A RELAÇÃO SOCIEDADE-NATUREZA NO ESPAÇO ESCOLAR...

13
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO DCIE NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD A RELAÇÃO SOCIEDADE-NATUREZA NO ESPAÇO ESCOLAR, ATRAVÉS DE VISTAS A TRILHAS INTERPRETATIVAS. Emilson Batista da Silva Universidade Estadual de Santa Cruz E-mail: [email protected] Adriana Vitória Cardoso Lopes Universidade Estadual de Santa Cruz E-mail: [email protected] RESUMO A relação sociedade-natureza tem sido discutida com maior veemência nos últimos tempos devido à intensificação do processo de degradação do meio natural e a eminência de seu exaurimento, sendo que a educação consubstancia-se como um pilar nessa discussão. Dessa forma, o presente trabalho se propôs a investigar a prática de trilhas ecológicas como possibilidade de trabalhar o conteúdo de meio ambiente. O estudo caracterizou-se a partir de trabalho de campo e bibliográfico, mediante a realização de uma trilha interpretativa com um grupo de 17 indivíduos em uma área de Mata Atlântica no município de Itacaré/BA. Verificamos que a visita a trilhas interpretativas possibilita uma abordagem capaz de aproximar efetivamente os indivíduos dos conceitos estudados em sala de aula, despertando a crítica e a reflexão, se tralhado dentro de um planejamento adequado. Entretanto, o acesso ao local, os custos da visita e a disponibilidade de transporte se apresentam como as principais dificuldades para a realização desse tipo de atividade. Palavras-chave: Relação sociedade-natureza. Educação. Meio Ambiente. 1. Introdução As preocupações com o ambiente se intensificaram a partir de alguns acontecimentos que envolveram a sociedade mundial. A II Guerra Mundial, por exemplo, foi quando a disputa por domínios de espaços para consolidar posições de mando (MORAES, 2002) ocasionou grande destruição nos cenários europeu e asiático,

Transcript of A RELAÇÃO SOCIEDADE-NATUREZA NO ESPAÇO ESCOLAR...

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – DCIE NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD

A RELAÇÃO SOCIEDADE-NATUREZA NO ESPAÇO ESCOLAR, ATRAVÉS DE VISTAS A TRILHAS INTERPRETATIVAS.

Emilson Batista da Silva Universidade Estadual de Santa Cruz E-mail: [email protected] Adriana Vitória Cardoso Lopes Universidade Estadual de Santa Cruz E-mail: [email protected]

RESUMO A relação sociedade-natureza tem sido discutida com maior veemência nos últimos tempos devido à intensificação do processo de degradação do meio natural e a eminência de seu exaurimento, sendo que a educação consubstancia-se como um pilar nessa discussão. Dessa forma, o presente trabalho se propôs a investigar a prática de trilhas ecológicas como possibilidade de trabalhar o conteúdo de meio ambiente. O estudo caracterizou-se a partir de trabalho de campo e bibliográfico, mediante a realização de uma trilha interpretativa com um grupo de 17 indivíduos em uma área de Mata Atlântica no município de Itacaré/BA. Verificamos que a visita a trilhas interpretativas possibilita uma abordagem capaz de aproximar efetivamente os indivíduos dos conceitos estudados em sala de aula, despertando a crítica e a reflexão, se tralhado dentro de um planejamento adequado. Entretanto, o acesso ao local, os custos da visita e a disponibilidade de transporte se apresentam como as principais dificuldades para a realização desse tipo de atividade. Palavras-chave: Relação sociedade-natureza. Educação. Meio Ambiente.

1. Introdução

As preocupações com o ambiente se intensificaram a partir de alguns

acontecimentos que envolveram a sociedade mundial. A II Guerra Mundial, por

exemplo, foi quando a disputa por domínios de espaços para consolidar posições de

mando (MORAES, 2002) ocasionou grande destruição nos cenários europeu e asiático,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – DCIE NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD

como também suscitou a emergência de agrupamentos de indivíduos, objetivando

reconstruir os países e buscar a paz. Inclusive, Monteiro (1988) afirma que o advento

das duas grandes guerras foi apenas mais acontecimento marcante que acabou por

desembocar na grande crise atual, que segundo ele, se configura como crise

civilizatória.

