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FACULDADE ALVORADA/INEFE ALVORADA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR MICHELLI PEREIRA DA COSTA A socialização do conhecimento científico pelos repositórios institucionais no ensino da Biblioteconomia Brasília, 2011

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FACULDADE ALVORADA/INEFE ALVORADA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU EM

DOCÊNCIA DO ENSINO SUPERIOR

MICHELLI PEREIRA DA COSTA

A socialização do conhecimento científico pelos repositórios institucionais no ensino da

Biblioteconomia

Brasília, 2011

MICHELLI PEREIRA DA COSTA

A socialização do conhecimento científico pelos repositórios institucionais no ensino da

Biblioteconomia

Brasília, 2011

Monografia apresentada à banca de avaliação como requisito parcial à obtenção do título de Especialista do Curso Docência no Ensino Superior da Pós-Graduação Latu Sensu da Faculdade Alvorada/ INEFE, sob orientação da Profª. Ms. Relcy Caribé

RESUMO Aborda o uso dos repositórios institucionais como instrumento de socialização do

conhecimento científico na acadêmica pelas(os) docentes do curso de

Biblioteconomia da Universidade Federal da Bahia. Discute como a socialização e a

produção do conhecimento científico relaciona-se no ensino superior com a prática do

ensino e pesquisa. A socialização do conhecimento é tratada dentro do macro

processo de comunicação científica, suas novas dinâmicas e tendências. A Ciência

da Informação é a área que se dedica ao estudo dos processos de criação,

socialização e apropriação do conhecimento. A pesquisa apresentada neste trabalho

analisa como que as(os) docentes da área da Ciência da Informação entendem e

utilizam os repositórios. Os resultados apontam para um entendimento comum de

que este instrumento é eficiente para a divulgação do conhecimento científico e para

a guarda da memória intelectual da instituição. No entanto foi detectada uma baixa

utilização do instrumento por parte das(os) docentes, apesar de afirmarem

recomendar freqüentemente para suas(seus) alunas(os). O trabalho também levanta

as fontes de informação que podem ser utilizadas para pesquisa e como isto é

tratada e percebido pelas(os) docentes.

Palavras-chave: Socialização do conhecimento científico; Ensino superior;

Repositórios institucionais.

ABSTRACT This dissertation discusses the use of institutional repositories as a tool for

socialization of scientific knowledge in the academic environment by Library Science

teachers from the Federal University of Bahia, Brazil. It also discusses how the

socialization and the production of scientific knowledge relates to the practice of

teaching and research in higher education. The socialization of knowledge is thought

within the macro process of scientific communication, its new dynamics and trends.

The Science Information is the area devoted to the study of processes creation,

socialization and appropriation of knowledge. The research presented in this paper

analyzes how that the teachers in the area of Information Science understand and use

the repositories. The results point to a common understanding that this instrument is

effective for the dissemination of scientific knowledge and to the keeping of the

intellectual memory of the institution. It was detected a low utilization of the instrument

by the teachers, despite the fact that they frequently recommend the students to use

it. The work also raises the sources of information that can be used for research and

how they are treated and perceived by the teachers.

Key-words: Socialization of scientific knowledge; High Education; Institutional

Repositories

LISTA DE SIGLAS ABEBD Associação Brasileira de Ensino em Biblioteconomia e Documentação CI Ciência da Informação IBICT Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia CAPES Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior ICI Instituto de Ciência da Informação ICI-UFBA Instituto de Ciência da Informação da Universidade Federal da Bahia RI Repositório Institucional UFBA Universidade Federal da Bahia

SUMÁRIO

CAPÍTULO 1: APRESENTAÇÃO ....................................................................................................... 6

1.1. Introdução.................................................................................................................................... 6

1.2. Justificativa .................................................................................................................................. 7

1.3. Objetivos...................................................................................................................................... 8

1.3.1. Geral ......................................................................................................................................... 8

1.3.2. Específicos ............................................................................................................................... 8

CAPÍTULO 2: CONHECIMENTO CIENTÍFICO NO ENSINO SUPERIOR ........................................ 9

2.1. Universidade e o conhecimento científico ................................................................................. 10

2.2. Ensino e pesquisa na educação superior ................................................................................. 11

2.2.1. Socialização do conhecimento científico ............................................................................... 12

2.3. Comunicação científica ............................................................................................................. 13

2.3.1. Acesso Aberto à informação científica ................................................................................... 16

2.3.1.1. Estratégias para o Acesso Aberto ....................................................................................... 19

CAPÍTULO 3: REPOSITÓRIOS INSTITUCIONAIS ......................................................................... 20

3.1. Características dos RI ............................................................................................................... 21

3.2. Direitos autorais ........................................................................................................................ 23

3.3. RI e a comunicação científica ................................................................................................... 24

CAPÍTULO 4: CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E BIBLIOTECONOMIA .............................................. 26

4.1. História da Biblioteconomia no Brasil ........................................................................................ 26

4.2. Ensino da Biblioteconomia no Brasil ......................................................................................... 28

4.3. Escola de Biblioteconomia e Documentação da UFBA ............................................................ 30

CAPÍTULO 5: METODOLOGIA........................................................................................................ 32

Etapa 1 ............................................................................................................................................. 33

Etapa 2 ............................................................................................................................................. 33

Etapa 3 ............................................................................................................................................. 34

CAPÍTULO 6: ANÁLISE DOS RESULTADOS: USO DOS RI NA SOCIALIZAÇÃO DO

CONHECIMENTO CIENTÍFICO NO ENSINO DA BIBLIOTECONOMIA ........................................ 35

6.1. Perfil das(os) docentes .............................................................................................................. 36

6.2. Conhecimento e uso do RI ........................................................................................................ 37

6.3. Fontes de informação científica ................................................................................................ 39

CAPÍTULO 7: CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 42

8. REFERÊNCIAS ............................................................................................................................ 44

APÊNDICE ....................................................................................................................................... 48

ANEXO ............................................................................................................................................. 57

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CAPÍTULO 1: APRESENTAÇÃO

1.1. Introdução

A universidade é, por excelência, um espaço de ensino, pesquisa e

socialização de conhecimento científico, onde a ideia de produção de conhecimento

colaborativo, compartilhado e o acesso livre à informação fazem parte desse

universo, permeando as práticas docentes de ensino, o que estimula a pesquisa e a

construção do saber crítico e autônomo (LEITE, 2006).

Este trabalho tratará da socialização do conhecimento científico, pela

academia, no contexto do acesso livre, a qual tem encontrado, no uso dos

repositórios institucionais (RI), uma forma de ampliar a polinização da informação

científica e a preservação da memória institucional. O trabalho passa pelo diagnóstico

do sistema de comunicação científica, que tem como função o compartilhamento da

produção científica e a base nas interações das comunidades científicas e

acadêmicas, passando pelas comunicações formais e informais. Nesse sentido, é

pensado como as tecnologias da informação e as novas dinâmicas de comunicação

contribuíram para intensificar a crise do modelo tradicional de comunicação científica

e para o fortalecimento de novas alternativas. Iniciativas pelo Acesso Aberto ao

conhecimento científico aparecem, nesse contexto, como ferramentas que aumentam

a visibilidade de trabalhos acadêmicos e seus resultados, potencializando os retornos

(MUELLER, 2006).

Os RI se colocam como um importante instrumento para auxiliar e influenciar

nesse processo, pois são bases de dados acompanhadas de serviços de que se

dedicam à preservação e transferência da produção científica de uma instituição.

Ganharam força nas articulações pelo acesso livre ao conhecimento científico que

entende que esse tipo de conhecimento é um bem social e deve ser público

(MUELLER, 2006; KURAMOTO, 2006). Além dos RI servirem como um meio de

preservação e centralização do capital intelectual da instituição, eles são uma

ferramenta de disseminação e socialização do conhecimento científico.

No ambiente acadêmico, a informação é trabalhada para promover a geração

de conhecimento científico e tecnológico, produtores de mudanças sociais, e deve ser

pensada de forma a ter seu acesso democratizado e expandido. Fortalecendo essa

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ideia, o uso dos RI em universidades tem sido apontado como elemento facilitador

para disponibilizar a produção intelectual das universidades e, dessa forma, contribuir

para o avanço das ciências (KURAMOTO, 2006).

Esta investigação pretende analisar o uso desse instrumento dentro do ensino

da Ciência da Informação, no campo da Biblioteconomia. A Ciência da Informação

(CI) se dedica ao estudo da produção, tratamento e transmissão da informação para

a produção de conhecimento. É uma ciência interdisciplinar que trabalha para que a

aplicação de seus resultados torne o processo de tratamento e disseminação da

informação cada vez mais eficiente (SOUZA, 2010). Nesse sentido, a análise do uso

dos RI para a socialização do conhecimento científico, no ensino da Biblioteconomia,

tem potencial para contribuir no aprimoramento das práticas de ensino, a partir da

socialização do conhecimento já produzido e registrado dentro de uma universidade.

1.2. Justificativa

Os RI têm sido apontados, pela literatura científica da CI, como instrumentos

de divulgação da comunicação científica formal capaz de proporcionar maior

visibilidade para o conhecimento científico registrado, do que os tradicionais meios de

comunicação, ainda muito presentes na cultura científica de comunidades

acadêmicas (LEITE, 2006). A CI é a área do conhecimento que se dedica ao estudo

das práticas e técnicas para a transferência da informação da forma mais eficiente

possível e também estuda as dinâmicas de interação da comunicação científica de

forma a contribuir com os processos (OLIVEIRA, 2005).

Estudos sobre a disponibilidade de material de didático no ensino da

Biblioteconomia, uma das áreas da CI, apontam para a necessidade de atualização

do material (DIAS; PITELLA; PONTELLO, 1996; SOUZA, 2010). Sendo os RI um

instrumento de socialização com conhecimento científico reconhecido pela própria

área, torna-se necessário um estudo da relação entre os dois processos.

