A Sociologia da Infância: A socialização da criança em diferentes perspectivas teóricas.

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CENTRO DE LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE SOCIOLOGIA FERNANDO GIORGETTI DE SOUZA A SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA: A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA EM DIFERENTES PERSPECTIVAS TEÓRICAS. Londrina-PR 2016

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CENTRO DE LETRAS E CIÊNCIAS HUMANAS

ESPECIALIZAÇÃO EM ENSINO DE SOCIOLOGIA

FERNANDO GIORGETTI DE SOUZA

A SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA: A SOCIALIZAÇÃO DA

CRIANÇA EM DIFERENTES PERSPECTIVAS TEÓRICAS.

Londrina-PR 2016

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FERNANDO GIORGETTI DE SOUZA

A SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA: A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA EM DIFERENTES PERSPECTIVAS TEÓRICAS.

Londrina-PR

2016

Monografia apresentada ao Curso de Pós-graduação em Ensino de Sociologia da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Especialista em Ensino de Sociologia. Orientadora: Profa. Dra. Ileizi Luciana Fiorelli Silva

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S729a Souza, Fernando Giorgetti de A Sociologia da Infância: a socialização da criança em diferentes perspectivas teóricas.-- Fernando Giorgetti de Souza.-- Londrina: Universidade Estadual de Londrina, 2016. 42f. Monografia (Especialização em Ensino de Sociologia) –

Universidade Estadual de Londrina, 2016

1. Infância. 2. Socialização. 3. Autonomia. 4. Sociologia da Infância. 5. Sociologia educacional. I. Titulo.

CDD 306.432

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FERNANDO GIORGETTI DE SOUZA

A SOCIOLOGIA DA INFÂNCIA: A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA EM DIFERENTES PERSPECTIVAS TEÓRICAS.

Monografia apresentada ao Departamento de Ciências Sociais da Universidade Estadual de Londrina, como requisito parcial à obtenção do título de Especialista em Ensino de Sociologia.

BANCA EXAMINADORA

____________________________________ Orientadora: Profa. Dra. Ileizi Luciana Fiorelli Silva

Universidade Estadual de Londrina - UEL

____________________________________ Profa. Dra. Angélica Lyra de Araújo

Universidade Estadual de Londrina - UEL

____________________________________ Prof. Ms. Marco Antonio Rossi

Universidade Estadual de Londrina - UEL

Londrina, 18 de Abril de 2016.

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Educa a criança no caminho em que deve andar; e até

quando envelhecer não se desviará dele.

Provérbios 22:6.

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Dedico este trabalho a minha querida

mãe Dinoráh Luiza (in memorian) por

ter me ensinado valores na infância,

que contribuiram muito para a

formação daquilo que hoje sou,

“apesar de minhas imperfeições,

teimosias e de algumas escolhas

erradas” procuro trilhar no caminho

que conduz à sabedoria e à uma vida

feliz.

A minha família,

minha esposa Ester e aos meus filhos

Guilherme e Ana Julia, que suportaram

meus “chiliques” enquanto elaborava

meus trabalhos acadêmicos.

Amo vocês!

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AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente ao Deus Todo-Poderoso.

A minha orientadora Dra. Ileizi Luciana Fiorelli Silva,

A professora Dra. Angélica Lyra de Araujo (LENPES) pelo incentivo

e pelos livros,

A professora Any Marise Ortega pelas aulas de Sociologia da

Educação na FIG-UNIMESP em Guarulhos-SP,

Aos demais professores,

A Durva e Cláudio pela amizade e presteza profissional,

As turmas dos Cursos de Especialização em Ensino de Sociologia e

também da Especialização em Comunicação Popular e Comunitária, ambas (UEL-

2015), pela contribuição na construção desses conhecimentos.

Agradeço também as demais pessoas que contribuíram diretamente

ou indiretamente para a minha formação.

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SOUZA, Fernando Giorgetti. A Sociologia da Infância: a socialização da criança em diferentes perspectivas teóricas. 2016. 42f. Monografia (Especialização em Ensino de Sociologia). Departamento de Ciências Sociais. Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2016.

RESUMO

As concepções de socialização das crianças mudaram ao longo da história, devido às dinâmicas das sociedades. Os primeiros estudos sobre as crianças foram pautados na ótica de pedagogos, historiadores e psicólogos. Nos estudos sociológicos dentre os autores clássicos é Émile Durkheim quem sistematiza a Sociologia da Educação, elaborando importantes conceitos sobre a socialização, em uma época em que a criança era apenas considerada um adulto em miniatura, condicionada a obedecer às regras impostas pelo Estado. Com o avanço científico no século XX e o surgimento da teoria sócio construtivista, a criança passa a ser mediada pelos diferentes agentes educativos e Hannah Arendt discute a autonomia delas em relação às gerações e aos seus pares. Este artigo foi produzido através de uma pesquisa bibliográfica acadêmica e objetiva desenvolver uma reflexão sobre as diferentes perspectivas do conceito de socialização das crianças e de suas relações com a sociedade em diferentes perspectivas do pensamento sociológico, analisando até que ponto os estudos durkheimianos continuam vigente na sociedade contemporânea nos diferentes ambientes, família, escola, e outras instituições, incluindo alguns apontamentos recentes sobre a mídia de massa e redes sociais. Ocorreu nas décadas de 1980/90 uma revisão do conceito de socialização em consequência da emergência e constituição de um novo campo de saber, e os sociológos franceses e ingleses romperam com a concepção durkheimiana do ser social e acenaram ao mundo contemporâneo o protagonismo das crianças nas sociedades ao trabalhar com os pressupostos da Sociologia da Infância como um fenômeno social. Ampliando as discussões Corsaro apresenta a metáfora da teia global, apontando que as crianças, não são mais passivas no processo de socialização, pois, transitam e interagem com os adultos e com outras crianças simultaneamente em diferentes ambientes. Em suma, nesse artigo se observa a importância da mediação das crianças pelas gerações adultas e a autonomia delas como atores sociais.

Palavras-Chave: infância; socialização; autonomia; sociologia da infância; sociologia educacional.

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SOUZA, Fernando Giorgetti. The sociology of childhood: the socialization of children in different theoretical perspectives. 2016. 42p. Monograph (Specialization in Sociology of Education). Department of Social Sciences. State University of Londrina, Londrina, 2016.

ABSTRACT

Conceptions on children's socialization have changed throughout history, due to the dynamics of societies. The first studies on children were guided by the perspective of educators, historians and psychologists. Among classical authors of sociology stands out Durkheim, who systematized the Sociology of Education, developing important concepts of socialization, in a time when the child is considered just a miniature adult, conditioned to obey the rules imposed by the state. With the scientific advancement in the twentieth century and the emergence of social constructivist theory, the child began to be mediated by different educational agents and Hannah Arendt discusses their autonomy in relation to generations and to their peers. This article was produced through bibliographical research by academic literature. Its purpose is to develop a reflection on the different perspectives of the concept of socialization of children and their relationship with society in different prospects of sociological thought, analyzing how far the Durkheim's studies is still current in contemporary society in different environments, family, school, and other institutions, including some recent notes on the mass media and social networks. During the 80’s and 90’s a review of the concepts of socialization occurred as a result of the emergence and establishment of a new field of knowledge, and the French and English sociologists broke Durkheim’s conception of the social being and waved to the contemporary world the protagonism of children on societies from the moment they started working with childhood sociology as social phenomenon. Increasing the discussion Corsaro presents the metaphor of the global web, pointing out that children are not passive in the socialization process, therefore, pass and interact with adults and with other children simultaneously in different environments. In short, this article points out the importance of mediation of children by adult generations and empower them as social actors.

Keywords: Childhood; socialization; autonomy; sociology of childhood; educational sociology.

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LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 1 – Modelo de teia global ............................................................................. 25

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LISTAS DE ABREVIATURAS E SIGLAS

PPP Projeto Político Pedagógico

SME Secretaria Municipal da Educação

UEL Universidade Estadual de Londrina

UFSC Universidade Federal de Santa Catarina

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .......................................................................................................... 11

1. A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA NA PERSPECTIVA DURKHEIMIANA ........... 15

2. A SOCIALIZAÇÃO DE UMA NOVA GERAÇÃO PARA UM MUNDO NOVO ...... 19

3. A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA NA PERSPECTIVA CONTEMPORÂNEA ..... 25

CONSIDERAÇÕES FINAIS ...................................................................................... 35

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 38

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INTRODUÇÃO

A Sociologia da Infância é um novo campo de saber e estuda as ações e

relações sociais das crianças na contemporaneidade. Novo, porque até a década de

1980, as pesquisas sobre as crianças eram realizadas através das lentes de

pedagogos, de historiadores e de psicólogos.

