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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE CAA GRADUAÇÃO EM DESIGN LARYSSA DAYSE DE LIMA SILVA A TIPOGRAFIA COMERCIAL DE CARUARU: HISTÓRIA DE ALGUMAS GRÁFICAS. CARUARU 2012

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

CENTRO ACADÊMICO DO AGRESTE – CAA

GRADUAÇÃO EM DESIGN

LARYSSA DAYSE DE LIMA SILVA

A TIPOGRAFIA COMERCIAL DE CARUARU:

HISTÓRIA DE ALGUMAS GRÁFICAS.

CARUARU

2012

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LARYSSA DAYSE DE LIMA SILVA

A TIPOGRAFIA COMERCIAL DE CARUARU:

HISTÓRIA DE ALGUMAS GRÁFICAS.

Projeto de conclusão de curso

apresentado à Universidade Federal

de Pernambuco, Centro Acadêmico

do Agreste, como pré-requisito para

obtenção de título acadêmico de

bacharel em Design.

Prof. Me. Leonardo Araújo da Costa

Orientador

CARUARU

2012

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Catalogação na fonte

Bibliotecária Simone Xavier CRB4 - 1242

S586t Silva, Laryssa Dayse de Lima.

A tipografia comercial de Caruaru: história de algumas gráficas. / Laryssa Dayse de

Lima Silva. - Caruaru: O autor, 2012.

91f. : il. ; 30 cm.

Orientador: Leonardo Araújo da Costa

Monografia (Trabalho de Conclusão de Curso) – Universidade Federal de

Pernambuco, CAA. Design, 2012.

Inclui bibliografia

1. Artes gráficas – História (PE). 2. Tipografia – História. 3. Tipografia - Caruaru – (PE). I. Costa, Leonardo Araújo da (orientador). II. Título.

740 CDD (23. ed.) UFPE (CAA 2012-88)

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Professora Lia Alcântara Rodrigues

Professor Leonardo de Araújo Costa

Professora Rosângela Vieira de Souza

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Dedico este trabalho acadêmico a meu pai, que nunca me

deixou desistir, a meu esposo pelo apoio e dedicação nesta

árdua e gratificante caminhada, e a meu irmão que me

orientou em toda minha vida.

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Agradecimentos

Primeiramente a Deus, que encheu meu caminho de pessoas

especiais, e por estar sempre ao meu lado me guiando e

consolando.

Ao meu grande professor e orientador Buggy pelo incentivo,

dedicação, paciência e colaboração com seu conhecimento

junto a este trabalho.

A minha família e a segunda família: meus sogros. E a todos

que direto ou indiretamente contribuíram para elaboração

deste trabalho.

Agradeço também aos meus eternos amigos: May, Day, Alê,

Eduardo, Valtinho, Erton, Elton, Amanda, por terem me

aguentado, ajudado e incentivado.

A querida tia Lu, e a Glenda, que com muito carinho me

fizeram acreditar que tudo valeu à pena.

Obrigada!

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"Num filme o que importa não é a

realidade, mas o que dela possa

extrair a imaginação."

(Charles Chaplin)

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Resumo

A cidade de Caruaru guarda um fragmento do design gráfico

que os livros não contaram. A tipografia local, tipografia como

sistema de impressão com tipos de metal. Com o intuito de

registrar essa história, o presente projeto busca inquirir a

indústria gráfica utilizando métodos para uma pesquisa

teórica. Uma delas é a coleta de dados, na qual possibilitou

encontrar entre outros documentos, panfletos impressos nas

próprias tipografias da cidade. Outra técnica utilizada é a

entrevista com personagens importantes dessa história, os

Srs. Ivan Galvão da Gráfica Estudantil, Wilson Américo da

Gráfica Wilson e Luiz Gonzaga Filho da Gráfica Comercial.

Confrontando os dados dos autores com os resultados

de pesquisa obtiveram-se inconsistências quanto à realidade

da história da tipografia na cidade, sobre o que está escrito

nos livros e o que os documentos encontrados demonstram.

Como resultado obteve-se uma rica história sobre a

tipografia em Caruaru regada com cultura local de quase 70

anos atrás.

Palavras-chave

história; tipografia; Caruaru.

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Abstract

The city of Caruaru save a fragment of graphic design books

that did not count. The site typography, typography and

printing system with metal types. In order to record this

history, this project seeks to investigate the industry using

graphical methods for theoretical research. One is the data

collection, which allowed to find among other documents,

pamphlets printed in typography own city. Another technique

used is the interview with important characters of this story,

Messrs. Ivan Galvão of Student Graphic, Graphic Wilson

Américo of Wilson and Son of Luiz Gonzaga Commercial

GraphicsKeywords.

Comparing the data with the authors' research results

yielded inconsistencies about the reality of the history of

typography in the city, about what is written in books and

documents found that show.

As a result we obtained a rich history of typography in

Caruaru drizzled with local culture of almost 70 years ago.

Keywords

history, typography, Caruaru.

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Sumário

Introdução ........................................................................... 11

REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1. O espírito da tipografia................................................... 13

2. Entendendo os elementos tipográficos .......................... 13

2.1. Tipo ............................................................. 13

2.1.1. Material branco .............................. 16

2.1.2. Material de ornamentação ............. 17

2.2. Fabricação de tipos .................................... 17

2.3. Composição tipográfica .............................. 20

2.4. Sistema de Impressão ................................ 22

3. História da Tipografia ..................................................... 25

4. Tipografia no Brasil/Nordeste ........................................ 28

5. Tipografia em Pernambuco ........................................... 31

6. Tipografia em Caruaru ................................................... 35

METODOLOGIA

7. Métodos de pesquisa ..................................................... 40

7.1. Abordagens e procedimentos ..................... 41

7.2. Técnicas de pesquisa ................................. 41

7.3. Participantes ............................................... 41

7.4. Ferramentas/instrumentos .......................... 43

7.5. Modelagem de entrevista ........................... 43

7.6. Entrevistas .................................................. 44

7.7. Coleta de dados .......................................... 44

RESULTADOS

8. Apontamento sobre a história gráfica Caruaruense ...... 49

9. Considerações Finais .................................................... 54

Referências ................................................................... 57

Apêndices ..................................................................... 61

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Lista de figuras

Figura 1. Tipo de metal. 15 Figura 2. O que faz o uso descuidado das pinças. 16 Figura 3. Tipômetro. 16 Figura 4. Material branco Figura 4. Materiais de ornamentação. 17 Figura 5. Rama levantada. Figura 6. Pantógrafo em funcionamento. 18 Figura 7. Processo de fundição. 18 Figura 8. Molde de precisão. 19 Figura 9. Caixas. 19 Figura 10 – Componedor. 20 Figura 11. Galé e bolandeira. 20 Figura 12. Paquê. 20 Figura 13. Rama. 20 Figura 14. Estilo comum de cunhas com chaves. 20 Figura 15. Linotipo. 21 Figura 16. Monotipo. 21 Figura 17. Processo de impressão sobre forma de relevo.

22

Figura 18. Sistema de operação das prensas tipográficas.

23

Figura 19. A prensa Hartford. 23 Figura 20. Prensa de platina. 24 Figura 21. GMA Viking, de dupla rotação. 24 Figura 22. B-42. 26

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Figura 23. . Folha do jornal Gazeta Extraordinária do Rio de Janeiro.

29

Figura 24. Folha do jornal Revérbero Constitucional Fluminense.

29

Figura 25. Folha do jornal O Patriota. 30 Figura 26. Mapa mental 42 Figura 27. Panfletos tipográficos 47 Figura 28. Cartão de visita do Sr. Américo da Silva 47 Figura 29. Comprovante de Inscrição e de Situação Cadastral do estabelecimento da Gráfica Estudantil.

48

Figura 30. Comprovante de Inscrição e de Situação Cadastral do estabelecimento Gráfica Comercial – Graficom segundo registro.

49

Figura 31. Comprovante de Inscrição e de Situação Cadastral do estabelecimento da Gráfica Comercial - primeiro registro.

49

Figura 32. Consulta pública ao Cadastro do Estado de Pernambuco da Gráfica Comercial.

50

Figura 33. Cartão de visita impresso na Letterpress Brasil.

54

Figura 34. Convite de casamento impresso na Letterpress.

54

Lista de quadrados

Quadrado 01. Jornais.

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INTRODUÇÃO

A comunicação e a transmissão de informações são as

primeiras atribuições do design gráfico. Uma página, antes

manuscrita restrita para poucos leitores, começara a ser

projetada para que seja possível, além da sua produção em

larga escala, a compreensão de seu conteúdo por uma

quantidade maior de leitores diferentes. Embora o design

possa ser praticado sem a utilização de uma letra sequer, um

bom conhecimento das bases da comunicação é necessário

para aquele que deseja se expressar, mesmo sem palavras.

E foi por meio da impressão tipográfica que a

comunicação passou a abranger uma quantidade significativa

de receptores de uma única vez. Para George Everett (2009),

o design gráfico é tipografia. A tipografia, objeto de estudo

deste projeto, é uma palavra original do grego, onde “typos”

em português significa forma e “graphein” é traduzido como

escrita (CARIELLO, 2006).

Para muitos autores a tipografia possui duas vertentes

de entendimento: micro-tipografia e macro-tipografia. A micro-

tipografia abrange o desenho das letras e os detalhes de sua

conformação (HEITLINGER, 2006). E a macro-tipografia

segundo Ribeiro (2003, p. 47), “[...] é a arte de produzir textos

em tipos, isto é, caracteres”. Ou ainda a arte de compor e

imprimir em tipos. Outra forma de entendimento da tipografia

é da impressão obtida pelo contato de matrizes em relevo

sobre papel ou outro suporte (RABAÇA; BARBOSA, 2001).

