A SALA DE APOIO À APRENDIZAGEM (SAA) COMO … · Apoio à Aprendizagem (SAA) do Colégio Estadual...
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A SALA DE APOIO À APRENDIZAGEM (SAA) COMO ALTERNATIVA AO ENSINO E À APRENDIZAGEM DE LEITURA
Helena Aparecida Gualtieri Prates Terezinha Corrêa Lindino (orientadora)
RESUMO: Este artigo faz parte do Plano de Desenvolvimento Educacional do Governo do Estado do Paraná- PDE/2010, referente ao ensino da leitura segundo a metodologia Freinet, com alunos de 6º ano e 7º ano frequentadores da Sala de Apoio à Aprendizagem (SAA) do Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta, localizado no município de Marechal Cândido Rondon, do Núcleo Regional de Toledo. Pretende-se com este artigo possibilitar aos alunos a escolha de suas leituras com níveis de dificuldades crescentes e fazer com que os mesmos sejam capazes de relacionar-se com textos, com as informações implícitas e perceber as relações com outros contextos, bem como desenvolver uma proposta de encaminhamento, com sugestões de atividades, utilizando a metodologia Freinet, de modo a analisar diversas leituras em suas diferentes dimensões. Pretende ainda desenvolver ações alternativas para tornar os alunos leitores aptos ao contexto da palavra-mundo. PALAVRAS-CHAVE: Leitura; Uso alternativo da Língua escrita.
ABSTRACT: This article is part of the Educational Development Plan of the Government of the State of Paraná-PDE/2010, concerning the teaching of reading according to the Freinet methodology, with students from 6th and 7th grade attending the Learning Support Room (SAA) from the Antônio Maximilian Ceretta State High School, located in the city of Marechal Cândido Rondon, part of the Toledo City Regional Core. This article aims to allow students to choose their readings with levels of increasing difficulty and cause the same to be able to relate with texts, with implicit information, and perceive relations with other contexts, as well as develop a proposal of routing, with suggestions for activities, using the Freinet methodology, in order to analyze several readings in their different dimensions. This article also intends to develop alternative actions to make students suitable readers of the context of the “Worldword”. KEYWORDS: Reading; Alternative use of written Language.
INTRODUÇÃO
Em 2006, no Seminário Internacional Lições latino-americanas para
promover a educação para todos, realizado na Colômbia, chegou-se a
conclusão que para melhorar a Educação deve-se começar pela leitura, pois,
no centro do desenvolvimento educacional dos alunos, o esforço de
desenvolver a capacidade de leitura é condição facilitadora de todas as demais
aprendizagens.
A leitura é imprescindível na formação dos alunos, pois para se formar
um leitor, ele necessitará realizar um trabalho de construção de significação do
texto a partir do conhecimento linguístico e da intencionalidade do autor. Pois,
“Ler é uma prática básica, essencial, necessária, indispensável para a
aprendizagem” (RANGEL, 1991, p.10). Ou ainda, para “Ler o mundo [deve-se]
assumir-se como sujeito da própria história. É ter consciência dos processos
que interferem na sua existência como ser social e político” (FREIRE, 1996,
p.7).
Por conseguinte, conforme aponta o Freire (1996, p. 08), “A leitura da
palavra é sempre precedida da leitura do mundo. Aprender a ler, a escrever,
alfabetizar-se é, antes de qualquer coisa, aprender a ler o mundo, compreender
o seu contexto como uma relação dinâmica que vincula linguagem e realidade”.
Nota-se ainda que o indivíduo tão somente seja capaz de fazer leitura
permanente do mundo quando consegue captar o que se apresenta por meio
do dinamismo deste mundo. E assim, posteriormente, nele interferir, atuar e
sentir-se motivado para a leitura da palavra. Visto que, o sujeito que produz
uma leitura a partir de sua posição, interpreta.
O sujeito leitor que se relaciona criticamente com sua posição e que a
problematiza explicita as condições de produção de sua leitura e a
compreende. (ORLANDI, 2004). O ato de ler pode apresentar não apenas uma
condição intelectual, mas também uma condição de libertação: a de poder ser
um leitor mais autônomo e crítico de qualquer texto, de várias linguagens, do
mundo que o rodeia, ou de mundos diferentes do seu.
A leitura representa uma atividade de grande importância para a vida
de cada indivíduo, pois, por meio dela, podemos interagir e compreender o
mundo a nossa volta e as especificidades de sua formação, contribuindo para o
crescimento e participação ativa e crítica na sociedade. Ler o mundo é assumir-
se.
Neste contexto, o objetivo deste trabalho foi desenvolver uma proposta
de encaminhamento de atividades para a Sala de Apoio, utilizando a
metodologia Freinet, de modo a analisar diversas leituras em suas diferentes
dimensões. Pretendeu-se ainda desenvolver ações alternativas para tornar os
alunos leitores aptos ao contexto da palavra mundo; e que os mesmos
consigam agregar os tipos de estímulos de leituras: o dever, a necessidade e o
prazer de ler, possibilitando a escolha de suas leituras com níveis de
dificuldades crescentes e fazendo com que os mesmos sejam capazes de
relacionar-se com textos, com as informações implícitas e perceber as relações
com outros contextos.
