fria montanha, e a harpa estará perdida pela Luz para sempre .”  

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“Nós responderemos,” Will disse.  

“Você, garoto, o primeiro.” A névoa azul girou novamente. Um dedo ossudoestava esticado apontando para Bran, e o capuz sombreado virou. Will virou também,ansioso; ele meio que tinha esperado por isso.

Bran engasgou. “Eu? Mas – mas eu . . .”  

Will se esticou e tocou em seu braço. Ele disse suavemente , “Tente. Apenas tente.Estamos aqui apenas para tentar. Se a resposta estiver adormecida em você, eradespertará. Se não estiver, não importa. Mas tente.”  

Bran olhou sério para ele, e Will viu sua garganta se mover quando ele engoliu emseco. Então a cabeça branca virou de volta. “Está bem.”'  

A suave voz sibilante disse, “Quem são os Três Mais Antigos do Mundo?”  

Will sentiu a mente de Bran vacilar em pânico, enquanto tentava encontrar significado nas palavras. Não havia modo de oferecer ajuda. Nesse lugar, a lei da Alta

Magia impedia um Antigo Escolhido de colocar o menor pensamento ou imagem dentrode outra mente: Para Will só era permitido escutar. Então, tenso, ele ficou escutando oturbilhão dos pensamentos de seu amigo, enquanto eles corriam desesperadamente procurando ordem.

Bran se esforçou. Os Três Mais Antigos do Mundo... em algum lugar ele sabia.. .era estranho e ao mesmo tempo familiar, como se ele tivesse visto em algum lugar, oulido.. . as três criaturas mais antigas, as três coisas mais antigas.. . tinha lido isso naescola, e tinha lido isso em Galês.. . as coisas mais antigas.. .

Ele tirou seus óculos do bolso de sua camisa, como se tocar neles pudesse clarear sua mente, e ele viu ao olhar para eles o reflexo de seus próprios olhos. Olhosestranhos.. . olhos assustadores, eles os chamavam na escola. Na escola. Na escola.. .Estranhos olhos marrom-amarelados, como os olhos de uma coruja. Ele colocou osóculos de volta em seu bolso lentamente, sua mente tateando em um eco. Ao seu lado,Cafall se mexeu bem levemente, sua cabeça se movendo de modo que tocou a mão deBran. O pelo esfregou em seus dedos suavemente, muito suavemente, como o toque de penas. Penas. Penas.  Penas . . .

Ele conseguiu.

Will, ao seu ladoa, sentiu em sua própria mente o eco da torrente de alívio, e seesforçou para conter sua alegria.

Bran se ajeitou e limpou sua garganta. “Os Três Mais Antigos do Mundo,” ele

disse, “são a Coruja de Cwm Cawlwyd, a Águia de Gwernabwy, e o Melro de CelliGadarn.”  

Will falou suavemente, “Oh, muito bem! Muito bem!”  

“Está certo,” disse a fina voz acima deles, sem emoção. Como um céu da manhã orobe azul calro girou diante deles, e a figura mergulhou de volta em seu trono.

Do trono central ergueu-se o lorde no robe azul-marinho; pisando em frente, eleolhou para Will. Por trás de sua barba cinza seu rosto pareceu estranhamente jovem,embora sua pele fosse morena e castigada como a pele de um marinheiro que estevemuito tempo no mar.

“Will Stanton,” ele disse, “quem eram os três homens generosos da Ilha da Grã

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 bretanha?”  

Will olhou para ele. O enigma não era impossível; ele sabia que a resposta jaziaem algum lugar em sua memória, coletada do grande Livro de Gramarye, livro tesouro doencantamento da Luz que havia sido destruido tão logo ele, o último dos AntigosEscolhidos, tinha sido apresentado ao que ele continha. Will colocou sua mente paratrabalhar, procurando. Mas ao mesmo tempo um enigma mais profundo o preocupava.Quem era esse lorde no robe azul-marinho, com seu grande interesse em Bran? Ele sabiasobre Cafall. . . claramente ele era um lorde da Alta Magia, e mesmo assim havia algumacoisa familiar nele. . . alguma coisa familiar . . .

Will colocou o pensamento de lado. A resposta para o enigma tinha vindo para asuperfície de sua memória.

Ele disse claramente, “Os três homens generosos da Ilha da Gr ã Bretanha. Nudd oGeneroso, filho de Senllyt. Mordaf o Generoso, filho de Serwan. Rhydderch o Generoso,filho de Tydwal Tudglyd.  E o próprio Arthur era mais generoso do que os três .”  

De propósito, quando falou a última linha sua voz ecoou através da sala como um

sino.

“Está certo,” disse o lorde barbado. Ele olho u pensativo para Will e pareceu quasedizer mais alguma coisa, mas ao invés disso ele apenas balançou a cabeça lentamente.Então, girando seu robe em uma onda azul-marinha, ele voltou para seu trono.

A sala pareceu mais escura, cheia de sombras dançando que vinham da luztremulante do fogo. Um flash repentino e um estalar surgiu atrás dos garotos, quandouma tora caiu e as chamas saltaram; instintivamente Will olhou para trás. Quando elevirou para frente de novo, a terceira figura, qu não tinha falado ou se movido até agora,estava alt iva e s i lenciosa de pé, em frente a seu trono. Seu robe era azul escuro, bemescuro, o mais escuro dos três, e seu capuz estava tão puxado para frente que não havia

 parte alguma de rosto visível , apenas sombra .Sua voz era profunda e ressonante, como o som de um violoncelo, e ela fez surgir 

música dentro da sala.

“Will Stanton,” ela disse, “qual a costa que teme o mar?”  

Will caminhou para frente impulsivamente, suas mãos se fechando apertadas, poisessa voz chegou até a parte mais profunda dele. Certamente, certamente.. . mas o rostosob o capuz estava escondido, e lhe eram negados todos os meios de reconhecimento.Cada pedaço de seus sentidos que tentavam alcançar os grandes tronos encontravam uma barreira de negação da Alta Magia. Mais uma vez Will desist iu, e concentrou sua menteno últ imo enigma.

Ele disse lentamente. “A costa que teme o mar.. .”  

Imagens dançavam entrando e saindo de sua mente: grandes ondas batendo contrauma costa rochosa.. . . a luz verde no oceano, o reino de Tétis, onde estranhas criaturasconseguiam viver.. . então um mar mais suave, quebrando em longas ondas lentas em uma praia dourada sem fim. A costa .. . a praia.. . a praia.. .

A imagem tremulou e mudou. Ela se dissolveu em uma colorida floresta de árvoresantigas retorcidas, seus troncos lisos com uma curiosa casca cinza clara. Suas folhasdançavam acima, novas, suaves, brilhantes com um verde delicado que possuia em sitoda a primavera. O início do triunfo sussurrou na mente de Will.

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“A costa,” ele disse. “A praia onde o mar quebra. Mas ela também é uma floresta,de adorável grama, que está no cabo de um formão e nas pernas de uma cadeira, nacabeça de uma vassoura e na sela de um cavalo trabalhador. E também ouso jurar queesses dois baús entre os seus tronos são feitos dela. Os únicos lugares onde ela não podeser usada são debaixo do céu aberto e no mar aberto, pois sua madeira perde sua virtudese for molhada pela água. A resposta para seu enígma, meu lorde, é a madeira da árvore

de faia.”  As chamas saltaram no fogo atrás deles, e de repente a sala estava brilhante.

Alegria e alívio pareceram emergir através do ar. Os dois primeiros lordes de robe azulse ergueram de seus tronos para ficar ao lado do terceiro; eles se elevaram encapuzadossobre os garotos como três torres. Então o terceiro lorde puxou para trás o capuz de seurobe azul escuro, para revelar uma cabeça de olhos profundos com nariz semelhante a um bico de gavião e um punhado de rebelde cabelo branco . E a barreira contra oreconhecimento da Alta Magia desapareceu.

Will gri tou cheio de alegria, “Merriman! ”  

Ele saltou em frente até a alta figura como uma criança pequena salta para seu pai,

e agarrou suas mãos estendidas. Merriman sorriu para ele.

Will riu bem alto com prazer. “Eu sabia,” ele disse.  “Eu sabia. E mesmo assim...”  

“Saudações, Antigo Escolhido.” Merriman falou. “Agora você cresceucompletamente dentro do Círculo, desse modo. Se tivesse falhado nessa parte da busca,tudo mais teria sido perdido.” As frias linhas duras se seu rosto estavam suavizadas pelaafeição; seus olhos escuros ardiam como tochas negras. Então ele se virou para Bran,segurando ele pelos ombros. Bran olhou para ele, pálido e sem expressão alguma.

“E o garoto corvo,” a voz profunda disse gentilmente. “Nos encontramos de novo.Você executou bem a sua parte, como era sabido que faria. Mantenha sua cabeça erguida

com orgulho. Bran Davies. Você carrega uma grande herança dentro de você. Muito temsido pedido a você, e mais ainda será. Muito mais.”  

Bran olhou para Merriman sem piscar com seus olhos parecidos com os de umgato, e não disse nada. Sentindo o humor do garoto Galês. Will percebeu umconstrangedor prazer.

Merriman deu um passo para trás. Ele disse, “Três Lordes da Alta Magia têm aguarda da harpa dourada por muitos séculos. Não há nomes aqui nesse lugar, nemlealdades nessa tarefa. Aqui, como em outros lugares que vocês ainda não conhecem,tudo está sujeito a lei, a Alta lei. Não tem importância alguma que eu seja um Lorde daLuz, ou que meu colega ali seja um Lorde d o Escuro.”  

Ele fez uma leve reverência irônica para a figura alta que usava o robe de azulmais claro. Will prendeu a respiração ao entender repentinamente, e olhou para o rostofino escondido sob o capuz. Mas ele foi virado para longe dele, olhando para dentro dassombras da sala.

A figura central no robe azul-marinho deu um passo em frente. Havia grande etranqüila autoridade nele, como se ele fosse confiante, sem pompa, em saber que elemesmo era o mestre naquela sala. Ele colocou para trás seu capuz e eles viram toda aforça e delicadeza do rosto barbado. Embora sua barba fosse cinza, seu cabelo eracastanho, apenas levemente listrado de cinza. Ele pareceu um homem na metade de seusanos, com todo poder não reduzido, e ainda assim com sabedoria já adquirida.  Mas , Will pensou, ele não é um homem...  

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Merriman inclinou sua cabeça respeitosamente, movendo-se para o lado. “Senhor,”ele disse.

Will observou, finalmente começando a entender.

Ao lado de Bran, o cão Cafall emitiu o mesmo som de devoção que tinha feitoantes. Olhos claros azuis observaram Bran, e o lorde barbado falou suavemente, “Que a

fortuna o guarde em minha terra, meu filho. ”  

Então enquanto Bran olhou para ele perplexo, o lorde se ergueu, e sua voz elevou-se. “Will Stanton,” ele disse. “Dois baú s estão entre nossos tronos. Você deve abrir o baú da minha direita, e pegar o que encontrará ali . O outro permanecerá selado, para ocaso de necessidade, até outro momento que espero jamais chegue. Aqui agora .”  

Ele se virou, apontando. Will foi até o grande baú entalhado, girou seu fechoforjado em ferro, e empurrou no topo. Era tão largo, e a parte de madeira tão pesada, queele teve que se ajoelhar e empurrar para cima com toda força dos dois braços; mas balançou sua cabeça em uma negativa de aviso quando Bran começou a se mover paraajudar.

Lentamente a pesada tampa subiu, e caiu aberta, e por um momento houve umdelicado som como o de uma canção no ar. Então Will se esticou para dentro do baú, equando se levantou novamente estava carregando em seus dois braços uma pequena ecinti lante harpa dourada.

O som da música na sala desapareceu, dando lugar a um pequeno estrondocrescente como um trovão distante. Ele foi ficando mais próximo e mais alto. O lorde derobe mais claro, azul celeste, seu rosto ainda encapuzado e escondido, se afastou deles.Ele segurou sua capa e a girou em uma longa curva.

O fogo sibilou e se apagou. Fumaça encheu a sala, escura e amarga. Trovão

retumbou e rugiu ao redor. E o lorde no robe azul celeste deu um grande grito de fúria, edesapareceu.

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Parte Um: A Harpa Dourada

Olhos Que Enxergam O Vento

Eles ficaram silenciosos na escuridão fracamente iluminada. Em algum lugar alémda rocha, trovão ainda retumbava e rugia. As tochas queimavam, ondulantes efumacentas, nas paredes.

Bran falou de modo sombrio: “Ele era o   –  o. . .” 

“Não,” Merriman disse. “Ele não é o Rei Cinzento. Mas ele é alguém muito próximo a ele , e agora ele voltou at é ele. E a fúria deles vai se elevar ainda mais porqueserá aguçada pelo medo, medo do que a Luz pode ser capaz de fazer com essa nova Coisade Poder.” Ele olhou para Will, seu rosto magro tenso de preocupação. “A primeira parte perigosa da busca está completa, Antigo Escolhido, mas perigo pior ainda está por vir .”  

“Os Adormecidos devem ser despertados,” Wil l disse.

“Isso está certo. E mesmo que ainda não saibamos onde eles dormem, nemsaberemos até que você os tenha encontrado, é quase certo que eles estejamterrivelmente, perigosamente próximos ao Rei Cinzento. Por muito tempo nós sabemosque havia uma razão para que ele mantivesse sua garra fria nessa parte da terra, emboranão pudéssemos entender. Um vale feliz, esse sempre foi, e lindo; e ainda assim eleescolheu fazer seu reino aqui, ao invés de em algum lugar remoto horrível do tipoescolhido pela maioria de sua linha. Agora está claro que só pode existir uma razão paraisso: para estar perto do lugar onde os Adormecidos estão, e para manter seu local de

descanso dentro do poder dele. Assim como essa grande rocha, Craig yr Aderyn, aindaestá dentro de seu poder.. .”  

Will disse, seu rosto arredondado sério, “O feitiço de proteção, pelo qual viemosaté aqui intocados, agora já fez o seu curso. E ele só pode ser feito uma vez.” Ele olhou para Bran com tr isteza.

“Devemos ter uma recepção interessante lá fora, quando deixarmos esse lugar. ”  

“Não se preocupe. Antigo Escolhido. Agora você terá uma nova proteçãoconsigo.”  

As palavras vieram profundas e gentis do topo da sala. Virando, Will viu que olorde barbado, seu robe azul como o mar do verão, estava sentado no trono novamentenas sombras. Enquanto ele falava, pareceu que a luz começava a crecser gradualmente nasala; as tochas queimaram mais alto, e cintilando entre eles agora Will conseguia ver compridas espadas penduradas na rocha.

“A música da harpa dourada,” disse o lorde de robe azul, “tem um poder que n ão pode ser quebrado pelo Escuro nem pela Luz . Ela possui a Alta Magia, e enquanto aharpa está sendo tocada, aqueles sob sua proteção estão seguros de qualquer tipo de danoou feitiço. Toque a harpa de ouro, Antigo Escolhido. Sua música o envolverá emsegurança.”  

Will disse lentamente, “Por encantamento eu poderia tocá -la, mas acho que seriamelhor ser tocada pela arte de dedos habilidosos. Não sei como tocar a harpa, meu

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lorde.” Ele fez uma pausa. “Mas Bran  sabe.”  

Bran olhou para o instrumento quando Will lhe ofereceu.

“Nunca uma harpa como essa, entretanto,” ele disse.  

Ele pegou a harpa de Will. Sua estrutura era delgada mas ornada, moldada de um

modo que uma vinha dourada com folhas douradas e flores parec iam enrolar-se ao redor dela, entrando e saindo por suas cordas. Até mesmo as próprias cordas pareciam como sefossem feitas de ouro.

“Toque, Bran,” falou suavemente o lorde barbado.  

Segurando a harpa na curva de seu braço esquerdo de forma experimental, Brancorreu seus dedos gentilmente sobre as cordas. E os sons que vieram delas foram de taldoçura que Will, ao lado dele, prendeu a respiração de espanto; ele nunca tinha ouvidonotas ao mesmo tempo tão delicadas e ressonantes, enchendo a sala com música como alíquida canção dos pássaros de verão. Atento, fascinado, Bran começou a tirar as notastristes de uma antiga canção de ninar Galesa, elaborando-a gradualmente, preenchendo-a,

enquanto ganhava confiança ao sentir as cordas sob sua mão. Will observou aconcentrada devoção de um músico no rosto dele. Espiando por um instante o lorde notrono, e Merriman, soube que nesse momento eles também foram arrebatados, carregados para fora do tempo pela música que não era da terra , fluindo como a Alta Magia em umfeit iço cantado.

Cafall não fez som algum, mas encostou sua cabeça contra o joelho de Bran.

Merriman disse, sua voz profunda suave sobre a música, “V á agora, AntigoEscolhido. ” Seus olhos profundos olhos sombreados encontraram os de Will brevemente,em uma forte comunicação de confiança e esperança. Will olhou para ele por um últimomomento na alta sala iluminada por tochas, com sua figura de robe escuro altiva como

uma árvore, e o lorde barbado desconhecido sentado imóvel em seu trono. Então ele sevirou e conduziu Bran, seus dedos ainda arrancando gentilmente uma melodia da harpa,em direção a estreita escadaria de pedra até a câmara da qual eles tinham vindo. Quandoele o fez subir, ele se virou e ergueu um braço em saudação, então seguiu.

Bran ficou na sala rochosa acima, tocando, enquanto Cafall e Will subiram atrásdele. E enquanto ele tocava, ali tomaram forma na parede vazia no fim da câmara, sob oúnico escudo dourado pendurado, as duas grandes portas através das quais eles tinhamentrado no coração da Rocha dos Pássaros.

A música da harpa ondulou em uma escala ritmada crescente, e lentamente as portas se abriram para dentro. Além, eles viram o céu cinzento nebuloso entre as paredesíngremes da rachadura. Ainda que o fogo não queimasse mais na montanha, um cheiroforte de queimado pairava no ar. Quando eles caminharam para o lado de fora, Cafall passou por eles, através da fenda, e desapareceu.

Súbitamente atingido por um medo de perdê-lo novamente, Bran parou de tocar.“Cafall! Cafall!” ele gritou.  

“Veja!” Will disse suavemente.  

Ele estava meio virado, olhando para trás. Atrás deles, os dois pedaços de rochafecharam-se lentamente e pareceram sumir da existência, deixando apenas umadesgastada face de pedra, com a aparência que t ivera por milhares de anos. E no ar  flutuava uma leve nota da delicada música que desaparecia. Mas Bran só estava pensando

em Cafall. Depois de uma breve olhada para a rocha, ele enfiou a harpa debaixo de seu

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 braço e correu para a abertura pela qual o cão t inha desaparecido.

Antes que pudesse chegar até ela, um turbilhão branco apareceu lançando-se sobreeles através de uma nivem de cinza fina, rangendo os dentes, chutando, jogando Bran para o lado com tanta força que ele quase largou a harpa . Era Cafall ; mas um Cafalllouco, furioso, transformado, rosnando para eles, irritado, levando-os mais fundo dentroda rachadura como se eles fossem inimigos. Em um momento ou dois ele tinha os doisemprensados e surpresos contra a parede rochosa, e estava se agachando diante delesmostrando seus compridos dentes laterais em um rosnado frio.

“O que é isso?” Bran disse inexpressivamente quando teve ar suficiente pararespirar. “Cafall? Mas que diabos.. .”  

E em um instante eles souberam  –  ou teriam sabido, se ainda tivessem tido tempode imaginar. Pois de repente o mundo todo ao redor deles era um alvoroço de barulho edestruição. Galhos queimados, quebrados, passaram girando por cima do topo da fissurarochosa; pedras soltas desceram rolando de lugar algum de modo que eles se abaixaraminstintivamente, cobrindo suas cabeças. Eles caíram no chão, espremendo-se dentro deum ânguloentre terra e pedra, com Cafall perto ao lado. Ao redor, o vento rugiu e

golpeou a rocha com um som como um alto grito humano louco amplificado além do queseria possível acreditar. Era como se todo o ar em Gales tivesse sido concentrado em umgrande tornado de destruição, e estivesse atingindo em um frenesi de fúria frustrada oabrigo na estreita abertura no qual eles se agachavam desesperadamente.

Will se inclinou sobre suas mãos e joelhos. Tateou com uma das mãos até agarrar o braço de Bran. “A harpa!” ele resmungou. “Toque a harpa!”  

Bran piscou para ele, impressionado pelo barulho acima, e então ele entendeu.Lutando contra o vento apavorante que o pressionava entre as paredes rochosas para selevantar, ele segurou a harpa dourada contra o seu flanco e passou sua mão direita sobreas cordas de modo trêmulo.

Súbitamente o tumulto reduziu. Bran começou a tocar, e enquanto as doces notasfluiam como a canção de uma cotovia, o grande vento morreu. Do lado de fora, haviaapenas os ruídos de pedras soltas caindo aqui e ali, uma a uma, descendo pela rocha. Por um momento um raio de sol solitário desceu e cintilou no ouro da harpa. Então ele se foi,e o céu pareceu mais mais sombrio, o mundo mais cinza. Cafall ficou de pé, lambeu amão de Bran, e os conduziu tranqüilamente para fora até a ladeira do lado de fora dafenda estreita que os tinha protegido da fúria da ventania. Eles sentiram uma leve chuvacomeçando a cair .

Bran deixou seus dedos deslizarem preguiçosamente mas persistentes sobre ascordas da harpa. Ele não tinha intenção alguma de parar novamente. Olhou para Will, e

 balançou sua cabeça si lenciosamente com admi raç ão, remorso e inquisição .Will se agachou e pegou o focinho de Cafall entre suas mãos. Ele balançou a

cabeça do cachorro gentilmente de um lado para o outro. “Cafall! Cafall!” ele disseadmirado. Por cima do ombro ele disse para Bran, “ Gwynt Traed y Meirw , é assim quevocê diz? Com toda sua antiga força o Rei Cinzento enviou seu vento do norte sobre nós,o vento que sopra ao redor dos pés dos mortos, e com os mortos é onde deveríamos estar se não fosse por Cafall  –  lançados para longe em um tempo além do amanhã. Antes que pudéssemo s ter visto ao menos uma árvore se curvando, ele estar ia sobre nós, pois eledesceu de muito alto e nenhum olho humano poderia tê-lo visto. Mas esse seu cão decaça é o cão com os olhos prateados, e tais cães conseguem enxergar o vento.. . Então eleviu, e sabia o que ele faria, e nos conduziu de volta para um lugar seguro.”  

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Bran disse sentindo-se culpado, “Se eu não tivesse parado de tocar, talvez oBrenin Llwyd não tivesse nem mesmo ter enviado o vento. A magia da harpa o teriaimpedido.”  

“Talvez,” Will disse. “E talvez não.” Ele esfregou a cabeça de Cafall uma últimavez e se ergueu. O cão pastor branco olhou para Bran, língua estendida como se estivesserindo, e Bran disse para ele com carinho, “ Rwyt ti 'n gi doa . Bom garoto.” Mas seusdedos não pararam de se mover sobre a harpa.

Eles desceram lentamente a rocha. Embora agora fosse manhã, o céu não estavanem um pouco mais claro, mas cinza e pesado de nuvens; a chuva ainda estava fraca, masestava claro que ela aumentaria e ficaria o dia todo, e que agora o vale estava a salvo dequalquer outra ameaça de fogo. Toda a ladeira próxima da montanha, Rocha dos Pássarose a borda do vale estavam escurecidos e tostados, e aqui e ali pequenos montes defumaça subiam. Mas agora todas as centelhas estavam apagadas, e as cinzas frias emolhadas, e as terras verdes de fazenda esse ano não iriam ficar em condições paraqueimar.

Bran disse, “A harpa trouxe a chuva?”  

“Acho que sim,” disse Will. “Só espero que não traga mais nenhuma outra coisa.Esse é o problema com a Alta Magia, como falar na Linguagem Antiga  –  é uma proteção,e ainda assim o marca, faz com que seja fácil encontrá-lo.”  

“Logo estaremos no vale.” Mas quando ele falou. O pé de Bran escorregou na facede uma pedra molhada e ele inclinou para o lado, agarrando em um arbusto para evitar cair   –  e largou a harpa. No instante que a música parou, a cabeça de Cafall se ergueu eele começou a latir furiosamente, em uma mistura de raiva e desafio. Ele pulou para cimade uma rocha que se projetava e ficou posicionado ali, olhando ao redor. Então,repentinamente o latido se transformou em um uivo selvagem profundo, como o uivo deum cão de caça, e ele saltou.