Este trabalho utilizará o conceito de macro-tipografia,

explorando a chamada letterpress, sistema de impressão com

tipos móveis, na plenitude de seu corpo ao empregar o termo

tipografia daqui por diante.

Segundo Meza (2008), a tipografia marcou a chegada

da imprensa em boa parte do mundo. Porém, “vem perdendo

terreno para processos inventados mais recentemente e vai

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tendo seu uso restrito a aplicações a cada dia mais

específicas”, como corte e vinco (FERNANDES, 2003, p.

135). Meza (2008) ainda relata que no Brasil, a memória

tipográfica durante os anos 1980, foi literalmente jogada no

lixo, pois o sistema era considerado arcaico e ineficiente para

muitos. Viu-se muita gente descartar tipos móveis, outros, os

revenderem a sucatas.

O que não coincide com a realidade da cidade de

Caruaru, local de estudo, onde a tipografia resiste até os dias

atuais. É nessa perspectiva que o objetivo geral é contar a

história de algumas gráficas comerciais de Caruaru, para que

se possa ter uma ideia da evolução tipográfica na cidade.

Outros objetivos específicos decorrentes: (a) Introduzir a

história da imprensa no Brasil, Pernambuco e Caruaru; (b)

Investigar documentos comprobatórios da história; (c)

Entrevistar personagens da história gráfica de Caruaru.

O problema prático parte do não conhecimento de

registros dessa história, induzindo o projeto a realização de

um resgate desse recorte da história, com a justificativa de

impedir que parte da história do design gráfico de

Pernambuco, mais especificamente de Caruaru, se perca ao

longo dos anos, pois a sensação de ter em mãos um

impresso tipográfico carrega a herança de séculos de história.

Hoje, com forte apelo digital, destacar-se pela qualidade tátil é

grandioso. “Para o designer, a falta de compreensão desse

sistema gráfico é uma barreira à criatividade de gráficos e

profissionais de criação" (MEZA, 2008).

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REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

1. O espírito da tipografia

Desde o início dos tempos, o homem procurou comunicar-se

com os seus semelhantes. Com figuras, criação das letras,

juntando as letras para criar palavras e, ao juntar palavras,

criava frases, transmitindo assim, a sua história e as suas

ideias aos seus descendentes (HEITLINGER, 2006).

A vida de um homem hoje transcorre em volta de

papéis impressos, desde a certidão de nascimento ao

atestado de óbito. Por muitos anos ambos os papéis

passaram obrigatoriamente por alguma tipografia.

A invenção da tipografia é atribuída à Gutenberg, no

século XV, não sendo vista como pacífica, pois muitos temiam

que um livro que fosse escrito por um monge copista

constituísse uma força perturbadora, capaz de abalar a fé e

comprometer as autoridades. Isto tinha fundamento, pois a

liberdade presume acesso livre à informação, multiplicá-la é

uma base para a disseminação da democracia (PHINNEY,

2004). De lá para cá, esta técnica de impressão não mudou

muito, mas as transformações na disseminação do

conhecimento levaram o mundo a entrar em uma nova era.

2. Entendendo os elementos tipográficos

2.1. Tipo

Ribeiro (2003, p. 73), descreve tipo como um “bloco de metal

com seis faces paralelas, duas a duas, que varia segundo o

corpo e a forma gráfica da letra que comporta”.

Os tipos são classificados tecnologicamente em quatro

grupos principais, segundo Polk (1948). Tipos de fundição,

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linhas de tipo, tipos de monotipo e tipos de madeira, todos

descritos a seguir.

Os de fundição são caracteres isolados, feitos para

serem compostos à mão. As linhas de tipos e os tipos de

monotipo são feitos e compostos mecanicamente. As

primeiras constituem linhas inteiras de caracteres, compostas

por um único bloco de metal, e os tipos de monotipo, um

arranjo de vários blocos, cada um correspondendo a um

caractere. Os tipos de madeira são feitos em tamanhos

grandes e são utilizados para impressão de cartazes. A

vantagem do tipo de madeira é o peso e o custo mais baixo

que os de metal, e a desvantagem a qualidade de impressão,

sua mancha gráfica comumente apresenta falhas.

Fonseca (2008) distingue as partes do tipo de acordo

com a figura abaixo:

Figura 1. O tipo de metal e seus componentes. Fonte: FONSECA, 2003, p. 83.

Para o tipógrafo as partes de maior interesse do tipo

são: olho, corpo e guia. Fonseca (2008) explica tais partes.

Olho é a parte da superfície do tipo que reproduz o

caractere gravado em relevo na posição invertida.

Corpo é o tamanho do tipo, ou seja, a distância entre

os limites superior e inferior.

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Guia ou risca é o sulco gravado atrás ou na frente para

indicar a posição da letra no componedor.

Apesar dos tipos serem predominantemente peças de

metal, reserva-lhe bastante cuidado no manuseio e limpeza,

quando necessário, pois podem danificar prejudicando a

impressão (Figura 2).

Figura 2. O que faz o uso descuidado das pinças. Fonte: POLK, 1948, p. 66.

Os tipos possuem medidas diferenciadas do

convencional que caracterizam seu tamanho. Essas medidas

tipográficas são: o ponto, a unidade fundamental da

tipografia, define as dimensões de todos os materiais

tipográficos e corresponde a 0,376mm; o cícero, que equivale

a 12 pontos, 4,512mm; o furo, que é a medida surgida no

Brasil e corresponde a 4 cíceros ou 48 pontos;

O tipômetro (Figura 3) é uma régua graduada em

medidas tipográficas. Normalmente dividida em meio cícero,

cícero e furo. Apresenta também a correspondência em

centímetros.

Figura 3. Tipômetro. Fonte: Apostila produzida pelo LTA - Laboratório de

Tipografia do Agreste – a partir da Oficina Tipográfica São Paulo.

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2.1.1. Material branco

Denomina-se material branco tudo que se

emprega na composição das chapas e que não

aparece na impressão. Serve para separar

linhas e palavras, justificar colunas, armar

formas, [...] (RIBEIRO, 2003 p. 79).

Esse material é composto por espaços, quadratim,

meio quadratim, quadrados, entrelinhas, lingotes e

guarnições (Figura 4).

Os espaços são confeccionados nos corpos 6, 8, 10,

12, 14, 16, 18 e 20, com espessura adequada a cada corpo.

Servem para separar letras, palavras e justificar linhas

(POLK, 1948). Quadratins são peças de metal, de medida

quadrada, iguais ao corpo do tipo, utilizadas para fazer o

espaço correspondente ao parágrafo, ou completar os

espaços em branco na página. Meio quadratim é a metade do

quadratim, ou seja, tem a metade do número de pontos do

corpo em sua largura a que pertence. Os quadrados são

usados para justificar composições tanto na horizontal quanto

na vertical. Entrelinhas são lâminas de metal de mesma altura

que os outros materiais, mas de diferentes espessuras,

usadas, por exemplo, para dar espaços entre as linhas

(RIBEIRO, 2003).

Polk (1948, p. 43) denomina lingotes como “blocos de

metal usados para preencher espaços em branco [...]”. São

usados para grandes separações no texto; ou seja, são

barras de liga tipográfica que possuem a mesma função das

entrelinhas, porém numa medida maior, na espessura 6 e 12

pontos e os cumprimentos também são de 2, 3, 4, 5 e 6 furos.

Os lingões possuem a mesma função dos lingotes e

entrelinhas, porém em medidas maiores, são encontrados

nas espessuras de 24, 36 e 48 pontos. Os cumprimentos são

de 2, 3, 4, 5 e 6 furos.

Figura 4. Material

branco.

Fonte: adaptado de

RIBEIRO, 2003 p. 79.

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As guarnições são como barras de ferro, que servem

para engradar as chapas nas ramas, ou preencher os espaços

das chapas (RIBEIRO, op. cit.).

Figura 5. Rama levantada ilustrando os elementos citados acima.

2.1.2. Materiais de Ornamentação

São materiais usados para decorar a página, feitos

também em metal. Segundo Ribeiro (2003) esses materiais são

as orlas, filetes, adornos, colchetes, bigodes e vinheta (Figura

6), Polk (1948) complementa explicando que,

a finalidade dos materiais de ornamentação é

manter unida a composição e separá-la de outras

partes, quando aparece numa página juntamente

com outros trechos. Focaliza a atenção do leitor na

área da página impressa, como elemento

decorativo, acrescenta atração ao trabalho

impresso. (POLK, 1948, p 151).

2.2. Fabricação de tipos

De acordo com Heitlinger (2006) o processo de fabricação dos

caracteres metálicos é lento e difícil. Desenvolve-se em três

fases: a de gravar punções a de fazer matrizes, e a fundição.

Na primeira fase - gravar punções - o desenho da letra

era gravado na extremidade de uma peça de aço, chamado

Figura 6. Materiais de

ornamentação.

Fonte: adaptado de

RIBEIRO, 2003 p. 80 a

83.

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punção, por um ourives com ferramentas de precisão. Assim,

tinha-se o chamado patriz. Era preciso muita habilidade para

gravar um caractere de corpo 8, utilizando limas de diversos

modelos e formatos. “Esse esmerado trabalho de precisão

tornou-se o apanágio de um pequeno número de artesãos

especializados: os gravadores de punção” (HEITLINGER,

2006, p. 58). No século XX o engenheiro norte-americano

Linn Boyd Benton inventou o pantógrafo de punções, um

equipamento que automatizava o processo de gravações de

tipos e permitia que os desenhos fossem aumentados ou

diminuídos na escala desejada (HEITLINGER, 2006).