A análise do uso desse instrumento, pelas professoras(es) de Biblioteconomia,

dará condições para que se compreenda a relação da socialização do conhecimento

científico na academia, no seu primeiro nível, na relação entre alunas(os) e

professoras(es) e possíveis contribuições para o aprimoramento desse processo de

socialização do conhecimento.

8

1.3. Objetivos

1.3.1. Geral

Compreender como ocorre o uso dos RI, pelas(os) docentes do curso de

Biblioteconomia da UFBA, na socialização do conhecimento.

1.3.2. Específicos

1. Explorar a abordagens sobre construção e socialização do conhecimento científico

no ensino superior e conceitos relativos a repositórios institucionais.

2. Identificar os processos de socialização do conhecimento científico no curso de

Biblioteconomia

3. Verificar o uso dos RI pelas(os) professoras(es) do curso de Biblioteconomia da

UFBA.

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CAPÍTULO 2: CONHECIMENTO CIENTÍFICO NO ENSINO SUPERIOR

O conhecimento científico é o conhecimento legitimado e aceito por uma

comunidade científica, que se organiza em comunidades acadêmicas. Este

conhecimento não é estanque nem perpétuo, na verdade, nesses espaços ele é

colocado para reflexões que visam aprimorá-lo ou tencioná-lo, para que sejam

percebidas suas limitações (MUELLER, 2006).

Werneck (2006) define este tipo de conhecimento como saberes

universalmente aceitos em determinado tempo histórico. Esta conceituação destaca a

característica de que apesar de ser um conhecimento construído sobre o rigor e

metodologias científicas, ele é questionável e não é eterno.

Este tipo de conhecimento, por necessitar da legitimação de seus pares é

primordialmente construído em comunidades científicas, tais como associações

científicas, conselhos e grupos de pesquisa; e comunidades acadêmicas, como as

universidades (LEITE, 2007). O processo de construção do conhecimento científico

passa pelo acúmulo dos saberes científicos históricos e a pesquisa. Segundo

Werneck (2006) esta construção de conhecimento aplicada à educação, pode ser

entendida sob dois pontos:

1. Como a constituição de saber resultada de uma reflexão de pesquisa

científica feita por pesquisadores da área, que gera novos conhecimentos.

2. Como a forma que é dada a apropriação de um conhecimento já

estabelecido, isto é, o modo que cada indivíduo aprende a informação e seu

conteúdo.

Assim sendo, para a autora, a construção do conhecimento científico é

resultado da investigação filosófico-científica e causa e conseqüência do ensino. Para

Werneck (2006), o ensino é o processo de formação de referenciais que leva ao

desenvolvimento da capacidade de observação e reflexão crítica. Por tanto, segundo

a autora, as práticas de ensino, desde a escola buscam preparar a(o) estudante para

produzir e socializar conhecimento científico.

A escola de ensino fundamental e médio vai apoiar-se do conhecimento cientifico atualizado para disponibilizá-lo ao aluno. Deste modo propicia seu contato com os conhecimentos relativos à natureza, à vida social e como toda a produção científica, ao mesmo tempo que a inicia na metodologia da ciência, despertando a capacidade crítica e preparando o futuro pesquisador. Talvez esta seja uma das principais metas da escola: instrumentalização para a produção e o consumo da ciência (WERNECK, 2006, p.189).

10

Segundo esta perspectiva a escola no ensino fundamental e médio tem como

um de seus objetivos preparar a(o) estudante para as práticas de produção e

socialização de conhecimento científico no ensino superior, espaço onde estes

processos fluem de forma dinâmica, como é o caso das universidades.

2.1. Universidade e o conhecimento científico

A universidade é entendida como parte do sistema de educação que tem

como base o ensino, a pesquisa e a extensão. É um espaço privilegiado pela

produção e transferência do conhecimento científico, onde todas as funções da

universidade estão voltadas para esse fim. Na universidade tem-se um solo fértil para

a criação e articulação desse conhecimento que influência e organiza direta e

indiretamente o modo de produção, o desenvolvimento de tecnologias e a

organização da sociedade (Leite, 2006).

[…] as atividades da universidade estão diretamente relacionadas com a produção e a comunicação do conhecimento científico, seja por meio da pesquisa científica, seja por meio do processo de ensino-aprendizagem. A universidade preza e privilegia o compartilhamento do conhecimento que é constantemente produzido (LEITE, 2007c, p.140).

Segundo o autor, são nas universidades que estão boa parte dos recursos

humanos para pesquisa científica de alto nível. São nesses espaços que se

concentram a maior parte de investimentos e financiamentos para o ensino e a

pesquisa. Para Scwartzman (apud LEITE; COSTA, 2006, p. 207) “a concepção de

que a pesquisa científica e o sistema universitário estão necessariamente ligados é

uma suposição difundida e adotada como princípio básico das políticas educacionais

em muitos países”.

Neste sentido, Werneck (2006) afirma que as universidades têm duas funções

em relação ao conhecimento científico, uma delas é a produção do conhecimento

científico propriamente dito, embora a autora considere que grandes avanços da

ciência também foram promovidos por academias de ciências e ou por interesse de

determinadas empresas. A outra função é considerada pela autora como a principal

por cumprir com o objetivo primeiro das universidades que é “a de socialização do

conhecimento por meio do ensino e sua aplicação prática pela extensão” (p.190).

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Como defendido pelos autores citados anteriormente, as universidades são

espaços privilegiados para a produção do conhecimento científico por conta da

disponibilidade de recursos presentes nestes espaços, recursos tanto materiais

quanto humanos. Desta forma a universidade se constitui de um espaço onde a

prática da pesquisa é uma de suas fortes características e tem como função

essencial a prática do ensino, por meio da socialização dos conhecimentos científicos

construídos ao longo do tempo.

2.2. Ensino e pesquisa na educação superior

O ensino por meio da socialização de saberes certificados por comunidades

científicas se faz necessário porque o conhecimento científico não pode ser

construído partindo do zero, ele deve fazer referências a discussões já estabelecidas

e se utilizar de métodos já aceitos. Assim sendo o ensino na educação superior se

relaciona intimamente com a pesquisa, podendo favorecer ambas as partes. Sobre

esta relação entre o ensino e a pesquisa Werneck (2006) pondera que “considerando

os objetivos primordiais da universidade do desenvolvimento do sujeito, da

divulgação do conhecimento cientifico, a pesquisa se justifica como um meio de

ensino da ciência, como técnica didática” (p. 191).

Fortalecendo esta perspectiva Franco (2000, p. 70) afirma que a “pesquisa é

importante via para o aprimoramento do professor de ensino superior”, porque além

de estabelecer a(o) docente enquanto membro de uma comunidade científica pode

melhorar suas práticas de ensino. Para discutir a questão, a autora entendendo a(o)

docente como parte de uma comunidade que produz e reflete sobre o conhecimento,

se baseia no trinômio “formação do professor de ensino superior, pesquisa e

comunidade de conhecimento”. Estas categorias são utilizadas em seu trabalho para

demonstrar a associação entre ensino, pesquisa e a natureza do ensino superior.

Cunha (2000) colabora com esta abordagem ao localizar a pedagogia

universitária como um espaço de conexão de conhecimento, subjetividades e cultura,

que demanda conteúdo específico e contempla a formação profissional. O que a

autora chama de conexão de conhecimento é chamado pelas(os) autoras(es) citados

anteriormente de socialização do conhecimento.

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2.2.1. Socialização do conhecimento científico

A prática de socialização do conhecimento científico se mostra de fundamental

importância tanto para a formação da(o) docente, para o desenvolvimento de suas

atividades; quanto para a pesquisa científica. Neste sentido Franco (2000, p. 71)

contribui com esta abordagem afirmando que “ao se falar sobre a formação do

professor de ensino superior está se adentrando a questão do acesso ao

conhecimento de uma dada área e a socialização deste conhecimento”.

Segundo Demo (2004, p. 58) “não há dicotomia entre socializar e construir

conhecimento, o distanciamento percebido é por conta da instrumentação eletrônica

nesses dois processos. Uma deve se preocupar com a outra, pois conhecemos a

partir do conhecido”. Assim, a socialização do conhecimento é conseqüência da

própria produção de conhecimento e vice versa, já que a produção do conhecimento

científico precisa referenciar discussões anteriores e ela mesma precisa fazer parte

do fluxo da comunicação de determinada área para ter significância científica.

Dentro da perspectiva apresentada anteriormente o autor ainda defende que

como estes dois processos estão intimamente relacionados no ambiente acadêmico,

quem ministrar cursos deve dispor de conhecimento construído e este deve estar

pronto para ser socializado. Desta forma, o autor entende a aula (ou curso) como

espaço primeiro de socialização do conhecimento científico na academia e que outros

espaços que permeiam este ambiente seria conferências, simpósios, congressos e

eventos desta natureza.

Por tanto, o conhecimento produzido dentro das academias deve estar

disponível, tanto para a comunidade acadêmica (universidade) quanto para as

comunidades científicas. Nas universidades este conhecimento tem o potencial de

contribuir com as práticas de ensino e fomentar a pesquisa como estratégia didática

do ensino superior, além de ser uma um retorno à sociedade como um todo. Para as

comunidades científicas a comunicação deste conhecimento pode representar

avanço da discussão da área que se propõem, contribuindo para o avanço da ciência.

Toda universidade assuma a respectiva socialização do conhecimento, sendo na prática sua forma mais convincente de extensão [...]. Entretanto a socialização feita em aula é inexpressiva, não só porque atinge público muito restrito, mas sobre tudo porque é eivado de mediocridades. A socialização relevante é aquela que realmente democratiza o acesso de todos ao conhecimento, e isto não pode mais ser feito sem o auxílio eletrônico (DEMO, 2004, p. 62).

