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3424 EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: NARRATIVAS DOS BOLSISTAS DO PROJETO DE EXTENSÃO ESCOLA LABORATÓRIO Natalia Ribeiro Ferreira – UFMA Formação inicial de professores da educação básica E-mail: [email protected] Cynthia Viegas Fernandes - IESF Cláudia Andréia dos Santos Cardoso – UFMA Jadson dos Santos Pereira - UFMA Lucília Rosália Dutra Gonçalves - IESF Mayara Broxado Dias - UFMA Marise Marçalina de Castro Silva Rosa - UFMA 1 INTRODUÇÃO O estágio atua no processo de formação como uma etapa crucial na produção de saberes, habilidades e capacidades dos futuros profissionais, sobretudo na área educacional. Desta forma, os cursos de formação de professores devem dispor aos alunos uma boa capacidade teórico-metodológica. Entretanto, em muitos casos a universidade não vem dando o suporte necessário para que os discentes possam refletir sobre as práticas vivenciadas. Sendo assim, é fundamental criar condições para que o futuro profissional entenda que é importante ele ter consciência dos problemas que surgem no ambiente escolar, também é necessário que seja capaz de propor alternativas para a sociedade (FÁVERO, 2006 p.67). Sendo assim, as universidades devem articular dentro dos seus estágios uma relação entre a teoria e prática. Uma relação que possa levar os futuros docentes a uma reflexão, entre o que foi estudado no campo teórico e sua aplicabilidade prática. As relações entre teórico e prática ajudariam a superar algumas eventualidades, além de possibilitar aprendizagem nos diversos campos aos quais o docente é constantemente inserido. Nesse sentido, O Projeto de Extensão Escola Laboratório, atua a mais de 19 anos no entorno da Universidade Federal do Maranhão – UFMA, tem inserido discentes do curso de pedagogia nas práticas cotidianas do ambiente escolar, mobilizando uma aprendizagem significativa na formação inicial, por meio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

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EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA E FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES: NARRATIVASDOS BOLSISTAS DO PROJETO DE EXTENSÃO ESCOLA LABORATÓRIO

Natalia Ribeiro Ferreira – UFMAFormação inicial de professores da educação básica

E-mail: [email protected]

Cynthia Viegas Fernandes - IESF

Cláudia Andréia dos Santos Cardoso – UFMA

Jadson dos Santos Pereira - UFMA

Lucília Rosália Dutra Gonçalves - IESF

Mayara Broxado Dias - UFMA

Marise Marçalina de Castro Silva Rosa - UFMA

1 INTRODUÇÃO

O estágio atua no processo de formação como uma etapa crucial na produção

de saberes, habilidades e capacidades dos futuros profissionais, sobretudo na área

educacional. Desta forma, os cursos de formação de professores devem dispor aos alunos

uma boa capacidade teórico-metodológica. Entretanto, em muitos casos a universidade não

vem dando o suporte necessário para que os discentes possam refletir sobre as práticas

vivenciadas. Sendo assim, é fundamental criar condições para que o futuro profissional

entenda que é importante ele ter consciência dos problemas que surgem no ambiente

escolar, também é necessário que seja capaz de propor alternativas para a sociedade

(FÁVERO, 2006 p.67).

Sendo assim, as universidades devem articular dentro dos seus estágios uma

relação entre a teoria e prática. Uma relação que possa levar os futuros docentes a uma

reflexão, entre o que foi estudado no campo teórico e sua aplicabilidade prática. As relações

entre teórico e prática ajudariam a superar algumas eventualidades, além de possibilitar

aprendizagem nos diversos campos aos quais o docente é constantemente inserido. Nesse

sentido, O Projeto de Extensão Escola Laboratório, atua a mais de 19 anos no entorno da

Universidade Federal do Maranhão – UFMA, tem inserido discentes do curso de pedagogia

nas práticas cotidianas do ambiente escolar, mobilizando uma aprendizagem significativa na

formação inicial, por meio da indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão.