A grande raposa cinza, rei das milgwn , desviou no meio do ar e deu um gritoterrível. De uma parte elevada na Rocha dos Pássaros ele havia se lançado sobre eles,alvejando diretamente a cabeça e o pescoço de Bran. Mas o choque do salto feroz deCafall tirou o seu equilíbrio o bastante para jogá-lo girando para o lado, escorregandodescendo pela rocha. Ele gritou novamente, um som sobrenatural que fez os garotos seencolherem de pavor, e não parou para se virar, mas correu alucinado descendo amontanha. Em um instante Cafall, latindo com alegre triunfo, estava correndo atrás dele.

E Will, em cima da pedra vazia sob o chuvisco do céu cinzento, foiinstantaneamente preenchido de um pressentimento de desatre tão grandioso que sem pensar ele se esticou e agarrou a harpa dourada , e gritou para Bran, “Pare Cafall; Pare

ele! Pare ele!”  Bran deu um olhar aterrorizado para ele. Então se atirou atrás de Cafall, correndo,

tropeçando, chamando o cão de volta desesperadamente. Descendo da rocha com a harpadebaixo de um braço, Will viu sua cabeça branca se movendo rápida sobre o campo mais próximo e , além, uma mancha de velocidade que ele sabia ser Cafall perseguindo araposa cinza. Sua cabeça confusa por causa do mau presságio, ele também correu. Aindaem terreno mais alto, ele conseguia ver dois campos distantes do telhado da fazenda deCaradog Prichard, e próximo um grupo branco acinzentado de de ovelhas e as figuras dehomens. Ele derrapou fazendo uma parada repentina. A harpa! Não havia como explicar aharpa, se alguém a visse. Ele tinha certeza de que estaria entre os homens em poucosmomentos. A harpa tinha que ser escondida. Mas onde?

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Ele olhou ao redor loucamente. O fogo não havia tocado esse campo. No lado maisdistante do campo ele viu um pequeno alpendre, não mais do que três paredes de pedra eum telhado, que era um abrigo aberto para ovelhas no inverno, ou um depósito paracomida no inverno. Estava cheia de fardos de feno já empilhado recentemente. Correndoaté lá, Will enfiou a pequena harpa cintilante entre dois fardos de feno, de modo que elaficou completamente invisível do lado de fora. Então, se afastando, ele esticou uma das

mãos e, na Linguagem Antiga, colocou sobre a harpa o Feitiço de Caer Garadawg, pelo poder do qual apenas a canção de um Antigo Escolhido seria capaz de t irar a harpadaquele lugar, ou até mesmo torná-la visível.

Então ele correu pelo campo em direção da Fazenda Prichard, onde gritosdistantes marcavam o fim da perseguição. Ele conseguiu ver, em uma campina além dasconstruções da fazenda, a grande raposa cinza desviando e saltando em um esforço paratirar Cafall de seus calcanhares, e Cafall correndo bem próximo de modo perseverante.Uma loucura parecia ter tomado conta da raposa; espuma branca escorria de suasmandíbulas. Will chegou tropeçando sem fôlego no terreno da fazenda para encontrar lutando para abrir caminho através de um grupo de homens e ovelhas no portão. JohnRowlands estava lá, e Owen Davies, com o tio de Will; suas roupas e rostos cansados

ainda escurecidos pela cinza da luta contra o fogo, e Caradog Prichard estava olhando decara feia com sua arma enfiada debaixo do braço.

“Aquele cachorro maldito ficou louco!” Prichard rosnou.

“Cafall! Cafall!” Bran forçava seu caminho freneticamente pelo campo,dispersando as ovelhas, sem prestar atenção a ninguém. Prichard rosnou para ele, e OwenDavies disse asperamente, “Bran! Onde você estava? O que está fazendo?”  

A raposa cinza saltou alto no ar, como eles tinham visto ela fazer uma vez antesna Rocha dos Pássaros. Cafall pulou atrás dela, mordendo-a em pleno ar.

“O cão está louco,” David Evans disse tristemente . “Ele vai atacar as ovelhas. . .” 

“Ele só está tentando pegar aquela raposa!” A voz de Bran estava alta por causa daangústia. “Cafall! Tyrd yma ! Largue ela!”'  

O tio de Will olhou para Bran como se não pudesse acreditar no que tinha ouvido.Então olhou para Will. Ele disse, confuso, “ Que raposa?”  

O horror explodiu no cérebro de Will, quando de repente ele entendeu, e elegritou. Mas era tarde demais. A raposa cinza no campo fez uma curva e veio saltandodiretamente até eles, com Cafall em seus calcanhares. No último momento ela fez umacurva para o lado e saltou em uma das ovelhas que agora se ecolhia aterrorizada no portão, e mergulhou seus dentes na garganta lanuda . A ovelha gri tou. Cafall pulou na

raposa. Vinta jardas de distância, Caradog Prichard soltou um grito furioso, ergueu suaarma, e atirou bem no peito de Cafall.

“Cafall!” O grito de terror de Bran atingiu Will com tanta força que ele fechou seuolhos de dor; ele sabia que esse sofrimento iria ecoar em seus ouvidos para sempre.

A raposa cinza ficou esperando que Will olhasse, sorrindo, a língua estendida deuma boca manchada de vermelho pelo sangue. Ela olhou diretamente para ele com umrosnado de desprezo inconfundível. Então saltou pelo campo, direto como uma flecha, edesapareceu sobre a cerca viva mais distante.

Bran estava de joelhos perto do cão, gemendo, apoiando a cabeça branca em seucolo. Ele chamou desesperadamente por Cafall, afagando suas orelhas, baixando sua

 bochecha apenas uma vez, com carinho, para encostar em seu pescoço macio . Mas não

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havia nada a ser feito. O tórax era uma ruína despedaçada. Os olhos prateados estavamvidrados, não piscavam. Cafall estava morto.

“Cão assassino sangrento!” Prichard ainda estava resmungando com fúria, em umaespécie de contentamento selvagem. “Não vai matar mais nenhuma de minhas ovelhas ! Émuito bom ter se l ivrado dele! ”  

“Ele só estava atrás da raposa. Estava tentando salvar sua ovelha velha!” Bransufocou com as palavras, e chorou.

“Do que você está falando? Uma raposa?  Dammo , garoto, você é tão louco quantoo cão.” Prichard tirou o cartucho de sua arma, seu rosto gorducho desdenhoso.

Owen Davies estava de joelhos ao lado de Bran. “Venha, bachgen ,” ele disse, suavoz gentil. “Não tinha raposa em lugar algum . Cafall estava seguindo para a ovelha, nãohá dúvida. Todos nós vimos. Ele era um cão adorável, um lindo” –  sua voz tremeu, e elelimpou a garganta  –   “mas deveter ficado ruim da cabeça. Não posso dizer que eu mesmonão teria atirado nele, no lugar de Caradog. Isso é o certo. Uma vez que um cão setransforma em um matador, essa é a única coisa a fazer.”  

Seu braço estava bem apertado em volta dos ombros de Bran. Bran olhou para oresto deles, tirando seus óculos cegamente e esfregando uma das mãos sobre os seusolhos. Ele disse, alto, incrédulo, “Mas nenhum de vocês viu a raposa? A grande raposacinza na qual Cafall pulou quando ela ia matar a ovelha? ”  

John Rowlands disse, sua voz profunda e misericordiosa, “ Não, Bran.”  

“Não tinha raposa. Bran,” David Evans disse. “Sinto muito, garoto bach . Vamoslá, agora. Deixe o seu pai te levar para Clwyd. Levaremos Cafall logo dep ois de você.”  

“Ah,” disse Prichard com uma fungada. “Você pode tirar aquele cadáver do meuquintal quando quiser, sim. E também pagar a conta do veterinário quando eu tiver aquela ovelha tratada.”  

“Cae dy geg , Caradog Prichard,” disse o tio de Will de modo brusco.“Conversaremos sobre todo esse negócio de ataque de ovelhas mais tarde. Você pode ter um pouco de consideração com o garoto, com certeza.”  

Caradog Prichard olhou para ele, seus pequenos olhos brilhantes e inexpressivos.Ele fez sinal a um de seus homens para levar a ovelha ferida. Então ele cuspiu, de modocasual, no chão, e caminhou para sua casa na fazenda. Uma mulher estava parada lá na porta. Ela não t inha se movido durante tudo que tinha acontececido.

O pai de Bran o ajudou a ficar de pé, e o levou embora. Bran pareceu confuso.

Olhou para Will de forma vazia, como se ele não estivesse ali.

David Evans disse com tristeza, “Espere um minuto. Tem alguns sacos no carro.Vou lá buscar.”  

John Rowlands ficou ao lado de Will na chuva fina, sugando um cachimbo vazio,olhando pensativo para o corpo branco imóvel com o horrível corte vermelho em seu peito. Ele disse, “E você viu essa raposa. Will Stanton?”  

“Sim,” Will disse. “É claro. Estava na nossa frente tão claramente quanto vocêestá agora. Tinha tentado nos atacar na Rocha dos Pássaros, e Cafall a perseguiu até aquiembaixo. Mas nenhum de vocês podia vê-la. Então ninguém jamais acreditaria em nós,

acreditariam?”  

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John Rowlands ficou em silêncio por um momento, seu rosto moreno enrugadoilegível. Então ele disse, “Às vezes nessas montanhas há coisas em que são muitodifíceis de acreditar, mesmo quando você as viu com seus próprios olhos. Por exemplo,tem Cafall, e com nossos olhos vimos ele pular sozinho naquela ovelha. E de fato algumacoisa realmente enfiou seus dentes na garganta da ovelha e deve ter ficado com a bocacheia de sangue ao fazer isso, pois tinha sangue sobre toda aquela lã da ovelha e é sorte

que ela esteja viva. E ainda tem uma coisa estranha, que não vai sair da minha cabeça  –  que embora o pobre Cafall esteja caído ali com seu próprio sangue sobre o peito partido,não tem nenhum sangue em sua boca .”  

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Parte Dois: Os Adormecidos

A Garota das Montanhas

Will disse, “Desculpe, Sr. Davies, Bran já voltou da escola?”  

Owen Davies deu um solavanco para cima. Ele estava curvado sobre o motor deum trator em uma das casas pequenas da fazenda; seu cabelo fino estava desgrenhado eseu rosto manchado de óleo.

“Sinto muito,” Will disse. “Fiz você dar um pulo.”  

“Não, não, garoto, está tudo bem. Eu só estava um pouco mais distante do queesse motor, eu acho...” Ele fez a careta que parecia ser o mais próximo que já tinha

chegado de um sorriso. Todas as linhas em seu rosto fino parciam não levar a lugar algum. Will pensou: sem expressão, sempre. “Bran es tá em casa, sim. Acho que vaiencontrar ele na casa. Ou lá em cima...” Sua leve voz preocupada se arrastou.

Will disse suavemente, “Com Cafall.” Eles tinham enterrado o cão na noiteanterior, lá em cima no declive mais baixo da montanha, com uma pedra pesada sobre otúmulo para manter os predadores longe.

“Sim, acho que sim. Lá em cima,” Owen Davies falou.

De repente Will quis dizer algo, mas as palavras escapuliam. “Sr. Davies, Sintomuito por isso. Tudo isso . Ontem. Foi terrível,”  

“Bem, sim, obrigado.” Owen Davies estava envergonhado, evitando o contato coma emoção . Ele disse, olhando dentro do motor do trator, “Isso n ão poderia ser evitado.Você nunca consegue prever quando um cão pode enfiar em sua cabeça ir atrás de umaovelha. É um em um milhão, mas pode acontecer. Mesmo o melhor cão do mundo...” Eleolhou para cima de repente, e por um momento seus olhos encontraram os de Will,embora parecessem estar olhando não para ele mas além, dentro do futuro ou do passado.Sua voz surgiu mais firme, como a de um homem mais jovem. “Realmente acredito, preste atenção, que Caradog Prichard estava mesmo pronto para atirar no c ão. Isso é algomuito drástico, e normalmente não é feito com outra criatura do homem, de qualquer modo não diante de seu rosto. Estávamos todos ali, não seria nada ter segurado Cafall. E para um perseguidor de ovelhas às vezes pode ser dado um lar , em algum lugar longe das

ovelhas, sem ter que matá-lo.. . Mas não posso dizer isso a Bran, e você também nãodeve. Isso não ajudaria ele.”  

Seus olhos tremularam para longe de novo, e Will observou, fascinado e perturbado, enquanto o eco de outro tempo era lançado para longe como um c asaco edeixava o familiar Owen Davies com seu ar sem humor, de leve culpa.

“Bem,” Will disse. “Acho que você está certo, mas não, eu não mencionaria isso para Bran. Agora vou procurar por ele.”  

“Sim,” Owen Davies disse avidamente, virando seu rosto ansioso, desamparado , para as colinas . “Sim, você poderia ajudar ele, eu creio.”  

Mas Will sabia, enquanto caminhava pelo caminho lamacento, que havia pouca

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chance de que ele, ou qualquer um da Luz, pudesse confortar Bran.

Quando chegou até a borda do vale, onda a terra começa a subir, ele viu muito pequena e distante acima dele, a meio caminho subindo a montanha, a f igura de JohnRowlands como se fosse um boneco. Seus dois cães, pontos preto e brancos, se moviam para frente e para trás. Will olhou, hesitante, para o local mais dis tante descendo o valeonde Bran teria ido até a terra: sozinho com seu sofrimento. Então, por instinto, elecomeçou a subir direto, através da samambaia e tojo. John Rowlands deveria ser uma boa pessoa para conversar, prime iro.

Porém, foi Bran quem ele viu primeiro.

Ele se aproximou repentinamente, sem esperar por isso. Estava em uma parte docaminho subindo a ladeira, ofegando enuanto ainda estava subindo, e fez uma pausa paratomar fôlego, levantando sua cabeça, viu ali diante dele sentado em uma pedra a figurafamiliar: jeans escuro e suéter, cabelo branco como um farol, óculos escuros sobre osolhos pálidos. Mas agora os óculos não estavam visíveis, nem os olhos, pois Bran estavasentado com a cabeça abaixada, imóvel, embora Will soubesse que ele deveria ter ouvidoo barulho de sua aproximação.

Ele disse, “Alô, Bran.”  

Bran levantou sua cabeça lentamente, mas não disse nada.

Will disse, “Não havia cão como ele, nunca, em lugar algum.”  

“Não, não havia,” Bran disse. Sua voz estava baixa e rouca; ele pareceu cansado.

Will tentou encontrar palavras de conforto, mas sua mente não conseguia ajudar anão ser usando a sabedoria de um Antigo Escolhido, e esse não era o jeito de chegar atéBran. Ele disse, “Foi um homem que matou ele Bran, mas esse é o preço que temos que pagar pela l iberdade dos homens sobre a terra . Que eles podem fazer coisas ruins assimcomo boas. As sombras existem nesse arranjo, assim como raios de sol. Justamente comovocê me disse uma vez, Cafall não era um cão comum. Ele era uma parte do longoarranjo, como são as estrelas e o mar. E ninguém poderia ter feito sua parte melhor,ninguém no mundo todo.”  

O vale estava tranqüilo sob o seu taciturno céu cinzento; Will ouviu apenas ocanto de um melro em uma árvore, os sons dispersos das ovelhas nas ladeiras; o levezumbido de um carro que passava em uma estrada distante.

Bran levantou sua cabeça e tirou seus óculos; os olhos marrom-amareladosestavam inchados e avermelhados em seu rosto branco. Ele sentava ali encolhido, joelhoscurvados, os braços moles pendurados sobre eles.

“Vá embora,” ele disse. “Vá embora. Queria que você nunca tivesse vindo aqui.Queria nunca ter ouvido falar da Luz e do Escuro, e de seu maldito velho Merriman eseus versos. Se eu tivesse a sua harpa dourada nesse momento eu jogaria no mar. Nãosou mais parte de sua estúpida busca, não me importo com o que acontecer. E Cafallnunca foi parte dela também, ou parte de seu lindo arranjo. Era meu cão, e eu amava elemais do que tudo no mundo, e agora ele está morto. Vá embora .”  

Os olhos avermelhados frios e imóveis observaram Will por um longo momento, eentão Bran colocou de volta seus óculos escuros e virou a cabeça para olhar pelo vale.Era uma despedida. Sem dizer uma palavra Will ficou de pé novamente e caminhousubindo a colina.

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Pareceu um longo tempo até que chegou a John Rowlands. O pastor magro e de pele curtida estava agachado parcialmente ajoelhado sobre uma cerca quebrada,remendando-a com um punhado de arame farpado. Ele sentou sobre os calcanharesenquanto Will vinha subindo ofegante, e olhou para ele através de olhos estreitos, seurosto moreno marcado franzido contra o brilho do céu. Sem fazer nenhuma saudação, eledisse, “Esse aqui é o n ível mais alto do pasto Clwyd. As fazendas da colina possuem o

 pasto além  –  a cerca é para manter nossas ovelhas embaixo. Mas elas são muitointeligentes em quebrá-las, especialmente agora que os carneiros estão fora. ”  

Will assentiu, tristemente.

John Rowlands olhou para ele por um momento, então se levantou e o chamou atéum alto afloramento de rocha um pouco acima na montanha. Eles sentaram do ladoabrigado do vento; mesmo ali o lugar era como um lockout post, governando todo o vale.Will olhou ao redor dele rapidamente, seus sentidos alertas, mas o Rei Cinzento ainda jazia recluso; o vale estava tão calmo quanto estivera desde o momento em que Cafalltinha morrido.

John Rowlands disse, “Ainda tem o resto da cerca para checar, mas estou pronto

 para fazer um intervalo. Tenho uma garrafa térmica aqui . Gostaria de toma r um pouco dechá. Will?”  

Ele entregou a tampa da garrafa cheia de chá amargo marrom. Will ficou surpresoconsigo mesmo ao beber avidamente. Quando tinha acabado, John Rowlands falousuavemente, “Você sabia que aqui voc ê está sentado perto do Caminho de Cadfan?”  

Will olhou para ele de modo se vero, e não foi o olhar de um garoto de onze a nos eele não se preocupou em disfarçar esse fato. “Sim,” ele disse. “É claro que sabia. E vocêsabia que eu sabia, e foi por isso que mencionou. ”  

John Rowlands suspirou e colocou um pouco de chá. “Ouso dizer,” ele disse com

um curioso tom que tinha inveja, “que agora você poderia fazer de olhos vendados todo ocaminho de Tywyn até Machynlleth sobre as colinas no Caminho de Cadfan, muitoembora nunca tenha estado nesse país antes. ”  

Will puxou para trás seu cabelo liso castanho, úmido em sua testa por causa dasubida. “Os Antigos Caminhos estão espalhados por toda a Grã Bretanha,” ele disse, “e podemo s seguir em um para qualquer lugar , uma vez que o tenhamos encontrado. Sim.”Ele olhou através do vale. “Foi o cão de Bran que o encontrou para mim aqui em cima,no in ício.” ele falou com tr is teza.

John Rowlands baixou o capuz de sua roupa, coçou sua cabeça e o puxou parafrente novamente. “Ouvi falar de vocês,” ele disse. “A minha vida toda, de vez em

quando, embora não muito nesses dias. Mais quando eu era garoto. Costumava pensar que encontraria um de vocês, uma vez, quando eu era muito jovem, ainda que eu possadizer que era apenas um sonho... E agora estive pensando sobre o modo como o cãomorreu, e conversei um pouco com o jovemBran.”  

Ele parou, e Will olhou nervoso para tentar ver o que ele poderia dizer emseguida, mas não escolheu usar sua arte para descobrir.

“E eu acho. Will Stanton,” disse o pastor, “que devo ajudá -lo de qualquer maneiraque você possa precisar. Mas não quero saber o que você está fazendo, não quero queexplique isso para mim de modo algum.”  

De repente Will sentiu como se o sol tivesse surgido. “Obriagao,” ele disse. O

menor dos cães de John Rowlands, Tip, se aproximou tranqüilamente e sentou-se aos

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seus pés, e ele esfregou as orelhas macias.

John Rowlands olhou para baixo, pela ladeira marrom samambaia; O olhar de Willo seguiu o dele. Logo acima da terra escurecida onde o fogo tinha atingido, eles podiamver a pequena figura que era Bran, sentado encolhido de costas para eles, sua cabeça branca encostada em seus joelhos .

“Esse é um momento muito ruim para Bran Davies,” o pastor disse.  

“Estou feliz que ele tenha falado com você,” Will disse desolado. “Ele nãoconversaria comigo. Não que eu o culpe. Ele vai ficar tão solitário, sem Cafall. Querodizer, o Sr. Davies é muito bom, mas não exatamente.. . e não ter mãe, também, faz issoficar pior.”  

“Bran nunca conheceu sua mãe,” John Rowlands disse. “Ele era muito pequeno .”  

Will disse curiosamente, “Como ela era?”  

Rowlands bebeu seu chá, balançou a xícara vazia e a enroscou de volta na garrafa.

“O nome dela era Gwen,” ele disse. Ele segurou a garrafa em suas mãos distraidamente,olhando para dentro de sua memória. “Ela era uma das coisas mais  belas que você jamaisverá. Pequena, com uma pele clara e cabelo negro, e olhos azuis como a flor veronica, euma sorriso brilhante em seu rosto que era como música. Mas ela também era umaestranha garota selvagem. Veio das montanhas lá fora, e nunca diria de onde veio, oucomo...”  

Ele se virou abruptamente e olhou sério para Will, com os olhos escuros que pareciam sempre estar estreitos por causa do tempo ruim . “Eu deveria imaginar,” eledisse com súbita agressividade, “que sendo o que é, você saberia tudo sobre Bran.”  

Will disse suavemente, “Não sei nada sobre Bran, a não ser o que ele me disse.Realmente não somos muito diferentes de você, Sr. Rowlands, a maioria de nós. Apenasnossos mestres são diferentes. Nós sabemos muitas coisas, mas elas não coisas que seintrometam nas vidas dos homens. Nisso, nós somos como todos os outros  –  sabemosapenas aquilo que tivermos vivido, ou o que alguém nos contou.”  

John Rowlands concordou com a cabeça, ficando menos severo. Abriu sua boca para dizer alguma coisa, parou, puxou seu cachimbo de seu bolso e empurrou seuconteúdo com um dedo . “Bem,” ele disse lentamente, “talvez eu devesse contar a você ahistória desde o início. Isso vai ajudar a entender Bran. Ele mesmo sabe um pouco dissomuito bem  –  ele realmente pensa tanto sobre isso, sozinho, que eu gostaria que nuncativessem falado para ele.”  

Will não disse nada. Ele sentou perto de Tip, e colocou um braço ao redor do

 pescoço dele. John Rowlands acendeu seu cachimbo. Ele disse, através da primeiranuvem de fumaça, “Foi quando Owen Davies era um homem jovem, trabalhando naFazenda Prichard, o velho Sr. Prichard estava vivo naqueles dias. Caradog trabalhava para seu pai também, esperando assumir e tocar o lugar, embora ele n ão pudesse ser comparado a Owen para o trabalho... Owen era pastor para Prichard. Era um sujeitosolitário, até então. Ele morava em uma casinha que era dele. Lá fora no pântano, mais perto das ovelhas do que da fazenda.” Ele soprou um pouco mais de fumaça, e olhou paraWill . “Você esteve naquela casa . Está deserta agora. Ninguém viveu ali faz anos.”  

“Aquele lugar? Onde você deixou a ovelha, depois . . .” Assustado, Will viunovamente em sua mente a figura de John Rowlands cambaleando dentro da pequena casade pedra na samambaia, com a ovelha ferida sobre os seus ombros e sangue da lã dela em

seu pescoço. A pequena casa da qual, quando eles tinham voltado meia hora mais tarde, a

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ovelha ferida havia desaparecido sem deixar rastros.

“Aquele lugar. Sim. E em uma noite feros no inverno, com chuva e um vento nortesoprando, houve uma batida na porta de Owen. Era uma garota, vindo do nada, meiocongelada por andar através da tempestade. E exausta de carregar seu bebê.”  

“Seu bebê?”  

John Rowlands olhou descendo as montanhas, para a figura encolhida de Bran,sentado sozinho em sua pedra. “Aquele bebê era um sujeitinho forte, só alguns meses deidade. Ela guardava ele em um tipo de tipóia na sua costa. A única coisa estranha nele,Owen viu, era que não tinha cor alguma. Rosto branco, cabelo branco, pálpebras brancas,e olhos muito estranhos, marrom-amarelados como de uma coruja.. .”  

Will disse lentamente, “Entendo.”  