13

Neste fragmento de texto o autor parte da ideia de que a pesquisa como

princípio científico e educativo é função primeira da universidade e que isto tem como

causa e conseqüência a produção de conhecimento científico. Assim sendo, Demo

(2004) defende o acesso ao que foi produzido neste contexto é e será cada vez mais

demandado pela própria sociedade e que a utilização de ambientes eletrônicos como

meio de socialização apresenta grande potencial para o cumprimento deste objetivo.

“A sociedade organizará dois sistemas conjugados em torno do conhecimento: um de

produção, que é lugar próprio da universidade; outro de socialização, dominado pela

instrumentação eletrônica” (DEMO, 2004, p. 68).

Buscando uma investigação sobre esta perspectiva de que o conhecimento

científico deve ser eficientemente socializado para contribuir para o avanço da ciência

e o desenvolvimento social, Michinel e Burnham (2007) realizaram um estudo sobre a

aprendizagem de Física e a partir da pesquisa e concluíram que:

Pensar a socialização do conhecimento científico como uma condição de produção nos permitiu pensar não só na informação científica que se busca divulgar junto a comunidade ampliada, mas também nos processos envolvidos nesta passagem e nas mediações e meios necessários para que os indivíduos sociais da sociedade ampliada se apropriem e traduzam interpretem, compreendam, (re)construam e usam esse conhecimento para sua (in)formação (p. 379).

Partindo desta necessidade de se conhecer e aprimorar formas de

socialização de conhecimento científico na academia, os próximos capítulos tratarão

de temas que dizem respeito ao processo (comunicação científica), as

movimentações que geram novas tendências neste processo (Acesso Aberto) e o

instrumento de socialização do conhecimento científico proposto pelo Movimento de

Acesso Aberto (Repositórios Institucionais). Esta revisão de literatura tem como

objetivo fundamentar a investigação da eficiência deste instrumento segundo a

perspectiva das(os) docentes do curso de Biblioteconomia da UFBA.

2.3. Comunicação científica

A comunicação científica são ações de socialização do conhecimento

científico. Segundo Garvey e Griffith (apud LEITE; COSTA, 2007, p. 94) a

comunicação do conhecimento científico pode ser definida como “o conjunto de

esforços, facilidades, processos dinâmicos e complexos, consensual e socialmente

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compartilhados, por meio dos quais o conhecimento científico é criado, compartilhado

e utilizado”. Ela compreende a fase inicial da pesquisa científica, vai desde a

identificação do problema a ser estudado até a fase em que o conhecimento

produzido é internalizado por outras pessoas.

Leite (2007, p. 146) conceitua a comunicação científica como um fenômeno

social segundo a atividade intelectual e criativa é passada dentro de uma

comunidade. O autor ainda traz a perspectiva de Kaplan e Storer (p. 146) que

entende que a comunicação cientifica relaciona-se com o compartilhamento de

conhecimentos de cientistas em suas competências.

Assim sendo, a comunicação científica oferece meios para a interação social

de uma comunidade científica e contribui para a produção, disseminação e uso do

conhecimento, o que é fundamental para o avanço da ciência (KURAMOTO, 2006).

Esse processo explicita a forte relação entre a produção do conhecimento cientifico e

o processo de comunicação.

A comunicação científica tem como função a promoção de melhores

resultados a questões específicas, estimulo à busca por novos conhecimentos,

divulgação de novos resultados e tendências, avaliação da confiabilidade de novas

ideias com a possibilidade de verificação, fornecimento de feedback para as

produções, o registro da autoria e a preservação do registro do conhecimento

científico (BAPTISTA et al, 2007).

A forma mais tradicional e amplamente difundida de comunicação cientifica

reconhecida atualmente é a comunicação por meio dos periódicos científicos. Nesse

modelo o processo de comunicação se dá da seguinte forma: um(a) pesquisador(a)

escreve um artigo relatando os principais resultados de seu estudo e discutindo o

tema com outras(os) autoras(es) de sua área de conhecimento, este artigo é

submetido para uma comissão editorial de uma determinada revista que avaliará o

conteúdo e a forma do documento, quando o artigo é aceito pela comissão ele é

publicado em um periódico científico e este, por sua vez, deve estar acessível para a

sua comunidade científica.

Esse meio de comunicação que em outros tempos representou grande

avanço, principalmente por tornar dinâmico o processo de socialização do

conhecimento entre pesquisadoras(es), atualmente tem sido questionado quanto a

eficiência na rapidez da comunicação e nos resultados da visibilidade das

informações que publica (LEITE, 2006; MUELLER, 2006; KURAMOTO, 2006;

15

COSTA, 2008). Segundo Baptista et al (2007), eles tem deixado a desejar em sua

função primordial que é disseminação da pesquisa, principalmente nos países

periféricos. Isto tem acontecido porque segundo Mueller (2006), as bibliotecas

universitárias não tem conseguido arcar com os custos das assinaturas dos períodos

de maior prestígio internacional.

Essa questão foi amplamente verificada no final da década de 90 quando esse

modelo de publicação entrou em crise. Kuramoto (2006) faz uma análise de como

essas publicações foram encarecendo e tornando-se de difícil acesso por conta do

preço das assinaturas.

Os editores ou publishers dessas revistas, ao perceberem a valorização/reconhecimento de suas publicações, promoveram exagerada alta no preço das assinaturas de suas revistas. Em conseqüência, as bibliotecas de todo o mundo, assim como os próprios pesquisadores, vêm encontrando dificuldades na manutenção de suas coleções de periódicos científicos, e os pesquisadores, conseqüentemente, têm menos acesso a esse insumo para o desenvolvimento de suas pesquisas (p. 92).

Segundo o autor, o aumento nos preços das assinaturas chegou a mais de mil

por cento entre 1989 e 2001. O que resultou em menores lucros para as editoras e

em maiores custos para as bibliotecas.

O início dessa crise ainda é discutida pelas(os) estudiosas(os) da área, para

Mueller (2006) a crise desse sistema vinha sendo anunciada desde a década de 70 e

estoura, com o cancelamento das bibliotecas das assinaturas dos periódicos, em

meados da década de 1980. As conseqüências dessa crise implicam diretamente nos

processos de comunicação cientifica e na produção de conhecimento, uma vez que

coloca barreias de preço e acesso muitas vezes intransponíveis pelas(os)

pesquisadoras(es), principalmente dos países do sul.

Embora este seja um fato facilmente observável e consensualizado na

literatura que trata do assunto, a produção do conhecimento científico e comunicação

científica ainda está fortemente ligada à forma tradicional de comunicação formal

exercida através dos periódicos científicos, pois eles foram legitimados pela própria

comunidade científica com “o status de canais preferenciais para a certificação do

conhecimento científico e para a comunicação autorizada da ciência e […] a

atribuição de confirmar a autoria da descoberta científica” (MUELLER, 2006, p. 27).

No entanto, a partir desse período ganha destaque outras formas de

comunicação científica que vem sendo discutida como formas alternativas ao modelo

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tradicional. Em concomitância com o uso dos periódicos tradicionais, surgem, a partir

da década de 90, as publicações científicas eletrônicas, como apresenta Mueller

(2006, p. 32):

Os periódicos eletrônicos de acesso livre começaram a aparecer no início da década de 90. São, em sua maior parte e assim como a grande maioria dos periódicos eletrônicos por assinatura, muito semelhantes, em aparência, ao modelo tradicional de periódico, com a importante diferença de serem acessíveis sem pagamento. Significam um ganho para o pesquisador em termos de acesso, conforto e presteza, mas não tanto em inovação, quando se considera a potencialidade do meio. Alguns títulos mantêm apenas a versão eletrônica para minimizar custos, e outros oferecem também uma versão impressa, paga.

Esta crise demonstra a necessidade por um novo modelo de comunicação

científica que garanta de fato a possibilidade de troca e a rápida transferência de

informação para quem precisa. Partindo destes princípios o Movimento pelo Acesso

Aberto a informação científica traça estratégias e iniciativas para este novo modelo.

2.3.1. Acesso Aberto à informação científica

Os periódicos eletrônicos ganharam força com a popularização da internet,

Sena (2007) considera que esse fenômeno incrementou a comunicação na ciência,

trazendo mais rapidez e visibilidade nas trocas de informações. A esse processo

ainda acrescenta que:

Essa agilidade fez contrastar o tempo de produção e distribuição de revistas científicas impressas com a instantaneidade das publicações eletrônicas. No contexto atual, tornou-se evidente a morosidade do processo da comunicação científica tradicional em face da rapidez com que algumas áreas do conhecimento se desenvolvem e promovem a divulgação dos seus trabalhos. Soma-se a isso a questão da transferência dos direitos autorais para os editores, o que nem sempre corresponde aos interesses dos autores. A importância do processo de revisão feita pelos pares (peer review) e o tempo que isso requer – algo muitas vezes limitador

do processo de disseminação de novas idéias, favorecendo a formação de um círculo restrito de editores e autores – também figura entre os fatores apontados por Sompel & Lagoze como elementos preconizadores de uma mudança de paradigma para a comunicação científica, em que os arquivos abertos e automatizados de e-prints aparecem como um modelo “mais eqüitativo e eficiente para a disseminação dos resultados de pesquisa”. (SENA, 2000, p. 72)

O que a autora chama de “mudanças de paradigmas para a comunicação

científica” é toda a movimentação, que se destaca a partir desse período, pelo acesso

17

aberto ao conhecimento científico. Essas movimentações se inserem no contexto das

Iniciativas pelo Acesso Aberto, que surgem da reação da comunidade científica à

privação de acesso aos insumos de seus trabalhos, ou seja, informação científica

(KURAMOTO, 2006).

