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Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011 1 A representação de Santa Teresa D’Ávila como símbolo de devoção e poder das Ordens Terceiras do Carmo no Brasil Roberta Bacellar ORAZEM Universidade Federal de Sergipe [email protected] Resumo: Santa Teresa D‟Ávila (1515-1582) é uma das mais importantes figuras femininas do período contrarreformista da Igreja Católica, não somente em países europeus como Espanha e Portugal, como também na América, África e Ásia. Teresa esteve à frente da reforma espiritual e política da Igreja e teve apoio de políticos e religiosos influentes de sua época. Esta atitude repercutiu de tal maneira que, logo após sua morte, sua fama se espalhou rapidamente, não só entre os religiosos e leigos carmelitas descalços da Espanha, mas entre os fieis de vários locais e devotos de distintas ordens religiosas do mundo católico. As pesquisas revelam que a devoção à Santa de Castela ocorreu em meio aos nobres, religiosos e políticos, mas também entre a população mais humilde na Península Ibérica e além-mar. No Brasil, a devoção a Santa Teresa D‟Ávila surgiu a partir do século XVII, proveniente de Portugal, através dos religiosos carmelitas descalços e dos fieis abastados que faziam parte das irmandades de leigos carmelitas. Estas, por sua vez, eram chamadas de Venerável Ordem Terceira do Carmo, e foram implantadas em quase todo o litoral do Brasil, anexas às igrejas dos carmelitas calçados. Essas instituições congregavam obrigatoriamente pessoas brancas, abastadas e de pureza de sangue, formando uma elite local. Nas igrejas da Ordem Terceira do Carmo no Brasil colonial, a representação de Santa Teresa D‟Ávila foi divulgada através da arte sacra. Esta, patrocinada pelos leigos carmelitas, teve como referência as gravuras da Santa produzidas na Europa, que foram adquiridas por intermédio dos comerciantes locais. O repertório artístico, produzido nos interiores daquelas igrejas, não foi somente um forte símbolo de devoção laica, mas também representava o poder dessas elites locais. Palavras-chave: Santa Teresa D‟Ávila; Ordem Terceira do Carmo; arte sacra; elites locais.

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Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011 1

A representação de Santa Teresa D’Ávila como símbolo de devoção e poder

das Ordens Terceiras do Carmo no Brasil

Roberta Bacellar ORAZEM

Universidade Federal de Sergipe

[email protected]

Resumo:

Santa Teresa D‟Ávila (1515-1582) é uma das mais importantes figuras femininas do

período contrarreformista da Igreja Católica, não somente em países europeus como Espanha

e Portugal, como também na América, África e Ásia. Teresa esteve à frente da reforma

espiritual e política da Igreja e teve apoio de políticos e religiosos influentes de sua época.

Esta atitude repercutiu de tal maneira que, logo após sua morte, sua fama se espalhou

rapidamente, não só entre os religiosos e leigos carmelitas descalços da Espanha, mas entre os

fieis de vários locais e devotos de distintas ordens religiosas do mundo católico. As pesquisas

revelam que a devoção à Santa de Castela ocorreu em meio aos nobres, religiosos e políticos,

mas também entre a população mais humilde na Península Ibérica e além-mar. No Brasil, a

devoção a Santa Teresa D‟Ávila surgiu a partir do século XVII, proveniente de Portugal,

através dos religiosos carmelitas descalços e dos fieis abastados que faziam parte das

irmandades de leigos carmelitas. Estas, por sua vez, eram chamadas de Venerável Ordem

Terceira do Carmo, e foram implantadas em quase todo o litoral do Brasil, anexas às igrejas

dos carmelitas calçados. Essas instituições congregavam obrigatoriamente pessoas brancas,

abastadas e de pureza de sangue, formando uma elite local. Nas igrejas da Ordem Terceira do

Carmo no Brasil colonial, a representação de Santa Teresa D‟Ávila foi divulgada através da

arte sacra. Esta, patrocinada pelos leigos carmelitas, teve como referência as gravuras da

Santa produzidas na Europa, que foram adquiridas por intermédio dos comerciantes locais. O

repertório artístico, produzido nos interiores daquelas igrejas, não foi somente um forte

símbolo de devoção laica, mas também representava o poder dessas elites locais.

Palavras-chave: Santa Teresa D‟Ávila; Ordem Terceira do Carmo; arte sacra; elites

locais.

Roberta Bacellar Orazem

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Abstract:

Saint Teresa D‟Ávila is one of the most important female figures of the Catholic

Church´s counter reformist period, not only in European countries such as Spain and Portugal

but also in other conquered continents, such as America, Africa and Asia. Teresa led the

spiritual and political reformation of the Church, gaining support from politicians and influent

religious men of her time. Her attitude has so strong repercussion that, just after her death, her

fame spread rapidly, not only among the religious community and the Shoeless Carmelites but

also among the devoted people from several religious Orders belonging to the Catholic world.

Researches show that the devotion towards the Saint of Castell occurred mainly among the

nobility, religious communities and politicians, as well as among the humblest people from

the Iberian peninsula and overseas. In Brazil, devotion towards Saint Teresa D‟Ávila

appeared from the XVII century on, coming from Portugal, through the Shoeless Carmelites

and also through the wealthy believers who took part in the fraternities of Carmelite laymen.

Those fraternities were named Venerable Third Orders of Carmo and were formed along

almost all the Brazilian coast, nearby the Carmelite Churches. Those institutions mandatorily

gathered white, wealthy and royal blood people, creating a local elite. During the colonial era

in Brazil, the representation of Saint Teresa D‟Ávila in the churches of the Third Order of

Carmo was propagated through the sacred art. This art was sponsored by the Carmelite

laymen, having as a reference the Saint‟s engravings produced in Europe, acquired by the

local traders. The artistic repertoire, produced in those churches interiors, was not only a

massive symbol of laic devotion, but represented the local elites power as well.