“Owen colocou a garota para dentro,” John Rowlands disse. “Ela a trouxe de voltaà vida, gradualmente, com muito cuidado, naquela noite e no dia seguinte  –  e o bebêtambém, embora bebês sejam criaturas fortes e ele não estivesse tão ruim. E antes que

tivessem passado vinte e quatro horas, Owen Davies estava mais apaixonado por aquelaestranha garota l inda do que eu já t inha vis to um homem se apaixonar por uma mulher.Ele nunca tinha amado alguém tanto antes. Owen era muito tímido. Foi como umamaldita explosão... Com um homem como aquele, isso é perigoso  –  quando elefinalmente ama, entrega todo o seu coração sem tomar cuidado ou pensar, e seu coração pode nunca mais voltar para ele pelo resto de sua vida .” Ele parou por um momento, acompaixão suavizando seu rosto marcado pelo tempo, e ficou sentado em silêncio. Entãoele disse, “Bem. Então ali estavam eles.  No dia seguinte Owen saiu para ver as ovelhas,deixando a garota descansando na casa. No caminho de volta ele parou em minha casa,aqui em Clwyd, para pegar um pouco de leite para o bebê. Sempre fomos amigos desdeque ele era um garoto, ainda que eu seja mais velho. Eu não estava lá, mas minha esposaestava, e ele contou a ela sobre Gwen e o bebê. Minha Blodwen tem um coração caloroso

e bom bom ouvido. Ela disse que ele era como um homem pegando fogo, radiante, tinhaque contar para alguém...”  

Descendo longe na ladeira mais baixa. Bran levantou de sua pedra e começou a perambular sem destino pela samambaia, olhando como se estivesse procurando algumacoisa.

“Quando Owen voltou para sua casa,” John Rowlands disse, “ele ouviu um grito. Nunca t inha escutado uma mulher gri tar antes . Havia um cão estranho do lado de fora da porta. O cão de Caradog Prichard. Owen entrou na casa como um como um arame se partindo, e encontrou a garota lutando com Caradog. Caradog t inha vindo para descobrir  porque Owen não esteve no trabalho no dia anterior, e ao invés disso encontrou Gwen, e

decidiu em seu jeito sujo que ela deveria ser uma mulher fr ívola, e fácil de obter se elegostasse dela.. .” John Rowlands se inclinou para o lado deliberadamente e cuspiu nagrama. “Me desculpe. Will,” ele disse, “mas é assim que me sinto quando minha bocaestá falando sobre Caradog Prichard.”  

“O que aconteceu? O que ele fez?” Will estava pe rdido de admiração nessa névoaturva de romance que cercava o comum Owen Davies.

“Owen. Ele ficou louco.  Nunca foi um lutador, ma s jogou Caradog porta afora, efoi atrás dele, quebrou seu nariz e arrancou dois dentes dele. Então eu cheguei, e fiz uma boa coisa ou ele ter ia assassinado o homem. Blodwen tinha me enviado com algumascoisas para o bebê. Levei Caradog para casa. Ele não quis que chamassem o doutor.

Estava com medo do escândalo. Não posso dizer que tinha muita simpatia por ele. Desde

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então seu nariz nunca mais teve a mesma aparência. ”  

Ele olhou descendo a ladeira novamente. A cabeça branca de Bran ainda estavacurvada sobre o chão, enquanto ele se movia lentamente, sem propósito, para frente e para trás .

“Bran  pode ficar feliz em ter sua compania . Will . Na verdade, não há muito ma is a

dizer. Mais um dia e mais uma noite a garota Gwen ficou com Owen na casa, e ele a pediu em casamento . Ele era um homem feliz, a luz bri lhava dele. Nós os vimo s por uma parte daquele dia, e ela também parecia tão alegre quanto ele. Mas então, logo demadrugada na manhã seguinte, o quarto dia, Owen foi acordado pelo bebê chorando, eGwen não estava lá. Tinha desaparecido. Ninguém soube para onde ela foi. E ela nuncamais voltou.”  

Will disse, “Bran me disse que ela morreu.”  

“Bran sabe que ela desapareceu,” John Rowlands disse. “Mas talvez seja maisconfortável acreditar que sua mãe morreu do que pensar que ela fugiu e o deixou sem pensar duas vezes.”  

“Foi isso que ela fez? Simplesmente desapareceu e deixou o bebê para trá s?”  

John Rowlands concordou com a cabeça. “E um bilhete . Dizia: Seu nome é Bran.Obrigada, Owen Davies. E isso foi tudo. Onde quer que tenha ido, desde então nuncamais ninguém ouviu falar dela ou a viu, nem verá. Owen veio até nós com o bebê naquelamanhã. Tinha perdido a cabeça, louco por perder Gwen. Ele subiu nas colinas, e nãodesceu por três dias. Procurando por ela, você sabe. Pessoas ouviam ele gritando,Gwennie, Gwennie.. . Blodwen e a Sra. Evans, sua tia, tomaram conta de Bran. Ele eraum ótimo bebê.. . O velho Prichard demitiu Owen, é claro. Naquela época o seu tio David perdeu um homem, então ele contratou Owen, e Owen se mudou para a casa em Clwydonde ele vive agora.”  

“E ele criou Bran como seu filho,” Will disse.  

“Isso mesmo. Com ajuda de todo mundo. Houve um pouco de confusão, mas nofinal permitiram que ele adotasse o garoto. A maioria das pessoas acabou pensando queBran realmente era filho de Owen. E a única coisa que não disseram a Bran foi que elenão é  –  ele acredita que Owen é seu pai, e você deve tomar cuidado para jamais sugerir qualquer coisa diferente.”  

“Tomarei” Will disse.  

“Sim. Não tenho preocupação alguma a seu respeito.. . À vezes acho que Owentambém acredita que Bran é seu filho de verdade. Ele sempre foi bastante religioso, você

entende, e mais tarde ele se apegou mais ainda em sua religião. Talvez você não consigaentender isso totalmente, Will bach , mas porque Owen sabia que era errado pelas regrasde sua fé viver aqueles poucos dias sozinho na mesma casa com Gwen, então elecomeçou a sentir que isso era tão errado quanto se ele Gwennie, não estando casados,tivessem um bebê juntos. Como se os dois tivessem gerado Bran. Então ele ainda pensaem Bran  –  até o dia de hoje  –  na maior parte com amor, mas com um pouco de culpa.Sem nenhuma boa ração, preste atenção, a não ser a sua própria consciência. Owen temconsciência demais. As pessoas não se importam, nem mesmo o pessoal de sua capela  –  eles pensam que Bran é seu filho natural, mas o tut-tutting tinha acabao fazia muitotempo. Eles tinham cérebro suficiente para julgar um homem pelo que ele mesmo tinha provado ser , não por algum erro que possa ou não ter feito muito tempo atrás .”  

John Rowlands suspirou, e se esticou, bateu seu cachimbo e enterrou as cinzas na

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terra. Ele ficou de pé; os cães pularam para seu lado. Ele olhou para Will.

“Tudo isso estava por trás,” ele disse, “quando Caradog Prichard atirou no cão deBran Davies.”  

Will pegou uma flor de um arbusto ao seu lado; ela brilhou amarela em sua mãosuja. “As pessoas são muito complicadas ,” ele disse com tr is teza.

“Elas são,” John Rowlands disse. Sua voz ficou um pouco rouca, mais alta e clarado que tinha ficado. “Mas quando as batalhas entre você e seus adversários tiver acabada. Will Stanton, no final o destino do mundo todo vai depender justamente dessas pessoas, e de quantas delas são boas ou más , estúpidas ou sábias . E com certeza isso étão complicado que eu não ousaria prever o que elas farão com o mundo delas. Nossomundo.” Ele assobiou suavemente. “ Tyrd yma , Pen, Tip.”  

Ele pegou seu rolo de arame farpado cuidadosamente, e com os cães seguindo, elese afastou ao lado da cerca, sobre a colina.

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Parte Dois: Os Adormecidos

O Rei Cinzento

Will seguiu em direão a Bran pela ladeira lentamente. Agora era um dia cinza; achuva tinha caído a noite toda, e ainda tinha mais por vir. O céu estava baixando,ameaçador, e todas as montanhas estavam perdidas dentro de nuvens. Will pensou: orespirar do  Brenin Llwyd.  

Ele viu Bran começar a subir a colina, diagonalmente, em uma óbvia tentativa deevitá-lo. Will fez uma pausa, e decidiu desistir. Um jogo ridículo de fizar desviando pelamontanha não faria bem para ninguém. E além disso, a harpa tinha que ser levada paraum lugar seguro.

Ele saiu através da samambaia molhada na longa caminhada lamacenta até o ladomais distante da fazenda de Caradog Prichard. Suas calças já estavam ensopadas,independente das botas Wellington emprestadas da Tia Jen. Em parte do caminho, elecruzou a terra que tinha sido atingida pelo fogo, e uma fina camada de cinza negra seagarrou em suas botas.

Will foi caminhando com mau humor. Agora ele olhou ao redor para o caso deCaradog Prichard estar por perto, mas os campos estavam desertos, e estranhamentesilenciosos. Nenhum pássaro cantava hoje; até mesmo as ovelhas pareciam quietas, eraramente havia o som de um carro da estrada do vale. Era como se todo o vale cinzaesperasse por alguma coisa. Will tentou sentir o humor do lugar de modo mais acurado,mas agora o tempo todo sua mente estava se enchendo gradualmente com a inimizade doRei Cinzento, crescendo, crescendo, um sussurro se tranformou em um chmado, oaralogo tornar-se um grito furioso. Era difícil concentrar atenção para muito mais.

Ele chegou até o abrigo telhado onde havia escondido a harpa entre os pacotes defeno empilhados. A força de seu próprio feitiço fez ele parar, a dez pés de distância,como se ele tivesse batido contra uma parede de vidro.

Will sorriu. Então para quebrar o encantamento no cminho apontado, ele começoua cantar muito levemente. Era um feitiço-canção da Língua Antiga, e suas palavras nãoeram como palavras da fala humana, mas mais indefinidas, uma uestão de nuance de som.Ele era um bom cantor, bem ensinado, e as claras notas altas fluiram através do ar comoraios de luz. Will sentiu a força do feitiço de resistência se desfazer. Ele chegou ao final

do verso.

A voz de Caradog Prichard disse friamente atrás dele, “ É mesmo um pequenorouxinol, não é?”  

Will congelou. Se virou lentamente e ficou em silêncio, olhando para o rostogorducho pastoso de Prichard, com seu nariz torto, e olhos brilhantes como groselhasnegras.

“Bem?” Prichard disse impaciente. “O que acha que está fazendo aqui, parado nomeio do meu campo cantando para a cerca viva? Você está louco, garoto?”  

Will abriu a boca, mudando seu rosto sutilmente para mostrar uma espressão de

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total estupidez. “Foi a canção. Apenas pensei nela, queria experimentá -la. Dizem quevocê é um poeta, deveria entender.” Ele diminuiu sua voz, de modo conspirador. “Àsvezes eu escrevo canções, você entende. Mas por favor não conte a ninguém. Eles sempreacham graça. Acham que é estúpido.”  

Prichard disse: “Seu tio?”  

“Todos em casa.”  

Prichard olhoupara ele com suspeita. A orgulhosa palavras “poeta” tinha causadoseu efeito, mas ele não era o tipo de homem que relaxava de forma imprudente, ou por muito tempo. Ele falou orgulhosamente, “Oh, os Ingleses –  não sabem nada de música,não estou surpreso. Eles são estúpidos. Você tem uma voz muito boa, para um garotoInglês.” Então de repente sua voz ficou áspera. “Mas não estava cantando Inglês,estava?”  

“Não,” Will disse.  

“Então oque era?”  

Will sorriu para ele de modo confidencial. “Na verdade, nada. Eram apenas palavras sem sentido que pareciam se encaixar bem n a melodia . Você entende .”  

Mas o peixe não mordeu. Os olhos de Prichard estreitaram. Ele olhou com ummovimento nervoso rápido subindo o vale na direção das montanhas, e então de volta para Will . Ele falou súbitamente , “Não gosto de voc ê, garoto Inglês. Tem alguma coisaestranha em você, tem sim. Toda essa conversa sobre canções e cantoria não explica porque está aqui na minha terra .”  

“Pegando um atalho, só isso,” Will disse. “Eu não estava machucando nada ,honestamente. ”  

“Atalho, não é? De onde para onde? A terra de seu tio é por ali, de onde vocêveio, e não tem nada do outro lado de nós a não ser pântano e montanha. Nada para você.Volte para Clwyd, rouxinol, de volta para o seu pequeno amigo chorão que perdeu seucão. Cai fora. Cai fora daqui!” De repente ele estava gritando, o rosto rechonchudovermelho. “Cai fora! Cai fora!”  

Will suspirou. Só havia uma coisa a fazer. Ele não queria arriscar atrair atençãomais próxima do Rei Cinzento, mas era impossível deixar a harpa vulnerável aos olhosde Caradog Prichard. Agora o homem estava olhando para ele furioso, apertando seus punhos em uma mo stra da mesma fúria inexplicável que Will t inha visto tomar conta deleantes . “Cai fora, estou dizendo!”  

Ali no campo aberto sob o céu cinzento parado. Will esticou um braço, com todosos cinco dedos esticados, e disse uma simples palavra suave. E Caradog Prichard estava preso fora do tempo, imóvel, com sua boca semi -a berta e sua mão erguida apontando, seurosto congelado exatamente com a mesma fúria horrível que o tinha distorcido quandoatirou em Cafall. Era uma pena. Will pensou tristemente, que ele não pudesse ser deixado daquele jeito para sempre.

Mas feitiço algum dura para sempre, e a maioria por um curto período de tempo.Rapidamente Will seguiu até o abrigo de pedra, procurou entre os montes de feno, eretirou a a pequena harpa dourada cintilante. Uma parte de sua moldura estava presa emum saco velho esfarrapado deixado entre os montes; ele arrancou os dois impaciente,enfiou-os debaixo de seu braço. Então deu a volta para ficar atrás de Caradog Prichard.

Apontou para ele mais uma vez uma das mãos com os dedos esticados, e disse uma

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simples palavra. E Caradog Prichard, como se jamais tivesse planejado fazer algumaoutra coisa, caminhou pelo campo na direção de sua casa de fazenda sem olhar para trás.Quando chegou lá. Will soube, ele estaria convencido de que tinha ido direto do dia detrabalho para casa, e não teria lembrança alguma de Will Stanton parado em um campocantando para o céu.

A forma pançuda cansada desapareceu pelo caminho no final do campo. Willdesembaraçou o saco velho da moldura dourada intrincada da harpa, e estava quase para jogá-l a fora quando percebeu como ela podria ser úti l como cobertura; um pacoteindefinido debaixo de seu braço poderia ser explicado, se por acaso encontrasse alguém,muito mais facilmente do que uma harpa dourada cintilante e obviamente sem preço.Enquanto ele colocava cuidadosamente a harpa dentro do saco, franzindo seu nariz por causa do pó de feno, um movimento pelo campo chamou sua atenção. Ele olhou paracima e por um momento até mesmo a harpa saiu de sua mente.

Era a grande raposa cinza, rei das milgwn , criatura de Brenin Llwyd,movimentando-se rapidamente pela cerca viva. Com uma fúria repentina Will se esticouapontando um braço e gritou uma palavra para detê-la, e o grande animal cinza, não maisna terra de seu mestre, caiu para trás no meio do pulo como se tivesse sido agarrada por um tremendo vento repentino. Levantando-se, ela ficou parada olhando para Will, alíngua vermelha pendurada. Então ergueu seu longo focinho e soltou um uivo baixo,como o de um cão com problemas.

“Não adinta gritar,” disse Will fazendo esforço. “ Pode ficar aí até que eu decida oque fazer com você.”  

Mas então, involuntariamente, ele estremeceu. De repente o ar pareceu mais frio, eatrvés dos campos, ao redor dele, ele conseguiu ver se arrastando uma baixa névoa próxima ao solo que não havia notado antes . Elntame nte ela veio atravessando sobre ascercas, impiedosa, como alguma grande criatura rastejante. Ela veio de todas as direções,da montanha, do vale, das ladeiras mais baixas, e quano Will olhou de volta para a

raposa cinza parada no campo, viu algo mais que deu para a névoa um calafrio de novoterror. A raposa estava mudando de cor. A cada momento, enquanto ele observava, seucorpo lustroso e a cauda espessa foram ficando mais e mais escuros, até ue ficaram quase pretos.

Will olhou, franzindo o rosto. Ele pensou de modo irrelevante , “Parece com Pen.”E de repente prendeu a respiração, ao perceber algo que não era irrelevante de jei toalgum  –  que foi Pen, o cão de John Rowlands, que juntamente com Cafall, tinha sidoacusado por Caradog Prichard do ataque às ovelhas feito na verdade pelas raposascinzentas do Rei Cinzento.

Algo imensuravelmente forte o estava pressionando, quebrando o seu próprio

encantamento. Enquanto Will ficou confuso e enfraquecido por um momento, a granderaposa, agora negra como carvão, realizou seu estranho salto exultante no ar, sorriu paraele deliberadamente, e se foi, correndo veloz pelo campo. Ela desapareceu através dacerca viva distante, na direção em que Caradog Prichard havia tomado, na direção dafazenda. Will sabia exatamente o que iria acontecer quando ela chegasse lá, e não havianada que ele pudesse fazer. Ele estava sendo repelido pelo poder do Rei Cinzento, eagora ele estava encarando de modo relutante uma idéia na qual ele não havia pensadoantes: a possibilidade de que esse poder, muito maior do que o seu próprio, era de fatotão grande que ele poderia jamais ser capaz de concluir a busca que lhe foi designada.

Pressionando os dentes, ele agarrou a harpa enrolada debaixo de seu braço e partiu pelo campo seguindo para a Fazenda Clwyd. Deslizou cuidadosamente por baixo do

arame farpado que margeava o campo, cruzou a esquina do próximo, subiu as escadas

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que levavam até a rua. Mas o tempo todo seus passos ficavam mais e mais lentos, suarespiração mais forçada. De algum modo, ali embaixo de seu braço, a harpa ficava mais emais pesada, até que ele malmente podia se mover por causa do peso dela. Ele sabia quenão era apenas uma questão de sua própria fraqueza. Contra sua resistência, algumgrande encantamento estava deixando a preciosa Coisa de Poder sob o seu braço com um peso imp ossível para qualquer força humana suportar . Agarrando-se na harpa, ele arfou

de dor com seu peso imposível, e mergulhou no chão com ela.Quando se agachou ali ele levantou sua cabeça e viu que agora a névoa

serpenteava por toda parte ao redor dele; o mundo todo estava branco-acinzentado, semformas. Ele olhou dentro da neblina. E gradualmente, a neblina tomou forma.

A figura era tão imensa que primeiro ele não tinha conseguido perceber que elaestava ali. Ela se espalhava mais larga que o campo, e alto no céu. Tinha uma forma, masnão uma forma terrena reconhecível; Will podia ver seus contornos com o canto dosolhos, mas quando olhava diretamente para qualquer parte dela, não havia nada lá. Aindaassim a figura erguia-se diante dele, imensa e terrível, e ele sabia que esse era um ser demaior poder do que qualquer coisa que já havia encontrado em sua vida. De todos osGrandes Lordes do Escuro, nenhum era individualmente mais poderoso e perigoso do queo Rei Cinzento. Mas porque ele sempre havia permanecido desde o início dos tempos emsua imobilidade entre os picos Cader Idris, nunca descendo até os vales ou ladeiras mais baixas, nenhum dos Antigos Escolhidos jamais tinha encontrado ele , para aprender queforça ele tinha sob seu comando. Então agora Will, sozinho, último e o menor dosAntigos Escolhidos, o encarava sem defesa a não ser sua magia da Luz de nascença e sua próprias capacidades mentais .

Uma voz emergiu da forma nebulosa, ao mesmo tempo doce e terrível. Ela encheuo ar como a própria névoa, e Will não conseguia dizer que linguagem ela falou, nem seela falou para que os ouvidos pudessem escutar; apenas soube que as coisas que ela disseestavam em sua cabeça instantaneamente.

“Você não deve despertar os Adormecidos, Antigo Escolhi do,” disse a voz. “Vouimpedí-lo. Essa é minha terra, e nela eles dormirão para sempre, com dormiram essesmuitos séculos. Sua harpa não os despertará. Vou impedí-lo. ”  

Will sentou em um pequeno monte despedaçado, seus braços na harpa qe ele nãoconseguia mais carregar. “É minha busca,” ele disse. “Sabe que devo continuar.”  

“Volte,” disse a voz, soprando através de sua mente como o vento. “Volte. Leve aharpa em segurança com você, uma Coisa de Poder para a Luz e seus mestres. Deixareivocê ir, se voltar agora e deixar minha terra. Você fez por merecer isso.” A voz ficoumais áspera, mais fria do que a neblina. “Mas se você buscar os Adormecidos, destruireivocê, e a harpa dourada também.”  

“Não,” Will disse. “Eu sou da Luz. Você não pode me destruir .”  

“Não será muito diferente da destruição,” a voz disse. “Vamos lá . Você sabedisso. Antigo Escolhido.” Ela ficou mais suave, mais sibilante e desagradável, como seestivesse elaborando um pensamento maligno; de repente Will lembrou do lorde no robeazul celeste.

“Os poderes do Escuro e da Luz são iguais em força, mas somos um poucodiferentes em nosso.. . tratamento.. . com aqueles que estiverem sob nossa vontade.” Avoz rastejou como sobre a pele de Will uma lesma. “Volte. Antigo Escolhido. Não vouavisar a Luz novamente.”  

Invocando toda sua confinça, Will se levantou, deixando a harpa no chão aos seus

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 pés. Ele fez uma pequena reverência zombeteira para a névoa cinza para a qual agora elesabia, não deveria olhar diretamente . “Você deu seu aviso, Majestade,” ele disse, “e eu oescutei. Mas não vai fazer diferença. O Escuro nunca pode mudar a mente da Luz. Nem pode obstruir a tomada de uma Coisa de Poder uma vez que ela tenha sido reclamada daforma correta. Retire seu feitiço da harpa dourada. Você não possui direito algum detocá-la com encantamento.”  

A névoa girou mais escura; a voz ficou mais fria, mais remota . “A harpa não estáencantada. Antigo Escolhido. Retire-a do saco.”  

Will se curvou. Tentou mais uma vez carregar a harpa enrolada no saco, mas elanão se mexeu; ela poderia ser uma pedra enraizada bem fundo na terra. Então puxou osaco para o lado para descobrir a harpa, e a pegou, e a brilhante coisa dourada veio emsua mão tão leve quanto sempre havia sido.

Ele olhou para o saco. “Tem mais alguma coisa ali.”  

“É claro,” disse o Rei Cinzento.

Will rasgou o saco esfarrapado de modo que ela ficou aberta; ainda pareciatotalmente vazia, como parecera da primeira vez. Então ele notou em uma dobra uma pequena pedra branca altamente polida, não era maior do que um seixo . Se abaixou para pegá-la. Ela não se moveu.

Ele disse lentamente, “É umo utensílio de pedra.”  

“Sim,” a voz disse.  

“Suo utensílio de pedra. Um canal para o Escuro. De modo que quando ela édeixada em um certo lugar, você pode saber tudo o que está acontecendo naquele lugar, e pode colocar nela seu desejo de fazer outras coisas acontecerem . Ela esteve escondidanaquele velho saco o tempo todo.” Uma súbita lembrança tremulou em sua mente. “ Nãome admiro e ter perdido o controle sobre a raposa das milgwn .”  

Vindo da névoa, uma risada surgiu. Foi um som aterrorizante, como o primeirosom de uma avalanche. Então ao invé s disso, e pior, a voz apareceu sussurrando. “Um outensílio de pedra do Esc uro não possui valor algum para a Luz. Entregue para mim.”  

“Você tinha colocado ela na fazenda de Caradog Prichard,” Will disse . “Porque?De qualquer modo ele é sua criatura, você não precisa de umo utensílio de pedra paraele.”  

“Aquele tolo não é nenhu m dos meus,” o Rei Cinzento disse desdenhosamente. “Seo Escuro se mostrasse a ele, ele derreteria de medo como manteiga sob o sol. Não, ele

não é do Escuro. Mas ele é muito útil. Um homem tão envolto em sua própria má vontadeé um presente da terra para o Escuro. É tão fácil dar a ele as idéias apropriadas. . . Muitoútil, certamente.”  

Will disse tranqüilamente. “Também há tais homens, de um tipo oposto, queinconscientemente servem a Light.”  

“Ah,” disse a voz com malícia, “mas n ão muitos Antigo Escolhido. Não muitos, eucreio.” Ela ficou aguda novamente, e a névoa rodopiou mais fria. “Entregue a mim outensílio de pedra. Ela não trabalhará contra você, mas também não trabalhará para você.Ela sempre se apegará na terra ao toque da Luz  –  como faria umo utensílio de pedra sua,se você tivesse uma, ao meu toque.”  

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“Não preciso de uma,” Will disse. “E certamente não preciso da sua . Pegue-a.”  

“Fique longe. Voupegá - la e irei embora. E se em uma noite e um dia você nãotiver ido também, dessa minha terra, você cessará e existir pelos padrões humanos.Antigo Escolhido. Você não irá nos impedir, nem com seus seis Signos nem com suaharpa de ouro.” A voz se elevou e cresceu como um vento forte. “Pois nossa hora estáquase chegando, independente de você, e o Escuro está se erguendo, o Escuro está seerguendo!”  