Acesso aberto à literatura científica tem sido entendido como a possibilidade

de uso de materiais em formato digital, sem que esse o acesso apresente custos, ou

seja, limitado por permissões. Bapstista et al (2007, p. 5) define como “acessibilidade

ampla e irrestrita a conteúdos disponíveis em formato digital, no sentido em que

remove barreiras de preço e de permissão, tornando a literatura científica disponível

com o mínimo de restrições de uso”. Stevan Harnad (apud Costa, 2008, p. 220)

ressalta a noção de que acesso livre é o acesso completo ao documento e

gratuitamente:

[...] acesso livre (free) para o documento digital completo (não apenas partes ou metadados); não há graus de acesso livre (acesso a preços mais baixos não é acesso ‘quase livre’), é imediato, é permanente e contínuo, é para qualquer usuário em toda web, não apenas para certos sites, domínios ou regiões; é a um click e não com limites manipuláveis.

As articulações pelo acesso aberto além de trazer uma premissa básica para a

comunicação científica, que é tornar acessível para os pares os resultados de

pesquisas que possa ajudar no desenvolvimento de novas pesquisas, essas

discussões são acompanhadas de estudos que provam que as informações em

acesso livre estão consideravelmente mais visíveis do que as que têm seu acesso

restrito. Nesse sentido, a visibilidade dos estudos são relacionados, segundo Baptista

(2007), à aceleração do impacto que podem causar aumento da produtividade,

progresso e recompensas.

Além das questões práticas que aparecem nessa discussão, que é tornar mais

efetivo o processo de comunicação formal da ciência, ampliar a visibilidade e

retornos, potencializando assim o desenvolvimento de novos conhecimentos, surgem

questões de gestão dos recursos públicos. Para autoras(es) como Fachin (2009),

Mueller (2006) e Kuramoto (2006) a informação científica e técnica é um bem público,

que influencia os processos de desenvolvimento social e tecnológicos, que incide na

diminuição ou aumento das desigualdades sociais.

A informação científica é um resultado dos processos de ensino e pesquisa,

que em muitos lugares, como no Brasil, são majoritariamente financiadas com

recursos públicos. Como destaca Mueller (2006), no Brasil todo o processo de

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educação formal pode ser financiado pelo Estado, da educação infantil até a

educação superior e que são as universidades públicas os grandes pólos pesquisa do

país. Segundo a autora, essas pesquisas são, via de regra, financiadas por agencias

de fomento federais ou estaduais, que podem subsidiar recursos até para os custos

de publicação, caso haja. No entanto, quando um trabalho é submetido a uma revista

é comum que os direitos de exploração da obra passem a ser da revista, que por sua

vez irão comercializar aquele trabalho por meio de assinaturas de revistas impressas

ou eletrônicas para as bibliotecas das universidades, onde é necessária a destinação

de mais recursos públicos para manutenção das assinaturas.

Por tanto, essa discussão também passa pela gestão dos recursos públicos

na produção de conhecimento científico. Assim sendo, “o mote do movimento

mundial em favor do Acesso Livre a resultados de pesquisa, [...] é a disseminação

ampla e irrestrita dos resultados de pesquisas financiadas com recursos públicos”

(BAPTISTA et al, 2007, p. 2).

Contudo, apesar das ações pelo acesso aberto ao conhecimento científico

desenhar alternativas para esse modelo tradicional de comunicação, elas

encontraram e ainda encontram barreiras para serem reconhecidas como legítimas.

Como aponta Mueller (2006, p. 33)

legitimidade foi negada às publicações eletrônicas porque prevalecia a crença de que apenas à publicação nos moldes tradicionais poderia ser atribuída autoridade para validação do conhecimento científico. No centro da questão, está o sistema de avaliação pelos pares.

O sistema de avaliação pelos pares foi uma questão amplamente discutida

nesse contexto porque tinha a expectativa que as ações pelo acesso aberto fosse

capaz de estabelecer novas formas para a certificação do conhecimento científico.

Era esperado que o fortalecimento das dinâmicas de comunicação, de forma

democrática e direta entre as(os) pesquisadoras(es) fosse capaz de substituir a

avaliação feita por um único grupo (MUELLER, 2006).

A ideia era que os trabalhos, mesmo ainda em fases inicias e/ou ainda não

publicados (pré-prints) fossem disponibilizados para a comunidade científica na qual

o tema se insere e que esta comunidade traçasse comentários, avaliações e

contribuições sobre o trabalho. Uma das formas de avaliação pensada para esse

contexto foi por meio da análise de citação que o trabalho recebesse. No entanto

esse sistema não recebeu a adesão das comunidades científicas da forma esperada.

19

Quanto a esse aspecto, da frustração quanto ao resultado obtido, é importante

considerar que foram poucas e curtas as experiências analisadas.

Atualmente, consideram-se ações que dialoguem com os tradicionais

mecanismos de validação do conhecimento e ao mesmo tempo amplie a visibilidade

da informação científica. O aumento da visibilidade dos trabalhos que estão em

acesso aberto é analisado pelos trabalhos de Laurence e Antelman, ambos citados

por Costa e Leite (2006). Segundo os resultados dessas pesquisas as citações a

artigos onlines e abertos tiveram aumento de mais de 300% em relação a artigos

publicados offline.

Os aspectos informacionais do acesso aberto ao conhecimento científico

referem-se aos aspectos formais da comunicação científica, com a publicação de

resultados de pesquisas – informação e aspectos informais do processo de

comunicação – conhecimento. Nos dois aspectos do acesso aberto, da informação ou

do conhecimento, a promoção do acesso se dá de forma mais ampla e irrestrita,

comparada ao sistema tradicional de comunicação científica (COSTA, 2008).

2.3.1.1. Estratégias para o Acesso Aberto

A primeira reunião internacional para a promoção do acesso aberto, Budapest

Open Access Initiative, realizada em 2001, definiu dois caminhos para alcançar o

acesso aberto a literatura científica, a via dourada e a via verde. A via dourada

representa o acesso, sem restrições de uso, disponibilizado pelas próprias revistas

científicas, ou seja, revistas científicas de acesso aberto. Já a via verde acontece pelo

acesso aos artigos científicos por meio de repositórios institucionais de acesso

aberto. Os repositórios institucionais (RI) é um dos objetos de estudo desse trabalho

e será melhor abordado no próximo capítulo.

20

CAPÍTULO 3: REPOSITÓRIOS INSTITUCIONAIS

RI é uma base de dados de informações de conteúdo científico, apresentado

de modo organizado e em linha, acompanhado de serviços de preservação da

memória da instituição que o mantém e de ações para a ampliação da transferência

do conhecimento científico. Leite define RI como (2009, p. 19) “vários tipos de

aplicações de provedores de dados que são destinados ao gerenciamento de

informação científica, necessariamente, em vias alternativas de comunicação

científica”. Ele é dotado de funções e aplicações específicas a cada ambiente que o

utilize.

Outras definições de RI levantam a questão do armazenamento, preservação

e disseminação da produção intelectual de uma instituição, como a apresentada por

FACHIN (2009, p. 226) onde “repositórios institucionais são sistemas de informação

que armazenam, preservam, divulgam e dão acesso à produção intelectual de uma

comunidade universitária e/ou de um grupo específico de instituição ou pessoas”. A

questão da preservação também é discutida pela autora por meio da citação de

Drake (apud FACHIN, 2009, p. 228), a qual afirma que os “repositórios institucionais

estão sendo criados para controlar, preservar e manter os recursos digitais permitindo

uma recuperação eficaz; da mesma forma que serve de arquivo para a história das

instituições”.

Como já apresentada no capítulo anterior, os RI surgiram como um sistema

alternativo à forma tradicional de comunicação científica e foram fortalecidos pelo

Movimento pelo acesso aberto a informação científica que “se baseia no princípio de

que todos os resultados de pesquisas financiadas com recursos públicos devem ser

de livre acesso” (KURAMOTO, 2006, p. 95). Esse novo modelo tinha propostas de se

diferenciar do antigo pela formar de captura, administração, armazenamento e

disponibilização da informação.

Sua primeira representação concreta foi com a constituição de repositórios

temáticos ou disciplinares. (BLATMMANN; WEBER, 2008, p. 324). Esse tipo de

repositório é voltado para comunidades científicas específicas. Referem-se a

determinadas áreas do conhecimento, de acordo com a comunidade que o mantém.

Já os RI lidam com a produção científica de uma comunidade acadêmica. Eles

são planejados e moldados dentro de uma constituição, devem ser flexíveis as

peculiaridades das comunidades; armazenam conteúdos científicos ou acadêmicos

21

em texto completo e em formato digital, de forma acumulativa e permanente, o que

lhes confere condições para preservar a memória institucional e disseminar

livremente o conhecimento científico.

3.1. Características dos RI

Os RI são bases de dados destinadas à organização da produção científica de

determinada instituição. Existem diversas plataformas e metodologias para a criação

destas bases de dados, no entanto existe uma tendência internacional para o uso do

software Dspace e Eprints (VIANA; MÁRDERO ARELLANO, 2006).

Independentemente da plataforma ou metodologia utilizada para a criação do RI eles

deverão apresentar algumas características em comum, segundo Leite e Costa

(2009) estas características são:

Aberto e interoperável – demanda padrões tecnológicos que garanta a

interoperabilidade dos metadados.

Possibilidade para o autoarquivamento de documentos.

Cumulativo e perpétuo – preservar a memória intelectual de uma instituição

para garantir-lhe acesso amplo e irrestrito.

Conteúdo cientificamente ou academicamente orientado – necessariamente

para publicações científicas.

Do ponto de vista tecnológico a interoperabilidade, entendida aqui como a

possibilidade de comunicação de dados entre máquinas, é uma das palavras-chave

do acesso aberto e RI garantidos pela adoção do modelo arquivos abertos. A esta

funcionalidade também é atribuída a possibilidade da ampla visibilidade dos

conteúdos em ambiente de acesso aberto, já que a interoperabilidade de dados

permite que outros sistemas de informação colete e distribua os dados nestas

condições. Para Sena (2000) passa pela interoperabilidade entre os arquivos abertos

a construção de um arquivo global para o acesso on-line. Segundo a autora (p. 75),

22

parte do futuro dos open archives depende dos avanços das tecnologias de informação e comunicação, especialmente da indústria de software, que hoje busca implementações que tentam aliar performance e interoperabilidade em diferentes ambientes.

