a sua filha de anos. - clipquick.com · Chamou-me para fazer uma cena com o Jeff Daniels. Estava a...

5
Ray Liotta viu recentemente Tudo Bons Rapazes com a sua filha de 13 anos. Foram ao Aruba International Film Festival, onde a obra de arte de Scorsese teve uma sessão especial. Era a primeira vez que ela via o filme. "Pai", disse ela quando se acenderam as luzes no fim, "eras um galã?". De acordo com as suas raízes de Nova Jérsia, Liotta negou. Antes de mais, Ray Liotta era, e ainda é, algo mais raro e valioso do que um galã: é um character actor com o carisma de uma estrela de cinema. Liotta formou-se na Universidade de Miami e começou a sua carreira com a telenovela Anuther World. Estreou-se no cinema um pouco tarde, sobressaindo apenas aos 32 anos, no filme Selvagem e Perigosa, de 1986. 0 seu retrato do marido psicótico de Melanie Griffith, Ray Sinclair, gerou uma das mais memoráveis personagens daquela década, estabelecendo a sua reputação através de uma fervorosa ameaça no ecrã. Provou que era versátil com o indie Nick e Gino e ganhou o euromilhões no ano seguinte ao vestir o papel de Henry Hill em Tudo Bons Rapazes, um dos melhores filmes de gangsters alguma vez feitos, graças, acima de tudo, à sua performance. Desde então, a sua carreira tem tido altos e baixo - ele próprio admite -, mas não importa a qualidade do material, Liotta fascina sempre, atribuindo a cada personagem que desempenha a sua intensidade característica. A Empire reencontra-se com o ator em Los Angeles e, ao estilo de Tudo Bons Rapazes, jantamos no lendário restaurante de Hollywood Musso & Frank's. É o ambiente ideal; imaginamos facilmente Henry, Jimmy e Tommy a trocar piadas numa das mesas mal iluminadas, ou sentados no bar a beber martinis. É apropriado, dada a boa impressão que deixa no seu regresso ao género, em Killing Them Softly. Liotta mora em LA anos, mas ainda tem alguma da tensão de Nova Jérsia dentro dele. Fala com fogo na língua e, quando se ri, vemos aquela gargalhada maníaca e a sua cara distorcida naquele esgar sanguinário. É um excelente contador de histórias e - sim - um tipo com piada. Empire: Começou a representar na Universidade de Miami. Foi para para estudar Teatro? Ray Liotta: Não. Fui para estudar Artes Liberais, mas tinha aula> de História e Matemática, que não queria ter. Estava na fila para me registar e - história típica de um ator - vi uma rapariga na fila para Teatro. Sabia que se estudasse Teatro não tinha que fazer História e Matemática, por isso meti-me nessa fila. Acabámos por falar e ela perguntou: "Vais entrar na peça?" Ao que respondi "Não." E ela disse: "Porque é que estás nesta fila? Aqui fazem-se peças." Eu tinha tido aulas de teatro no liceu, assim no gozo, e odiei-as. fui à peça, por ela. Consegui o papel de empregado de mesa cantor em Gabarei. Ainda não sei bem como o consegui. Lembro-me da audição, o realizador a gritar comigo: "Devias estar a dançar!" E como tinha visto a banda Freddie And The Dreamers, comecei a fazer a "The Freddie" . i Empire: Ficou com o bichinho da representação? Liotta: Não! Foi horrível! Representei Friedrich em Música no Coração, com os lederhosen e tudo. Horrível! Mas havia um bom professor de representação, que tratávamos por Buckets porque costumava jogar basquetebol. Gostei de trabalhar com ele e de representar cenas nas suas aulas. Empire: Obviamente que tinha talento. Liotta: Pelos vistos. Apenas reagi ao "faz de conta". Empire: Logo a seguir à faculdade, conseguiu o papel de Joey Perrini na telenovela Another World. Liotta: Tinha arranjado um agente e estava a fazer audições e a ir para LA para fazer testes de câmara. Surgiu Another World. Eu fiquei tipo: "Não vou fazer uma novela, estão a gozar comigo?" Queria fazer filmes. Mas o meu pai disse logo: "Tens de fazê-lo: é um trabalho." Então fui à audição, consegui o papel e acabou por ser uma grande experiência. * Empire: A sério? Liotta: Sim, tinha atores muito bons. Aprendi muito e, assim que me empenhei, conseguia pensar e fazer aquilo. Empire: Porque é que desistiu? Liotta: Estive três anos. Tinha 25 anos e ainda queria fazer filmes. Tinha ido para a faculdade com a Steven Bauer, que era casado com a Melanie Griffith naquela altura. A Melanie deixou-me ficar na casa deles em LA quando se mudaram para Nova lorque e apresentou-me a um professor de representação, o Harry Mastrogeorge. E eu reagi muito bem a ele. malta que se torna rato do ginásio. Eu tornei-me um rato do teatro. Empire: E tudo para se estrear no grande ecrã com The Lonely Lady em 1983... Liotta: [Solta uma gargalhada] Sim, para violar a Pia Zadora com uma mangueira de jardim! Foi tão bizarro. Tive de fazer a audição no escritório do Harold Robbins [o filme era baseado num livro do Harold Robbins] e fiz a cena com a agente de casting ali sentada, a ler o argumento, enquanto eu fingia violar a Pia Zadora com uma mangueira. Passei três semanas em Roma, regressei e não aconteceu mais nada. Voltei para as aulas. Empire: Nesse ano também representou Sasha, o barman na série de TV Casablanca, com David Soul como Rick. Liotta: Foi um papel insignificante. Tudo o que me lembro era que o David Soul gostava de beber e dormia numa roulotte porque estava a divorciar-se. Empire: Mas Ray Sinclair foi um papel mais carnudo, o marido psicopata de Melanie Griffith em Selvagem e Perigosa. Colocou-o no mapa. Apareceu do nada ou lutou para ganhar esse papel? Liotta: Foi durante uma aula, uns tipos perguntaram se eu estava disposto a fazê-10. Falei com o meu agente, mas ele não me arranjava uma audição. Os meus pais estavam envolvidos na política e disseram: "Tens de fazer telefonemas." A Melanie afinal já estava a bordo e tinha algum poder de decisão, por isso liguei-lhe. Foi-me difícil; queria ser eu a consegui-10, mas ela ligou ao Jonathan [Demme, o realizador] e disse: "Quero mesmo