As palavras rugiram pela mente de Will assim como a névoa serpenteava escura efria em volta de seu rosto, obscurecendo tudo, até mesmo o chão sob seus pés. Ele nãoconseguia mais ver a harpa, mas apenas sentí-la segura nos seus dois braços. Ele balançou tonto, e um fr io terr ível atingiu todo o seu corpo.

Então sumiu. E ele ficou na rua entre as cercas vivas, com a harpa encostada aoseu peito, e ao redor dele o vale estava vazio sob o céu cinzento, e aos seus pés jazia um pedaço de saco velho.

Trêmulo, Will se curvou e enrolou a harpa novamente, e seguiu para a Fazenda

Clwyd.

Ele se esgueirou escada acima até seu quarto para esconder a harpa, fazendo umasaudação para Tia Jen. Ela respondeu por cima do ombro sem se virar, mexendocuidadosamente em uma panela no fogão. Mas quando Will desceu as escadas de novo, agrande cozinha pareceu cheia de gente. Seu tio e Rhys estavam andando impacientes, osrostos tensos de preocupação. John Rowlands tinha acabado de entrar pela porta.

“Você viu ele?” Rhys explodiu para Rowlands ansiosamente.

O rosto moreno marcado pelo tempo de John Rowlands ganhou algumas linhasextras quando suas sobrancelhas levantaram. “Quem eu deveria ter visto?”  

David Evans puxou uma cadeira e se jogou sobre ela cansado. Ele suspirou.“Caradog Prichard estava lá fora agorinha. Essa loucura não tem fim. Ele diz que outrade suas ovelhas foi atacada por um cão essa tarde  –  essa foi morta. Diz que aconteceu bem ali em seu terreno, de novo, e que ele e sua espoda viram tudo. E está espalhando decima abaixo que o cão era Pen.”  

“Ele estava balançando sua arma, o maldito lun ático,” Rhys falou com raiva.“Com certeza ele teria atirado no cão, se voc ê e Pen estivessem aqui. Graças a Deus nãoestavam .”  

John Rowlands calmamente, “Fico surpreso que ele não estava esperando por nósno portão.”  

“Eu disse a ele que você tinha saído para a montanha, atr ás de algumas ovelhas,”  disse o tio de Will, sua cabeça curvada, desanimado. “Sem dúvida que o tolo estará láfora procurando por você.”  

“Ele vai acabar atirando em uma ovelha, eu não f icaria surpreso,” John Rowlandsdisse. “Se ele conseguir encontrar a ovelha negra .”  

Mas David Evans estava preocupado demais para sorrir. “Deixe que ele faça i sso,e providenciarei para que ele vá para a delegacia de Tywyn, sejam cães ou não. Nãogosto disso, John Rowlands. O homem está agindo como se.. . eu não sei, realmente achoque a mente dele começou a fraquejar. Ele estava delirando. Cães matarem ovelhas é uma

coisa ruim, Deus sabe, mas ele estava agindo como se tivessem sido crianças que foram

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mortas. Se ele tivesse crianças. Acho que é melhor que ele não tenha .”  

“Pen esteve comigo o dia todo, sem pausa,” John Rowlands disse, sua voz profunda calma.

“Claro   que estava,” disse Rhys. “Mas Caradog Prichard não acreditaria nissomesmo se tivesse observado você a cada minuto do dia com seus próprios olhos. Ele é

ruim desse jeito. E ele vai voltar amanhã, disso não há dúvida. ”  

“Até lá, talvez Betty Prichard seja capaz de fazê-lo ver a razão, ” falou Tia Jen.“Embora ela jamais tenha tido muita sorte antes, Deus sabe. Aquele deve ser um homemdifícil com o qual estar casado.”  

John Rowlands olhou para o tio de Will. “O que faremos?”  

“Não sei,” falou David Evans, balan çando sua cabeça lentamente. “O que vocêacha?”  

“Bem,” John Rowlands disse, “eu estava pensando que se você não estiver usando

a Land-Rover de manhã, eu poderia ir bem cedo subindo o vale e deixar Pen com IdrisJones Ty-Bont por alguns dias.”  

O tio de Will levantou sua cabeça, seu rosto se iluminando pela primeira vez.“Deus. Muito bom.”  

“Jones Ty-Bont deve um favor a você, por emprestar o trator nesse verão. Dequalquer modo, ele é um bom sujeit o. E um dos cães dele é da mesma ninhada que Pen.”  

“Essa é uma   idéia muito boa,” Rhys disse simplesmente. “E nós estamos sem  plugs para a motosserra . Você pode pegar uma em Abergynolwyn quando voltar.”  

Rowlands riu. “Então está tudo combinado.”  

“Sr. Rowlands,” disse Will. “Posso ir também?”  

Eles não tinham notado que ele estava ali; cabeças surpresas se viraram para ondeele estava parado na escada.

“Seja bem-vindo ,” John Rowlands disse.  

“Isso seria ótimo,” Tia Jen falou. “Ontem eu estava mesmo pensando que aindanão tínhamos levado você até Tal y Llyn. Lá em cima tem o lago. A fazenda de IdrisJones é bem perto dele. ”  

“Caradog Prichard não vai nem sonhar que o cão possa estar lá,” disse David

Evans. “Isso vai dar tempo para ele esfr iar .” 

“E se a matança de ovelhas continuar.. .” disse Rhys. Ele deixou a frase no ar de propósito.

Agora tem o seguinte pensamento, ” a tia de Will disse . “Devemos ter certeza deque Caradog pense que Pen ainda está aqui. Então se ele enxergar com seus própriosolhos Pen atacar uma ovelha de novo amanhã, haverá uma resposta rápida para ele. ”  

“Então está bem,” John Rowlands disse. Pen está em casa fazendo sua ceia, achoque vou me juntar a ele. Partiremos às cinco e meia, Will. Caradog Prichard não é a pessoa que acorda mais cedo no mundo.”  

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“Talvez o jovem Bran gostasse de ir com você, sendo um Sábado,” disse DavidEvans, agora se inclinando relaxado para trás em seu carro.

“Acho que não,” disse Will.  

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Parte Dois: Os Adormecidos

O Lago Confortável

Will esperava ser o único em movimento na casa, às cinco da manhã, mas sua TiaJen estava de pé antes dele. Ela deu a ele uma xícara de chá, e um grande pedaço de p ãocaseiro e manteiga.

“Lá fora está frio tão cedo,” ela disse. “Você vai se sentir melhor com algumacoisa por dentro.”  

“Pão e manteiga são cinco vezes mais gostosos aqui do que em qualque r outrolugar,” disse Will. Olhando para cima enquanto mastigava, viu que ela olhava para elecom um engraçado meio sorriso.

“Você é a imagem da saúde,” ela disse. “Exatamente como seu irmão maior Stephen, na sua idade. Ninguém adivinharia o quanto você esteve doente, não faz muitotempo. Mas pelo amor de Deus, não é bem um descanso restaurador que estivemos dandoa você . O fogo, e toda essa coisa de assassinato de ovelhas”  

“Excitante,” disse Will, abafado, com a boca cheia.  

“Bem, sim,” falou a Tia Jen. “Na verdade, em um lugar onde nada fora do comum jamais acontece, gera lme nte, do f inal de um ano até o próximo. Acho que já t iveexcitação bastante, por enquanto.”  

Will falou suavemente, de propósito, “Acho que a última agitação de verdadeaconteceu quando apareceu a mãe de Bran. ”  

“Ah,” sua tia disse. Seu rosto agradável estava i legível. “Você ouviu falar disso,não ouviu? Imagino que John Rowlands contou para você. Ele é uma alma gentil, Shonimawr , sem dúvida teve suas razões. Diga-me. Will, você teve algum tipo de discussãocom Bran?”  

Will pensou:  E isso era o que você queria me perguntar, com a xícara de chá, porque você também é uma alma genti l , e pode sentir o sofrimento de Bran. . . E eu gostaria de poder ser bastante honesto com você .

“Não,” ele disse. “Mas perder Cafall foi tão ruim para ele que acho que ele sóquer ficar sozinho. Por algum tempo.”  

“Pobre garoto.” Ela balançou a cabeça. “Seja paciente com ele. É um garotosolitário, e teve uma vida estranha, de algumas maneiras. Tinha sido maravilhoso paraele ter você por aqui, até que isso estragou tudo.”  

Uma pequena dor atravessou o antebraço de Will; ele o segurou, e percebeu quevinha da cicatriz da Luz, sua marca quente.

Ele falou de repente, “Ela nunca mais voltou, Tia Jen? A mãe de Bran? Como elaconseguiu simplesmente ir embora e deixar ele, desse jeito?”  

“Não sei,” sua tia disse. “mas não, nunca mais houve sinal algum dela.”  

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“Em um minuto, ir embora para sempre.. . Acho que isso deve incomodar muitoBran.”  

Ela olhou para ele séria, “Alguma vez ele  já falou algo sobre isso?”  

“Oh, não, é claro que não.  Nunca conversamos sobre isso. Eu só senti  –  Tenhocerteza que deve incomodar ele, lá no fundo.”  

“Você é um garoto engraçado,” falou sua tia curiosamente. “Às vezes parece umadulto. Acho que deve ser por ter mutos irmãos e irmãs mais velhos do que você.. .Talvez entenda Bran melhor do que a maioria dos garotos poderiam .”  

Ela hesitou por um momento, então aproximou sua cadeira. “Vou te dizer umacoisa,” ele falou, “caso isso possa ajudar Bran. Sei que você tem bastante bom senso para não falar com ele sobre isso . Acho que Gwen, sua mãe, t inha algum tipo de problema em sua vida passada sobre o qual não podia fazer nada, e que por causa dissoela sentiu que deveria dar a Bran uma vida que seria livre disso. Ela sabia que OwenDavies era um homem bom e cuidaria do garoto, mas também sabia que simplesmentenão amava Owen tão profundamente quanto ele a amava, não o bastante para casar com

ele. Quando as coisas chegam a esse ponto, não há nada que uma mulher possa fazer. Émelhor ir embora.” Ela fez uma pausa. “Não melhor abandonar Bran, você poderiadizer.”  

“Isso era exatamente o que eu ia dizer,” falou Will. “Bem,” disse a sua tia. “Gwenfalou uma coisa para mim, naqueles poucos dias que esteve aqui, quando ficamossozinhas uma vez. Nunca falei sobre isso, mas eu nunca esqueci. Ela disse: Se uma vezvocê traiu uma grande confiança, não ousa deixar que confiem em você novamente, porque uma segunda t raição seria o fim do mundo . Não sei se você consegue entender isso.”  

“Quer dizer que ela estava com medo do que poderia fazer?”  

“E com mais medo do que tinha feito. Fosse lá o que fosse.

“Então ela fugiu. Pobre Bran,” disse Will.  

“Pobre Owen Davies,” disse sua tia.  

Houve uma leve batida na porta, e John Rowlands colocou sua cabeça para dentro.“ Bore da ,” ele disse. “Pronto, Will?”  

“ Bore da , John,” disse a Tia Jen, sorrindo para ele.  

Colocando sua jaqueta. Will virou de repente e deu nela um abraço desajeitado.

“Obrigado. Tia Jen.”  O sorriso dela se iluminou de prazer e surpresa. “Veremos você quando nos

encontrarmos novamente ,” ela disse.  

John Rowlands falou, quando estava ligando o carro no  portão da fazenda, “Elaadora você, sua tia.”  

Will segurou a porta aberta para que Pen subisse; o cão pulou por cima do assentona traseira, e ficou deitado no chão docilmente.

“Eu também gosto muito dela. E minha mãe também .”  

“Então tenha cuidado, está certo?” Rowlands disse. Seu rosto moreno marcado

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estava livre de qualquer expressão, mas as palavras tinham força. Will olhou para ele demaneira um pouco fria.

“O que você quer dizer?”  

“Bem,” Rowlands disse cuidadosamente, virando a Land -Rover para dentro daestrada. “Não tenho muita certeza do que está acontecendo ao nosso redor, Will bach , ou

 para onde isso está levando. Mas aqueles homens que sabem tudo sobre a Luz tambémsabem que há uma ferocidade em seu poder, como a espada nua da lei, ou o queimar  branco do sol .” De repente sua voz soou muito forte para Will, e muito Galesa. “Quer dizer, bem em seu núcleo. Outras coisas, como humanidade, piedade, e caridade, que amaioria dos homens bons consideram mas preciosas do que todo o resto, elas não vêemem primeiro lugar para a Luz. Oh, às vezes elas estão ali; com freqüencia, com certeza.Mas na longa corrida a preocupação das pessoas é com o Deus absoluto, diante de tudomais. Vocês são como fanáticos. Seus mestres, de qualquer modo. Como os antigosCruzados  –  oh, como certos grupos em toda crença, embora essa não seja uma questão dereligião, é claro. No centro da Luz há uma fria chama branca, do mesmo modo como nocentro do Escuro há um grande buraco negro sem fundo como o Universo. ”  

Sua voz calorosa e profunda cessou, e houve apenas o rugido do motor. Will olhouacima dos campos cinzentos pela névoa, em silêncio.

“Esse foi um longo discurso,” John Rowlands falou sem jeito. “Mas eu só estavadizendo, tenha cuidado para não esquecer que há pessoas nesse vale que podem ser feridas, mesmo perseguindo boas causas.”  

Will ouviu novamente em sua mente o grito angustiado de Bran quando o cãoCafall foi morto com um tiro, e ouviu sua fria rejeição: vá embora, vá embora.. . E por um segundo outra imagem, inesperada, surgiu em sua mente vinda do passado: o forterosto magro de seu mestre Merriman, o primeiro dos Antigos Escolhidos, frio ao julgar uma figura muito querida que, através da fragilidade de não ser mais do que um homem,

uma vez havia traído a causa da Luz.

Ele suspirou. “Entendo o que está dizendo,” ele falou com tristeza . “Mas você nos julga mal, porque você mesmo é um homem. Para nós, só há o dest ino. Como um trabalhoa ser feito. Nós estamos aqui simplesmente para salvar o mundo do Escuro. Não seengane, John, o Escuro está se erguendo, e vai tomar conta do mundo muito em breve senada ficar em seu caminho. E se isso por acaso acontecer, então nunca mais haveráquestionamento, para ninguém, seja sobre a calorosa caridade ou sobre o frio do bemabsoluto, porque nada existirá no mundo ou nos corações dos homens exceto aquele buraco negro sem fundo. A caridade, a piedade e o humanitarismo são para vocês, são asúnicas coisas pelas quais os homens existem juntos em paz. Mas nesse caso difícil emque nós da Luz estamos envolvidos, confrontando o Escuro, não podemos fazer uso

algum dessas coisas. Estamos travando uma guerra. Estamos lutando pela vida ou morte –  não por nossa vida, lembre-se, uma vez que não podemos morrer. Pelas suas.”  

Ele esticou sua mão para trás, por cima do assento, e Pen a lambeu com sua macialíngua molhada.

“Às vezes,” Will disse lentamente, “nesse tipo de guerra, não é pos sível fazer uma pausa, para suavizar o caminho para um ser humano, porque at é me smo essa pequenacoisa poderia significar um fim do mundo para todos os outros.”  

Uma chuva fina começou a embaçar o pára-brisas. John Rowlands ligou oslimpadores, olhando em frente para o mundo cinza enquanto dirigia. Ele disse, “Esse é

um mundo frio no qual você vive, bachgen . Eu mesmo não penso tão adiante. Eu me

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 preocuparia com o ser humano acima de todas as regras , o tempo todo.”  

Will afundou em seu assento, se enrolando em uma bola, erguendo seus joelhos.“Oh, eu também,” ele falou de modo triste. “Eu também, se eu pudesse. Isso faria comque eu me sentisse muito melhor por dentro. Mas isso não funcionaria.”  

Atrás deles, Pen se levantou inesperadamente, latindo. Will se desenrolou como

uma cobra assustada; John Rowlands pisou no freio, derrapando, e falou rápido e baixocom o cão em Galês. Mas Pen ainda continuava de pé na traseira da Land-Rover imóvelcomo um cão empalhado, latindo furiosamente, e no momento seguinte, como seestivesse observando alguma coisa fora de si mesmo, Will sentiu seu próprio corpo ficar rígido quando sentiu a mesma força. Suas unhas enterraram-se nas palmas de suas mãos.

John Rowlands não parou o carro, embora tivesse diminuido a velocidade. Ele deuuma olhada para o terreno lamacento por sua janela, através da neblina, e acelerounovamente. Em um momento ou dois Will sentiu a tensão sair de seus menbros, e seencostou no assento, ofegando. O cão parou de latir, e em súbito silêncio ficou deitadono chão tranqüilamente como se nunca tivesse se mexido.

Rowlands falou, com dureza em sua voz profunda, “Acabamos de passar pela casa.A casa vazia, onde perdemos a ovelha.”  

Will não disse nada. Sua respiração estava vindo rápida e superficial, como tinhaacontecido quando estava se recuperando do pior momento de sua doença, e ele encolheuos ombros e curvou sua cabeça sob o violent o peso do poder do Rei Cinzent o.

John Rowlands dirigiu mais rápido, lançando o forte carro fazendo curvas cegas.A estrada serpenteava através do vale; grandes ladeiras novas se erguiam em seu ladoleste, subindo até o céu cinza e vazio, cheias de pedras traiçoeiras. Por tada parte elas seelevavam sobre os tranqüilos campos verdes, dominantes, ameaçadoras. E entãofinalmente surgiram sinais de estradas laterais, e casas de telhado cinza espalhadas, e

diante deles, quando Rowlands reduziu ao chegar em um cruzamento. Will viu o lago Taly Llyn.

Sua tia o tinha chamado de lago mais adorável em Gales, mas estando escuro alina manhã cinzenta, ele era mais sinistro do que adorável. Um sua superfície negraimóvel nenhuma onda se movia. Ele enchia o chão do vale. Acima dele subiam as primeiras ladeiras de Cader Idris, a montanha do Rei Cinzento, e além, no lado maisdistante do vale, uma passagem conduzia através das colinas  –  para longe, Will sentiu,em direção ao fim do mundo. Agora ele havia recuperado seu controle, mas podia sentir a tensão agitando em sua mente. O Rei Cinzento havia sentido sua aproximação, e aconsciência de sua furiosa hostilidade foi tão clara como se tivesse sido gritada bemalto. Will sabia que não levaria muito tempo antes que um dos vigias, um peregrino fez

uma curva bem alto sobre as ladeiras, tivesse uma clara visão dele. Então ele não sabia oque aconteceria.

John Rowlands virou a Land-Rover descendo por uma trilha acidentada, longe dolago, e em pouco tempo eles chegaram até uma fazenda enfiada sob as ladeiras mais baixas de Cader Idris . Will saltou para abr ir e fechar o portão, e enquanto caminhavasubindo no terreno da fazenda ele viu um homem pequeno in a flat cap sair da casa parareceber o carro. Cães estavam latindo. Ele conseguiu ver um deles esperando um poucomais afastado onde o fazendeiro o tinha deixado: um cão pastor um pouco menor do quePen, mas com exatamente o mesmo pelo negro, e a mancha branca debaixo do queixo.

Rowlands iniciou uma animada conversa em Galês enuanto Will se aproximava

deles. “Idris, esse é um novo ajudante que eu tenho –  o sobrinho de David Evans, Will,

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da Inglaterra.”  

“Como vai você, Sr. Jones,” disse Will.

Idris Jones Ty-Bont piscou para ele quando apertavam as mãos; ele tinha olhosescuros enormes e particularmente salientes que o faziam parecer desconcertantementecom um bebê. “Como vai , Will? Ouvi dizer que esteve se divertindo com nosso amigo

Caradog Prichard.”  

“Todos estivemos,” John Rowlands disse de modo assustador. Ele deu um assobio por cima de seu ombro, e Pen saltou para fora do carro, olhou para cima como seestivesse procurando permissão para partir, e trotou para encontrar o outro cão negro.Eles giraram ao redor um do outro cordialmente, sem latir.

“A Lala ali é irmã dele, acredite ou não,” Idris Jones falou para Will. “Elesvieram da mesma ninhada, over Dinas way. Faz algum tempo, hein, John? Agora vamosentrando, Megan acabou de fazer chá. ”  

 Na calorosa cozinha, com a vigorosa e sorridente Sra. Jones que t inha quase duas

vezes o tamanho de seu marido, o cheiro de bacon fritando deixou Will faminto de novo.Ele se encheu alegremente com dois ovos fritos, dois pedaços grossos de bacon curadoem casa, e biscoitos Galeses quentes, como panquecas em miniatura, cobertos degroselha. A Sra. Jones começou a conversar instantaneamente com John Rowlands em umalegre Galês fluente, parecendo quase nunca tomar fôlego, ou dar caminho para umafrase ou duas na voz suave de seu marido, ou na voz profunda de Rowlands. Claramenteela estava adorando transmitir toda a fofoca local, e absorver um pouco que pudesseemanar de Clwyd. Will, cheio de bacon e contente, quase tinha deixado de prestar atenção quando viu John Rowlands, escutando, mostrar um repentino sobressalto e sentar mais para frente, tirando seu cachimbo da boca.

Rowlands disse, em Inglês, “ Você disse, lá em cima do lago, Idris? ”  

“Isso mesmo,” disse o Fazendeiro Jones, obed ientemente trocando de língua comum rápido sorriso para Will. “Lá em cima em uma saliência.  Não t ive chance de chegar muito perto, pois estava correndo atrás de minhas próprias ovelhas, mas tenho quasecerteza de que era uma ovelha Pentref. Não estava morta por muito tempo, eu acho, asaves ainda não estiveram muito tempo em cima dela  –  talvez um dia ou dois. O que meinteressou foi o sangue no pescoço. Era bastante velho, muito escuro, deve ter estado nalã muito antes da ovelha ter estar morta. E para uma ovelha que já deveria estar ferida,aquela ladeira era um diabo de lugar muito engraçado para ir. Bem, vou mostrar maistarde.”  

Will e John Rowlands olharam um para o outro.

“Você acha que é aquela ovelha?”  Will disse. “Aquela que desapareceu?”  

“Acho que deve ser,” John Rowlands disse.

Mas mais tarde, quando Idris Jones os levou para ver a ovelha, ele não deixariaWill chegar perto o bastante para ver.

“Não é uma visão agradável, bachgen ,” ele disse, olhando em dúvida para Will ecolocando novamente o cap em sua cabeça . “Quando os corvos estiveram sobre ela por um dia ou dois, uma ovelha fica uma coisa horrível, se não estiver acostumado comisso.. . espere aqui um minuto ou dois, nõs voltaremos logo.”  

“Está certo,” disse Will, resignado. Mas quando os dois homens seguiram subindo

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o escarpado lado escorregadio da montanha, ele sentou depressa em um súbito ataque detontura, e percebeu que certamente não ter ia s ido uma boa idéia ter ido mais longe. Elesestavam sobre uma ladeira que se erguia acima do lago, uma larga curva de pedregulhosdesprotegida e pouca grama quebrada por protuberâncias e afloramentos de granito. Maisadiante descendo o vale, a montanha estava coberta por escuras florestas de árvores deabeto, mas aqui a terra era aberta, inóspita. A ovelha morta jazia em uma plataforma que

 para Will parecia totalmente inacessível; bem alto acima de sua cabeça ela se pr ojetavada montanha, e o patético amontoado branco sobre ela não estava visível de onde elesentava. Ele também não podia ver John Rowlands e Idris Jones, subindo bem alto comos dois cães negros.

Duzentos pés abaixo estava o lago, sua calmaria quebrada apenas por um pequeno bote se movendo preguiçosamente saindo do pequeno hotel de pescadores que estavaaninhado sob as montanhas no lado oposto. Will não conseguiu ver nenhum outro sinalde vida em qualquer outra parte no resto do lago, ou nos dois lados do vale. Agora aterra parecia mais branda, com cores sutis em toda parte, pois o sol estava atravessandode modo intermitente entre nuvens que deslizavam.

Então houve um barulho de movimento acima dele, e John Rowlands veiodescendo a ladeira íngreme, plantando seus calcanhares firmemente na argila sobre agrama fina. Idris Jones e os cães o seguiam. O rosto marcado de Rowlands estava gélido.

Ele disse, “Essa é a mesma ovelha. Will. Mas como ela conseguiu sair daquelacasa e chegar aqui em cima está além de mim.  Não faz sentido algum.” Ele olhou paraIdris Jones por cima do ombro, que estava balançando sua cabeça semelhante a de um pássaro com nervosismo. “ Nem para Idris. Eu contei para ele a história. ”  

“Oh,” Will disse tristemente, agora sem se preocupar em disfarçar , “na verdadeisso não foi muito complicado. A milgwn  a levou.”  