Conforme observado, houve um atraso nos estudos sociológicos sobre a

criança, permitindo então a vanguarda da produção de saberes relacionados aos

aspectos biológicos, médicos e psicológicos, influenciando a educação familiar e

escolar.

Segundo Lima, Moreira e Canhoto de Lima (2014, p. 99) o que acontece

“entre” as crianças, “além do biológico e o psicológico, representa uma função de

outras áreas do saber como a Sociologia e Antropologia”.

Nesse sentido, Corsaro (2011, p. 18) entende que as crianças “foram

marginalizadas na sociologia devido a sua posição subordinada nas sociedades e às

concepções teóricas de infância e socialização. ”

Porém, na década de 1960, os estudos do francês Philippe Ariès marcaram

uma nova perspectiva e fomentaram novas discussões sobre a criança passiva e o

seu papel na sociedade, já que até aquele momento, a criança era considerada um

“adulto em miniatura”.

Cohn (2005, p. 28) aponta, que a criança “não é um adulto em miniatura”,

tampouco “alguém que treina para a vida adulta”. A antropóloga deseja que a

sociedade compreenda a interação das crianças com seus pares, com os adultos e

com o mundo, onde quer que seja, “sendo parte importante na consolidação dos

papéis que assume e de suas relações. ”

Além disso, vale ressaltar, segundo Belloni (2009, p. 2)

A ideia de infância, fruto das representações da sociedade, varia segundo o momento histórico e as diferentes sociedades ou culturas: não há uma infância universal, unívoca, uniforme. Existem muitas infâncias, multiformes, diversas, particulares. Embora possa ser identificada por características biológicas comuns em toda a espécie humana, essa aparente naturalidade da infância não é suficiente para compensar as profundas diferenças de ordem histórica, antropológica e sociológica que distinguem as diferentes infâncias do mundo de hoje.

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Embora a Sociologia da Infância seja um saber emergente, os sociólogos

têm produzido estudos significativos sobre o desenvolvimento das crianças, e há

ainda muito a desvendar, porém isso pode não ser uma tarefa fácil, devido à

complexidade e interdisciplinaridade dos temas em discussão.

Segundo Kramer (1999, p. 271),

O significado social e ideológico da criança e o valor social atribuído à infância têm sido objeto de estudo da sociologia, ajudando a entender que a dependência da criança em relação ao adulto é fato social e não natural; na base da distribuição desigual de poder entre adultos e crianças, há razões sociais e ideológicas fortes, com repercussões evidentes no que se refere ao controle e à dominação de grupos.

O sociólogo inglês Anthony Giddens (2012, p. 213) entende a importância da

educação familiar e escolar para as crianças, porém, destaca também o papel da

mídia na socialização das crianças. Por isso, relata os avanços dos meios de

comunicação de massa impressos da modernidade, para os meios de comunicação

de massas eletrônicos da pós-modernidade.

É evidente que a indústria cultural e a mídia de consumo contribuem

influenciando e socializando as crianças e por isso, estudiosos do campo da

Comunicação e da Educação destacam a necessidade de mediação na recepção

das mensagens, por quem conheça as artimanhas midiáticas e publicitárias.

Paulo Freire (1996, p. 139) recomenda aos educadores progressistas: “não

podemos desconhecer a televisão mas devemos usá-las, sobretudo, discuti-la. ”

Nesse sentido, essa discussão vai além de mediar o conhecimento obtido

pela audiência televisiva, mas também, da ação/interação das crianças nas redes

sociais, seu novo ambiente de socialização.

Belloni (2009, p. 116) destaca, “Hoje, nos países ocidentais, a criança é,

cada vez mais, considerada sujeito de seus processos de socialização, sendo um

ator muito importante no mercado consumidor e alvo preferido dos publicitários, pois

parece sem dúvida influir sobre as escolhas familiares de compra. ”

Compreendendo então a relevância de pesquisas sobre as crianças e seu

papel na sociedade, o presente artigo, objetiva além de contribuir para as

discussões acadêmicas, produzir uma análise sociológica, através de leitura

bibliográfica, nos diferentes contextos históricos/sociológicos e em diferentes

perspectivas teóricas.

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Serão abordadas três perspectivas acerca da socialização das crianças,

sendo a primeira na ótica clássica durkheimiana, seguida das discussões

sociológicas sobre as crianças e a educação em meados do século XX, e de

debates na contemporaneidade, devido à emergência desse novo campo de saber,

ou seja, a Sociologia da Infância.

A escolha de trabalhar nessa temática ocorreu durante uma conversa com a

orientadora deste artigo, sobre um projeto de Midiaeducação e Cidadania1 em

desenvolvimento naquele momento, problematizando a socialização das crianças

através dos meios de comunicação de massas.

Entendendo a emergência do Campo, a professora indicou algumas

literaturas e autores, dentre eles Émile Durkheim, Hannah Arendt e François Dubet.

Após iniciada uma pesquisa sobre o estado da arte, tendo uma visão

panorâmica do tema, a sugestão dos três autores foi aceita pela pertinência e

relevância de suas contribuições teóricas.

A preferência por Durkheim foi simplesmente pelo fato de ao lado de Karl

Marx e Max Weber - ser considerado um dos autores clássicos da sociologia – e

melhor dizendo, pela sua contribuição na construção do conhecimento sociológico

da educação.

Soma se a isso, a escolha de Arendt devido sua militância e visão contra o

pragmatismo da educação estadunidense do início do século XX, e de Dubet pelo

seu entendimento de uma escola democrática para as crianças.

Diante dessas considerações, o primeiro questionamento desse artigo,

consiste em saber de que modo os estudos de Durkheim contribuem para a

educação da criança na sociedade brasileira? Consequentemente, os apontamentos

do primeiro item pretendem responder essa questão, por intermédio das

contribuições teóricas do pensamento durkheimiano sobre a educação e

socialização das crianças.

No segundo item, a criança será vista na perspectiva sociológica do século

XX desde a escola de Frankfurt até a emergência da Sociologia da Infância no início

1 O Projeto Midiaeducação e Cidadania foi uma pesquisa participante, autorizada pela Secretaria

Municpal de Educação de Londrina - SME, realizada com os alunos do quinto ano de uma Escola Municipal de Educação Infantil entre os meses de set./nov. de 2015, tendo em vista, os apontamentos sobre o comportamento e respostas das crianças frente aos meios de comunicação de massa. Foram realizadas vinte e duas oficinas, divididas em cinco temas principais: Identidade, Cidadania, Comunidade, Leitura crítica da mídia e Elaboração de Jornais/Técnicas de Jornalismo, abordando os pressupostos da Comunicação Comunitária, sendo elaborado um jornal escolar. (SOUZA, 2016, No prelo).

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da década de 1980, resgatando a visão de Hannah Arendt, Michel Foucault, Philippe

Ariès, Pierre Bourdieu e também destacando o pioneirismo do sociólogo brasileiro

Florestan Fernandes, em sua pesquisa etnográfica, procurando entender as

mudanças de comportamento das crianças em relação aos ensinos durkheimianos

da socialização.

Por fim, o terceiro item apresenta a emergência da Sociologia da Infância na

sociedade contemporânea, trabalhando os conceitos sobre socialização2 das

crianças nos diferentes ambientes, o seu papel autônomo de ator social, as suas

relações parentais, gerações e alteridade, bem como a influência midiática nos

processos de socialização das crianças.

Destaca-se nesse terceiro item, a leitura crítica feita por Maria Luiza Belloni

(2009), William Corsaro (2011), Anthony Giddens (2012), Hargreaves, Earl e Ryan

(2001), Suzanne Mollo-Bouvier (2005), Cléopâtre Montandon (2005), Jucirema

Quinteiro (2002), Manuel Jacinto Sarmento (2005), Maria da Graça Setton (2002),

Régine Sirota (2001), entre outros autores, que discutem nesse novo campo – a

Sociologia da Infância - e dão sustentação teórica para esse trabalho.

Esses autores são destacados pela importante contribuição para o campo e

por romperem com o entendimento durkheimiano sobre a socialização da criança

como um adulto em miniatura, sendo apenas um sujeito passivo, internalizando o

mundo dos adultos.

Eles entendem que as crianças nessa nova perspectiva de socialização são

“sujeitos ativos”, participam e criam suas próprias culturas e ao mesmo tempo

contribuem para a produção da cultura inclusive dos adultos.

