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1565 A RELAÇÃO TEORIA E REFLEXÃO DA PRÁTICA PARA RESSIGNIFICAÇÃO DO FAZER DOCENTE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA A PARTIR DO ESTÁGIO NO CURSO DE PEDAGOGIA/PARFOR/UEA Eliana Nascimento, Universidade do Estado do Amazonas/UEA Edilberto Santos Moura,Universidade do Estado do Amazonas/UEA Cristiane Cavalcante Lima, Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Amazonas/IFAM Eixo 07 - Formação e desenvolvimento profissional de professores do ensino superior E-mail: [email protected] Introdução Significativas mudanças foram trazidas pela a LDB 9394/96 no que diz respeito à estrutura da Educação Básica no país, buscando superar o distanciamento entre a academia e a realidade escolar frequentemente percebida nos cursos de licenciatura . A lei definiu como fundamento da formação de professores, a relevância entre teorias e práticas como prevê o artigo. 61, Inciso I, da referida lei. Uma das mudanças expressivas presentes nessa legislação, está na exigência de uma maior carga horária de “estágios e atividades práticas”, além da integração de aspectos práticos e teóricos nos seus currículos. Ao discutirmos o estágio supervisionado do curso de pedagogia, como espaço de reflexão e troca de saberes entre a teoria e a prática, faz-se necessário discorrer sobre os conhecimentos e competências pedagógicas do pedagogo. O termo competência é definido por Perrenoud, (1999), como a capacidade de agir eficazmente numa determinada situação, apoiada em conhecimentos, mas sem se limitar a eles. Neste sentido, ao preparar um planejamento de ensino, na disciplina de Estágio, há de se prever ações que permitam o desenvolvimento de habilidades e competências, motivando e envolvendo o educando, de modo que sinta-se capaz de interagir no meio social. Deste modo, o planejamento deve dar um sentido à aprendizagem, com estratégias e abordagens voltadas a construção de novos saberes, que relacionados à

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A RELAÇÃO TEORIA E REFLEXÃO DA PRÁTICA PARA RESSIGNIFICAÇÃO DO

FAZER DOCENTE: UM RELATO DE EXPERIÊNCIA A PARTIR DO ESTÁGIO NO

CURSO DE PEDAGOGIA/PARFOR/UEA

Eliana Nascimento, Universidade do Estado do Amazonas/UEA

Edilberto Santos Moura,Universidade do Estado do Amazonas/UEA

Cristiane Cavalcante Lima, Instituto Federal de Educação, Ciência e

Tecnologia do Amazonas/IFAM

Eixo 07 - Formação e desenvolvimento profissional de professores do

ensino superior

E-mail: [email protected]

Introdução

Significativas mudanças foram trazidas pela a LDB 9394/96 no que diz respeito à

estrutura da Educação Básica no país, buscando superar o distanciamento entre a

academia e a realidade escolar frequentemente percebida nos cursos de licenciatura. A

lei definiu como fundamento da formação de professores, a relevância entre teorias e

práticas como prevê o artigo. 61, Inciso I, da referida lei. Uma das mudanças expressivas

presentes nessa legislação, está na exigência de uma maior carga horária de “estágios e

atividades práticas”, além da integração de aspectos práticos e teóricos nos seus

currículos.

Ao discutirmos o estágio supervisionado do curso de pedagogia, como espaço de

reflexão e troca de saberes entre a teoria e a prática, faz-se necessário discorrer sobre os

conhecimentos e competências pedagógicas do pedagogo. O termo competência é

definido por Perrenoud, (1999), como a capacidade de agir eficazmente numa

determinada situação, apoiada em conhecimentos, mas sem se limitar a eles.

Neste sentido, ao preparar um planejamento de ensino, na disciplina de Estágio,

há de se prever ações que permitam o desenvolvimento de habilidades e competências,

motivando e envolvendo o educando, de modo que sinta-se capaz de interagir no meio

social. Deste modo, o planejamento deve dar um sentido à aprendizagem, com

estratégias e abordagens voltadas a construção de novos saberes, que relacionados à

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reflexão da prática docente, torna-se elemento indispensável ao processo de mudança,

tão esperado na formação de professores.