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Assim, pesquisa foi desenvolvida no Projeto Escola Laboratório - PEL da

Universidade Federal do Maranhão - UFMA, campo de estágio da disciplina “Estágio dos

anos iniciais do ensino fundamental”, campo para a formação de professores

alfabetizadores uma linha de ação do projeto dentro da instituição escolar. De acordo com

André (1995), esta pesquisa se classifica da seguinte forma: estudo de caso do tipo

etnográfico, pois caracteriza-se como uma instância particular dentro do processo educativo

onde o pesquisador – instrumento principal da pesquisa – estará em contato constante com

os agentes sociais. E a abordagem qualitativa, pois consideramos que essa abordagem

permite aos investigadores explorar sua imaginação e criatividade ao buscar novos aspectos

na investigação. Também foi utilizada a bibliográfica, que nos permitiu analisar os dados de

forma indutiva e sem que os resultados fossem generalizados. A pesquisa de campo utilizou

o conceito do sociólogo Pierre Bourdieu, a noção de campo conduziu todas as opções

práticas da pesquisa, isso nos possibilitou verificar que o objeto não estar isolado daquilo

que estar ao seu redor. No que diz respeito aos instrumentos da pesquisa foram feitas

entrevista episódica com os discentes do curso de pedagogia (bolsistas e estágio).

Neste sentido, esta pesquisa se fez relevante, pois discutimos as questões da

formação de professores da universidade por meio da indissociabilidade entre ensino,

pesquisa e extensão, a construção de experiências no campo da formação de professores

alfabetizadores, no que se refere ao fortalecimento da personalidade do profissional.

Para responder ao objetivo da pesquisa, o trabalho foi estruturado em dois

momentos iniciando-se com a análise das contribuições dos processos de ensino, pesquisa

e extensão na formação de professores alfabetizadores. Em seguida, por meio das

narrativas dos estagiários enfocamos a importância das práticas inovadoras do projeto

escola laboratório na construção da docência, por fim teceremos algumas considerações

acerca da extensão na formação inicial

2 CONTRIBUIÇÕES DOS PROCESSOS DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO NA

FORMAÇÃO DE PROFESSORES ALFABETIZADORES: práticas extensionistas do Projeto

Escola Laboratório

Compreendemos que o formar-se professor abrange a titulação, que é uma

competência adquirida como uma categoria obrigatória, porém o tornar-se vai além, é

vivenciar a formação no chão da escola com crianças de diferentes personalidades,

influências culturais variadas, quereres e saberes diversificados, é sentir com o

alfabetizando o sentido do texto, a emoção de reconhecer letras e lê-las. Isto é, a

indissociabilidade entre ensino pesquisa e extensão na universidade.

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A formação do professor alfabetizador complementada na indissociabilidade que

gera o conhecimento e faz desta experiência uma inovação no campo de formação, pois

estar no campo é “realizar uma pesquisa constante que faça mais do que lhes proporcionar

um amontoado de conhecimentos formais e formas culturais preestabelecidas, estáticas e

fixas, incutindo-lhes uma atitude de investigação que considere tanto a perspectiva teórica

como a prática [...]” (IMBERNÓN, 2006. p.64). Ou seja, à proximidade de estudar os teóricos

e ao mesmo tempo colocá-las em prática fortaleceu os saberes dos estagiários participantes

com significação.

Nesse sentido o PEL tem propiciado aos estagiários “entender as

transformações que vão surgindo nos diferentes campos e para ser receptivos e abertos a

concepção pluralista, capazes de adequar suas atuações às necessidades dos alunos e

alunas em cada época e contexto” (IMBERNÓN, 2006, p. 61).

Nessa perspectiva, o projeto fortalece o processo de formação, por meio da

vivência de atividades de extensão universitária articulada às ações formadoras no campo

acadêmico e a promoção no que diz respeito o desenvolvimento de inovações pedagógicas

no campo da alfabetização e letramento com significação e sentido. No PEL, os estagiários

se apropriam do ato de alfabetizar não como um detentor do saber, mas um mediador do

conhecimento. Isso tem levado a construção de um saber mais significativo.

Analisar a extensão universitária a partir do Projeto Escola Laboratório - PEL é

contar a histórias de muitos agentes sociais que nesse percurso ajudaram a construir, com

seus quereres, saberes e fazeres, uma prática de extensão diferenciada no curso de

Pedagogia da Universidade Federal do Maranhão-UFMA. Assim sendo, o Projeto Escola

Laboratório: uma alternativa para a melhoria da qualidade do ensino Fundamental, foi criado

oficialmente em 1995, e, desde sua criação teve como finalidade “fortalecer o campo de

estágio supervisionado dos alunos de Prática de Ensino e estreitar as relações entre

universidade e escola por meio de atividades de extensão” (ROSA, 2010, p.80).