Este estudo se fundamenta na seguinte pergunta problema: é possível
desenvolver e/ou aprimorar o potencial da leitura da palavra, tornando o aluno
eficiente no uso da língua escrita, da interpretação e na formação do
pensamento crítico? Defendemos que sim. Mas, ler não é tarefa fácil.
Ela é uma das competências mais importantes a serem trabalhadas. A
leitura, além de proporcionar cidadania, é fonte de lazer e de cultura
imprescindível às pessoas. Numa concepção de Interação, nas Diretrizes
Curriculares de Língua Portuguesa para a Educação do Estado do Paraná, “[...]
temos a leitura como um processo de produção de sentido que se dá a partir
de interações sociais ou relações dialógicas, que acontecem entre o texto e o
leitor” (SEED, 2008, p. 57).
1 O QUE É LEITURA
Uma das manifestações de maior descontentamento entre professores
é que os alunos não sabem ler, não gostam de ler, não aprendem a ler e não
entendem o que o professor diz. Mas, será que ele não sabe fazer a leitura ou
o tema não lhe é próximo de sua idade ou agradável? Segundo Delmanto
(2009, p. 24-26),
A escola deve ter a preocupação, cada vez maior, com a formação de leitores, ou seja, a escola deve direcionar seu trabalho para práticas cujo projeto não seja apenas o ensino da leitura em si, mas desenvolver nos alunos a capacidade de fazer uso da leitura, como também da escrita para enfrentar as dificuldades da vida em sociedade. É preciso que a escola forneça os instrumentos necessários para que o aluno consiga buscar, analisar, selecionar, relacionar e organizar as informações complexas do mundo.
A autora considera ainda que se deva ensinar além da decodificação, a
compreensão, apreciação do texto, assim como a relação do leitor com o texto.
Acrescentam também que se forem propostas atividades visando tais objetivos,
os alunos serão capazes não apenas de localizar informações, mas de se
relacionar e integrar as partes do texto, de refletir sobre os seus sentidos,
captando as intenções, informações implícitas e de perceber as relações com
outros contextos.
Sendo assim, a leitura torna-se imprescindível na formação dos alunos,
pois para se formar um leitor, este necessitará realizar um trabalho de
construção de significação do texto a partir do conhecimento linguístico e da
intencionalidade do autor. “Ler é uma prática básica essencial, indispensável
para a aprendizagem”. (RANGEL, 1991, p.10).
Ao “Ler o mundo [deve-se] assumir-se com sujeito da própria história.
É ter consciência dos processos que interferem na sua existência como ser
social e político”, nos aponta Freire (1996, p.07). Por conseguinte, ainda
defende o autor,
Ler é uma operação inteligente, difícil, exigente, mas gratificante (...) é procurar ou buscar criar a compreensão do lido, (...) é engajar-se numa experiência criativa em torno da compreensão. Da compreensão será tão mais profunda quanto sejamos nela capazes de associar-se. (FREIRE, 1996, p. 29-30).
Aprender a ler, a escrever, alfabetizar-se é aprender a ler o mundo,
compreender o seu contexto como relação dinâmica que vincula linguagem
e realidade. O indivíduo só é capaz de fazer leitura permanente do mundo,
quando consegue captar o que se apresenta por meio do dinamismo deste
mundo para nele interferir a atuar. Nesse sentido, o sujeito que produz uma
leitura a partir de sua posição, interpreta.
O ensino de Língua Portuguesa tem sido objeto de intensas reflexões
críticas a partir da década de 1940. Tem havido, nesses anos, uma crescente
consciência da precariedade dos resultados do ensino da língua materna
no Brasil. Dados estatísticos provam que o sistema de ensino apresenta
graves dificuldades de leitura e compreensão de textos.
É sabido que todo país precisa investir na educação e dar
condições de aprendizagem intelectual, pois o acesso à leitura desenvolve o
conhecimento e conscientiza o homem de seus direitos e deveres como
cidadão. Hoje o grande volume de informação exige que este cidadão tenha
a capacidade de ler e interpretar textos em múltiplas linguagens.
É sabido também que sem o processo de letramento, torna-se mais
difícil ter acesso às informações e, principalmente, estabelecer relações entre
aquelas que já estão ao nosso alcance.
Segundo Soares (2001, p. 36), hoje devemos ter clareza de que
o “[...] alfabetizado é quem aprende a ler e a escrever e passa a usar a leitura
e a escrita, a envolver-se em práticas de leitura e de escrita, tornando-se uma
pessoa diferente, adquire um outro estado, uma outra condição”. Afirma
ainda que “Letrar é mais que alfabetizar, é ensinar a ler e escrever dentro de
um contexto onde a escrita e a leitura tenham sentido e façam parte da vida
do aluno”.
No mesmo viés, Freire e Macedo enfatizam que
Ler é estar familiarizado com diferentes textos produzidos em diversas esferas. É superar a atividade de decodificação das palavras e utilizar esses códigos como ponto de partida para a produção de sentido, que se dá na articulação entre o que se lê e o que se sabe sobre o que se lê (1990, p. 98).
Nas Diretrizes Curriculares da Rede Pública de Educação Básica do
Estado do Paraná, a leitura é entendida como um processo de produção de
sentido.