Na segunda fase – fazer matrizes – dava-se uma forte

pancada com patrizes sobre uma barra de cobre, assim

obtinham-se as formas negativas, chamadas de matrizes

(HEIGLINTER, id.).

Na terceira fase – fundição - Fonseca (2008) ressalta

que esse processo exigia a fundição de cada tipo exatamente

com a mesma profundidade, para que ficassem em uma

mesma linha de base. Havia também que fundir diferentes

larguras, como por exemplo, o i minúsculo e o M maiúsculo.

Veja o processo na (Figura 7).

Figura 7. Processo de fundição de uma peça isolada de tipo, começando com a

punção. Molde de precisão de forma simplificada. Fonte: CLAIR, 2009, p. 55.

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Para fundir os tipos, Gutenberg criou o molde de

precisão (Figura 8). Essa ferramenta era composta de duas

peças de metal em formato de L, que podiam ser abertos e

fechados para caber diversos tamanhos de letras. As matrizes

eram colocadas no topo do molde. Com uma colher era

derramada dentro dessa ferramenta uma liga metálica, que

Gutenberg, Fust e Schoeffer criaram juntando chumbo e

antimônio e que depois foi acrescido à liga o estanho, assim

obtiveram a liga ideal (RIBEIRO, 2003).

Ribeiro (id.) complementa que as qualidades dessa liga

são tríplices: estável, dura e tenaz. Estável, para conservar os

tipos sem deformação; dura para evitar o esmagamento;

tenaz, para não permitir que os contornos venham a quebrar.

O antimônio dá a dureza essencial; o estanho, elasticidade,

tenacidade e aumenta a qualidade do que vai ser derretido

facilitando a mistura.

Depois de fechado, o molde de precisão era balançado

por uma corda, para que a liga derretida penetrasse nas

pequenas partes de letra, evitando a formação de bolhas.

Como essa liga enrijecia rapidamente, logo em seguida os

moldes podiam ser abertos para a retirada do tipo fundido.

Esse processo possibilitava a produção de vários tipos em um

curto espaço de tempo. O tipo era polido e tirado as rebarbas

(FONSECA, 2008).

Esses tipos eram organizados em gavetas de madeira

(Figura 9) divididas em compartimentos (HEITLINGER, 2006)

que são organizadas como uma estante ou cavalete

(RIBEIRO 2003). As letras maiúsculas ficavam na parte

superior, por isso chamam-se caixa-alta, e as minúsculas, na

parte inferior, chamadas de caixa-baixa. Os sinais,

espaçamentos, abreviaturas, etc. tinham seu lugar fixo para

acelerar a composição.

Figura 8. Molde de

precisão.

Fonte:

aula expositiva do prof.

Buggy, para a cadeira

história da tipografia.

Figura 9. Caixas.

Distribuição dos

caracteres nos caixotins

adotado no Brasil.

Fonte:

RIBEIRO, 2003 pg. 76.

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2.3. Composição tipográfica

Composição tipográfica é a “maneira como os tipos

são selecionados, montados e organizados para formar

palavras, sentenças, parágrafos e páginas, um processo que

por mais de 500 anos não foi modificado” (FONSECA, 2008,

p. 101). As principais composições são: manual, a quente e a

frio. Na primeira o tipógrafo usa um componedor (Figura 10),

para formar uma linha.

O componedor é uma lâmina de metal com dois

bordos em esquadro e uma peça móvel, o

justificador, também em esquadro, que permite

fixar o espaço preciso da largura da linha. Esse

espaço é denominado ‘boca de componedor’

(FONSECA, 2008 p. 103).

Os tipos são montados linha por linha, depois

colocados na galé ou na bolandeira (Figura.11). Depois de

colocada todas as linhas, acrescentam-se o material branco e

se preferir os de ornamentação. Quando é terminada a peça

gráfica, para que os tipos não saiam do lugar, esse conjunto

é amarrado com um cordão (Figura 12). “Esse bloco

amarrado é denominado paquê (do francês paqlet, pacote)”.

Esse paquê é colocado na rama (Figura 13), uma guarnição

de aço em forma de moldura, com cunhas de metal ou

madeira.

“As cunhas (Figura 14) são usadas para fixar o paquê

na rama” (POLK, 1948, p. 96), “pois, [...] apertam os blocos

firmemente na posição correta em que devem ser impressos”.

Depois das impressões desejadas a rama é desmontada e os

tipos dispostos de volta na caixa. Este processo chama-se

distribuição de tipos (FONSECA, op. cit. p. 108).

Chama-se de composição a quente os métodos da

composição em metal que envolvem a fundição. Com o

aumento da demanda de impressos logo surgiram máquinas

Figura 10. Componedor.

Fonte:

RIBEIRO, 2003 pg.148).

Figura 11. Galé e

bolandeira.

Fonte:

RIBEIRO, 2003 p. 148).

Figura 12. Paquê.

Fonte:

www.tipografos.net/tecn

ologias/fundicao-

tipos.html

Figura 13. Rama.

Fonte:

Aula expositiva do prof.

Buggy, para a cadeira

história da tipografia.

Figura 14. Estilo comum

de cunhas com chave.

Fonte: Polk, 1948, p. 96.

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21

para compor os textos. “Em 1840, David Bruce, americano de

origem escocesa, nascido em Brooklin, em 1801, inventou em

Nova York, com a ajuda do mecânico dinamarquês Brandt, a

primeira máquina fundidora” (RIBEIRO, 2003, pg. 55). Essa

máquina sofreu aperfeiçoamentos e em 1873 foi fabricada a

máquina automática chamada Universal. Ela produz cerca de

80.000 tipos por dia.

Outras máquinas foram surgindo, como as que

compõem e fundem. As Linotipo, Interpito, Linograph,

Typograph e Ludlow, por exemplo, fundem linhas inteiras,

linha por linha. Já a Monotipo, funde letra por letra (RIBEIRO,

id.).

Em 1884, o imigrante alemão Otmar Mergenthaler

produziu nos Estados Unidos a Linotipo ou Linotype (Figura

15). Imita uma máquina de escrever, equipamento que tinha

um teclado que continha 90 teclas, um magazine com

matrizes e uma máquina fundidora acoplada ao sistema de

digitação. Cada tecla que o operador pressionava, a matriz do

caractere correspondente era acionada, até formar uma linha,

na medida estipulada anteriormente. Essa linha era levada

mecanicamente para ser fundida. As matrizes então voltavam

ao seu lugar para serem usadas novamente, e aquela linha

depois de terminado o serviço, era derretida e reutilizada

(ROCHA, 2005).

Segundo Ribeiro, (op. cit.), por volta de 1877, o

americano Tolbert Lanston, inventou a Monotipo ou Monotype

(Figura 16). Sua estrutura tem um teclado de 276 teclas, que

inclui o alfabeto fundamental, duas famílias de letras para

designações, e mais 30 teclas vermelhas utilizadas para

espacejar as linhas. Por meio do teclado, perfurava-se uma

tira longa de papel, com cerca de 11 mm de largura, para

registrar a seqüência dos caracteres batidos. Este registro

transmite para a fundição quais as matrizes a serem

utilizadas, então eram fundidos os tipos, e já compostos no

Figura 15. Linotipo

1940.

Fonte:

www.museudaimprensa.

com.br

Figura 16. Monotipo

1918.

Fonte:

www.museudaimprensa.

com.br

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22

texto de linhas justificadas. A sua vantagem era a

possibilidade de correções, como pontuação, entre outros,

com facilidade.

O processo fotográfico apareceu no mercado em

1947. “Na metade dos anos 1970, a fotocomposição

substituiu as antigas operações de metal quente” (FONSECA,

2008, p. 102).

O processo fotográfico apareceu no mercado em 1947,

mais foi na década de 60 que a composição a frio atingiu o

seu máximo desenvolvimento. Em boa parte isso foi possível

graças à evolução da impressão offset, que permitia

reprodução com melhores definições e, conseqüentemente,

maior qualidade final.

2.4. Sistema de Impressão

“Os processos de reprodução gráfica se particularizam pela

constituição da chapa ou fôrma”, também conhecida como

matriz. Matriz é o meio físico através do qual é possível

reproduzir determinado grafismo em determinado processo

de impressão. No caso do processo tipográfico está

fundamentado no relevo, nele as partes que imprimem estão

em alto relevo, com a imagem invertida, como mostra a

(Figura 17) (RIBEIRO, 2003 p.135).

Cada vez que o suporte é colocado na máquina para

realizar uma impressão chamam-se entradas ou passagens.

Cada unidade de impressão (conjunto de elementos capaz de

promover a impressão) é chamada de castelo ou cadeira. Na

tipografia a máquina possui apenas uma cadeira, ou seja,

possui capacidade de imprimir apenas uma cor de cada vez,

chamadas de monocolores ou monocromáticas.

O tipo de matriz pode ser direto ou indireto. Diretos

quando a matriz toca no papel, e indireto quando não há

Figura 17. Processo de

impressão sobre forma

de relevo.

Fonte:

RIBEIRO, 2003, p. 135.

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23

contato físico entre os elementos (FERNANDES, 2003, p.

122).

Para o presente trabalho vale ressaltar apenas um tipo

de matriz: a relevográfica. Aquela em que a área do grafismo

está em um plano mais alto que a área de contra grafismo

(FERNANDES, op. cit.).

Para a impressão da matriz no suporte desejado, são

usadas prensas ou impressoras tipográficas, que segundo

Polk (1948) dividem-se em três espécies: platina, cilíndrica e

rotativa (Figura 18), explicadas a seguir de acordo com o

autor citado.