Evidenciando em seu início, uma concepção de extensão universitária comprometida com o

entorno e com o diálogo entre saberes, situando-se integrada ao ensino por meio da

articulação com o estágio supervisionado do curso de formação inicial de professores, o que

tem promovido uma pedagogia social.

O projeto se configurou em três grandes momentos, o primeiro vai de 1994 a

1998. O projeto apresenta-se como “formação continuada, em que professores da escola-

campo, alunos de Estágio em Anos Iniciais, gestores e professores da UFMA aprenderam e

ensinaram coletivamente, de forma compartilhada” (Rosa, 2010, p. 81). Esse trabalho

desenvolvido inicialmente, caracteriza-se como o ingresso dos discentes nos problemas

educacionais existentes. Por meio do estágio supervisionado é que aluno tem a

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oportunidade de ter uma visão ampla do campo no qual irá atuar, conhecendo e

compreendendo a realidade na qual fará intervenções futuras.

O segundo momento tem início em 1999, e trás uma nova linha de ação do PEL,

denominada como classe experimental de alfabetização. Essa ação do PEL segundo Rosa

(2010) tinha como finalidade possibilitar experiências alfabetizadoras aos discentes das

disciplinas Práticas de Ensino de 1º Grau e Alfabetização - Teoria e Prática. A classe

experimental de alfabetização passou a funcionar no Núcleo de alfabetização da UFMA. É

importante destacar que trabalhos como esses, além de formar profissionais qualificados

para mercado de trabalho, formam pessoas capazes de “influir sobre a realidade onde vão

atuar, numa perspectiva de mudança, a partir de uma visão crítica da realidade” (Fávero,

2006, p. 56).

Assim, nas duas primeira fase o PEL além de trabalhar a formação de

professores alfabetização, buscava da suporte social aos educandos, estimulando a

criatividade, elevando a auto-estima e construir saberes (ROSA, 2010).

Esse percurso inicial foi de suma importância para a construção de uma

extensão universitária crítica, pois promoveu uma relação dialógica entre a comunidade do

entorno da UFMA e entre os agentes integrantes do projeto. Nesse sentido, percebe-se que

extensão no PEL, foi trabalhada desde seu surgimento como um “processo educativo,

cultural e cientifico que articula o ensino e a pesquisa de forma indissociável e viabiliza a

relação transformadora entre universidade e sociedade” (GURGEL, 2013, p. 172). Assim, o

trabalho promovido ao longo dos anos não foi levar, mas coligir os saberes e promover um

novo saber.

Essas ações indissociáveis feitas pelo projeto levaram a um terceiro momento

no projeto, os Atos de Leitura Triangulada - ALT, atividade criada em vista a promover a

alfabetização de crianças com dificuldades na apropriação da leitura e da escrita, e a

promover a formação de professores alfabetizadores. Foi sistematizado para atender no

tempo de cinquenta minutos e em cinco momentos denominados como: entronização,

leitura mediada, leitura conjunta, o desafio de ler e produção da escrita.

O primeiro Ato foi denominado de entronização que se caracteriza como a

preparação para o acesso aos livros e portadores de textos diversos, tendo em vista o

acesso à cultura letrada, nesse ato a criança inicia a exploração dos elementos gráficos, das

ilustrações, editora e autores. O segundo Ato é a leitura mediada, por alguém que já se

apropriou do ato de ler, então após a escolha do portador que foi consensuado pelos três

(mediador e as duas crianças) para ser lido naquele momento, a leitura acontece de forma

pausada, faz-se importante a identificação apontando para o que está sendo lido. No

terceiro Ato a tutora faz a leitura conjunta, com uma criança de cada vez, esse momento

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dá apoio ao leitor que está em processo de apropriação da língua materna, nesta etapa

todos leem, todos escutam e nenhum dos alunos se sente inferior ao conhecimento do que

já domina a leitura, mas todos participam e, de acordo com suas possibilidades, vão se

apropriando de informações por meio do ato de ler lendo. No quarto Ato, a criança é

desafiada a ler sozinho o texto anteriormente lido pela tutora, em seguida a outra criança

também é desafiada a ler, fechando o ato de triangulação e, como ocorre a leitura de

ambos os participantes da triangulação os alunos tutoriados tendem a prestar atenção no

intuito de compreender, apreender o lugar das palavras no texto, as imagens a que as frases

e palavras se referem, produzindo as ações apresentadas pelo tutor, como a leitura de

forma pausada e apontando para o que está sendo lido. Neste momento de exercício de

leitura pelos alunos o texto recebe um novo olhar, o tom de voz é diferente, dando a cada

ato de ler uma nova vida. O quinto Ato denominado como a produção da escrita é o

momento de objetivação da compreensão do texto lido por meio de desenhos, escrita

espontânea, reescrita do texto.

