A Ressurreição de Lázaro - Interpretações e Reflexões Em João 11.
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A ressurreição de Lázaro - Interpretações e reflexões em João 11.
Sobre interpretar e refletir.
Existe no meio evangélico diversas interpretações para o texto do capítulo 11 do
evangelho de João, isso porque os pregadores tomam liberdade para tirar suas próprias
reflexões do texto e as vezes sem interpreta-los devidamente. Há diferença entre reflexões
e interpretações e é simples; a interpretação é obter o sentido do texto, que está ligado à
mensagem, às palavras do autor e a sua intenção. As reflexões são lições que o leitor tira
pra si de um texto, podendo ser algumas, não necessariamente sobre a interpretação da
mensagem, mas sim sobre palavras contidas no texto, aplicadas à nossa vida cotidiana,
situações recentes, enfim, podem entrar no âmbito pessoal. Porém, é aconselhável que só
se tire reflexões de textos que foram previamente interpretados dentro do seu contexto.
No caso do texto em questão (A ressureição de Lázaro), no meio evangélico há
duas correntes fortes: a primeira e mais conhecida é a dos que cantam a famosa música
que diz “remove a minha pedra” e a segunda é a dos que dizem “Jesus não removeu a
pedra, ele só mandou Lázaro sair, outros tiraram a pedra”. O certo é que ambas reflexões
não estão focadas na interpretação correta do texto e sim no que elas podem tirar de
reflexão pra si. Sobre a interpretação de “remove a minha pedra” não trataremos, pois já
existem bons artigos sobre o porquê de ser uma ideia errônea que descontextualiza a
passagem. Algo que une tanto o primeiro quanto o segundo exemplo, é que em ambas
reflexões ocorrem algumas personificações de objetos que aparecem no texto e acabam
tomando um significado que o autor não teve a intenção de comunicar, a pedra que
aparece no texto de Jo 11, foi colocada por alguns pregadores em suas reflexões como
sendo a representação dos “problemas, das dificuldades e das coisas que nos impedem de
prosseguir em nossa vida.”. Claramente essa ideia já inviabiliza a precisão do resultado
aguardado em uma futura reflexão, por que justamente a interpretação não foi feita de
forma correta. No texto Lázaro não estava impedido de prosseguir por causa de uma
pedra, e sim porque estava morto há quatro dias, infelizmente isso não é levado em conta
ao se refletir. Temos que ter em mente o texto todo, e todo o tempo! E aí sim, só depois
disso tirarmos as conclusões para aplicarmos em alguma situação pratica da nossa
vivência, não podemos ler um pouquinho e interpretar o pouquinho separadamente.
Temos que ler o todo e interpretar o todo (ainda que aos poucos) para aí sim nos
aproximarmos de um resultado fiel ao texto.
Pois bem, como no texto o morto era Lázaro, logo deduzimos que ele mesmo não
podia retirar a pedra. O Senhor ordenou alguém para retirar a pedra. É comum algumas
pessoas fazerem a divisão desses fatos contidos em um só texto, para tirarem duas
reflexões diferentes que geralmente são: 1) “Se você está morto em algum sentido da sua
vida, retire essa pedra que te prende!” E “qual a pedra que te impede de viver ou de estar
em comunhão com Deus?” e a segunda 2) “Não é outra pessoa que vai tirar essa pedra da
sua vida, é você que tem que tirar sua pedra” e “Jesus opera o impossível e você o
possível”. Se ficarmos com o texto em mente, perceberemos que essas duas afirmações
não batem. Ora, Lázaro estava morto, então ele não podia fazer nada para tirar a própria
pedra. Além do mais, o que o impedia de sair do sepulcro não era (como vimos)
necessariamente a pedra e sim a morte, por isso algum agente externo teve que entrar em
ação, primeiro a ordem do Senhor para que se tirasse a pedra, mas notem que mesmo a
retirada da pedra não lhe trouxe vida, muito pelo contrário, a retirada da pedra fez apenas
com que o mal cheiro saísse, já que ele estava morto há quatro dias, mas é aí que em
segundo lugar, e agora sim eficientemente, o poder do Senhor vem para ressuscitar
Lázaro, e chamando-o para fora devolve-lhe a vida.
Não podemos cometer o erro de achar que a mensagem contida nessa história é de
que se temos algum problema em nossa vida, somos como Lázaro (morto, enfaixado,
preso) ou mesmo que “precisamos tirar a pedra da nossa vida”. Isso não faz sentido. Essas
interpretações e reflexões pecam por se apegarem em detalhes secundários e até terciários
do texto, como pedra, faixas e outros. Para qualquer intepretação correta é necessário se
estudar o contexto, o que estava acontecendo ao redor, antes e depois. Se olharmos o
contexto deste texto, o que houve antes, os versos que o precedem, podemos ver qual era
o real foco do texto, o que o Senhor Jesus quis com essa ressurreição.
