A Tecnologia Tem e Teve

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A tecnologia tem e teve, em todas as sociedades, um papel fundamental ao nvel da natureza, no controlo do ambiente e na resoluo de problemas. As aplicaes tecnolgicas tornaram mais fcil e rica a vida dos seres humanos (ALBA, 2006, p. 131). De acordo com a mesma autora, as TIC veicularam a melhoria das condies de vida das pessoas com deficincias e, consequentemente, a optimizao do processo de ensino e aprendizagem. Os recursos educacionais, com vista a apoiar estes alunos no processo de ensino e aprendizagem, envolvem inmeros aspectos, entre os quais: professores e especialistas habilitados, metodologias e materiais didcticos adaptados s necessidades dos alunos, apoio pedaggico ao aluno e ao professor regular e auxlios tecnolgicos (ALBA, 2006). Dentro destes auxlios tecnolgicos, as TIC j demonstraram ser um valioso contributo no processo de ensino e aprendizagem de crianas e jovens com NEE. Segundo TAROUCO (2006), para as pessoas com necessidades educativas especiais, as TIC podem ser um elemento decisivo para melhorar a sua qualidade de vida e facilitar a sua integrao social e laboral. Actualmente, a nova perspectiva da Educao Especial aponta para uma educao que possibilita criana um currculo escolar mais apropriado s caractersticas particulares. As TIC desempenham um papel determinante, pelo conjunto de experincias e vivncias que podero proporcionar aos alunos com PC. Para CORREIA (2008), a utilizao das TIC pelos alunos com NEE, tem dois grandes objectivos curriculares: a) Aumentar a eficincia dos alunos no desempenho de tarefas acadmicas ou do dia-a-dia; b) Desenvolver capacidades para aceder e controlar tecnologias com determinado nvel de realizao (p.108). As TIC proporcionam mltiplas funcionalidades s crianas com PC, que requerem uma ateno especial, facilitando a comunicao, o acesso informao, o desenvolvimento cognitivo, social e psicomotor com a realizao de todo o tipo de aprendizagens. O uso das TIC, s por si, vantajoso. Todavia no deve negligenciar-se a componente pedaggica, que dever abarcar como objectivo que o hardware ou software seja um meio para atingir esse fim e no um fim em si. Como refere SANCHES (2008), o computador encoraja a autonomia, estimula o trabalho da criana e favorece a aprendizagem. Cabe ao professor conceber meios para favorecer a interaco mquina/criana, proporcionando-lhe verdadeiros actos de comunicao real. O professor deve adaptar os programas s necessidades e possibilidades de cada criana e personalizar as sesses de trabalho, fazendo-as sentir como um verdadeiro interlocutor vlido, real e individualizado. As TIC produzem ou permitem novos modelos de ensinar e de aprender. Representam muitas possibilidades para os professores, para os alunos e para a escola, como organizao, mas h necessidade de todos estarem conscientes dessas possibilidades e da forma de as explorar (ALBA, 2006). Os resultados positivos do uso das TIC podem ser observados se a sua aplicao levar a que, segundo a mesma autora, os professores sejam significativamente apoiados na sua prtica pedaggica; os alunos aprendam mais e de forma mais eficaz, se se verificar, em toda a escola, uma melhoria na comunicao por causa e acerca das TIC. Contudo temos de ter algum cuidado, como refere PAIVA (2007), pois a tecnologia til mas no mgica, como se o simples facto de os computadores terem entrado na sala de aula fizesse o milagre acontecer (p. 212). Embora presente e, por vezes, at abundante, a tecnologia no de per si mais-valia, uma vez que no tem grande reflexo nas prticas educativas (DIAS, 2004).Os recursos tecnolgicos podem oferecer possibilidades ldicas e serem instrumentos mediadores entre a criana e o mundo real. Vygotsky (1987, cit. em KOHL DE OLIVEIRA, 1999), distinguiu dois tipos de elementos mediadores, os instrumentos e os signos. A informtica apresenta a possibilidade de trabalhar com esses dois elementos, quer como instrumento, quer como um meio de oportunidade de trabalhar com os signos. Para a criana com PC, este recurso ainda apresenta a possibilidade da comunicao alternativa, podendo levar a uma interaco mais satisfatria com o mundo, favorecendo expresses significativas de pensamento, pois, devido aos seus comprometimentos motores, a sua linguagem oral (fala) e a sua linguagem grfica (escrita) encontram-se comprometidas. Contudo, a sua linguagem interna, isto , os seus pensamentos, ideias, sentimentos e desejos encontram-se em processo de construo (KOHL DE OLIVEIRA, 1999). Para Vygotsky (1987), ainda na perspectiva do autor supracitado, importante, para o desenvolvimento humano, o processo de apropriao, por parte do indivduo, das experincias presentes no