Keywords: Saint Teresa D´Ávila; Third Order of Carmo; sacred art; local elite.

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1. A influência de Santa Teresa D’Ávila na Idade Moderna

Santa Teresa D‟Ávila ou de Jesus1 é uma das mais importantes figuras femininas do

período contrarreformista da Igreja Católica, sua fama foi disseminada não somente pela

Espanha, mas em Portugal, e demais territórios como América, África e Ásia. Na Idade

Moderna, a imagem de Teresa formou-se a partir de um forte modelo de santidade moldado

por ela e pelas pessoas que com ela conviveram, sendo apropriado pela Igreja e pelos fieis ao

longo dos anos. Logo após a sua morte, sua imagem se espalha rapidamente, não só entre os

religiosos e leigos da Espanha, mas entre os devotos de vários locais do mundo católico.

Segundo Borges (2005), essa influência da Santa, que vai surgir até mesmo além-mar,

não é mero acaso, já que foi uma atitude da época enfatizar e divulgar o modelo de santidade

como exemplo, sendo priorizado no governo de Felipe II2 em Espanha e Portugal. “Não foi

por coincidência que surgiram tantas figuras vistas como Santas num mesmo período, São

Pedro de Alcântara,3

Teresa D‟Ávila, São João da Cruz,4 também elas influenciadas pela

geração anterior, onde pontificaram nomes como São João de Ávila,5 São Francisco Xavier,

6

Santo Ignácio de Loyola7 e Santo Tomás de Villanueva

8.” (BORGES, 2005, p.2).

Para termos uma noção da importância de Santa Teresa de Jesus, cabe ilustrarmos

alguns acontecimentos que marcaram a sua trajetória de vida e após sua morte. Teresa nasceu

no ano de 1515, na região de Ávila, na Espanha. A família de Teresa era abastada, com título

1 Teresa de Cepeda e Ahumada nasceu na cidade de Gotarrendura, região da província de Ávila, Espanha, em 28

de março de 1515; e morreu na cidade de Alba de Tormes, região da província de Salamanca, Espanha, em 4 de

outubro de 1582. 2 Nascimento em Valladolid, Espanha, em 21 de maio de 1527; e morte em Madrid, Espanha, em 13 de setembro

de 1598. Felipe II da Espanha (também conhecido como Felipe I de Portugal a partir da União Ibérica em 1580)

foi um dos reis mais católicos e influentes da época, que manteve muitos territórios com a política absolutista e

as ideias contrarreformistas, com o objetivo de conter a expansão do protestantismo. 3 Nascimento na cidade de Alcántara, região de Extremadura, Espanha, em 1499; e morte em Arenas de San

Pedro, região de Castela e León, Espanha, em 18 de outubro de 1562. 4 João de Yepes nasceu na região de Fontiveros, região da província de Ávila, Espanha, em 24 de junho de 1542;

e morreu na cidade de Úbeda, região da província de Jaén, Espanha, em 14 de dezembro de 1591. Carmelita

seguidor que defendeu a Contrarreforma no século XVII. Companheiro de Teresa D‟Ávila junto a reforma

ocorrida no mesmo período dentro da Ordem do Carmo, que impulsionou a divisão entre os carmelitas da Antiga

Observância e a nova ordem dos carmelitas descalços. O Frade João da Cruz foi responsável pela fundação dos

conventos dos carmelitas descalços masculinos no reino católico ibérico. 5 Nascimento na cidade de Almodóvar del Campo, região de Cidade Real, Espanha, no ano 6 de janeiro de 1500;

e morte na cidade de Montilla, Espanha, em 10 de maio de 1569. Sacerdote espanhol e participante da

Contrarreforma, teve contato com os jesuítas e com Felipe II da Espanha. 6 Nascimento na cidade de Xavier, Espanha, em 7 de abril de 1506; e morte na ilha de Shangchuan, China, em 3

de dezembro de 1552. Jesuíta militante da contrarreforma. 7 Nascimento na cidade de Azpeitia, Espanha, no ano 31 de maio de 1491; e morte em Roma, Itália, em 31 de

julho de 1556. Fundador da Companhia de Jesus, um dos nomes mais influentes dentro da Igreja

contrarreformista. 8 Nascimento na cidade de Fuenllana, região de Cidade Real, Espanha, em 1488; e morte na cidade de Valência,

Espanha, em 9 de setembro de 1555. Frei Agostiniano, influente no reino espanhol, foi confessor do rei Carlos I,

rei que foi antecessor de Felipe II.

Roberta Bacellar Orazem

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de nobreza, sendo assim, teve uma educação privilegiada em relação às mulheres da época,

além de poder ter contato com as pessoas mais influentes da Espanha.

Aos vinte e um anos de idade, Teresa entrou para o convento das carmelitas da

Encarnação da cidade de Ávila e por vinte e sete anos viveu como freira nesse local.

Teresa teve muitos mentores espirituais e a maioria não era carmelita, além de um

padre dominicano, que foi o confessor de seu pai por muitos anos, existiram outros religiosos

presentes na vida da religiosa. A freira aproximou-se, principalmente, dos padres jesuítas, mas

também dos franciscanos, agostinianos, entre outros. O franciscano São Pedro de Alcântara

foi um dos seus mais estimados confessores e incentivadores na reforma do Carmo.9 Em vida,

esses religiosos aconselharam Teresa e, com a sua morte, alguns deles revelaram e

defenderam a sua santidade. Os religiosos ajudaram Teresa a se aprofundar mais nos estudos

da mística10

, a se aproximar e praticar as ideias contrarreformistas e a realizar mudanças

dentro da Ordem do Carmo.