2 Vide nota p. 28.

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1. A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA NA PERSPECTIVA DURKHEIMIANA

O sociólogo clássico Durkheim percebe a dificuldade de mudar a educação

sem mudar as estruturas sociais. Ele demonstra o conservadorismo das instituições,

devido à existência de costumes e princípios norteadores da educação dependentes

da religião, da ciência, etc., ou seja, o passado constitui um conjunto de causas

históricas, dirigindo a educação de uma determinada sociedade.

Por isso, Durkheim (1978, p. 36) afirma: “os sistemas educativos nada têm

de real em si mesmo” e a educação ideal é uma abstração por estar a serviço das

instituições exprimindo ou refletindo o ideal e as estruturas da sociedade.

Segundo Durkheim (1978, p. 57),

a educação é a ação exercida, junto às crianças, pelos pais e mestres. É permanentemente, de todos os instantes, geral. Não há período na vida social, não há mesmo, por assim dizer, momento no dia em que as novas gerações não estejam em contato com seus maiores e, em que, por conseguinte, não recebam deles influências educativas.

O professor Antonio Cândido em 1955 nos Anais do I Congresso de

Sociologia, contestou essa ação exercida, pois entendeu que “esta explicação

sociológica exprime a ilusão pedagógica, tão comum apesar das teorias em

contrário, segundo a qual a educação é algo que flui do educador para o educando,

envolvendo-o pela ação tutelar de princípios e valores sancionados pela experiência

da coletividade. ” (CÂNDIDO, 1987, p. 7).

Ao tratar a existência da educação e defini-la Durkheim (1978, p. 38) aponta

a questão da influência geracional. “Para que haja educação, faz mister que haja,

em face de uma geração de adultos, uma geração de indivíduos jovens, crianças e

adolescentes; e que uma ação seja exercida pela primeira, sobre a segunda. ”

Ainda segundo Durkheim (1978, p. 44) a sociedade “desperta o saber dos

homens e impõe a cultura científica como um dever” e essa imposição pode até

aparentar uma “insuportável tirania”, contudo, a submissão é de interesse do

homem, porque a ação coletiva originada da educação torna-o um ser humano

melhor. Assim, ao transformar a sociedade, se auto-transforma também.

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Percebe-se aqui então a relação da Sociologia da Educação com a

Sociologia da Infância, porque a educação ocorre desde os primeiros anos de vida e

a socialização das crianças é uma função coletiva da sociedade.

É a sociedade que nos lança fora de nós mesmos, que nos obriga a considerar outros interesses que não os nossos, que nos ensina a dominar as paixões, os instintos, e dar-lhes lei, ensinando-nos o sacrifício, a privação, a subordinação dos nossos fins individuais a outros mais elevados. (DURKHEIM, 1978, p. 45).

Sendo assim, a consciência coletiva da sociedade prevalece sobre o

indivíduo coercitivamente. Portanto, educar segundo Durkheim é “adaptar a criança

ao meio social para o qual se destina” e constitui-se um interesse social.

Durkheim dita em sua obra As Regras do Método Sociológico:

O devoto, ao nascer, encontra prontas as crenças e as práticas da vida religiosa; existindo antes dele, é porque existem fora dele. O sistema de sinais de que me sirvo para exprimir pensamentos, o sistema de moedas que emprego para pagar as dívidas, os instrumentos de crédito que utilizo nas minhas relações comerciais, as práticas seguidas na profissão etc. funcionam independentemente do uso que delas faço. (DURKHEIM, 1974, p. 2)

Consequentemente, segundo Costa (2007, p. 82) a educação na perspectiva

durkheimiana conforma os indivíduos, internalizando neles as regras da sociedade

em que vivem, transformando-as em hábito.

Para Durkheim se tirarmos do homem tudo aquilo que a sociedade lhe

empresta, ele seria reduzido a condição animal, e nesse contexto, cabe então ao

professor imprimir ideias e sentimentos ao espírito da criança, a fim de harmonizá-la

com o meio social e desenvolver nela a cidadania.

Por esta razão, “ a ação exercida pela sociedade, especialmente através da

educação, não tem por objeto, ou por efeito, comprimir o indivíduo, amesquinhá-lo,

desnaturá-lo, mas ao contrário engrandecê-lo e torná-lo criatura verdadeiramente

humana. ” (DURKHEIM, 1978, p. 46-47)

Esses apontamentos são pequenos fragmentos do pensamento

durkheimianos sobre a socialização da criança e demonstram a função social das

instituições, da família e da escola, lugares onde se dão as relações sociais da

criança e respondem um primeiro questionamento sobre a autonomia das crianças,

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ou seja, para Durkheim a criança não exerce sua autonomia, devido estar sob a

tutela da família e da escola.

Dessa forma, subentende-se que a criança não nasce pronta e segundo

Durkheim (1978, p. 53) precisa ser orientada e disciplinada para condutas coerentes.

Para tanto, cabe aos mestres e pais, serem prudentes e demonstrarem

autoridade, ao invés de autoritarismo, uma vez que nada passa sem deixar marcas

nas crianças.

Outra consideração importante para Durkheim (1978, p. 54) acerca da

educação fica por conta do dever personificado cuja “autoridade moral é a qualidade

essencial do educador”.

Em suma, para Durkheim (1978, p. 84) a educação é a transmissão através

de uma geração à outra hereditariamente.

Assim, conforme se observa, os estudos sociológicos sobre a criança eram

realizados pelo campo da Sociologia da Educação pautados da concepção

durkheimiana. Contudo, cabe ressaltar, o esforço de Durkheim em sistematizar esse

saber.

Para a professora Helena Singer3 (1997, p. 32) o contexto vivido por

Durkheim (1858-1917) foi de profundas transformações na sociedade francesa, e em

1882, a proposta para a educação, contempla a instrução laica nas escolas, a

obrigatoriedade e gratuidade para “todas as crianças dos seis aos treze anos” e com

isso, a escola é incumbida de moralizar a sociedade.

Dubet (1994 apud SILVA, 2011, p. 336) critica a perspectiva durkheimiana

de socialização ao afirmar “ Nas perspectivas sociológicas clássicas, a escola é uma

instituição socializadora, que define o ator social por sua potencialidade em

incorporar os valores e normas da sociedade de seu tempo. O ator incorpora os

princípios estáveis e homogêneos do sistema, logo o ator é o sistema. ”

Além disso, Silva (2011, p. 337) afirma

Pela leitura de Durkheim, a sociedade não existiria sem que houvesse em seus membros certa homogeneidade, sendo função da educação a perpetuação e o reforço dessa homogeneidade, o que implicaria a fixação na criança de algumas similitudes necessárias à vida coletiva. Ao mesmo tempo, sem um mínimo de diversificação

3 A socióloga é autora do livro República de crianças e se destaca pelo pioneirismo na pesquisa sobre

a Escola Democrática, sendo a escola da Ponte em Portugal uma referência mundial nesse modelo de gestão democrática. No Brasil dentre outras escolas a E.M. Desembargador Amorim Lima em São Paulo adota a gestão escolar semelhante desde 2004.

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toda cooperação ou forma de solidariedade seria impossível: é a diversificação que permite a especialização da sociedade. Essa, portanto, seria a definição central do processo de socialização no quadro do Funcionalismo: a presença das funções diferenciadora e homogeneizadora das relações sociais.

Neste sentido, é possível entender a contribuição de Durkheim para a

socialização das crianças na sociedade moderna, no entanto, na perspectiva

contemporânea é preciso mudar essa visão de passividade da criança.

Assim, as crianças são para Silva (2011),

protagonistas como os adultos e educadores no sentido de que não são seres passivos à espera de que outros sempre os eduquem como vislumbrava os estudos da sociologia clássica representada pelos trabalhos de Durkheim (sobre socialização) e de Weber (sobre as lógicas de ação). Inúmeras são as transformações por que tem passado a sociedade, em todas as esferas que a compõem. Dessa forma, o inventar das crianças, muitas vezes, direciona a novas formas de sociabilidade, novas formas de expressões culturais que proliferam a cada dia.

Conforme se observa a sistematização do pensamento de Durkheim sobre a

socialização influenciou muito o sistema educacional brasileiro, entretanto, na

sociedade contemporânea, as discussões continuam e surgem novos conceitos

sobre a socialização das crianças.

Giddens (2012, p. 84) aponta as fases de desenvolvimento da teorização

sociológica e entende que os pensadores clássicos – Marx, Durkheim e Weber –

atuaram em um momento de profundas mudanças sociais.

Ele aponta ainda a importância de “colocar as velhas perspectivas em

contato com as novas, para testar e comparar sua efetividade para nos ajudar a

entender e explicar as mudanças dramáticas que estamos vivenciando. ” (GIDDENS,

2012, p. 84).