Prensa de platina sustenta a fôrma numa superfície

chamada leito para obter a impressão com o contato entre a

forma e uma superfície onde está o papel, sobre pressão.

Estas impressoras também são chamadas de Minervas, com

composição pequena. Mas há prensas de platina mais

robustas, voltada para impressos grandes, por exemplo, a

Colt´s Armory press, Laureate, Hartford (Figura 19) e a Gall

Universal.

A prensa de platina mostrada na (Figura 20) foi

utilizada por Gutenberg.

Prensa rotativa é usada para imprimir revistas e jornais

que exigem grande velocidade. A impressão é feita entre dois

cilindros que giram juntos, um deles contém a chapa curva

em material flexível, e o cilindro em seu revestimento próprio

onde o papel passa por ele e entra em contato com o cilindro

que possui a chapa, sendo impresso. Exemplo dessa

máquina (Figura 21).

A tipografia oferece ainda diversos recursos de

impressão, alguns citados adiante (FERNANDES, 2003).

Hot-stamping é feito com matriz, utiliza uma tinta

termotransferível, normalmente em cores metalizadas

(dourada ou prata), um exemplo é a gravação na capa da

monografia.

Figura 18. Sistema de

operação das prensas

tipográficas.

Fonte:

POLK, 1948, p. 104

Figura 19. A prensa

Hartford.

Fonte:

POLK, 1948, p. 104

Figura 20 – Prensa de

platina.

Fonte: CLAIR, 2009.

Figura 21. GMA Viking,

de dupla rotação,

fabricada pela Grafiska

Maskin AB, Suécia.

Fonte:

POLK, 1948, p. 108.

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24

Película holográfica segue o princípio do hot-stamping,

onde os equipamentos tipográficos fazem a aplicação de

películas holográficas em impressos. Relevo americano é o

tipo de impressão em que se adiciona breu à tinta, e depois

da impressão comum, coloca a folha em uma estufa

aquecida, o calor provoca um relevo com brilho na área

impressa. Relevo seco é quando o clichê é forçado com muita

pressão no verso do papel, formando um alto relevo, sem

tinta. Para este acabamento utilizam-se duas matrizes: uma

positiva e outra negativa (FERNANDES, id.).

Quanto à tinta usada, era de origem oriental, diluída, e

quando espalhada sobre a matriz de madeira que passava

para a superfície fazia um contorno borrado indesejável. Para

os tipos de metal seria necessária uma tinta à base de óleo,

usada por volta de 1430. Era consistente e aderia bem à

superfície lisa dos tipos de metal. A fórmula de Gutenberg

consistiu em uma mistura de óleo de linho fervido, chumbo e

cobre que produzia um preto rico (FONSECA, 2008).

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25

3. História da tipografia

Por volta de 1393 e 1405 nascia Johannes Gensfleish Zum

Gutenberg, em Mainz, Alemanha. Depois de crescido

aprendeu o ofício de ourives, que era muito conceituado na

época. Mas Foi durante a Renascença1, por volta de 1438,

pesquisando sobre técnicas de impressão para a produção

de livros, que Gutenberg teve a principal de suas invenções

revolucionárias: o sistema de impressão em grande escala.

Como não tinha dinheiro para custear, o ourives Johann Fust

financiou seus experimentos (FONSECA, 2008).

Apesar das letras avulsas não serem novidade, pois a

China já trabalhava com os tipos, e em vários outros países

eram usados por encadernadores para titular capas de livros,

Gutenberg aperfeiçoou esse sistema. Inúmeros experimentos

foram feitos com a carta de indulgência de Mainz, datada de

1455, do Papa Nicolau V, é o primeiro registro do documento

de impressão tipográfico (CAMARGO, 2003).

O processo tipográfico utilizava tipos móveis e

reutilizáveis, fundidos em metal (HEITLINGER, 2006). Já que

os de madeira, que ele já trabalhava e era bem sucedido, não

apresentava resistência tendo em vista a obra que queria

realizar: a impressão da Bíblia (CAMARGO, 2003).

Afirma Heitlinger (op.cit.) que a Bíblia de 42 Linhas, ou

B-42 (Figura 22), como ficou conhecida, é o símbolo-chave

de um momento de transição da história humana. A invenção

da imprensa provocou uma revolução: a propagação do

conhecimento para todos. De 15 a 20 mil tipos foram fundidos

para que, enquanto uma página estivesse sendo impressa

outra pudesse ser composta (FONSECA, id.).

1 Originalmente nomeia o período dos séculos XIV e XV na Itália, “quando a literatura clássica da Antiguidade grega e

romana foi restaurada e novamente lida”. Mas hoje ela é usada para denotar o período que marca a transição do

mundo medieval para o moderno. (MEGGS, 2009).

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26

Figura 22. B-42, volume 1. Old Testament. Geneis. Exodus. Pág. 28 e 29.

Fonte: www.hrc.utexas.edu/exhibitions/permanent/gutenberg/web/pgsdbl560

Processado por dívidas, pelo sócio financiador,

Gutenberg perdeu a oficina em 1455, e a impressão da Bíblia,

que já estava sendo confeccionada, foi concluída por

Schoeffer e Fust. Gutenberg faleceu em 1468. Porém seu

invento propagava-se por toda parte (CAMARGO, 2003).

Rapidamente a tipografia se expandiu. Instalou-se em

cerca de 70 cidades até o século XV. Nuremberg se tornou

um centro gráfico da Europa Central. (MEGGS, 2009).

Segundo Rizzini (1968), na Itália a tipografia foi

disseminada em 1464. No apogeu de sua riqueza e artes

patrocinou a primeira gráfica fora da Alemanha, em Subiaco,

comandada pelo cardeal Turrecremata em 1465, que mapeou

os passos da tipografia de estilo romano (MEGGS, op. cit.).

Um dos principais personagens foi Nicolas Jenson, que

foi enviado para trabalhar na casa da moeda de Tours, de

onde voltou com as informações de sistema de impressão e

na Itália estabeleceu-se (CLAIR, 2009).

Na Suíça, Camargo (2003) afirma que a tipografia se

estabeleceu em 1465, em Basiléia. Já Rizzini (1968), diz que

foi em 1467.

.

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27

Em Veneza a tipografia surgiu em 1469, quando

Johannes de Spira recebeu o monopólio de cinco anos de

impressão em Veneza. Após seu falecimento seu irmão

Vindelinus Spira herdou a gráfica, mas não o monopólio

(MEGGS, 2009).

De acordo com Rizzini (1968), a tipografia chegou à

Holanda em 1472, na Hungria e Espanha em 1473, na

Bélgica em 1474, com o impressor inglês William Caxton (c.

1421-1491) que já tinha introduzido a tipografia no Reino

Unido, regressou e instalou uma gráfica na cidade.

Em 1490 Aldus Manutius transformou os livros

pesados e grandes em portáteis, tendo mais informações em

menor espaço, descobriu que os caracteres itálicos eram bem

mais estreitos que os romanos, compondo todo o livro em

itálico e barateando o custo dos livros (CLAIR, 2009).

Em Portugal, a tipografia chegou atrasada. Apesar dos

privilégios que trazia, ela não desenvolveu como nos outros

lugares. As letras clássicas e o juízo crítico que fora proposto

pela Reforma foram rejeitados por conta da influência jesuíta.

Assim Portugal permanecia medieval em pleno Iluminismo.

(CAMARGO, 2003).

Segundo Heitlinger (2006), Samuel Gacon imprimiu em

seu prelo o primeiro livro de Portugal, em 1487, o Pentateuco,

escrito em hebraico. O primeiro impresso escrito em

português foi em 1489, o Tratado de Confissom, impressor

desconhecido.

“Uma nação estrangeira a imprensa. Foi assim que

Portugal se definiu” (CAMARGO, op. cit., p. 14). E com essa

atitude impediu que o Brasil fizesse parte dessa história.

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28

4. Tipografia no Brasil/Nordeste

Portugal mantinha o Brasil na ignorância cultural (SILVA,

1988), pois, ao chegar aqui encontraram um povo

tecnologicamente primitivo e julgaram mais importante oprimir

sua cultura nativa do que ensiná-los a ler e escrever.

Normalmente as colônias se utilizavam da tipografia como

apoio administrativo, mas como o Brasil estava destinado à

agricultura, e a população de colonos era muito pequena

comparada ao território, Portugal não encontrou necessidade

para implantação da tipografia (LIMA, 1997).

Acredita-se que a primeira tentativa de implantar a

tipografia no Brasil partiu do governo holandês, durante o

período em que ocuparam o Nordeste, entre 1630 e 1655,

primeiro foi por Salvador, na Bahia, não sucedida, depois por

Olinda, de onde se tem uma carta do Supremo Conselho

Holandês das Índias ocidentais pedindo uma oficina gráfica

para Recife, em 28 de fevereiro de 1642. Foi respondida

positivamente, mas não atendida. Pesquisas julgam

improvável a existência de uma impressora no Brasil durante

o período holandês (LIMA, op. cit.), já que somente em 08 de

junho de 1706 uma carta régia mandava sequestrar as letras

e prender os donos de gráficas (CARDOSO, 2009).

Vianna (1945) afirma que a primeira oficina tipográfica

que funcionou no Brasil, da qual há provas irrefutáveis com

registros na Biblioteca Nacional, é a do Português Antônio

Isidoro da Fonseca, que segundo Cardoso (2009) possuía o

apoio do Governador Gomes Freire, com materiais vindos de

Portugal, instalada no Rio de Janeiro em 1746. Foi dela que

sairam os primeiros trabalhos produzidos no Brasil, como

exemplo, a Relação da entrada que faz o Excellentíssimo e

Reverendíssimo Senhor D.F. Antônio do Desterro Malbeyro,

Bispo do Rio de Janeiro, em primeiro dia deste prezente anno

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29

de 1747 (CAMARGO, 2003). Mas teve sua oficina confiscada

e foi deportado (RIZZINI, 1968).