Durante a sua vida como religiosa, Teresa teve uma vasta produção literária, pois foi

letrada e educadora de religiosas, uma figura importante no contexto de sua época. Teresa de

Jesus escreveu quatro grandes obras que, em ordem cronológica e com seus títulos traduzidos

para o português, são: “„Livro da Vida‟ (1562, primeira redação; 1565, segunda redação),

„Caminho de Perfeição‟ (1566, duas redações: manuscritos do Escorial e de Valladolid. Ainda

existem cópias manuscritas em Madri, em Salamanca e em Toledo), „Castelo Interior ou

Moradas‟ (1577) e o „Livro das Fundações‟ (escrito desde 1573 até 1582, pouco antes de sua

morte). Também são de sua autoria: „Relações Espirituais‟, „Conceitos do Amor de Deus‟,

„Exclamações da Alma a Deus‟, „Constituições‟, „Modo de Visitar os Conventos‟, „Certame‟,

„Resposta a um Desafio Espiritual‟.” (SANTOS, 2006, p.20).

Na época, Teresa foi perseguida pela Inquisição, em decorrência principalmente da

divulgação das cópias dos manuscritos de seus livros. Sobre as acusações inquisitoriais,

alguns religiosos de diversas ordens religiosas tomaram a sua defesa.

Em sua produção literária, é percebida uma linguagem simples, que os pesquisadores

consideram atingir as camadas mais populares da sociedade. Além disso, sua linguagem

9 A partir da segunda metade do século XVII, Teresa reformou a ordem religiosa dos carmelitas, formando uma

nova vertente para a Ordem, os carmelitas descalços, fundando conventos, junto a São João da Cruz, no reino

católico ibérico. 10

“Os místicos são os que atestam que Deus é visível já agora pela fé ou em visão. Ver Deus é dar-se conta de

que ele existe e de que, como no caso de Agostinho, é inútil procurá-lo fora de si, porque ele está no íntimo do

homem mais do que o próprio homem. Por isso a história da mística, isto é, daquela experiência que se faz no

plano sobrenatural e nas profundezas misteriosas do encontro homem-Deus, só pode ser a tentativa de apreender

a experiência que, ao longo dos séculos, o homem fez dessa presença misteriosa e, no entanto, clara, secreta, mas

também luminosa.” (BORRIELLO, 2003, p.706).

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tratava de assuntos relacionados à mística, tema de grande interesse entre os devotos católicos

durante a contrarreforma. Esses foram alguns dos motivos de suas obras terem sido tão

rapidamente difundidas na época, além de permanecerem tão famosas até hoje.

Em Alba de Tormes, Espanha, morreu Santa Teresa de Jesus no dia 4 de outubro de

1582. Como tradição religiosa da época, realizada em pessoas importantes, o seu corpo foi

mutilado e dividido em partes que foram entregues como relíquias e preservadas em

conventos e castelos do reino espanhol e português.

Após sua morte, alguns religiosos e influentes nobres da sociedade espanhola

apelaram para a sua beatificação (concedida em 1614) e canonização (concedida em 1622)

pela Igreja Católica.

Vale ressaltar que a sua santidade foi rapidamente aceita pela Igreja, fato curioso por

se tratar de uma mulher11

e uma vez que foi canonizada no mesmo processo de figuras de

destaque para a época como Santo Inácio de Loyola e São Francisco Xavier, além de São

Isidro Labrador12

e São Felipe Neri.13

Seus livros foram publicados na Europa e divulgados por todos os locais onde

dominava o pensamento católico. Alguns carmelitas descalços também trataram de

disseminar a sua santidade, além de fundar rapidamente conventos em diversos locais dentro

ou fora do reino espanhol, como em Portugal e Países Baixos.

Logo após sua morte, existiram pelo menos quatro biógrafos, religiosos de variadas

ordens religiosas da Espanha, que exaltaram a santidade de Teresa em biografias completas,

principalmente para impulsionar o seu processo de beatificação, são eles: Padre Francisco de

11

A mentalidade da época tratava as mulheres como fracas e enganadoras. Em seu trabalho, Cammarata (1992)

demonstra a restrita condição da mulher na época moderna, onde o autor diz que, dentre vários casos, a mulher

era relegada aos serviços domésticos, e, em outro caso, aquelas que quisessem exercer o sacerdócio, mas que

possuíssem uma postura fraca, mandava-se que fossem excluídas junto aos “hermafroditas, monstros e

dementes”. O autor demonstra que o discurso místico foi bem apropriado por Teresa, já que, na época, foi o

único onde uma mulher atuou e falou de uma maneira pública. Assim, a monja utilizou de estratégias de

submissão e uso de linguagem íntima que elevou seu exemplo de santidade: “Os argumentos intelectuais dos

eruditos sobre a deficiência natural feminina justificam a exclusão da mulher da hierarquia eclesiástica e da

educação teológica. [...] Ao escrever a partir de uma posição de exclusão cultural, Santa Teresa de Ávila (1515-

82) tem que adaptar o discurso tradicionalmente masculino à articulação do desejo feminino para poder definir

sua totalidade de prazer ou êxtase [...].” (CAMMARATA, 1992, p.58). [“Los argumentos intelectuales de los

eruditos sobre la deficiencia natural femenina justifican la exclusión de la mujer de la jerarquía eclesiástica y de

la educación teológica. [...] Al escribir desde una posición de exclusión cultural, Santa Teresa de Ávila (1515-82)

tiene que adaptar el discurso tradicionalmente masculino a la articulación del deseo femenino para poder definir

su totalidad de placer o éxtasis [...].” (CAMMARATA, 1992, p.58).]. 12

Nascimento em Madrid, Espanha, no ano de 1080; e morte no dia 30 de novembro de 1172. Conhecido santo

espanhol da Idade Média, que viveu como lavrador e teve muitas visões místicas. 13

Nascimento em Florença, Itália, no dia 22 de julho de 1515; e morte no dia 26 de maio de 1595. Considerado

Apóstolo de Roma e fundador da Congregação do Oratório.