Surge, dessa forma, “algumas iniciativas na Europa e Estados Unidos com o

objetivo de preservar o ambiente e garantir a paz como forma de relacionamento

entre os homens” (MORAES, 2002, p. 34). A II Guerra Mundial, já citada, provocou,

dessa forma, alterações significativas dos componentes bióticos do planeta, sendo que

a vegetação, o ar e a água alteraram-se em graus diferenciados ao nível do local, bem

como do geral (MENDONÇA, 2001).

Verificamos, dessa forma, que as discussões em torno da temática ambiental

vem ganhando corpo nos últimos tempos, principalmente porque o planeta tem

apresentado sintomas da ineficiência da utilização dos recursos naturais pela

sociedade contemporânea, regida pelo modo de produção capitalista.

Assim, se observa que a natureza apresenta-se como mais uma mercadoria a

ser inserida no circuito de produção, com o fim de gerar capital, “o que tem tornado a

humanidade refém de sua própria criação” (JÚNIOR, 2012, p. 101). Para Leff (2006, p.

304) ”a natureza foi desnaturalizada ao ser transformada em recurso dentro do fluxo

unidimensional do valor e da produtividade econômica”. Para o mesmo autor, a

coisificação da natureza apresenta-se como o pano de fundo da relação sociedade-

natureza na atualidade.

Outra questão relativa à relação sociedade-natureza na atualidade é a visão

dissociativa. Para Júnior (2012), estão muito enraizadas em nossa cultura as visões que

colocam sociedade e natureza em lados opostos e/ou submissa ao domínio do

homem, concepções essas que ainda norteiam os projetos de desenvolvimento das

sociedades em âmbito mundial.

De acordo com Breih (2000 apud JÚNIOR, 2012) a relação sociedade-natureza

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – DCIE NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD

apresenta três visões. Duas delas, a romântica e a dominadora, compreendem o

homem fora da natureza, enquanto a visão humanista popular propõe uma unidade e

dinamismo entre o homem e a natureza (Quadro 1).

Visões de Natureza Tipos de Concepções e Ações Ecológicas

Romântica

(subjetivista)

- Separação de sujeito e objeto

- Idealização da natureza

- Ética descompromissada com a ação

- Ação conservadora para desfrute

Dominadora

(objetivista)

- Separação sujeito-objeto

- Coisificação da natureza

- Ética e ação de apropriação e exploração

como forma de manutenção de poder

Humanista popular

(praxiológica)

- Unidade e movimento entre sujeito e

objeto (dialética)

- Natureza como parte do fazer a vida –

utopia radical

- Ética e ação: cuidar e proteger para

garantir a formação do ser humano em sua

diversidade

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – DCIE NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD

Essa conjuntura fundamenta a crise ecológica atual, sendo que esta não se

restringe apenas aos recursos naturais ou ameaça à fauna e à flora. Vai além disso,

pois suas raízes encontram-se na crise social, como afirma Melo (2006, p. 41):

Estudar a crise ecológica significa aprofundar a questão acerca do funcionamento das sociedades contemporâneas, seu estilo de vida, seu modo de produção e consumo – enfim, a crise ecológica, antes de qualquer coisa, tem suas raízes na crise social (civilizatória), na relação que a sociedade estabelece com a natureza e na relação do homem consigo mesmo.

A superação dessa crise demanda uma profunda tomada de consciência e a

assunção de novas racionalidades, no sentido de equiparar as necessidades produtivas

humanas à capacidade de suporte do planeta.

Essa reflexão perpassa pela necessidade de unicidade na abordagem sobre o

meio ambiente, tendo em vista que é uma temática necessariamente interdisciplinar.

Para Ferreira (2005) a interdisciplinaridade transita por todos os elementos do

conhecimento, possibilitando a interação entre eles. Assim, as áreas do conhecimento

se imbricam, com o fim de possibilitar maior entendimento sobre a temática

ambiental.

Essa conjuntura se desdobra no ambiente escolar de forma intensa, pois é na

escola que potencialmente emerge um espaço de reflexão e formação de práticas

sustentáveis que podem possibilitar a formação de difusores de conhecimentos

fundamentais para a construção coletiva de uma efetiva consciência ambiental.

Uma possível alternativa é implementar atividades no cenário escolar que

possibilitem a interação dos discentes, muitas vezes moradores de áreas urbanas, com

o meio natural, no sentido de viabilizar o processo de tomada de consciência, através

da educação ambiental.