Transcript of a sua filha de anos. - clipquick.com · Chamou-me para fazer uma cena com o Jeff Daniels. Estava a...

Ray Liotta viu recentemente

Tudo Bons Rapazes com

a sua filha de 13 anos.

Foram ao Aruba International Film Festival, onde a obra

de arte de Scorsese teve uma sessão especial. Era a primeira

vez que ela via o filme. "Pai", disse ela quando se acenderam

as luzes no fim, "eras um galã?". De acordo com as suas raízes

de Nova Jérsia, Liotta negou. Antes de mais, Ray Liotta era, e

ainda é, algo mais raro e valioso do que um galã: é um character

actor com o carisma de uma estrela de cinema.

Liotta formou-se na Universidade de Miami e começou a sua

carreira com a telenovela Anuther World. Estreou-se no cinema

um pouco tarde, sobressaindo apenas aos 32 anos, no filme

Selvagem e Perigosa, de 1986. 0 seu retrato do marido psicótico

de Melanie Griffith, Ray Sinclair, gerou uma das mais

memoráveis personagens daquela década, estabelecendo

a sua reputação através de uma fervorosa ameaça no ecrã.

Provou que era versátil com o indie Nick e Gino e ganhou

o euromilhões no ano seguinte ao vestir o papel de Henry Hill

em Tudo Bons Rapazes, um dos melhores filmes de gangsters

alguma vez feitos, graças, acima de tudo, à sua performance.

Desde então, a sua carreira tem tido altos e baixo - ele

próprio admite -, mas não importa a qualidade do material,

Liotta fascina sempre, atribuindo a cada personagem que

desempenha a sua intensidade característica.