No ato da leitura, um texto leva a outro e orienta para uma política de singularização do leitor que participa da elaboração dos significados, confrontando-o com o próprio saber, com sua experiência de vida. (SEED, 2008, p.57).
O processo de leitura deve garantir que o leitor compreenda os
diversos textos que se propõe a ler. Ele precisa perceber que com a leitura
poderá ter variados objetivos: para aprender, para obter informação,
para seguir instruções, por prazer, para comunicar um texto a outras
pessoas, para ter conhecimento do mundo e que não basta apenas ler, mas
é importante analisar, interpretar e conhecer para agregar valor à atividade
ou necessidade que se tem. Assim, ao pensarmos nos benefícios da
leitura devemos pensar em formas de aplicação e desenvolvimento da
leitura em sala de aula.
Desta forma, a Pedagogia Freinet é uma proposta que tem a intenção
de modernizar a escola, para que esta seja uma escola do povo, buscando
formar um homem mais livre, mais responsável. O autor aponta que é
necessário conhecer a natureza ao homem e dar consciência do que ele é,
do que quer e dar instrumentos necessários para que ele possa superar as
dificuldades. Ele ainda enfatiza que o aprender deveria passar pela
experiência vida e isso só é possível pela ação, por meio do trabalho
(pesquisa, documentação e experimentação).
Outro aspecto importante é a liberdade, relativa e não desvinculada a
vida e do trabalho de cada um. Para Freinet, a liberdade é a possibilidade do
ser humano vencer obstáculo. Desta forma, o autor nos apresenta técnicas
pedagógicas que pudessem envolver as crianças no processo de
aprendizagem, independente da diferença de caráter, inteligência ou meio
social. “[...] o processo de aprendizagem visa aprimorar os diversos
conhecimentos. Este conhecimento deve propiciar a prática, a discussão e a
leitura de diferentes esferas sociais”. (ELIAS, 2010, p13).
Segundo Oliveira,
A classe Freinet é um lugar de produção onde o professor e alunos discutem os conhecimentos básicos da aprendizagem: tudo nela evoca o trabalho produtivo, até o vocabulário usado pelo educador: a classe é um canteiro de obras, ela se divide em oficinas onde é fundamental a presença de ferramentas e o uso de técnicas de trabalho. (apud ELIAS, 2010, p. 139).
Ao docente caberia despertar, manter alerta e tornar eficiente o
espírito de busca constante sempre respeitando os direitos do ser humano:
“[...] o de ser respeitado e valorizado, desenvolvendo a capacidade criativa e
imaginativa que cada pessoa tem dentro de si”. (ELIAS, 2010, p. 13). Assim,
a escola deveria estar inserida no seio da natureza onde a criança possa
desenvolver a inteligência, familiarizar-se com as primeiras práticas
escolares.
[...] Somente a revolução social daria valor à educação nova. Portanto, a sala de aula passa a ser o lugar aonde professor e alunos discutem os conhecimentos básicos da aprendizagem. Cabe ao docente despertar, manter alerta e tornar eficiente o espírito de busca constante sempre respeitando os direitos do ser humano: o de ser respeitado e valorizado, desenvolvendo a capacidade criativa e imaginativa que cada pessoa tem dentro de si. (ELIAS, 2000, p. 36).
A autora nos esclarece que os conceitos-chave da proposta de
Freinet são dois: o trabalho e a livre expressão. Para fundamentar sua
pedagogia, o autor apoia-se em quatro princípios (eixos):
• Cooperação (construção do conhecimento comunitariamente): o social
permite desenvolver entre as crianças e professores relações que
conduzem a organização de vários modos de trabalho.
• Comunicação (como forma de integrar, formalizar, transmitir e divulgar
o conhecimento): por meio de conversa livre, textos livres, expressão
corporal, debates, proporcionar uma aprendizagem real.
• Documentação: com o chamado livro da vida, registro da história que
se constrói diariamente.
• Afetividade: elo entre as pessoas e o objeto do conhecimento
“A sua metodologia parte do impulso criador da criança, riqueza do
meio educativo e técnicas adequadas construindo três princípios
fundamentais”. (ELIAS, 2010, p. 64). São eles:
a) Tateamento Experimental: Eixo em torno do qual giram todas as
aquisições infantis, ou seja, ações que o indivíduo pratica para
chegar às próprias descobertas. (p.57)
b) Livre Expressão: O meio de expressão privilegiado da criança é o
imaginário - o texto livre, nova forma de trabalhar. A leitura e a
escrita que não dissocia a escola da vida. (p. 61)
c) Vida Cooperativa: Freinet concebe um movimento cooperativo, de
ajuda mútua, que não abolia as individualidades. (p. 64)
Freinet criou algumas técnicas pedagógicas. Uma delas seria a aula
passeio, pois acreditava que o interesse da criança não estava na escola e
sim fora dela. Além dessa técnica, outras (por exemplo, autoavaliação,
autocorreção, correspondência interescolar, fichário de consulta, imprensa
escolar, livro da vida, plano de trabalho e texto livre) foram indicadas como
alternativa. Para este autor,
[...] o principal fim da educação é o crescimento pessoal e social do indivíduo, elevar a criança a um máximo de humanidade, preparando-a não apenas para a sociedade atual, mas para uma sociedade melhor, fazendo-a avançar o mais possível em conhecimento. (apud ELIAS, 2010, p. 90).