O autoarquivamento, por outro lado, consiste em a própria pessoa que

produziu determinado material depositá-lo e realizar algumas etapas de identificação

do conteúdo. Esse processo demanda a supervisão de uma equipe especializada,

que além de orientar deve fazer o controle e integrá-lo de modo coerente no sistema.

Para Mueller (2006) cabe aos repositórios a tarefa de gerenciar essas coleções e

evitar que o material irrelevante seja depositado. No entanto, isso não significa que

essas atividades substituirão as práticas de publicação tradicionais. Nesse sentido,

Blattamann e Weber (2008) se posicionam, chamando a atenção para esse processo

e afirmam que ele não representa ou substitui a publicação tradicional. Essa ideia

também é sustentada por outros autores, que afirmam:

[...] não se considera que a prática de publicar deva ser mudada, mas que a prática de arquivamento deva ser um suplemento à prática de publicação existente. Cada área do conhecimento deve ter uma prática de arquivamento diferente, por esta razão, a adoção dos periódicos de acesso livre e repositórios institucionais/temáticos devem ser adequados às práticas de cada comunidade científica. Adotando-se esse novo modelo de publicação, o trabalho que envolve a criação, manutenção e publicação de sistemas de arquivamento on-line é reduzido (LEITE; ARELLANO; MORENO, 2006, p. 91).

Mesmo com toda a discussão que se tem sobre o autoarquivamento, esta

ainda não é uma realidade para os RI brasileiros. O modelo de depósito que vigora

nos RI são por meio de processos das próprias bibliotecas e quando muito pela

secretaria dos departamentos das universidades. A biblioteca ou os departamentos

se encarregam de selecionar as publicações científicas das(os) pesquisadoras(es) da

instituição e armazenar o conteúdo na base de dado destinada. Contudo, apesar do

autoarquivamento ainda não ser realidade no Brasil é importante que os sistemas de

desenvolvimento de RI prevejam esta ação, já que é desejável que este sistema de

informação caminhe para o autoarquivamento pelas(os) próprias(os) autoras(es).

A preservação dos recursos digitais da instituição assim como o

armazenamento através do arquivamento dá suporte aos repositórios para que estes

cumpram seus objetivos de promover o acesso aberto ao conhecimento científico. Ao

assumirem a responsabilidade de preservar a produção científica/intelectual de uma

instituição criam condições para cumprir sua função principal que é o de estimular o

23

acesso ao que foi produzido dentro de determinado contexto para dessa forma

aumentar a visibilidade e o reconhecimento da instituição.

3.2. Direitos autorais

Outra questão muito discutida acerca do desenvolvimento de RI é a questão

dos direitos autorais. Existem alguns temores de que com a ampla divulgação dos

trabalhos acadêmicos se perca o controle quanto a garantia desses direitos. Para

Costa (2008) o depósito não põe em risco o direito autoral já que é respeitada a

propriedade sobre as licenças ou permissões de acesso e uso e o acesso amplo

irrestrito só é permitido quando for devidamente autorizado. Visando resoluções para

essa questão, Kuramoto (2006) discute modelos de autorizações que podem ser

utilizados no momento do depósito, dessa forma, o material armazenado será

apresentado junto com sua autorização. O autor ainda destaca duas condições que os

repositórios precisam estabelecer para conseguir disponibilizar livremente o que lá foi

depositado. São elas:

1. autores e detentores dos direitos de tais contribuições concedem a todos os usuários o seguinte: direito gratuito, irrevogável e irrestrito de acessá-las; licença para copiá-las, usá-las, distribuí-las, transmiti-las e exibi-las publicamente; licença para realizar e distribuir obras derivadas, em qualquer suporte digital e para qualquer propósito responsável, em obediência à correta atribuição da autoria (as regras da comunidade continuarão a fornecer mecanismos para impor a atribuição e uso responsável dos trabalhos publicados, como acontece no presente) e com a garantia de fazer cópias; 2. uma versão completa da obra e todos os materiais suplementares, incluindo uma cópia da licença, nos termos acima definidos, são depositados e, portanto, distribuídos em formato eletrônico normalizado e apropriado, em pelo menos um repositório que utilize normas técnicas adequadas (como as definições estabelecidas pelo modelo Open Archives) e que seja mantido por instituição acadêmica, sociedade

científica, organismo governamental, ou outra organização estabelecida que pretenda promover o acesso aberto, a distribuição irrestrita, a interoperabilidade e o arquivamento a longo prazo (KURAMOTO, 2006, p. 19).

Ciente de que a questão dos direitos autorais nos RI pode ser um grande

entrave para o seu desenvolvimento, o Instituto Brasileiro de Informação em Ciência

e Tecnologia (Ibict) mantém um serviço para a gestão de direitos autorais nos RI

24

chamado Diadorim1. Este serviço consiste em um diretório onde os Editores das

Revistas Científicas brasileiras informam sua permissão ou não para o depósito de

seus artigos em RI e suas condições de uso. No Diadorim as(os) gestoras(es) de RI

têm acesso, de forma fácil, às informações sobre permissões estabelecidas pelos

Editores.

Já para a questão do plágio, decorrente do não respeito à propriedade

intelectual, parece haver consenso entre estudiosas(os) da área que a disseminação

ampla do material pode ajudar no combate a cópia de ideias indevidas. Isso porque

com o amplo acesso texto original, este terá mais possibilidade de ser conhecido, o

que pode dificultar o uso de ideias sem a citação da fonte. Ou seja, os RI à medida

que promovem a visibilidade dos conteúdos, reafirmam sua autoria (COSTA, 2008).

3.3. RI e a comunicação científica

Os RI são reconhecidos como instrumentos confiáveis e eficazes para a

implantação de gestão do conhecimento e da comunicação científica, principalmente

com o uso de tecnologias de informação e comunicação (FACHIN, 2009) e estão no

centro das discussões que buscam novas alternativas para a comunicação científica.

No contexto das universidades, eles têm potencial para retomar para estas o controle

da produção do conhecimento e ameaçam a hegemonia das editoras comerciais de

periódicos científicos.

Segundo Crow (apud LEITE; COSTA, 2006, p. 213) cabe aos RI a

centralização, preservação a disseminação do capital intelectual da instituição, ao

mesmo tempo em que compõem um sistema mundial de repositórios que são

interoperáveis e fundamentam um novo modelo de publicação científica. Os

repositórios ainda suportam uma diversidade de tipologia de materiais muito ampla, a

depender dos objetivos traçados pela instituição.

1 diadorim.ibict.br

25

No entanto, ainda existem diversos desafios que se colocam para o amplo

desenvolvimento dos RI, como os apresentados anteriormente. Diante desse

contexto, os repositórios enfrentam muita resistência por parte da comunidade

acadêmica, como foi discutido anteriormente, devido ao receio do plágio, do não

respeito aos direitos autorais e da falta de certificação do material disponível.

Contudo, segundo Mueller (2006) é primordialmente uma questão cultural, o apego

às centralizadoras formas de comunicação científica e a falta de estímulos para o uso

dos repositórios que tem restringido seu uso e desenvolvimento. Nesse sentido, se

faz necessário uma postura organizacional de incentivo a transferência de

conhecimento entre pessoas de uma instituição, principalmente no caso das

universidades, conforme apontaram Leite e Costa (2006, p.) “é necessária a

explicitação de políticas e diretrizes institucionais que fundamentem uma orientação e

cultura direcionada para a transferência do conhecimento científico”.

O apoio institucional declarado por meio de políticas institucionais e

investimentos é fator fundamental para o sucesso de um RI. Além de possibilitar

condições materiais para o desenvolvimento desse serviço, será uma referência para

a caracterização do sistema e suas adaptações ao ambiente.

Tradicionalmente a área do conhecimento que estuda os processos de

transferência da informação e comunicação científica é a Ciência da Informação (LE

COADIC, 1996), assim sendo, os novos cenários da comunicação científica levaram

a Ciência da Informação estudar seus novos processos e instrumentos. Nesse

sentido, a área apresenta uma ampla literatura científica sobre os RI como

instrumento de armazenamento e disseminação da informação científica e gestão do

conhecimento.

26

CAPÍTULO 4: CIÊNCIA DA INFORMAÇÃO E BIBLIOTECONOMIA

Segundo Souza e Stumpf (2009) a Ciência da Informação (CI) é uma área

interdisciplinar por natureza que trata de questões voltadas para a geração,

comunicação e apropriação de conhecimento. Por abranger processos de várias

áreas do conhecimento a CI possui diversas metodologias e técnicas para a coleta,

tratamento e recuperação da informação. Por este motivo e por ser uma ciência

relativamente nova, segundo as autoras, a CI apresenta certa dificuldade em se

enquadrar enquanto área do conhecimento.

Segundo Oliveira (2005) o documento de avaliação e perspectiva das áreas

do conhecimento do CNPq de 1983 definiu a CI como o “campo mais amplo de

propósitos investigativos e analíticos, interdisciplinar por natureza, que tem por

objetivo o estudo dos fenômenos ligados à produção, organização, difusão e

utilização de informações em todos campos do saber” (p. 17). Neste universo a

Biblioteconomia mostra-se como uma disciplina voltada para a aplicação das

técnicas. A autora sintetiza esta relação apresentando a CI como “um conjunto de

teorias e práticas e, como campo científico, produz intercâmbio com outras

disciplinas. Uma delas é a Biblioteconomia, área com a qual ela tem falado mais de

perto, pelo menos na realidade brasileira” (p.21).

