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1 www.anipla.com A revista para quem pensa a agricultura. Edição nº4 Junho 2016 S Fito_Entrevista: Pedro Leal da Costa Symington Agricultura de precisão não necessita alta tecnologia 810Mde rendimento agrícola em risco por retirada de substâncias ativas

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Fito_Entrevista:Pedro Leal da CostaSymington

Agricultura de precisão não necessita alta tecnologia

810M€ de rendimento agrícola em risco por retirada de substâncias ativas

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

Ficha técnica

Propriedade: ANIPLA- Associação Nacional da Indústria para a Protecção das PlantasRua General Ferreira Martins Nº 10 – 6ºA 1495-137 Algés . PortugalTel.: +351 214 139 213 . e-mail: [email protected]

Diretor: António Lopes Dias

Coordenação Editorial: Mónica Onofre e Nélia Silva

Projeto Gráfico e Paginação: Musse Ecodesign

Colaboraram nesta edição: Comissão de Agricultura Sustentável; Comis-são de Dados e Estatística.

Estatuto EditorialA FitoSíntese é uma publicação que visa divulgar a atividade da ANIPLA, as suas opiniões e posicionamento face a questões relevantes do sector fitofarmacêutico e da Agricultura em geral. A FitoSíntese pretende ainda dar a voz a entidades e/ou personalidades que tal como a ANIPLA Pensam a Agricultura como um sector de futuro.

A reprodução total ou parcial dos conteúdos publicados é expressamente proibida sem a autorização escrita da ANIPLA.

www.anipla.com

nº4

Fito_Notícias

Fito_EntrevistaPedro Leal da Costa

Symington

Fito_TemaTecnologias inteligentes

reduzem exposição fitoframacêuticos

In_AniplaEstudo de Impacto

Retirada de s.a.

Fito_GlobalGlifosato não tem

potencial cancerígeno

Fito_Agenda

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14Fito_Entrevista

Mónica TeixeiraAnipla

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A propósito da apresentação recente de um estu-do promovido pela ANIPLA, que dirijo, ouvi contar uma história sobre uma visita realizada por uma comitiva a uma das edições passadas da Feira Nacional da Agricultura durante a qual, uma de-putada, ao ver uma ovelha negra, exclamou; “Ago-ra já entendi a razão de ser do Pata Negra!”.

Se a situação não foi exactamente assim na forma, o que fica é que deve ter sido algo muito próximo na substância. E a substância a que me refiro nada tem que ver com simples ignorância, porque essa resolve-se. O problema grave que está subjacen-te a este episódio reside no enorme afastamento que existe hoje entre as populações urbanas e a realidade agrícola do país. Afastamento esse que é directamente proporcional à distância que exis-te entre a realidade agrícola actual no nosso país e a realidade de há 20 anos atrás.

Muitas das discussões que hoje em dia são tidas sobre temas ligados ao sector agrícola, resultam de análises feitas no conforto dos gabinetes, com ar condicionado e garrafas de água sempre à mão. Pena não o serem no conforto dos mais mo-dernos tratores que têm cabines com idênticas condições, com a simples diferença de que estão em contacto directo com a terra.

O estudo que a ANIPLA realizou, em conjunto com 27 entidades representantes dos agricultores que desenvolvem a sua actividade em 5 fileiras-chave do nosso país (vinho, tomate de indústria, azeite, milho e pera) a propósito do risco eminente de retirada de 112 substâncias activas e respectivos produtos fitofarmacêuticos, permitiu concluir que se os gabinetes dos nossos representantes po-líticos se mantiverem apenas na Assembleia da República e no Parlamento Europeu, mais de 810 milhões de Euros de rendimento agrícola nacio-nal podem estar em risco! Este preocupante valor absoluto esconde a perda de quase 50% no rendi-mento da fileira do vinho, mais de 50% no azeite e de 80% no tomate de indústria!

Editorial

Sabendo que o impacto económico será cer-tamente muito maior já que se teria de apurar ainda impactos a outros níveis: a montante e a jusante das fileiras, bem como a nível social, ao nível do desemprego, fixação de comunidades e desenvolvimento dos meios não urbanos e, a nível ambiental, consequência do abandono de terras agrícolas, as quais se tornarão baldios ou flores-ta, certamente desordenada e pouco rentável, al-tamente sujeita a incêndios.

Num momento em que tanto ruído se tem cria-do em torno do glifosato (substância que não foi alvo deste estudo de impacto por não estar listada como sujeita a risco de exclusão pela UE!), numa campanha evidente de desinformação - por igno-rância, quero acreditar - que gera desnecessário alarme social, é mais importante do que nunca que os decisores políticos do nosso país saiam dos seus gabinetes e calcem as botas para ir acompanhar, sem câmaras a recolher imagens, como se trabalha hoje na moderna agricultura nacional.Se o fizerem ficarão a saber, com conhecimento real, que nunca como hoje foi tão seguro consu-mir produtos agrícolas produzidos na Europa. Se o fizerem ficarão mais capazes para decidir.

Se optarem por continuar a alimentar discussões apenas com base em visões políticas e braços de ferro para demarcar terreno, poderão estar a contribuir para o aumento das importações de produtos agrícolas produzidos noutras paragens sem o rigor fitossanitário que a Europa nos ga-rante. Uma situação indesejável em vésperas da realização de mais uma Feira Nacional da Agri-cultura, onde, com atenção, se pode aprender o que envolve de facto a produção de um bom Pata Negra.

António Lopes Dias // Diretor Executivo Anipla

Pata Negra de ovelha

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produção agrícola a nível mundial é perdi-da anualmente devido à ação de pragas e doençasEPCA, 2016

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40Fito_Factos

custo para introduzir um novo produto fitofarmacêutico na Europa em 2010-2014 v.s. 135M$ em 1995ANIPLA

28novas moléculas no “pipeline” em 2012 v.s. 70 em 1999, na UEANIPLA

produção de tomate em Portugal = 8% da produção da UEStatistical book on agriculture, forestry and fishery 2014, Eurostat

Mton

área estimada de novos regadios e revitalização de antigos regadios públicos até 2020Ministério da Agricultura

100.000ha

800 pessoas praticam Agricultura Urbana a nível mundialFAO

milhões

%

M€

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milhões

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Novas publicaçõesCultivar a Segurança

Enquadradas no âmbito do projeto Cultivar a Se-gurança, a Anipla editou recentemente mais duas ferramentas de comunicação que visam transmi-tir informação sobre as boas práticas na utilização dos produtos fitofarmacêuticos:

• Manual de Boas Práticas para um uso seguro e sustentável dos produtos fitofarmacêuticos de âmbito profissional;

• Folheto Cultivar a Segurança.

Fito_Notícias

Durante o primeiro semestre de 2016, a Anipla tem mantido a sua participação em inúmeros eventos organizados pelas entidades oficiais do Ministério da Agricultura e por outras organiza-ções ligadas ao setor agrícola, alertando para a importância dos produtos fitofarmacêuticos

Anipla mantêm colaboração na sensibilização dos agricultores

Manual de Boas Práticas Folheto Cultivar a Segurança

na otimização da produção agrícola, segurança alimentar e viabilidade da atividade agrícola em Portugal. A par com a apresentação de comuni-cações, a Anipla tem disponibilizado diverso ma-terial informativo de apoio a estas e outras ações.

Com conteúdos mais atualizados, e uma imagem renovada, a família Prudêncio revela a forma mais segura e eficaz de utilizar os produtos fitofarma-cêuticos na agricultura.