No caminho da Educação, tudo é vida. Basta o desejo de conhecer e
a disposição para realizar, de forma concreta uma estrutura aberta, num
clima de liberdade, de afetividade e coresponsabilidade, afirma Freinet (apud
ELIAS, 2010). Cada criança tem seu próprio tempo, umas
conseguem mais rapidamente apoderar-se de uma experiência e automatizá-
la e outras demoram mais, precisam de vários estímulos.
2 METODOLOGIA
Com o objetivo de propor ações para ajudar a comunidade e com a
finalidade de superar as dificuldades de aprendizagem referentes aos
conteúdos das séries anteriores apresentadas pelos alunos de 6º ano (5ª série)
do Ensino Fundamental foi que a secretaria de Estado da Educação do Paraná
implantou, em 2004, o programa Salas de Apoio à Aprendizagem para atender
as defasagens de aprendizagem apresentadas pelos alunos que frequentam o
6º ano do Ensino Fundamental. (PARANÁ, 2004). Desta forma, a necessidade
de se desenvolver estratégias que auxiliem no processo ensino e
aprendizagem ao término do 5º ano e início do 6º ano sempre foi um tema
polêmico entre os especialistas na área da educação.
Por exemplo, os documentos que instruem e regulamentam a criação
das Salas de Apoio à Aprendizagem, entre eles a LDBEN nº. 9394/96 (com o
princípio de flexibilidade, referindo à função do sistema de ensino de criar
condições favoráveis para que o direito do aluno à aprendizagem seja
garantido), o parecer CNE nº 04/98, a deliberação nº 007/99-CEE e a
Resolução nº 371/2008 (PARANÁ, 2008b), determinam que o objetivo principal
das salas de apoio seja o enfrentamento das dificuldades apresentadas pelos
alunos, com relação à aprendizagem de Língua Portuguesa, referente aos
conteúdos de oralidade, leitura, escrita e Matemática com os conteúdos
respectivos: formas espaciais e quantidades nas suas operações básicas e
elementares.
Segundo a instrução nº 022/2008 (PARANÁ, 2008c), existem alguns
critérios para a abertura e organização das Salas de Apoio à Aprendizagem:
destinam-se às disciplinas de Língua Portuguesa e Matemática, são oferecidas
na proporção de uma sala de apoio para cada três turmas de 6º ano (5ª série),
quatro horas semanais por disciplina, uma hora atividade para o professor e
sua oferta deverá ser para no máximo 15 alunos, no turno contrário ao qual o
aluno está matriculado.
O programa de abertura da Sala de Apoio propõe trabalhos
diferenciados para que os alunos tenham chance de superarem suas
dificuldades de aprendizagem e consequentemente consigam a aprovação na
série regular. Para tanto, e fundamentado nestes pressupostos, este estudo
procurou desenvolver atividades para o ensino da leitura, segundo a
metodologia Freinet, com alunos de 6º ano e 7º ano, frequentadores da Sala
de Apoio à Aprendizagem (SAA) do Colégio Estadual Antônio Maximiliano
Ceretta, localizado no município de Marechal Cândido Rondon, do Núcleo
Regional de Toledo.
Para possibilitar aos alunos a escolha de suas leituras com níveis de
dificuldades crescentes e fazer com que os mesmos sejam capazes de
relacionar-se com textos, com as informações implícitas e perceber as relações
com outros contextos, bem como desenvolver uma proposta de
encaminhamento, com sugestões de atividades desenvolveu-se um plano de
ação alternativa.
Neste plano consta a formatação de procedimentos e atividades para
tornar os alunos leitores aptos ao contexto da palavra mundo, com níveis de
dificuldades crescentes, permitindo o contato vários tipos de leitura. As
atividades selecionadas compuseram o que denominamos de canto temático.
Cada canto temático teve duração e materiais diferenciados, conforma
metodologia freinetiana.
São elas:
ATIVIDADES TEMPO MATERIAL OBJETIVOS
Canto 1: Leitura e escrita (cópia) de diversos gêneros
10min Diversidade de textos retirados de diferentes suportes (livro, HQ etc.).
- Proporcionar o contato com ampla diversidade de textos e possibilitar a leitura e interpretação de textos (verbal e não verbal); -Desenvolver a compreensão de sequência de escrita e de ideias contidas no texto, por meio da cópia.
Canto 2: Interpretação simbólica, por meio de atividades lúdicas de visualização.
15min Atividades diversas: trocar símbolos por letras, crucigramas, completar textos com letras que faltam, diagramas (letras iguais – n.º iguais).
- Desenvolver a competência de percepção da leitura, despertando o interesse em relação aos mais diferentes tipos de texto.
Canto 3: Construção de novos símbolos
20min Livro, atividades xerocadas (carta enigmática) agrupamento de letras; códigos.
Compreender o que está expresso nas atividades; -Interpretar os símbolos fazendo uso de informações contidas nos textos, utilizando os conhecimentos prévios para a realização dos exercícios.
Canto 4: Decifrar símbolos e formação de frases.