4.1. História da Biblioteconomia no Brasil

Esta perspectiva representa a forma como a Ciência da Informação e a

Biblioteconomia vem sendo conduzida em vários países, inclusive no Brasil. A

Biblioteconomia teve seu desenvolvimento diretamente relacionado com o surgimento

e aperfeiçoamento de bibliotecas, enquanto que a CI esteve mais ligada ao

desenvolvimento de comunidades científicas e produção científica na academia.

De acordo com Castro (2000), o primeiro curso de Biblioteconomia no Brasil

foi criado em 1911 pela Biblioteca Nacional (BN) e tinha como objetivo sanar as

dificuldades existentes na biblioteca quanto a qualificação de pessoal. No entanto

27

Barreto e Souza (2008) lembram que a trajetória da Biblioteconomia no Brasil se

constituiu a partir da vinda forçada da Corte Portuguesa, em 1808 e que é a partir da

instalação da Biblioteca Real Portuguesa que é criada a BN.

As aulas de Biblioteconomia na BN só iniciaram-se de fato em 1915 e

funcionaram regulamente até 1922, quando tentaram, sem sucesso, substituir este

curso por um “Curso Techico2”, com o objetivo de profissionais para trabalharem em

bibliotecas, arquivos e museus (CASTRO, 2000).

Esse curso não aconteceu em razão da recusa dos docentes do antigo curso da BN e da lei dos adidos, que determinava o aproveitamento de funcionários em disponibilidade, para assumir as funções desses profissionais da informação [...] foi restabelecido o antigo curso da BN com as mesmas diretrizes curriculares do anterior (BARRETO; SOUZA, 2008, p. 47)

As diretrizes curriculares do curso abrangiam disciplinas teóricas-práticas, com

a intenção de formar profissionais que dominassem conhecimentos sobre cultura

geral, saberes universais de diversos campos do conhecimento, diversos idiomas,

principalmente inglês, francês e latim (BARRETO; SOUZA, 2008). Para as autoras, é

notável a influência da cultura erudita européia no inicio do processo da formação

profissional em CI.

No decorrer do processo estas orientações sofrem influência pela trajetória do

ensino em São Paulo com a construção da biblioteca do Mackenzie College, em

1926.

Neste ambiente influenciado ela moderna pedagogia americana, é implantado, pela primeira vez no Brasil, o modelo pragmático de ensino de Biblioteconomia e de organização de biblioteca, que vinha em consonância com a modernidade de ensino adotado pelo Mackenzie. (CASTRO, 2000, p. 65)

Segundo Russo (2010) já a primeira Escola de Biblioteconomia brasileira,

criada em 1930 por Rubens Borba de Moraes, em São Paulo, trazia forte orientações

americanas.

As Escolas de Biblioteconomia relacionadas diretamente à uma biblioteca

duram até a década de 60, quando os cursos de graduação em Biblioteconomia são

incorporados nas universidades. Para Mueller (1988), com a criação de cursos de

graduação desta área em universidades, a profissão foi elevada à condição de nível

superior. De acordo com autora, nesta época teve que ser estabelecido um currículo

2 Nome dado ao curso em 1921.

28

mínimo para os cursos, definindo assim a identidade inicial da Biblioteconomia

brasileira.

4.2. Ensino da Biblioteconomia no Brasil

Assim o ensino da Biblioteconomia foi sendo desenhado de forma a partir da

experiências concretas para por meio da investigação científica aprimorar suas

técnicas e práticas. Sobre este processo Souza (2010) conclui que:

a educação bibliotecária, feita através da educação universitária, lida com o conhecimento que torna possível: a) a comunicação pedagógica do conhecimento atual, em dado momento histórico-social, e as experiências próprias da profissão de bibliotecário em dado contexto de ação, e b) a produção de conhecimento novo pela construção de questões que, submetidas aos critérios de elaboração científica, possam levar ao processo de compreensão e explicação da realidade existente e possa atribuir novos significados e, portanto, outras possibilidades de progresso futuro para o conjunto das atividades profissionais. (p. )

Assim surgem e são definidos os curso de graduação em Biblioteconomia, a

única forma legal para obtenção do diploma que habilita para a profissão de

bibliotecária(o). No entanto, Mueller (1988) chama a atenção para o fato de que este

não o único curso para a formação de profissionais na área, já que existem os cursos

técnicos, onde só é necessário o ensino médio e os cursos de pós-graduação, que

podem ser feitos por pessoas graduadas em outras áreas.

Ainda sobre os rumos do ensino da Biblioteconomia no Brasil, Souza

apresentou em 2010 os resultados de sua investigação sobre o ensino da área e sua

dimensão curricular a partir dos documentos da Associação Brasileira de Ensino em

Biblioteconomia e Documentação (ABEBD). Neste estudo o autor reconhece a área

como um espaço de interdisciplinaridade com necessidade de delimitações.

A representação do Ensino, obtida nos discursos analisados, exibe um segmento de ação dotado de complexidade, sendo, de um lado, um espaço de interdisciplinaridade e, de outro lado, uma atividade que necessitava de que se levasse em conta as diferentes realidades institucionais e regionais, com que operava. [...] Os documentos da ABEBD entendem, conscientemente ou não, o ensino como um processo integrador de múltiplos conhecimentos e, portanto, de conhecimentos concebidos em lugares e momentos distintos. (SOUZA, 2010, p. 251)

29

Outra pesquisa nesse sentido foi publicada por Dias, Pitella e Pontello em

1996 sobre a avaliação e importância da literatura didática no ensino da

Biblioteconomia. Neste trabalho os autores constataram a carência de textos de

natureza didática em língua portuguesa e que por isso “a qualidade do ensino é de

alguma forma comprometida, se aceita a premissa de que o texto didático é

instrumento importante no processo de ensino” (p.159). Também foi constatado que

muito dos documentos utilizados para fins didáticos no ensino de graduação da

Biblioteconomia estavam ultrapassados e necessitavam serem revistos.

Como resultado desse trabalho foi apresentada a Tabela 1 que indica a

predominância da literatura didática no ensino da biblioteconomia.

Tabela 1: Formato da bibliografia utilizada nos cursos de Biblioteconomia

Fonte: DIAS; PITELLA; PONTELLO, 1996, p.165

Como pode ser observado nos dados da tabela o artigo de periódico, seguido

do livro representa quase que 90% das fontes dos materiais didáticos no ensino da

Biblioteconomia. No estudo de Dias, Pintella e Pontello concluiu-se que quase não

existe material produzido especificamente para uso no ensino e que, portanto o

material utilizado para esta finalidade são os produtos primários da comunicação

científica já estabelecida nas comunidades científicas e acadêmicas.

Os artigos ainda possuem a vantagem, em relação aos livros, por representar

uma comunicação mais dinâmica e rápida, apresentando maiores possibilidades de

atualização das discussões e conseqüentemente do material usado para fins

didáticos.

Considerando as discussões da literatura científica da área sobre materiais

para uso didático no ensino da Biblioteconomia, mostra-se necessário estudos que

30

visem aperfeiçoar este processo. Neste sentido, existe a expectativa de que a

socialização de livros, trabalhos apresentados em eventos, teses, dissertações e

principalmente artigos de periódicos seja realizada de maneira satisfatória pelos RI.

Para investigar como tem sido o uso desta ferramenta na socialização do

conhecimento científico, este trabalho realizou uma pesquisa com as(os) docentes da

Universidade Federal da Bahia (UFBA).

4.3. Escola de Biblioteconomia e Documentação da UFBA

A Biblioteconomia na Bahia tem seu surgimento relacionado à Bernadette

Sinay Neves, que em 1939 foi nomeada para o cargo de bibliotecária da Escola

Politécnica. Como a recém bibliotecária não havia tido formação técnica nesta área

ela foi encaminhada para o Rio de Janeiro para qualificar-se na BN. Bernadette voltou

à Bahia, em 1942 e iniciou o curso de Biblioteconomia na Bahia. Em 1948 é criada a

Escola de Biblioteconomia baiana, com fortes tendências da Biblioteconomia carioca

e paulista (BARRETO; SOUZA, 2008).

A partir de então a Escola vai se aproximando da Universidade da Bahia

(UFBA), criada em 1946, até que em 1954 a Escola de Biblioteconomia integrou-se à

UFBA. Quando a Escola federaliza-se na UFBA ela abrange sua área de investigação

e cobertura temática, tornando-se a Escola de Biblioteconomia e Documentação

(BARRETO; SOUZA, 2008). Para as autoras, este fato trouxe novas perspectivas

para a área, conferindo maio visibilidade na sociedade baiana.

O currículo do curso de Biblioteconomia e Documentação foi reformulado em

1996 e fora criado o Programa de Pós-graduação em Ciência da Informação em

1997, dando início ao Mestrado em Ciência da Informação, e, em 1998, foi criado o

Curso de Graduação em Arquivologia. Todos estes eventos permitiram que a então

Escola de Biblioteconomia e Documentação fosse promovida à Instituto de Ciência da

Informação (ICI) (TOUTAIN, 2007).

Para Toutain (2007), professora e diretora do ICI, o curso de Biblioteconomia

na UFBA “foi criado objetivando atender à demanda da sociedade pela formação de

profissionais alinhados com a visão, os conceitos e o papel proeminente que a

31

informação alcançou como elemento agregador de valor econômico e fator de

desenvolvimento organizacional e social” (p.1).

Atualmente, o ICI oferece cursos de graduação em Biblioteconomia e em

Arquivologia e curso de pós-graduação de mestrado e doutorado em CI. Os cursos

de graduação têm duração média de oito semestres e apresentam em sua matriz

curricular tantos as disciplinas mais tradicionais do curso quanto às novas

abordagens e técnicas.

O ICI-UFBA além de ter reconhecimento nacional pelo curso de graduação em

Biblioteconomia e pós-graduação em CI, recentemente a UFBA recebeu o Prêmio

IBICT de Repositórios3 por ter alcançado o maior número de depósitos de artigos

científicos em seu repositório institucional no período de maio a outubro de 2011.