Ele viu com o canto do olho que Idris Jones Ty-Bont ficou imóvel de repente, em

cima da ladeira, olhando para ele. Evitando os olhos do fazendeiro, ele sentou alisegurando seus joelhos contra seu peito, e olhou para John Rowlands de mododespreocupado pela primeira vez, não com os olhos de um garoto mas com os de umAntigo Escolhido. O tempo estava ficando curto, e ele estava cansado de fingir.

“O rei das milgwn,” ele disse. “O chefe das raposas de Brenin Llwyd. Ele é omaior de todas elas, e o mais poderoso, e seu mestre deu a ele o poder para fazer muitascoisas. Ele ainda não é mais do que uma criatura, mas ele não é de jeito nenhum...comum. Por exemplo, agora nesse momento ele está exatamente da cor de Pen, de modoque seria difícil para qualquer homem que, com seus próprios olhos, visse ele atacandouma ovelha, não pensar com certeza que foi Pen que ele estava vendo. ”  

John Rowlands estava olhando para ele, seus olhos escuros brilhantes como pedra polida . Ele disse lentamente, “E talvez antes disso ele pudesse ter ficado exatamente dacor de Cafall, e assim também qualquer um poderia ter pensado . . .”  

“Sim,” Will disse. “ Eles poderiam .”  

Rowlands balançou sia cabeça abruptamente como que para tirar um peso dela.“Acho que está na hora de descer dessa montanha, garoto Idris,” ele disse firmemente,fazendo Will se levantar .

“Sim,” Idris Jones falou depressa. “Sim, sim.” Ele os seguiu, parecendototalmente confuso, como se tivesse acabado de ouvir uma ovelha latir como um cão eestivesse tentando encontrar um jeito de acreditar no que tinha ouvido.

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Os cães trotaram na frente deles, agora se virando de modo protetor para ter certeza de que eles estavam seguindo. John Rowlands logo soltou Will para que elecaminhasse sozinho, pois em fila simples era o único modo possível de descer oondulante caminho escarpado, feito pelas ovelhas e raramente usado por homens. Willestava na metade do caminho descendo até o lago antes que caísse.

Ele jamais conseguiria explicar, mais tarde, como tropeçou. Só poderia ter dito,muito simplesmente, que a montanha balançou  –  e não poderia esperar que nem mesmoJohn Rowlands, no alto de sua confiança, pudesse acreditar nisso. Porém, a montanharealmente balançou, através da malícia de seu mestre o Brenin Llwyd, sendo que um pedaço do caminho sob os pés de Will pulou perceptivelmente para um lado e volt ou,como um gato arqueando sua costa, e Will só viu isso com horror no momento que perdeu o equil íbrio e rolou descendo . Ele ouviu os homens gritarem e percebeu umamovimentação quando Rowlands mergulhou para agarrá-lo. Mas ele já estava rolando, batendo, e foi apenas uma plataforma de granito, projetando -se como a plataforma naqual eles tinham encontrado a ovelha morta, que o impediu de descer rolando todos oscem pés até a borda dolago. Ele bateu com força contra a pedra irregular, e gritou de dor quando uma flecha de fogo pareceu atingir queimando seu braço esquerdo. Mas a pedra o

salvou. Ele ficou parado.De modo gentil como uma mãe, John Rowlands verificou o osso do braço dele. Seu

rosto estava com uma cor estranha, onde o sangue havia desaparecido sob o bronzeado.“ Duw ,” ele falou depressa, “você tem sorte, Will Stanton. Vai doer bastante pelos próximos dias, mas tanto quanto posso dizer , não est á quebrado em parte alguma. E ele poderia muito bem estar em pedaços.”  

“E o garoto no fundo do Llyn Mwyngil!” Idris Jones falou trêmulo, se levantandoe tentando recuperar o fôlego perdido. “Como diabos você conseguiu cair desse jeito,bachgen?  Não estávamos indo tão rápido, mas você caiu com tanta velocidade.. .” Eleassobiou levemente, e tirou seu cap para enxugar sua testa.

“Com cuidado,” disse John Rowlands, colocando Will de pé cuidadosamente.“Agora você está bem para caminhar? Não está ferido em mais nenhum lugar?”  

“Eu vou ficar bem. De verdade. Obrigado.” Will estava tentando olhar para IdrisJones. “Sr. Jones? Do que foi que você chamou o lago?”  

Jones olhou para ele inexpressivo. “O que?”  

“Você disse, o garoto deveria estar no fundo do lago.  Não disse? Mas não disseTal y Llyn, você o chamou por algum outro nome. Llyn alguma coisa.”  

“Llyn Mwyngil. Esse é o nome correto, o antigo nome Galês. ” Jones estava

olhando para ele com uma espécie de surpresa confusa, claramente suspeitando que aqueda havia atingido Will na cabeça. Ele adicionou distraidamente, “É um bom nomemas não muito usado esses dias, nem mesmo no Serviço Oficial de Topografia.. . comoBala também. Ele deveria ser Llyn Tegid com sempre foi, mas agora não o chamam maisassim em lugar algum e apenas chamam de Lago Bala.. . ”  

Will disse, “Llyn Mwyngil, o que isso significa em Inglês?”  

“Bem... o lago no lugar confortável. Retiro Confortável. Que seja.”  

“O lago confortável ,” Will disse. “Não me admira eu ter caído . O lagoconfortável.”  

“Sim, você poderia colocar isso desse modo, livremente, eu acho.” Idris Jones

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recompôs sua mente de repente e se virou a ngustiado. “John Rowlands, qual é o problema com esse garoto maluco que você encontrou, que fica parado aqui em cimafalando semânticas em uma montanha, quando esteve perto de quebrar seu pescoço?Desça ele até a fazenda antes que ele tenha um ataque e comece a speaking withtongues.”  

A risada profunda de John Rowlands mostrava alívio. “Vamos lá, Will .”  

A rechonchuda Sra. Jones tagarelou preocupada sobre Will e colocou umacompressa fria em seu antebraço. Ninguém ouviria falar dele fazendo alguma coisa, ouindo a qualquer lugar. Os raios de sol irregulares agora estavam mais quentes, e Will nãoachou desagradável deitar suas costas na gramaperto da casa de fazenda, com o nariz friode Pen tocando em seu ouvido, e observar as nuvens deslizando pelo céu azul pálido.John Rowlands decidiu que iria até Abergynolwyn, que ficava próxima, para buscar aspark plug que Rhys queria da garagem de lá. Idris Jones descobriu negócios quesignificavam que ele deveria ir também. Os dois anunciaram firmemente que Willdeveria ficar com a Sra. Jones e os cães, e descansar. Ele sentiu que eles mesmos aindaestavam se recuperando de sua queda, tratando ele como uma frágil peça de porcelanachinesa que, desde que tinha sobrevivido magicamente sem quebrar, deveria ser colocadamuito cuidadosamente em uma prateleira e não ser tocado por um especial espaço detempo.

A Land-Rover se afastou com os dois homens. A Sra. Jones fazia barulho andando para frente e para trás até que estivesse satisfeita consigo mesma de que Will nãoestivesse sentindo dor, ou qualquer agonia, e então saiu e sentou-se para fazer um boloem sua cozinha.

Por algum tempo Will ficou sentado brincando ociosamente com os cães, pensandono Rei Cinzento em uma mistura de breve triunfo, ressentimento, agressividade, enervosismo pelo que poderia acontecer a seguir. Pois agora não havia como escapar. Elesoube, de algum modo, até mesmo quando tinham saído naquela manhã. Seu caminho

 jazia firmemente através do centro de Brenin Llwyd.  No lago agradável jazem os Adormecidos. . . No caminho de Cadfan onde gritam os falcões.. . Nunca havia lheocorrido seguir a rota mais simples saindo do enigma, e seguir andando pelo Caminho deCadfan até que ele o levasse a um lago. Mas no final não faria diferença. Mais cedo oumais tarde ele teria vindo até aqui, até Tal y Llyn, Llyn Mwyngil, o lago no lugar confortável sob a sombra do Rei Cinzento.

Levando Pen com ele, e deixando para trás uma paciente Lala resignada, ele passeou além do portão da fazenda e saiu descendo a rua cercada . Algumas amorassilvestres pendiam sobre o banco gramado, e uma pequena cotovia cantava por trás dacerca; quase poderia ser verão. Mas embora o sol brilhasse, na distância sobre osarbustos Will podia ver neblina ao redor dos picos de Cader Idris.

Ele estava em um suspenso estado de mente sonhador, parcialmente por causa daaspirina para a dor em seu braço que a Sra. Jones tinha feito ele tomar, quando derepente ele viu um garoto surgir descendo a rua na direção dele em uma bicicleta. Will pulou para um lado. Houve o barulho de freios, um monte de poeira, e o garoto caiu emuma confusão de pernas e rodas girando do outro lado da rua. His cap caiu e Will viu ocabelo branco. Era Bran.

Seu rosto estava úmido de suor; sua camisa colada em seu peito, e sua respiraçãovindo em grandes baforadas. Ele não teve tempo para saudação, ou explicação.

“Will - Pen  –  leve ele para longe daqui, esconda-o! Caradog Prichard descobriu.

Ele está vindo. Ele está louco, jura que vai matar Pen aconteça o que acontecer, e ele

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está a caminho daqui agora, com sua arma...”  

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Parte Dois: Os Adormecidos

The Warestone

Bran ficou de pé, retirando a poeira e a grama.

Will olhou para ele. “Você veio de bicicleta o caminho todo desde Clwyd?”  

Bran balançou a cabeça confirmando . “Caradog Prichard apareceu rugindo em suavan essa manhã, procurando por Pen. Ele está decidido em atirar nele. Fiquei apavorado,Will. A aparência dele, não é de um homem de jeito nenhum. E acho que ele estevecaçando John Rowlands e Pen a noite toda, ele estava com aparência horrível, e não fez a barba.” Agora sua respiração estava fluindo com mais normalidade. Ele pegou sua bicicleta. “Vamos lá. Rápido!”  

“Para onde devemos ir?”  

“Não sei. Qulquer lugar. Apenas para longe daqui.” Ele enfiou sua bicicleta por cima do banco que margeava a rua pela esquerda, e os conduziu através de arbustos eárvores na direção do terreno pantanoso que estendia-se de volta descendo o vale, paralonge do lago.

Will cambaleou atrás dele, com Pen ao seu lado. “Mas ele sabe mesmo queestamos aqui?  Não poderia saber.”  

“Essa é a única parte que não entendo,” Bran disse. “Ele estava tendo uma grande

discussão com seu primo Rhys, sobre onde estava Pen, e de repente ele parou no meio daconversa e ficou muito quieto. Foi quase como se ele estivesse escutando. Então elefalou, sei para onde eles foram. Foram para o lago. Simplesmente assim. Rhys tentouconvencê-lo a esquecer isso, mas não acho que tenha funcionado. De algum jeitoPrichard simplesmente sabia. Tenho certeza que ele está a caminho de Ty-Bont. Pen!“Ei!” Ele assobiou, e o cão parou logo em frente, esperando por eles.  

Agora eles estavam andando em chão que se elevava, através de samambaia naaltura da cintura, em um caminho de ovelhas que ondulava.

“Então como você chegou aqui antes dele?” diss e Will .

Bran olhou por cima do ombro com um rápido sorriso; ele havia se movido adianteno caminho, empurrando sua bicicleta. Alguma coisa parecia ter feito com que eleabandonasse a imagem de desespero que Will tinha visto no dia anterior.

“Caradog Prichard não ficará muito feliz com isso,” Bran disse solene. “Eu tinhaminha faca em meu bolso, e aconteceu de estar passando perto de sua van quando ele nãoestava olhando, e eu enfiei ela no seu pneu traseiro, e dei uma boa sacudida. E quandofiz isso enfiei no seu pneu reserva também. Você sabe como ele tem o pneu reserva presono lado da van? Isso é um erro, ele deveri a manter ele do lad o de dentro.”  

A tensão dentro de Will foi liberada como uma mola que fosse liberada, e elecomeçou a rir. Uma vez que tinha começado, foi difícil parar. Bran fez uma pausa,sorrindo, e então o sorriso se transformou em um risada e em pouco tempo eles estavam

tremendo de tanto rir, vibrando, cambaleando, agarrando-se um no outro, em uma louca

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gargalhada de felicidade com o cão Pen saltando ao redor deles com alegria.

“Imagina só a cara dele,” Will suspirou, “quando sair com a van e puf! O pneu baixar, e ele sair furioso e o trocar , e sair correndo de novo, e puf. . .”  

Eles começaram a rir de novo, gargarejando.

Bran tirou seus óculos escuros e os esfregou . “Mas preste atençao,” ele disse, “alongo prazo isso vai deixar tudo pior, porque ele vai saber muito bem que alguém cortouseus pneus de propósito, e isso simplesmente vai deixar ele mais louco do que nunca. ”  

“Valeu a pena,” Wil l disse. Controlado novamente, mas alegre, ele deu umaolhada de lado meio tímida para Bran. “Ei,” ele falou. “Foi muito legal de sua parte vocêvir aqui, considerando tudo.”  

“Oh, bem,” Bran disse. Ele colocou os óculos de novo, tornando-se mais uma vezinsondável; seu cabelo branco estava colado em sua testa em linhas úmidas escurecidas.Ele pareceu estar prestes a dizer mais alguma coisa, mas mudou de idéia . “Vamos lá!”ele disse; saltou sobre a sua bicicleta e começou a pedalar erraticamente pelo caminho

que serpenteava pela samambaia.Will começou a correr. “Para onde estamos indo?”  

“Só Deus sabe!”  

Eles seguiram correndo em uma perseguição lunática e alegre pelo vale: sobreladeiras abertas, descendo em buracos; subindo em ridges, entrando e saindo em meio arochas com líquen; através de grama, samambaia, urze e tojo, e muitas vezes, sobreterreno mais úmido perto de uma das pequenas correntes que elimentavam o rio por  juncos e folhas de íris. Eles t inham seguindo um longo caminho desde o lago; agora essaera a terra do vale principal, terra de pasto aberta, fundindo-se com os campos aráveis deClwyd e a Fazenda Prichard mais distante descendo, passando pelas colinas.

De repente Bran derrapou, balançando para o lado. Achando que ele tinha caído.Will foi ajudar, mas Bran agarrou seu braço e apontou ansioso do outro lado do terreno pantanoso. “Bem ali ! Na estrada! Tem uma curva descendo um longo caminho onde você pode ver carros vindos, antes que cheguem aqui  –  Tenho quase certeza que acabei de ver a van de Prichard!”  

Will agarrou Pen pela coleira e olhou ao redor rapidamente. “Temos que nosesconder  –  atrás daquelas pedras ali?”  

“Espere! Eu sei onde estamos! Tem um lugar melhor, logo aqui em cima  –  vamoslá!” Bran saiu de novo. O grande cão pastor escorregou da mão de Will e seguiu atrás

dele. Will correu. Eles deram a volta em um grupo de árvores próximas, e ali além delasestava o brilho de rocha cinza e ardósia, por trás de uma baixa parede em ruinas. A casa parecia bastante diferente por trás. Will não a reconheceu até que fosse tarde demais.Bran tinha corrido para dentro, escancarando a porta de trás quebrada, antes que ele pudesse gri tar para avisá-lo, e então não houve alternativa a não ser seguir atrás dele .

Despido aos olhos do Rei Cinzento, sentindo a força do Escuro fazendo pressão demodo súbito e forte sobre ele como uma gigantesca mão, ele cambaleou atrás do cão e dogaroto de cabelo branco para dentro da casa da qual a milgwn tinha roubado a ovelhaferida, a casa onde Owen Davies tinha lutado com Caradog Prichard pela mulher quehavia gerado e abandonado Bran; a casa assombrada, agora mais do que nunca, pelamalícia do Escuro que se erguia.

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Mas Bran, encostando sua bicicleta contra uma parede, estava lúcido e ileso. “Issonão é perfeito? É uma velha cabana de pastor, ninguem a usou faz anos.. . rápido, bemaqui  –  mantenha sua cabeça abaixada.. .”  

Eles se agacharam ao lado da janela. Pen deitado quieto ao lado deles, e viramatravés do buraco com bordas irregulares a pequena van cinza passando a talvezcinqüenta jardas de distância na estrada. Prichard estava dirigindo lentamente. Eles podiam ver ele olhando de um lado para o outro, varrendo a área . Ele olhou semcuriosidade alguma para a casa, e seguiu em frente.

A van desapareceu pela estrada para Tal y Llyn. Bran se encostou contra a parede.“Uau! Sorte!”  

Mas Will não estava prestando atenção alguma. Estava ocupado demais em proteger sua mente da furiosa ma levolência do Rei Cinzento. Ele disse entre os dentes,as palavras saindo lentas e arrastadas, “Vamos . . . cair. . . fora.. . daqui.. .”  

Bran olhou para ele, mas não fez perguntas. “Tudo bem. Tyrd yma , Pen.” Ele sevirou para o cão, e de repente sua voz se elevou como o vento nos fios. Pen! O que é

isso? Olha pra ele. Will!”  

O cão estava deitado sobre o etômago, suas quatro patas esticadas abertas, suacabeça abaixada para o lado encostada no chão. Foi horrível, não natural; uma posiçãoimpossível para qualquer criatura viva normal. Um leve choramingo assobiante saiu desua garganta, mas ele não se moveu. Era como se pregos invisíveis o mantivessem coladocontra o chão.

“Pen!” Will disse com horror. “Pen!” Mas não conseguiu erguer a cabeça do cão.O animal não estava paralisado por qualquer circunstância natural. Somente umencantamento poderia pressioná-lo com tanta força na terra que nenhuma mão viva poderia mo vê-lo.

“O que é isso?” Havia medo no rosto de Bran.  

“Isso é o Brenin Llwyd,” Will falou. Seu tom pareceu mais profundo do que antes para Bran, ma is ressonante . “Isso é o Brenin Llwyd, e ele esqueceu a barganha que fezquando conversamos ontem. Esqueceu que me deu uma noite e um dia. ”  

“Você conversou com ele?” Bran ouviu sua voz sair em um sussurro quebrado, eele se agachou ali imóvel ao lado da janela.

Mas novamente Will não estava prestando atenção. Ele falou para si mesmo, comessa mesma voz estranha. “Está sendo enviado não a mim e sim para o cão . Então, éindireto, um dispositivo. Eu acho...”  

Ele parou súbitamente e olhou para Bran, apontando um dedo para ele e fazendoum alerta, “Você pode me observar se quiser, embora fosse melhor que não o fizesse,mas não deve dizer nada, e nem fazer movimento algum. Nenhum .”  

“Está certo,” Bran disse.  

Ele observou, agachando-se no sujo chão quebrado em um canto, e ele viu Will semover para o meio da sala, para ficar ao lado do cão horrivelmente prostrado.

Will se curvou e pegou um pedaço quebrado de madeira dos detritos que estavamespalhados por toda parte, resultado de anos vazios. Ele o encostou no chão diante de

seus pés e, girando, desenhou um círculo ao redor de Pen e dele mesmo no chão com a

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 ponta do bastão. Onde o círculo foi desenhado, brotou um anel de chama azul, e quandoele estava completo Will relaxou e ficou bem ereto, como alguém livre de um grande peso que estivesse empurrando ele para baixo . Ele ergueu o bastão verticalmente no ar acima de sua cabeça, de modo que ele tocou o teto baixo, e ele disse algumas palavrasem uma linguaguem que Bran não entendeu.

A casa pareceu começar a ficar muito escura, sendo que os olhos fracos de Bran, piscando, não conseguiam ver nada a não ser o anel azul de fogo frio e a forma de Willsombreada no meio dele. Mas então ele viu que outra luz estava começando a brilhar nasala: uma pequena centelha azul, em algum lugar no canto mais distante, ficando mais bri lhante de modo constante até que ardia com tal intensidade que ele foi forçado a olhar  para longe.

Will disse alguma coisa, concentrado e furioso, na linguagem que Bran nãoconseguia entender. O círculo de chamas azuis cintilou alto e então baixo, alto e baixo,alto e baixo, três veses, e então de repente se apagou. Instantaneamente a casa estavacheia de luz do dia novamente, e a brilhante estrela de luz não podia ser vista em lugar algum. Bran soltou um longo e baixo suspiro, olhando pela sala para tentar ver para ondea luz tinha ido. Mas agora a sala pareceu tão diferente e comum que ele não poderiadizer. Nem poderia imaginar onde o círculo havia sido desenhado, embora soubesse queele estivera ao redor de Will.

Will , parado ali , era a única coisa na sala que absolutamente pareceu não ter  mudado, naquele segundo  –  e mesmo ele agora parecia diferente mais uma vez, umgaroto como havia sido, mas olhando pelo chão irritado como se estivesse procurando por uma bola de gude errante que t ivesse rolado para longe .

Ele olhou para Bran e disse de mal-humor, “Venha olhar para isso.” Então semesperar, enquanto Bran se levantava nervosamente, ele atravessou até o canto maisdistante da sala, se agachou, e começou a remexer em uma pequena pilha de pedaços de pedra que estava ali , espalhados aleatoriamente e sujas , entre os detri tos . Empurrando-os

 para o lado, ele l impou um espaço no qual uma pequena pedra branca jazia sozinha . Eledisse para Bran, “Pegue -a.”  

Confuso, Bran se esticou e pegou a pedra. Mas descobriu que não conseguiaerguê-la. Ele tentou com seus dedos. Ele ficou de pé, curvou as pernas, e tentounovamente erguê-la do chão. Ele olhou para a pedra, e então para Will.

“Ela faz parte do piso. Deve ser.”  

“O piso é feito de ardósia,” Will disse. Ele ainda pareceu zangado, quase petulante.

“Bem... sim. Não tem pedras na ardósia, é verdade. Mas do mesmo jeito ela está presa, de algum modo. Pedaço de quartzo. Não vai se mover.”  

“É umo utensílio de pedra ,” Will falou, agora sua voz estava suave, e cansada. “Aconsciência do Rei Cinzento. Eu devia ter imaginado. Elá é, nesse lugar, seus olhos, seusouvidos e sua boca. Através dela  –  apenas pelo fato dela estar ali  –  ele não apenas sabetudo que acontece nesse lugar , como pode enviar seu poder para fazer algumas coisas.Apenas algumas coisas. Não qualquer magia muito grande. Mas, por exemplo, ele é capazde paralisar Pen ali de modo que não podemos ser mais capazes de mover ele do quesomos de mover a próprio utensílio de pedra.”  

Bran se ajoelhou em agonia ao lado do cão, e acariciou a cabeça encostada demodo tão estranho contra o chão . “Mas se Caradog Prichard nos seguir até aqui  –  ele pode, seus cães podem  –  então ele simplesmente vai atirar em Pen ali mesmo onde ele

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está deitado. E não poderemos fazer nada para impedir .”  

Will falou com t r is teza, “Essa é a idéia.”  

“Mas Will, isso não pode acontecer. Você tem que fazer alguma coisa!”  

“Só tem uma coisa que eu posso fazer,” disse Will. “Embora obviamente eu não

 possa dizer a você o que é, com aquela coisa ali . Isso signif ica que terei que pegar emprestada sua bicicleta. Mas não tenho certeza se você deveria ficar aqui sozinho. ”  

“Alguém tem que ir. Não podemos deixar Pen desse jei to.  Não sozinho.”  

“Eu sei. Mas o utensílio de pedra . . .” Will olhou para a pedra como se ela fossealguma criança pequena irritante sentada ali agarrada em um objeto precioso demais paraque ela estivesse segurando . “Não é uma arma particularmente poderosa,” ele disse, “masé uma das mais antigas. Todos nós usamos elas, tanto a Luz quanto o Escuro. Existeregras, de certo modo. Na verdade nenhum de nós pode ser afetado por umo utensílio de pedra  –  apenas observado. Aquela pedra desgraçada pode dar ao Rei Cinzento uma idéiado que eu faço e digo aqui. Uma idéia geral, como uma imagem  –  ainda bem que não é

tão específica como uma televisão. Ela não pode fazer nada para me ferir, ou paraimpedir que eu faça o que eu quiser fazer  –  a não através do controle que possui sobreobjetos. Quero dizer, na prática ela não pode me afetar, porque sou um AntigoEscolhido, mas ela pode transmitir o poder do Escuro  –  ou da Luz, se por acaso ela pertencesse a um Antigo Escolhido  –  para afetar homens, animais, e coisas da terra. Ela pode impedir que Pen se mova, e então me impedir de mov ê-lo. Você entende? Sendoassim, se você ficar aqui, não há como saber exatamente o que ela pode fazer com você.”  

Bran falou obstinado: “Não me importo.” Ele sentou de pernas cruzadas ao lado docão. “Ela pode me matar, não pode?”  

“Oh, não.”  

“Bem, então. Eu vou ficar. V á em frente, leve a bike.”  