Podemos observar que o PEL, ao longo dos vinte anos vem possibilitando aos

discentes vivenciar o tripé da universidade – ensino, pesquisa e extensão. Tal fato como

caracteriza o Plano Nacional de Extensão Universitária, possibilita a formação de

profissionais cidadãos. Além disso, as ações extensionistas desenvolvidas pelo PEL, tem se

caracterizado como espaço privilegiado de produção do conhecimento significativo para a

superação das desigualdades sociais existentes (FORPROEX, 2010, p. 5).

Desse modo, o Projeto de Extensão Escola Laboratório tem se caracterizado

como uma extensão crítica e dialógica, um lugar de significações, encontros e constatações

(ROSA, 2010, p. 94), tem possibilitado mudanças e transformações no campo da

alfabetização e da formação de professores.

3 A INDISSOCIABILIDADE ENTRE ENSINO PESQUISA E EXTENSÃO NO PROJETO

ESCOLA LABORATÓRIO: Narrativas dos estagiários

O PEL tem trabalhado em vista a uma extensão universitária dialógica,

articulando de forma indissociável ensino e pesquisa. Assim, o estágio curricular, nessa

perspectiva tem sido um dos instrumentos que viabiliza a prática extensionista aos discentes

que não participam dos projetos de extensão. Isso pode ser notado no estágio

supervisionado em Docência dos Anos Iniciais do Ensino Fundamental, ao qual o PEL tem

associado suas atividades junto aos estagiários, fazendo com que os discentes

desenvolvam práticas de extensão através de “uma ação curricular que visa aproximar de

formar articulada esse fundamento teórico da indissociabilidade” (ROSA, 2010, p. 90).

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Nessa perspectiva, a extensão tem se consolidado como um instrumento de

suma importância na formação dos futuros docentes do curso de pedagogia - UFMA, pois

tem permitido aos agentes envolvidos (estagiários e bolsistas e comunidade escolar), estar

em contato com práticas de ensino-pesquisa-extensão, mas do que isso tem formado

profissionais reflexivos, com competência para enfrentar os problemas sociais aos quais irão

vivenciar (FORPROEX, 2010).

Assim, por meio das narrativas dos bolsistas buscamos entender, como a

indissociabilidade entre ensino, pesquisa e extensão, tem contribuído na formação desses

discentes. Para isso usamos alguns quadros para sistematizar as informações e falas dos

bolsistas. Entendemos que a fala desses agentes é suma importância para a compreensão

de como a indissociabilidade, contribuiu na formação inicial. No quadro 1, estão

caracterizados os bolsistas do PEL, bem como o tempo de permanência no projeto.

Bolsistas Permanência no PEL Posição no Campo Idade Gênero

B1 Seis semestres Bolsista 22 FemininoB2 Cinco semestres Bolsista/Estagiaria 23 Feminino

B3 Sete semestres Bolsista/Estagiaria 25 Feminino

B4 Quatro semestres Bolsista/Estagiário 27 MasculinoQuadro 1: Características dos discentes do curso de pedagogia participantes do PELFonte: Entrevista do Bolsista, 2014.

Os bolsistas analisados tinham entre 22 e 27 anos de idade, apenas um era do

sexo masculino. Os agentes B2, B3 e B4 atuaram como bolsistas e estagiários na escola

campo, já B1 atuou apenas bolsista no PEL. A permanência dos bolsistas nas atividades do

PEL variou entre quatro a sete semestres.

Fazer a entrevista com os bolsistas foi fundamental para conhecer o ponto de

vista de quem está em formação, de quem vivenciou os três momentos da aprendizagem no

campo acadêmico – ensino, pesquisa e extensão (GURGEL, 2013). Nesse sentido, deixá-

los narrar momentos vividos, possibilitou-os a compreender a si e aos outros a partir dos

momentos vividos (CUNHA, 1997).