seu meio ambiente e na sua cultura. O autor enfatiza a importncia da aco, da linguagem e dos processos interactivos na construo das estruturas mentais superiores. Este processo de interaco com o mundo, atravs das experincias vividas, influencia determinantemente os processos de aprendizagem da pessoa. Portanto, as incapacidades da criana com PC evidenciam-se como barreiras para a sua aprendizagem e as tecnologias de apoio como facilitadores. Como tal, oferecer possibilidades para que estas crianas vivenciem experincias ser uma forma de minimizar esses impedimentos, inserindo-as em ambientes que favoream as aprendizagem, na medida em que a partir do momento que a criana pode ter acesso, vivenciar e utilizar os recursos tecnolgicos que a sociedade oferece, que as suas sequelas, provocadas pela PC, podem ser minimizadas. Sabe-se que as TIC tm-se transformado, de forma crescente, em importantes instrumentos da nossa cultura, tornando-se num recurso utilizado na incluso e integrao das pessoas com deficincia na sociedade. A constatao ainda mais evidente e verdadeira quando se refere a pessoas com dificuldades na comunicao (oral e escrita), na funcionalidade e na locomoo, como o caso das crianas com PC. Com a evoluo das tcnicas e dos recursos tecnolgicos, hoje podemos verificar que essas crianas possuem um potencial que ultrapassa os limites at ento definidos. Na procura da incluso escolar e social e da melhoria da qualidade de vida destas crianas, surgem os recursos tecnolgicos aumentativos e alternativos, que lhes possibilitam ter acesso ao computador e a outros dispositivos que favorecem a sua interaco com o outro e com o mundo, permitindo a ruptura de um paradigma que encara todas as crianas com deficincia neuromotora como seres com dfice cognitivo (OLIVEIRA et al., 2004). Com o avano da tecnologia, tm-se utilizado dispositivos tecnolgicos para favorecer e aumentar as capacidades funcionais das crianas com PC, estimulando-lhes a independncia e a incluso na sociedade. 3.2. Tecnologias de Apoio e Comunicao Aumentativa e/ou Alternativa Entende-se por tecnologias de apoio os dispositivos facilitadores que se destinam a melhorar a funcionalidade e a reduzir a incapacidade do aluno, tendo como impacte permitir o desempenho de actividades e a participao nos domnios da aprendizagem e da vida profissional e social (Decreto-Lei n. 3/2008, de 7 de Janeiro). As tecnologias de apoio representam um contributo inestimvel no campo da habilitao e educao, com especial incidncia nas reas do desenvolvimento cognitivo, psicomotor, meio aumentativo e/ou alternativo de comunicao e, ainda, como meio facilitador da realizao de uma tarefa (SOUZA, 2009). Tambm ANDRICH (1999) refere que a adopo de uma ajuda tcnica no um acontecimento casual na vida de uma pessoa; tem nela profunda repercusso, impondo a transio a um novo modelo de vida e de interaces com o ambiente. A cadeira de rodas permite passar da imobilidade mobilidade; os sistemas especiais de conduo para automvel permitem a autonomia na mobilidade a longa distncia; as tecnologias de informao e comunicao possibilitam a comunicao a pessoas com perturbaes da fala. Uma mesma ajuda tcnica poder ter uma eficcia completamente diferente de pessoa para pessoa, dependendo da responsabilidade, motivao ou ambiente onde est inserida. O treino, a rede de servios disponveis, a imagem social do produto, desempenham muitas vezes papis da mesma dignidade que a qualidade tcnica e ergonmica do mesmo. Porm, pode considerar-se como adquirido: os objectivos de qualidade a utilizar como ponto de referncia devem ser ndices de qualidade de vida (ANDRICH, 1999). Conforme ALBA (2006), PASSERINO, MONTARDO (2007), FERREIRA et al. (1999) as tecnologias de apoio so, por vezes, a nica alternativa para as crianas poderem interagir com o meio, possibilitando-lhes um verdadeiro acesso educao, socializao e comunicao. Os termos comunicao alternativa e aumentativa so utilizados para definir outras formas de comunicao como o uso de gestos, lngua de sinais, expresses faciais, o uso de pranchas de alfabeto ou smbolos pictogrficos, at o uso de sistemas sofisticados de computador com voz sintetizada (GLENNEN, 1997). Tambm PAASCHE et al. (2010), referem que o Sistema Aumentativo e Alternativo de Comunicao o conjunto de tcnicas, ajudas, estratgias e capacidades que um indivduo impossibilitado de falar usa para comunicar. Estes sistemas so constitudos por smbolos e sistemas de smbolos que necessitam de um suporte, como seja uma ajuda tcnica ou um dispositivo de suporte. A comunicao considerada alternativa quando a pessoa no apresenta outra forma de comunicao e considerada aumentativa quando o indivduo possui alguma comunicao, mas essa no suficiente para