Para a realização desta premiação foram analisados os repositórios institucionais de

mais de trinta instituições de ensino superior e centros de pesquisa. No RI da UFBA4

além de estar disponível um grande acervo de artigos científicos produzidos pelas(os)

pesquisadoras(es) da instituição, também estão disponíveis alguns livros editados

pela Editora da UFBA e produzidos pelas(os) docentes da instituição.

Pelos motivos apresentados acima a UFBA foi selecionada para ser o

ambiente de pesquisa deste estudo. Como já discutido o objetivo do trabalho é

analisar em que medida os repositórios institucionais tem sido usados pelas(os)

docentes do curso de Biblioteconomia, como ferramenta para a socialização do

conhecimento. Assim sendo, no cenário atual a UFBA apresenta as melhores

condições para tal investigação.

3 http://impressaodigital126.com.br/2011/12/12/repositorio-institucional-da-ufba-ganha-concurso-

nacional/ 4 https://repositorio.ufba.br

32

CAPÍTULO 5: METODOLOGIA

O trabalho proposto é uma pesquisa descritiva que busca analisar o uso dos

RI, pelas(os) docentes do curso de Biblioteconomia da UFBA, como um instrumento

para a socialização do conhecimento científico formal. A pesquisa descritiva, segundo

Cervo (1996) corresponde ao conjunto de processos de observação, registro, análise

e correlacionamento de fatos ou fenômenos sem manipulá-los, para a realização

deste tipo de pesquisa é necessário o levantamento de dados sobre o ambiente a ser

analisado (chamado pelo autor de habitat natural). Para tanto, Cervo (1996) afirma

que a pesquisa descritiva pode assumir a forma de: estudo exploratório, estudo

descritivo, pesquisa de opinião, pesquisa de motivação, estudo de caso e pesquisa

documental; se valendo de instrumentos de coleta de dados que podem ser

entrevista e questionário.

Neste estudo a pesquisa descritiva sobre o problema foi analisado

acompanhado de uma pesquisa bibliográfica sobre as perspectivas de conhecimento

científico e seu processo de comunicação, assim como o uso dos RI para esse fim.

Segundo Cervo (1996) a pesquisa bibliográfica tenta explicar um problema a partir de

referenciais teóricos que já foram publicados e legitimados, desta forma, este tipo de

pesquisa busca analisar as contribuições científicas do passado para entender e

otimizar as práticas do presente.

Para a análise da situação apresentada neste trabalho foi realizado um

levantamento de dados com as(os) docentes do curso de Biblioteconomia da UFBA

por meio de um questionário. Foi utilizada uma abordagem qualitativa para a análise

dos dados, de forma a permitir que as informações sejam interpretadas considerando

suas especificidades. A abordagem qualitativa, segundo Minayo e Sanches (1993) é

a forma de analisar determinada situação de modo a tratar com intimidade o sujeito e

o objeto, uma vez que ambos sejam da mesma natureza. No caso deste estudo, o

sujeito são as(os) docentes do curso de Biblioteconomia da UFBA, o objeto de

análise são os RI e a relação de proximidade entre estes dois elementos foi discutida

nos capítulos anteriores.

Os procedimentos metodológicos podem ser estabelecidos como os que se

seguem abaixo:

33

Etapa 1

Revisão de literatura sobre os tópicos fundamentais ao tema:

Conhecimento científico e ensino superior. Este tópico é fundamental e

inicial à discussão porque relaciona as abordagens de produção e

consumo de conhecimento científico com o universo do ensino

superior.

Comunicação científica e acesso aberto à informação científica. A

comunicação científica é entendida como o processo que engloba as

dinâmicas de socialização do conhecimento científico. Este processo é

analisado por este trabalho considerando as novas discussões e

tendências sobre o assunto acerca do acesso aberto.

Repositórios institucionais. Este é o objeto de análise deste trabalho,

pois é apontado pela literatura científica como um dos possíveis

instrumentos para a socialização do conhecimento científico e está no

centro das discussões sobre o acesso aberto à informação científica.

Ciência da Informação e Biblioteconomia. O tópico é necessária à esta

abordagem porque é a área de análise da investigação e é a área do

conhecimento que tem participado das discussões sobre os RI como

instrumento de socialização do conhecimento científico.

Socialização do conhecimento científico na academia pelo uso dos RI.

Para a discussão deste tópico são apresentados os dados resultantes

da investigação.

Etapa 2

Coleta de dados. O levantamento de dados acontecerá por meio da aplicação de

questionário às(aos) professoras(es) do curso de Biblioteconomia da Universidade

Federal da Bahia.

34

Etapa 3

Análise dos dados e resultados. Mediante a análise dos dados pretende-se

sistematizar um diagnóstico da situação do uso dos RI como instrumento de

socialização do conhecimento científico no curso de Biblioteconomia.

35

CAPÍTULO 6: ANÁLISE DOS RESULTADOS: USO DOS RI NA SOCIALIZAÇÃO DO CONHECIMENTO CIENTÍFICO NO ENSINO DA BIBLIOTECONOMIA

Para avaliar o uso dos RI na socialização do conhecimento científico no ensino

da Biblioteconomia foi realizada uma investigação sobre como as(os) docentes do

curso entendem e usam este instrumento. As(os) docentes selecionadas(os) para a

pesquisa foram as(os) vinculadas a UFBA foram pelos motivos expostos no capítulo

seis.

Para a coleta de dados foi utilizado um questionário eletrônico5, enviado para o

endereço eletrônico das(os) todas(os) docentes que constavam na lista do ICI-UFBA

disponível na página web do instituto. A referida lista é composta por 22 docentes,

cada nome é seguido de um texto de apresentação acadêmica e informações para

contato. O questionário eletrônico foi elaborado com o auxílio da ferramenta Google

Docs para formulário, desta forma, o documento gerado é para o preenchimento

online e as respostas alimentam automaticamente uma planilha. O questionário

enviados está anexado à este documento (APÊNDICE 1) e seu endereço eletrônico é

o apresentado na nota de roda pé desta página.

O envio deste questionário foi acompanhado pela carta de encaminhamento

do Núcleo de Pós-Graduação da Faculdade Alvorada, de um texto de apresentação

da pesquisa e justificativa do estudo e uma versão do questionário para o

preenchimento offline (APÊNDICE 2). A opção para o preenchimento de um

documento de texto offline foi dada para o caso de haver algum problema no acesso

ao questionário eletrônico, no texto havia instruções para a escolha de uma das

opções.

O questionário da pesquisa é composto por onze questões sobre a formação

da(o) docente, seu conhecimento e freqüência de uso do RI e opiniões sobre a

ferramenta, cada questão será melhor abordada no decorrer deste capítulo. Todas as

questões foram elaboradas como perguntas duplas, ou seja, perguntas que

apresentam características de perguntas fechadas, com pelo menos duas opções de

respostas com texto já estipulado pela pesquisa e perguntas abertas, por umas das

opções de resposta ser aberta. Apesar de ter sido dada esta opção de resposta

5https://docs.google.com/spreadsheet/viewform?formkey=dG1IQ3UyWDdob1BnbUpKcGgxd0VvT2c6MQ#gid

=0

36

aberta, nenhuma das respostas, por nenhum(a) participante desta pesquisa utilizou a

opção de resposta aberta.

No período de cerca de um mês, prazo estipulado para a resposta à pesquisa,

sete docentes atenderam a solicitação e contribuíram com a investigação. Seis

docentes responderam via questionário eletrônico e uma docente preencheu o

formulário offline e o encaminhou por e-mail. O software utilizado para a aplicação

dos questionários online disponibiliza um relatório com o resumo dos dados obtidos,

estes relatórios estão disponível no final deste documento (ANEXO 1). As respostas

serão analisadas a seguir.

6.1. Perfil das(os) docentes

Para ser docente no curso de Biblioteconomia no ICI-UFBA é estipulado como

requisito mínimo o título de mestre em Ciência da Informação. Do grupo que

respondeu à pesquisa, mais de 70% possuíam apenas o mestrado (Gráfico 1) e

ministram aula a menos de seis anos na área (Gráfico 2). Estes resultados permitem

inferir que a maior parte das(os) docentes são relativamente novas(os) na área se

comparadas(os) ao grupo com título de doutorado e cerca de 20 anos de experiência

na docência da CI.

Gráfico 1: Grau de formação Fonte: Elaboração própria

37

Gráfico 2: Tempo de docência na CI Fonte: Elaboração própria

6.2. Conhecimento e uso do RI

Todas as pessoas que responderam o questionário afirmaram saber o que é

RI e que conheciam o da sua instituição. Entretanto, somente uma pessoa afirmou

utilizar freqüentemente o repositório, enquanto que uma pessoa afirmou que nunca

utiliza a ferramenta e as outras pessoas, cerca de 70%, afirmaram usar raramente o

RI (Gráfico 3).

Gráfico 3: Freqüência de uso do RI Fonte: Elaboração própria

38

Isto demonstra que apesar de as(os) docentes entenderem o que é um RI e

saberem da existência de uma base de dados como esta na instituição onde atuam, o

seu uso ainda não é algo que convença boa parte das(os) docentes desta área. Outro

fator que aponta para o baixo uso do RI é a ausência de publicações das(os)

próprias(os) docentes pesquisados, como demonstra o Gráfico 4. Segundo estes

dados, cerca de 70% das(os) docentes não tem ou desconhece a existência de

artigos de sua autoria armazenados no RI.

Gráfico 4: Existência de publicações da própria autoria Fonte: Elaboração própria

A baixa utilização do RI por parte das(os) docentes pesquisadas(os) parece

não afetar no reconhecimento deste instrumento como uma fonte de informação, já

que somente uma pessoa, afirmou recomendar o uso deste instrumento para sua

turma com raridade. Todas as outras pessoas que responderam ao questionário

afirmaram recomendar o uso do RI com freqüência (Gráfico 5).