Will assentiu, como se isso fosse o que ele estivesse esperando. “Voltarei o maisrápido que puder. Mas tome cuidado. Fique bem atento. Se algo acontecer, será do jeitoque você menos espera.”  

Então ele havia saido pela porta, e Bran foi deixado na casa com o cão pressionado impossivelmente espremido contra o chão de ardósia por um forte ventoinvisível, olhando para uma pequena pedra branca.

“Bom dia, Sra. Jones. Como você está?”  

“Bem, obrigada, Sr. Prichard. E você?”  O rosto gorducho pálido de Caradog Prichard estava brilhando de suor. A

impaciência colocou de lado sua cortesia Galesa. Ele disse abruptamente, “Onde estáJohn Rowlands?”  

“John?” disse a alegre Megan Jones, esfregando mãos sujas de farinha em seuavental. “Veja só, que pena, você perdeu ele. Idris e ele foram para Abergynolwyn fazmeia hora. Não voltarão até o jantar, e hoje ele será tarde.. . Você quer ver ele comurgência, é isso, Sr. Prichard? ”  

Caradog Prichard olhou para ela inexpressi vo e não respondeu. Ele disse, com umavoz alta forte, “O cão de Rowlands está aqui?”  

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“Pen? Meu Deus, não,” a Sr.a Jones disse com sinceridade . “Não com John fora.”Ela sorriu amavelmente para ele. “Então, é o homem que você quer ver , ou o cão? Bem,na verdade, você é bem vindo para esperar por eles aqui, ainda que como eu disse, podelevar algum tempo. Deixa eu trazer uma xícara de chá para você, Sr. Prichard, e um bom bolo Galês fresco.”  

“Não,” disse Prichard, passando sua mão distraidamente por seu espesso cabelovermelho. “Não... não, obrigado.” Ele estava tão perdido em sua própria mente que pareceu ma lme nte estar consciente da presença dela . “Vou sair até a cidade para ver seencontro eles lá. No Crown, talvez.. . John Rowlands tem alguns negócios com Idris Ty-Bont não tem?”  

“Oh,” disse a Sra. Jones tranqüilamente, “ele só está visitando. J á que de qualquer modo tinha alguma coisa para fazer em Abergynolwyn. Só uma ligação, você sabe, Sr.Prichard. Assim como você.” Ela sorriu inocentemente para ele.  

“Bem,” disse Caradog Prichard. “Muito obrigado . Adeus.”  

Megan Jones olhou para ele enquanto ele virava a van cinza rapidamente e se

afastava dirigindo descendo a rua. Seu sorriso desapareceu . “Não é um homem bom,” eladisse de um modo vago . “E tem alguma coisa por trás daqueles olhos pequenos dele quenã´é boa de jeito nenhum. Foi muita sorte que o jovem Will tenha levado aquele cão paradar um passeio justo agora.”  

Will pedalou forte, abençoando a estrada do vale por ser plana, deixando a bikecorrer apenas com o impulso somente quando seu coração parecia estar prestes a saltar de seu peito. Ele dirigia só com uma das mãos. Não tinha falado nada a respeito de seu braço machucado, e Bran não tinha percebido, mas ele f icava doendo de modo anormalquando tocava o guidom com sua mão esquerda. Ele tentou não pensar como seria quandocarregasse a harpa dourada.

Agora, essa era a única coisa a ser feita. A música da harpa era a única magiadentro de seu alcance que libertaria Pen do poder do utensílio de pedra. Em todo caso,agora era a hora de levar a harpa até o lago confortável, para realizar seu objetivo mais profundo. Tudo estava se juntando, como se duas estradas levassem até a mesma passagem na montanha; ele só poderia ter esperança de que as estradas estivessem bloqueados por algum obstáculo que pudesse manter isoladas as duas ao mesmo tempo .Dessa vez mais do que nunca, a questão de manter o Escuro afastado dependia tanto dasdecisões e emoções dos homens quanto da força da Luz. Talvez até mais.

Raios de sol fragmentados tremulavam entrando e saindo de seus olhos, enquantonuvens deslizavam rapidamente pelo céu. Finalmente, ele pensou ironicamente, temos umdia bom. Suas rodas cantavam na estrada; agora ele estava quase na Fazenda Clwyd. Ele

ficou imaginando como explicaria para Tia Jen a sua chegada repentina, assim como sua partida súbita mais tarde . Provavelmente ela seria a única lá. Ela devia estar lá quandoCaradog Prichard apareceu mais cedo aquela manhã, e durante a troca de seus dois pneusmutilados. Talvez ele pudesse dizer que tinha vindo pegar alguma coisa para ajudar atirar Prichard do rastro, para impedir que ele encontrasse Pen... alguma coisa que JohnRowlands tinha sugerido.. . mas ele ainda teria que deixar a casa com a harpa dourada.Tia Jen não deixaria aquele objeto todo enrolado em um saco passar debaixo de seusolhos sem ao menos perguntar o que estava embrulhado ali. E que razão possível poderiaalguém ter, muito menos o seu sobrinho, para não deixar ela ver?

Will desejou, não pela primeira vez, que Merriman estivesse com ele, para aliviar tais dificuldades. Para um Mestre da Luz, não era grande problmea transportar seres e

objetos não apenas através do espaço mas também através do tempo, num piscar de

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olhos. Mas para o mais jovem dos Antigos Escolhidos, não importa o quanto fosse sériasua necessidade, esse era um talento grande demais.

Ele chegou até a fazenda; entrou pedalando; abriu a porta dos fundos. Mas quandoele chamou, ninguém veio. De repente ele percebeu com seu espírito se iluminando quenão tinha visto carro algum do lado de fora. Sua tia e seu tio devem ter saído; dequalquer maneira, isso era um lance de sorte. Ele correu escada acima até o seu quarto,disse as palavras necessárias para liberar a harpa dourada da proteção, e correu descendonovamente com ela debaixo do braço, um saco formando um tosco pacote triangular estranho. Ele estava a meio caminho até a bicicleta quando a Land-Rover entrou pelo portão fazendo barulho.

Por um segundo Will congelou em pânico; então ele caminhou lentamente, comcuidado, até a bicicleta, e a virou preparado para sair.

Owen Davies desceu do carro e ficou olhando para ele. Ele disse , “Foi você quedeixou o portão aberto?”  

“Oh, Deus.” Will estava realmente chocado: tinha cometido o clássico pecado de

fazenda, sem ao menos perceber. “Sim, eu abri, Sr. Davies. Isso é terrível. Eu sintomuito mesmo.”  

Owen Davies, ereto e sério, balançou sua cabeça coberta por um chapéu emreprovação . “Isso é uma das coisas mais importantes para lembrar, fechar qualquer   portão que tenha aberto em uma fazenda . Você não sabe qual dos animais de seu t io podeter escapulido, ele deveria ter sido mantido fechado. Sei que você é Inglês, e sem dúvidaum garoto da cidade, mas isso não é desculpa.”  

“Eu sei,” Will disse. “E nem mesmo sou um garoto da cidade. Realmente sintomuito. Vou falar com Tio David.”  

Pego de surpresa por essa honesta demonstração de confissão, Owen Daviesemergiu abruptamente da piscina de seriedade que tinha ameaçado engolir ele. “Bem,”ele disse. “Vamos esquecer isso dessa vez, nós dois. Acho que posso dizer que não faráisso de novo.”  

Seu olhar desviou um pouco para o lado. “Essa que você tem aí é a bicicleta deBran? Ele veio com você?”  

Will apertou forte entre seu cotovelo e o corpo a harpa embrulhada. “Peguei elaemprestada. Ele saiu para andar de bike, e eu estava.. . lá em cima no vale, caminhando, eeu vi ele, e pensamos que poderíamos nos divertir fazendo voar um grande aeromodeloque eu estive fazendo.” Ele bateu no pacote debaixo de seu braço, passando ao mesmotempo sua perna por cima do selim da bicileta. “Então agora estou voltando . Está tudo bem? Você não precisa dele para qualquer coisa?”  

“Oh, não,” Owen Davies disse. “Nada mesmo.”  

“John Rowlands levou Pen para o Sr. Jones em Ty -Bont totalmente são e salvo,”Will disse alegremente . “Eu devo jantar lá, mais tarde –  Sra. Jones disse  –  tudo bem eulevasse Bran de volta comigo também, Sr. Davies? Por favor?”  

A expressão comum de alarmada decência surgiu no rosto magro de Owen Davies.“Oh, não, agora, a Sra. Jones não está esperando ele, não h á necessidade de incomodá-lacom outro.. .”  

Inesperadamente, ele parou. Foi como se tivesse escutado alguma coisa, sem

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entender. Confuso, Will viu seu rosto tornar-se estranhamente surpreso, com a aparênciade um homem tendo um sonho que havia sonhado muitas vezes mas nunca tinha sidocapaz de interpretar. Era uma aparência que ele jamais esperaria encontrar no rosto deum homem tão previsível e descomplicado como o pai de Bran.

Owen Davies observou ele olhando diretamente em seu rosto, que estava muitomais incomum. Ele disse, “Onde disse que você e Bran estavam brincando?”  

A dignidade de Will ignorou a última palavra. Ele chutou o pedal da bicicleta. “Láfora no pântano. Um longo caminho subindo o vale, perto da estrada. Não sei comodescrever exatamente  –  mas fica a mais da metade do caminho até a fazenda do Sr.Jones.”  

“Ah,” Owen Davies disse vagamente. Ele piscou para Will, aparentemente de voltaem sua pessoa nervosa comum . “Bem, ouso dizer que estaria tudo bem se Bran for jantar também. John Rowlands estando lá  –  Deus sabe que Megan Jones está acostumada aalimentar um monte de bocas. Mas deve lembrar de dizer a ele que deve estar em casaantes que escureça.”  

“Obrigado!” disse Will, e saiu antes que ele pudesse mudar de idéia, fechando o portão cuidadosamente depois que passou . Ele deu um grito de despedida, apenas tendotempo de notar a mão do pai de Bran erguida lentamente enquanto pedalava.

Mas ele não estava a muitas jardas pela estrada, pedalando com uma das mãosdesajeitada e lentamente com a harpa enfiada em seu braço esquerdo dolorido, quandotodo o pensamento em Owen Davies foi removido de sua cabeça pelo Rei Cinzento.Agora o vale estava pulsando com poder e malevolência. O sol estava em seu ponto maisalto, embora não estivesse mais do que na metade do caminho subindo pelo céu naqueledia de Novembro. A última parte do tempo para que Will cumprisse sua única buscasozinho tinha começado. Sua mente estava tão ocupada com o não pronunciado início da batalha que tudo que seu corpo podia fazer era emp urrar a bicileta, e ele mesmo,

lentamente pela estrada.

Ele prestou pouca atenção quando a Land-Rover passou assobiando por ele, indoveloz na mesma direção. Muitos carros já tinham passado por ele, em ambas as jornadas,e nessa área rural Land-Rovers eram comuns. Não havia razão alguma pela qual essadeveria ser diferente das outras.

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Parta Dois: Os Adormecidos

O Casebre No Pântano

Sozinho com o cão pastor imóvel, Bran foi novamente até a pilha de entulho nocanto da sala e olhou para o utensílio de pedra. Tão pequena, tão comum: erasimplesmente como qualquer outra das pedras de quartzo espalhadas sobre a terra. Ele securvou novamente e tentou levantá-la, e sentiu o mesmo golpe de descrença quando elanão se mexeu. Era como a terrível atitude na qual Pen estava. Le estava olhando para oimpossível.

Ocorreu a ele pensar porque ele não estava com medo. Talvez fosse porque partede sua mente ainda acreditava que essas coisas eram impossíveis, mesmo enquanto as via

claramente. O que uma pedrinha poderia fazer com ele? Ele foi até a porta da casa eficou olhando através do vale, na direção da Rocha dos Pássaros. Era difícil ver o Craigdaqui: uma saliência escura insignificante, reduzida pela montanha atrás. Ainda assimaquela também tivesse guardado o impossível; ele havia descido até as profundezasdaquela rocha, e em uma caverna encantada encontrou três Lordes da Alta Magia.. . Branteve uma súbita imagem da figura barbada no manto azul marinho, dos olhos do rostoencapuzado prendendo os seus, e sentiu uma estranha sensação acolhedora na lembrança.Ele jamais esqueceria aquela figura, claramente o maior dos três. Havia algo particular e próximo a respeito dele. Ele até mesmo tinha conhecido Cafall .

Cafall.

“ Não tenha medo, garoto. A Alta Magia jamais t iraria o seu cão de você.. . Apenasas criaturas da terra tiram umas das outras, garoto. Todas as criaturas, mas os homensmais do que todas. Eles tiram a vida.. . Tenha cuidado com sua própria raça, Bran

 Davies - eles são os únicos que sempre irão machucá -lo. . .”  

A dor da perda que Bran tinha começado a aprender a ocultar presa dentro delecomo uma flecha. Em um grande tumulto sua mente se encheu com imagens de Cafallcomo um filhotinho de pernas vacilantes, Cafall seguindo ele até a escola, Cafallaprendendo os sinais e comandos dos cães pastores, Cafall molhado pela chuva, o longo pelo achatado em uma linha reta por sua espinha , Cafall correndo, Cafall bebendo deuma corrente, Cafall dormindo com seu queixo morno nos pés de Bran.

Cafall morto.

Então ele pensou em Will. Foi culpa de Will. Se Will nunca tivesse levado eleaté. . .

“Não,” Bran disse bem alto repentinamente. Ele se virou e olhou para o utensíliode pedra. Ela estava tentando confundir sua mente para que ele pensasse mal de Will, eentão separá-los? Afinal de contas, Will havia dito que o Escuro poderia tentar chegar até ele do modo que menos poderia esperar. Era isso, com certeza. Ele estava sendoinfluenciado sutilmente para que se virasse contra Will. Bran sentiu-se feliz consigomesmo por notar tão cedo.

“Você pode economizar o esforço,” ele disse  para o utensíl io de pedra de modo

zombeteiro. “Não vai funcionar, está vendo?”  

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Ele voltou para a porta e olhou para as colinas. Sua mente retornou ao pensamentoem Cafall. Era difícil manter distância da última imagem: a pior, e ainda assim mais preciosa porque era a mais próxima. Ele ouviu de novo o t iro, e o modo como ele t inhaecoado pelo terreno. Ouviu seu pai dizendo, enquanto Cafall jazia sangrando esvaindosua vida e Caradog Prichard desdenhava com o sucesso: Cafall estava seguindo para aovelha, não há dúvida.. . Não posso dizer que eu mesmo não teria atirado nele, no lugar 

de Caradog. Isso é o certo.. .  O certo, o certo. Seu pai sempre tinha tanta certeza, sobre o certo e o errado. Seu

 pai e todos os amigos de seu pai na capela, e acima de todos o sacerdote com su a pregação sobre o bem e o mal , e o modo certo de viver . Para Bran isso era um padrãodisciplinar: ca pela duas vezes nos Domingos, ouvir e sentar parado sem incomodar , e nãocometer os pecados que o Livro de Deus proibe. Para o seu pai era mais: encontro deoradores, de vez em quando duas vezes em uma semana, e sempre a necessidade de secomportar do jeito que as pessoas esperam que um diácono se comporte. Não tinha nadaerrado com a capela e tudo isso, mas Bran sabia que seu pai se entregava a isso mais doque qualquer outro membro da capela que ele já tinha visto. Ele era como um homemtranstornado, com seu rosto ansioso e ombros encolhidos, sobrecarregados por um senso

de culpa que Bran nunca tinha sido capaz de compreender. Não havia alegria em suasvidas; a infinita penitência sem sentido de seu pai não permitir ia. Bran nunca t inharecebido permissão de ir ao cinema em Tywyn, e aos Domingos ele não podia fazer nadaa não ser ir para a capela e andar pelas colinas. Seu pai ficava relutante em deixar ele ir  para concertos e jogos na escola . Foi necessário muito tempo até mesmo para que JohnRowlands o persuadisse a deixar Bran tocar harpa em competições em eisteddfodau . Eracomo se Owen Davies mantivesse os dois, ele mesmo e Bran, trancados em uma pequenacaixa no vale, frios e solitarios, fora de contato com todas as coisas brilhantes da vida;como se eles estivessem condenados a uma vida na prisão.

Bran pensou:  Não é justo. Tudo que eu tinha era Cafall , e agora até Cafall se foi . . . Ele podia sentir a tristeza crescendo em sua garganta, mas ele engoliu com força e

cerrou seus dentes, determinado a não chorar. Ao invés disso fúria e ressentimentocresceram em sua mente. Que direito tinha o seu pai de tornar tudo tão amargo? Eles nãoeram diferentes das outras pessoas.. .

Mas isso está errado, disse a voz em sua mente. Vocês é diferente. Você é oesquisito com o cabelo branco, e a pele pálida que não ficará bronzeado no sol, e osolhos que não conseguem suportar a luz. Branquela, eles o chamam na escola, e Cara- pálida, e tem um garoto lá de cima do vale que faz o sinal contra o Olho do Mal na suadireção quando acha que você não está olhando. Eles não gostam de você. Oh, você édiferente, é isso mesmo. O seu pai e seu rosto fizeram você se sentir diferente toda suavida, você seria uma aberração por dentro mesmo se tentasse tingir seu cabelo, ou pintar sua pele.

Bran andou de um lado para o outro na sala da casa, furioso e ao mesmo tempoconfuso. Ele bateu uma das mãos contra a porta. Sentiu como se a sua cabeça estivesse prestes a explodir. Tinha esquecido do utensíl io de pedra . Não lhe ocorreu que essaassombração também poderia estar sendo gerada pela ação sutil do Escuro. Tudo pareceuter desaparecido do mundo exceto a fúria ressentida contra seu pai que inundava suamente.

E então do lado de fora da porta da frente quebrada da casa houve o barulho de umcarro se aproximando, e Bran olhou bem na hora de ver seu pai descer da Land-Rover ecaminhar na direção da casa.

Ele ficou imóvel, sua cabeça zunindo de fúria e surpresa. Owen Davies abriu a porta e f icou olhando para ele.

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“Pensei que você estaria aqui,” ele disse.  

Bran simplesmente falou. “Porque?”  

Seu pai fez o estranho movimento de abaixar sua cabeça que era um de seusfamiliares gestos de nervosismo. “Will esteve lá em cima na fazenda, pe gando algumacoisa, e disse que vocês dois estavam aqui em cima, em algum lugar.. . ele deve aparecer 

daqui a pouco.”  

Bran estava parado rígido. “Porque você está aqui? Will fez você pensar que tinhaalguma coisa errada?”  

“Oh, não, não,” Owen Davies falou d epressa.

“Bem, então, o que.. .”  

Mas seu pai tinha visto Pen. Ele ficou imóvel por um momento. Então falousuavemente, “Mas tem alguma coisa errada, n ão é?”  

Bran abriu sua boca, e fechou de novo.

Owen Davies entrou na sala e se curvou sobre o indefeso cão pastor. “Como foique ele se feriu antão? Foi uma queda?  Nunca vi um anima l deitar tão.. .” Ele acariciou acabeça do cão, e sentiu as pernas dele, então moveu sua mão para pegar uma pata. Pendeu um choramingo quase inaudível, e revirou seus olhos.

A pata não se moveu. Não estava rígida; estava simplesmente presa na terra, comoo utensílio de pedra. O pai de Bran tentou em cada uma das quatro patas, e a cada veznão conseguiu mover nem uma fração de polegada. Ele se levantou e se afastoulentamente, olhando para Pen, Então ele ergueu sua cabeça para olhar Bran, e em seusolhos um terrível medo estava misturado com acusação.

“O que você esteve fazendo garoto? ”  

Bran falou , “Esse é o poder de Brenin Llwyd.”  

“Besteira!” Owen Davies disse friamente. “bobagem supersticiosa! Não vou permitir que fale daquelas antigas histórias pagãs como se elas fossem verdade iras .”  

“Está bem. Da,” Bran disse. “Então é besteira supersticiosa que você não consigamover o cão.”  

“É algum tipo de rigor das juntas,” seu pai disse, olhando para Pen . “Para mim parece que ele quebrou as costas , e os nervos e músculos estão todos rígidos .” Mas nãohavia convicção em sua voz.

“Não há nada errado com ele. Ele não está ferido. Ele está desse jeito porque.. .”De repente Bran sentiu que iria longe demais para contar a seu pai sobre o utensílio de pedra. Ele disse ao invés disso, “É a malícia d e Brenin Llwyd. Através de sua trapaçaCafall levou um tiro quando não deveria ter levado, e agora ele está tentando fazer comque seja fácil para aquele louco Caradog Prichard pegar Pen também! ”  

“Bran, Bran!” A voz de seu pai estava alta de agitaç ão . “Você não deve se deixar levar tanto pela morte de Cafall. Não havia como impedir, bachgen , ele se transformouem um perseguidor de ovelhas e não tinha jeito para isso. Um cão assassino tem que ser morto.”  

Bran falou, tentando impedir que sua voz tremesse, “Ele não era um cão assassino,

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Da, e você não sabe o que está falando. Porque se soubesse, porque não consegue mover Pen um centímetro de onde ele está deitado? É o Brenin Llwyd, estou dizendo, e não temnada que você possa fazer.”  

E ele podia dizer pela apreensão nos olhos de Owen Davies que lá no fundo, eleacreditava que essa era a verdade.

“Eu deveria saber,” seu pai falou tristemente. “Quando encontrei você aqui nesselugar, eu deveria saber que tais coisas estavam acontecendo. ”  

Bran olhou para ele. “O que você quer dizer?”  

Seu pai não pareceu escutar. “Aqui, de todos os lugares . O sangue vai dizer, elesdizem. O sangue vai dizer. Ela veio aqui das montanhas, saindo da escuridão para esselugar, e então aqui é onde você veio também. Mesmo sem saber, você veio aqui. E o malsurge disso novamente.” Seus olhos estavam arregalados e ele estava piscando muitorápido, olhando para o vazio.

Suspeita do seu significado começou a rastejar dentro da mente de Bran como uma

neblina da manhã sobre o vale. “ Aqui . Você fica dizendo, aqui . . .”  “Essa era minha casa,” Owen Davies falou.  

“Não,” Bran disse. “'Oh, não.”  

“Onze anos atrás,” Davies disse, “Eu morei aqui.”  

“Eu não sabia.  Nunca pensei. Esteve vazia desde que me lembro; nunca penseinela como se fosse uma casa de verdade. Eu venho aqui quase sempre quando saiosozinho. Se chove. Ou apenas para me sentar . Às vezes” –  ele engoliu em seco  –   “àsvezes eu finjo que ela é minha casa.”  

“Ela pertence   a Caradog Prichard,” seu pai disse de modo vazio. “Seu pai amantinha como a casa do pastor. Mas agora os homens de Prichard moram na fazenda .”  

“Eu nunca pensei ,” Bran disse novamente.  

Owen Davies ficou sobre Pen, olhando para baixo, seus ombros finos curvados.Ele disse com tristeza, “O poder de Brenin Llwyd, sim. E foi isso que a trouxe até mimsaindo das montanhas, e então a levou embora de novo. Nada mais poderia ter feito isso.Tenho tentado criar você direito, longe de tudo isso, na oração e na bondade, e o tempotodo o Brenin Llwyd esteve tentando levar você de volta para onde sua mãe foi. Vocênão deveria ter vindo aqui .”  

“Mas eu não sabia,” Bran disse. A raiva ardeu nele súbitamente como umacentelha que foi soprada. “Como eu poderia saber ? Você nunca me contou. De qualquer modo nunca houve outro lugar para onde ir. Você nunca permite que eu vá para Tywyn,nem mesmo até a piscina ou a praia depois da escola com os outros. Para onde mais você permite que eu vá além dos pântanos? E como eu poderia saber que não deveria vir atéaqui?”  

Davies falou miseravelmente, “Eu queria te manter livre disso. Isso tinha acabado,tinha ido embora, eu queria manter você longe do passado. Ah, nunca deveríamos ter ficado aqui. Eu deveria ter mudado para longe do vale no início. ”  

Bran balançou sua cabeça de um lado para o outro como se tentasse jogar fora delaalguma coisa; o ar na casa pareceu estar ficando opressivo, pesado, cheio de tensão quecausava formigamento como o aviso de uma tempestade. Ele disse friamente, “Você

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nunca me falou nada, nunca. Sempre tenho que fazer tudo que você manda o tempo todo.Isso está certo. Bran, faça isso, isso é para o seu bem, esse é o jeito que deve secomportar. Nem mesmo falou sobre minha mãe, nunca falou. Eu nem tive uma mãe  –   bem, isso não é tão incomum, tem dois garotos na escola que tamb ém não. Mas eu nemsei nada sobre a minha. Só que o nome dela era Gwen. E sei que tinha cabelos negros eolhos azuis, isso só porque a Sra. Rowlands me contou, não você. Você nunca me

contaria nada, a não ser que ela fugiu quando eu era bebê. Nem sei se ela está viva oumorta.”  