Nesse sentido, devido as constantes transformações na sociedade, são

importantes novas análises, porém, isso não significa que as perspectivas clássicas

devam ser descartadas, pelo contrário, elas devem fornecer novas visões.

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2. A SOCIALIZAÇÃO DE UMA NOVA GERAÇÃO PARA UM MUNDO NOVO

À princípio, para uma melhor compreensão sobre a Sociologia da Infância é

preciso observar o avanço das teorias sociológicas no século XX. Para tanto,

Corsaro (2011) aponta dois modelos diferentes do processo de socialização na

sociedade moderna, sendo o primeiro determinista, cuja criança age passivamente e

é considerada uma “iniciante” com potencial para contribuir para a manutenção da

sociedade, contudo, é uma “ameaça indomada”, que deve ser cuidadosamente

controlada e treinada.

O autor compreende ainda, que no modelo determinista e suas duas

vertentes – a funcionalista e a reprodutivista – a importância das crianças, e da

infância na sociedade são ignoradas. Além disso, eles “ignoram a questão de que as

crianças não se limitam apenas a internalizar a sociedade em que nasceram. ”

(CORSARO, 2011, p. 22).

O segundo modelo apresentado por Corsaro é construtivista e considera a

criança um sujeito ativo que constrói seu mundo social e seu lugar nele.

Para ele, quando aplicadas à Sociologia da Infância,

as perspectivas interpretativas e construtivistas argumentam que as crianças, assim como os adultos, são participantes ativos na construção social da infância e na reprodução interpretativa de sua cultura compartilhada. Em contraste, as teorias tradicionais veem as crianças como “consumidores” da cultura estabelecida por adultos. (CORSARO, 2011, p. 19).

De acordo com Belloni, “as teorias deterministas como o funcionalismo, o

estruturalismo e o marxismo, criticadas pelos pensadores da Escola de Frankfurt,

pela fenomenologia e solapadas por movimentos “pós-modernos”, foram perdendo

seu valor heurístico, ao longo da segunda metade do século. (BELLONI, 2009, p. 5)

Ela destaca ainda,

A partir daí, assistimos à progressão de correntes ditas “construcionistas” ou “construtivistas”, que consideram que os atores constroem o mundo em que vivem, o que significa uma espécie de “volta ao ator”, seja no sentido weberiano (significação da ação), seja no sentido de Goffman ou de Touraine, ou mesmo no de Bourdieu com a noção de habitus. (BELLONI, 2009, p. 5)

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As discussões sociológicas avançaram significativamente e segundo Dias

(2012, p. 73) a institucionalização da infância iniciou-se na modernidade “com a

criação das escolas e expansão das redes de ensino. ”

Para ela a criança “ao adentrar os muros escolares, passava a desempenhar

um novo papel, o de aluno, assumindo nova postura e novas responsabilidades. ”

(DIAS, 2012, p.73)

A propósito, no Brasil o sociólogo Florestan Fernandes (1979) em 1944,

muitos anos antes da emergência e das discussões sobre a Sociologia da Infância,

já destacava em seus estudos a socialização infantil por intermédio da cultura

folclórica4 em “As “Trocinhas” do Bom Retiro”.

Para Mazza (2001) Florestan Fernandes

por meio das observações das práticas folclóricas das "trocinhas", chegou à análise da organização dos grupos infantis tendo por finalidade imediata a recreação. Ele observou a formação dos grupos infantis valendo-se da condição básica da vizinhança; a organização dos grupos segundo a convivência primária do face à face e também segundo as exigências próprias de cada atividade, às vezes por sexo, outras vezes por idade, agilidade, tamanho, força física, quanto aos deveres e direitos dos participantes do grupo, a punição feita pelo líder, etc.

Completa ainda Mazza (2001) que “Florestan incorporou o conceito de “ser

social” de Durkheim para contrapô-lo ao “ser individual” sugerindo que os grupos

infantis socializavam a criança, agindo no mesmo sentido que a paróquia, a escola,

a família na formação do ser social e no desenvolvimento da personalidade de

imaturos”.

Em seus escritos Florestan mostra a relação espontânea das crianças com

seus pares, e por meio das simples brincadeiras troca experiências entre si sobre a

cultura infantil e até internaliza a cultura dos adultos, através do lúdico

automaticamente, sem mesmo perceber isso.

No entanto, além da socialização das crianças através de seus pares, há

também a interferência da indústria cultural na sociedade moderna. A mídia de

massa é uma das principais armas capitalistas, para manipulação e controle social

4 Roger Bastilde prefacia e elogia a obra de Florestan Fernandes (1979, p. 229) apontando: “o

folclore, durante tanto tempo abandonado aos amadores, seus únicos estudiosos, tornou-se hoje uma ciência, que tem suas regras, seus métodos, e que exige de quem estuda qualidades especiais.”

Page 23: A Sociologia da Infância: A socialização da criança em diferentes perspectivas teóricas.

21

desde seu surgimento, pois tem o poder de influenciar as crianças e adultos de

maneira sutil para serem consumidores de suas mercadorias.

As programações dos meios de comunicação de massa, ou seja, jornais,

revistas, televisão, cinema e rádio são massificadas, preparadas para legitimar a

cultura de uma geração e influenciá-la a consumir inconscientemente mercadorias.

Entretanto, a socialização das crianças para Jesus Martin-Barbero, é

realizada de maneira desigual entre as classes sociais, pois, “Enquanto uma classe

normalmente só pede informação à televisão, porque vai buscar em outra parte o

entretenimento e a cultura - no esporte, no teatro, no livro e no concerto -, outras

classes pedem tudo isso só à televisão. ” (MARTIN-BARBERO, 1997, p. 301).

Passadas duas décadas, contextualizando essa informação, além da

televisão, vale considerar a popularização da Internet e o acesso às redes sociais.

Nesse sentido, as mediações desses conteúdos são essenciais para a

socialização das crianças, seja qual for o lócus e a classe social em que ela esteja,

não apenas nos ambientes formais, mas também nos ambientes não-formais de

educação.

O sociólogo francês Pierre Bourdieu na década de 1970 resgata os ensinos

durkheimianos sobre a “conservação de uma cultura herdada do passado” e aponta

a família e a escola sendo as instituições responsáveis por transmitir o patrimônio

cultural as crianças. Para ele, “a transmissão entre gerações da informação

acumulada, permite às teorias clássicas dissociar a função de reprodução cultural

que cabe a qualquer sistema de ensino, de sua função de reprodução social. ”

(BOURDIEU, 2007, p. 296-297).

Na mesma perspectiva durkheimiana sobre a educação, no que se refere a

transcendência do mundo para as novas gerações, Arendt enfatiza

Só a existência de uma esfera pública e a subsequente transformação do mundo em uma comunidade de coisas que reúne os homens e estabelece uma relação entre eles depende inteiramente da permanência. Se o mundo deve conter um espaço público, não pode ser construído apenas para uma geração e planejado somente para os que estão vivos: deve transcender a duração da vida de homens mortais. (ARENDT, 1997, p. 64)

Tendo vivido no contexto pós-guerra na sociedade americana de massas,

Arendt escreveu sobre a crise na educação em meados de 1960 apontando dois

polos opostos, a centralização e a descentralização do poder.

Page 24: A Sociologia da Infância: A socialização da criança em diferentes perspectivas teóricas.

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Em seu entender, o poder ditatorial ocorre quando se centraliza o poder na

figura do professor, e oposto a isso, quando se permite a autonomia das crianças

junto aos seus pares, se observa a tirania.

Conforme pontua Arendt, a situação da criança participando em grupo, sem

a mediação de um adulto, pode ser bem pior do que antes, porque a autoridade

“mesmo que este seja um grupo de crianças, é sempre consideravelmente mais forte

e tirânica do que a mais severa autoridade de um indivíduo isolado.” (ARENDT,

1992, p. 230).

Ademais, a autora considera que ao se emancipar da autoridade dos

adultos, a criança “não foi libertada, e sim sujeita a uma autoridade muito mais

terrível e verdadeiramente tirânica, que é a tirania da maioria.” (ARENDT, 1992, p.

230).

Arendt (1992, p. 230) percebe a existência de um mundo autônomo da

criança “um ser em desenvolvimento” e a infância “uma etapa temporária” e

necessária para a preparação do mundo adulto, e por isso, os educadores devem

ensiná-las, mediando os conflitos, conduzindo-as a refletirem suas ações. Sem

dúvida, nesse processo de socialização, é importante a participação de cada ator.