Segundo Alarcão (2003), a escola não detém o monopólio do saber. Como

organização, tem de ser um sistema aberto, pensante e flexível; tem de repensar, para

transformar-se por dentro como as pessoas que a constituem, interagindo com a

comunidade circundante. Isto leva a perceber a necessidade de uma relação mais

eficiente do ponto de vista crítico, entre universidade e escola, sendo que a prática do

estágio pode ser a ponte desta relação.

De acordo com Demo (2004), a Universidade que apenas reproduz conhecimento

é desnecessária. O aluno não a freqüenta para assistir aulas e reproduzi-las, mas sim,

para construir conhecimentos partindo dos já existentes, o que depende do seu esforço e

da orientação do professor.

Frente a essa realidade complexa o docente necessita de competências para

tornar o conhecimento viável e satisfatório às demandas da sociedade. Dentro deste

propósito, os alunos precisam ser suscitados a problematizarem o espaço da prática

pedagógica como uma instância de construção de aprendizagem, através de

componentes curriculares que se inter-relacionam em busca da reflexão e da pesquisa

como eixo norteador das disciplinas. Dentre estes componentes, o Estágio

Supervisionado.

Assim, o objetivo deste trabalho consiste em relatar uma experiência

metodológica de orientação de estágio supervisionado na educação infantil, no curso de

Pedagogia, executado na Universidade do Estado do Amazonas (UEA), em atendimento

ao Programa de Formação de Professores para a Educação Básica (PARFOR),

gerenciado pela Comissão de Aperfeiçoamento e Pesquisa (CAPES) do Governo

Federal.

Caracterização da Estratégia Metodológica do Estágio na Formação de Professores

no âmbito do PARFOR/UEA

O Plano Nacional de Formação de Professores da Educação Básica (PARFOR) é

um programa emergencial, gerenciado pela Coordenação de Aperfeiçoamento de

Pessoal de Nível Superior (CAPES), que incentiva a oferta de cursos de licenciatura para

docentes que atuam na educação básica da rede pública de ensino, e que não tenham

formação superior, situação esta muito comum na região Amazônica, em especial no

estado do Amazonas.

Considerando este cenário regional, a Universidade do Estado do Amazonas deu

início em 2009, na modalidade presencial, no formato modular, e no período de férias

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regulares, a oferta de cursos de Licenciatura em Biologia, Letras, Matemática, Geografia

e Pedagogia, na capital do estado.

Em 2010, o curso de Pedagogia da UEA, considerando a demanda existente

naquele momento, aderiu ao PARFOR e passou a oferecer em Manaus o curso de

Pedagogia. Constando em sua estrutura curricular, como determina a resolução n. 01 de

2006, do Conselho Nacional de Educação, o componente Estágio Supervisionado,

estruturado para a realidade estadual em três etapas, cuja primeira etapa consiste na

discussão e reflexão teórica a partir de textos selecionados que tratam da temática em

questão (Estagio em Educação Infantil). As duas últimas etapas correspondem às

observações da prática pedagogia in locu, sendo que no primeiro momento os alunos

além de observar a dinâmica da sala de aula, os aspectos pedagógicos, relação

professor-alunos entre outros, irão também registar uma determinada problemática

observada; para no terceiro momento da disciplina desenvolver um projeto de

aprendizagem que venha contribuir no enfrentamento dessa problemática.

A organização da disciplina nos três momentos citados tem por finalidade

possibilitar nos alunos do PARFOR/UEA, uma reflexão da prática docente, aprofundada

teoricamente, sobretudo em um contexto real da sala de aula. Vale ressaltar, no entanto,

que neste trabalho será discutido o relato somente da primeira etapa, que compreende

apenas o momento de construção do referencial teórico, uma vez que as demais etapas

encontram-se em andamento.

O estágio supervisionado do curso de pedagogia do PARFOR/UEA, tem se

configurado como um grande desafio para quem planeja, executa e recebe a formação,

haja visto as assimetrias regionais que fazem parte do contexto amazônico. Dentre estas,

podemos mencionar o aspecto geográfico do estado do Amazonas, onde em muitos

casos, para se chegar a um determinado município o acesso só é possível através de via

fluvial ou aérea, sendo que em alguns casos, o acesso ocorre somente por via fluvial. Em

algumas situações a duração do deslocamento por meio fluvial pode levar até mais de

seis dias para se chegar ao local pretendido.