Owen Davies disse tristemente, “Nem eu, garoto.”  

“Mas quero saber como ela era!” A tensão ecoou na cabeça de Bran como um mar furioso; agora ele estava gritando. “Quero saber! E você está com medo de me contar, porque deve ter sido por sua causa que ela fugiu! Foi culpa sua, eu semp re soube queera. Você deixou ela isolada de todo mundo do mesmo jeito que sempre me deixou, e foi por isso que ela fugiu!”  

“Não,” seu pai disse. Ele começou a caminha inquieto para frente e para trás na pequena sala; olhou para Bran ansiosamente, com cautela como se ele fosse um animal

selvagem que pudesse saltar. Bran pensou que a cautela fosse por medo; não havia nadamais em sua experiência que ele pudesse imaginar.

Owen Davies disse, se atrapalhando com as palavras, “Voc ê é jovem. Bran. Temque entender, eu sempre tentei fazer o que é certo, contar a você tanto quanto fossecerto. Não contar nada que pudesse ser perigoso para você.. .”  

“Perigoso!” Bran disse desdenhosamente. “Como poderia ser perigoso saber arespeito da minha mãe?”  

Por um momento o controle de Davies fraquejou. “Olhe bem ali!” ele disparou,apontando para Pen. O cão ainda continua imóvel, preso de modo terrível, como uma

 pele estendida para secar . “Olhe para isso! Você diz que é o poder de Brenin Llwyd  –  eentão me pergunta como poderia ser perigoso ?”  

“Minha mãe não tem nada a ver com o Brenin Llwyd!” Mas quando ouviu sua próprias palavras Bran parou, pensativo.

Seu pai falou de modo triste em meio ao silêncio, “Isso é uma coisa que jamaissaberemos.”  

“O que você quer dizer?”  

“Escute. Eu não sei para onde ela foi. Ela veio das montanhas, e de volta para asmontanhas ela foi, no final, e nenhum de nós a viu novamente, nunca. ” Owen Davies

estava se esforçando para que as palavras saíssem uma a uma, com dificuldade, como secada uma delas lhe causasse dor . “Ela foi por sua própria escolha, ela fugiu, e ninguémsoube porque . Eu não mandei ela embora.” Sua voz falhou de repente. “Mandei elaembora! lesu Crist , garoto. Eu perdi a cabeça procurando por ela lá em cima naquelascolinas, procurando por ela e nunca encontrando, gritando, e nunca tendo uma palavraem resposta. E nenhum som em toda parte a não ser os pássaros gritando, e as ovelhas, eo vento era um lamento vazio em meus ouvidos. E o Brenin Llwyd por trás de suaneblina sobre Cader e Llyn Mwyngil, escutando o eco de minha voz gritando, sorrindo para si mesmo porque eu jamais saberia para onde ela foi . . .”  

A angústia em sua voz era tão clara e sincera que Bran ficou em silêncio, incapazde responder.

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Owen Davies olhou para ele. Ele disse lentamente, “Acho que chegou a hora decontar a você, já que começamos isso. Eu tinha que esperar, você entende, até que vocêfosse velho o bastante para começar a entender. E eu sou seu pai legalmente. Bran, porque adotei você desde o início. Eu peguei você quando era um bebê, e Deus sabe quesou seu pai em meu coração e na minha alma. Mas você não nasceu de mim e sua mãe. Não posso dizer quem era seu pai de verdade, ela nunca falou uma palavra sobre ele .

“Quando ela saiu das montanhas, vindo do nada, ela o trouxe consigo. Ela ficou comigo por três dias, e então foi embora para sempre . E levou uma parte de mim com ela.” Suavoz tremeu, então estabilizou. “Ela me deixou um bilhete .”  

Ele tirou a carteira surrada de couro de seu bolso e puxou de um bolso interno um pequeno pedaço de papel . Desdobrando com grande delicadeza, ele o entregou a Bran. O papel estava enrugado e frágil , quase partindo nas dobra s; ele continha apenas umas poucas palavras a lápis , em uma estranha escri ta arredondada . “Seu nome é Bran.Obrigada, Owen Davies.”  

Bran dobrou o bilhete novamente, muito lenta e cuidadosamente, e o entregou devolta.

“Isso foi tudo que ela deixou, Bran,” disse o seu pai. “Aquele bilhete –  e você.”  

Bran não conseguiu pensar em palavra alguma para dizer. Sua cabeça estava cheiade imagens que rodopiavam e perguntas: uma encruzilhada com uma dúzia de curvas enenhuma placa informando por qual delas seguir. Ele pensou, como tinha pensado milvezes desde que era velho o bastante, no enigma que era sua mãe, sem rosto, sem voz, olugar dela em sua vida não era nada a não ser uma dolorosa ausência. Agora, através dosanos, ela havia trazido para ele outra ausência, outro vazio: era como se ela estivessetentando tiraro seu pai também  –  de qualquer modo o pai que, quaisquer que fossem suasdiferenças, sempre tinha imaginado como sendo seu. Ressentimento e confusãoaumentaram e diminuiram na mente de Bran como o vento. Ele pensou furiosamente:Quem sou eu? Olhou para Pen, e a casa, e o utensílio de pedra do Brenin Llwyd. Ele

ouviu novamente o lembrete amargo de seu pai: o Brenin Llwyd por trás de sua neblinasobre Cader e Llyn Mwyngil. . . Os nomes ecoaram em sua cabeça, e não conseguiuentender porque elees deviam. Llyn Mwyngil, Tal y Llyn... o rugido em sua cabeçacresceu; pareceu vir do utensílio de pedra.

Ele olhou na direção da pedra. E de novo, como quando Will estivera ali, a casa pareceu ficar escura, e o ponto de luz azul começou a bri lhar do canto escurecido, esúbitamente Bran teve um estrnaho solavanco de consciência de uma parte de sua menteda qual jamais tivera consciência. Foi como se uma porta estivesse abrindo em algumlugar dentro dele, e ele não sabia o que encontraria do outro lado. Em um flash atravésde sua consciência surgiu um rápido conjunto de imagens, que não fazia sentido algum,como se estivesse sonhando enquanto caminhava.

Ele pensou ter visto névoa girando sobre a montanha, e nela a alta figura vestidade azul do lorde que Will chamou Merriman, encapuzado, sua cabeça curvada e seu braçoesticado apontando para uma casa dentro de um vale  –  a casa na qual agora estva Bran.Em um breve momento Bran viu uma mulher, com o cabelo negro balançando ao vento, eele sentiu-se lavado por amor e ternura, de modo que ele quase gritou para impedir que asensação desaparecesse. Mas então ela se foi, e a névoa rodopiou, e então a figuraencapuzada estava ali novamente, e a mulher também, olhando para a casa, esticandoseus braços com saudade. Então a figura do lorde chamado Merriman passou seu braço aoredor da mulher e eles sumiram, desaparecendo na névoa, fora de vista e, ele sabia, forado mundo. Ele viu apenas mais outra imagem: longe lá embaixo, através de uma brechana névoa, a água de um lago distante cintilando como uma jóia perdida.

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Bran não entendeu. Sabia que de algum modo estava vendo algo vindo do passadoa respeito de sua mãe, mas não houve o bastante . “O que Merriman teria a ver com avinda dela, com o início e o fim disso? ” Ele piscou, e percebeu que estava olhando paraseu pai novamente. Os olhos de Davies estavam; arregalados de preocupação; ele estavasegurando o braço de Bran, e chamando o nome dele.

E na nova parte de sua mente que não tinha visto antes. De repente Bran sabia queagora tinha o poder para fazer mais coisas do que poderia ter feito normalmente. Eleesqueceu todo o resto que tinha acontecido naquele dia, pensando apenas no vislumbrede sua mãe em uma montanha sobre um lago cintilante; de repente ele só queria chegar aTal y Llyn e as ladeiras de Cader Idris, para descobrir se essa nova parte de sua mente poderia sentir al i mais alguma memória do modo que ele t inha começado . E ele tambémsabia que podia fazer mais alguma coisa. Dando um salto, ele falou para o cão com umavoz forte que dificilmente parecia ser sua, Tyrd yma Pen!”  

E saindo de seu estado de paralisia o cão pastor negro se ergueu instantaneamente,e saltou, e o garoto e o cão sairam correndo para longe pelo pântano.

Owen Davies, seu rosto marcado envelhecido de medo e preocupação, por um

momento ficou observando silenciosamente. Então se movu pesadamente até o carro, edirigiu para longe da casa pela estrada até a fazenda de Idris Jones.

Will seguia mais lentamente do que tinha esperado. O estranho formato da harpa,apertada contra seu peito, feria seu braço machucado e fazia doer tanto que logo ele mal poderia evitar largá-la. Ele parava com frequência para mudar sua posição. Tambémhavia outras razões para parar, pois agora a ferocidade da malevolência formando-se novale lançava-se sobre ele como uma grande mão, empurrando-o, ameaçando agarrá-locom dedos gigantes e esmagá-lo. Will continua de modo perseverante.  Primeiro a casa,então o lago . No caos desconexo que tentava forçá-lo a recuar, somente os pensamentose imagens mais simples podiam sobreviver, manter sua forma.  Primeiro a casa, então olago . Ele percebeu que dizia isso para si mesmo ofegante. Essas eram as duas tarefas

 para a harpa que, acima de todo o resto, deveria certif icar-se de efetuar nessas próximasduas ou três horas. A música encantada deve libertar Pen das garras do utensílio de pedra, na casa, para que ele escape da arma de Caradog Prichard. Essa era uma questãosimples. Mas então, mais importante do que tudo no mundo, a música deveria acordar osAdormecidos do lago confortável, as criaturas que dormiam seu sono atemporal ao ladode Tal y Llyn  –  seja lá quem ou o que essas criaturas pudessem ser. Pois se um Lorde doEscuro como o Rei Cinzento podia obter um poder tão surpreendente como esse queagora enchia esse vale, após séculos de sono murmurante debaixo de sua montanha, entãocom certeza o Escuro estava se erguendo, e todo o seu poder aumentando como umavasta nuvem ameaçando engolir o mundo todo.

Finalmente ele chegou até a casa. E a encontrou vazia.

Will ficou parado dentro da sala com paredes de pedra, confuso e ansioso. ComoPen poderia ter escapado do poder do utensílio de pedra? Onde estava Bran? Será queCaradog Prichard surgiu caçando, com ajuda do Rei Cinzento, e levou os dois?Impossível. Caradog Prichard era um servo inconsciente, que não sabia nada sobre osseus próprios laços com o Rei Cinzento; era apenas um homem, com os instintos de umhomem  –  os piores instintos, com os melhores tristemente submersos. Onde estava Bran?

Ele cruzou até o canto da sala. A pequena pedra branca que era o utensílio de pedra jazia exatame nte como estivera antes, inocente e mortal . Ao redor dele a força doRei Cinzento atacava implacavel. Vá embora, desista, você não vencerá, desista, váembora . Will procurou desesperadamente em meio aos poderes de sua própria mente para

descobrir o que poderia ter acontecido com Bran e o cão, mas não encontrou nada. Ele

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 pensou tristemente: você nunca deveria ter deixado eles sozinhos aqui. Com um tipo defuriosa auto-humilhação ele se curvou mais uma vez e colocou sua mão na pequena pedraarredondada que, como ele sabia, estaria fortemente presa ao chão, além de qualquer habilidade sua de movê-la uma fração de polegada.

E o utensíl io de pedra saiu tão facilmente quanto qualquer outra pedra, e f icousolta em sua palma, com se pedisse para ser usada.

Will ficou olhando para ela. Não podia acreditar no que viu. O que tinha tinhasolto a garra do utensílio de pedra? Nenhuma magia que ele conhecia podia fazer talcoisa. Era uma parte da Lei, que a Luz não poderia mover umo utensílio de pedra doEscuro, nem o Escuro influenciar o utensílio de pedra da Luz. A monstruosa rigidez, umafez usada, não poderia ser quebrada por ninguém mais a não ser o dono da pedra. Entãoquem poderia ter quebrado o poder do utensílio de pedra de Brenin Llwyd, a não ser o próprio Brenin Llwyd, o Rei Cinzento?

Will balançou sua cabeça impaciente. Estava desperdiçando tempo. De qualquer  jeito, uma coisa era certa: agora deixada sem dono, seu controle quebrado, o utensíl io de pedra estava fora da Lei e poderia ser usada para dizer a ele o que poderia ter acontecido

 para deixá-l a nesse est ranho estado atual .

Will continuou segurando firme a harpa; sentiu que jamais largaria ela de novo,muito menos nesse lugar. Mas ele ficou parado no centro da sala com o utensílio de pedra em sua palma aberta, e ele falou certas palavras na Linguagem Antiga, e esvaziousua mente e esperou para receber qualquer que fosse a sensação que a pedra pudessecolocar nela. O conhecimento não seria simples e aberto, ele sabia. Nunca era.

Ele veio, enquanto ele estava parado ali com seus olhos fechados e sua menteecoando, em uma série de imagens tão rápidas que eram como uma narrativa, um pedaçode uma história. Will viu o rosto de um homem, forte e bonito, mas desgastado, comolhos claros azuis e uma barba cinza. Embora as ropuas fossem estranhas e ricas, ele

soube quem era ele em um instante: o rosto era o do segundo lorde na caverna da Rochados Pássaros, o Lorde no robe azul marinho, que tinha falado com tal particular  –  e entãoinexplicável  –  proximidade com Bran.

Havia uma profunda tristeza nos olhos do homem. Então Will viu o rosto de umamulher, de cabelo negro e olhos azuis, distorcido em uma ameaçadora mistura de pesar eculpa. E em algum lugar com eles ele viu Merriman. Então ele estava vendo um lugar diferente, uma construção baixa com pesadas paredes de pedra e uma cruz acima de seutelhado  –  uma igreja, ou uma abadia  –  e dela Merriman estava conduzindo a mesmamulher, com um bebê nos braços dela. Eles estavam em um lugar alto, em um dosAntigos Caminhos; houve um grande turbilhão de névoa; um correr, e uma torrente deimagens tão rápida que Will não conseguiu acompanhar, nem distinguir mais do que um

flash da casa, e um ereto e sorridente Owen Davies com um rosto mais jovem, semmarcas; e cães e ovelhas e ladeiras de montanhas verdes de samambaia, e uma vozgritando, “Gwennie, Gwennie.. .”  

Então, mais claro do que qualquer outra coisa, ele viu Merriman, encapuzado norobe azul escuro, parado com a mulher de cabelo negro lá em cima na ladeira acima doVale Dysynni, no Caminho de Cadfan. Ela estava chorando levemente, lágrimas correndolentas e cintilantes descendo por suas bochechas. Agora ela não tinha nada em seus braços. Merriman estendeu sua mão, dedos bem esticados, e Will ouviu atra vés doassobio do vento um som de música semelhante a sinos que, como um Antigo Escolhidoseguindo os caminhos dos Antigos Escolhidos, ele tinha ouvido antes em outros lugares etempos. Então o turbilhão veio novamente, e tudo era confusão, embora agora ele

soubesse pela música que o que estava testemunhando era uma viagem de volta para

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outra época, muito tempo atrás: o movimento através do Tempo que não representavadificuldade para um Antigo Escolhido, ou um Lorde do Escuro, porém impossível para oshomnes a não ser em sonhos. Em um último flash de imagem ele viu a mulher queestivera com Merriman se virar e ir tristemente de volta para dentro da abadia feita de pedra, e desapareceu por trás de suas paredes pesadas . E sozinho em algum outro lugar distante, e ainda assim sobreposto na abadia como o reflexo no vidro que cobre uma fot o,

ele viu o rosto barbado do lorde que tinha usado o robe azul marinho, com o aneldourado de um rei coroando sua cabeça.

E de repente Will entendeu a verdadeira natureza de Bran Davies, a criançatrazida do passado para crescer no futuro, e ele sentiu uma terrível compaixão por seuamigo, nascido para um destino terr ível do qual ele, ainda, poderia não ter nenhumaidéia clara. Era difícil até mesmo pensar a respeito de um poder e responsabilidade tãosurpreendentemente profundos. Agora ele viu que ele, Will Stanton, último doa AntigosEscolhidos, estava destinado a ajudar e apoiar Bran no tempo que estava por vir,exatamente como Merriman sempre estivera ao lado do grande pai de Bran. O pai quenão tivera conhecimento da existência de seu filho, quando ele havia nascido, e que sóagora, pelos séculos, como um Lorde da Alta Magia tinha visto ele pela primeira vez.. .

Agora estava bastante claro como a posse de utensílios de pedra havia sido quebrada. Aolado da figura desta classificação, o poder do Rei Cinzento definhou até ainsignificância. Mas  –  isso era verdade apenas se Bran realmente soubesse o que estavafazndo. Quanto da sua infinitamente poderosa natureza enterrada realmente havia sidoliberada? O quanto ele tinha visto, na casa; que imagens tinham girado dentro de sua própria me nte inocente?

Agarrando sua harpa, esquecendo a dor em seu braço machucado com a pressa,Will correu para fora da casa, subiu na bicicleta e seguiu pela estrada para Tal y Llyn.Bran não poderia ter ido para mais nenhum lugar. Agora todas as estradas deveriam levar até o lago, e aos Adormecidos. Pois em jogo não estava apenas a busca pela harpadourada, o despertar dos Adormecidos, mas um poder da Alta Magia que poderia, se

ainda não reconhecido e não controlado, destruir não apenas aquela busca mas a Luztambém.

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Parte Dois: Os Adormecidos

O Despertar

Quando Will chegou a Tal y Llyn, ele soube que deveria tentar ficar fora de vista. Não havia como dizer onde Caradog Prichard poderia estar ; se ele t inha ido para afazenda de Idris Jones, onde ele teria feito de lá. Will pensou em ir até a fazenda parachecar, mantendo-se escondido na curva pela alameda caso a van cinzenta pudesse estar lá. Então ele mudou de idéia. Havia pouco tempo. Agarrando seu pacote, ele seguiu passando pelo topo da Ty-Bont lane, e saiu na esquina onde a estrada fazia a curva aoredor do lago.

Tal y Llyn estendia-se diante dele, atingida pelo vento que o dia todo tinha

enviado nuvens volumosas deslizando rapidamente pelo céu. Verde pela grama e marromde samambaia, as montanhas subiam de suas praias em ambos os lados; o lago escuroenchia o vale por todo o caminho até a ponta mais distante, onde as montanhas seencontravam em um grande V para fazer a passagem de Tal y Llyn. Will obdervou a águaondulante.

 Fogo na montanha encontrará a harpa de ouro

Tocada para despertar os Adormecidos, os mais antigos dos antigos.. .

Onde ela deveria ser tocada, e quando? Não aqui, do lado de fora na desprotegidaestrada do vale.. . Ele virou para o lado e pedalou em direçao ao lado do vale onde, acimados tranqüilos campos verdes, as primeiras ladeiras de Cader Idris subiam como uma

 parede que t inham o céu como telhado . Era a ladeira na qual eles encontraram a ovelhamorta; a ladeira que o Rei Cinzento havia sacudido para jogar Will no lago. O instintodos Antigos Escolhidos ainda fez com que Will lutasse para seguir em direção a ela; parachegar até a fortaleza do inimigo, em um desafio deliberado contra a poderosa força queo forçava para trás. Quanto maior as dificuldades, ele pensou, maior a vitória.

Houve um rugido em seus ouvidos, enquanto ele seguia pedalando com a harpaembrulhada debaixo de seu braço. Mais e mais perto o lado da montanha elvava-se acimaele. Logo a estrada faria uma curva. Para ficar perto do lago, ele deveria desmontar esubir os campos e a ladeira de traiçoeiras pedras soltas, para ficar isolado com uma visãoampla da água. Mas ele sentiu que era para lá que deveria ir.

Então de repente, rapidamente, Caradog Prichard surgiu na estrada na frente dele eagarrou o guidom da bicicleta, de modo que Will tombou para o lado caindo ao chãodolorosamente.

Quando ele se levantou, segurando a harpa com um braço que agora estava doendomais ainda, Will não sentiu raiva ou medo e sim uma aguda irritação. Prichard: semprePrichard! Enquanto o Rei Cinzento agigantava-se em medonha ameça sobre a Luz,Prichard como um rato que gritava deveria se intrometer eternamente para arrastar Will para as insignificantes r ivalidades e fúrias dos homens comuns . Olhou para CaradogPrichard com um desdém mudo que o homem não teve o bom senso de reconhecer comosendo perigoso.

“Onde você vai, Inglês?” disse Prichard, segurando firmemente a bicicleta. Seu

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cabelo vermelho estava desgrenhado; seus pequenos olhos cintilaram de forma estranha.

Will disse, frio como peixe no inverno, “Isso não tem nada a ver com voc ê.”  

“Modos, modos,” falou Caradog Prichard. “Eu sei muito bem onde você está indo,meu querido jovem  –  você e Bran Davies estão tentando esconder aquele outro malditocão assasssino de ovelhas. Mas não existe jeito no mundo que você possa me impedir de

chegar até ele. Então, o que você tem aí, hum?”  

Com uma suspeita descuidada ele tentou pegar o embrulho debaixo do braço deWill .

A reação de Will foi mais rápida até do que seus próprios olhos poderiamacompanhar. A harpa era importante, importante demais para ser colocada em tal riscotolo. Instantaneamente, ele era um Antigo Escolhido em todo arder de poder, erguendo-se terrível como um pilar de luz. Crescendo com a fúria, ele esticou um braço apontando para Caradog Prichard  –  mas encontrou, em uma resposta furiosa, uma barreira deterrível resistência do Rei Cinzento.

Primeiro Prichard se encolheu diante dele, seus olhos arregalados e sua bocafrouxa de terror, esperando pela aniquilação. Mas quando percebeu que estava protegido,lentamente a malícia surgiu em seus olhos. Will observou cuidadosamente, sabendo queo Brenin Llwyd estava assumindo o maior de todos os riscos que qualquer lorde da Luzou do Escuro poderia correr, ao canalizar seu próprio imenso poder através de um mortalcomum que não tinha a menor consciência das terríveis forças ao seu comando. O Lordedo Escuro deve estar em um estado desesperado, para confiar de um modo tão perigososua causa a um servo.

“Me deixe em paz, Sr. Prichard,” disse Will. “Eu não tenho o cão de JohnRowlands comigo. Nem mesmo sei onde ele está .”  

“Oh, sim, você sabe, garoto, e eu também.” As palavras jorraram de Prichar d,mais próximas da superfície de sua mente do que a surpresacom seu novo dom. “Ele foilevado para a fazenda Jones Ty-Bont, para ficar longe de mim de modo que possa voltar ao seu trabalho assassino. Mas isso não vai funcionar, com certeza não, não tenhaesperanã nisso, eu não sou tão idiota. ” Ele olhou para Will. “E é melhor você me dizer onde ele está, garoto, diga o que pretende fazer, ou vai ser muito ruim para você. ”  

Will podia sentir a raiva e malícia do homem girando em torno da mente delecomo um pássaro enlouquecido preso em uma sala sem saída.  Ah, Brenin Llwyd , ele pensou com uma espécie de tristeza,  seus poderes merecem algo melhor do que seremcolocados em alguém sem disciplina ou treinamento, sem a capacidade de usá-losadequadamente.. .  

Ele disse, “Sr. Prichard, por favor me deixe em paz.  Não sabe o que está fazendo .De verdade. Não quero ter que machucá- lo.”  

Caradog Prichard olhou para ele em um momento de genuína surpresa, como umhomem no instante antes de entender o sentido de uma piada, então ele explodiu em umagrande risada. “Você não quer me machucar? Bem, isso é muito bom, agora, estou felizem ouvir isso, muito prestativo. Muito gentil. . .”  

Agora os raios de sol que haviam iluminado esporadicamente a manhã tinhamsumido; nuvens cinzentas espessas estavam no céu, descendo o vale rodopiando no ventoque agitava o lago. De repente, algum instinto no fundo da mente de Will o fez perceber a escuridão que crescia como algo pesado ao redor, e despertou a decisão que tomou

conta dele enquanto a risada zombeteira de Caradog Prichard se  balbuciou em controle .

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Ele deu um ou dois passos para trás, segurando a harpa bem firme ao seu lado. Entãoquase fechando os olhos, ele invocou silenciosamente os dons que o tornavam um AntigoEscolhido em plena força, os feitiços que o faziam capaz de cavalgar o vento, voar alémdo céu e sob o mar; do círculo da Luz que o havia colocado nessa busca para a últimaconexão na defesa deles contra o Escuro que se erguia.