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A ANIPLA e a ECPA- European Crop Protection Association associaram-se à CAP-Confederação dos Agricultores de Portugal na organização da conferência internacional “Os grandes desafios para inovação na agricultura”, realizada a 9 de Junho, na Feira Nacional de Agricultura, em Santarém. Eric Dereudre, membro do Comité Executivo da ECPA, um dos oradores convidados, lembrou que nos últimos 20 anos os agricultores europeus vi-ram desaparecer do mercado mais de 50% das substâncias ativas disponíveis, alertando para o facto dos agricultores não poderem produzir sem recurso à inovação e à tecnologia. Este responsá-vel apelou ao Comissário Europeu da Agricultura, também presente na conferência, para que «as decisões da UE sejam baseadas na ciência e não na conveniência política, porque os pesticidas são

uma necessidade e não um luxo». No mesmo sen-tido foram as palavras de Pekka Pesonen, secretá-rio-geral do Copa-Cocega, citando o caso do glifo-sato: «os estados-membros estão a esconder-se por trás da Comissão Europeia, mas não podemos aceitar que sejam os agricultores a pagar a fatura. Pedimos à CE e às outras instituições europeias que adotem políticas prudentes». Pesonen pediu uma simplificação das regras da PAC na próxima reforma (pós-2020), apelando a uma política agrí-cola comum «mais forte e economicamente mais viável para os agricultores».

O Comissário Europeu da Agricultura, Phil Hogan, anunciou que está a negociar melhores condições de financiamento para os agricultores com o Ban-co Europeu de Investimento e reconheceu a ne-cessidade de maior previsibilidade e de decisões baseadas na ciência.

«Os pesticidas são uma necessidade não um luxo»

Eric Dereudre, membro do Comité Executivo da ECPA

Phil Hogan, comissário europeu da Agricultura, João Machado, presidente da CAPe Capoulas Santos, ministro da Agricultura

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Fito_Entrevista

Agricultura de precisão não necessita alta tecnologia

Convidamos o leitor a fazer uma viagem à viticultura de montanha no Douro Património da Humanidade . O nosso guia é Pedro Leal da Costa, responsável de Viticultura da Symington. Garantimos que sairá enriquecido em saber no final desta entrevista!

Pedro Leal da CostaResponsável de Viticultura da Symington

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Numa viticultura de montanha, como é o caso do Douro, a viticultura de precisão é importante para melhorar a produtividade das vinhas e a qualidade dos vinhos? Dê exemplos das tecnologias usadas na Symington.

A viticultura de precisão começa por assegurar que temos os armazéns arrumados, os tratores afinados com revisões feitas, as alfaias em bom estado de conservação, os pulverizadores calibra-dos. É importante ter os bicos adequados de cada pulverizador de acordo com a época e objetivo do tratamento. É indispensável conhecer os débitos de cada bico e o recurso ao papel hidrosensível. Não podemos ter tractores desafinados, com fil-tros inadequados ou sujos. Com os detalhes se faz a agricultura de precisão. Agricultura de precisão não necessita alta tecnologia, embora esta seja a sequência dos princípios acabados de referir. Ao entrar na tecnologia, na Symington recorremos a imagens aéreas com infravermelhos, as quais de-pois de trabalhadas revelam diversas cores, que correspondem a diferentes níveis de vigor. Os di-ferentes níveis de vigor permitem-nos, com geor-referenciação, ir aos locais certos e atuar perante os diferentes níveis, com controlo vegetativo, com tratamentos fitossanitários em zonas específicas, com análises de solos e foliares e adubações nas zonas de menor vigor, de forma diferente das de maior vigor e por fim, com vindima seletiva. Temos parcelas onde entre a vindima das zonas de menor vigor e as de maior vigor chegam a existir duas se-manas de diferença na maturação fenólica e res-petivo momento de vindima. Isto permite-nos tirar o máximo partido das uvas, de forma a não mistu-rar no mesmo momento níveis de maturação di-ferentes. Mas também tomamos decisões através das imagens aéreas, como a de replantar vinhas, pois mostram-nos bem as falhas existentes e a necessidade de replantação, por falta de plantas e consequentemente de produção. As imagens aé-reas não evitam a ida ao campo, mas ajudam-nos a ir aos locais certos.

Produzir melhor, usando menos recursos é um de-safio atual. Como é posto em prática o conceito de Sustentabilidade na vossa empresa?

É nosso objetivo produzir as melhores uvas, com a mais alta qualidade possível, ao melhor custo, res-peitando o ambiente, a paisagem e o Homem. Para conseguir este objetivo a Symington investe numa equipa de viticultura forte, que utiliza os meios dis-

poníveis, os discute e põe em prática. Uma decisão normalmente é tomada em conjunto, com base em planeamento e necessidade absoluta da operação. Fazemos o número mínimo possível de tratamen-tos, no mais curto espaço de tempo, no momento considerado ótimo. Um trator quando saí tem que ter um motivo específico. As “porcas têm que estar apertadas”. Quando se poupa um segundo por cepa numa determinada operação, conseguimos uma pou-pança de 960 h de trabalho. E esta decisão tem que ser tomada para uma empresa como a Symington ou para qualquer outra, com controlo de custos e de movimentos.

As alterações climáticas estão a mudar a forma como a Symington gere as suas vinhas?

Estamos a estudar o impacto para mitigar o efeito das possíveis alterações climáticas. Acompanha-mos de muito perto e apoiamos todos os traba-lhos que foram realizados para a região do Douro relativamente a esta temática. Do ponto de vista operacional, procuramos avaliar de forma siste-mática um eventual efeito no potencial qualitativo e produtivo nas principais castas da região, tirando partido da rede de monitorização da maturação e sobretudo das ferramentas disponíveis do sistema de informação geográfico (SIG) aplicado na empre-sa, procurando associar as variações de produção às caraterísticas geográficas e no futuro aplicar as diferentes projeções de alterações climáticas. Trata-se de um assunto para o qual o Douro está muito bem apetrechado, quer pela diversidade orográfica das condições de produção, quer pelo património genético existente. A este respeito a Symingotn estabeleceu, em 2014, uma coleção de castas com 53 variedades e 200 plantas por varie-dade, na sub-região do Douro Superior, tendo re-plicado 30 destas variedades numa outra parcela experimental no Cima Corgo, para servir de apoio a um estudo detalhado sobre o comportamento das castas em diferentes condições ecológicas. É importante referir que temos feito estudos de eficiência de utilização de água pela planta, tanto pelo controlo hídrico através da bomba de pressão, como pelo efeito do controlo vegetativo, e estamos a colaborar no estudo de caraterísticas de adapta-ção à secura pelas principais castas da RDD.

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No que se refere à proteção da vinha e aplicação segura dos produtos fitofarmacêuticos, quais as principais preocupações da Symington?

Saúde e proteção dos nossos trabalhadores é a primeira preocupação, seguindo-se a obtenção das melhores uvas, com respeito máximo pelo am-biente, com a aplicação mínima das quantidades de substâncias, tentando maximizar o potencial das mesmas.

Apostámos na formação dos nossos trabalhado-res a começar com o “Cultivar a Segurança” da ANIPLA; apostamos numa formação anual de calibração de pulverizadores, na tentativa de aprofundar os conhecimentos sobre a utilização dos pulverizadores, das bombas, dos filtros, dos manómetros e dos bicos utilizados para cada momento de operação; investimos na formação dos nossos operadores agrícolas para conhece-rem os tratores que utilizam e na manutenção no seu dia-a-dia.

Ajustamos a dose de aplicação de produtos fitos-sanitários à parede vegetativa, tendo uma con-centração constante, a calda vai aumentando à medida que a parede vegetativa aumenta.

Adaptamos os bicos utilizados a cada fase do ciclo e operação. Um pulverizador tem sempre que estar operacional e só há duas hipoteses: ou está em perfeito estado de utilização, ou não nos serve. Uma única má utilização de um pulveri-zador pode comprometer uma colheita. Tentamos não duplicar as substâncias ativas ao longo do ciclo vegetativo e ajustamos cada substância ao momento ótimo de aplicação. A diminuição per-manente de s.a. é uma preocupação.

No Douro, para além da nossa actuação interna, temos ajudas suficientes para a tomada de deci-são que pensamos ser a mais correcta: a Região Demarcada do Douro (RDD) tem uma estação de avisos; a Associação para o Desenvolvimento da Vi-ticultura Duriense (ADVID) também emite avisos; e nós temos a nossa equipa, com recursos às nossas estações meteorológicas e às da região, através da ADVID. No conjunto das informações e avisos, podemos atuar para efetuar os tratamentos nos momentos considerados óptimos. Se conjugarmos os avisos com os conhecimentos da nossa equipa, tomamos decisões de atuação conforme as sub--regiões em que cada quinta se encontra.