20min Livro, atividades xerocadas (carta enigmática) agrupamento de letras; códigos.
- Interpretar os símbolos, de modo a despertar o interesse e a curiosidade dos alunos e acionar os conhecimentos prévios de que dispõem.
Canto 5: Produção de textos.
35min Atividades diversas (livros, exemplos etc.).
- Produzir textos claros e coerentes de diferentes gêneros.
FONTE: Pesquisa de campo, 2011.
Foi selecionado um total de catorze alunos, matriculados no 6º e 7º
anos, do período matutino, do Colégio supracitado. Desses catorze alunos, oito
foram selecionados aleatoriamente da 6º ano e seis da 7º ano entre aqueles
que já frequentaram ou frequentam a Sala de Apoio existente nesta escola.
Como as aulas de apoio à aprendizagem de Língua Portuguesa são
ofertadas duas vezes por semana, as atividades aqui propostas serão
realizadas no mesmo molde. Utilizou-se a identificação das principais
dificuldades do aluno no desenvolvimento da leitura, escrita e oralidade
realizada pelo professor regente da turma que o encaminhou à SAA.
Tais identificações foram coletadas nas fichas de encaminhamento.
Além desse documento, foram coletadas informações nos relatórios gerais dos
alunos, elaborado pelo professor regente da SAA, sobre os conteúdos
trabalhados, a metodologia e os resultados da intervenção do professor da
SAA para a superação das dificuldades identificadas pelo professor de Língua
Portuguesa.
As atividades propostas ocorrem de fato em quatro aulas semanais, em
dois dias distintos, no contra turno ao que o aluno estuda. Foram trabalhadas
as três práticas discursivas, com atividades lúdicas para o desenvolvimento da
leitura, da escrita e da oralidade, por meio de textos e fontes diversificadas.
3 RESULTADOS E DISCUSSÕES
As atividades propostas ocorreram durante quatro aulas semanais,
dispostas em dois dias distintos, no contra turno ao que o aluno estuda. Foram
trabalhadas seis práticas discursivas, com atividades lúdicas para o
desenvolvimento da leitura, da escrita e da oralidade, por meio de textos e
fontes diversificadas.
A composição da turma fundamentou-se na indicação e identificação
do professor regente da turma, com base nas principais dificuldades do aluno
referentes à aquisição dos conteúdos de oralidade, leitura, escrita e o
encaminha a SAA. Cabe ressaltar que na SAA a presença do aluno não é
obrigatória, os pais devem concordar com a necessidade do filho (é função da
direção e equipe pedagógica este contato).
A partir do momento que o professor da SAA estiver com a ficha de
encaminhamento, ele tem a possibilidade de organização metodológica para os
encaminhamentos das atividades a serem propostas na SAA. Outro documento
importante é o relatório semestral da SAA. O professor deve preencher este
relatório apresentando a frequência do aluno, as aulas dadas, conteúdos
trabalhados, metodologia adotada e os resultados da intervenção produzidos.
Nota-se que este trabalho de intervenção deve fundamentar-se em
atividades lúdicas para que a criança se aproprie dos conhecimentos e que
possa desenvolver os conteúdos já introduzidos anteriormente por meio de
textos e fontes diversificadas. Para tanto, partindo do princípio que os alunos
que frequentam a SAA são crianças que apresentam dificuldades de
aprendizagem, o trabalho deve pautar-se no conhecimento que a criança
possui para, a partir deste, ampliar.
Defende-se neste artigo que o aluno deve ser encorajado a discutir, a
conhecer e, especialmente, a raciocinar sobre a escrita alfabética.
Efetivamente, ele deve tornar-se protagonista nas situações comunicativas,
usando as diferentes linguagens; aprendendo a ler e a escrever em diferentes
gêneros textuais e diferentes práticas sociais em situações comunicativas.
Ao considerarmos o aluno da SAA um sujeito-leitor se faz necessário
que todos percebam a importância de aumentar os conhecimentos, as
experiências e vivências socioculturais. Concordando com Orlandi (2001, p.
37), “[...] a leitura é o momento de constituição do texto, o momento privilegiado
do processo de interação verbal, uma vez que é nele que se desencadeia o
processo de significação”.
Desta forma, podemos concluir que não se pode trabalhar a leitura
limitando-a a um reducionismo linguístico, mas sim devemos estimular a
percepção que a leitura tem função primordial na formação da cidadania; bem
como ler corresponde ao processo de apreensão da realidade que cerca o
indivíduo e representa uma condição de libertação, pois é por meio dela que o
homem adquire subsídios para se comunicar e produzir conhecimento.
Na SAA, essencialmente, o trabalho pedagógico deve compreender
três dimensões: o inteligível, o interpretável, o compreensível. (Orlandi, 2001).
É imprescindível por tratar-se de alunos que apresentam dificuldades
de aprendizagem. Neste caso, os professores devem planejar momentos de
leitura, nos quais se considere não o texto em si; mas, exijam-se
conhecimentos dos sujeitos do discurso e de dados que permitam identificá-los
e se atribuam sentidos. Por isso, a dimensão do compreensível é a que deve
ser mais trabalhada em sala de aula, visto que ela norteará os processos de
significação dentro da leitura, a partir dos contextos sócio-históricos, tornando
os alunos mais críticos e participativos.