Mas a maioria dos autores conta que a França decide

invadir Portugal, e em 1807 a família real do Príncipe

Regente D. João estrategicamente inicia uma fuga para evitar

as tropas francesas e trouxe na bagagem uma grande

biblioteca, juntamente com os prelos, letras tipográficas e

boas expectativas, difundindo uma nova era. Foi Antônio de

Araújo de Azevedo, ministro da Guerra e dos Estrangeiros do

Príncipe Regente que trouxe junto com a Corte uma gráfica

completa, aportando-se no Rio de Janeiro. Chegando aqui foi

substituído por D. Rodrigo de Souza Coutinho, Conde de

Linhares, que instalou a gráfica nos fundos da casa do Conde

da Barca, situada na Rua dos Borbonos, próximo ao Passeio

Público (CARDOSO, 2009). Nasce o que foi um marco na

tipografia: a Impressão Régia em 13 de maio de 1808 (SILVA,

1988), cumprindo sua finalidade, a de tornar público os atos

oficiais (CAMARGO, 2003). Lançou seu primeiro impresso:

um folheto de 27 páginas com a relação dos despachos

publicados e anunciando o aniversário do Príncipe

(CARDOSO, 2009). Em 10 de setembro de 1808 originou o

primeiro jornal editado no Brasil, a Gazeta do Rio de Janeiro

(Figura 23), que funcionou até 31 de dezembro de 1822.

Publicou também o primeiro livro, Reflexões sobre alguns dos

meios propostos por mais conducentes para melhorar o clima

da cidade do Rio de Janeiro, de Manuel Vieira da Silva

(CAMARGO, op. cit.).

Até 1822, a Imprensa Régia monopolizou impressões

no Rio de Janeiro, tendo em sua maioria cartazes, folhetos,

documentos, etc. Só em 14 anos foram impresso mais de mil

itens (LIMA, 1997).

Perde o monopólio e ganha um concorrente: a Nova

Typographia e a Typographia de Morais Garcez, esta

publicava o jornal pró-independência Revérbero

Figura 23. Folha do

jornal Gazeta

Extraordinária do Rio de

Janeiro.

Fonte:

CARDOSO, 2009, p. 30.

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30

Constitucional Fluminense (Figura 24) (1821-1832). No ano

da Independência havia sete tipografias no Rio de Janeiro

(CARDOSO, 2009), e muitas outras ao longo do tempo foram

instaladas.

No Nordeste estima-se que as primeiras instalações

surgiram na Bahia, em 1811. Manuel Antônio da Silva Serva

teria implantado em Salvador a primeira tipografia provincial

(RIZZINI, 1968) e com ela publicou o jornal A Idade de Ouro

do Brasil (1811-1823) (CAMARGO, 2003). Em 1813, foi

publicada a revista, O Patriota (Figura 25), por Manuel

Ferreira de A. Guimarães.

Foi após a Revolução Constitucionalista do Porto, em

agosto de 1820, que a Imprensa foi liberada. Não demorou

muito para aparecerem diversos jornais e jornalistas de todos

os seguimentos. Consequentemente abriu-se espaço para as

primeiras tipografias independentes (CARDOSO, 2009).

O governador Bernardo da Silveira instala uma

tipografia no Maranhão em 1821, no mesmo ano que Daniel

Garção de Melo instala uma em Belém do Pará

(RIZZINI,1968). Em São Luiz as crianças e mulheres também

manipulavam as tipografias, por isso Belarmino de Matos

chegou a criar uma caixa de tipos menores, para atender às

crianças e esta se chamou a caixa maranhense.

Em 1823 a Paraíba recebe uma impressora Columbian

e em 1824 o Ceará abre seu primeiro prelo (CAMARGO,

2003).

Figura 24. Folha do

jornal Revérbero

Constitucional

Fluminense.

Fonte:

CARDOSO, 2009, p. 32.

Figura 25. Folha do

jornal O Patriota.

Fonte:

CARDOSO, 2009, p. 30

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31

5. Tipografia em Pernambuco

Com hipóteses de que a tipografia tenha sido primeiramente

instalada em Recife, Silva (1988) subscreve que Antônio

Joaquim de Melo, adquirira uma tipografia em Recife. Em sua

obra Biografias de alguns poetas, homens ilustres da

Província de Pernambuco, 3v, Recife 1856-59, II, p. 255, o

autor diz que:

Em 1706 ou pouco antes, abriu-se pela primeira

vez na cidade do Recife de Pernambuco uma

tipografia, que começou por imprimir letras de

câmbio, e breves orações devotas; mas tendo a

ordem Régia de 8 julho do mesmo ano,

ordenado ao governador de Pernambuco, que

mandasse sequestrar as letras impressas e

notificar os donos delas e oficiais da tipografia,

que não imprimissem, nem consentissem que se

imprimissem livros nem papéis alguns avulsos; a

tipografia desapareceu. (SILVA, 1988, p. VIII).

Com a Impressão Régia (1808-1810) houve uma

liberação para as gráficas funcionarem, então em 1815 em

Pernambuco, o comerciante Ricardo Fernandes Castanho,

mandou buscar de Londres um prelo, a primeira impressora

oficial registrada no estado. Mas, por falta de mão de obra

qualificada ficou inoperante até 1817, quando acontece a

explosão da revolução pernambucana (SILVA, 1988), e a

impressora é mantida nas mãos de revoltosos.

Com a presença do impressor inglês James Prinches

em solo pernambucano, juntamente com um marinheiro

francês e dois frades, os revoltosos aproveitaram-se deles

para difundir seus ideais (COSTA apud. Lima, 1997),

surgindo assim a Oficina Tipográfica da República de

Pernambuco (RIZZINI, 1968), na qual Silva (op. cit.) nomeia

como a Oficina Tipográfica da 2ª Restauração de

Pernambuco, também chamada de Oficina Tipográfica da

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32

República de Pernambuco 2ª vez restaurada. Nela, os

revoltosos imprimiram seu manifesto em 28 de março de

1817, O Preciso, que divulgava os últimos acontecimentos

quanto à conspiração da revolução (MACHADO, 2010).

Posteriormente é lançada a Lei Orgânica, que

proclamava a liberdade de imprensa, mas o impressor ou

autor continuava responsável pelas obras, estando sujeito às

leis impostas (SILVA, 1988).

Sabendo do “mau uso” da tipografia de Recife, o

Príncipe Regente manda confiscar e levar a tipografia para a

corte. Em 1820, o governador Luiz do Rego Barreto,

autorizou a construção de um prelo para aproveitar os tipos

que teriam ficado, instalando a Officina do Trem de

Pernambuco, que publicou o primeiro jornal em 1821, o

Aurora Pernambucana (NASCIMENTO, 1967). Segundo

Camargo (2003), a tipografia foi vendida a particulares com o

nome de Typographia Nacional.

Começaram a surgir jornais periódicos, como a

publicação do Segarrega em 1821; em 1822 do Relator

Verdadeiro, Gazeta Extraordinária do Governo, O Conciliador

Nacional, O Marimbondo, Gazeta Pernambucana, Gazeta do

Governo Temporário e Gazeta do Governo Provisório; em

1823 a Gazeta Extraordinária Pernambucana, Diario da Junta

do Governo, Sentinela da Liberdade na Guarita de

Pernambuco, Diario da Junta do Governo de Pernambuco,

Escudo da Liberdade do Brasil, Diário do Governo de

Pernambuco e O Caheté (SILVA, 1988).

O tipógrafo pernambucano Antonino José de Miranda

Falcão (1798-1878) tomou posse da Typographia Nacional,

que passou a se chamar Tipografia de Miranda e Comp., e

em 7 de novembro de 1825, publica o primeiro fascículo do

Diário de Pernambuco (SILVA, op. cit).

Vários jornais surgiram conforme mostra o quadro

abaixo:

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Quadro 01. Jornais. Fonte: SILVA, 1988.

Jornal Data de início

Onde era impresso Data do término

O Homem 13/01/1876 Tipografia Correio do Recife 30/03/1876

Jornal da Tarde

22/05/1885 Rua das Laranjeiras, nº 18, Recife-PE

07/06/1885

O Abolicionista

20/06/1883 Tipografia Universal, à Rua do Imperador, nº 50, Recife-PE

20/07/1883

A Tribuna 08/09/1881 Tipografia Central à Rua do Imperador, nº 73, Recife-PE

30/09/1885

América Ilustrada

06/07/1871 Tipografia Americana à Rua Duque de Caxias, nº 9

01/05/1886

Folha do Norte

19/04/1883 in folio na Rua das laranjeiras 30/07/1884

O Rebate 01/05/1883 Tipografia Mercantil, na Rua das Trincheiras, nº 50.

10/11/1889

O Recife 12/01/1888 Rua das Flores, nº 24 23/01/1888

O Binóculo 19/11/1881 Rua Duque de Caxias, nº 42, depois passou a ser impresso na Rua Estreita do rosário, nº 18, 1º andar.

1898

O Artista 01/04/1888 Rua Direita, nº 98 18/03/1891

Jornal do Recife

01/01/1859 Tipografia Acadêmica, Rua do Colégio, nº 21. Em 29 de setembro de 1860 foi transferido para oficinas próprias, na Rua da Aurora, nº 54.