Houve um som como o do mar murmurante surgindo do lago Tal y Llyn, LlynMwyngil, e da borda mais distante da água escura uma onda enorme veio se deslocando.Ela curvou-se alta e de crista branca, cheia de espuma como se estivesse prestes aquebrar. Ainda assim ela não quebrou, mas deslizou pela água na direção deles, e em seutopo curvado estavam seis cisnes brancos, movendo-se suaves como vidro, suas grandesassas esticadas tocando na ponta das asas umas das outras. Elas eram enormes aves poderosas, suas penas brancas cinti lando como prata polida mesm o na luz cinza do céucheio de nuvens. Enquanto se aproximavam mais e mais, um dos cisnes levantou suacabeça no gracioso pescoço curvado e deu um longo grito, como um aviso, ou lamento.

Eles continuaram vindo, na direção da margem, na direção de Will e CaradogPrichard. A onda cresceu mais e mais alta: uma onda verde, brilhando com uma estranhaluz translúcida que pareceu vir do fundo do lago. Era claro que as aves mergulhariamsobre eles, e a onda quebrou em cima deles e correu em frente descendo o vale, com todaa água do lago em uma longa torrente, varrendo fazendas, casas e pessoas diante dela emtotal devastação, descendo ao mar.

Will sabia que isso não era verdade, mas foi a imagem que estava forçando dentroda mente de Caradog Prichard.

O cisne branco deu mais um forte grito, o som agudo de uma alma em vazioabsoluto, e Caradog Prichard cambaleou para trás, seus pequenos olhos esbugalhados dehorror e descrença, com uma das mãos agarrando seu cabelo vermelho. Ele abriu sua boca, e estranhos sons sem palavras sairam dela. Então algo pareceu domi ná -lo, e ele deuum solavanco e ficou imóvel, braços e pernas presos em ângulos incomuns; e o ar estava

cheio de um veloz som sibilante que surgiu tão rápido que seria impossível definir suadireção.

Mas Will, alarmado, sabia o que isso deveria ser. Ao aceitar ajuda do Escuro, ohomem Galês havia condenado sua própria mente.

Ele viu nos olhos de Caradog Prichard o rápido flash de loucura quando a razãohumana foi descartada pelo terrível poder do Rei Cinzento. Ele viu a mente balançar domesmo jeito que o corpo, ainda inconscientemente, possuída. A costa de Prichard ficouereta; sua forma rechonchuda parecer se erguer mais alta do que antes, e os ombros securvaram em pista de imensa força. A força da magia do Brenin Llwyd estava nele e pulsando dele, e ele olhou para a onda que avançava e gri tou com uma voz estridente

algumas palavras em Galês.

E os cisnes elevaram-se gritando no ar e fizeram uma curva para longe com longas batidas lentas de asas, de repente a onda entrou em colapso, arrastada para baixo pelo peso de uma tremenda agitação de milhares e milhares de peixes. Prateados, cinzentos everde escuros cintilantes eles se agitavam na superfície, percas, trutas, enguias e lúciosde bocas inclinadas com dentes pontiagudos e pequenos olhos malévolos. Foi como setodos os peixes em todos os lagos de Gales estivessem se agitando ali em uma enormemassa na água de Llyn Mwyngil, suavizando sua superfície em uma quietude trêmula.Ainda assim, foi com uma voz e uma mente não mais do que humana que um feitiço tãogrande havia sido lançado. Um calafrio atingiu Will quando ele entendeu essa nova perversão de Brenin Llwyd. Não haveria nenhuma confrontação aberta. Ele próprio nunca

mais veria o Rei Cinzento, pois em tal encontro de dois polos de encantamento havia

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 perigo de aniquilação para um deles . Ao invés disso Will ir ia encarar , como estavafazendo agora, o poder do Rei Cinzento canalizado através da mente de um homem comdesejos maldosos mas inocente: um homem transformado em um recipiente terrivelmentevulnerável para o Escuro. Se a Luz realizasse qualquer ataque final aniquilador nesseencontro, o Escuro ainda estaria protegido, mas a mente do homem inetvitavelmenteseria destruida. Caradog Prichard, se agora estivesse são, seria então lançado para

sempre na loucura. A não ser que Will pudesse de algum modo evitar tal encontro, nãohavia como impedir isso. O Rei Cinzento estava usando Prichard como um escudo,sabendo que ele próprio poderia permanecer protegido se o escudo fosse destruido.

Will gritou angustiado, malmente percebendo que o fez, “Caradog Prichard! Pare! Nos deixe em paz! Para o seu próprio bem, me deixe em paz!”  

Mas não havia nada que ele pudesse fazer. A dinâmica do conflito entre eles jáestava grande demais, como uma roda girando mais e mais rápida colina abaixo. CaradogPrichard estava olhando para o lago de peixes que se debatiam com prazer infantil,esfregando suas mãso, falando continuamente consigo mesmo em Galês. Ele olhou paraWill e sorriu. Não parou de falar, mas mudou para o Inglês, as palavras saindo em umatorrente semi-enlouquecida, muito rápidas.

“Agora você vê as lindas criaturinhas, tantos milhares delas, e todas nossas efazendo o que mandamos, mais eficientes contra seis cisnes do que você esperava, hum,dewinn bach? Ah, você não sabe contra o que está lutando, agora já perdemos tempodemais com bobagens, meus amigos e eu, chegou a hora de você me mostrar o cão, o cão, porque tudo que você tentar mandar contra nós não adiantará nada . De jeito nenhum.Então eu quero o cão agora, Inglês, você vai dizer onde posso encontrar o cão, e minha boa arma está lá no carro esperando por ele e não vai ter mais matança de ovelhas nessevale. Vou me assegurar disso.”  

Ele estava observando Will, os pequenos olhos movendo-se para cima e para baixocomo pequenos peixes, e de repente mais uma vez seu olhar fixou na harpa embrulhada.

“Mas primeiro gostaria de saber o que é isso a í debaixo de seu braço, garoto,então acho que você vai me mostrar se quiser que o deixemos em paz. ” Ele riu de novona última palavra, e Will soube que agora não havia esperança de chegar ao lado damontanha, o lugar do qual teria sido mais seguro e mais adequado para tocar a harpadourada. Lentamente ele deu um passo para trás, com um movimento suave para evitar assustar Caradog Prichard, e enquanto a cautela surgia tarde demais nos olhos brilhantesdo fazendeiro, ele retirou a harpa de suas cobertas, colocou-a inclinada em um braçocomo tinha visto Bran fazer, e passou os dedos da outra mão sobre as suas cordas.

E então o mundo mudou.

Agora o céu já estava com um tom cinza mais pesado do que estivera, enquanto atarde escurecia em direção à noite e as nuvens ficavam espessas de chuva. Mas quando oondulante fluxo de notas da pequena harpa espalhava-se no ar, em uma dolorosa doçura,um estranho brilho pareceu começar a cintilar muito sutilmente vindo do lago, nuvens,do céu, montanha e vale, samambaia e grama. Cores ficaram mais fortes, lugares escurosmais intensos e misteriosos; cada visão e sensação estava mais vívida e pronunciada. Os peixes que cobriam toda a superfície ondulante do lago começaram a mudar; bri lhando prateados, peixe atrás de peixe saltou no ar e fez uma curva descendo novamente, até queo lago pareceu não estar mais sobrecarregado com um grande peso de criaturas morosas,mas vivo e dançante com listras brilhantes de luz prateada.

E saindo do céu na entrada do mar no final do vale, descendo em direção ao lago,

outro som elevou-se sobre os doces arpejos ritmados para frente e para trás enquanto

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Will correu seus dedos suavemente subindo e descendo as cordas de sua harpa. Houve umgrito, como o grito de gaivotas. E voando em grupos e pares, sem formação, surgiramdescendo as estranhas formas negras elipsóides de cormorões, vinte ou trinta deles, maisdo que Will já tinha visto voando juntos. Os reis das aves pescadoras do mar, nuncavistos normalmente longe do mar e seus penhascos e precipícios, eles vieram descendo planando até a superfície do Llyn Mwyngil e começaram a pegar os peixes que saltavam,

e de repente Will lembrou das histórias de Bran sobre como a Rocha dos Pássaros, Craigyr Aderyn, é o único lugar no mundo onde os cormorões se reunem e fazem seus ninhosno interior das terras, porque na terra do Rei Cinzento a costa não possui penhascosrochosos para tais coisas, mas apenas areia, praias e dunas.

Descendo elas mergulharam. Os peixes pularam, cintilando; os cormorões osengoliram; desviaram para longe; mergulharam e engoliram novamente. Caradog Prichardsoltou um lamento zangado como uma criança desapontada. A luz curiosa brilhou atravésdo vale. Os dedos de Will ainda deslizavam sobre a harpa, e a música fluia deliberada eclara como água da primavera. Ele estava envolvido em uma tensão que cruzava atravésdele como eletricidade, uma poderosa antecipação de maravilhas desconhecidas; elesentiu como tenso, como se todos os cabelos em pé. E então, de uma vez só, os peixes

desapareceram, a superfície do lago súbitamente estava lisa como vidro escuro, e todosos cormorões subiram em uma nuvem e fizeram uma curva para longe, gritando,desaparecendo subindo de volta o longo vale até a Rocha dos Pássaros. E embora aluminescência que estivesse no vale estivesse suspensa na luz do dia, à meia luz da lua,Will viu seis figuras tomarem forma.

Eram cavaleiros, cavalgando. Eles saíram da montanha, das ladeiras mais baixasde Cader Idris que estendiam-se do lago para dentro da fortaleza do Rei Cinzento. Eleseram cinza-prateados, figuras cintilantes conduzindo cavalos da mesma meia-cor estranha, e eles cavalgaram sobre o lago sem tocar na água, sem fazer qualquer som. Amúsica da harpa os envolveu, e enquanto eles se aproximavam, Will viu que estavamsorrindo. Vestiam túnicas e capas. Cada um tinha uma espada pendurada em seu flanco.

Dois estavam encapuzados. Um usava uma coroa em forma de anel em sua cabeça, umanel de nobreza reluzente, embora não fosse a coroa de um rei. Ele virou para Will,enquanto o grupo fantasmagórico passava cavalgando, e curvou sua cabeça barbadasorridente em saudação. A música da harpa nas mãos de Will ecoou pelo vale comosinos, e Will curvou sua cabeça em moderada saudação mas não parou de tocar.

Os cavaleiros passaram por Caradog Prichard, que estava de boca aberta einexpressivo perto do lago, procurando pelos fantásticos peixes desaparecidos, eclaramente não via nada mais. Ele tem o poder do Rei Cinzento. Will pensou, mas não osolhos.. . Então de repente os cavaleiros fizeram uma curva de volta na direção da ladeirada montanha, e antes que Will pudesse ter tempo de ficar admirado, ele viu que Branestava ali na ladeira, perto das pedras soltas, perto da borda que tinha impedido a sua

 própria queda mais cedo naquele dia . O cão pastor negro Pen estava ao lado dele, esubindo a ladeira atrás deles estava Owen Davies, curvado e cansado, com o mesmovazio no rosto que Caradog Prichard mostrava. Os homens comuns não deveriam ver queos Adormecidos, despertos de seus longos séculos de descanso, agora estavamcavalgando para resgatar o mundo do Escuro que se erguia.

Mas Bran conseguia ver.

Ficou parado observando os Adormecidos com um brilho de prazer em seu rosto pálido. Levantou uma das mãos para Will, e abriu os braços em um gesto de admiraç ão pelo modo como ele tocava a harpa . Por um momento ele não pareceu mais do que umdescomplicado garoto comum, absorto pela surpresa de uma visão maravilhosa. Mas só por um momento. Os seis cavaleiros, cinti lando prateados em suas montarias prateadas,

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fizeram uma atrás de seu líder e pararam por um momento alinhados diante do lugar naencosta onde Bran estava. Cada um tirou sua espada e a segurou erguida diante de seurosto em uma saudação, e beijou o lado de sua lâmina como que em respeito a um rei. EBran ficou ali parado magro e ereto como uma árvore jovem, seu cabelo branco brilhanteem uma crista prateada, e inclinou sua cabeça para eles com seriedade com a tranqüilaarrogância de um rei dando uma bênção.

Eles embainharam suas espadas novamente se viraram, e os cavalos cinza- prateados correram dentro do céu. E os Adormecidos, despertos e cavalgando, subiramalto sobre o lago e se afastaram, desaparecendo mais e mais longe dentro da escuridão da passagem em Tal y Llyn e além, até que t inham ido embora do vale , e não podiam maisser vistos.

Will parou seus dedos sobre a harpa dourada, e sua delicada melodia morreu,deixando apenas o sussurro do vento. Ele sentiu-se drenado, como se toda a força tivesseido embora dele. Pela primeira vez se lembrou que ele, não era apenas um AntigoEscolhido, mas também um convalescente, ainda fraco pela longa doença que no iníciohavia enviado ele para Gales.

Então, também por uma fração de instante, ele se lembrou do que John Rowlandshavia dito sobre a frieza no coração da Luz, quando percebeu por qual ação ele tinhaficado tão doente de repente. Mas foi só por um instante. Para um Antigo Escolhido taiscoisas não tinham importância.

Súbitamente ele foi empurrado para o lado, e uma rápida mão áspera arrancou aharpa dourada de suas mãos. O poder do Rei Cinzento parecia ter desaparecido deCaradog Prichard, mas ele não era o que tinha sido antes que ele surgisse.

“Então, tudo tem a ver com isso,” Prichard disse rudemente. “Uma maldita harpa,uma pequena coisa de ouro como a que ela estava tocando.”  

“Me devolva isso,” Will disse. Então ele fez uma pausa. “Ela”.  “É uma harpa Galesa, Inglês, uma bem antiga.” Prichard olhou para ela com

seriedade. “O que isso poderia estar fazendo em suas mãos ? Você não tem o direito desegurar uma harpa Galesa.” De repente ele estava olhando para Will de modo cru el. “Vá para casa. Volte para o seu lugar. Cuide de seus próprios assuntos .”  

Will falou, “A harpa cumpriu seu propósito. O que você quis dizer com, como aque ela estava tocando?”  

“Cuide de seus próprios assuntos,” Prichard disse novamente, com selvageria.“Faz muito tempo, e não tem nada a ver com voc ê.”  

Pelo canto de seus olhos Will podia ver que Owen Davies havia se juntado a Branem cima da encosta da colina, com Pen se mexendo inquieto entre eles.Desesperadamente ele tentou fazer sinal para que Bran se afastasse, ficasse fora de vista;ele não conseguia entender porque ele ficava ali em campo aberto, onde uma olhadacasual os revelaria para Caradog Prichard. Saia! Ele gritou silenciosamente. Vá embora!Mas era tarde demais. Alguma coisa, talvez a movimentação ansiosa do cão pastor, tinhaatraído os olhos de Prichard; ele olhou semi-conscientemente para cima da a montanha, econgelou.

Cada parte do momento ardeu no cérebro de Will, de modo que mais tarde ele poderia sentir ia o rugido veloz do desastre i minente e ver como uma clara pintura ocarrega céu cinzento, a montanha que se elevava, o lago escuro ondulante, os

impressionantes rastros de cor gerados por um garoto de cabelo branco e um homem com

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um reluzente cabelo vermelho: e acima de tudo isso, o estranho brilho de uma luz como aluminosidade de advertência que pendia sobre o campo antes de uma terrível tempestade.Caradog Prichard se virou na direção dele, um rosto marcado com uma terrível misturade raiva, reprovação, e dor, e no centro de tudo isso uma fina camada de ódio e o desejode machucar em retorno. Olhando para o rosto de Will propositalmente, ele levou seu braço para trás e jogou a harpa dourada dentro do lago . Ondulações rodopiaram na

superfície da água escura, e então pararam.Então Prichard correu, leve como um garoto, lançando-se na direção da montanha,

e de Bran parado ali como uma estátua com o cão Pen. No último momento antes dechegar na ladeira ele virou para o lado, pela estrada curva que levava de volta descendoo vale; e Will viu que ele tinha deixado a pequena van cinza lá na estrada e agora estavacorrendo até ela com velocidade desesperada.

 No mesmo momento ele percebeu porque, e lançou um grande feitiço deimpedimento em Prichard  –  apenas para que ele fosse desviado pela proteção do ReiCinzento que o fazendeiro, sem saber, ainda carregava com ele. Caradog Prichard chegouaté a van, abriu suas portas traseiras e tirou sua longa espingarda, a mesma arma com aqual ele tinha atirado em Cafall, o cão de Bran. Rapidamente ele ergueu o cano da arma,virou e começou a caminhar, de modo firme e deliberado, na direção do garoto e do cãona colina. Agora ele não tinha pressa. Não havia abrigo para onde eles pudessem correr.Will enterrou as unhas nas palmas de suas mãos, sua mente procurando por uma defesaefetiva. Então ele ouviu o som de um carro barulhento.

A Land-Rover girou com velocidade surpreendente vindo da estrada da FazendaTy-Bont, e fez a curva até o lago. John Rowlands deve ter visto Prichard, sua van e suaarma de uma só vez em um momento de horror, pois o pequeno carro volumoso parou bruscamente quase aos pés do fazendeiro . A porta mal pareceu abrir antes que a formamagra de John Rowlands estivesse do lado de fora. Ele ficou imóvel, encarando CaradogPrichard, o garoto e o cão na encosta da colina mais além. “Caradog,” ele disse. “Nãotem nenhuma ovelha com a garganta cortada aqui. Você não tem o direito, e nenhumanecessidade. ”  

A voz de Prichard estava alta e perigosa. “Tem uma ovelha morta lá em cima!” EWill viuque o corpo da ovelha atacada pela milgwn, ainda lá em cima em sua plataforma,estava visível como um montinho brancode onde eles estavam. Então pela primeira vezele soube porque o Rei Cinzento certificou-se de que sua milgwn deveria levá-la atéaquele local .

Aquela é uma ovelha Pentref, daqueles abrigos de inverno em Clwyd,” JohnRowlands disse.

“Oh, provavelmente,” disse Prichard, com desprezo.  

“Vou te mostrar. Suba e veja.”  

“Mesmo se for, qual a importância disso? Ainda continua sendo aquele seu cãoassassino que fez essas coisas  –  para ovelhas sob a sua própria guarda também, não émesmo? Qual é o problema com você, Rowlands, que ainda continua com ele? ” Seu rosto bri lhando com o suor da fúria, Prichard levantou sua arma ao n ível de sua cintura , nadireção da colina.

“Não,” John Rowlands disse atrás dele, sua voz muito profunda. Algo em CaradogPrichard estalou, e ele se virou para encarar Rowlands, a arma ainda apontada. Sua vozficou ainda mais alta e aguda, ele estava como um arame prester a se partir.

“Você fica sempre metendo o seu nariz, John Rowlands. Tentando me impedir 

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agora, do jeito que me impediu antes. Você não deveria ter me impedido naquelemomento, eu teria lutado com ele e venceria, e então ela ficaria comigo. Ela ficariacomigo, se você não tivesse se intrometido.”  

Suas mãos estavam brancas onde ele apertava a arma; suas palavras saíam tãorápidas que se atropelavam. John Rowlands ficou mudo, olhando para ele, e Will viu acompreensão seguir gradualmente a surpresa naquele rosto quando ele percebeu do quePrichard estava falando.

Mas antes que pudesse falar, a voz de Owen Davies saiu inesperadamente clara eforte da encosta acima deles, como um sino tocando . “Oh, não, com certeza, ele não teriaficado com você, Caradog. Nunca. E você não estava ganhando aquela briga e nunca teriaganho nem em mil anos, e foi sorte sua que John Rowlands se intrometeu. Eu não sabia oque estava fazendo, mas eu te mataria se eu pudesse, por ferir minha Gwen.”  

“Sua Gwen?” Prichard cuspiu as palavras para ele. “A Gwen de qualquer homem!Isso estava claro como a luz no céu . “Porque mais ela escolheria um homem como você,Owen Davies? Ela era uma coisa adorável que saiu das montanhas, com o rosto de umaflor, e dedos que faziam a música sair daquela pequena harpa que ela carregava como

nenhuma outra música que você já ouviu.. .” Por um instante houve uma terrível nostalgiana voz dele. Mas quase com a mesma velocidade, novamente o rosto louco torturado secontorceu de malevolência. Ele olhou para a cabeça branca de Bran.

“E o filho bastardo ali, que você manteve todos esses anos para me atormentar, para me lembrar  –  você também não tem direito algum sobre ele, eu poderia ter tomadoconta dela e de sua criança melhor do que voc ê.. .”  

Bran falou com uma voz alta distante, que pareceu vir de tão longe no passado quecausou um calafrio na espinha de Will: “E então você teria atirado no meu cão Cafall, Sr.Prichard? ”  

“Aquele animal nem ao menos era seu cão,” Prichard disse de modo áspero.“Aquele era um dos cães de seu pai.”  

“Oh, sim,” Bran disse com a mesma voz distante. “Sim , realmente. Meu pai tinhaum cão chamado Cafall. ”  

O sangue de Will latejou em suas veias, pois ele sabia que o Cafall de que Branfalava não era o cão Cafall que tinha levado um tiro, e o pai não era Owen Davies. Entãoagora Bran, o Pendragon, devia conhecer sua verdadeira, magnífica, herança terrível.Então uma última surpresa surgiu na mente de Will. Deve ter sido Owen Davies quemdeu o nome ao cão morto, pois Bran havia dito que Cafall tinha vindo até eles quando elemesmo era apenas um garotinho.  Porque Owen Davies t inha dado o nome do cão do

 grande rei para o cachorro de seu f i lho?  Os olhos dele desviaram para a magra forma nada impressionante de Owen Davies,

e viu que o homem estava lhe observando.

“Oh, sim,” Davies falou. “Eu sabia. Tentei não acreditar nisso, mas eu sempresoube. Ela veio de Cader Idris, você entende, e esse é o Assento de Arthur, em Inglês.Ela surgiu do passado com o filho de Arthur, porque tinha traído seu lorde o rei e temiaque ele expulsasse seu próprio filho como resultado. Através do encantamento de dewin  ela trouxe seu garoto para o futuro, para longe dos problemas deles  –  o futuro que agoraé o tempo atual para nós. E ela deixou ele aqui. E talvez - talvez ela mesma não tivesseque voltar para o passado, se o gordo idiota não tivesse interferido, e escutado a harpa, edesejasse minha Guinevere, e tentasse levá-la embora. ”  

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Ele olhou friamente para Caradog Prichard. Com um rosnado de fúria Prichardlevantou sua arma até seu ombro, mas John Rowlands rapidamente esticou um braçolongo e puxou-a dele antes que seu dedo pudesse alcançar o gatilho. Prichard gritoufurioso, deu um grande empurrão nele e saltou para longe, subindo com fúria venenosana direção da plataforma onde estavam Bran e Owen Davies.

Bran se aproximou de Davies e colocou seu braço ao redor de sua cintura, eficouperto. Esse foi o primeiro gesto de afeição entre os dois que Will jamais tinha visto.E uma maravilhosa e agradável surpresa surgiu no rosto cansado de Owen Davies quandoele olhou para a cabeça branca do garoto, e os dois ficaram parados ali, esperando.

Prichard subiu na direção deles, com um olhar assassino. Mas John Rowlandsestava bem perto atrás deles. Ele balançou a arma para Prichard como um bastão, batendo no flanco dele, e então o agarrou e segurou com a força de um homem muitomais jovem. Debatendo-se selvagemente, mas ficou preso e indefeso, Caradog Prichardcolocou sua cabeça para trás e deu um terrível grito de loucura, quando todo o controledo Escuro o deixou, e sua mente entrou em colapso nas ruínas que agora deveriam restar.E com os Adormecidos cavalgando, e a última esperança de machucar Bran se esvaindo,o Rei Cinzento desis t iu de sua batalha.

Os ecos do grito de Prichard tornaram-se um longo uivo através das montanhas,crescendo, caindo, crescendo, ecoando de pico em pico, enquanto todos os poderes doEscuro desapareceram para sempre de Cader Idris, do vale de Dysynni, de Tal y Llyn.Frio como a morte, angustiado como toda as perdas no mundo, ele morreu na distância emesmo assim pareceu ficar suspenso no ar.

Eles ficaram imóveis, capturados pelo horror.

A névoa que os homens chamavam o respirar do Rei Cinzento veio rastejandodescendo pela passagem e descendo pelo lado das montanhas, rolando e ondulando,ocultando tudo que atingia, até que isolou cada um deles dos outros. Um confuso sommurmurante saiu da névoa, mas apenas Will viu as grandes formas cinzentas das raposasfantasmas, as milgwn do Brenin Llwyd, vieram velozes descendo a montanha, emergulharam no lago escuro, e desapareceram.

Então a névoa fechou-se sobre Llyn Mwyngil, o lago no retiro confortável, ehouve um frio silêncio por todo o vale a não ser pelo distante balido, às vezes, de umaovelha da montanha, como o eco da voz de um homem chamando o nome de uma garota, bem distante .