A Symington detém a maior área de vinha de pro-dução biológica em Portugal - 111 hectares. Como tem decorrido esta experiência com o Modo de Produção Biológico (MPB)?

Tem sido uma experiencia interessante de apren-der a trabalhar com uma diminuição de substan-cias ativas. Temos rendimentos mais baixos que a média, qualidade superior, logisticamente é mais complicado, mais caro. Há um certo fundamenta-lismo no MPB que começa a ser questionável devido às contaminações que podemos estar a causar no solo com Cobre (que é um metal pesado), versus outras substâncias activas. Nós instalámos esta vinha em MPB numa zona do Douro Superior, no Vale da Vilariça, favorável às condições, com pou-ca chuva, poucas condições de infeção potencial. No entanto, num ano como o corrente temos mais tratamentos que nas outras zonas em que nos en-contramos em Produção Integrada.

A diversidade das videiras e castas do Douro é um património genético inestimável. Como contribui a vossa empresa para a sua preservação?

Atrás já falámos das nossas instalações de campos experimentais, de colecções de castas, as quais se encontram uma no Douro Superior, na Quinta do Ataíde com 53 castas e 200 plantas de cada e, temos uma replicação de 30 castas na Quinta do Bomfim, com número mais reduzido de plantas.

Dando continuidade ao trabalho desenvolvido pela empresa na área da investigação e desenvolvimen-to da viticultura no Douro ao longo das últimas décadas, a SFE (Symington Family Estate) esta-beleceu no início da Primavera de 2014 na Quin-ta do Ataíde, localizada no Vale da Vilariça, Douro Superior, um campo experimental (campo ampe-lográfico) denominado Coleção de Castas Symin-gton, onde foi plantado um conjunto de 53 castas de vitis vinifera, constituído por castas autóctones do Douro, de outras regiões vitícolas de Portugal e também 5 castas de outros países, de referencia mundial. O objetivo principal subjacente a este pro-jeto consiste em dar um forte contributo para en-riquecer o conhecimento do património vitícola do Douro, bem como do património vitícola nacional. Anteriormente, a Symington já tinha estabelecido uma vinha experimental na Quinta da Cavadinha (vale do Pinhão) em 1997, na qual já realizou signi-ficativos avanços no estudo da viticultura no Dou-ro. Este campo experimental na Cavadinha (com 3

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hectares de extensão) nasceu de uma iniciativa de Charles Symington que tinha entrado na empresa no ano anterior. O trabalho ali desenvolvido já se traduziu em resultados práticos como, por exem-plo, a identificação de combinações ideais (enxer-tias) de castas especificas com um leque variado de porta-enxertos. Também os estudos realizados sobre o comportamento de algumas castas menos conhecidas (e/ou esquecidas) tem-se reflectido na aposta de êxito da Symington em castas como o Sousão e o Alicante Bouschet (12,6 hectares de AB plantados em 2014). A Colecção de Castas Syming-ton representa assim uma evolução natural – uma nova etapa - para aprofundar os conhecimentos já obtidos pela equipa de viticultura da empresa.

Ao estabelecer esta colecção de castas no Ataíde, a Symington pretende contribuir de forma decisiva para a inovação em viticultura e enologia, ao per-mitir um conjunto alargado de estudos de compor-tamento vitícola e enológico em ambiente de forte stress estival. Para além desta vertente, importa também referir os aspetos inovadores na forma de instalação da vinha e nos critérios de escolha das castas, ao adicionar às castas locais outras castas de relevância nacional e internacional.

Como se apresenta a atual campanha vitícola no Douro?

Ano de forte pressão de míldio! Infeções consecu-tivas que nos obrigam a uma atenção permanente ao clima e à atuação no momento exato, sem he-sitação, embora com muita ponderação relativa-mente às substâncias ativas a utilizar. Mesmo com tratamentos e intervalos reduzidos entre os mes-mos, todos os viticultores sofreram com o mildio, uns muito, outros menos. No somatório das preci-pitações nos meses de Março, Abril e Maio desde 1980, este ano encontra-se no terceiro mais humi-do. Destaca-se a anomalia da precipitação em 2000 (ano de forte pressão de míldio, com a precipitação a terminar no momento da floração) e em 2001 (neste caso devido sobretudo ao mês de Março). Na nossa média fizemos mais dois tratamentos do que num ano normal. O panorama geral na RDD não é abonatório para o momento, mas considero que até ao lavar dos cestos é vindima e só nessa altura saberemos os resultados completos deste “campeonato”. Sabemos que há agricultores com grande percentagem de perdas, não recuperáveis.

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A Graham’s foi considerada em 2016 a Marca de Vi-nho do Porto Mais Admirada do Mundo, pela revista Drinks International. O que representa este reco-nhecimento para a empresa e em concreto para equipa de Viticultura que lidera?

A revista Drinks International levou a cabo o 6º inquérito das 50 Marcas de Vinho do Mundo Mais Admiradas. O júri foi constituído por mais de 200 pessoas influentes do setor dos vinhos, ‘Masters of Wine’, sommeliers e jornalistas. Em 2016 este inquérito nomeou a Graham’s como a Marca de

Vinho do Porto Mais Admirada do Mundo e a 14ª Marca de Vinho Mais Admirada do Mundo. A marca Dow’s que, tal como a Graham’s, pertence à família Symington ficou na 31ª posição nas 50 Marcas de Vinho Mais Admiradas do Mundo. Entre os outros vinhos incluídos neste rol das Marcas de Vinho Mais Admiradas do Mundo estão nomes como, Vega Si-cilia, Penfolds, Château d’Yquem, Château Mar-gaux, Guigal, Château Latour, Cloudy Bay e Cheval Blanc. A família Symington comentou: “estamos muito orgulhosos de ter alcançado esta posição de destaque entre os melhores vinhos do mundo.

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Definição de crité-rios de avaliação qualitative objectiva

Segmentação de vindima

Este fantástico testemunho reconhece gerações de trabalho nas nossas vinhas no vale do Douro e nos nossos armazéns em Vila Nova de Gaia, bem como a lealdade e grandes capacidades das pes-soas que connosco trabalham no nosso projeto de excelência”. Para a equipa de viticultura, todos os prémios são motivo de orgulho e representam um desafio e responsabilidade em termos a produção das uvas que produzem vinhos de marca reconhe-cida mundialmente.

Quais os desafios e oportunidades da viticultura na região do Douro?

O maior desafio na viticultura de montanha consis-te no trabalho de preparação dos solos para uma plantação de vinha, que tem que ser bem realizado desde o inicio, com recurso a lazer, com estudos de drenagens prévios e execução das drenagens rigo-rosamente bem feitos, pois a água corre sempre para baixo e é indispensável conduzi-a bem, caso contrário ela conduz-se a si própria e fará estragos irreparáveis para o resto da vida. Temos aprendi-do muito nesta área e temos muito para aprender. Em cada ano que passa fazemos coisas melhores e após cada inverno investimos muito em novas drenagens.

Muitos outros desafios se nos apresentam. 53% da area de viticultura de montanha do mundo encontra--se no Douro, segundo o CERVIM (Centro de Estu-dos de Viticultura de Montanha). A nossa viticultu-ra é diferente da maioria das restantes viticulturas. Não temos o acesso às mesmas máquinas e al-faias disponiveis para a restante parte do mundo vitícola. A mecanização a que temos que recorrer é muito específica. A necessidade de mão-de-obra anual é extremamente elavada. As produções mé-dias são muito baixas, na ordem de menos de 4.000 Kg de uva/ha, quando a média mundial pode ser o dobro. Temos um custo de preparação dos solos para plantação superior ao custo de uma planta-ção completa noutras regiões convencionais.