Nessa perspectiva, era imprescindível saber quais eram as concepções dos

bolsistas antes das práticas de extensão universitária no PEL.

Bolsista Narrativa dos Bolsistas B1 Antes de entrar no Projeto Escola Laboratório – PEL, o meu entendimento sobre

alfabetização se limitava somente as teorias estudadas em sala de aula nas disciplinasde Fundamentos e Metodologias de Alfabetização e no Estágio em Docência dos AnosIniciais, a partir do momento que eu entrei no Projeto Escola Laboratório – PEL, pudeconhecer uma nova concepção, metodologia e visão sobre alfabetização ao desenvolvercom os alunos os Atos de Leitura Triangulada – ALT, ao me deparar com essa nova

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metodologia pude perceber que a alfabetização vai além de ensinar as letras do alfabetoé compreender que o aluno é o centro desse processo e que todas as atividades devemser realizadas tendo como principal objetivo o desenvolvimento cognitivo do mesmo.

B2 Entendia como um processo de apropriação da língua materna: escrita e leitura. Jádetinha de algumas concepções de alfabetização por conta, de já trabalhar com ensinodos primeiros anos e com a disciplina de alfabetização a experiência de alfabetizaralguém, essa experiência de ver a criança aprender a ler e participar desse processofortaleceu ainda mais a vontade de ser uma professora alfabetizadora.

B3 Apesar de está no curso de pedagogia há dois anos naquele momento , ainda não tinha acompreensão da importância do meu papel como docente na educação infantil e nasséries iniciais, ainda não me via como uma alfabetizadora em processo, nem entendia acomplexidade desse processo, sem falar que, foi nesse momento que tive o primeirocontanto com a disciplina de Alfabetização no curso, que considero tardio. Para falar comtoda sinceridade, não consigo me recordar de ter contato com essa palavra/termo oletramento, antes de conhecer a prof. Marise Marçalina, e logo em seguida, na disciplinacitada, no entanto, foi através dos estudos realizados no projeto e na monitoria que eupude me apropriar desse conhecimento tão importante para uma pedagoga.

B4 Meu conhecimento se limitava ao conhecimento acadêmico, e algumas teorizações demodo a ser trabalhado a partir da observação. Já inserido no Projeto, pude de fato fazerparte da alfabetização, estar presente na gênesis da leitura da primeira palavra por umacriança. A experiência aqui concretizada e não apenas teorizada. Você de fato não oestuda a fundo, pelo menos não o vi assim em meus anos na graduação.

Quadro 18: Narrativa dos bolsistas sobre as concepções de alfabetização e letramento antes dosatos de leitura triangulada.Fonte: Entrevista do Bolsista, 2014.

Na fala dos bolsistas percebemos a fragilidade do curso em relação à formação

inicial. Com excesso de B2, os demais só tiveram um saber fragmentado, onde foram

aprendidas teorias sem ligação com a prática.

A bolsista B1, por exemplo, afirma que seu entendimento “se limitava somente

as teorias estudadas em sala de aula nas disciplinas de Fundamentos e Metodologias de

Alfabetização”, somente após o contato com a extensão que compreendeu “que a

alfabetização vai além de ensinar as letras do alfabeto”. O contato com a prática segundo

Imbernón (2006) propicia uma formação reflexiva e contextualizada, capaz de intervir a si e

ao contexto que irá atuar.

Assim, na fala de B3 é percebível que o curso, ainda se dissocia de uma práxis

educativa, de uma formação reflexiva, pois como a discente salienta antes de estar em

contato como o PEL “ainda não tinha a compreensão da importância do papel como docente

na educação infantil e nas séries iniciais, ainda não me via como uma alfabetizadora, nem

entendia a complexidade desse processo”. Tal fato como destaca Freire (2011), minimiza o

processo criativo e crítico do futuro educador. Ou como destaca Fávero (2006), isso

impulsiona um saber descontextualizo e fragmentado na formação dos futuros professores.

O bolsista B4 também destaca que o seu "conhecimento se limitava ao

conhecimento acadêmico, e algumas teorizações de modo a ser trabalhado a partir da

observação", antes do PEL. Ele faz uma ressalva sobre o seu processo de formação

docente e conclui dizendo que não estudou de formar contextualizada as disciplinas. O que

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induz a dizer que o seu processo de formação não rompeu com as práticas tradicionais de

ensino (IMBERNÓN, 2006).