08/01/1938

A Academia 13/05/1888 Tipografia Econômica Único.

A Exposição 10/07/1887 Tipografia Central, à Rua do Imperador, nº 73

10/07/1888

Seis de Outubro

15/03/1883 Tipografia Universal 1889

A Província 06/09/1872 Tipografia do Comércio à Rua do Queimado, nº 50 (atual Duque de Caxias)

04/06/1933

A República 14/07/1887 Tipografia Industrial à Rua do Imperador, nº 75

03/11/1888

Lanterna Magica

20/01/1882 Tipografia Mercantil e depois de alguns meses passou à Rua do Rangel, nº 16, 1º andar onde funcionava a litografia de Epaminondas Mariano de Souza Gouveia

20/09/1909

O Sport 15/12/1888 Tipografia do Comércio -

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De acordo com Oliveira (1986), em 15 de janeiro de 1916

circulou pela primeira vez o jornal Imprensa Oficial, destinado

à divulgação dos atos do Executivo, com oficinas gráficas

funcionando em uma sala do antigo Ginásio Pernambucano

(Rua da Aurora), quando circulou pela última vez em agosto

de 1920. Então o jornal Diário do Estado o sucedeu em 29 de

março de 1924, com oficinas nas dependências da antiga

Casa de Detenção, na Rua Floriano Peixoto, composto em

linotipos, impresso em máquina plana Heidelberg. Em 1967, o

governador Nilo de Sousa Coelho, resolve criar o CEPE –

Companhia Editora de Pernambuco, em 01 de dezembro de

1967, firmando a empresa gráfico-editora oficial do Estado,

funcionando em prédio próprio à Rua Coelho Leite, nº 530,

em Santo Amaro, dotada de um parque gráfico que era uma

das mais completas do país. Enquanto a tipografia em

Recife já estava bem instalada e avançada, na cidade de

Caruaru no período do século XIX a tipografia começava a se

firmar tomando seus próprios rumos.

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6. Tipografia em Caruaru

A imprensa inicialmente era voltada à política, mas depois de

algum tempo começou a se produzir jornais voltados à outras

visões. É nesse período que a tipografia chega a Caruaru,

quando a imprensa já tinha deixado de ser exclusivamente

política, para ser também jornalística profissional. Fez parte do

grande avanço cultural o caruaruense Belarmino Maria

Austregésilo Augusto de Ataíde, no período pós-República

(MACHADO, 2010).

Segundo Nascimento (1986), o primeiro jornal que

surgiu em Caruaru foi O VIGIA, no dia 23 de abril de 1899,

impresso em tipografia própria que tinha como gerente

Horácio Silva. Vários exemplares não existem mais para a

comprovação de quando deixou de circular, assim não se

pode afirmar, mas as últimas edições disponíveis d´O Vigia

datam 14 de dezembro de 1901. Na mesma tipografia foi

impresso O Corypheu, publicado em 15 de novembro de 1900.

O Vigia saindo de circulação foi substituído pelo jornal O

Caruaruense em 24 de dezembro de 1901. Em 26 de

setembro de 1908 esta empresa adquiriu novas fontes de tipo

melhorando o aspecto gráfico e mudou-se para a Rua 15 de

novembro, nº 9, onde encerrou sua circulação no dia 20 de

dezembro de 1919, atingindo o número 52. Muitas outras

tipografias surgiram com impressões dos jornais que cada vez

mais tomavam conta da cidade, como mostram os exemplos

abaixo:

Tipografia d´O Caruaruense - Rua Vigário Freire, 24.

- O Espinho (início: 30/11/1902)

- O Progresso (início: 10/07/1903 | término: 20/11/1903)

- O Bohemio (início: 01/11/1908)

- O Gato (início: 16/05/1909 | término: 20/06/1909)

- O Direito (início: 15/10/1916 | término: 10/12/1916)

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Tipografia de M. Freitas & Azevedo - Rua 15 de

Novembro, 10.

- O Bloco (início: 01/12/1907)

- O Grêmio (início: 21/03/1909 | término: 28/06/1909)

- A União (início: 15/09/1912 | término: 05/01/1936)

- O Ideal (início: 01/01/1916 | término: 27/10/1917)

- O Mentor (início: Julho/1911 | Término: 23/06/1912)

Tipografia Cinco de Novembro - Rua Vigário Freire, 8.

Posteriormente mudou-se para a mesma rua no

número 68.

- Cinco de Novembro (início: 14/02/1914 | término:

19/05/1931).

Tipografia Electro-Primor de Freitas & Azevedo - Rua

15 de Novembro, 23.

- De Tudo Eu Sei (início: 27/04/1919 | Término:

14/09/1919)

- O Ephemero (início: 28/11/ 1919 | término:

27/02/1921)

Tipografia/Livraria A Primavera de Francisco

Vasconcelos - Rua 15 de Novembro, 33.

- Elite (início: Janeiro/1924)

- Caruaru-Jornal (início: 05/08/1928 | término:

Janeiro/1929 – depois reapareceu em 03/08/1935,

impresso na Tipografia São José).

- Gazeta Caruaru (início: 28/03/1931 | término:

13/02/1932)

Tipografia d´Voz de Caruaru - Rua Vigário Freire, 68.

- Voz de Caruaru (início: 23/06/1931 | término:

03/10/1931)

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Tipografia Martins, situada primeiramente à Rua

Vigário Freire, 174, mudou-se para a Rua do

Comércio, 299, e depois para o número 134.

- Jornal de Caruaru (início: 03/08/1929 | término:

01/03/1953)

- A Defesa (05/06/1932, e em 05/06/1934, mudou-se

para a Tipografia São José | término: 25/12/1954)

- A Revista do Agreste (início: 15/08/1949)

- Município (início: Julho/1950 | término: 03/02/1951)

- Jornal dos Novos (início: Novembro/1950 | término:

Março de 1951)

- Ganga (início: Janeiro/1951 | término:

Fevereiro/1951)

- Agreste Esportivo (início: 08/08/1951)

- Gazeta Literária (1951-1954)

- O Aciano (início: Setembro/1952)

- O Abé (início: 13/11/1954)

Tipografia d´O Vanguarda - Rua Vigário Freire, 171,

em 1935 mudou-se para a Rua 15 de Novembro, 111,

atualmente funciona Rua Francisco Joaquim, 181,

Bloco B no Maurício de Nassau.

- Gazeta do Commercio (início: Maio/1930), em

17/06/1938, passa a ser impresso na Tipografia

Moderna)

- Vanguarda (01/05/1932 e prossegue até os dias

atuais, comemorando neste ano 80 anos de jornalismo

ininterrupto)

- O Catequista (início: 15/11/1933)

- O Libertário (início: 27/05/1934 | término: 24/06/1934)

- A Reação (início: 06/10/1934)

- O Momento (início: 03/08/1935, v. único)

- Avante (início: 05/01/1936, v. único)

- A Mocidade (início: 14/06/1936, v. único)

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- Álbum Revista de Caruaru (1937)

- A Voz do Artista (início: 03/10/1937, v. único)

- Folha Acadêmica (início: 11/08/1938)

- O Farol (início: 09/06/1940 | término: 09/11/1945)

- Euterpe Jornal (início: 22/03/1946)

- O Ditador (início: 04/10/1947 | término: 20/08/1947)

Tipografia Leite & Silva - Rua Vigário Freire, 209.

- O Pororoca (início: 24/10/1931 | término: 08/07/1934)

- 15 de Abril (início: 15/04/1932 | término: 15/04/1939)

- Colunas (início: 01/05/1933, inovou colocando o

clichê do cabeçalho em sentido vertical | término:

07/01/1934)

- O Imparcial (início: 21/08/1933 | término: 05/11/1933)

- Ano Novo (início: 01/01/1934, v. único)

Tipografia São José – Rua Vigário Freire, 09.

- Alfinete (início: 11/02/1934)

- Gazeta Acadêmica (início: 27/05/1934)

- O Radium (início: 17/08/1934)

- O Rádio (início: 11/11/1934)

- O Braço Verde (início: 04/08/1935 | término:

07/09/1935)

- Roseiral (início: 29/09/1935)

- Aveloz (início: 27/10/1935 | término: 02/02/1936)

- Cabocla (início: 31/12/1936 | término: 06/06/1937)

- O Ginasial (início: 21/05/1939 | término: 27/08/1939)

Tipografia Moderna – Rua Vigário Freire, 62.

- A Razão (início: 07/11/1937)

- O Passo (início: 12/02/1938)

- A Muriçoca (início: 24/12/1938 | término: 31/12/1938)

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Tipografia Brasil – Rua 15 de Novembro, 33.

- O Torpedo (início: 31/12/1941)

- O 7 de Setembro (início: 10/05/1949)

- O Disco Voador (início: 24/12/1954)

- O Bombacha (início: 31/12/1954)

Tipografia Estudantil

- Agreste (início: 18/05/1946 | término: 26/10/1946)

Gráfica Oliveira – Rua Vigário Freire, 248.

- O Amigo da Onça (início: 27/12/1948).

É notável a falta de informação sobre impressos

comerciais a cerca da tipografia Caruaruense. Visto que

poucos autores falam sobre o assunto e mesmo assim,

voltados aos impressos jornalísticos. Mas essas tipografias

citadas à cima compõem o cenário tipográfico da cidade,

podendo ser consideradas também como comerciais.

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METODOLOGIA

A estrutura do presente trabalho está representada

basicamente pelo mapa mental (Figura 26) a seguir, onde o

objeto de estudo, a tipografia, é base de todo o processo, na

cor azul e verde os principais eixos da fundamentação

teórica, na cor rosa as entrevistas que deverão ser utilizadas

para obtensão dos dados, e na cor lilás, a coleta de dados.