Perante estas situações um dos nossos desafios é tentar maximizar a qualidade das uvas e conse-guirmos produzir em cada ano com mais eficiên-cia que no anterior, baixar os custos de produção, sermos criativos na forma de melhorar essa efi-ciência, no desenvolvimento de alfaias e máquinas, tentar baixar os custos das operações em verde e maximizar a eficiência da entrada e atuação dos tratamentos.

Imagens aerias no SIG (Sistema de Informação Geográfico) da Symington

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Fito_Entrevista

A agriculturaé um bastiãode valoresda nossasociedade

Mónica Teixeira, presidente da ANIPLA, fala dos desafios e oportunidades da indústria de proteção de plantas e promete uma associação forte, que estará ao lado dos agricultores dando o seu contributo, para o crescimento do PIB nacional.

Mónica TeixeiraPresidente ANIPLA

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É a primeira vez que a ANIPLA tem uma mulher na presidência. O que a motivou a aceitar este desafio?

A indústria de protecção de plantas enfrenta na actualidade desafios importantes: uma avaliação Europeia difícil e muito restritiva, baseada em critérios por vezes científicos, por vezes políti-cos, apoiados em avaliações demasiado conser-vadoras e não replicáveis na realidade agrícola; um sector que procura, neste ambiente alta-mente regulamentado e politizado, dar resposta às necessidades dos agricultores e com isso dar o seu contributo para o crescimento do seu ren-dimento e consequentemente do PIB nacional. Por outro lado, espera-se o aumento da popu-lação na Europa, devido ao fluxo migratório de refugiados e outros imigrantes, o que significará mais 1 a 2 milhões de indivíduos para alimentar por ano. Estes são, por si só, desafios enormes, mas ao mesmo tempo muito motivantes. Numa conjuntura tão crítica relativamente ao uso de produtos fitofarmacêuticos, só uma associação forte, com uma linha de ação clara interna e ex-ternamente poderá defender os interesses de todos os associados, como tal não poderia deixar de aceitar este desafio. Quanto ao facto de ser mulher…foi pura coincidência.

Quais são as suas prioridades para este manda-to?

As prioridades para este mandato não são mi-nhas, mas sim de um conjunto de empresas que integra a Direcção da ANIPLA depois de auscul-tados todos os associados. Assim este mandato centrará a sua actuação em três pilares funda-mentais:

No reforço da actuação e representatividade da Associação junto dos órgãos que tutelam a nossa actividade, no sentido sensibilizar e co-laborar na definição de políticas apropriadas para o sector;

Na contribuição responsável da Associação para a formação de todos aqueles que utili-zam os nossos produtos;

Na comunicação com os principais interve-nientes das áreas agrícola, económica e am-biental com vista a:. Sensibilizar para a importância do sector

para o desenvolvimento agrícola sustentável, como alavanca das nossas exportações agrí-colas;. Sensibilizar para a importância do sector na manutenção das comunidades rurais e no de-senvolvimento dessas mesmas comunidades;. Alertar junto do Ministério da Agricultura para a necessidade de uma participação activa do mesmo nas reuniões da Comissão relativas ao tema produtos fitofarmacêuticos;. Colaborar no sentido de encontrar formas de reforçar a qualidade e quantidade de recursos alocados à avaliação de produtos fitofarma-cêuticos e na melhoria da eficiência deste sis-tema em Portugal;. Sensibilizar, mostrar e alertar os principais intervenientes no sector agrícola, para a grave situação que se vive na Europa e em particular em Portugal, no que respeita à manutenção de produtos fitofarmacêuticos no mercado.

O efeito da potencial retirada de 112 s.a. do mer-cado tem efeitos negativos na agricultura nacio-nal, como comprova o estudo da ANIPLA. O que pode e deve ser feito para disponibilizar mais so-luções aos agricultores?

Infelizmente o ritmo a que as substâncias ativas podem vir a ser retiradas do mercado na Eu-ropa não é acompanhado pelo ritmo de desen-volvimento de novas substâncias activas pelas empresas de investigação. Em 1999 havia 70 novas moléculas para entrar no mercado, em 2012 apenas 28. Desta forma torna-se essen-cial a manutenção das que existem atualmente no mercado. Só assim será possível gerir con-venientemente as pragas, doenças e infestantes que atacam as culturas. Gerir as eventuais resis-tências e combater espécies invasoras que, de-vido à globalização, chegam ao nosso território com maior frequência. Nesse sentido torna-se premente que a avaliação dos produtos fitofar-macêuticos assente em princípios de avaliação de risco e não no perigo potencial de uma subs-tância. Como exemplo do que acabo de afirmar tomemos o Sol: O Sol é potencialmente cancerí-geno para a pele mas, são também reconhecidos os seus benefícios no que respeita à produção de vitamina D. Por esse motivo se recomenda à po-pulação em geral a necessidade de se proteger ou utilizar protectores solares. Da mesma forma

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

um fungicida pode ter potencialmente determi-nada característica, mas permite combater o míldio do tomateiro, sem o qual não teríamos to-mate, por este motivo os serviços oficiais quan-do avaliam um produto estabelecem as normas para a utilização do produto garantindo que é eficaz mas que, em simultâneo, não apresenta perigo para o Homem e para o ambiente quando utilizado de acordo com o rótulo. Este é o tipo de avaliação que consideramos ser técnico-cientifi-camente correcto e que esperamos dos deciso-res políticos e não o de exclusão por preconcei-tos e ideias pré concebidas relativamente ao uso de pesticidas.

O tema do glifosato põe a nu o desconhecimento que a opinião pública tem dos produtos para a proteção das plantas. A indústria deve comuni-car mais para fora do setor? De que forma?

A ANIPLA tem que comunicar necessariamente mais. Considerando que a população ativa no sector agrícola tem vindo a diminuir e que a po-pulação urbana, cada vez maior, desconhece a agricultura e as suas necessidades; que a popu-lação urbana está disposta a correr riscos no que se refere à condução de um automóvel, à expo-sição solar ou ao consumo de carnes vermelhas, mas considera que no que respeita aos pestici-das o risco deve ser zero; considerando que a Comissão Europeia e os diversos parlamentos e governos produzem legislação em linha com a percepção da maioria da sua população urbana, torna-se necessário explicar o que é a agricultu-ra moderna e sustentável e a sua importância na produção de alimentos. Torna-se ainda mais ne-cessário informar que os alimentos produzidos na Europa seguem os padrões mais elevados de segurança alimentar. Limitar os factores de pro-dução aos agricultores levará necessariamente a um maior número de importações, de fora da Europa, de produtos agrícolas produzidos com padrões de qualidade distintos dos Europeus e, possivelmente, a crises alimentares a que a Eu-ropa não está habituada desde a II Guerra Mun-dial. Adicionalmente a agricultura para além de ser uma atividade económica, é um bastião de valores da nossa sociedade, contribuindo para a preservação do meio ambiente nos espaços ru-rais , sendo um meio de luta contra a desertifi-cação do interior.

A formação dos aplicadores com vista ao uso seguro dos produtos fitofarmacêuticos é tema prioritário para a ANIPLA. Quais as ambições da associação com a Smart Farm?

A Smart Farm é uma quinta modelo que a ANI-PLA está a desenvolver em parceria com a Com-panhia das Lezírias e com a participação de en-tidades formadoras reconhecidas no sector, CAP e Confagri, e cujos objectivos são:

Ajudar na formação dos agricultores no que respeita ao uso seguro de produtos fitofarma-cêuticos;

Dar a conhecer os últimos desenvolvimentos no que respeita às novas tecnologia em de-senvolvimento em termos de segurança no uso de produtos fitofarmacêuticos;

Dar a conhecer boas práticas de gestão dos solos, da água e da biodiversidade;

Dar a conhecer, à população em geral, o que é a prática de uma agricultura responsável.

Quais são do seu ponto de vista as ameaças e oportunidades do setor da Proteção das Plantas?