A Empire reencontra-se com o ator em Los Angeles

e, ao estilo de Tudo Bons Rapazes, jantamos no lendário

restaurante de Hollywood Musso & Frank's. É o ambiente

ideal; imaginamos facilmente Henry, Jimmy e Tommy a trocar

piadas numa das mesas mal iluminadas, ou sentados no bar

a beber martinis. É apropriado, dada a boa impressão quedeixa no seu regresso ao género, em Killing Them Softly.

Liotta mora em LA há anos, mas ainda tem algumada tensão de Nova Jérsia dentro dele. Fala com fogo na língua

e, quando se ri, vemos aquela gargalhada maníaca e a sua cara

distorcida naquele esgar sanguinário. É um excelente contador

de histórias e - sim - um tipo com piada.

Empire: Começou a representar na Universidade de Miami.

Foi para lá para estudar Teatro?

Ray Liotta: Não. Fui para estudar Artes Liberais, mas tinha aula>

de História e Matemática, que não queria ter. Estava na fila parame registar e - história típica de um ator - vi uma rapariga na fila

para Teatro. Sabia que se estudasse Teatro não tinha que fazer

História e Matemática, por isso meti-me nessa fila. Acabámos

por falar e ela perguntou: "Vais entrar na peça?" Ao que respondi

"Não." E ela disse: "Porque é que estás nesta fila? Aqui fazem-se

peças." Eu tinha tido aulas de teatro no liceu, assim no gozo,

e odiei-as. Lá fui à peça, por ela. Consegui o papel de empregado

de mesa cantor em Gabarei. Ainda não sei bem como o consegui.

Lembro-me da audição, o realizador a gritar comigo: "Devias

estar a dançar!" E como tinha visto a banda Freddie And The

Dreamers, comecei a fazer a "The Freddie" . i

Empire: Ficou com o bichinho da representação?

Liotta: Não! Foi horrível! Representei Friedrich em Música

no Coração, com os lederhosen e tudo. Horrível! Mas havia

um bom professor de representação, que tratávamos por Buckets

porque costumava jogar basquetebol. Gostei de trabalhar com

ele e de representar cenas nas suas aulas.

Empire: Obviamente que tinha talento.

Liotta: Pelos vistos. Apenas reagi ao "faz de conta".

Empire: Logo a seguir à faculdade, conseguiu o papel de Joey

Perrini na telenovela Another World.

Liotta: Tinha arranjado um agente e estava a fazer audições

e a ir para LA para fazer testes de câmara. Surgiu Another

World. Eu fiquei tipo: "Não vou fazer uma novela, estão

a gozar comigo?" Queria fazer filmes. Mas o meu pai disse

logo: "Tens de fazê-lo: é um trabalho." Então fui à audição,

consegui o papel e acabou por ser uma grande experiência. *

Empire: A sério?

Liotta: Sim, tinha atores muito bons. Aprendi muito e,

assim que me empenhei, só conseguia pensar e fazer aquilo.

Empire: Porque é que desistiu?

Liotta: Estive lá três anos. Tinha 25 anos e ainda queria fazer

filmes. Tinha ido para a faculdade com a Steven Bauer, que era

casado com a Melanie Griffith naquela altura. A Melanie

deixou-me ficar na casa deles em LA quando se mudaram paraNova lorque e apresentou-me a um professor de representação,

o Harry Mastrogeorge. E eu reagi muito bem a ele. Há malta

que se torna rato do ginásio. Eu tornei-me um rato do teatro.

Empire: E tudo para se estrear no grande ecrã com The Lonely

Lady em 1983...

Liotta: [Solta uma gargalhada] Sim, para violar a Pia Zadora

com uma mangueira de jardim! Foi tão bizarro. Tive de fazer

a audição no escritório do Harold Robbins [o filme era baseado

num livro do Harold Robbins] e fiz a cena com a agente de

casting ali sentada, a ler o argumento, enquanto eu fingia violar

a Pia Zadora com uma mangueira. Passei três semanas em

Roma, regressei e não aconteceu mais nada. Voltei para as aulas.

Empire: Nesse ano também representou Sasha, o barman

na série de TV Casablanca, com David Soul como Rick.