Ao professor da SAA cabe despertar, manter o espírito de busca
constante propondo atividades lúdicas, visando o desenvolvimento da leitura,
oralidade e escrita. Desta forma, a Sala de Apoio deve apresentar um espaço
que favoreça a realização das atividades individualizadas de acordo com a
dificuldade e o ritmo de aprendizagem de cada um e também se deve levar em
conta a realidade de cada um, uma vez que cada aluno é um caso único e que
para buscar uma solução das dificuldades de aprendizagem se faz necessário
escolher estratégias e atividades pedagógicas que busque dar sentido aos
problemas revelados.
A aprendizagem e a construção do conhecimento são processos que
resulta em uma complexa atividade mental, pois o aprendizado engloba
diferentes áreas do conhecimento e dos aspectos emocionais. Assim, para este
estudo, foram selecionados 14 alunos do 6º e 7º anos (período matutino), entre
quatro que já frequentaram e dez dos que é a primeira vez que frequenta uma
das Salas de Apoio existente no Colégio Estadual Antônio Maximiliano Ceretta,
situada em Marechal Cândido Rondon.
A turma é composta por dois alunos do sexo masculino e 12 do sexo
feminino. Desses, percebeu-se que as meninas conseguiram realizar as tarefas
mais rápidas e organizadamente. Somente duas tiveram mais dificuldade, pois
as mesmas frequentam também a Sala de Recurso (que é uma sala específica
para trabalhar com crianças que têm alguma dificuldade diagnosticada - laudo
médico - de aprendizagem).
Anteriormente à aplicação do projeto de intervenção, a atividade
pertinente ao GTR (Grupo de Trabalho em Rede), com 15 colegas participantes
do PDE, teve o objetivo de proporcionar trocar de experiências com relação à
Unidade Didática desenvolvida nesta pesquisa. Esta etapa foi de fundamental
importância, visto que ela serviu como um projeto piloto, já que o papel dos
participantes deste GTR era analisar o referido trabalho e, se possível, aplicá-lo
em suas respectivas turmas.
Em relação à Unidade Didática desta pesquisa, observou-se que 50%
aplicaram-na e analisaram sua eficiência. As opiniões dos colegas
oportunizaram a certeza de que estávamos no caminho certo e indicou-nos o
repensar de alguns pontos críticos em sua aplicabilidade.
Todos afirmaram que as atividades dos cinco cantos eram ótimas,
principalmente pelas ilustrações, pelas atividades de decifrar códigos, pelo
texto que foi muito interessante, pela produção de texto muito instigante.
Entretanto, o ponto principal a ser revisto tratava-se do tempo, já que o tempo
estimado para cada atividade era insuficiente e, diante disto, resolveu-se
modificar os tempos e forma de aplicação.
As aulas de apoio à aprendizagem de Língua Portuguesa foram
ofertadas duas vezes por semana, no contraturno. Utilizou-se a identificação
das principais dificuldades do aluno com base em uma avaliação prévia do
professor regente da turma e nas atividades lúdicas desenvolvidas na SAA.
Nessas atividades foram trabalhadas as três práticas discursivas,
visando o desenvolvimento da leitura, da escrita e da oralidade por meio de
textos e fontes diversificadas. Partiu-se do entendimento que, para a realização
das atividades é necessário proporcionar ao aluno um ambiente acolhedor,
pois percebeu--se que por mais defasagens de aprendizagem que o aluno
tenha, quando existe um estímulo contínuo no contato desse indivíduo com as
atividades propostas este colocará em prática o que aprendeu.
Aos alunos foram possibilitadas atividades lúdicas e jogos, a interação
e participação dos alunos, atividades de leitura e interpretação permitindo aos
mesmos o contato a vários tipos de leitura. Tais atividades compuseram o que
foi denominado de canto temático. Cada canto teve duração e materiais
diferenciados, conforme a metodologia freinetiana.
Levou-se em conta que os alunos são capazes de aprender e
atravessar as dificuldades; que são seres em construção e que, para se
integrar socialmente precisam saber utilizar a língua escrita nas situações em
que esta é necessária na leitura e produzindo textos, percebendo quem é, ou
seja, com quem se relaciona, do que gosta, em quem acredita.
No contexto escolar, cada vez mais, percebe-se um grande número de
crianças que apresentam dificuldades de aprendizagem. Os estudiosos
denominam classificações para o não aprender, o que faz com que
percebamos que ainda não foi encontrada soluções para este fenômeno.
Precisamos buscar, para atender os objetivos, várias maneiras de
sermos eficiente em superar as dificuldades recorrentes ao sistema escolar.
Portanto, cabe à escola constituir-se em um espaço de reflexão que contribua
para diminuir o índice de alunos com dificuldades de aprendizagem e que
possa dar condições para esta aprendizagem.
Todos os cinco cantos foram aplicados em um só dia, num total de 50
min. Mas, para a sua execução, foram trabalhadas 16 aulas anteriormente, nas
quais foi oportunizado aos alunos o contato com as atividades que seriam
aplicadas (por meio de exemplos variados), pois, segundo a metodologia
freinetiana, é necessário que a criança trabalhe e que tenha contato com os
diferentes gêneros para que as mesmas elaborem os significados.