Identificaria como principais ameaças a retira-da indiscriminada de produtos do mercado por critérios não científicos; o desconhecimento em geral, por parte da população, do motivo pelo qual os agricultores necessitam de produtos fi-tofarmacêuticos e o afastamento da classe polí-tica do sector agrícola, que tanto tem contribuído para o PIB do país. Como oportunidades um Go-verno que, de novo, parece apostar nas exporta-ções, área para a qual o setor tem contribuído muitíssimo, pelo que esperamos que seja criado um ambiente que permita esse incremento; o reconhecimento por parte das organizações de produtores, dos agricultores e dos principais intervenientes do setor da importância dos pro-dutos fitofarmacêuticos; o aumento do nível de conhecimento no que respeita aos produtos fi-tofarmacêuticos e à sua correta utilização por parte dos utilizadores.

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Fito_Entrevista

Órgãos sociais Anipla triénio 2016/2018

MESA DA ASSEMBLEIA GERALPresidente: Selectis S.A., representada por João Martins

1º Secretário: Dow Agroscience Ibérica, S.A. representada por António Bravo;

DIREÇÃOPresidente: Syngenta Crop Protection, Lda, representada por Mónica Teixeira

Secretário: Sapec Agro, S.A., representada por José Góis

Tesoureiro: Sipcam Portugal, Lda., representada por Fernando Aniceto

Vogais: Bayer CropScience, Lda, representada por Richard BorreaniBasf Portuguesa, S.A., representada por Paulo Lourenço

CONSELHO FISCALPresidente: Nufarm Portugal, Lda, representada por Bruno Gomes

Vogais: Adama Portugal, Lda, representada por António RomeroIQV Agro Portugal, S.A. representada por Francisco Bogas

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

Fito_TemaNo âmbito do projeto europeu “Safe and Sustainable Use Initiative” (SUI), designado em Portugal por “Projeto Cultivar a Segurança”, a ECPA – European Crop Protection Association, em parceria com a ANIPLA, realizaram em Lisboa, a 7 e 8 de junho, um workshop europeu sobre “Uso da Tecnologia na Redução do Risco na Utilização de Produtos Fitofarmacêuticos”.

Tecnologias inteligentes reduzem exposição

A iniciativa contou com a participação de 60 espe-cialistas de 18 países europeus onde se apresen-taram tecnologias simples, mas inteligentes que reduzem o risco praticamente a zero em algumas operações de manuseamento de produtos fitofar-macêuticos. Algumas das novas soluções propos-tas foram testadas na Companhia das Lezírias, onde está em curso um trabalho pioneiro em Por-tugal: o projeto SMART FARM. Trata-se de um es-paço de demonstração prática de implementação de Boas Práticas Agrícolas (BPA) recomendadas pela Indústria Fitofarmacêutica. A ECPA tem em curso, a nível europeu, um total de 12 projetos que materializam o compromisso da indústria com a agricultura sustentável, visan-do disponibilizar produtos agrícolas de qualidade aos consumidores. Estes projetos promovem as

melhores práticas, com o objetivo de maximizar os benefícios da utilização dos produtos fitofar-macêuticos, minimizando, simultaneamente, os riscos potenciais para a saúde e para o ambiente. Os quatro pilares que norteiam a atuação da ECPA são: Saúde (minimizar o risco para os operadores, a população e o ambiente); Alimentação (reduzir o nível de resíduos nos alimentos); Água (preve-nir a contaminação dos cursos e fontes de água) e Biodiversidade (reforçar a biodiversidade e os habitats naturais). Centrado no pilar da Saúde, o “Safe and Sustaina-ble Use Initiative” (SUI) é um desses 12 projetos, promovendo, entre outros, o uso do Equipamento de Proteção Individual (EPI), como medida crucial para reduzir a potencial de exposição do aplicador aos produtos fitofarmacêuticos, durante as fases

Visita à Smart Farm na Companhia das Lezírias

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Fito_Temade preparação e aplicação da calda, lavagem dos equipamentos e gestão de efluentes. Também vi-sadas pelo projeto SUI estão medidas fundamen-tais para mitigar o risco de exposição tanto de operadores, como de trabalhadores, residentes e transeuntes (bystanders) como sejam a utilização de tecnologias aplicadas aos pulverizadores como as cabines fechadas e providas de filtros, os bicos anti-deriva ou os semeadores equipados com de-fletores.

CTS- Closed Transfer SystemsMais recentemente têm vindo a ser desenvolvidas novas tecnologias que permitem a transferência direta dos produtos fitofarmacêuticos da embala-gem para o tanque do pulverizador, em circuito fe-chado, evitando o contato direto do aplicador com o produto. São designados CTS (Closed Transfer Systems, na sigla inglesa). Os CTS têm sido usa-dos há vários anos em nichos de mercado para transferir o conteúdo de embalagens reutilizáveis e, mais recentemente, foram criados novos mo-delos e existem vários protótipos em desenvolvi-mento para utilização em embalagens convencio-nais de produtos fitofarmacêuticos entre 1L e 20L. A intenção da ANIPLA, em parceria com a ECPA, é

dar a conhecer em Portugal as soluções existen-tes, levando os agricultores a experimentá-las em contexto real. A opinião dos utilizadores ajudará a validar os vários sistemas, contribuindo para a oferta dos mais adequados às necessidades con-cretas de cada região agrícola. Para além deste trabalho de desenvolvimento e experimentação a ECPA participa na criação de normas a nível euro-peu que garantam a eficácia dos CTS e a seguran-ça dos utilizadores.

«Há já no mercado alguns modelos passíveis de serem usados em embalagens rígidas de abertu-ra de 63mm, contendo formulações líquidas e que incorporam o selo (película de alumínio) no gar-galo. A nossa ambição é que, a curto prazo, todas as formulações líquidas em embalagens entre 1L e 20L colocadas no mercado sejam compatí-veis com estes sistemas», explica Luís Saramago coordenador europeu do projeto SUI.

Como funcionam os Closed Transfer Systems?Na Smart Farm foram apresentados dois siste-mas CTS que fazem a ligação entre a embalagem e o depósito do pulverizador, garantindo a estan-quicidade da transferência do produto.

Fito_Tema

Os CTS permitem a transferência direta dos produtos fitofarmacêuticos da embalagem para o tanque do pulverizador, em circuito fechado.

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

Andreas Thierfelder, diretor de relações corporativas e sustentabilidade na Euro-pean Crop Protection Association (ECPA)

Está quantificado o impacto positivo que os CTS podem ter na redução da contaminação dos aplicadores?O enchimento do depósito do pulverizador é um ponto crítico de contaminação do aplicador. Com os CTS estamos a dar um passo à frente na dimi-nuição do risco, evitando a exposição direta dos aplicadores aos produtos, porque é um sistema de transferência totalmente fechado. Também é mais conveniente para o agricultor.

Quando é que a tecnologia CTS estará disponí-vel para os agricultores?Alguns modelos já estão disponíveis no merca-do mas penso que dentro de um ano poderão ser facilmente encontrados muito mais modelos e de forma generalizada por toda a Europa. Entre-tanto, é fundamental que quintas modelo como a Smart Farm, em Portugal, o testem e divul-guem, obtendo feedback por parte dos agriculto-res. Desejamos que os novos pulverizadores que venham a ser lançados no mercado já estejam equipados com CTS.

Tratores com CabinaO uso de tratores com cabinas fechadas para aplicação de caldas foi outro dos temas aborda-dos no workshop. Vários são os estudos que de-monstram a importância da utilização de cabinas fechadas, com filtros de ar e poeiras, no conforto e segurança dos operadores. A segurança con-ferida por algumas destas cabinas com proteção contra poeiras, aerossóis e vapores é tal que dis-pensa a utilização de Equipamento de Proteção Individual (EPI) na quase totalidade de aplicações práticas de pesticidas. Investigadores do instituto federal alemão Julius Kühn partilharam com os participantes o trabalho que realizam na área da homologação das cabinas dos tratores e subli-nharam a necessidade de mais normas e testes nos modelos de tratores fruteiros com cabina, nomeadamente relativamente à periodicidade de mudança de filtros.