Figura 26. Mapa mental.

Fonte: Criado pela autora deste projeto para aula de PGD1.

7. Métodos de pesquisa

Ruiz (1985, p. 131) descreve método como “o conjunto de

etapas e processos a serem vencidos ordenadamente na

investigação dos fatos ou na procura da verdade”.

Os métodos utilizados visam compreender como algumas

tipografias marcaram a história na cidade de Caruaru,

buscando relatos de pessoas ou parentes que a vivenciaram

e que possa fornecer alguma contribuição para esta

pesquisa. Caracteriza-se uma pesquisa de teor analítico.

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7.1. Abordagens e procedimentos

Esta pesquisa parte de conceitos ditados pelos participantes,

para deduzir-se a história. Desta forma o estudo pode ser

caracterizado como de natureza Dedutiva. Lakatos (2001)

descreve uma pesquisa de natureza dedutiva como sendo um

estudo que parte de conceitos gerais, teorias e leis, para

aplicações em fenômenos particulares, assim fazendo uma

conexão descendente.

Para o presente estudo foi utilizado o método de

procedimento histórico, porque vai buscar a história da

tipografia na cidade, constituindo uma análise diacrônica.

Segundo Lakatos (2010, p. 89), “o método histórico consiste

em investigar acontecimentos, processos e instituições do

passado para verificar a sua influência na sociedade de hoje”.

7.2. Técnicas de pesquisa

A técnica utilizada foi entrevista, que segundo Lakatos (2010),

descreve como um encontro de duas pessoas, a fim de que

uma delas conceda a outra, informações sobre um

determinado assunto normalmente de cunho social. O tipo da

entrevista é semi-estruturada, onde de acordo com Lakatos

(id.) o entrevistador tem liberdade para direcionar as

perguntas a fim de explorar o máximo possível do

entrevistado.

7.3. Participantes

Para realizar as entrevistas foi necessária uma amostragem

de entrevistados de acordo com sua relevância na história da

tipografia em Caruaru. Para isso foi feita uma pesquisa com

10 pessoas que vivem no ramo tipográfico em Caruaru a fim

de responder a seguinte pergunta: “Cite duas gráficas que

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você apontaria como a principal ou pioneira no ramo

tipográfico em Caruaru que possa ser entrevistada”. Foi

elaborada uma tabela abaixo, que colhe os principais dados

como nome, o tempo de atividade no ramo e as respectivas

respostas.

Gráficas citadas

Participantes

Gráfica Estudantil

Gráfica Wilson

Gráfica Comercial

Gráfica A Defesa

Gráfica do Abrigo

Wilson Américo

53 anos de gráfica

x x

Natanael Bezerra

28 anos de gráfica

x x

Mário Queiroz

38 anos no ramo gráfico

x x

Paulo Gomes

30 anos de gráfica

x x

Sílvio Alves

30 anos no ramo gráfico

x x

Paulo Brito

45 anos de gráfica

x x

Zenildo Trajano

30 anos de gráfica

x x

Luiz Romário

48 anos no ramo gráfico

x x

Flávio Pontes

32 anos de gráfica

x x

Maurílio Queiroz

30 anos no ramo gráfico

x x

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43

Como resultado obteve-se os seguintes participantes:

Nome: Ivan Galvão

Empresa: Gráfica Estudantil

- Apontada como percussora no

ramo, e principal disseminadora

da tipografia por Caruaru.

-Iniciou em 1942.

Nome: Luiz Gonzaga Filho

Empresa: Gráfica Comercial

- Citada como principal gráfica

na década de 60.

- Iniciou em 1963.

Nome: Wilson Américo

Empresa: Gráfica Wilson

- Importante personagem na

tipografia Caruaruense,

participando ativamente em boa

parte da história.

- Iniciou em 1970.

7.4. Ferramentas/instrumentos

Para a realização das entrevistas, foi utilizada uma câmera

digital ·marca Nikon, modelo L 110. Um gravador de voz

marca Sony, modelo IC RECORDER (ICD P630F). Dois

microfones de lapela marca Le Son, modelo ML-70.

7.5. Modelagem de entrevista

Para nortear a entrevista e padronizar as perguntas, foi

elaborado um primeiro roteiro de entrevista (Apêndice 1),

juntamente com o orientador responsável, contendo dados

pessoais do representante e da empresa, como nome, idade;

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44

perguntas impulsionando a contar a história da gráfica e de

como se estabeleceu, desenvolveu e extinguiu o sistema

tipográfico; Opiniões sobre o pioneirismo da tipografia em

Caruaru, com o objetivo de obter o maior número de

informação sobre a empresa e sua trajetória no período em

que se utilizava do sistema tipográfico como principal meio de

sobrevivência.

Quando realizada a entrevista com o Sr. Wilson

Américo, pôde-se constatar alguns problemas de ordem das

perguntas. Então foi montado outro modelo de entrevista

(Apêndice 2). Com o decorrer das entrevistas percebeu-se

que aquele roteiro serviria apenas de base para a entrevista,

pois como houve interferência do entrevistador, concluindo

um diálogo e não um questionário seria inevitável em algum

momento, o entrevistador precisar mudar a ordem de alguma

pergunta, ou ainda fazer outras perguntas que não estavam

programadas.

7.6. Entrevistas

As entrevistas foram realizadas no escritório de cada

entrevistado em horário e data marcada, conforme acordado

entre as partes. Tomou-se uma direção informal e cordial.

Após cada entrevista foi solicitado ao entrevistado assinar

uma autorização de divulgação dos dados. Posteriormente

foram transcritas de forma digitada, preservando a

originalidade dos dados fornecidos. As transcrições

encontram-se no Apêndice 3.

7.7. Coleta de dados

Para enriquecer as informações cedidas nas entrevistas, ao

término de cada uma delas, foram solicitados a cada

entrevistado, documentos que ilustrassem qualquer dado

sobre a tipografia daquele período, exemplo as Figura 27 e

28.

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Figura 27. Panfletos da Oficina e Fundição Agreste, panfleto da Tipografia Caruaru

juntamente com outras empresas, panfleto da Livraria, Tipografia e Papelaria

Conceição, panfleto da Livraria Tipografia Brasil. Fonte: Gráfica Estudantil.

Figura 28. Cartão de visita do Sr. Wilson Américo da Silva.

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Junto à JUCEPE (Junta Comercial de Pernambuco)

obtiveram-se informações sobre várias gráficas, em

especifico as gráficas em estudo. Os registros encontrados

são:

NIRE26200558163 CNPJ24.339.384/0001-30 NomeINDUSTRIA GRAFICA S GALVAO LTDA EndereçoRUA DUQUE DE CAXIAS, 62 BairroCENTRO | CidadeCARUARU SituaçãoREGISTRO ATIVO | CapitalR$ 130.000,00 Constituição04/05/1989 883.452.384-91 ELISABETE MARIA TORRES GALVAO 811.586.534-68 IVAN JOSE DE CARVALHO GALVAO JUNIOR

NIRE26201214824 CNPJ03.658.395/0001-02 NomeGRAFICOM GRAFICA E EDITORA LTDA ME EndereçoRUA PORTO ALEGRE, 41 BairroCENTRO | CidadeCARUARU SituaçãoREGISTRO ATIVO | CapitalR$ 30.000,00 Constituição22/02/2000 446.227.834-87 FLAVIO LUIZ PONTES 239.213.154-68 MARIA DO SOCORRO DE SOUZA PONTES

Junto à Receita Federal, os seguintes registros foram

encontrados:

Figura 29. Comprovante de Inscrição e de Situação Cadastral do estabelecimento

da Gráfica Estudantil. Fonte: Receita Federal.

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Figura 30. Comprovante de Inscrição e de Situação Cadastral do estabelecimento

Gráfica Comercial – Graficom segundo registro. Fonte: Receita Federal.

Figura 31. Comprovante de Inscrição e de Situação Cadastral do estabelecimento

da Gráfica Comercial - primeiro registro. Fonte: Receita Federal.

Junto ao Sindicato das Gráficas (Situada à Rua

Capitão Lima, 116 B. Santo Amaro, Recife, Pernambuco),

foram encontrados registros de todas as gráficas analisadas,

porém não há a data de registro no sindicato. A pessoa

responsável pelo setor informou que na passagem dos dados

das empresas dos papéis para o computador essa

informação ficou perdida.

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De acordo com o documento fornecido, há atualmente

40 gráficas cadastradas junto ao Sindicato. Esse documento

não pode ser divulgado por ordens do Sindicato.

Junto ao SINTEGRA (Sistema Integração de

Informações sobre Operações Interestaduais com

Mercadorias e Serviços), foi possível confirmar a informação

da data de abertura da Gráfica Comercial.

Figura 32. Consulta pública ao Cadastro do Estado de Pernambuco da Gráfica

Comercial. Fonte: SINTEGRA.

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RESULTADOS - A personalidade da tipografia local

8. Apontamentos sobre a história gráfica Caruaruense

Caruaru conheceu a informação através dos senhores

fazendeiros que se utilizavam do sistema impresso como

meio de comunicação e serviços políticos. Com o avanço da

cidade a tipografia encontrou seu lugar, e deixou de ser

exclusivamente política para ser também jornalística. Assim,

no século XVIII começaram a surgir os jornais, como por

exemplo, O Vigia datado de 1899, abarcando a imprensa

repercutindo seus ideais.