B2 ao contrário dos demais agentes teve inserido no seu currículo - pelo menos

no que diz respeito à disciplina fundamentos e metodologia da alfabetização - não apenas

as teorias mas a vivência prática dos processos de alfabetização. Podemos afirma que isso

implica em inovação pedagógica, pois vislumbrou mudanças qualitativas na formação do

discente, o que representa segundo Fino (2008) um posicionamento crítico em face das

práticas pedagógicas tradicionais.

No quadro a seguir os bolsistas destacaram sua experiência no PEL, bem como

as apropriações.

Bolsista Narrativa dos bolsistas B1 A minha experiência com o Projeto Escola Laboratório – PEL foi muito significativa, pois

no projeto eu pude ter uma aproximação maior com a realidade escolar através daescola, onde pude colocar em prática tudo aquilo já visto no curso de Pedagogia deforma, a aperfeiçoar algumas práticas, saberes e conhecimentos que vão dando sentidoa cada atitude desenvolvida nesse ambiente escolar. Com os Atos de Leitura Triangulada– ALT, desenvolvidos no Projeto Escola Laboratório – PEL, pude ser agente dessametodologia ao desenvolver com as crianças um processo de alfabetização e letramentoque permitiram aos alunos se desenvolverem cognitivamente ao participarem dos atos.Dessa forma, o Projeto Escola Laboratório – PEL foi lócus importantíssimo para a minhaformação acadêmica e profissional.

B2 A experiência no PEL, foi marcante porque além de mediar àquelas crianças ao mundoletrado, aprendi junto com elas. No processo de formação, participar do PEL valeu muitoa pena, ações que não entendia nos estudos sobre a escola, as dificuldades naaprendizagem da língua materna, comportamentos de alunos, dentre outros aprendiobservando a escola campo de desenvolvimento do PEL. Assim como, elaboração edesenvolvimento de projetos tanto para a escola, quanto para as dificuldades e melhorespráticas dentro de classe.

B3 Para mim foi a experiência mais importante vivida como docente em formação, a partirdo PEL, eu pude perceber a necessidade e importância de ser professora alfabetizadora ,como é essencial a extensão universitária na vida de uma estudante, a pesquisa comoferramenta de reflexão e expansão de olhares, eu aprendi a alargar meu olhar para asrealidades vividas na escola, fazer leituras de comportamento e atitudes referentes aosagentes envolvidos na dinâmica escolar, são tantos os ensinamentos que me forampassados, mas principalmente a ter um novo olhar quanto a criança, ao ser humano.

B4 Uma experiência enriquecedora sem dúvida. Pude aprender de fato sobre como fazerextensão universitária. A tarefa do professor alfabetizador, lutas, preocupações, anseios.Vislumbrar a felicidade daqueles que conseguiram, a partir de um esforço conjunto égratificante. O projeto forneceu saberes e aprendizados, que antes não imaginaria viver.

Quadro 2: Narrativa dos Bolsistas sobre a experiência no PELFonte: Entrevista do Bolsista, 2014.

Formar-se professor requer conhecimento teórico-prático. Isso proporcionará

aos futuros profissionais uma dimensão da situação e dos problemas com os quais irá atuar.

Nesse sentido percebemos a importância dos ALT na formação dos bolsistas, as suas falas

revelam que serão capazes de intervir nos problemas existentes no ambiente escolar. Isso

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foi possível, pois o ambiente foi favorável para as apropriações dos saberes docente, e

realizou-se em um lugar real, com situações reais (ROSA, 2010).

Nesse sentido, o PEL tem trabalhado com uma extensão que não está

desvinculado do ensino e nem da pesquisa. Isso tem propiciado aos bolsistas/estagiários

concretizar sua formação inicial na experiência.

A bolsista B1 conta que por meio do PEL, pode “ter uma aproximação maior com

a realidade escolar [...] aperfeiçoar algumas práticas, saberes e conhecimentos que vão

dando sentido a cada atitude desenvolvida nesse ambiente escolar” e finaliza afirmando que

o projeto “foi lócus importantíssimo para a minha formação acadêmica e profissional”. B2

relata que o projeto “foi marcante porque além de mediar àquelas crianças ao mundo

letrado, aprendi junto com elas”, ela ainda relata que aprendeu a importância da escuta no

processo de ensino-aprendizagem o que permeou entender a escola nos diversos campos,

antes aprendidos somente na teorização da pela universidade.