O workshop contou com a participação de represen-tantes dos ministérios da Agricultura de vários paí-ses. Paula Carvalho, sub-diretora da Direção Geral de Alimentação e Veterinária, apresentou o trabalho realizado por Portugal no âmbito do Plano de Ação Nacional Para o Uso Sustentável dos Produtos Fito-farmacêuticos, sublinhando a estreita colaboração da ANIPLA na preparação e implementação deste plano.

«Os temas debatidos no workshop revelam que a in-dústria continua a investir na inovação e que está na vanguarda da proteção dos operadores, público e am-biente. Compartilhar conhecimento e experiências é fundamental para a evolução do setor e contribui po-sitivamente para o progresso da agricultura europeia», afirmou Fernando Aniceto, membro da Direção da Ani-pla, fazendo o balanço deste encontro europeu.

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A Smart Farm (Exploração Inteligente) é um espaço de demonstração, formação e sensibilização sobre as técnicas, tecnologias, equipamentos e as melhores práticas de utilização segura de produtos fitofarma-cêuticos em todas as suas fases, no qual a ANIPLA e a Companhia das Lezírias, promovem a inovação técnica e científica no contexto da produção agrícola susten-tável.

Trata-se de um projeto evolutivo, mas que nesta fase inicial conta já com: instalações para armaze-namento de produtos fitofarmacêuticos concebidas de acordo com a mais recente legislação; local para enchimento e lavagem de pulverizadores, incluindo bacia de retenção totalmente impermeável e uma infraestrutura para gestão dos efluentes. Nesta ex-ploração modelo será ministrada formação sobre diversos temas, incluindo a utilização de Closed

Transfer Systems (CTS) e as técnicas e equipamen-tos usados para reduzir a poluição das águas por fontes pontuais, difusas ou por deriva, no âmbito do projeto TOPPS.

«O objetivo da ANIPLA é fazer da Smart Farm uma montra do que melhor se faz em Portu-gal em termos das técnicas e equipamentos recomendados para uso seguro dos produtos fitofarmacêuticos. Daremos formação aos agricultores e influenciadores e, paralela-mente, acolheremos visitas do público em ge-ral, por forma a aumentar o conhecimento da opinião pública sobre a indústria de proteção das plantas e as boas práticas dos agriculto-res portugueses», afirma António Lopes Dias, Diretor-Executivo da ANIPLA.

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura. Fito_Tema

A Smart Farm está instalada na Companhia das Lezírias, empresa pública que gere 18.000 hecta-res de terrenos agrícolas e florestais no Ribatejo e é uma referência de boas praticas na região. Falá-mos com António Saraiva, o presidente da Com-panhia.

O que motivou a Companhia das Lezírias a acolher a Smart Farm?Em primeiro lugar, o dever de fazer as coisas bem feitas, esta colaboração com a ANIPLA e o projeto que nos foi apresentado era um imperativo dentro da Companhia. Não só como agricultores que so-mos, mas porque recebemos muitas visitas, temos o dever de disseminar as boas práticas, nomeada-mente sobre a utilização dos produtos fitofarma-cêuticos.

Em sua opinião o Close Transfer System (CTS), um sistema fechado de dosagem e transferência dos produtos fitofarmacêuticos, vai revolucionar a for-ma como se preparam as caldas?A mudança tem que ocorrer em primeiro lugar no comportamento dos utilizadores. A Companhia das Lezírias, como entidade referência na região, deve ter a capacidade de influenciar outros agen-tes no sentido da adoção de boas práticas. O mo-delo do CTS foi instalado num dos pulverizadores da Companhia das Lezírias e outro modelo será instalado no pulverizador de uma empresa que

«Temos o dever de disseminar as boas práticas»

presta serviços de pulverização a muitos agricul-tores da região, acreditamos por isso que terá um efeito multiplicador e que todos desejarão alinhar pelas melhores práticas.

O ajuste do volume de calda em função do estado vegetativo das culturas é uma prática adotada na Companhia das Lezírias?Ponderamos adquirir um pulverizador com recu-peração de calda para evitar perdas. É apenas um exemplo da forma como pretendemos atingir as metas do compromisso ABC 2020 que adotámos na Companhia e que está patente nos rótulos dos nossos vinhos: melhorar as boas práticas relati-vas ao Ambiente e à Biodiversidade e diminuir as emissões de Carbono.

Preocupa-o o potencial impacto da retirada de substâncias ativas do mercado nacional, conforme apurado no estudo realizado pela ANIPLA?Os agricultores portugueses querem ter à sua dis-posição as mesmas ferramentas que os restantes agricultores europeus. Reconheço que a introdu-ção de novos produtos no mercado é um processo moroso atualmente, pelo que a retirada descere-brada de produtos do mercado, sem olhar às con-sequências é sempre perigoso. Espero que o bom senso prevaleça, ponderando o risco potencial e as necessidades dos agricultores.

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Fito_Tema

«Temos o dever de disseminar as boas práticas» In_Anipla

810M€ de rendimento agrícola em risco

Um estudo realizado pela ANIPLA, e divulgado em Maio, procura dar resposta a esta dúvida. As con-clusões são preocupantes. Foi analisado o potencial impacto económico da retirada de um conjunto de substâncias activas (s.a.) consideradas em risco de exclusão a nível da UE (Anexo 1), e que são usadas em Portugal na proteção da videira, oliveira, milho grão, pereira e tomate indústria. Estas fileiras no seu conjunto representam cerca de 40% do rendimento da produção vegetal nacional (perto de 1,5 mil milhões de euros).De uma forma geral, o impacto da retirada destas s.a. inviabilizaria a exploração empresarial de qual-quer das culturas em análise, representando uma redução de cerca de €810 milhões no rendimento, equivalente a 22% da produção vegetal e 12% do total do setor agrícola nacional.

Vejamos em detalhe os impactos em cada cultura:

VINHA/VINHOA análise incidiu sobre os cinco problemas fitossanitários que mais afetam a cultura, referidos pelas entidades inquiridas pela ANIPLA, no Alentejo, Douro, Península de Setúbal e Minho. Extrapolando os dados para o nível nacional, a quebra na produção final, atribuída a cada inimigo, após retirada das s.a. em risco é a seguinte:

O que acontecerá à agricultura nacional se 112 substâncias ativas usadas para proteger as cinco culturas agrícolas mais importantes em Portugal forem proibidas pela UE?

0%

5%

10%

15%

20%

25%

30%

35%

40%

45%

50%Míldio

-46%Oídio

-32%Cicadelídeos

-12%Escoriose

-9%Infestantes

-8%Botrytis

-8%Ácaros

-5%Traça

-5%

Quebrana Produção Final (%)

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

O rendimento ao produtor poderia ser reduzido a quase metade, em média, com um impacto nacional direto próximo de 360 milhões de euros. O impacto negativo na qualidade do vinho (não calculado) é expectável, devido à mais baixa qualidade da uva. A menor produtividade resultante de um menor controlo fitossanitário também colocaria em causa as exportações do setor, avaliadas em 725 M€.

OLIVEIRA/AZEITE

O estudo conclui que haverá uma redução significativa do controlo dos principais inimigos do olival, se vier a concretizar-se a retirada das substâncias ativas indicadas. A mosca da azeitona, a traça e as doenças (criptogâmicas e bacterioses) seriam problemas potencialmente incontroláveis. A Mosca e o Complexo de Doenças causariam o maior impacto na produção (-56%).

O rendimento ao produtor poderia ser reduzido a mais de metade, em média com um impacto nacio-nal de quase 170 milhões de euros. Toda a restante produção ficaria seriamente afetada, reduzindo significativamente a qualidade do azeite. Por outro lado, nestas condições, será virtualmente impos-sível produzir azeitona de mesa. É previsível um impacto negativo quer relativo ao abandono, quer relativo ao desinvestimento na fileira, quebrando o ciclo virtuoso de crescimento que se verificou nos últimos anos, com uma produção recorde de 765 mil toneladas de azeitona para azeite e 440 M€ em exportações em 2015.