Quadro 1 – Visões de Natureza e Tipos de Concepções e Ações Ecológicas

Fonte: Adaptado de Breih (2000 apud JÚNIOR, 2012)

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – DCIE NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD

Em relação à educação ambiental na escola, Menghini (2005, p. 26) afirma que:

Há uma perda de percepção da realidade como um todo. Ela é tratada de forma reducionista e simpificadora, não há um envolvimento íntegro e verdadeiro por parte das pessoas e da escola com os problemas ambientais. Separa-se o domínio ambiental (dimensão ambiental) do domínio social, ao invés de destacar que um está intimamente ligado ao outro.

Como se vê a visão romântica e/ou dominadora (BREIH, 2000 apud JÚNIOR, 2012)

permanece arraiga à escola, contribuindo para posicionamentos e padrões de

comportamentos do indivíduo apenas como observador da natureza, deixando de

propiciar o envolvimento político e a consequente participação social.

2. Material e método

O presente trabalho foi desenvolvido na Trilha Interpretativa do Alto da

Esperança, localizada na Reserva da Esperança, no município de Itacaré/BA. Esta

reserva é pioneira na implementação de trilha interpretativa na região desde 1997, no

âmbito do ecoturismo e agroecologia. A reserva propõe uma relação de

sustentabilidade entre a sociedade e a natureza, mediante atividades produtivas como

apicultura, agricultura orgânica, viveiro de mudas nativas, frutíferas e ornamentais,

além do cultivo do coco, abacaxi, entre outras.

De acordo com Vasconcelos (1998 apud MENGHINI, 2005, p. 43) “trilha é uma

palavra derivada do latim ‘tribulum’ significando caminho, rumo, direção”. O autor

ainda afirma:

A trilha é considerada interpretativa, quando seus recursos são traduzidos para os visitantes, com base em temas pré-definidos através de guias especializados, folhetos ou painéis. Em termos práticos, as trilhas interpretativas têm o propósito de estimular os grupos de atores a um novo campo de percepções, com o objetivo de levá-los a observar, questionar, experimentar, sentir e descobrir os vários sentidos e significados relacionados ao tema selecionado (VASCONCELOS, 1998 apud MENGHINI, 2005, p. 43).

Com relação ao local visitado, existem duas trilhas interpretativas: uma de

maior dimensão, aproximadamente um quilômetro, destinada a grupos menores de

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – DCIE NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD

visitantes, e outra menor, chamada de Trilha do Tucano, indicada para grupos maiores

e/ou especiais como idosos e crianças menores. Essas trilhas são rústicas e

apresentam-se em um ótimo estágio de preservação. O menor número de pessoas

para a trilha de maior dimensão se deve à necessidade de exercer menos pressão

sobre o ecossistema, bem como propiciar um melhor acompanhamento por parte do

guia responsável pelo grupo.

Assim, o estudo se caracterizou por um relato de experiência, a partir de uma

aula de campo realizada por um grupo de 20 estudantes do curso de Educação Física

da Plataforma Paulo Freire – PARFOR da Universidade Estadual de Santa Cruz, à

referida trilha interpretativa.

3. Interagindo com a natureza

A visita iniciou com o acolhimento em uma casa a aproximadamente um quilômetro da

trilha. Nesse momento, tivemos a possibilidade de degustar alguns produtos

preparados artesanalmente, a partir dos frutos existentes no próprio lugar (Figura 01).

Foi quando percebemos a presença da natureza em sua forma mais simples: a

interação entre o humano e o natural, numa perspectiva de pertencimento.

Figura 01 – Local de apoio antes da realização das trilhas.

Fonte: Emilson Batista da silva.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – DCIE NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD

Então, nos deslocamos para vivenciar a trilha. Entretanto, nos deparamos com

mais um momento em que verificamos a busca por uma sintonização com o ambiente

e o crescente distanciamento do contexto urbano. Para isso, o guia centrou-se na

criação de um momento de percepção do eu e do outro, através da formação de um

círculo em que todos passaram cerca de vinte minutos com as mãos dadas dedicando-

se a reconhecer aos demais, mediante a socialização dos nomes de todos os

componentes do grupo.

O passo seguinte foi obter algumas informações importantes para os que se

fazem presente neste ambiente. Conhecemos a localização geográfica, os espaços

existentes, sobretudo na Bahia, iguais ou similares, bem como as principais

características da fauna e da flora do lugar. Em todos os instantes foi evidenciada a

maneira como a sociedade se relaciona com a natureza local, privilegiando, na maioria

das vezes, o aspecto econômico em detrimento da manutenção do patrimônio natural.