De acordo com dados da coordenação pedagógica da UEA, o curso de

Pedagogia/PARFOR, está presente em 12 municípios, com 24 turmas, atendendo

aproximadamente mil alunos, sendo que destes, aproximadamente 500 estão cursando a

disciplina de estágio I, correspondente à educação infantil, primeira etapa do estágio.

Os alunos do curso, portanto do estágio, são professores de 08 municípios em

pleno exercício docente, condição exigida pela Capes para o ingresso no mesmo. São,

portanto, professores das redes estadual e municipal de ensino, que optaram a época

cursar em Manaus, haja visto que seus municípios, não terem sido contemplados pela

UEA.

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A experiência aqui relatada trata de uma das turmas localizada no município de

Manaus, composta por alunos pertencentes a quatro municípios circundantes: Rio Preto

da Eva, Iranduba, Anorí e Cacau Pereira. Ao todo são trinta alunos divididos entre os três

professores, selecionados via edital público, em outubro de 2013, para trabalhar com a

turma, com o componente Estágio I.

O Estágio I corresponde ao estágio em Educação Infantil (Creche e pré-escola).

Compreende uma carga horária de 90 horas sendo 30 horas para orientações teóricas e

60 horas para o cumprimento da carga horária na escola campo de estágio.A disciplina

propõe-se a ampliar o olhar sobre a escola, tendo como ponto de partida a observação

da realidade.

O acompanhamento tem sido feito com encontros mensais contido num

cronograma elaborado pela coordenação do curso, em conjunto com as Secretarias de

Educação dos municípios envolvidos. No cronograma consta que os alunos cumprirão

20 horas por mês nas escolas selecionadas para o estágio e o professor terá, portanto

seu encontro de orientação e acompanhamento, nos mesmos dias. Ao todo são quatro

encontros: um teórico e três práticos, sendo o momento teórico, como mencionado

anteriormente, o objeto de reflexão deste trabalho.

Da parte da coordenação do curso de pedagogia/UEA, foram realizados vários

encontros com os professores de Estagio I e Pesquisa e Prática pedagógica I, na

perspectiva de se consolidar os discursos e as práticas, com a sugestão de um aporte

teórico que contemplasse o ementário das disciplinas. Fato esse que foi de grande

relevância, pois também havendo assimetrias locais, as margens de erro no que cabe a

operacionalização das ações pedagógicas, poderiam ser bem menores. Este momento

de formação entre os docentes do PARFOR/UEA, resultou em um seminário que teve

como produto final a construção de uma apostila com textos de vários autores, tendo

como fundamento principal a formação do professor reflexivo-pesquisador, pois é

também o fundamento da proposta de estágio do curso de Pedagogia.

Quanto à estratégia metodológica executada pelos professores autores do

referido artigo, esta organizou-se da seguinte forma: primeiramente foi apresentada uma

aula expositiva aos alunos, com o objetivo de apresentar a disciplina, sua dinâmica e a

importância da mesma para a prática pedagógica, na aula seguinte foi feito a socialização

de textos voltados para o aprofundamento teórico da importância do estágio

supervisionado, como parte integrante de sua formação, bem como uma experiência de

pesquisa, os quais foram discutidos a partir da metodologia de Seminários (esta

estratégia metodológica permitiu um maior aprofundamento teórico sobre o tema em

questão, bem como uma melhor dinâmica no encaminhamento das aulas) Cada

professor conduziu um grupo de dez alunos com uma temática específica que,

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posteriormente, foram socializadas em forma de seminário e debates. Desta forma

favorecendo o entendimento de que o estágio deve ser visto como uma experiência

acadêmica que busca articular, construir e ressignificar saberes, a partir da prática

docente, da pesquisa e da participação, nos processos que envolvem a ação educativa.

Neste primeiro momento, que trata o relato contido neste trabalho, foi possível,

além da discussão teórica, explicar os mecanismos de acompanhamento do Estágio tais

como: o Caderno de Registros e Memórias que consistem, em primeiro momento, em

registros descritivos a partir das observações dos primeiros contatos tidos na escola e

que, na seqüência do cumprimento da carga horária, os alunos são orientados a rever

seus registros, buscando a partir daí, transformá-los em narrativas e relacioná-los com a

fundamentação teórica que foi trabalhada nas discussões teóricas. Tal recurso,

constituirá também o processo de avaliação dos alunos ao final da disciplina. O professor,

a cada encontro com os alunos, avalia, revisa e orienta quanto à necessidade de

problematizar as observações e registros contidos no caderno.