Vinho: Rendimento ao Produtor

M€ 0.0 100.0 200.0 300.0 400.0 500.0 600.0 700.0 800.0 900.0

Rendimento actual

Rendimento final (após retirada dos produtos) 416.0 M€

776.0 M€

-359.1 M€

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

Cochonilhas

-0,1%Infestantes

-30%Margaronia

-11%

Mosca da Azeitona

-56%Olho de Pavão

-42%Traça

-19,2%

Complexode doenças

-56%

Quebrana Produção Final (%)

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MILHO GRÃO

O impacto da retirada das substâncias ativas conduziria a uma significativa quebra de produtividade da cultura do milho, devido ao deficiente nível de controlo das infestantes, com perdas na ordem dos 60%, agravando ainda mais a difícil situação dos produtores, provocada pela conjuntura de preços baixos do milho.

O rendimento ao produtor poderia ser drasticamente reduzido, com um impacto de cerca de 99 mi-lhões de euros. Este cenário hipotético levaria por certo ao abandono completo da atividade por parte de milhares de produtores de milho, o que agravaria ainda mais a dependência de Portugal face ao exterior.

Azeite: Rendimento ao produtor

M€ 0.0 50.0 100.0 150.0 200.0 250.0 300.0

Rendimento actual

Rendimento final (após retirada dos produtos) 132.0 M€

300.0 M€

-168 M€

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

Infestantes

-60%Brocas

-11%Nóctuas

-27,2%Pirale

-2,6%

Quebrana Produção Final (%)

Milho/Grão : Rendimento ao produtor

M€ 0.0 20.0 40.0 60.0 80.0 100.0 120.0 140.0 160.0 180.0

Rendimento actual

Rendimento final (após retirada dos produtos) 66 M€

165 M€

-99 M€

In_Anipla

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

TOMATE INDÚSTRIA

A retirada das s.a. analisadas levaria a que um grande número de inimigos da cultura ficasse com controlo deficiente ou mesmo sem controlo. Pragas e infestantes seriam os inimigos com maior im-pacto na produção de tomate indústria. Sem meios para controlar as “Lagartas” ocorreria uma perda quase total da cultura.

O rendimento ao produtor poderia ser drasticamente reduzido, com um impacto de quase 105 milhões de euros, afetando cerca de 500 produtores e toda a fileira a montante e a jusante. A quebra de ren-dimento estimada na indústria de concentrado de tomate poderia superar os 200 milhões de euros. Neste cenário a cultura do tomate indústria deixaria de ser rentável e o abandono seria total, pondo em causa a viabilidade de uma fileira cujo valor das exportações ronda os 260 M€ (dados de 2015).

Tomate : Rendimento ao produtor

M€ 0.0 20.0 40.0 60.0 80.0 100.0 120.0 140.0

Rendimento atual (2015)

Rendimento final (após retirada dos produtos) 23.5 M€

128.3 M€

-104.8 M€

0%

10%

20%

30%

40%

50%

60%

70%

80%

90%

-36%

Quebrana Produção Final (%)

-23%

-33%

-4%-10%

-63%

-81%

-4%

-40%

-65%

-10%-17%

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-20%

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PERA ROCHA

A cultura da pereira rocha é afetada por um grande número de inimigos, vários deles capazes de causar prejuízos significativos. Numa situação sem meios de controlo, o Pedrado e as Doenças de conservação são considerados os inimigos com maior impacto, seguindo-se a Psila e o Bichado. No caso do Pedrado, a quebra poderia atingir 76,5%, ou seja, 23 toneladas por hectare. A inclusão de triazóis e ditiocarbamatos na lista é determinante para este resultado.

O rendimento ao produtor poderia ser drasticamente reduzido, com um impacto de mais de 82,6 mi-lhões de euros, afetando um setor que envolve cerca de 12.000 explorações agrícolas, e toda a cadeia de valor diretamente dependente dos agricultores e das centrais fruteiras. Dada a grande quantidade de inimigos que afeta a cultura, a pouca produção possível de colher seria certamente de muito baixa qualidade inviabilizando o seu consumo em fresco e comprometendo as exportações de pera rocha, avaliadas em 86 milhões de euros.

Pera Rocha : Rendimento ao produtor

M€ 0.0 20.0 40.0 60.0 80.0 100.0 120.0

Rendimento actual (2015)*

Rendimento final (após retirada dos produtos) 25.4M€

108 M€

-82,6 M€

In_Anipla

0%

10%

20%

30%

40%

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Quebrana Produção Final (%)

-3,2%

-0,1%

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-24%

-40,5%

-29,4%

-0,5%

-20%

-0,2% 0,2%

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-76,5%

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-0,1%

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

Na apresentação do estudo estiveram presentes várias dezenas de pessoas em representação de organizações de produtores e empresas agríco-las, de associações, da indústria de proteção das plantas e das entidades oficiais.

Luís Mira, secretário-geral da CAP, manifes-tou preocupação com as conclusões do estudo, e lamentou que «exista na União Europeia uma obsessão ideológica, sem bases científicas, que começa a causar graves problemas aos agricul-

tores europeus». Este comentário está em linha com a posição da ANIPLA, que defende a ava-liação e regulamentação dos produtos com base na Ciência, ponderando o risco e o benefício dos mesmos para a agricultura e a sociedade, e não se baseando apenas no critério do perigo, como acontece atualmente.«A população urbana desconhece o mundo rural e por isso não está disposta a correr quaisquer riscos em matéria de pesticidas. Precisamos de demonstrar à opinião pública que os alimentos

«É necessário um lobby político pelo mundo rural»A Confederação dos Agricultores de Portugal associou-se à ANIPLA na apresentação do estudo, a 19 de maio, e João Machado, presidente da CAP, lembrou que está em causa a soberania alimentar da Europa.

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*A ANIPLA contou com a colaboração de 27 entidades representativas das cinco fileiras analisadas para recolha de dados sobre o impacto económico da retirada das 112 s.a. em análise.

produzidos na União Europeia são seguros, por-que os agricultores europeus cumprem regras de segurança alimentar e ambiental das mais exigentes a nível internacional», afirmou Mónica Teixeira, presidente da ANIPLA.

O estudo recomenda uma participação ativa de todo o setor agrícola na revisão do Regulamen-to 1107 e um diálogo permanente com o poder político, visando a implementação de ações con-juntas em defesa dos interesses da agricultura portuguesa junto das instâncias comunitárias.Paula Carvalho, sub-diretora geral de Alimenta-ção e Veterinária, que esteve na apresentação, reconheceu que «os potenciais impactos que este estudo revela são apenas “a ponta do ice-berg”. A eventual retirada deste conjunto de s.a.

da UE terá um impacto na qualidade e disponi-bilidade dos produtos alimentares, que os con-sumidores não desejam, e pode pôr em causa as exportações portuguesas», explicando que Portugal está a negociar acordos de exportação com 20 países e, por isso, precisa de soluções para combater as pragas e doenças que afetam as culturas, sob pena de ver barrada a entrada dos seus produtos nesses países.

João Machado, presidente da CAP, recordou que 500 milhões de europeus dependem de nove mi-lhões de agricultores para se alimentar e disse que o que está em causa é a soberania alimentar da Eu-ropa. «É necessário um lobby político pelo mundo rural, sem vergonha, nem hesitações», concluiu.

FACTOS E DADOSEm 1999 haviam 70 novas moléculas no “pipeline” contra apenas 28 em 2012

Os custos para introduzir um novo produto fitofarmacêutico na Europa aumentaram de 135M$ em 1995 para 255M$ no período 2010-2014

12 anos:tempo necessário para introdu-zir um novo produto fitofarmacêutico no mercado

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Num panorama nacional e internacional em que as exigências de produção de alimentos são uma constante, é cada vez mais necessário dotar os agricultores de ferramentas e conhecimento capazes de assegurar a tão necessária competitividade.