Foi discutida a necessidade do desenvolvimento econômico – para não ficar numa

visão romântica da relação sociedade-natureza – sem perder de vista que existem

formas mais adequadas para a utilização dos recursos naturais com o mínimo de

depredação (Figura 02).

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – DCIE NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD

Foram apresentados alguns estudos desenvolvidos na região que tratam da

questão socioambiental, sendo que em alguns deles a trilha era a área de estudo.

Assim, observamos a dinâmica da legislação ambiental que classifica as áreas naturais

de acordo com o grau de exploração/preservação, podendo ser parques, reservas,

RPPN1, entre outras.

Depois de elencadas as normas de segurança, enfim, o grupo foi dividido em

duas partes, pois uma visitou a Trilha do Tucano e a outra uma trilha um pouco maior

com aproximadamente um quilômetro. Inicialmente seguimos juntos por uma trilha

educativa, onde fomos identificando a presença humana através de vestígios de

produtos industrializados colocados entre as árvores. Ao final dessa etapa foi discutido

quantos “vestígios humanos” cada um conseguiu perceber. Percebemos durante essa

atividade que o guia tem a possibilidade de atribuir valor ao que fala, pois desperta nos

visitantes sentimentos de contribuição, importância e de interação com o meio

(MENGHINI, 2005).

Durante o percurso tivemos a possibilidade de interagir com a Mata Atlântica,

de forma que nos percebemos enquanto parte de um conjunto em perfeita harmonia.

Ao adentrarmos a mata, foi notória a mudança de temperatura e umidade (Figura 03 e

04). Observamos as árvores de grande porte contrastando com a vegetação pioneira,

isto é, aquela que povoa primeiramente para dá condição à fixação das espécies que

colonizaram permanentemente. Essa sucessão natural ocorre sempre que a vegetação

de uma determinada área é retirada de forma natural ou não.

1 Reserva Particular do Patrimônio Natural.

Figura 02 – Momento de informações e orientações.

Fonte: Emilson Batista da silva.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – DCIE NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD

Verificamos a formação de um fenômeno denominado “clareira natural”

(Figura 05). Este é caracterizado pela queda natural de árvores que abrem clareiras na

mata ao derrubarem consigo várias outras árvores. No caso do Alto da Esperança, as

espécies que caem naturalmente são utilizadas para a construção de móveis utilizados

na infraestrutura de atendimento.

Figura 03 – Entrada da trilha. Fonte: Emilson Batista da silva.

Figura 04 – Durante a trilha, o processo de interação foi contínuo.

Fonte: Emilson Batista da silva.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – DCIE NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD

Verificamos a presença de raízes nas proximidades da superfície, esse fato se

deve às características pedológicas, pois os solos na área de Mata Atlântica são muito

pobres, o que determina a formação de um manto de intemperismo ou serrapilheira2

sobre a superfície, responsável pela produção de nutrientes para a vegetação.

Vivenciamos também algumas dinâmicas no interior da trilha. Uma delas

objetivou explorar outros sentidos que utilizamos em menor proporção no cotidiano.

Alguns tiveram os olhos vendados e foram conduzidos por outros colegas por entre a

vegetação, tocando e ouvindo o que estava à volta.

Ao final da trilha, os que desejaram puderam desfrutar de um lago, construído

a partir do represamento de um rio e posteriormente de uma refeição feita

especialmente para o grupo, dentro de uma concepção de sustentabilidade, ou seja,

comida caseira, utilizando alimentos tradicionais oriundos da própria comunidade. As

famílias que habitam a região geralmente assumem essa tarefa de cozinhar os

alimentos consumidos pelos visitantes.

2 Depósito de matéria orgânica sobre o solo, oriunda da decomposição de restos animais e vegetais que

servem como adubo para a vegetação.

Figura 05 – Fenômeno de clareira natural

Fonte: Emilson Batista da silva.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – DCIE NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD

O fechamento da visita foi realizado em uma área preparada especialmente

para isso. Todos os visitantes se sentaram em círculo e foram orientados a se

expressarem sobre os pontos positivos e negativos da visita. No centro do círculo

estava uma espécie de quartzo colorido, destinado, segundo o guia, para manutenção

da energia do grupo.

