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A RELAÇÃO DE AJUDA: UM INSTRUMENTO NO PROCESSO DE CUIDADOS DE ENFERMAGEM João Manuel Galhanas Mendes Professor Coordenador da Escola Superior de Enfermagem S. João de Deus, Évora Doutorando na Universidade Católica Portuguesa RESUMO A relação de ajuda pode ser considerado um "instrumento" no processo de cuida- dos de enfermagem. Os cuidados de enfermagem quando prestados no contexto de uma relação de ajuda contribuem necessariamente, para a qualidade e a eficácia dos cuidados de saúde que se prestam à pessoa, à família ou à comunidade. Os cuida- dos de enfermagem porque se centram nas relações interpessoais necessitam de um conjunto de referências de suporte. Torna-se assim evidente que o estudo de ati- tudes e habilidades facilitadoras de um processo de cuidados, é necessário num per- curso de formação de enfermeiros . Bermejo apoiado em Carl Rogers e Carckuff, apresenta um conjunto de conceitos que facilitam o processo relacional e que inte- grados num contexto de cuidados de enfermagem servem de suporte a uma prática de cuidados que pode ser considerada de qualidade. A relação de ajuda pode ser considerada um "instrumento" válido, útil e com fideli- dade comprovada num processo de cuida- dos de enfermagem. Adam (1994 p.93) defende mesmo que os cuidados de enfer- magem deviam ser sempre prestados no contexto de uma relação de ajuda. Um con- texto desenhado nesta perspectiva contribui necessariamente, para um quadro de cuida- dos de saúde onde os cuidados de enfer- magem têm significado relevante e condi- cionam a qualidade e a eficácia da globali- dade dos cuidados que a pessoa, a família ou a comunidade necessitam. Tal como muitos autores de enfermagem defendem os cuidados de enfermagem cen- tram-se nas relações interpessoais, pelo que o relacionamento humano é a componente mais caracterizadora de qualquer quadro de cuidados de enfermagem. / ANO XII - N." 36, Janeiro / Junho 2006

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A RELAÇÃO DE AJUDA:UM INSTRUMENTO NO

PROCESSO DE CUIDADOSDE ENFERMAGEM

João Manuel Galhanas MendesProfessor Coordenador da Escola Superiorde Enfermagem S. João de Deus, ÉvoraDoutorando na Universidade Católica Portuguesa

RESUMO

A relação de ajuda pode ser considerado um "instrumento" no processo de cuida-dos de enfermagem. Os cuidados de enfermagem quando prestados no contexto deuma relação de ajuda contribuem necessariamente, para a qualidade e a eficácia doscuidados de saúde que se prestam à pessoa, à família ou à comunidade. Os cuida-dos de enfermagem porque se centram nas relações interpessoais necessitam de umconjunto de referências de suporte. Torna-se assim evidente que o estudo de ati-tudes e habilidades facilitadoras de um processo de cuidados, é necessário num per-curso de formação de enfermeiros . Bermejo apoiado em Carl Rogers e Carckuff,apresenta um conjunto de conceitos que facilitam o processo relacional e que inte-grados num contexto de cuidados de enfermagem servem de suporte a uma práticade cuidados que pode ser considerada de qualidade.

A relação de ajuda pode ser consideradaum "instrumento" válido, útil e com fideli-dade comprovada num processo de cuida-dos de enfermagem. Adam (1994 p.93)defende mesmo que os cuidados de enfer-magem deviam ser sempre prestados nocontexto de uma relação de ajuda. Um con-texto desenhado nesta perspectiva contribuinecessariamente, para um quadro de cuida-dos de saúde onde os cuidados de enfer-magem têm significado relevante e condi-

cionam a qualidade e a eficácia da globali-dade dos cuidados que a pessoa, a família oua comunidade necessitam.

Tal como muitos autores de enfermagemdefendem os cuidados de enfermagem cen-tram-se nas relações interpessoais, pelo queo relacionamento humano é a componentemais caracterizadora de qualquer quadro decuidados de enfermagem.