Assim a metodologia adotada possibilitou ao aluno uma seqüência lógica de

etapas provocando o entendimento do processo e reflexões para sua inserção nas

escolas de campo de estágio.

O Estágio Supervisionado como Possibilidade de Ressignificar a Prática Docente

O estágio é uma etapa da formação inicial, identificado na proposta do curso de

pedagogia da UEA, como parte integrante da formação de professores. Portanto, não

pode ser considerado apenas como a parte prática em contrapartida à parte teórica que,

ao compreendê-las, não se tratam de duas partes, mas de um todo que se completa. Nos

dizeres de Pimenta (2011), a finalidade do estágio é propiciar ao aluno uma aproximação

à realidade na qual atuará.

Neste sentido, o Estágio Supervisionado possibilita a reflexão da prática docente,

podendo assim o pedagogo compreender o sentido e os princípios dessa disciplina.

Estudiosos da temática em questão, como Piconez (1991), e Castro (2000), apontam que

o estágio supervisionado vem se desenvolvendo como um componente teórico-prático,

pois possui uma caracterização ideal, teórica, subjetiva, articulada com várias posturas

educacionais, e uma caracterização real, material, social e prática, inserida no contexto

escolar. Paralelo a isso, os autores discutem também, que o estágio supervisionado

como componente integrador entre teoria e prática, configura-se em um espaço propício

para a produção dos diversos saberes necessários à profissão docente no mundo atual,

onde os sujeitos devem ser capazes de contextualizar, planejar e gerir a sua ação

pedagógica.

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Ao se buscar compreender a concepção atual acerca do estágio, vemos a

existência da tentativa de articular a atividade teórica com a atividade prática.

Para Pimenta (2007 p. 44):

A produção da década anterior é indicativa dessa possibilidade,

quando o estágio foi definido como atividade teórica que permite

conhecer e se aproximar da realidade. Mais recentemente, ao se

colocarem no horizonte as contribuições da epistemologia da

prática e se diferenciar o conceito de ação (que diz dos sujeitos)

do conceito de prática (que diz das instituições), o estágio como

pesquisa começa a ganhar solidez.

Frente a essa realidade complexa, através do Estágio busca-se indicar novos

caminhos a serem trilhados, como forma de garantir o cumprimento pleno do importante

papel da Instituição como geradora de conhecimento técnico-científico. Assim, o

professor, através da reflexão sobre sua prática (SCHON, 1992), vai elaborando um

saber da experiência em evolução (TARDIF, 2002). Desta forma o estágio supervisionado

possibilita que o discente atue em um espaço em que o aluno e o futuro professor

construam sua trajetória profissional. Sendo assim, torna-se possível formar um

profissional competente, que não apenas se reconhece como agente do processo de

trabalho, mas também compreende os fundamentos técnico-científicos que lhe deram

origem.

Nesta perspectiva é importante ressaltar ainda, que o estágio deve possibilitar o

pensamento prático. Segundo Gómez (1995 p.112):

O pensamento prático do professor não pode ser ensinado, mas

pode ser aprendido. Aprende-se fazendo e refletindo na e sobre a

ação. Através da prática é possível apoiar e desenvolver o

pensamento prático, graças a uma reflexão conjunta (e recíproca)

entre o aluno-mestre e o professor ou o tutor.

Entende-se que existe a necessidade de articular teoria e prática na formação do

professor sendo desse modo, o estágio supervisionado fator articulador. Nesse sentido, o

estágio fornece uma perspectiva que visa à superação da dicotomia teoria e prática.

Prática enquanto subordinada a uma instituição, que tem cultura própria, com finalidades

definidas. Teórica por ser uma atividade que busca conhecer, fundamentar, dialogar e

intervir na realidade. O professor deve articular teoria e prática. As situações vivenciadas

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em sala de aula devem possibilitar a formação técnica, com situações no qual se possa

acessar selecionar e processar informações em cada área, mas, sobretudo, há de se

desenvolver conceitos de ressignificação do estágio, problematizando a sua prática,

gerando assim seres mais autônomos, solidários, capazes de superar as diferenças

sociais no exercício de suas funções.

