A Síndrome Do Umbigo

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  • A SNDROME DO UMBIGO

    A sndrome do umbigo diz respeito a tudo que envolve os nossos caprichos pessoais, tornando a individualidade e o egocentrismo o ponto de partida para a criao de todos os parmetros ou ordens de comparao. Ao ler este texto, voc poder encontrar em algum lugar de sua memria exemplos de pessoas que sofrem desta sndrome. Ou, se houver a lucidez, identificar-se com ela. A expresso "olhar para o prprio umbigo" pode soar mal quando no nos importamos com quem est ao nosso lado e levamos a vida como se o mundo girasse ao nosso redor. A palavra "egosta" vem do latim EGO, "eu", mais o sufixo ISTA, indicando adeso doutrina do eu. Sobre o egosmo, Sigmund Freud escreveu: "Um forte egosmo protege contra o adoecimento, mas, no final, precisamos comear a amar para no adoecer, e iremos adoecer, se, em consequncia de impedimentos, no pudermos amar". Para a psicloga Edna Vietta, "Fica cada vez mais evidente em nossa civilizao, um novo estilo de vida que influencia gostos, costumes, atitudes e comportamentos dos indivduos de forma geral. Os avanos tecnolgicos e a busca exarcebada pelo prazer potencializam o individualismo, dando nfase aos aspectos mais prepoderantes do narcisismo em nossa sociedade". E finaliza o seu raciocnio: "Na Antiguidade, Idade Mdia e Modernidade, a felicidade estava ancorada no outro -no social, no coletivo-, enquanto na atualidade, o ancoradouro da felicidade o eu -no indivduo. Observamos a exarcebao do individualismo e a fragilidade dos laos sociais. Na prtica, ao contrrio dos tempos antigos em que a sensao de encontro com a felicidade se via confirmada pelos ideais mais amplos: Nao, Ideologias, Utopias, Famlia. Hoje, temos a sensao de felicidade apenas quando no somos frustrados em nosso narcisismo". Nesta lgica, associada ao egosmo, encontramos a carncia afetiva que potencializa no indivduo um comportamento exageradamente centrado no ego. Ou seja, damos a Deus, religio e pessoas, a responsabilidade de nos fazer felizes ao corrermos atrs de um substituto que supra o que nos foi negado no passado. A cultura do interesse voltado para o eu, acaba neutralizando por tempo indeterminado, o ideal de bem comum. Por este motivo, que passa pelas anlises sociolgica, psicolgica, filosfica, espiritual e existencial da questo, vivenciamos uma poca na qual um nmero incalculvel de pessoas encontram-se sintonizadas a

  • um modelo emocional-comportamental que afiniza com os valores cultuados pela sociedade ps-moderna, como o consumismo e o individualismo exarcebado. No modelo de sociedade que rene milhares ou milhes de pessoas de trao egoico, as perdas so considerveis, principalmente as referentes s iniciativas ou avanos na rea social pela via poltica, que no so devidamente reconhecidas ou valorizadas por pertencerem ao ideal de bem coletivo. A ansiedade, que alimenta o mecanismo dos interesses individualistas, impede ou limita a viso coletivista que deveramos ter de sociedade, medida que priorizamos as satisfaes do ego em detrimento de um olhar expansivo que contempla o outro como parte integrante -e importante- da dinmica social. Portanto, olhar para o prprio umbigo olhar para si mesmo e esperar que as coisas aconteam em seu prprio benefcio. Ao portador da sndrome do umbigo, falta-lhe a sensibilidade humana como ferramenta de interao com o outro a partir do conhecimento de si mesmo inserido num contexto vital que expande-se muito alm do ego. Uma viso construda com o autoconhecimento que desafia os valores de uma sociedade de resultados imediatistas, atravs de uma percepo apurada dos mecanismos que a formam, pois tudo aquilo que nos confunde ou limita a lucidez, vai na contramo daquilo que precisamos aprender e evoluir enquanto indivduo e sociedade.

    Por: FLAVIO BASTOS criador intuitivo da Psicoterapia Interdimensional (PI) e psicanalista clnico