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o relacionamento humano é em si mesmouma forma de cuidar que envolve valores,intenções, conhecimento, empenho e acçõescomo defende [ean Watson (1988). A habili-dade para estar numa relação de cuidarrequer mais do que o refinamento das habi-lidades de comunicação comportamentais,requer sobretudo uma apreciação das"coerências" de cada um, o desenvolvimentode uma consciência relacional e um interessena continuidade do relacionamento, e nãoapenas a centralidade da atenção em simesmo, mas a sua extensão aos outros.Assim, qualquer elemento que provoqueuma atenção e um interesse concentrado em

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si próprio para a exclusão do outro interferecom o estabelecimento da relação (Hartrick1997).

Pressupõe-se então que por base de umquadro de relação de ajuda está uma habili-dade para a relação centrada no outro,integrada num processo de desenvolvimentopessoal e social.

Carl Rogers aponta-nos princípios carac-terizadores de uma abordagem a quedenomina de Abordagem Centrada na Pessoa.

A Abordagem Centrada na Pessoa revela-secomo uma espécie paradigma de influênciafilosófica e de princípios que norteiam aintervenção no campo da psicoterapia, daeducação, da liderança, da intervenção nosgrupos, nas organizações, na família, emgrupos de risco, etc. Podemos dizer que, noâmbito da Abordagem Centrada na Pessoa, odesenvolvimento humano e as relações gru-pais passam essencialmente pela activaçãode um conjunto de atitudes por parte dofacilitador e do desenvolvimento de umacomunicação autêntica entre os participantesde um sistema interaccional, seja ele dual,grupal, organizacional ou -comunitário(Rogers 1984: 53).

Existem alguns dois princípios impor-tantes em que assenta um quadro de relaçõesinterpessoais segundo Gilles e que nãopodem ser esquecidos no próprio processode cuidados de enfermagem como princípiosorienta dores de todo o processo de relação:

1 - O núcleo da personalidade humana éconsiderada como sendo de naturezafundamentalmente positiva, racional erealista.

2- O ser humano é perspectivado comotendo uma tendência inata para de-senvolver as suas próprias potenciali-dades. A sua capacidade de desen-volvimento, ou de auto-direcção,apresenta duas dimensões que inte-ragem uma com a outra e simultanea-mente com o meio ambiente social: atendência actualizante e o sistema deauto-regulação .

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Bermejo ao tratar a temá .relação de ajuda em co texentende-a como um modo de a-quem ajuda usa especialmente recursoscionais para acompanhar o ouma situação problemática. a vivê-la deforma mais saudá el recorrendo a um cam-inho de crescimento pes oal (Bermejo e Cara-bias, 1998: 15).

Todos temos experiência de que o proces-so de desenvolvimento do homem se faz deforma diversificada e não linear, cominfluências e conjugações de uma multiplici-dade de factores pessoais e sociais, endó-genos e exógenos. Assim, trazemos connoscoe construímos sistematicamente, um modode estar e uma experiência que nos torna úni-cos e é na interacção com os outros que tam-bém somos transformados no decurso donosso próprio processo de desenvolvimentopessoal.

A ideia fundamental em Carl Rozers é ade que, paraindivídupessoas e ::significa IT""':;i~ O:~~.'~ c:::r.:;.;=!,-,.a;~~~~"~:r:::''.~afirmapelapor COI15ê-~~iE'

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reside na capacidade de os homens se apro-ximarem uns dos outros através de umacomunicação que privilegia aquilo que épróprio de cada um, que faz parte da suaexperiência pessoal. Esta autenticidade ma-nifestada num processo relacional exige queestejam presentes algumas atitudes facilita-doras desse mesmo processo, como sejam: acongruência, a aceitação positiva incondi-cional e a empatia, como propõe o próprioRogers no seu modelo de abordagem centra-da na pessoa.