Roberta Bacellar Orazem

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Ribera, da Companhia de Jesus; Frei Diego de Yepes, da ordem de São Jerônimo; Frei Luis

de León, da ordem de São Agostinho; e Julian de Ávila, dos carmelitas descalços.

Nesse contexto, o que também colaborou para a rápida divulgação de sua santidade,

no mundo católico contrarreformista, foi, principalmente, a disseminação de gravuras que

contavam as narrativas de sua vida através de imagens. Essa prática de divulgar a história de

santos em estampas e, posteriormente, adaptar essas imagens para outro suporte artístico

como a pintura, é uma tradição medieval que foi reforçada com o Concílio de Trento,14

fazendo com que o religioso e o fiel utilizassem a arte como ferramenta didática para

transmitir, enfatizar ou impor a doutrina católica. As gravuras foram um material de grande

acessibilidade na época, facilitando a divulgação de seu modelo de santidade e a reprodução

de obras de artes pelos artistas da Idade Moderna até os dias atuais.

A própria Teresa de Jesus vivenciou essa cultura visual, com a prática de culto e uso

das imagens em seu cotidiano. No trabalho de Gutiérrez (2006), são analisados os conceitos

de devoção e imagem de culto nos templos da contrarreforma a partir de exemplos na vida de

Santa Teresa de Jesus, demonstrando a forte intimidade dos católicos, leigos e religiosos com

o universo das imagens.

Após sua morte, o modelo de santidade teresiano também é divulgado no mundo

católico através de gravuras, nesse caso, as suas imagens foram feitas a partir de seus escritos,

refletindo, principalmente, as suas cenas de êxtase ou visões místicas.15

Uma das hagiografias oficiais de Santa Teresa D‟Ávila mais divulgada foi realizada

em 1613 por dois gravadores dos Países Baixos, Cornelius Galle (1576-1650) e Adrian

Collaert (1560-1618), renomados artistas flamengos. De acordo com Sebastián (1989, p.244),

a encomenda da série foi solicitada pela carmelita descalça Ana de Jesus.

A questão é reforçada tendo em vista que sua imagem e fama percorreram entre

nobres, religiosos, políticos e população mais humilde. Existem alguns exemplos, do início do

século XVII, expostos no trabalho de Martín (2008) sobre “Santidade, devoção e arte através

de quatro referências a estampas de Santa Teresa de Jesus, anos 1609-1615”.16

O autor

explica como a imagem de um santo, neste caso Santa Teresa, constitui-se em um meio

fundamental de devoção presente em todos os âmbitos da sociedade espanhola e localizados

14

O Concílio de Trento aconteceu entre 1545-1563, sendo o 19º concílio ecumênico da Igreja Católica, onde o

principal objetivo foi criar estratégias que controlassem o avanço da Reforma Protestante. É um dos três

concílios fundamentais da Igreja, onde foram geradas as leis tridentinas, ou leis contrarreformistas, aplicadas por

muitos anos, do século XVI até o início do século XX. 15

Berbara (2009, p.8) afirma que são citados cerca de quinhentos milagres em seu processo de canonização e a

maioria está representada em sua hagiografia. 16

“Santidad, devoción y arte a través de cuatro referencias a estampas de Santa Teresa de Jesús, años 1609-

1615”.

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em diferentes tipos de documentos do início do século XVII. O autor destaca a produção de

gravuras da monja carmelita, tanto populares, de fácil acesso aos devotos menos abastados,

quanto oficiais, de circulação entre a classe mais abastada e entre os religiosos.

Sendo assim, a imagem popular da Santa mística se disseminou por toda a Espanha e

Portugal a partir do século XVII. Nesse mesmo período, com a chegada das ordens religiosas

ao Brasil, os ideais de Santa Teresa D‟Ávila chegaram às Américas, através dos conventos de

carmelitas descalços e de associações de leigos devotos à Santa.

Dentro do universo feminino religioso, ou seja, nos conventos femininos carmelitas e

de outras ordens religiosas, algumas historiadoras como Borges (2007, 2005, 2004), Algranti

(1993 e 2004) e Gonçalves (2005) retratam a influência de Santa Teresa de Jesus em Portugal,

no Brasil e nas Índias. As autoras registram que, até o século XIX, Teresa foi um exemplo de

santidade para muitas religiosas que leram seu Livro da Vida, chegando até ao ponto de ter

atitudes e comportamentos idênticos aos da Santa, como o misticismo na prática das visões e

êxtases.

Durante todo o período colonial no Brasil, o seu exemplo de vida repercutiu em meio à

sua devoção entre os leigos carmelitas, onde é notável a representação imagética da Santa em

todas as igrejas da Ordem Terceira do Carmo no Brasil. Além da divulgação da religiosa nas

duas igrejas masculinas do Carmelo descalço no Brasil nas regiões de Salvador/Bahia e

Olinda/Pernambuco.

2. As igrejas da Ordem Terceira do Carmo no Brasil: locais de culto e de poder

As associações de leigos, obedientes e que não, necessariamente, precisassem seguir

os votos de castidade foi confirmada pela bula Dum Tenta de Sixto IV,17

promulgada em

1476. A importância das associações laicas para as ordens religiosas foi a fidelidade da

doação e manutenção e divulgação das atividades da Igreja. Por sua vez, os leigos obtinham

uma ascensão social e maior participação em assuntos diretos relacionados ao estado.

As instituições religiosas de leigos foram fortes expressões de organizações sociais,

símbolos de identidade e de prestígio para os diversos grupos no período colonial no Brasil,

sejam eles de brancos, pretos, pardos, artífices, comerciantes, marinheiros, entre outros.

A ordem terceira veio com as ordens religiosas e se fixou por volta do século XVII no

Brasil. Em Portugal, a fundação da Ordem Terceira do Carmo ocorreu em 1629, na cidade de

17

211º Papa – período de seu pontificado de 1471 a 1484.