O canto 1, denominado como “Vamos ler e escrever”, o texto escolhido
foi “A bruxa e o caldeirão”, de José Leon Machado. No início da atividade, os
alunos realizaram a sua leitura silenciosa. Em seguida, foi solicitado que os
mesmos escolhessem três parágrafos que mais lhes agradaram e,
posteriormente, fizessem a sua cópia.
O tempo estimado para a realização da cópia foi de 10 min. Já nesta
primeira atividade percebeu-se que o fator tempo realmente foi curto. Dos
quinze alunos, somente quatro terminaram no tempo previsto e conseguiram
passar para a próxima etapa. O restante dos alunos, conforme iam acabando
prosseguia. A segunda etapa foi iniciada pela totalidade dos alunos após 25
minutos.
No canto 2, denominado como ”Visualização e Interpretação”, o
objetivo principal foi desenvolver a competência de percepção da leitura,
despertando o interesse em relação aos mais diferentes tipos de texto. Para
tanto, no decorrer das aulas, foram ofertados aos alunos diversos textos como
crucigramas, diagramas, palavras cruzadas e textos para completar.
Para a avaliação foi apresentado o texto ”Vocês acreditam?” (figura 1),
de Helena Pinto Vieira. O mesmo apresentava lacunas e os alunos deveriam
completá-lo com as letras que faltavam usando o tempo estimado para esta
atividade de 5 min.
FIGURA 1. Vocês acreditam?
Há anta oisa para ssustar
A riancinha que é edrosa...
O ato preto, manso a isar,
A orujinha, tão autelosa,
O spantalho, oneco eio,
O alhacinho, azendo raça,
E o enino, que ambém veio,
E, qual antasma, orrendo assa...
orém ocê, que é alente,
ão eve nisto creditar,
Pois ada existe que, ealmente,
lgum de nós deva ssustar:
Nem ruxa elha, ssombração,
Nem o antasma na asa azia...
Isto são oisas que da maginação
Para ssustar, somente, cria... .
FONTE: Adaptado para fins didáticos. Extraído do livro O mundo da criança. Rio de Janeiro: Delta, 1949.
Todos conseguiram realizá-la. Mas, novamente percebeu-se que o
tempo foi curto, pois o aluno que concluiu primeiramente a atividade com êxodo
utilizou dos 10 min.
Na terceira etapa, no Canto3 ”Construção de novos símbolos”,
comunicou-se ao aluno que para compreender o que estava impresso, o
mesmo deveria interpretar os símbolos fazendo uso das informações contidas
no texto e dos conhecimentos prévios para realizar a atividade (Figura 2). O
tempo estimando para este atividade foi de 20 min.
FIGURA 2. Decifre o texto enigmático abaixo
FONTE: Disponível em www.sueli.informaticaeducativa.blogspot.com (2011).
Constatou-se que, apesar das ilustrações, os alunos não conseguiram
terminar. Faltou a eles o conhecimento formal, pois, na carta enigmática muitos
desenhos e palavras não eram de seu conhecimento. Desta forma, durante as
aulas seguintes, com outras cartas enigmáticas menores e com símbolos mais
conhecidos, observou-se que os alunos conseguiam fazer.
Este canto demonstrou que não somente o tempo é o ponto crucial
para o desenvolvimento da leitura, mas sim a necessidade de verificação e
ampliação de vocabulário preexistente no ideário do aluno. Devido aas várias
dificuldade apresentados pelos alunos esta atividade não foi completada.
“Decifrar Símbolos e formação de frases” fez parte do canto 4. Com o
tempo estimado em 20 min., pretendeu-se mostrar uma atividade que auxilia na
formação de diversas palavras, fazendo com que os alunos compreendam o
que está expresso nas atividades e observem as informações contidas nos
textos, utilizando os conhecimentos prévios que dispõe para a realização dos
exercícios.
A atividade proposta foi de formação de palavras, a partir de letras e
sílabas. Em seguida, outro exercício apresentado referiu-se à atividade em que
o aluno deveria formar uma única palavra com alguma letra do alfabeto. Esta
atividade pareceu ser de média compreensão, pois, oito alunos (53%)
terminaram antes do tempo estimado. O restante demorou mais que o tempo
previsto, mas não por falta de compreensão, mas sim pelo tempo que cada um
tem para realizar a tarefa (Figura 3).
FIGURA 3. Formação de palavras
FONTE: Disponível em www.sueli.informaticaeducativa.blogspot.com (2011)
A última atividade proposta foi o canto 5, “Produção de texto”, os
alunos tiveram que produzir textos claros e coerentes, de diferentes gêneros
levando em conta as condições de produção, ou seja, a função da escrita, o
gênero do texto, objetivo e os interlocutores a quem a escrita está se dirigindo.
Antes da aplicação da atividade procurou-se mostrar a importância da
escrita, que escrever é interagir, comunicarem-se, quem tem o que falar, a
quem falar; ou seja, eu escrevo algo para alguém ler e que portanto, tenho que
saber usar todos os aspectos da escrita que possam comprometer a
compreensão do texto.