A B3 narra que com o projeto percebeu “a necessidade e importância de ser

professora alfabetizadora". Ela também relata o quanto é necessário “a extensão

universitária na vida de uma estudante, a pesquisa como ferramenta de reflexão e expansão

de olhares”. Já o bolsista B4 inicia narrando que o PEL é uma “experiência enriquecedora”,

que lá aprendeu o que é extensão, a fazer extensão e principalmente aprendeu “a tarefa do

professor alfabetizador”.

O PEL como pode se perceber é o lugar das apropriações do saber docente, da

formação do professor alfabetizador é o lugar da inovação pedagógica. O lugar que mobiliza

saberes.

Tal fato, entra em conformidade com a fala de Rosa (2014) i, quando relata que o

PEL, tem um embrião do que possa ser uma “residência pedagógica”. Podemos perceber

através das falas dos bolsistas que o projeto tem sim se configurado e se renovado no que

se refere a ser uma residência pedagógica. Um dos fatores mais relevantes para afirma a

fala da coordenadora é quanto ao que os bolsistas narraram, sobre a importância de se

formar professor alfabetizador. Isso se constitui relevante em meio a uma estatística

vergonhosa, onde apenas 37% das nossas crianças aprendem a ler e escrever, segundo

dados da provinha Brasil (2014).

Neste sentido, com base nas narrativas dos bolsistas e estagiários participantes

das atividades de ensino, pesquisa e extensão da UFMA, por meio do Projeto Escola

Laboratório a formação inicial ligada ao tripé da universidade, se configura como elemento a

mais que proporciona uma formação solidados conhecimentos teórico-práticos, tendo uma

visão critica que dialoga com a prática social, as necessidades da escola e dos educandos

em processo de alfabetização.

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5 CONCLUSÃO

Ao iniciar tratando da extensão universitária compreendemos que ela é um

elemento essencial na formação dos futuros professores, pois mobiliza saberes essenciais

para as práticas pedagógicas futuras. Além disso, quando inserida como prática curricular,

favorece a formação de professores reflexivos, autônomos e cidadãos.

O presente artigo objetivou analisar as contribuições dos processos de ensino,

pesquisa e extensão universitária na formação inicial de professores alfabetizadores do

curso de pedagogia e por meio das narrativas dos bolsistas do projeto de extensão escola

laboratório a importância das práticas inovadoras do projeto escola laboratório na

construção da docência.

Nesse sentido, analisamos que a extensão é um elemento essencial na

formação dos futuros professores, pois mobiliza saberes essenciais para as práticas

pedagógicas futuras. Além disso, quando inserida como prática curricular, favorece a

formação de professores reflexivos, autônomos e cidadãos.

A partir das reflexões da formação de professores alfabetizadores articulado à

extensão, percebemos que, os estagiários extensionistas, além de ensinarem, aprenderam

e desenvolveram novas habilidades. Foram construídos novos saberes por meio deste

processo, em sua maioria conseguiram compreender a ação pedagógica dos ALT, como um

referencial de atividade no processo de aquisição da linguagem escrita.

Nesse sentido, sugerimos que os discentes dos cursos de formação de

professores sejam inseridos desde o primeiro período a práticas de ensino-pesquisa-

extensão, para que consigam relacionar as teorias aprendidas ao contexto que irão atuar.

Como foi perceptível ao longo da pesquisa e o PEL da Universidade Federal do Maranhão,

vem formando profissionais qualificados para atender as demandas sociais vigentes.

Portanto, podemos concluir que a história de indissociabilidade entre ensino,

pesquisa e extensão no PEL, foi o que corroborou para sistematização dos ALT que se

consubstancia como inovação pedagógica, ao propiciar que meninos e meninas em situação

vulnerabilidade social se apropriassem da leitura e da escrita, ao mesmo passo que os

futuros professores fossem envolvidos em uma experiência concreta “que colabora para a

estética de um habitus professoral” (ROSA, 2010, p. 13). Ou seja, permitindo que os

bolsistas construam e ressignifiquem saberes e metodologias.

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i Rosa (2014), refere-se a entrevista feita para o presente estudo