Em linhas gerais, apontamos como pontos positivos: a vivência como altamente

relevante para a nossa formação, tendo em vista a aproximação com a natureza, a

instigação da criticidade na relação sociedade-natureza, bem como a utilização desse

tipo de atividade como subsídio para a prática pedagógica, inclusive com a proposta de

organização de grupos de discentes dos professores presentes para futuras visitas

pedagógicas. Como pontos a serem melhorados, o grupo destacou a possibilidade de

construção de uma única trilha, já que a Trilha do Tucano é muito pequena em relação

à trilha maior.

4. Considerações finais

A escola vem buscando nos últimos tempos uma forma de adequação com as

demandas sociais, no sentido de viabilizar uma aprendizagem alinhada com as

necessidades postas para o indivíduo frente aos enfrentamentos do cotidiano. Dessa

forma, encontrar atividades capazes de despertar o interesse dos discentes é

preponderante para dar conta dos anseios deles. Outro raciocínio é o constante

afastamento da sociedade – em constante processo de urbanização – em relação à

natureza, se desdobrando em processos de degradações ambientais cada vez mais

profundos.

Assim, verificamos que atividades que propicie a interação sociedade-natureza,

como a proposta neste trabalho, tem o potencial de favorecer o aprofundamento da

concepção de maio ambiente, no sentido de percebê-lo não apenas como o meio

natural compreendido pela fauna e pela flora, mas despertando o entendimento de

que o meio ambiente é formado também pela sociedade. Além disso, através dessa

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – DCIE NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD

prática, ocorre maior sentido de pertencimento do indivíduo ao seu meio, o que eleva

seu interesse pela temática e contribui para o aumento da consciência ambiental.

Nesta conjuntura, a educação ambiental é um meio para educar a população

e as novas gerações na direção de aliar o desenvolvimento socioeconômico, à

exploração racional dos recursos naturais e preservação do ambiente. Além da

formação humana, vivências como a exposta neste texto propicia aos seus praticantes

um maior contato com a natureza, bem como a construção de novas concepções e

posturas. Os esportes de aventura na natureza e os acampamentos são exemplos

desse movimento.

No caso das trilhas interpretativas, as possibilidades pedagógicas podem ser

potencializadas sobremaneira se realizada de forma adequada, pois o processo de

interação aliado à sensibilização, provocada pelas informações transmitidas pelos

profissionais responsáveis por guiar o grupo, pode despertar nos visitantes a formação

ou mudança de conceitos e atitudes, que determinarão comportamentos no cotidiano

de cada um.

No entanto, essas iniciativas de realizar atividades em trilhas interpretativas

não podem se reduzir a concepções como “fuga da rotina”, ou a capacidade de

conhecer e transitar por outros lugares, mas às concepções que levem a uma

compreensão centrada na visão humanista popular (BREIH, 2000 apud JÚNIOR, 2012),

Nessa ótica, verificamos que o planejamento é um elemento de grande

relevância para que as vivências no meio natural atinjam seus objetivos e

potencializem o processo de ensino-aprendizagem, de acordo com as reais

necessidades para a formação dos discentes.

5. Referência

FERREIRA, Sandra Lúcia. Introduzindo a noção de interdisciplinaridade. In: FAZENDA,

Ivani Catarina Arantes (Org). Práticas interdisciplinares na escola. 10. ed. São

Paulo:Cortez, 2005.

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE SANTA CRUZ - UESC DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS DA EDUCAÇÃO – DCIE NÚCLEO DE EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA - NEAD

JÚNIOR, Edgard Matiello. Exercitando Conhecimentos e Práticas Sobre Meio Ambiente

a Partir da Pedagogia Crítico-Emancipatória. In: KUNZ, Elenor (Org). Didática da

educação física. 4. ed. Ijuí: Ed. Unijuí, 2012.

LEFF, Enrique. Racionalidade ambiental: a reprodução social da natureza. Rio de

Janeiro: Civilização Brasileira, 2006.

MELO, Mauro Martini de. Capitalismo versus sustentabilidade: o desafio de uma nova ética ambiental. Florianópolis: Ed. da UFSC, 2006.

MENGHINI, Fernanda Barbosa. As trilhas interpretativas como recurso pedagógico: caminhos traçados para a educação ambiental. Dissertação de Mestrado. Programa de Mestrado Acadêmico em Educação. Universidade do Vale do Itajaí, 2005.