Por fim, o estágio supervisionado pode e deve ser considerado como estratégia

para que se possa ocorrer uma articulação entre os diferentes saberes, sendo este

momento oportuno para a elaboração teórica e para a renovação, reflexão das práticas,

de forma que ocorra uma integração entre o conhecimento teórico e o trabalho real,

indicando uma alternativa eficaz para a situação de falta de articulação entre teoria e

prática que se faz presente na formação docente.

As Primeiras Impressões: O Primeiro Encontro – Momento da Reflexão Teórica

No primeiro encontro realizado com os alunos de pedagogia PARFOR/UEA, foi

proposto um estudo teórico que buscou problematizar o estágio como um momento de

reflexão da prática pedagógica. Os textos selecionados e previamente estudados pelos

professores formadores foram:

Por que o estágio para quem já exerce o magistério: uma proposta de

formação continuada (PIMENTA, Selma; LIMA, Maria)

Estágio e Aprendizagem na Profissão Docente (LIMA, Maria Socorro)

O Portão da Escola (LIMA, Maria Socorro)

Os Saberes Profissionais dos Professores na Perspectiva de Tardif e

Gauhier: Contribuições para o caminho de pesquisa sobre os saberes

docentes no Brasil (CARDOSO, Aliana; PINO, Mauro; DOMELES,

Caroline)

Pesquisa Narrativa no Contexto Educacional: entre a escrita, a formação e

a reflexão (BRITO, Antonia; LIMA, Maria da Glória)

Narrativas no Contexto da Investigação sobre Identidade Profissional:

Método e/ou técnica?! (FERNANDES, Ana Gabriela; ARAÚJO, Cristina;

TEIXEIRA, Cristiane)

Tal estudo, permitiu uma ressignificação da ação docente expressa em relatos

dos alunos, cujo objetivo foi investigar as contribuições da Disciplina Estágio I para a

formação docente, com vistas a contribuir para uma melhor articulação entre teoria e

prática.

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Na forma de cada participante perceber a realidade, encontram-se embutidas as

projeções dos desejos, a afetividade, experiências anteriores com a imagem, levando a

formas diferenciadas de apreender o fenômeno e, por isso, multiplicam-se os riscos de

erro. Isso desperta o cuidado de o conhecimento científico não poder tratar sozinho os

problemas epistemológicos, filosóficos e éticos. Perceber essas implicações é

fundamental para quem se propõe tornar-se um pesquisador-educador. Isto fica evidente

no relato abaixo:

A disciplina do Estágio I, trouxe um direcionamento pra mim como

professora, tirou aquela visão de nós professores que já atuamos

na sala de aula que não precisamos estagiar, trouxe uma reflexão

sobre a nossa prática e o que o estágio vai nos proporcionar”

(R.C.S.)

Este relato demonstra que existe a necessidade de aproximar o estágio da

realidade, pois essa distância leva a muitos destes docentes, que estão aprendendo a

profissão, a tomar uma posição defensiva sobre aquilo que vivenciam. Para realizar esta

aproximação precisamos, enquanto docentes, termos um papel ativo durante esse

processo, refletindo sobre o que observamos, e agindo assim com intencionalidade.

O estudo teórico do primeiro encontro possibilitou uma ressifignicação da prática

docente, como pode também ser percebido no relato abaixo:

A partir de uma grande reflexão e ressignificação propiciada pelos

momentos de leitura, debates e socialização de preciosos saberes

disponibilizados pela disciplina mediados pelos professores, me

encontro reconstruída em vários aspectos, no que concerne a

minha vida acadêmica e como docente (L.A.)

Na ótica da aluna, podemos perceber a contribuição da didática, da prática de

ensino, dos fundamentos, metodologias e contribuições para a formação de professores.

Percebe-se também através destes relatos, que a disciplina Estágio I, abre caminhos e

busca orientação mais segura no planejamento das ações em sala de aula.