Bermejo sistematiza os conceitos maisimportantes referindo que as atitudes funda-mentais da relação de ajuda são: a com-preensão empática, a consideração positivaou aceitação incondicional e a autenticidadeou congruência (Bermejo, 1998: 13).

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A COMPREENSÃO EMPÁTICAI

Se nos socorrermos do pensamento deRogers, a compreensão empática diz respeitoà sensibilidade que o facilita dor deve terpara com os sentimentos e as reacções pes-soais que o outro experimenta a cadamomento; ao compreendê-los de dentro, talcomo o outro os vê, e quando conseguecomunicar com êxito sobre essa mesma com-preensão ao outro, então dá-se a mudança.Ou seja, quando o facilitador faz compreen-der ao seu interlocutor que o compreendesem o analisar ou julgar, este começa adesabrochar e a desenvolver-se nesse climade compreensão. Na atitude de compreensãoo facilitador centra-se no seu interlocutor,tanto ao nível das palavras como dos senti-mentos, procurando compreendê-lo profun-damente (Rogers 1984: 64-65).

Para Bermejo a empatia é uma disposiçãointerior da pessoa que se manifesta sobretu-do em duas habilidades concretas: a escutaactiva e a resposta compreensiva. Comoatitude ou disposição interior é fundamen-tal para se poder fazer um caminho signi-ficativo e eficaz com a pessoa que se querajudar, contudo mais do que reduzir-se auma técnica de resposta, responde à pergun-ta sobre o que existe no interior do ajudantee dela depende em grande parte a efectivi-dade da empatia como condição terapêutica(Bermejo 1998: 26).

Para Chalifour o termo empatia foi criadopara indicar a capacidade de imersão nomundo subjectivo do outro e para a partici-pação na sua experiência tendo comocondição essencial que a comunicação verbale não verbal o permitam (Chalifour, 1993:215)

Esta atitude que temos vindo a referirpoderá provocar no interlocutor os seguintesefeitos: Redução da tensão existente no inter-locutor, aumento da capacidade de análise,aumento da racionalidade, aumento da pro-fundidade da comunicação e maior envolvi-mento, compreensão do problema ou dasituação e sensação de que se está a ser ouvi-

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do e respeitado. A atitude empática, ou poroutras palavras, a compreensão empática,para melhor funcionar num sistema interac-cional, quer ao nível da compreensão, querao da comunicação autêntica, faz recurso aum outro meio fundamental: a reformulação(Rogers, 1984: 56-57).

A reformulação é uma técnica concretaque permite construir respostas que, nascen-do de uma verdadeira atitude empática,favorecem a comunicação da compreensãodo outro. A reformulação é uma forma deresposta que consiste essencialmente emcaptar o que o outro expressa verbalmenteou de forma não verbal e mostrá-lo comclareza ao ajudado como se este estivesseperante um espelho (Bermejo 1998: 49). Car-ckuff considera a empatia como o fundamen-to essencial da capacidade de reagir ou deresponder ao outro (Carkhuff, 1988: 21).

Neste sentido é preciso percebermos queapesar da utilização desata atitude enforma-da pró um conjunto de habilidadesnecessárias como instrumentos no processode comunicação existem outros elementosque é preciso considerarmos e são relevantes

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num processo de relação de ajuda, como sejao próprio conteúdo da mensagem e o con-junto de artefactos que a veiculam. No con-teúdo da mensagem existe sempre uma parteque manifesta, que é dita e é explícita e umaparte latente que não é explicita e que é a quese refere àquilo que está implícito no discur-so verbal ou não-verbal do interlocutor,como seja no domínio verbal, a intensidadeda voz, a sonoridade entre outros aspectos eno domínio não-verbal, todas as formas deexpressão humana, como posturas corporais,mímicas, olhares, gestualidade, sons vocais,silêncios e ocupação do espaço físico.