as suas trocas sociais. Quando se fala de comunicao aumentativa est a descrever-se uma forma de comunicao em que a linguagem no falada serve de apoio linguagem oral. J a comunicao alternativa diz respeito forma de comunicao em que a fala no existe de todo e em que usada, por exemplo, a linguagem gestual (VON TETZCHNER, 2000). A comunicao alternativa recorre a signos de diferentes naturezas: os signos gestuais, usados por surdos e que incluem a linguagem gestual, os signos grficos, produzidos graficamente e os signos tangveis, tambm designados signos tcteis, formados por objectos de madeira ou de plstico, muitas vezes concebidos para pessoas com deficincia visual. Por conseguinte, a avaliao das necessidades de comunicao , geralmente, o ponto de partida para a escolha de uma tecnologia de apoio. Como afirmam TETZCHNER e MARTINSEN (2002), avaliar as necessidades definir prioridades. Assim, o ensino da comunicao e da linguagem dever fazer parte integrante do plano de interveno global, coordenando com todas as outras medidas (idem, p. 94). Para escolher uma alternativa para a fala, necessrio encontrar um mtodo compatvel com a diversidade de nveis em diferentes reas do desenvolvimento, assim como com as necessidades especficas do utilizador. Devero ter-se em considerao os seguintes aspectos sobre a criana: a sua capacidade lingustica; o seu nvel de desenvolvimento cognitivo; o seu input sensorial (deficincia visual e/ou auditiva); o seu desenvolvimento fsico (controlo motor da boca, rgos vocais e/ou mos e dedos); o seu desenvolvimento social; vontade de se relacionar com os outros para expressar as suas necessidades e desejos. (PAASCHE et al. 2010),Na implementao deste tipo de sistemas h que ter em conta: - O pessoal, a famlia, os colegas e outros iro conseguir usar e perceber o sistema sem qualquer tipo de formao?- O sistema porttil? Pode ser usado em diversas situaes? Tem um sistema que no requer equipamento elaborado ou pesado?- O sistema til? Capacita o indivduo para comunicar com as pessoas actualmente envolvidas com a criana?- O sistema encoraja a incluso na escola e na comunidade?- O sistema significa um passo em frente no desenvolvimento da capacidade de usar a fala? (PAASCHE et al. 2010).

Uma das questes mais importantes que se pode colocar tem a ver com a seleco de um sistema de signos em detrimento de outro(s). Uma das condies essenciais a seleco de um sistema nico, pelo menos a nvel nacional, que permita assim uma comunicao eficaz entre diferentes indivduos, facilitando tambm a investigao e o melhoramento de determinado sistema. No entanto, o factor mais importante para essa seleco mesmo o indivduo ou a comunidade que vai utilizar o sistema, j que diferentes deficincias ou incapacidades requerem ou podem requerer diferentes sistemas. Por exemplo, para um deficiente motor, como o caso de alunos com PC, poder ser difcil, ou mesmo impossvel, comunicar mediante um sistema gestual. J uma pessoa possuidora de deficincia visual ter dificuldade em usar um sistema grfico. Isto para no falar de deficincias mentais que, por razes de memria ou de cognio, podem impedir a comunicao mediante o uso de qualquer destes sistemas (VON TETZCHNER, 2000). A validade, ou no, de uma ajuda tcnica, segundo ANDRICH (1999), s faz sentido pontualmente a determinada pessoa em determinada situao. A avaliao tcnica (examina o produto sob o ponto de vista da segurana, qualidade, durabilidade, desempenho e caractersticas dimensionais); a avaliao funcional (examina a funcionalidade, as caractersticas de utilizao, o design e outros parmetros de interesse prtico para o utente). Estes dados ajudam compreenso da ajuda tcnica, no entanto, quando se trata de escolher a ajuda tcnica num caso particular, necessrio analisar quais so os requisitos prioritrios para aquela determinada pessoa, naquele determinado contexto. Tambm BETANZOS, J. M. (2007) refere que necessrio ter em conta algumas consideraes no uso das TIC, em particular, o computador:- Se o computador ir servir como um sistema alternativo comunicao, ou como potenciador?- Se ser apenas um instrumento educativo?- Se vai estar dentro da sala de aula?- Se o computador vai facilitar ou dificultar as prticas do aluno?- Se a famlia favorvel ao seu uso?- Qual ser a atitude do docente face ao seu uso nas actividades escolares?- Qual a atitude do prprio aluno?- O computador considerado como uma ferramenta de trabalho ou como uma espcie de prtese?

Como pode verificar-se, estas e outras questes so extremamente pertinentes, antes de se tomar a deciso final na aquisio do computador. necessrio que fique claro, que o computador por si s no faz milagres e que a nossa prpria crena sobre o seu uso poder condicionar os resultados.