Liotta: Foi um papel insignificante. Tudo o que me lembro

era que o David Soul gostava de beber e dormia numa roulotte

porque estava a divorciar-se.

Empire: Mas Ray Sinclair já foi um papel mais carnudo,

o marido psicopata de Melanie Griffith em Selvagem

e Perigosa. Colocou-o no mapa. Apareceu do nada ou lutou

para ganhar esse papel?Liotta: Foi durante uma aula, uns tipos perguntaram se eu estava

disposto a fazê-10. Falei com o meu agente, mas ele não me

arranjava uma audição. Os meus pais estavam envolvidos

na política e disseram: "Tens de fazer telefonemas." A Melanie

afinal já estava a bordo e tinha algum poder de decisão, por isso

liguei-lhe. Foi-me difícil; queria ser eu a consegui-10, mas ela

ligou ao Jonathan [Demme, o realizador] e disse: "Quero mesmo

que conheças o Ray." Li para ele e gostou de mim. Chamou-me

para fazer uma cena com o Jeff Daniels. Estava a ver o JohnnyCarson e, nessa noite, o Jeff estava lá a promover A Rosa Púrpurado Cairo, e tinha acabado de fazer Laços de Ternura. E eu a vê-loe a fazer flexões, a preparar-me, a ficar cada vez mais nervoso.Mas quando fiz a audição, estava pronto! Fiz tudo o queo Harry e o Buckets me ensinaram. Fiz uma cena em quedescarregava a minha raiva em cima dele. Saí dali a sentir-mebem. O Jonathan ligou-me no mesmo dia para almoçarmos.Era o domingo do Super Bowl c encontrámo-nos em SantaMonica. Ele disse-me: "Tenho algumas pessoas em mente,tu incluído, e vou tomar uma decisão lá para meio da semana."

Chega segunda-feira, já estou ansioso. Para mim, terça-feiraé o meio da semana, por isso já estava a pensar: "Parece quenão deu certo." Quarta-feira, nada. E eu pensava: "Que se lixeisto. Tenho 30 anos c ainda nem fiz um filme." Recebo, então,uma chamada na quinta-feira e o Jonathan disse-me que linha

conseguido o papel. Acho que até chorei, i

Empire: Destacou-se nesse filme. Abriu-lhe portas?Liotta: Foi quando as coisas começaram a correr bem; foi um

grande papel. Mas tive medo de ficar rotulado. Trouxe boas

ofertas, mas não queria representar aquele papel outra vez.Empire: Foi isso que o alraiu para Sick e GinolLiotta: Sim, porque era totalmente diferente. Fazia o papelde um estudante de medicina. O Tom Hulce era o meu gémeocom um atraso mental. Era uma história bonita, e o Tom estava

incrível, não sei como é que ele não foi nomeado. Foi um

pequeno filme independente que nunca teve a atenção merecida.

Empire: Desapontou-o recusar filmes maiores para fazer esse?

Liotta: Sim, sem dúvida.

Empire: O seu próximo papel já o consolidou mais: a lendado basebol "Shoeless Joe" Jackson, em Campo de Sonhos. *

Liotta: Li o argumento e pensei: "OK, um tipo constrói um

campo de basebol e há fantasmas a sair das searas. Humm..."Mas o Kevin já estava a bordo, e eu conhecia-o porque nós

eu, o Kevin, o Steven Bauer e o Andy Garcia - costumávamos

jogar paddle íennis juntos. F. tinha o James Earl Jones e a AmyMadigan, com quem tinha feito um filme para TV. Por isso

pensei: "OK, jogadores de basebol mortos, mas tem excelentes

atores no elenco - e ainda por cima o Burt Lancaster!"

Empire: Foi um dos seus últimos filmes; chegou a falar com ele?

Liotta: Infelizmente, não tinha cenas com ele. Mas no primeiro dia

que chegou ao décor fui vê-lo de propósito - meu Deus, era o BurtLancaster! Eu ainda era um novato no meio disto tudo.