Por essa via, Arendt aponta a função da escola em ensinar a autoridade na

sala de aula e ao mesmo tempo, estimular a autonomia das crianças em serem

agentes de transformação do mundo.

A função da escola é ensinar às crianças como o mundo é, e não instruí-las na arte de viver. Dado que o mundo é velho, sempre mais que elas mesmas, a aprendizagem volta-se inevitavelmente para o passado, não importa o quanto a vida seja transcorrida no presente. (ARENDT, 1992, p. 246).

Quanto ao problema da educação no mundo moderno, Arendt demonstra

que é preciso equilíbrio para não abrir mão nem da autoridade, nem da tradição e

concluindo seu raciocínio afirma:

A educação é, também, onde decidimos se amamos nossas crianças o bastante para não expulsá-las de nosso mundo e abandoná-las a seus próprios recursos, e tampouco arrancar de suas mãos a oportunidade de empreender alguma coisa nova e imprevista para nós, preparando-as em vez disso com antecedência para a tarefa de renovar um mundo comum. (ARENDT, 1992, p. 247).

Page 25: A Sociologia da Infância: A socialização da criança em diferentes perspectivas teóricas.

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Assim a tarefa da educação para Arendt é conservar e renovar esse mundo

velho, junto aos mais novos, possibilitando-lhes um novo começo, um mundo novo.

Momm (2011, p. 140) debruçando na obra de Arendt, aponta a missão

intercessora dos professores na relação da criança nova em um mundo velho de

processos e suas significações, contribuindo também para a passagem dela, da

esfera privada infantil para a esfera pública do mundo adulto.

A educação para Arendt é conservadora, tendo em vista a natureza da

condição humana, mas “em benefício daquilo que é novo e revolucionário” pois,

“cada geração se transforma em um mundo antigo, de tal modo que preparar uma

nova geração para um mundo novo só pode significar o desejo de arrancar das

mãos dos recém-chegados sua própria oportunidade face ao novo.” (ARENDT,

1992, p. 226).

Partindo para a perspectiva foucaultiana, a socialização da criança acontece

sob uma coerção disciplinar do corpo pois,

O corpo humano o esquadrinha, o desarticula e o recompõe. Uma “anatomia política”, que é também igualmente uma “mecânica do poder”, está nascendo; ela define como se pode ter domínio sobre o corpo dos outros, não simplesmente para que façam o que se quer, mas para que operem como se quer, com técnicas, segundo a rapidez e a eficácia que se determina. A disciplina fabrica assim corpos submissos e exercitados, corpos “dóceis”. A disciplina aumenta as forças do corpo (em termos econômicos de utilidade) e diminui essas mesmas forças (em termos políticos de obediência). Em uma palavra: ela dissocia o poder do corpo; faz dele por um lado uma “aptidão”, uma “capacidade” que ela procura aumentar; e inverte por outro lado a energia, a potência que poderia resultar disso, e faz dela uma relação de sujeição estrita. Se exploração econômica separa a força e o produto do trabalho, digamos que a coerção disciplinar estabelece no corpo o elo coercitivo entre uma aptidão aumentada e uma dominação acentuada. (FOUCAULT, 1987, p. 119).

Nessa perspectiva foucaultiana, as escolas se apresentam na mesma

disposição física dos hospitais, manicômios e prisões, e em oposição a esse modelo

de escola que vigia e pune, Singer (1997) defende o modelo de Escola Democrática5

na sociedade contemporânea.

5 De acordo com Helena Singer são três os princípios da Escola Democrática: 1) A autogestão:

participação e responsabilidade de todos envolvidos 2) Prazer pelo conhecimento, sendo desnecessárias punições ou disciplina. 3) Não há hierarquia no conhecimento, pois todos participantes crescem juntos no saber, são valorizados e respeitados. (apud CENTRO DE REFERÊNCIAS EM EDUCAÇÃO INTEGRAL, 2016).

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Para ela,

Do mesmo modo que nas prisões e nos manicômios, nas escolas opera-se a individualização, o isolamento e a divisão das crianças, fazendo-se do professor o ponto central de todo o processo. O professor é o vigia que impede que ocorram faltas; nas salas de aula, as crianças não interagem uma com as outras, elas têm a atenção voltada para esse vigia, que pode a qualquer momento fazer valer a sua autoridade. A metáfora do panóptico aplica-se perfeitamente aqui. (SINGER, 1997, p.43).

A propósito, outra contribuição para a os estudos da Sociologia da Infância,

é apontada por Stuart Hall (1932-2014), sociólogo jamaicano ao descrever o

descentramento do sujeito sociológico na “modernidade tardia” e o surgimento do

movimento social na década de 1960.

Segundo Hall (2015, p. 28) o movimento feminista abriu espaços para a

militância política contra hegemônica, ou seja, “arenas inteiramente novas de vida

social – a família, a sexualidade, o trabalho doméstico, a divisão doméstica do

trabalho, o cuidado com as crianças, etc.”

Assim como se pode observar, é a partir dos anos 1960 em que as

pesquisas destacam as crianças e mudam os paradigmas até então aceitos e

internalizados pela sociedade moderna capitalista.

Conforme Singly (2007, p.130), a modernidade na Europa muda de direção

e entra em um segundo período, chamado por Giddens de ‘modernidade avançada’,

ou por Beck de ‘segunda modernidade’. ”

Singly (2007, p. 45) lembra a pesquisa sobre a criança realizada pelo

historiador social Ariès, na qual aponta a existência de dois tipos de família: o “tipo

fecundo” que negligencia a pessoa da criança, pois, só importa o patrimônio e sua

mão-de-obra e o “tipo malthusiano” em que “a fortuna da família repousa

essencialmente na criança e no seu futuro”.

Com essas considerações até aqui realizadas, foram abordadas apenas

algumas visões de como ocorreu o processo de socialização das crianças no século

XX, até a emergência da Sociologia da Infância.

Page 27: A Sociologia da Infância: A socialização da criança em diferentes perspectivas teóricas.

25

3. A SOCIALIZAÇÃO DA CRIANÇA NA PERSPECTIVA CONTEMPORÂNEA

Após a análise das correntes deterministas e construtivistas da sociedade

moderna, já descrita no item anterior, considerando a perspectiva contemporânea,

Corsaro propõe um novo modelo de socialização, chamado por ele de “reprodução

interpretativa”, pois,

encara a integração das crianças em suas culturas como reprodutiva, em vez de linear. De acordo com essa visão reprodutiva, as crianças não se limitam a imitar ou internalizar o mundo em torno delas. Elas se esforçam para interpretar ou dar sentido a sua cultura e a participação dela. Na tentativa de atribuir sentido ao mundo adulto, as crianças passam a reproduzir coletivamente seus próprios mundos e culturas pares. (CORSARO, 2011, p. 36).

O sociólogo em 1993 utiliza a metáfora da “teia de aranha”, e pondera: “a

teia global, produzida por aranhas comuns de jardins, é a mais útil para minhas

necessidades conceituais. Uma série de recursos da teia global a torna uma

metáfora útil para conceitualizar o processo de reprodução interpretativa. ”

(CORSARO, 2011, p. 37)

Figura 1 - O modelo de teia global.

Fonte: Corsaro (2011, p. 38).

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Nesse modelo de teia de aranha segundo o autor, “a criança está sempre

participando de e integrando duas culturas – a das crianças e a dos adultos – e

essas culturas são complexamente interligadas. ” (CORSARO, 2011, p. 40).

Sem dúvida, dentre os conceitos apresentados pelos autores

contemporâneos, os escritos de Corsaro são referências para o entendimento e

estruturação dos conceitos sobre a Sociologia da Infância.

Vale lembrar, de acordo com Dias (2012, p. 66) que “a ênfase da análise

sociológica esteve presente nos métodos e instituições socializadoras, cujo objetivo

principal era a idade adulta. ”

No entanto, com a emergência desse novo campo de saber nos anos 1980,

acontece uma ruptura com os conceitos de socialização empregados por Durkheim,

e o pesquisador Sarmento indica uma revisão crítica das obras de Jenks (1996),

Corsaro (1997), Montandon (1998), Sirota (1998), para a desconstrução das bases

teóricas do pensamento durkheimiano sobre a socialização das crianças como

indivíduos pré-sociais cujos valores, normas e saberes são nelas inculcados.