Minha interpretação para este texto:
Pois bem, agora irei expor a interpretação a qual cheguei ao analisar esse texto:
Quando o Senhor declarou que iria ressuscitar Lázaro, uma de suas irmãs, (Marta), não
entendeu o que Jesus quis dizer e pensou que Ele se referia (apenas) à ressurreição do
último dia, claro que o Senhor Jesus fez de propósito. O Senhor Jesus queria deixar claro
o entendimento de que todo homem nasce morto em pecado (Sl 51;5, Rm 3;23, Rm
5;19), e que todos os homens naturalmente experimentam a morte do corpo, assim como
Lázaro estava experimentando, logo, a ressureição era para demonstrar que há apenas
uma maneira de não experimentarmos morte eterna, que é crendo n’Ele, por isso Jesus
disse logo a frente: “quem crer em mim ainda que morra, viverá!” Jo 11;30. Essa é a
chave do texto! Essa é a mensagem de Jesus! Todo ser humano, como diz o Apóstolo
Paulo, recebeu vida de Deus quando estava morto em seus delitos e pecados. Ef 2;1. Um
morto como Lázaro não pode fazer nada se não contar com a graça de Deus, o Deus que
ainda segundo o Apóstolo Paulo, “é quem efetua em nós tanto o querer como o realizar
segundo a sua boa vontade.” Fp 2;13. Não podemos crer em Cristo sem que ele se revele
a nós, é ele que nos dá a fé Jo 10;24-3. Essa fé que é um dom; “Porque pela graça sois
salvos, mediante a fé, e isto (a fé) não vem de vós, é dom de Deus”. Ef 2;8. Ele é quem
nos escolhe, chama, liberta, santifica e glorificará ao final. Lázaro certamente voltou a
morrer alguns anos depois, essa primeira morte dele era só um exemplo, cuidadosamente
previsto pelo Senhor Deus para nosso ensinamento. Lázaro cria no Senhor Jesus, o que
significa que ainda que seu corpo tenha sido decomposto, ele não morreu, ele está com o
pai e vai ressuscitar no último dia, glorificado com um novo corpo e viverá eternamente!
Que reflexão podemos fazer a partir disso?
Refletindo encima da interpretação desse texto: Lembremos, nós somos
impotentes, pobres e cegos, envoltos em pecado, tal como Lázaro em suas faixas.
Entretanto, Ele (Jesus) é a força, ele é o nosso braço forte, ele é nosso escudo, nossa
fortaleza! Ele é a voz que nos chama para fora, fora do mundo, para uma vida que romperá
com a existência neste mundo, passaremos deste mundo para a eternidade sem entretanto
experimentar a morte eterna Confiemos nele! Só ele, o Senhor Jesus Cristo, pode nos
livrar do que realmente faz separação entre nós e Deus, o pecado. Is 59;2, Sabemos que
o salário do pecado é a morte (Rm 6;23), morte essa não só do corpo, mas principalmente
a da alma!
Essa é a lição, podemos querer tirar reflexões dos textos que podem servir
momentaneamente para nós, mas só devemos fazer isso se já tivermos interpretação
correta de tal texto, e entendido corretamente seu significado. Com certeza ler que “O
Senhor é o meu pastor, nada me faltará” Sl 23;1, é confortante, em qualquer situação, seja
tristeza, fome, desemprego, doença. Nesses casos ele não deixará faltar a alegria, o
alimento, o sustento e a saúde respectivamente. Mas antes que apliquemos isso a nossa
tristeza, fome, desemprego ou doença, temos que entender que “Ele é o pastor, eu sou a
ovelha, ele me guia, eu o obedeço por isso, posso confiar, ele não vai deixar faltar nada”.
Primeiro interpretemos o texto, a bíblia tem lições profundas, como a da
ressureição de Lázaro, temos que crer no Senhor, ainda que venhamos a ter nosso corpo
decomposto, viveremos eternamente pela fé! Depois de entender isso, é que devemos
fazer reflexões no texto, não nos apeguemos a atribuir valores ao que seria a pedra, o mal
cheiro, as faixas e outros elementos contidos na passagem, infelizmente os pregadores
buscam criar novas mensagens em torno de pequenas palavras como “pedra”. Daí vem
“remove a minha pedra” ou “a pedra que te impede de servir a Deus”, isso não é o texto.
Pregador algum, jamais conseguirá uma mensagem melhor do que a do próprio texto. São
as palavras do nosso Deus, as quais tantos santos antes de nós sofreram e até morreram
para tivéssemos em mãos. Debrucemo-nos sobre ela! Que o Senhor Deus nos abençoe, e
nos dê entendimento para lidar com tamanha preciosidade. Amém!
Diego Montenegro.
Manaus, 31 de outubro de 2014.
Dia da Reforma Protestante.