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Lisboa, logo, no Brasil, foi instalada a primeira associação de terceiros carmelitas na cidade

de Salvador em 19 de outubro de 1636.

No Brasil, onde se erguiam igrejas da ordem primeira dos religiosos carmelitas

calçados, concomitantemente, edificava-se uma igreja da Ordem Terceira. No início, as

ordens terceiras do Carmo foram instaladas dentro das igrejas conventuais, porém, por

diversos motivos, os leigos construíram igrejas próprias, em grande maioria, anexas àquelas.

Raros são os casos onde a associação de leigos carmelitas não construiu a sua própria igreja,

já que a Ordem Terceira do Carmo foi formada por pessoas de destaque social, brancas e

abastadas no período colonial.

Dentro da hierarquia das irmandades de leigos, as Ordens Terceiras foram as mais

importantes, junto com a Ordem Terceira de São Francisco e de São Domingos. A Ordem

Terceira do Carmo foi uma instituição que atuou principalmente como uma organização

social de brancos e de pureza de sangue,18

símbolos de poder no período colonial. Portanto, a

Ordem Terceira do Carmo foi uma irmandade onde se associavam as pessoas mais

importantes da região, ou seja, funcionários públicos, donos de engenho, comerciantes, entre

outros. Alguns pesquisadores como Russel-Wood (1970) afirmam que a profissão da maioria

dos irmãos da Ordem Terceira foi de negociantes, latifundiários que trocavam seus produtos

por mercadorias.19

As cifras apresentadas, que provam a existência de lucros consideráveis e riquezas nas diversas

instâncias da economia colonial, como a agricultura açucareira, o tabaco, ouro, comércio de

escravos, e outras formas econômicas, é uma realidade incontestável. Os meios que propiciaram

a produção daqueles bens, como em toda a parte, estiveram sempre nas mãos da minoria:

senhores de terras, comerciantes, o alto clero (bem remunerado e também proprietário), altos

funcionários da Coroa, minoria detentora de inúmeros privilégios, desde os primeiros anos do

descobrimento – os portugueses de origem pequeno-fidalga e de raça branca. Senhores que

agregavam socialmente na Santa Casa de Misericórdia, Ordem Terceira do Carmo, São

Domingos e São Francisco de Assis, preferencialmente. (CASIMIRO, 1996, p.38).

No Estatuto da Ordem Terceira do Carmo de Cachoeira de 1915, localizado no

Arquivo do Carmo de Belo Horizonte, constata-se que a tradição colonial de organização de

18

Esse termo era comum no período colonial representando pessoas que tinham um histórico familiar impecável

para as exigências da época, ou seja, que não tivessem descendência moura, judaica, negra ou indígena, qualquer

„raça infecta‟. 19

“Enquanto a Ordem Terceira de São Francisco podia contar entre os sócios os intelectuais e a flor da nata da

sociedade baiana, a Ordem Terceira do Carmo exercia maior atração para os negociantes.” (RUSSEL-WOOD,

1970, p.193).

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leigos se manteve por muito tempo, um exemplo disso aparece registrado no primeiro artigo,

onde diz:

A Venerável Ordem Terceira de Nossa Senhora do Monte do Carmo, fundada nesta cidade em

1691, continua a ser a corporação religiosa de fiéis catholicos de um e outro sexo, que, para

melhor promover a salvação eterna de sua alma, colocam-se sob a poderosa proteção de Nossa

Senhora do Carmo, abraçando e praticando a regra da preclara Ordem Carmelitana adaptada às

pessoas seculares, para norma dos superiores hierarchicos autorizados pela Santa Sé Apostólica.

(ACBH, ESTATUTO..., 1915, p.1).

Mais adiante, no capítulo dois, são percebidas as exigências para ser irmão de uma

Ordem Terceira do Carmo, onde se trata dos irmãos, suas admissões, profissão e obrigações,

no artigo quarto, os incisos primeiro ao sétimo relatam que:

Para ser irmão é preciso: professar a Religião Catholica Romana; ser maior de quatorze annos de

edade e de cor branca; Ser de reconhecida conducta moral e religiosa e viver honestamente de

algum emprego, officio, industria ou renda; não ter sido condemnado por delicto infamante nem

expulso de alguma corporação religiosa de seculares, salvo provando sua reabilitação; ser

aprovado pela mesa, mediante requerimento, proposta e rigorosa syndicancia e com voto

decisivo do rvmo. Padre comissário sob fé religiosa e costumes do apresentado; pagar a joia que

fôr estabelecida no Regulamento, e si não puder pagar, só gosará dos benefícios espirituaes, não

podendo nunca gosar das regalias temporaes sem que preceda nova aprovação da mesa; receber

o hábito com as formalidades do Ritual Carmelitano. (ACBH, ESTATUTO..., 1915, p.1).

Dentro da Ordem Terceira do Carmo, a organização era feita por uma Mesa onde

existiam as funções de cada irmão, com cargos eleitos anualmente. Aos membros da Mesa,

eram atribuídas todas as decisões, todos que entravam na irmandade pagavam joias (um valor

pré-estabelecido) para exercer os cargos, cabia aos homens tomarem as mais importantes

decisões de voto. A entrada de leigos nessas instituições tinha um preço alto financeiramente

e lhes proporcionava status social.

Na sociedade colonial, as irmandades laicas serviram como um sistema integrador da

política de Portugal, junto a um controle da igreja para com os associados, e muitas vezes

foram instituições que conseguiram grande autonomia econômica e política. As ordens

terceiras foram responsáveis até pela organização de festas religiosas e pomposas, e pela

encomenda da alma dos fiéis, construção e manutenção dos mais importantes cemitérios da

época e da celebração de missas anuais para a alma dos mortos.