O desafio conforme é salientado por Machado (1998) consiste em evitar o

empobrecimento da formação, ou seja, uma formação atrelada ao ensino de tarefas e

desempenhos específicos, prescritos e observáveis. Os conhecimentos científicos devem

ser utilizados para a construção das competências, não se estabelecendo apenas a

reflexão, mas também as habilidades construídas enquanto ação prática. Outro relato

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que nos faz refletir sobre a importância do desenvolvimento crítico do sujeito esta

explicito na fala abaixo

A reflexão implica sempre uma análise crítica do trabalho que

realizamos, questionamos nossa legitimidade e o significado que

ela tem para cada criança com as quais trabalhamos (T.M).

De acordo com a compreensão da aluna, podemos citar aqui as considerações de

Alves e Garcia (2002, p.77) quando diz que:

A teoria será permanentemente confrontada com o concreto

social/escolar, e este será olhado a partir da teoria, recuperando-

se a unidade dialética teoria-prática. Mas apreender o real exige

mais do que o olhar da Filosofia, Sociologia, Psicologia ou

Antropologia. Exige a articulação das diferentes áreas do

conhecimento na interdisciplinaridade, redefinindo método e

categorias.

A referida citação reforça alguns relatos que demonstram que a ação docente está

atrelada aos saberes, sendo esses, formadores de vários caminhos. Segundo Tardif

(2010), pode-se definir o saber docente como “um saber plural, formado pelo amálgama,

mais ou menos coerente, de saberes oriundos da formação profissional, e de saberes

disciplinares, curriculares e experienciais.”

Compreende-se, portanto, a partir dos relatos, que os saberes da docência são

plurais e heterogêneos. Desta forma pode-se enfatizar que o estágio supervisionado

constitui-se como estratégia para que ocorra uma articulação entre os diferentes saberes,

sendo que esse momento é oportuno para a elaboração teórica e para a renovação das

práticas, enfatizando aspectos significativos da formação de professores e análises da

relação entre teoria e prática no fazer pedagógico.

Considerações Finais

O Estágio Supervisionando pelo seu movimento dialético que envolve teoria e

prática de forma indissociável, tem se apresentado como um importante espaço de

reflexão, bem como um campo promissor para o desenvolvimento de pesquisas na área

da formação docente.

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Superar o sistema tradicional de ensinar e de aprender, valorizando a autonomia

intelectual, ressignificando o estágio a partir do PARFOR, as atividades foram orientadas

no sentido de fazer o aluno refletir e aprender a aprender, pois a prática deve ser

refletida, analisada e contextualizada, podendo o pedagogo mobilizar e articular e por em

prática conhecimentos, habilidades valorizando os saberes cotidianos em níveis

crescentes de complexidade.

A estratégia metodológica adotada neste primeiro momento da disciplina permitiu

uma maior problematização dos temas propostos, abrindo-se às novas possibilidades de

aprendizagens, uma vez que os conteúdos não são tidos como fins em si mesmos, mas

como meios essenciais na busca de respostas, de ser um profissional facilitador da

articulação de teoria e prática. Tal reflexão nos encaminha para a discussão sobre a

necessidade de maior articulação entre os dois locais de formação, a sala de aula e o

campo prático. Tal articulação pode ser realizada através do planejamento e da avaliação

do estágio. Atividade esta que resultará em influências mútuas, tendo em vista a

indissociabilidade entre teoria e prática, a qual enriquecem o processo de ensino-

aprendizagem.

Nesse sentido, o estágio configura-se como possibilidade de identificar e aplicar

os conhecimentos teóricos no espaço da sala de aula, sobretudo sob a perspectiva da

práxis, entendida como:

Atividade concreta pela qual os sujeitos se afirmam no mundo,

modificando a realidade objetiva e, para poderem altera-la

transformando-se a si mesmo. É a ação que, para se aprofundar

de maneira mais consciente, precisa de reflexão, de

autoquestionamento, da teoria; e é que remete a ação, que

enfrenta o desafio de verificar seus acertos e desacertos,

cotejando-os com a prática. (KONDER, 1992 p115)

Mediante o exposto, percebe-se a importância do estágio supervisionado na

formação dos professores, uma vez que a observação e reflexão da prática docente,

especialmente entre àqueles que já atuam no dia a dia da sala de aula, representa a

possibilidade de identificar os eventuais equívocos reelaborando suas prática, e,

principalmente, ressignificando seu trabalho e, sobretudo, redefinindo sua identidade

docente.

Referências

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