Empire: De seguida, veio um papel único: Henry Hill em TudoBons Rapazes. Como se apercebeu de que Scorsese o queria?Liotta: O meu agente marcou uma reunião com o Marty, que metinha visto em Selvagem e Perigosa. Toda a gente queria aquelepapel. Estava nervoso, mas não li para ele. Só falámos.

Empire: Porque é que o escolheu?

Liotta: Fui com Nick e Gino ao Festival de Veneza. Estavano hotel Excclsior e ouvi um grande alvoroço na entrada. >

NOTAS

i FreddieGarrity, avocalista dabanda inglesados anos 40Freddie AndThe Dreamers,era famosopelo seu estiloestranho dedançar. "TheFreddie" erauma dançaque implicavaestender osbraços e aspernas parao lado, ao ritmoda música.

> Outrosex-alunos deAnother Worldincluem BradPitt, LindsayLohan, MorganFreeman, LukePerry, KelseyGrammer,CharlesDurning, AtineHeche e VingRhames.

3 0 cantorChi ris Isaakera o favoritopara o papelde Ray Sinclair,mas teve quedesistir parase concentrarno álbumhomónimoChris Isaak.

< "ShoelessJoe" Jacksonera um dosinfames daBlack Sox deChicago, banidodo basebolprofissionalpeto seualegadoenvolvimentoem viciaro campeonatomundial de1919. Ganhoua alcunha porjogar descalço,devido a bolhascriadas porum par novodesapatilhas.

Era o Marty. Estava lá com A Última Tentação de Cristo e tinha

guank-costas, devido à controvérsia. Eu não sabia se ainda estava

na corrida para o filme dele, mas tinha-lhe enviado uma VHS

de Nick e Gino e queria reforçar a conexão. Corri para ele a gritar:

"Hei, Marty!" E os guarda-costas agarraram-me e

empurraram-me. E eu: "Não, não. Desculpem, mas só queria

dizer olá ao Marty." Ele disse-me mais tarde que me deu o papel

com base nisso.

Empire: Porque é que os guarda-costas foram brutos consigo?

Liotta: Pela maneira como reagi. Ele tinha visto Selvagem

e Perigosa e achou que eu poderia ser demasiado agressivo

para o Henry. O Henry era mais um miúdo de recados, não um

tipo feito; eu nunca teria chegado a lado nenhum se mostrasse

a atitude do Ray Sinclair.

Empire: Ainda era relativamente desconhecido. Houve alguma

oposição do estúdio?

Liotta: Bem, a Warner, como qualquer estúdio, queria o nome

mais famoso que conseguisse arranjar. Quando o Bob [De Niro]

assinou, eles conseguiram o seu chamariz. Tinham o Bob e o Joe

[Pesei] e o Marty, as pessoas que tinham feito Touro Enraivecido,

logo podiam dar-se ao luxo de me ter no filme.

Empire: É verdade que Scorcese não queria que conhecesse

o verdadeiro Henry Hill antes de começar a rodagem?

Liotta: Perguntei se me podia encontrar com o Henry e ele disse:

"Não, concentra-te só no argumento." Mas encontrei-me com

o Nick Pileggi [autor de Wiseguy, no qual Tudo Bons Rapazes

foi baseado], s Fui ao apartamento dele e fiz-lhe mil perguntas

e estudei sem fim estas cassetes que ele tinha do Henry a falar.

Empire: O que obteve com isso?

Liotta: Lembro-me de uma coisa irritante: ele estava a mastigarbatatas fritas o tempo todo. E não tinha tato, revelava coisas

que eu ou vocês consideraríamos horríveis - "Sim, o Tommy

chateou-se, por isso limpou o sebo ao tipo.'" Era tudo à bruta.

Foi como quando representei um cirurgião cardíaco [em Artide

99] e fiquei a saber que estes tipos ouvem rádio enquanto fazem

cirurgias ao coração. Para eles, é rotina, como para o Henry.

Empire: E chegou a conhecê-lo quando o filme estreou?