Roberta Bacellar Orazem

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Além de todas as atividades citadas, foi papel das Ordens Terceiras, já que cada uma

delas erguia sua própria igreja, a construção e decoração dos seus templos. Aos leigos filiados

a uma irmandade, através da Mesa, cabiam as decisões de contratar os profissionais, ou seja,

os oficiais mecânicos20

para a elaboração de um plano arquitetônico, fazendo parte deste a

fachada da igreja, a planta, os altares, as pinturas, entre outras obras artísticas.

Os irmãos leigos impunham ao artesão seguir um plano arquitetônico ou iconográfico

específico, baseados nas leis da Igreja, nos gostos pessoais de cada irmandade e de acordo

com o que estilo artístico vigente, tanto para a escolha dos temas religiosos como dos manuais

de arquiteturas e artes que seriam seguidos.

A grande maioria das obras, mesmo religiosas, era executada dentro de um programa imposto

aos artistas pelas organizações religiosas que as encomendavam, ainda que os contratos não

fizessem menção a programa a ser considerado pelo pintor. Assim também acontecia na Europa:

as autoridades eclesiásticas é que definiam o programa a ser executado. É possível que uma vez

ou outra um artista tenha escolhido livremente o tema e a forma de sua obra, sobretudo quando

se tratava de doação de artista em cumprimento de promessa [...]. (D‟ARAÚJO, 2000, p.98).

A respeito dessa conduta laica que repercutiu no Brasil, baseada em uma mentalidade

contrarreformista europeia católica, Pifano (2007, p.514) explica:

[...] orientados por um claro desejo de utilizar a arte com fim propagandístico, moralizador e

didático para o quê se tornava indispensável favorecer um estilo (embora não uniforme) que

fosse de fácil compreensão e acessível ao maior número de crentes. Daí as palavras-chave das

recomendações se tornem „clareza‟, „simplicidade‟ e „inteligibilidade‟. Como diz Gilio da

Fabriano: „Uma coisa é bela na medida em que for clara e evidente‟. Nos Atos do Concílio lê-se:

„Não será erguida nenhuma imagem que sugira falsa doutrina ou que possa propiciar uma

ocasião de erro perigoso ao ignorante‟.

Ao se expor as funções de uma irmandade de leigos, percebemos o significativo papel

de destaque que as ordens terceiras exerceram na sociedade colonial. Foi principalmente essa

sociedade laica abastada, detentora de poder, que, essencialmente, manteve o sistema colonial

20

Nome dado ao profissional no período colonial no Brasil, que realizava serviços de oficina, sendo essas

ligadas à tradição medieval de grupos de ofícios, onde os profissionais se uniam e se dividiam em categorias de

acordo com a função. Cabe ressaltar que essas atividades no Brasil eram consideradas inferiores e eram

geralmente realizadas por pessoas de cor, pardos ou negros, pois a mentalidade colonial repugnava o trabalho ou

o esforço físico. “[...] Verificava-se que a aspiração de todos, segundo os viajantes, era transformar-se em

militares, sacerdotes, profissionais liberais, como médicos e advogados, além de funcionários públicos, tendo em

conta que, para a mentalidade de então, era considerado degradante exercer algum ofício no qual fosse

necessário empregar esforço físico.” (CAMPOS, 2003, p.101).

A representação de Santa Teresa D‟Ávila como símbolo de devoção e poder das Ordens Terceiras do Carmo no Brasil

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e colaborou com a ligação entre a Igreja e o Estado Português, para maior controle no Brasil

colônia.

3. A representação à Santa Teresa D’Ávila como símbolo de devoção e poder

As Ordens Terceiras do Carmo no Brasil seguiam a adoração do Escapulário da

Virgem do Carmo; dos Passos da Paixão de Cristo, com exaltação ao Nosso Senhor dos

Passos; e simpatizavam com a temática da reforma descalça teresiana, com devoção à Santa

Teresa D‟Ávila e, em alguns casos, devoção a São João da Cruz.

É forte a devoção à Santa Teresa de Jesus nas igrejas da Ordem Terceira do Carmo do

Brasil. Isto pode ser comprovado em um documento do século XVIII da Ordem Terceira do

Carmo de Recife sobre a festa dedicada à Santa Teresa, onde os fiéis a denominam matriarca:

“Termo em que se assentou e Meza de 8 de outubro de 1797 aseitar a graça [...] ao

Reverendíssimo Padre Monsenhor Provincial Frei Félix de Santa Anna de transferir a festa

[...] deste presente dia para domingo seguinte dia em que esta ordem soleniza a festa de nossa

Matriarcha [...].”21

O nome de algumas igrejas da Ordem Terceira do Carmo era atribuído diretamente à

Santa Teresa D‟Ávila, fato encontrado em alguns documentos das irmandades de leigos

carmelitas no século XVIII e XIX, como é o caso da igreja da Ordem Terceira do Carmo de

Recife/Pernambuco e João Pessoa/Paraíba.

No Brasil, todas as ordens terceiras do Carmo tomaram como devoção principal Nossa

Senhora do Carmo, uma vez que a maioria dos Estatutos das irmandades revela essa

informação. A devoção mariana também seguiu as leis tridentinas, onde, hierarquicamente, as

igrejas deveriam colocar em primeiro lugar Jesus Cristo e, posteriormente, Nossa Senhora.22

O período contrarreformista também enfatizou a temática da Virgem Maria, além disso, a

ordem dos carmelitas prioriza o culto mariano.

Todavia, atribuíram à Santa Teresa D‟Ávila um papel secundário e de destaque dentro

do templo. Na maioria das igrejas, a imagem da Santa pode ser contemplada em pontos

estratégicos do espaço arquitetônico. Em muitos casos, Santa Teresa tem um papel singular

21

Terceiro livro de termos de Mesa – Arquivo da Ordem Terceira do Carmo – Recife, p.75. (CANHA, 2008).