Num processo de cuidados é necessárioanalisar todo contexto da emissão da men-sagem, para que sendo possível a sua com-preensão se torne simplificada a reformu-lação. Como já anteriormente referimos noconceito de Bermejo a questão fundamentalda reformulação não consiste na repetiçãodaquilo que é dito pelo outro, pois o aju-dante não pode correr o risco de servir decaixa de ressonância daquilo que é expressopelo ajudado. Uma reformulação correctapressupõe que o ajudante se reveja naquiloque foi dito, de forma simplificada ouesclarecedora, pelo ajudado tornando-senum processo de verificação e numa mani-festação de respeito pela pessoa humana.

A ACEITAÇÃO INCONDICIONAL

Se a relação de ajuda é entendida comouma forma de cuidar na perspectiva docuidado, ou seja, o papel do enfermeiro é aju-dar o utente a satisfazer as suas necessidadesfundamentais, e acreditando que o utentepossui recursos que lhe são necessários paralidar com determinada situação, é impor-tante também reflectirmos um pouco sobre osignificado do conceito de aceitação incondi-cional, atitude fundamental e grande im-portância para todo o desenvolvimento desteprocesso relacional, quando consideramosfundamental a promoção do desenvolvimen-to pessoal daqueles com quem nos rela-cionamos. Como sabemos o ser humano é ocentro da atenção dos profissionais de saúdenomeadamente dos enfermeiros, pelo quesentir-se aceite é fundamental num ver-dadeiro processo de cuidados em enfer-magem.

Bermejo considera que a aceitaçãoincondicional ou consideração positiva podeser explicitada em quatro direcções: a ausên-cia de juízos moralizantes sobre a pessoa aju-dada, confiança e consideração positiva doajudado, acolhimento da pessoa no seu todo,particularmente do seu mundo emotivo ecordialidade no trato (Bermejo1988:59).Por-tanto no seu conjunto torna-se necessárioque o enfermeiro possa demonstrar ver-dadeira consideração por aquilo que o utenteé com as suas experiências, os seus senti-mentos e o seu potencial pelo que é impe-rioso acreditar que o utente é único e quedevido a essa unicidade só ele possui todo opotencial específico para prender a viver deuma forma que lhe é mais conveniente.

A aceitação implica que se veja o serhumano como uma pessoa independente,com os seus próprios sentimentos. A preocu-pação com a pessoa doente ou não, deve serclaramente manifestada, através da lin-guagem verbal e não verbal, independente-mente do seu comportamento. Bermejo con-idera mesmo que a pessoa é digna de "um

respeito agrado", mesmo que não con-cordemo com o seu comportamento, mas

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deve sim evitar-se projectar sobre a própriapessoa o nosso próprio quadro de valores(Bermejo, 1988: 60). Nesta linha de pensa-mento Bermejo sugere-nos que não fazer jul-gamentos dos outros ou apreciações aocarácter e à sua personalidade, ou ainda clas-sificar os seus comportamentos, é por partede quem ajuda uma atitude altamenterecomendável. O seu papel não é o de juiz,mas o de uma pessoa disponível para ouvir eaceitar o outro incondicionalmente.

A aceitação incondicional refere-se à con-sideração que o ajudado merece por parte dequem ajuda e quem ajuda aceita a pessoasem preconceitos, sem julgamentos prévios,sendo que o que está em causa não são osconteúdos veiculados pelo ajudado, mas apessoa na sua totalidade. Pode mesmo emalgumas circunstâncias o que ajuda discor-dar dos comportamentos ou das atitudes doajudado face a determinadas situações ouprocessos, mas nunca estará em causa aaceitação da pessoa em si. Em última análiseo ajudante poderá rejeitar a criminalidade,mas nunca rejeita o criminoso. Mas, sobreeste aspecto Bermejo refere que quem ajudatem o seu próprio quadro de valores, quenão utiliza para moralizar o outro, podendono entanto utilizá-lo para fazer propostasnão directivas de critérios sãos que podemser experienciados pelo próprio ajudado(Bermejo,1988:62).