Liotta: Recebi uma chamada a dizer-me que ele queria

encontrar-se comigo, por isso encontrei-me com ele numa pista

de bowling no Valley. Estava lá com o irmão, um tipo enorme

e assustador. Sentaram-se ambos de costas para a parede. Pelos

vistos, ele podia vir a ser morto a qualquer altura. Estivemos

a brincar um bocado e ele disse: "Obrigado por não fazeres de

mim um pulha." Eu disse [murmurando]: "Viu mesmo o filme?"

Empire: Como lhe pareceu ele?

Liotta: Um bocado derrotado. Não era o gingão do filme. E nessa

altura ele andava a festejar e a tomar drogas sem limites. Vi-o anos

mais tarde, numa sessão fotográfica. Queriam atores que tivessem

representado pessoas reais. Fotografaram-me a mim e ao Henrynum Cadillac. E ele estava na mesma, a cheirar a álcool,

barulhento, um bêbedo irritante. Vi-o mais uma vez depois disso.

Ia a um restaurante em Veneza e ouço uma voz: "Ray! Ray!" E era

o Henry, encostado a uma árvore, todo lixado. Não consegui

perceber o que me disse. Foi a última vez que o vi.

Empire: Parece que vai haver uma série de TV do Tudo Bons

Rapazes. A Lorraine Bracco disse que acha que há enredo

para isso e que ela consideraria fazer um cameo. E o Ray?

Liotta: Acho que não há mais nada para se contar. Nem sei

o que ele fez depois do filme. Talvez seja uma série sobre

um tipo que está podre de bêbedo, encostado a uma árvore

em Veneza. Talvez isso seja uma história interessante, não sei.

Empire: Deve ter sido cá uma experiência, liderar esse elenco

e trabalhar com Scorsese.

Liotta: Foi incrível, e o entusiasmo do Marty é excitante. Mas foi

ensombrado pelo facto de a minha mãe estar doente com cancro,

estava nos seus últimos meses de vida. Morreu a meio da rodagem.

Empire: Deve ter sido devastador.

Liotta: Foi. Mas o filme foi adiado e fiquei em Nova Jérsia,

à espera que retomassem, e pude passar tempo com ela.

Empire: Quais são as suas recordações da cena "Como assim,

tenho piada?"Liotta: Isso não estava no argumento. Estávamos sentados

durante os ensaios e o Joe, que é um grande contador de

histórias, falou-nos de uma vez que tinha estado com uns tipos

"que estavam no negócio". Um deles disse algo e o Joe disse:

"Isso tem piada." E o tipo passou-se com ele e começou a gozar.O Marty pensou que isso seria espetacular para se pôr no filme.

Ensaiámos, eu e o Joe improvisámos, e o Marty escreveu a cena.

Empire: Na altura apercebeu-se de que esta iria ser uma das

grandes cenas da história do cinema?

Liotta: Não, de todo [risos].

Empire: Joe Pesei já não faz nada há muito tempo...Liotta: Fez aquele filme do Bunny Ranch com a Helen Mirren

[Love Ranch]. E a publicidade da Snickers, que foi espetacular!

Empire: Fica desapontado quando o Scorsese faz um filme

e não o chama?

Liotta: Às vezes [risos]. The Departed- Entre Inimigos chegou

até mim, mas não pude fazê-lo porque já estava comprometido

com outro projeto. Também houve um papel em O Aviador

que não pude fazer. Fico com um bocadinho de ciúmes,

especialmente do Leo [DiCaprio]. Mas, sem ser esses dois

projetos, não havia nada em que eu me pudesse encaixar.

Empire: Nem em Casino?

Liotta: Sim, havia, mas era muito parecido com o que já tinha

NOTAS

s Apesar deo título originalser Wiseguy,foi alteradopara evitarconfusões quercom a série deTV dos anos 80com o mesmonome, quer cono filme de 1986de comédiada máfia WiseGuys, comDanny DeVitoe Joe Piscopo.

• OperaçãoElefante foibaseado numincidenteverídico da

guerra doVietname,quando tropasamericanasprocuraramcriar relaçõesde amizade conaldeões do suldo Vietname,substituindoo elefantesagrado quetinha sidomorto pelosvieteongues,a tempo deuma cerimóniaimportante.