Neste contexto, a utilização de produtos fitofarmacêuticos representa um dos fatores fundamentais para ga-rantir a competitividade agrícola e permitir a produção de mais e melhores alimentos. A sua eficácia está dire-tamente ligada à segurança no seu uso, que passa pela adoção das boas práticas preconizadas pela Indústria em todas as fases da sua utilização, e sobre as quais enumeramos abaixo algumas recomendações:

Antes da Aplicação

Leia sempre o rótulo antes de usar o produto, é obrigatório seguir as instruções:O rótulo é o documento oficial que contém toda a informação sobre o produto;Leia toda a informação e verifique se o produto é adequado ao problema que quer resolver;Respeite as indicações de uso e o modo de preparação da calda;Tenha em atenção as precauções toxicológicas, ecotoxicológicas e ambientais.

Durante a preparação da calda e aplicação

Utilize sempre equipamento de proteção individual adequado: Fato de proteção; Luvas; Botas de borracha; Viseira ou óculos;

Boas Práticas na Utilização de Produtos Fitofarmacêuticos

Comissão de Agricultura Sustentável

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Máscara respiratória; Consulte o rótulo para verifi car qual o equipamento de proteção individual necessário.

Tripla lavagem das embalagens - Lave três vezes as embalagens vazias de produtos fi tofarmacêuticos, sem-pre que esta recomendação se encontre descrita no rótulo

Após a aplicação

Lave as luvas após a aplicação e antes de as retirarAs luvas constituem proteção muito importante para o aplicador;Utilize luvas su ficientemente compridas por forma a cobrir o braço, não deixando pele a descoberto entre a luva e a manga;A lavagem prolonga a duração das luvas e evita a penetração dos produtos no interior (contaminação).

Após a tripla lavagem das embalagens: Entregue-as num ponto de retoma VALORFITO; Nunca se desfaça das embalagens vazias de forma descuidada, deixando-as nos campos, rios, ribeiros ou valas, ou ainda nos contentores de resíduos urbanos;

Nunca queime as embalagens na exploração agrícola ou em qualquer lugar; Nunca reutilize as embalagens vazias de produtos fi tofarmacêuticos, podem conter resíduos do produto; O VALORFITO é o sistema licenciado para a gestão de resíduos de embalagens vazias.

Para mais informações consulte o Manual de Boas Práticas editado pela Anipla

Mercado de produtos fitofarmacêuticos marca passo

Comissão de Dados e Estatística

O ano agrícola tem sido negativo, marcado por uma climatologia adversa para muitas culturas, causando atrasos e prejuízos, situação que se refletiu na utilização de fitofármacos, cujo mercado se mantém estável no primeiro semestre de 2016.

Os baixos preços do leite e do milho também contribuíram para a retração de uma parte dos produtores. Também se considera com algum impacto negativo, mais intenso nas regiões do Norte, a situação relacio-nada com a emissão de cartões de aplicador que, nas regiões de minifúndio, não deixou de ter um impacto assinalável.

Em sentido contrário, concorreu a maior pressão de infestantes e de doenças criptogâmicas, sobretudo na cultura da vinha.

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

Fito_GlobalGlifosato não tem potencial cancerígeno

A Anipla congratula-se com os resultados dos inúmeros estudos efetuados em diversos cantos do mundo que vêm confirmar o que Indústria fitofarmacêutica defende desde o início do processo de avaliação desta substância ativa, que o glifosato não é cancerígeno e como tal, deverá ser reautorizado.

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A Anipla congratula-se com os resultados dos inúmeros estudos efetuados em diversos cantos do mundo que vêm confirmar o que Indústria fito-farmacêutica defende desde o início do processo de avaliação desta substância ativa, que o glifosa-to não é cancerígeno e como tal, deverá ser reau-torizado.Os estudos científicos da EFSA – Agência Euro-peia para a Segurança Alimentar, confirmam que o glifosato não mostra propriedades canceríge-nas ou mutagénicas e não tem nenhum efeito tó-xico na fertilidade, na reprodução ou no desenvol-vimento embrionário.

A EPA (United States Environmental Protection Agency), agência homóloga da EFSA nos EUA e uma das mais credíveis a nível mundial, também publicou os resultados da sua avaliação oficial do glifosato, concluindo que este herbicida “não tem potencial cancerígeno para os seres humanos”. As autoridades reguladoras do Canadá, da Aus-trália (Australia Pesticides & Veterinary Medici-nes Authority) e do Japão (Food Safety Commis-sion of Japan) chegaram à mesma conclusão, o que eleva para cinco o número de entidades ofi-ciais que negam o potencial cancerígeno do gli-fosato.

Agricultores portugueses defendem manutenção do glifosatoVárias entidades representativas do setor produ-tivo nacional – CAP, Confagri, Anpromis, Anpoc, COTHN, Portugal Fresh, Aposolo e FNOP - junta-ram a sua voz à da ANIPLA numa carta enviada, em Abril, a várias entidades oficiais em Portugal e na União Europeia, alertando para os riscos inerentes da não aprovação do glifosato. No caso de usos agrícolas, a maior parte das culturas em causa ficaria com a sua continuidade ameaçada, uma vez que os meios alternativos (mecânicos, físicos, humanos) ou não seriam possíveis de executar ou seriam economicamente impraticá-veis. Por outro lado, as alternativas ao glifosato, autorizadas em Portugal, são limitadas e mais nenhuma outra substância ativa possui um com-portamento biológico, um modo de ação e uma polivalência que permita ser considerada como um substituto do glifosato.

O glifosato é uma ferramenta fulcral para a pro-dutividade e competitividade da agricultura por-tuguesa e adicionalmente um meio seguro, fácil, eficaz e, sobretudo, económico de solucionar o desenvolvimento, multiplicação e dispersão de um vasto número de espécies vegetais indese-jáveis.

Processo de votaçãoConsiderando que os Estados membros não de-monstraram capacidade para assumir a decisão relativamente ao glifosato, e tendo em conta a avaliação científica, extremamente rigorosa da substância ativa, efetuada pela Autoridade Eu-ropeia para a Segurança Alimentar (EFSA) e Agências Nacionais dos Estados-Membros, a Comissão europeia aprovou, no passado dia 29 de Junho, a extensão da autorização de uso do glifosato pelo período de 18 meses (até final de 2017).

No final de 2017, espera-se um parecer adicio-nal sobre as propriedades da substância ativa pela parte da Agência Europeia de produtos quí-micos (ECHA), cuja opinião será decisiva para a definição das etapas seguintes relativamente ao glifosato.

Perante esta decisão, a Anipla demonstrou pu-blicamente o seu desapontamento. Depois da Comissão Europeia ter proposto, ori-ginalmente, uma reaprovação do uso do glifosa-to por um período de 15 anos, ficamos agora, e apenas, com uma extensão de 18 meses, aguar-dando que, durante esse período, se realize uma nova avaliação para adicionar às já existentes 90.000 páginas que resumem 3.500 estudos de evidências cientificas. O desenrolar deste processo e, consequente a decisão final, serve apenas para demonstrar que o que deveria ter sido um processo de deci-são tomado com base em critérios científicos, foi completamente prejudicado e adulterado pela componente política.

Fito_Global

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FitoSíntese // A revista para quem pensa a agricultura.

Fito_Agenda

14 > 15 Set.Portato EuropeHannover / Alemanha Saber mais

12 > 16 Nov.EnovitisMilão / ItáliaSaber mais

20 > 30 Nov.Intervitis Interfructa Hortitechnica Estugarda / Alemanha Saber mais

1 > 4 Set.AgrosemanaVila do CondeSaber mais

20 > 21 Out.Colóquio Nacional de HorticulturaSocial e TerapêuticaEstoril Saber mais

29 Nov. > 1 Dez.Vinitech- SifelBordéus / FrançaSaber mais

3 > 5 Ago.4ª PrognosfruitHamburgo / AlemanhaSaber mais

7 > 9 Set.AgroGlobalValada do RibatejoSaber mais

14 > 15 Out.Colóquio Nacional Produção de Pequenos FrutosOeiras / Lisboa Saber mais

5 > 7 Out.Fruit AttractionMadrid / EspanhaSaber mais