Como assinala Sarmento, esse conceito de socialização em Durkheim,

Nas suas múltiplas reinterpretações futuras, incorpora sedimentalmente a história de uma produção teórica sociológica que se ocupou sempre das crianças como objectos [sic] manipuláveis, vítimas passivas ou joguetes culturalmente neutros, subordinados a modos de dominação ou de controlo [sic] social, que assumiam a garantia da sua continuidade precisamente por esse trabalho de condução para os lugares, os comportamentos, as atitudes ou as práticas sociais pertinentes. (SARMENTO, 2005, p. 374).

Destarte, Sarmento encerra suas interrogações e afirmações reinterpretando

o conceito de gerações e alteridades das crianças, apontando: “ao falarmos de

crianças, não estamos verdadeiramente apenas a considerar as gerações mais

novas, mas a considerar a sociedade na sua multiplicidade, aí onde as crianças

nascem, na sua diversidade e na sua alteridade diante dos adultos. ”

No que diz respeito a emergência da Sociologia da Infância, Régine Sirota

(2001) registra a ruptura dos conceitos de socialização até então vigentes

descrevendo novas perspectivas e elaborando um estado da arte dos estudos

sociologicos franceses e ingleses, relatando os trabalhos realizados, tais como,

seminários, congressos, colóquios, e publicações de artigos em revistas

especializadas.

Page 29: A Sociologia da Infância: A socialização da criança em diferentes perspectivas teóricas.

27

Segundo ela, “a redescoberta da sociologia interacionista, a dependência da

fenomenologia, as abordagens construcionistas vão fornecer os paradigmas teóricos

dessa nova construção do objeto. Essa releitura crítica do conceito de socialização e

de suas definições funcionalistas leva a reconsiderar a criança como ator. ”

(SIROTA, 2001, p. 9-10).

Mais adiante aponta

O afastamento em relação à posição durkheimiana é claro. Trata-se de romper a cegueira das ciências sociais para acabar com o paradoxo da ausência das crianças na análise científica da dinâmica social com relação a seu ressurgimento nas práticas consumidoras e no imaginário social. (SIROTA, 2001, p. 11)

De acordo com Giddens (2012, p. 212) há diferentes agências de

socialização6 para as crianças e esse processo divide-se em duas etapas. Na

primeira delas, denominada socialização primária, a família é fundamental para o

desenvolvimento da criança e na segunda fase, diferentes agentes de socialização

“assumem parte da responsabilidade da família”.

Através das interações das crianças com a família, escola, grupos de

amigos, organizações e meios de comunicação de massa, que se dá a socialização,

pois são transmitidos laços culturais, valores definidos pela sociedade, capital

cultural, regras básicas de sobrevivência, alimentação, saúde, higiene, etc.

Porém, nessa socialização, nem sempre as instituições reproduzem os

valores transmitidos pelas famílias.

As crianças segundo Belloni (2009, p. 70) além de objetos da ação dessas

agências especializadas, são atores e principais sujeitos ativos no processo de

socialização.

Setton (2002) observa a presença da cultura de massas socializando muitas

gerações, influenciando-as “para o bem ou para o mal”, transmitindo os valores e

padrões de conduta e conforme disse Paracelso, a educação é para a vida toda

desde a infância até a velhice.

6 Conforme Berger e Luckmann (2004, p. 138) a socialização é um processo ontogênico que introduz

o indivíduo a sociedade e é classificada em socialização primária e secundária. De acordo com Araujo (2011, p. 85) “A socialização primária ocorre na infância sob influência da família. Já a socialização secundária é aquela que introduz o indivíduo em novos setores da sociedade, como as instituições sociais. ”

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Entretanto, apesar de Belloni (2009, p. 69) compreender a socialização

sucessiva, ao longo da vida, ressalta a importância desse processo, especialmente

na infância e adolescência.

Quanto as regras em que as crianças estão expostas, segundo La Taille

(1994 apud REGO,1996, p. 86):

[...] crianças precisam sim aderir as regras (que implicam valores e formas de conduta) e estas somente podem vir de seus educadores, pais ou professores. Os ‘limites’ implicados por estas regras não devem ser interpretados no seu sentido negativo: o que não pode ser feito ou ultrapassado. Devem também ser entendidos no seu sentido positivo: o limite situa, dá consciência de posição ocupada dentro de algum espaço social – a família, a escola, e a sociedade como um todo

O pesquisador François Dubet em uma entrevista concedida as professoras

Angelina Teixeira Peralva e Marília Pontes Sposito, da Universidade de São Paulo

(USP) em 1997, ao ser questionado se a escola deveria ser socializadora afirmou:

Sim, mas ela o é de fato. Ela o é, inclusive quando não funciona. Mas não acredito que ela deva ser socializadora da maneira como muitos entendem na França hoje em dia: conservadora, volta da moral, volta da disciplina, volta dos princípios [...]. Eu acho que ela deve ser socializadora de um modo muito mais democrático, muito mais aberto. O debate não é entre permissividade e autoridade, eu acho que isto é um falso debate. É preciso ter ao mesmo tempo autoridade e liberdade. (DUBET; PERALVA; SPOSITO, 1997, p. 229).

Apesar de exemplificar a escola francesa, Dubet observou os modelos da

escola democrática, e esse modelo escolar de “autoridade e ao mesmo tempo

liberdade” pode muito bem ser aplicado no Projeto Político Pedagógico (PPP) das

escolas brasileiras, considerando as diferentes realidades locais e os seus diferentes

contextos.

Em estudo recente o professor Lenardão (2015, p. 9) registra a concepção e

expectativas dos cidadãos sobre a função da escola. Eles entendem que a escola

serve para:

a) socializar (moralizar) as crianças e os jovens; b) preparar para o trabalho (socializar para o trabalho); c) servir de instrumento de equalização das condições de aproveitamento das oportunidades sociais e de ascensão social; d) colaborar na gestão e reprodução da força de trabalho para o “capital”; e) consagrar a ordem social por meio da colaboração na reprodução da estrutura de distribuição do “capital cultural”; f) socializar o “conhecimento sistematizado”

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Conforme destacado nessa lista de funções sociais da escola, Lenardão

(2015, p. 10) conclui que há avaliações de caráter positivo e também as de caráter

negativo e relata como primeiro pressuposto da função social da escola a

moralização das crianças e jovens, devido o comportamento do ser humano, como

“um ser egoísta, impulsivo, movido, por desejos, vontades e paixões imediatas e

apetites insaciáveis, sendo, por isso, portador de tendência ao comportamento

agressivo, tendo como a principal motivação de sua existência a “busca do prazer”

imediato.”

Em consequência do “modo de vida selvagem” do homem, ele aponta a

existência de mecanismo de controle do comportamento, ou seja, “regras, normas,

leis e agentes da lei e da ordem”, para exercerem de fora do indivíduo o controle e

moderação dos instintos e paixões, dos impulsos primitivos, dos apetites selvagens

e do egoísmo, considerados os principais impedimentos para a vida em grupo na

sociedade.

Nesse sentido, a função social da escola perpassa a ideia de formar

moralmente o cidadão e prepará-lo para o mundo do trabalho, pois é necessário

fortalecer nesse cidadão os valores de solidariedade, sentimento de pertença ao

coletivo da sociedade e, portanto, deve “sujeitar seus apetites egoístas, do seu

modo de vida selvagem” obedecendo às regras impostas, se tornando um ser social,

compromissado em transformar a sociedade.

Assim, cabe ao Estado e suas entidades, recuperar a unidade orgânica, ou

seja, segundo Durkheim (1983, p. 47) “dirigir a conduta coletiva”.

Entretanto, o professor observa a perspectiva durkheimiana acerca da

educação escolar e entende que é preciso promover os três elementos básicos da

moralidade moderna: o espírito de disciplina, o espírito de abnegação e a autonomia

da vontade para cumprir parte da meta de socialização dos indivíduos.

Entende também que a escola não reduz a importância da família, religião,

meios de comunicação, atividades profissionais e outras atividades de socialização

de crianças e jovens.

Para descrever a socialização na escola em consonância com os

educadores, Lea Paixão e Zago (2007, p. 226) argumenta: “a aprendizagem escolar

virou brinde”. Pode soar um tanto estranho, entretanto, essa frase sintetiza bem o

desabafo de um grupo de professoras participantes de uma pesquisa sobre

socialização de crianças na periferia de Niterói no Rio de Janeiro.

Page 32: A Sociologia da Infância: A socialização da criança em diferentes perspectivas teóricas.

30

Isso porque as professoras realizam tarefas que não constituem o “oficio”

delas, porque as crianças chegam à escola com “carência de socialização”, e não

tem limites, não sabem como se comportar, só sabem correr e saltar.

Em contrapartida, do ponto de vista das famílias, a socialização das crianças

está a cargo da escola, uma vez que para trabalhar os pais ficam distantes de seus

filhos.

