"A Serra e o Mar" - João Bernardo
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Transcript of "A Serra e o Mar" - João Bernardo
João Bernardo
XI Concurso Literário “Manuel Maria Barbosa du Bocage”
Poesia
A Serra e o Mar Sonhos de um Poeta
2009
Somnium
Sonho de quintus
de primus
et quartus,
sonho de Fiore
de Bandarra
e Vieira.
Sonhado por um
Poeta incógnito
de tantos Seres...
Sonho dum Marujo,
Guerreiro e Monge,
Mestre duma Ordem
natural de Ser
e Viver,
num Portugal
não vivido,
perdido,
por encontrar
nas brumas
de um Sonho...
Da Serra
Terra-mãe,
verbo vivo
resistente ao Tempo
a nós, Homens,
a vós, humanos,
Mantos que te guardam,
que te guardam?!
Nós, Portugal!
Vós, Porto do Graal...
Em ti,
Meu Bosque Sagrado,
meu refúgio,
de mil-ventos,
densas pedras,
verdes folhas,
Cai o Homem perdido,
um Homem
a espera de Lutar...
Adopção inconsciente
em creança,
de verdes cores
em Primavera
de uma Serra
sem serra(s).
Mata Sagrada,
sentida por todos,
Mátria guardada
no coração
de Todos.
Em bela serra me vi,
em sonhos dispersos,
por unir em vaga lembrança
que urge dentro de mim.
É a vida que quer viver
o existir a querer aparecer,
a luta de uma noite, de uma lua
a vingança de um dia...
Vive oh Mátria minha.
Vive na tão amada serra que me viu
Crescer.
Uma flor
cuja fauna encerra
em plena Saudade
eterna
destes campos
de verde sonho,
desta vil esperança,
tão tortuosa,
tão profunda
e infinita…
Oiço-te,
Ó grandioso Zéfiro,
Em escarpa íngreme
do monstruoso rochedo
engolindo
um céu nebuloso,
Oiço-te,
doce cantar
de um rouxinol
embebido num luar
matinal,
Oiço-te,
Mãe-Natura
Virgem
e Pura,
que clamas
por nós...
Oiço-vos,
Meus Irmãos,
Oiço-nos,
oiço,
Um cair de lágrimas em terra
dum sofrimento ardente,
sufocante e destruidor
das altas labaredas
alimentando nossa dor...
Chorai Irmãos da Mátria-Natura,
lágrimas de Druida,
em rios correrão,
até ao fim
da desventura.
I.
Há em tudo
semelhança
entre o
Ganges
e o Sado
Há imortal vida
nos povos
circundantes
há sonho feliz
de morrer
sob a corrente,
mágica,
que nos conduz
a vida Eterna.
II.
Sob a protecção do sonho,
o respirar que insufla a vida,
neste areal de desejo,
a Vida caminha
intemporal à vida,
irreal ao sonho
É como o desaguar
intravenal
desta água correndo em mim
É como o rochedo erguido,
esse velho e imortal barbudo
que sorri ao nascer do sol,
que beija as ondas do mar
com um amor indelével
que une as duas pátrias do sonho,
Índia e Portugal...
III.
Neste denso arvoredo
nascido da força Natura
rompendo a pedra-mãe
pendura-se
no rosto do Rochedo,
Este velho penedo,
guardião de mistérios,
ouve o vento
confessar-lhe um segredo
Ao Zéfiro dizes
que a Luz Aparecida
vem do fundo da Terra
da Pátria (re)nascida.
IV.
Na Serra do Sonho,
na Mata do Silêncio,
vive Solitário
o monge esquecido,
do alto ama a Vida
do baixo contempla o Mundo,
Ora ao Divino,
À Mátria de Tudo,
Corre sozinho sobre o Mar,
A Alma Perdida,
A Alma Renascida,
d´um Poeta a Cantar.
Do Mar
Caravelas no meu Ser
velejam
em ventos sinuosos
e oblíquos,
em mares
de bravas
ondas, e
tempestades
destruidoras
num sonho
a alcançar...
I.
Azul do mar,
do céu nocturno,
vente oceânico
de tantos temores,
em ti se encerram
mistérios,
de fados antigos,
de dor,
de amor,
Denso oceano
navegador
onde aportarás
a dor?
Génio marinheiro,
velejador,
em bolinas de sonho,
navegando pelo Mundo
Aquém e Além Dor
II.
Salvé tridente,
mestre marinho,
Senhor dos Mares,
eterno pregador
destes peregrinos
sem dor,
somos navegadores
do destino
III.
Aporto no cais da Saudade,
e vivo,
Parto,
sinto saudade da saudade
e vivo,
Infeliz por viver
sem Saudade,
com saudade
da Saudade.
Marinheiro de oceanos,
de mares celestiais,
depositário do sonho
de sonhar
És pastor e pescador,
guias teus passos
lançando tuas redes
ao mar,
aos
Mares
de sonhos
de viver
eternamente
sonhando…
Do Homem
I.
Jaz aqui morte
onde vive o morto
que é esperado,
desejado em si
p´lo Mundo
esperançoso
El Rei o encoberto
II.
A viagem d´Alma
pela barca de Caronte
ultrajo o fundo
mundo
onde Ares
Maléfico
devora tudo
Prometeu mais fogo
alumia ao mundo
fundo
onde reino castigo
espera adormecido
III.
Rápido como Mercúrio
em derradeira ebulição
no fundo ser
renasce novo,
completo
e um pouco mais
encoberto
e descoberto
no oráculo do mundo
Virgens, puras
onde enxofre arde
na penúria,
véu escarlate,
rubro,
denso e mudo
ascende aos céus
num fogo-carro
zEUs, EUs,
EU,
Imagens do sonho,
sono divino
de puritana ascese
onde Ego morre
e renasce, Puro, Sensível
e Doce.
Hoje sou Fénix renascida,
vivo cada dia
na esperança de um
Amor Divino.
A Chama que embarca meu Ser,
aquela que aquece o meu rumo
e alumia meus passos...
Esta direccionada
no Caminho da Eternidade.
Hoje, escuridão profunda
dissiparás perante
a claridade de minh´Alma!
Espelho
A luz ténue
duma vela
cega-me
o olhar,
olho-me,
vejo-me,
observo-me,
ao som d´um espelho,
miro-me,
contemplo-me,
num Mar sem Temp(l)o
onde a saudade aporta
no além-mar
no sonho do Argonauta.