Gráfico 5: Recomendação do uso do RI Fonte: Elaboração própria

39

Outra questão que parece não ser afetada pela baixa utilização dos RI por

parte das(os) docentes é o entendimento deste grupo sobre a função, a que se

propõem pela literatura científica da área, deste instrumento. Todas as pessoas que

responderam ao questionário afirmaram considerar os RI como instrumentos

eficientes para a preservação da memória institucional e para a divulgação da

comunicação científica.

6.3. Fontes de informação científica

Na pesquisa foram investigadas quais as fontes de informação científica são

recomendadas pelas(os) docentes como instrumento para pesquisa bibliográfica. As

opções de respostas disponíveis eram:

Catálogo da Biblioteca da UFBA

Repositórios Institucionais

Portal da Capes

Scielo

Outras bases de dados

Sites de busca (Ex. Google Acadêmico)

Gráfico 6: Fontes de informação científica Fonte: Elaboração própria

40

Dentre as respostas obtidas pode-se observar que todas apontaram para o

catálogo da Biblioteca da UFBA e o Portal de Periódico da Capes (Coordenação de

Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior) como fontes de informação

recomendável. O Portal de Periódico da Capes é um resultado de um convênio feito

pelo governo brasileiro para a assinatura das principais revistas científicas de

diversas áreas do conhecimento para o acesso das instituições de ensino superior e

mantidas com recursos públicos. Esta fonte tem se apresentado como um importante

instrumento de pesquisa porque dá acesso às publicações das grandes editoras que

cobram pelo acesso aos seus artigos.

Em segundo lugar ficou a recomendação para os RI como fonte de informação

científica e a opção de “Sites de busca (Ex. Google Acadêmico)”, estas respostas

foram selecionadas por seis das sete pessoas que responderam ao questionário. O

que é importante notar deste resultado em relação ao discutido anteriormente é que

parece ser unanimidade entre as(os) docentes o uso das revistas disponíveis no

portal da Capes e o mesmo não acontece com as publicações disponíveis pelos RI.

Um dos motivos que podem explicar a situação é que os periódicos disponíveis pela

Capes são, na sua maioria, revistas tradicionais e com ampla aceitação internacional,

portanto são as revistas melhor conceituadas pelo sistema de avaliação. Em

comparação com os RI a quantidade de artigos provenientes destas revistas podem

ser consideravelmente menor do que a do Portal, isto se deve ao fato de que nos RI

ficam armazenadas publicações científicas de diferentes espécies e origens e o que

elas têm em comum é o fato de que são resultados do trabalho de pesquisadoras(es)

de uma mesma instituição.

A outra fonte de informação que recebeu o mesmo número de indicações que

os RI foram os sites de busca, dentre eles foi destacado pela própria pesquisa o

“Google Acadêmico” por sua forte imersão na cibercultura atual. O que é importante

considerar na análise desta fonte é que este buscador não é uma base de dados é

sim um coletador de dados das bases existenteS e que um dos tipos de bases de

dados em que este buscador realiza sua atividade são nos RI. Isto é possível por

meio protocolo utilizada pelos RI para a padronização e disponibilização dos dados,

fruto das discussões e iniciativas para a promoção do Acesso Aberto. Desta forma,

pode-se considerar que ao serem utilizados estes buscadores também está utilizando

as bases de dados organizadas e disponíveis para o Acesso Aberto.

41

A fonte de informação, como instrumento de pesquisa que menos recebeu

recomendação das(os) docentes foi o Scielo. O Scielo é um diretório de revistas

científicas de Acesso Aberto, que reúne as mais bem conceituadas revistas

brasileiras na área da Ciência da Informação. A baixa recomendação à este diretório

pode ser atribuída pela a existência de outros diretórios e buscadores exclusivos da

Ciência da Informação no Brasil e o no exterior, no entanto não existem dados

suficientes para afirmar o motivo, já que este não é o foco deste trabalho. Um estudo

desta relação mostra-se pertinente, portanto recomenda-se um estudo mais

aprofundado sobre a questão.

Outra questão que este trabalho levantou e buscou investigar foi a fonte de

informação científica como elemento que propicia e impulsiona a prática da pesquisa.

Na investigação realizada com as(os) docentes lhes foi perguntado sobre sua opinião

sobre se a disponibilidade de fontes de informação científica estimula a prática da

pesquisa entre suas(seus) alunas(os) (Gráfico 7).

Gráfico 7:Fontes de informação estimula à pesquisa? Fonte: Elaboração própria

A questão sobre fontes de informação e estímulo à pesquisa foi a que mais

dividiu o grupo, pouco mais de 50% afirmaram concordar que a disponibilidade de

fontes de informação representam um estímulo à prática da pesquisa, contra cerca de

40% que discordam da prerrogativa.

Esta pesquisa, portanto, aponta que os RI são entendidos como instrumento

de socialização do conhecimento científico na academia, pela perspectiva das(os)

docentes do curso de Biblioteconomia da UFBA, no entanto existem relações que

perpassam a questão de demandam novos estudos, como explicitado anteriormente.

42

CAPÍTULO 7: CONSIDERAÇÕES FINAIS

O uso dos RI apresenta grande potencialidade para contribuir com a

socialização do conhecimento científico na academia. A literatura que trata do

assunto aponta este instrumento como eficiente para ampliar a divulgação da

informação científica de modo a tornar mais visível os resultados das pesquisas,

as(os) pesquisadoras(es) e suas instituições. Além de a literatura apontar para a

eficiência dos RI na tarefa de polinizar a informação científica, ela também

recomenda seu uso para a guarda e gerenciamento da memória intelectual de uma

instituição.

Instrumentos para o gerenciamento e divulgação da produção científica de

uma instituição de ensino se mostram necessários porque são nas instituições de

ensino superior que acontecem boa parte dos processos de produção e consumo de

conhecimento científico. A educação no ensino superior tem como propósito a

formação de profissionais e tem por excelência a função da produção de

conhecimento científico. Esta produção, como discutido anteriormente, é resultado de

conhecimentos científicos já socializados adicionados de novas observações. Desta

forma, a informação científica é entendida como um recurso indispensável tanto para

a pesquisa quanto, para a produção de conhecimento científico. Portanto estudos que

se dediquem a investigar e otimizar os processos de comunicação científica, ou seja,

a forma como esta informação será distribuída e retribuída dentro de um sistema, se

tornam necessário para melhorar a circulação de conhecimento científico entre

docentes, discentes e pesquisadoras(es).

A proposta deste trabalho de análise do uso de um instrumento de

socialização de conhecimento científico pelas(os) docentes da área que se propõem

ao estudo deste processo aponta para três importantes pontos. O primeiro deles é

que existe consenso entre as(os) docentes do curso de Biblioteconomia da UFBA de

que os RI são eficientes na divulgação da informação científica e na guarda da

memória institucional. Esta questão fortalece a perspectiva das(os) teóricas(os) sobre

o assunto, no entanto explicita uma contradição com o segundo ponto analisado pela

pesquisa.

O segundo ponto é sobre o uso dos RI pelas(os) docentes. A pesquisa

constatou uma baixa utilização dos RI por parte das(os) docentes, apesar de

unanimidade em reconhecer este instrumento como eficiente para tal finalidade. As

43

(os) docentes afirmaram utilizar com raridade os RI, no entanto cerca de 85%

afirmaram recomendar o uso para suas(seus) alunas(os). As razões para este

fenômeno demandam um novo estudo.

Apesar da falta de um estudo mais aprofundado sobre esta questão pode-se

inferir dos dados que as(os) docentes reconhecem os RI como uma boa fonte de

informação científica. Segundo esta pesquisa, os RI só perdem em recomendação,

para o catálogo da biblioteca da universidade e para o Portal da Capes. Esta questão

se relaciona com o terceiro ponto de análise desta pesquisa que é sobre se a

disponibilização de fontes de informação representa um estímulo à pesquisa.

Os trabalhos de Demo (2004), Franco (2000) e Michenel e Burnham (2007),

discutem sobre existência e disponibilidade de fontes de informação como condição

para a prática da pesquisa, entretanto o que a investigação deste trabalho demonstra

é que segundo as(os) docentes, a disponibilidade de instrumentos de pesquisa não

representam por si só um estimulo à prática da pesquisa. As perspectivas em

questão não se opõem, na verdade elas explicitam a necessidade da existência de

outros elementos para a criação de um contexto de estímulo a pesquisa entre

estudantes.

Este trabalho possui elementos para concluir que o uso dos RI tem potencial

para contribuir com os processos de socialização do conhecimento científico na

academia. Isto porque, existe um entendimento comum entre as(os) docentes, que

participaram da pesquisa, de que os RI são eficientes da divulgação e na guarda do

conhecimento científico, apesar da baixa utilização deste instrumento por parte

das(os) docentes.

O levantamento da contradição se mostra importante para contribuir com as

reflexões que visam aprimorar o seu uso para melhorar as práticas de polinização da

informação científica. Aperfeiçoar este processo pode representar um aumento na

qualidade das discussões, da pesquisa e do ensino como um todo na educação

superior.

44

8. REFERÊNCIAS

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48

APÊNDICE

49

APÊNDICE A - Questionário eletrônico (1/3)

50

APÊNDICE A - Questionário eletrônico (2/3)

51

APÊNDICE A - Questionário eletrônico (3/3)

52

APÊNDICE B - Questionário offline (1/2)

53

APÊNDICE B - Questionário offline (2/2)

54

APÊNDICE C - Dados coletados (1/2)

55

APÊNDICE C - Dados coletados (2/2)

56

57

ANEXOS

58

ANEXO A – Resumo dos dados do formulário eletrônico “Questionário sobre o uso do RI UFBA”