Para a atividade avaliativa deste canto, propôs-se que o aluno
interpretasse e escreve sobre a seguinte situação: Você e seus amigos
descobriram um velho casarão abandonado no final de sua rua. Resolveram
entrar para ver o que havia lá dentro.
Nesta atividade foi solicitado que os alunos escrevessem o que viram
no casarão e em seguida deveriam titula-lo. O tempo estimado para esta
atividade foi de 35 min. Os alunos escreveram o texto solicitado dentro do
tempo estimado (80%). De todos, somente três (20%) não terminaram, pois
cansaram e não quiseram fazer mais. A seguir, a título de exemplificação, nas
figuras 5 e 6, os textos dos alunos com maior êxodo e com maior dificuldade.
FIGURA 05. Texto do aluno com maior êxodo
FIGURA 06. Texto do aluno com maior dificuldade
É importante comentar que, após a aplicação das atividades, se fez
necessário ratificar a importância que a leitura deve ter aos alunos, quais são
seus objetivos, a prudência de se saber fazer a associação em todos os
gêneros e a relevância do uso da mesma para enfrentar as dificuldades na
sociedade.
As atividades propostas indicam a necessidade de se desenvolver
alternativas para o ensino da Língua Portuguesa ao aluno com dificuldade de
aprendizagem, de modo que o mesmo possa compreender o papel social da
linguagem. Neste sentido, nós, professores desta disciplina, precisamos
apresentar e fornecer os instrumentos para que o aluno busque, analise,
selecione, relacione e organize as informações complexas do mundo; que
aprenda a conhecer-se, a respeitar-se e a desenvolver o que tem de mais
precioso em si mesmo - sua personalidade.
Por meio destas atividades, pretendeu-se neste estudo possibilitar aos
alunos a compreensão de que toda a ação no mundo tem como mediadora a
linguagem, a qual nunca é neutra.
CONCLUSÃO
Por ser o principal fim da Educação o crescimento pessoal e social
do aluno, Freinet nos adverte que para elevar a criança a um máximo de
humanidade precisamos refletir sobre como iremos prepará-la. Não apenas
para a sociedade atual, mas para uma sociedade melhor, de modo a fazê-la
avançar o mais possível em conhecimento.
Aponta o autor também que é necessário conhecer a natureza do
homem e dar consciência do que ele é, do que quer. Enfatiza ainda que o
aprender deveria passar pela experiência de vida e isso só é possível por meio
do trabalho, o que deverá sempre ser o centro de toda atividade.
Freinet aponta outro aspecto imprescindível para a aprendizagem
escolar: a liberdade (de conhecimento, de expressão, de interação, de trabalho
etc.), a qual deve possibilitar ao ser humano vencer obstáculo. O autor defende
que o alvo da Educação não é fazer com que a criança saiba muitas coisas,
mas ajudá-la a cumprir o propósito de sua vida, elevando-a com dignidade e
em seus potenciais cognitivo, afetivo e social.
Ele considera a prática educativa como o recurso que permite à criança
alcançar estes propósitos, uma vez que cada ser humano é único e singular e
todos devem ser identificados como pessoas significativas.
A metodologia freinetiana propõe uma integração incondicional entre a
escola e a vida, entre a escola e a família, entre a escola e o meio ambiente
social, entre a escola e as escolas, entre a escola e a comunidade interna e
extra à escola. Sendo assim, tanto as políticas educacionais quanto a direção
das escolas deveriam, segundo Freinet (ano), procurarem promover situações
ricas em estímulos e relacionamentos, de modo a desenvolver meios e
recursos que possam ampliar o conhecimento e desenvolver novas atitudes no
trabalho docente (para não deixar de mencionar também que essas mudanças
perpassem pelos governantes, diretores, funcionários e pais) frente aos
diversos assuntos apresentados ao aluno em seu cotidiano.
Assim, defende-se que a escola deva promover uma educação que
respeite o indivíduo em sua diversidade; que reencontre a identidade própria do
ser humano mediante um olhar individualizado do aluno; que respeite os alunos
e as ajude na formação de sua personalidade. Esses são meios que Freinet
promulga como essenciais para que a escola seja um canteiro de obras, na
qual os alunos poderão envolver-se, o tempo todo, em trabalhos reais,
desafiadores e criativos.
É imprescindível desenvolver ou despertar nos alunos a paixão pelo
saber, pela descoberta, pela aquisição e construção de sua própria
aprendizagem, pois é neste ambiente de trabalho integral e integrador que “[...]
a criança nunca se cansa de procurar, de experimentar, de realizar, de
conhecer e de subir concentrada, séria, refletida, humana”. (FREINET, 1988, p.
84).
Respeitar a individualidade, estimular a criatividade e procurar
melhores condições para o desenvolvimento do processo ensino e
aprendizagem são atitudes muito importante em uma transposição didática que
não deve se ater somente em ensinar a ler escrever; mas sim, preocupar-se
em formar o aluno para a vida.
Sendo assim, não nos esquecemos de que cada criança tem seu
próprio tempo, umas conseguem mais rapidamente apoderar-se de uma
experiência e automatizá-la; mas outras demoram mais, precisam de vários
estímulos. O importante é saber e proporcionar ações para que todos cheguem
lá.
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