Portanto, quando as crianças não estão na escola, devido a violências nas

ruas, se trancam em suas casas, na ilusão de segurança, porém, ficam expostas à

mídia, considerada uma das principais responsáveis pela socialização das crianças

na sociedade contemporânea.

Segundo Kellner, (2001, p. 27)

A cultura veiculada pela mídia transformou-se numa força dominante de socialização: suas imagens e celebridades substituem a família, a escola e a Igreja como árbitros de gosto; valor do pensamento, produzindo novos modelos de identificação e imagens vibrantes de estilo, moda e comportamento

Porém, Belloni (2012, p. 35) considera a dificuldade de avaliar a televisão

enquanto uma instituição de socialização, devido à complexidade deste processo, no

qual a interiorização das normas e valores transmitidos depende também da

aceitação ativa das crianças e adolescentes, que lhes atribuem – ou não –

legitimidade.

Além disso, Giddens (2012, p. 213) destaca: “As relações entre os pares

provavelmente têm um impacto significativo para além da infância e da

adolescência. Geralmente, grupos informais de pessoas de idades semelhantes, no

trabalho e em outras situações, têm uma importância duradoura em moldar as

atitudes e o comportamento dos indivíduos. ”

Na realidade, conforme se observa, já foi o tempo em que os estudos sobre

as crianças eram realizados por pedagogos, educadores e psicólogos. Não

desprezando estes, pois as discussões se inter-relacionam, porém, nos últimos

anos, a Sociologia da Infância se apresenta como um desafio para os

pesquisadores.

A francesa Cléopâtre Montandon (2005) observa na relação parental os

diferentes fenômenos sociais, as estruturas sociais, bem como os contextos sociais

em que as crianças estão inseridas.

Page 33: A Sociologia da Infância: A socialização da criança em diferentes perspectivas teóricas.

31

Ela estuda a relação de seus educadores e também as ações práticas

resultantes de seu aprendizado, no propósito de entender como as crianças

europeias de acordo com as suas características sociais e culturais expressam suas

emoções, ações e representações, a partir de conhecimento obtido.

Assim, Montandon pesquisa as práticas educativas, tendo em vista o papel

dos pais, dentro das estruturas familiares, do pertencimento social ou cultural, das

diferentes perspectivas, motivações meritocráticas entre as crianças da classe

média, a falta de projeto familiar e a punição para as crianças das classes populares.

O que se percebe na sociedade neoliberal é o “adestramento” das crianças,

que desde cedo, são condicionadas, moldadas e estigmatizadas na própria escola

que deveria formar o cidadão e reproduz a mentalidade do mundo do trabalho

capitalista, cujos mais “destacados” servirão para “conservar” o que está posto, e

dominar comandando os “menos dotados”.

A propósito, em seu estudo, Montandon faz uma análise quantitativa e

demonstra três modelos suíços de práticas educativas. São eles, o modelo

estruturante, autoritário (hegemônico) com 51%, o persuasivo com 44% seguido do

modelo estatutário estrito com 5% da preferência.

Ela entende que não se deve reduzir o pensamento das crianças ao

descrever o ponto de vista dos pais e educadores e a complexidade das relações

com os pares e outros agentes externos de socialização.

Ainda que Montandon aborde o apoio e o afeto dos pais, explícita o desejo

das crianças exercerem a autonomia em suas decisões, escapando do controle

deles. A autora critica a educação autoritária pautada na desigualdade e submissão

antagônicas aos valores cidadãos, porque as sociedades contemporâneas tornaram-

se mais democráticas e é preciso mudar os modos de educação dos indivíduos, e

nesse contexto, há muito ainda a ser explorado.

Compartilhando a mesma opinião de Fernandes (1990), Singer (1997)

aponta ser o discurso de Durkheim

um sintoma de um dispositivo pedagógico fundamentalmente disciplinar, não comprometido com o ideal da autonomia dos cidadãos livres, responsáveis e criadores. Ao contrário, é um substituto do disposto de moralização cristã, com efeitos similares: identificação com a norma; submissão. (SINGER, 1997, p. 24).

Acrescenta ainda

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32

[...] apesar de o discurso dominante ter sido sempre para a formação de indivíduos autônomos, a modernidade, nas suas diversas configurações sociais, tem-se de fato caracterizado-se pela formação de massas heterônomas, que não a questionem essencialmente e não construam possibilidades reais de transformação. Mas pode também significar que a proposta da escola democrática é inviável para o social mais amplo, estando condenada desde a sua formulação à margem. (SINGER, 1997, p.24-25).

Outra pesquisa significativa foi realizada em 1994 e publicada pela francesa

Suzanne Mollo-Bouvier (2005) e sua preocupação, reside no fato da criança ser

sujeito social da própria história para transformação e quando isso é negado de

algum modo, deixa de ser um sujeito histórico crítico e passa a reproduzir os valores

apreendidos.

Mollo-Bouvier aponta quatro fatores para a construção da Sociologia da

Infância. Em primeiro lugar a segmentação social das idades e a incerteza quanto ao

período da infância. Em segundo lugar, a tendência a favorecer a socialização em

estruturas coletivas fora da família. Em terceiro, trata a transformação e as

contradições das concepções da infância e por último trabalha o interesse

generalizado por uma educação precoce.

Além do mais, estuda o cotidiano da criança e suas interações com o

coletivo pensando na segmentação social das idades e entende existir uma lacuna

sociológica na faixa etária de 10-12 anos, justamente o período de transição da

infância para a adolescência. Sobre as características dos modos de socialização

delas, aponta os diferentes sentidos, lugares, idades e tarefas.

Apresenta ainda, um percurso institucional da socialização nos diferentes

tempos sociais das crianças, de ordem psicológica e pedagógica, que contribuem

para a socialização delas, enfatizando que a educação autoritária não é a mais

positiva e questiona como ensinar as crianças valores cidadãos e democráticos, se a

escola e a família ensinam desigualdade e submissão.

Segundo a pesquisadora, “A criança é também um desafio para os sistemas

de valores que fragmentam a sociedade. Por meio dela, movimentos políticos,

ideológicos e religiosos tentam exercer sua influência e preparar o futuro. ” (MOLLO-

BOUVIER, 2005, p. 398).

Para ela há muito para fazer e devido as mudanças sociais e políticas, os

modos de educação na sociedade contemporânea precisam ser atualizados.

Page 35: A Sociologia da Infância: A socialização da criança em diferentes perspectivas teóricas.

33

Outro pesquisador que apresenta um tratado sociológico da infância é o

professor português Manuel Jacinto Sarmento. Ele entende a infância como objeto

de estudo da sociologia que perpassa as perspectivas reducionistas da biologia e da

psicologia, por investigar o conjunto da sociedade. E nessa perspectiva, a questão

da geração e da alteridade diante dos adultos, desvelam as condições de

existências e de atuações plenas das crianças como atores e sujeitos sociais.

Segundo Sarmento (2005, p. 363),

A infância é concebida como uma categoria social do tipo geracional por meio da qual se revelam possibilidades e os constrangimentos da estrutura social. O desafio a que nos propomos é interrogar o modo como constructos teóricos como “geração” e “alteridade” se constituem como portas de entrada para o desvelamento dos jardins ocultos em que as crianças foram encerradas pelas teorias tradicionais sobre a infância e de como esse conhecimento se pode instituir em novos modos de construção de uma reflexividade sobre a condição de existência e os trajectos [sic] de vida na actual [sic] situação da modernidade.

Ele resgata o pensamento dos sociólogos Karl Mannheim e Qvortrup, e da

psicóloga Alanen, a fim de reconstruir o conceito de geração, pois, entende ser “a

infância historicamente construída” através das práticas sociais na relação com os

adultos.

Para Sarmento a Sociologia da Infância é uma construção histórica

inconclusa, sendo sempre atualizada com as práticas sociais através das interações

das crianças com seus pares e com os adultos.

O autor exemplifica a importância dos estudos desse novo campo de saber,

ao relatar as dificuldades das crianças portuguesas em relação as alterações das

políticas públicas da educação, da iniciação ao mundo do trabalho, da relação entre

os pais e responsáveis legais, das aspirações de empregos delas, da relação com

as novas ferramentas tecnológicas, da geração de novas linguagens e do consumo

de produtos, em especial da indústria cultural.

Esse estudo apesar de focalizar as crianças portuguesas, contribui muito

como base, para entendimento da Sociologia da Infância em diferentes contextos

culturais.