22

Segundo as Constituições Primeiras do Arcebispado da Bahia, versão das leis tridentinas utilizada no período

colonial no Brasil: “E no que toca á preferencia dos lugares, que entre si devem ter nos Altares, declaramos: que

sempre as Imagens de Christo nosso Senhor devem preceder a todas, e estar no melhor lugar; e logo as da

Virgem nossa Senhora; e depois de S. Pedro Principe dos Apostolos: e que a do Patrão, e Titular da Igreja terá o

primeiro, e melhor lugar, quando no mesmo Altar não estiverem Imagens de Christo nosso Senhor, ou da

Virgem Nossa Senhora.” (VIDE, 2007, p.256).

Roberta Bacellar Orazem

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diante dos demais santos de devoção da ordem do Carmo. Em outros momentos, a Santa é

representada junto a outros santos importantes como o Profeta Elias, fundador da Ordem do

Carmo, e São Simão Stock, aquele que organizou a regra da ordem do Carmo no século XIII e

que teve a visão da Virgem do Carmo e que dela recebeu o escapulário. Hierarquicamente,

podemos trabalhar a importância dentro da Ordem Terceira do Carmo no Brasil da seguinte

forma: 1º lugar - Nossa Senhora e Jesus Cristo; 2º lugar - Profeta Elias, Santa Teresa D‟Ávila

e São Simão Stock (às vezes, São João da Cruz e Santa Madalena de Pazzi também são

inseridos nesse grupo); 3º lugar – demais santos carmelitas.

Normalmente, encontramos pinturas de teto em caixotões que narram a vida da Santa,

que foram colocadas estrategicamente no teto da nave principal dessas igrejas. Nesse caso,

podem ser mencionadas as pinturas da igreja da Ordem Terceira do Carmo de

Recife/Pernambuco, que possui a maior série da vida de Santa Teresa retratada em um

conjunto pictórico no Brasil, e da igreja da Ordem Terceira do Carmo de Cachoeira/Bahia,

onde, além da imagem da Santa, também existe a representação da vida de São João da Cruz.

Imagem 1: Panorama das pinturas sobre a vida de Santa Teresa de Jesus no teto da nave central da Igreja da

Ordem Terceira do Carmo de Cachoeira/Bahia.

Fonte: Roberta Bacellar Orazem, 2008.

A vida da Santa também aparece representada em painéis pictóricos laterais da nave

central da igreja, ao lado dos altares laterais, locais de importância secundária na igreja, mas

A representação de Santa Teresa D‟Ávila como símbolo de devoção e poder das Ordens Terceiras do Carmo no Brasil

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de destaque, pois são próximas aos retábulos onde, habitualmente, encontramos os Passos da

Paixão que contém esculturas de Jesus Cristo. Dois exemplos são as pinturas da igreja da

Ordem Terceira do Carmo do Rio de Janeiro/Rio de Janeiro e de Recife/Pernambuco.

Imagem 2: Representação da vida de Santa Teresa de Jesus na parede lateral da nave central da Igreja da Ordem

Terceira do Carmo do Rio de Janeiro/Rio de Janeiro.

Fonte: Jadilson Pimentel, 2010.

Em outras situações, essa série de pinturas é encontrada no teto da sacristia ou do

consistório, lugares dentro da igreja de grande importância para a irmandade, como é o caso,

respectivamente, da igreja da Ordem Terceira do Carmo de São Cristóvão/Sergipe e de

Itu/São Paulo.

Roberta Bacellar Orazem

14 Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011

Imagem 3: Panorama das pinturas sobre a vida de Santa Teresa de Jesus no teto da sacristia da Igreja da Ordem

Terceira do Carmo de São Cristóvão/Sergipe.

Fonte: Márcio Garcez, 2009.

Em outras representações pictóricas, a figura de Santa Teresa D‟Ávila pode ser

encontrada no centro do teto da nave central de algumas igrejas da Ordem Terceira do Carmo.

Nesse caso, a iconografia geralmente é a de Santa Teresa de Jesus recebendo de Nossa

Senhora do Carmo o escapulário, símbolo de proteção e aceitação divina, ou no lugar de São

Simão Stock, ou junto a este santo e demais santos carmelitas. Nessa situação, destacamos

quatro exemplos, o primeiro caso é o da pintura central da igreja da Ordem Terceira do Carmo

de Salvador/Bahia, localizamos a Santa e São Simão Stock recebendo o escapulário da

Virgem do Carmo; e a igreja de Itu/São Paulo, onde há a temática do Decoro Carmelitano,

sendo vários santos carmelitas, inclusive Santa Teresa que está em posição submissa de

adoração, recebendo o escapulário da Virgem; e de Ouro Preto/Minas Gerais, onde Santa

Teresa e São Simão Stock recebem o escapulário da Virgem e, abaixo desses dois santos,

estão mais quatro santos carmelitas, inclusive o Profeta Elias; e a igreja de Mariana/Minas

Gerais, onde Santa Teresa e São Simão Stock recebem o escapulário da Virgem em meio a

anjinhos.

A representação de Santa Teresa D‟Ávila como símbolo de devoção e poder das Ordens Terceiras do Carmo no Brasil

Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011 15

Imagem 4: Pintura do teto da nave central da Igreja da Ordem Terceira do Carmo de Itu/São Paulo.

Fonte: Tirapelli (2005, p.107).

Na igreja da Ordem Terceira de Mogi das Cruzes/São Paulo, há uma representação da

Santa em destaque, na pintura central da nave central, onde Santa Teresa encontra-se em cima

Roberta Bacellar Orazem

16 Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011

de nuvens ascendendo ao céu junto a anjinhos, e, ao seu redor e em um plano mais afastado,

outros santos carmelitas contemplam a cena.