Rogers em relação a esta atitude colocaalgumas questões: posso aceitar todas as fac-etas que a outra pessoa me apresenta?Poderei aceitá-la tal como é? Poderei comu-nicar-lhe esta atitude? Ou poderei apenasacolhê-la condicionalmente, aceitandoalguns aspectos da sua maneira de sentir edesaprovando outros, implícita ou aberta-mente? Apesar de apontar estas interessantesquestões de reflexão diz que pela sua exper-iência quando uma atitude é condicional, apessoa não pode mudar nem desenvolver-senesses aspectos em que nós não a aceitamoscompletamente. Quando mais tarde procuradescobrir porque foi incapaz de a aceitar emtodos os seus aspectos, verifica que foi pormedo ou porque se sentiu ameaçado por

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qualquer aspecto dos seus sentimentos. Emconclusão refere que para poder prestar umamaior ajuda é necessário que nos possamosdesenvolver a nós mesmos e que aceitemosos nossos próprios sentimentos (Rogers,1984:57).

A AUTENTICIDADE

A autenticidade ou congruência dizrespeito sobretudo à forma como podemosestar no processo relacional. O enfermeirofaz-se sentir na relação tal como é, afirma-seaberto e sem defesas ou máscaras e abertorelativamente aos seus próprios sentimentos.Para Bermejo a autenticidade é entendidacomo a "continuidade entre a consciência desi e a sua manifestação exterior" (Bermej,o1988:89).

Rogers levanta também aqui algumasquestões que nos ajudam a a pensar esta ati-tude relacional. Refere:poderei conseguir serde uma maneira que possa ser aprendidapelo outro como merecedora de confiança,como segura ou consistente no sentido maisprofundo do termo? Poderei ser tão expressi-vo para que a pessoa que eu sou se possacomunicar sem ambiguidades? E adiantaque a maioria dos fracassos em realizar umarelação de ajuda se deve a uma resposta nãosatisfatória a estas duas questões. Muitasvezes as nossas palavras comunicam umadeterminada mensagem, mas estamos acomunicar de uma forma subtil a irritaçãoque sentimos e assim a confusão que se insta-la no outro, retira-lhe a confiança embora nomomento não seja claro o motivo na dificul-dade instalada (Rogers, 1984:54).

Bermejo aponta algumas exigências paraesta atitude relacionaI:a primeira é não dizerao ajudado aquilo em que não se acredita,sente ou pensa; segundo, a comunicação dosentimentos ou de experiências semelhantesàs do ajudado só têm sentido a partir da con-vicção de que isso pode ajudar a pessoa; aprontidão é a aptidão para esclarecer imedi-atamente a relação entre os dois, proporcio-nando uma clarificação dos papéis, sen --

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mentos, expectativas, etc.; para que o aju-dante seja autentico é necessário que se con-heça si próprio e tenha consciências daspróprias dinamicas que podem estar pre-sentes na relação interpessoal de ajuda; apessoa autêntica tem a coragem de dizer quenão pode ou não sabe, assumindo as suaspróprias dificuldades e por último a pessoaautêntica tem o dever de evitar as relações detransferências e esforçar-se por isso (Mar-tinez e Bermejo, 2001: 105-106).

Em meu entender, na globalidade quandofalamos de autenticidade trata-se de um sen-timento e de uma forma de o expressar quetraduzem uma unidade comportamental. Acongruência é o contrário de dizer uma coisae sentir outra. Não podemos dizer que no diado nosso aniversário aos nossos amigos quenão tinham necessidade de nos comprar umadeterminada prenda, quando estamos cheiosde alegria de a estar a receber.

Do enfermeiro espera-se que a congruên-cia caracterize o seu estar, a sua expressão eacção na relação com cada pessoa, grupo oucomunidade. Dele não se espera dois pesos eduas medidas, de acordo com as situações ouas pessoas. Espera-se um comportamentoresponsável, equitativo, sério, honesto -numa palavra um comportamento congru-ente para que os utentes se sintam confian-tes, nutram respeito e credibilizem a suaprópria intervenção profissional.

REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS:

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