O professor registra aquilo que há de ser explorado, seguindo a lógica “de

que as crianças estabelecem uma deslocação sobre os princípios lógicos

estruturantes das gramáticas culturais adultas (sobretudo às culturas ocidentais de

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matriz europeia; as culturas não-ocidentais não se estruturam necessariamente

sobre os mesmos princípios lógicos) e, especialmente, sobre princípios da

identidade e da sequencialidade. ” (SARMENTO, 2005, p. 375).

Contudo, é imprescindível reforçar novamente, que embora as crianças

como sujeitos de sua história, como atores sociais, mesmo na diversidade, estão

sobre a tutela dos adultos. Por isso, a insistência em questionar até que ponto elas

podem exercer suas atividades de maneira autônoma? E como os educadores

observam o desenvolvimento das práxis delas nas sociedades, se até certa idade

são tuteladas pelos pais ou familiares próximos?

Segundo Jucirema Quinteiro (2002) “a participação das crianças no

processo educativo não se limita aos aspectos exclusivamente psicológicos, mas

sociais, econômicos, políticos e históricos” e entendendo isso, cita a concepção de

Sarmento (1997) sobre as crianças serem “actores [sic] sociais de pleno direito”.

A autora acrescenta ainda, a negligência da auscultação da voz das

crianças” e a subestimação da “capacidade de atribuição de sentido às ações e aos

seus contextos. ”

Entretanto, cabe considerar também as mudanças devido o desenvolvimento

das crianças e da maturidade delas na sociedade contemporânea.

Há também evidências consideráveis de que as crianças estão entrando na puberdade mais cedo do que as gerações anteriores. Nos Estados Unidos, por exemplo, a idade média para início da menstruação há 150 anos era 16 anos de idade. Atualmente, é 12,5. Deve-se ressaltar, porém, que, embora as meninas e os meninos tornem-se biologicamente maduros mais cedo, muitos deles levam mais tempo para atingir a maturidade intelectual e emocional. (TFEYA, 1989 apud HARGREAVES; EARL; RYAN, 2001, p. 22).

Em geral, essa alteração biológica acontece justamente na mesma época da

transição do ensino fundamental I para o ensino fundamental II, momento em que a

criança está vivenciando inúmeras mudanças comportamentais, físicas, biológicas,

sociológicas.

Um exemplo disso, pode ficar por conta do choque cultural em que

geralmente as crianças tem com seus pares, ao participarem de um novo ambiente

de ensino, com novas turmas, diversos professores para as matérias curriculares,

etc. e se relacionar com uma nova faixa etária daquela que participava no ensino

básico.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conforme se observa, há diferentes instituições de socialização das

crianças, e diferentes contextos históricos e sociológicos e o presente artigo analisa

as concepções de socialização das crianças desde a perspectiva funcionalista, bem

como a evolução das teorias clássica para a moderna, até a emergência da

Sociologia da Infância no mundo contemporâneo.

Na perspectiva das teorias clássicas precursoras, a criança foi considerada

um objeto na história, condicionada a aprender através da influência geracional, sem

muita força de expressão, conforme os estudos de Durkheim, de modo que nessa

visão de mundo, os adultos ensinam as crianças exercendo uma ação coercitiva

sobre elas, no propósito de torná-la mais humana. Nesse caso importa mais o

coletivo do que o individual.

Certamente os ensinos de Durkheim contribuíram em sua época e contexto

social para a socialização das crianças no modo de produção capitalista, em vias de

uma sociedade industrial em constantes transformações.

Como foi visto nesse artigo, até a década de 1960, os trabalhos sobre as

crianças em sua maioria eram ligados à área da saúde, elaborados por médicos,

psicólogos e psiquiatras, e contribuíram para a formação da base teórica da

sociologia da educação.

Hannah Arendt criticou a pedagogia estadunidense como uma pedagogia

pragmática e propôs que os adultos permitissem a autonomia das novas crianças

em descobrir o velho mundo.

Conforme observado, os estudos de Ariès foram um divisor de águas no

entendimento da socialização das crianças, pois, as ideias durkheimianas foram

contestadas e as crianças passaram a serem considerados atores sociais.

Os sociólogos entenderam que essa concepção de passividade da criança,

não condiz com a realidade da sociedade contemporânea, pois, elas não devem ser

vistas como apenas um objeto de estudo e sim como atores sociais, de modo que

apesar de sua autonomia em aprender, não deve deixar de ser mediada pelos

pares, principalmente pelos pais e educadores.

No entanto, Dubet contesta a ideia da criança ser considerada um ator

social, quando o sistema incorpora nela seus princípios. Ele entende que para a

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criança ser considerada um ator social, deve participar de modo ativo e não passivo

na sociedade.

Um exemplo da passividade ou da criticidade da criança na sociedade

moderna, pode ser observado em relação ao seu comportamento diante dos meios

de comunicação de massa, que investe cada vez mais em publicidades

apresentando seus produtos para esses novos atores sociais.

Por sua vez, o público infantil, se expondo a mídia de consumo, pode tornar-

se vítimas e ao mesmo tempo, influenciar seus pais a comprarem tais produtos.

Como resultado, ouvem-se as famosas frases ditas pelas crianças frequentemente

nas lojas e supermercados, “eu quero”, “me dá” e “compra para mim”.

A propósito, sobre a Sociologia da Infância, na década de 1980 surgiram as

primeiras discussões entre os sociólogos franceses e ingleses, trabalhando os

pressupostos desse campo como um fenômeno social.

Ademais, com o advento da Internet, as relações sociais passam a ocorrer

por meio das redes sociais, ou seja, outra instância de socialização das crianças.

Em consequência disso, se observa que a interação entre elas ocorre em

um fluxo demasiadamente rápido e isso deve ser um alerta aos pais e educadores,

pois, elas aprendem sobre todos os assuntos, e em virtude disso, esse

conhecimento deve ser mediado para desenvolver nelas a cidadania e com isso a

participação, e não o fortalecimento de uma passividade em relação ao senso

comum.

O grande perigo enfrentado pelas crianças diante de tantas informações

recebidas, é de serem deformadas ao invés de serem informadas, ou seja, percam

os princípios básicos da educação, que constitui em educar para a cidadania e

trabalho, e não para um mundo individualista, que jaz no consumo, onde se trabalha

para consumir e acumular coisas supérfluas.

Nesse sentido, a participação dos pais e dos educadores mediando os

conflitos, as tensões sofridas pelas crianças são essenciais, pois, é preciso

desnaturalizar o que é dito como natural ou normal e não são, e com isso desvelar

as tramas do capital atrófico, ao invés de deixar que as crianças sejam adestradas

pela mídia de massa.

A socialização das crianças é um tema que não se esgota, até mesmo

devido o dinamismo da sociedade contemporânea. Trabalhos futuros poderão

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abordar a interação das crianças com os meios de comunicação de massa,

principalmente a interação delas nas redes sociais.

Diante dessas considerações, os trabalhos relacionados à Sociologia da

Infância têm como missão ampliar os conhecimentos teóricos, provocar nos

educadores a reflexão para que possam descristalizar em seus alunos o senso

comum, e que diante dessas inúmeras possibilidades de interações sociais, desperte

nas crianças o senso crítico em relação aos problemas sociais.

Não desconsiderando o trabalho de Durkheim, porém, entendendo que a

educação é muito mais do que transferir conhecimento de uma geração à outra, é

importante que os pais e educadores, abram oportunidades para as crianças em

uma educação que vise a transformação da realidade social em que vivem.

Para tanto, diante das novas perspectivas sobre a socialização das crianças,

um dos alvos dos educadores e dos pais na cultura dos pares, é ensiná-las a utilizar

as redes sociais, não apenas para o entretenimento, ostentação e fofocas, mas

como espaço democrático, em que elas, atores sociais de uma práxis solidária e

coletiva, sejam proclamadoras de uma utopia de mudança e transformação social.

Além disso, é preciso proporcionar iniciativas que abram espaços públicos

para a socialização das crianças, lugares em que possam brincar, estudar, se

respeitar, interagir, compartilhar, amar, independente de qualquer obstáculo e

preconceito.

Decerto, os conceitos de socialização das crianças apresentados nesse

artigo, em diferentes contextos e perspectivas, podem contribuir para novas

discussões.

Novas pesquisas serão realizadas e a esperança é que as políticas que

tratam os direitos e deveres das crianças e sua voz e participação na sociedade,

possam ser ampliadas. A cada dia sejam abertos canais de comunicação e

participação das crianças, atores sociais na sociedade contemporânea.

Que os pais e educadores se esforcem mais em mediar os conhecimentos e

as crianças se apropriem dele para transformar a sociedade.

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