A representação de Santa Teresa D‟Ávila como símbolo de devoção e poder das Ordens Terceiras do Carmo no Brasil

Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011 17

Imagem 5: Representação da vida de Santa Teresa de Jesus no teto da sacristia da Igreja da Ordem Terceira do

Carmo de Mogi das Cruzes/São Paulo.

Fonte: Tirapelli (2005, p.111).

Roberta Bacellar Orazem

18 Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011

A representação de Santa Teresa D‟Ávila também é localizada nas igrejas da Ordem

Terceira do Carmo do Brasil em azulejos monocromáticos nas paredes laterais da nave central

ou do altar-mor, contendo cenas próprias da hagiografia da Santa ou junto a Nossa Senhora do

Carmo e outros santos carmelitas, como é o caso da Ordem Terceira do Carmo de João

Pessoa/Paraíba e Cachoeira/Bahia.

Imagem 6: Azulejo da Igreja da Ordem Terceira do Carmo de João Pessoa/Paraíba.

Fonte: Honor (2009, p.112).

O primeiro local de destaque dentro de um templo católico é o altar-mor, onde se

encontra o Nosso Senhor e Nossa Senhora, e os secundários são os altares laterais, onde eram

A representação de Santa Teresa D‟Ávila como símbolo de devoção e poder das Ordens Terceiras do Carmo no Brasil

Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011 19

inseridos os santos mais importantes de devoção da igreja ou Jesus Cristo. Nesse sentido, na

maioria das igrejas da Ordem Terceira do Carmo do Brasil, a escultura de Santa Teresa foi

inserida nos altares laterais próximos ao altar-mor, e, no altar lateral oposto, geralmente estão

as imagens de São Simão Stock, Profeta Elias ou São João da Cruz.

Outra questão a ser discutida é o conteúdo iconográfico dessas imagens, em se

tratando das pinturas de Santa Teresa D‟Ávila nas igrejas da Ordem Terceira do Carmo no

Brasil, nota-se que a elite colonial de leigos carmelitas teve acesso ao conteúdo mais erudito e

oficial sobre a Santa - tanto imagético, quanto bibliográfico - que transitava pela Europa

católica. Pois, ao compararmos as principais gravuras hagiográficas da Santa produzidas por

renomados gravadores europeus do período contrarreformista na Europa e os seus livros

autobiográficos e biográficos, é evidente a relação direta desse conteúdo com as imagens

produzidas da Santa dentro das igrejas da Ordem Terceira do Carmo no Brasil.

Para exemplificar, temos dois casos, o primeiro, a pintura do teto central da igreja da

Ordem Terceira do Carmo de Cachoeira/Bahia, onde a Santa está representada em uma

iconografia ao lado do Profeta Elias, ambos reverenciando Nossa Senhora e o menino Jesus.

Encontramos uma imagem semelhante na gravura de Herman Pannels, que serviu de

ilustração para a primeira página do livro do carmelita descalço Frei Francisco de Santa

Maria, com o título de Reforma de los descalços de N. S. del Carmen de la primitiva

observancia,23

publicado em Madri no ano de 1651.

23

Reforma dos carmelitas descalços de Nossa Senhora do Carmo da primitiva observância.

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20 Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011

Imagem 7: Painel do teto em caixotões da igreja da Ordem Terceira do Carmo de Cachoeira/Bahia.

Fonte: Eduardo Vasconcelos Santos, 2009.

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Imagem 8: Frontispício do livro Reforma de los carmelitas descalzos... - de Frei Francisco de Santa Maria –

publicado em Madri (1651) - gravura de Herman Pannels.

Fonte: Sebastián (1989, p.245).

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22 Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011

O segundo caso é da pintura da sacristia da igreja da Ordem Terceira do Carmo de São

Cristóvão/Sergipe, onde encontramos semelhanças de algumas pinturas da igreja com as

gravuras oficiais da Santa produzidas por Cornelius Galle e Adrian Collaert no início do

século XVII.

Imagem 9: Pintura sobre a vida de Santa Teresa de Jesus no teto da sacristia da Igreja da Ordem Terceira do

Carmo de São Cristóvão/Sergipe.

Fonte: Márcio Garcez, 2009.

A representação de Santa Teresa D‟Ávila como símbolo de devoção e poder das Ordens Terceiras do Carmo no Brasil

Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011 23

Imagem 9: Gravura da Série de Adrian Collaert e Cornelius Galle produzidas no início do século XVII.

Fonte: Rueda (2005).

Diante do exposto, podemos afirmar que é predominante a representação de Santa

Teresa nas igrejas do Carmo do Brasil como um dos ícones principais de devoção dos leigos

carmelitas. Essa predileção em representar a Santa nas imagens artísticas das igrejas aqui

estudadas foi uma escolha das irmandades laicas carmelitas, pois eram essas instituições que

encomendavam as obras e escolhiam os temas a serem retratados. A decisão em destacar uma

Santa carmelita famosa no período contrarreformista, apresentando sua vida e enfatizando

seus atributos não foi mero acaso. A escolha das fontes imagéticas e bibliográficas da Santa

para produzir as imagens também mostra que as irmandades tinham acesso ao material em

circulação na Europa. Na época, para se adquirir esse tipo de mercadoria no Brasil era

necessário ter condições financeiras, e os irmãos da Ordem Terceira do Carmo tiveram esse

poder econômico.

A forte representação de Santa Teresa D‟Ávila nas igrejas da Ordem Terceira do

Carmo não foi somente uma atitude contrarreformista dos leigos de obediência às leis

tridentinas, mas, principalmente, foi um forte símbolo de poder das elites locais no Brasil

colonial, pois, ser devoto a uma das Santas de mais fama e prestígio para a época

contrarreformista, certamente atribuiu-lhes destaque social e religioso.

Roberta Bacellar Orazem

24 Congresso Internacional Pequena Nobreza nos Impérios Ibéricos de Antigo Regime | Lisboa 18 a 21 de Maio de 2011

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