Cada vez mais Caruaru conhecia o desenvolvimento,

crescia o número de comércios em geral e junto com essa

concorrência aumentava a necessidade de impressos

comerciais, como o cartaz, o panfleto, cartão de visita, talão

de pedido, entre outros. Os jornais abriam espaço em suas

colunas para anúncios comerciais e as tipografias começaram

a aparecer em maior número. No século XIX tipografias como

a Caruaru, a Brasil e a Conceição, já eram maior parte

comerciais. A respeito dessas gráficas vale a pena ressaltar

algumas curiosidades como também revelar inconsistências.

A Tipografia Brasil aparece no livro História da

Imprensa de Pernambuco de Luiz do Nascimento como

situada à Rua 15 de Novembro, nº 33. Todavia o panfleto

impresso pela própria tipografia encontrado na coleta de

dados e reproduzido na página 45 deste trabalho, Fig. 27,

mostra a mesma situada à Trav. 15 de Novembro, nº 30.

Uma curiosidade foi apontada pelo panfleto impresso

na Tipografia Caruaru, reproduzido na página 45 deste

trabalho, Figura 27, no qual consta o nome do proprietário

impresso como Sr. Mário Alves da Costa. Porém o Sr. Luiz

Gonzaga Filho, um dos entrevistados, afirma que seu pai

dono da Tipografia Comercial, onde juntos trabalharam, teve

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50

duas famílias, uma que vivia com ele aqui em Caruaru

tomando conta da gráfica Comercial e a outra de fora. Com

sua morte a gráfica teve que ser dividida e a “família de fora”

comprou a parte da família de Luiz Gonzaga Filho, ficando

dona da Gráfica Comercial que existe até hoje. O Sr.

Gonzaga Filho, juntamente com sua irmã, empregou o

dinheiro montando outra gráfica que se chama Gráfica

Caruaru.

Pessoas próximas a este personagem do ramo gráfico,

como o Sr. Wilson Américo, respondeu que provavelmente

aquela tipografia era outra que existiu há muito tempo atrás.

Seria ela a tipografia que o Jornal Vanguarda teria comprado

para imprimir os jornais, instalando-se naquelas

propriedades. Averiguando a história do Jornal Vanguarda,

constata-se que provavelmente tudo não passa de uma

coincidência, pois no referido panfleto a Tipografia Caruaru

era situada à Rua Sete de Setembro, nº 30. O Jornal

Vanguarda, quando em propriedade do grupo Lyra, ficava

também na Rua Sete de Setembro, mas no nº 62.

Muito acontecia de o proprietário falecer ou falir e a

família não sabendo lidar com o ramo, ou por outros motivos,

vendia as tipografias para outras pessoas, que assim davam

continuidade ao processo tipográfico na cidade.

Desse modo aconteceu com a Gráfica Estudantil. Em

1944 Dr. Galvão comprou uma pequena tipografia de

Palmares e a montou nos fundos da sua livraria, situada na

Av. Duque de Caxias, nº 07, Centro, onde a porta da gráfica

abria para o conhecido “Beco da Pequena de Ouro”. Em

meados de 1959 Dr. Galvão recebeu uma oferta para

comprar a tipografia Leite & Silva do Sr. Ariberto Torres que

estava fechando. Esta gráfica é apontada pelos livros como a

tipografia jornalística onde foram impressos os jornais: O

Pororoca em 1931, 15 de Abril em 1932, Colunas em 1933, O

Imperial em 1933 e Ano Novo em 1934. O acordo de compra

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feito pelo Dr. Galvão incluía tudo que estava dentro da

tipografia, inclusive a permanência dos funcionários. E assim

foi feito, foi quando a Gráfica Estudantil mudou-se para as

instalações da Leite & Silva, na Rua Vigário Freire, nº 14. O

que casou perfeitamente com os objetivos de Dr. Galvão de

ampliar a livraria e separar o setor comercial do industrial.

E cada vez mais a demanda aumentava e Gráfica

Estudantil crescia e havendo necessidade de ampliar o

espaço, mudou outras vezes de lugar até suas atuais

instalações na Rua Duque de Caxias, nº 62, Centro de

Caruaru, Pernambuco.

A Gráfica Estudantil foi apontada como a principal em

Caruaru e Dr. Galvão é conhecido como percussor do ramo

na cidade. Trabalhou sua vida dedicando-se ao crescimento

da cidade trazendo pessoas amigas influentes no comércio

para Caruaru enriquecendo o mercado. Incentivou sem

egoísmo o proliferamente das gráficas. Foi de sua gráfica que

a maioria das outras surgiram, marcando uma nova fase no

ramo tipográfico. Os gráficos que trabalhavam na Estudantil

algum tempo e depois saíam para montar suas próprias

gráficas, e muitas vezes montavam com a ajuda de Dr.

Galvão. Daí, surgiram outras gráficas conhecidas como a

Comercial, a Gráfica Wilson, Berg, Pontual, Brind Graf, etc.

Diz-se nova fase, pois o mais comum não era mais comprar

gráficas que estavam fechando e sim comprar máquinas de

outras gráficas maiores seja da cidade ou de cidades vizinhas

que não usavam mais aqueles equipamentos, pelo motivo

que à medida que a máquina ia se desgastando as gráficas

muitas vezes preferiam comprar outras novas e vender

aquelas. As pequenas gráficas ou os gráficos iniciantes no

seu próprio negócio compravam essas máquinas e ajeitavam-

nas de forma que conseguiam fazer impressões mesmo que

não fosse com a mesma qualidade das máquinas novas.

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Como exemplo, o Sr. Luiz Gonzaga explica que os

rolos da máquina comprados direto da fábrica eram caros,

então eram feitos por eles mesmos, que pegavam uma

borracha grossa, cortavam bem picadinho derretiam a

borracha até ferver, então pegavam o varão que ficava no

meio do rolo, raspavam ele bem e amarravam-no com

barbante pendurando-o pra ficar na posição dentro de uma

forma, depois enchia a forma com aquele caldo da borracha e

deixavam secar, resultando em um rolo maior do que o rolo

original, que depois era cortado e montado na máquina.

Outro dispositivo que fazia com que a tipografia

perdurasse, em alguns casos até os dias de hoje, era a

herança do ofício, a profissão era passada de pai para filho.

Era muito comum ver garotos pequenos trabalhando e em

sua maioria ajudando os pais. Uma característica cultural

relevante: famílias quase que inteiras formando o negócio,

diminuindo a necessidade de funcionários, o que barateava

os custos dos produtos.

Desde pequenas as crianças eram instigadas a

trabalhar, aprendendo aquela profissão em um horário, e no

outro dedicando-se aos estudos. Por este motivo muitas

gráficas constituídas naquela época ainda hoje existem.

Como aconteceu em todo o mundo a tipografia reinou

por muitos anos em Caruaru, sendo o sistema com maior vida

útil em termos de comunicação impressa. À medida que

crescia o número de gráficas, era necessário destacar-se

para vencer a concorrência. Com isso novas impressoras

foram importadas, os formatos dos impressos mudados,

cores foram acrescentadas como marco das inovações, foi

notável a passagem de impressos monocromáticos para

bicromáticos, em maioria utilizando as cores azuis e

vermelhas ou pretas e vermelhas.

Os avanços continuaram, em meados dos anos 1970

outros sistemas foram invadindo o mercado como a máquina

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Guerrá, o sistema planográfico tomou conta das gráficas com

a off-set, depois a chegada do computador, o sistema digital,

o que no início era privilégio para poucas grandes gráficas, as

máquinas eram caras, como também sua manutenção, não

havia pessoas qualificadas para manusear as máquinas,

obrigando os donos de gráfica a importar mão de obra das

capitais. E com isso a tipografia resistiu.

Ainda hoje há gráficas em Caruaru que sobrevivem do

sistema tipográfico, muitas se não utilizam para confeccionar

todos os serviços, pelo menos os serviços numerados e de

vinco são feitos em uma impressora tipográfica.

Em contra partida no cenário mundial de design, o

sistema tipográfico considerado obsoleto, voltou a ter

destaque, na tentativa bem sucedida de resgatar as origens,

dos sentidos, da história, das formas, banidas pelos sistemas

atuais, como exemplo, o relevo das letras deixado pela

pressão do contado da rama com o papel nos cartões de

visita, convites de casamento, etc. A Letterpress Brasil, por

exemplo, é uma empresa situada em São Paulo que

confecciona materiais gráficos com o sistema tipográfico. Para

se ter uma ideia da valorização da tipografia praticada para ou

pelos designers observa-se que enquanto nas gráficas de

Caruaru, 100 cartões de visita, uma cor, sairiam por R$ 15,00,

a média de preço de cartões na Letterpress Brasil com pedido

mínimo de 250 unidades, é R$ 3,50 a unidade do cartão.

Certo que o papel é diferenciado.

Figura 33. Cartão de

visita confeccionado

pela Letterpress Brasil.

Fonte:

https://www.facebook.co

m/letterpressBR?fref=ts

Figura 34. Convite de

casamento

confeccionado pela

Letterpress Brasil.

Fonte:

http://perfeitasocasioes.

com.br/2012/06/convites

-em-letterpress-by-

letterpress-brasil/

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9. Considerações Finais

Qual o futuro da tipografia em Caruaru?

Até encontrar o sentido deste trabalho, enxergava a

tipografia como um sistema obsoleto que fez parte da história

e ponto. Cheguei a incentivar meu pai, Wilson Américo, a se

desfazer de seus antigos maquinários, que acabaram sendo

adquiridos pelo LTA (Laboratório de Tipografia do Agreste).

Mas ora, se o que eu considerava fosse absoluto, o que

professores com laboratórios cheios de equipamentos de

ponta, queriam com máquinas tão antigas? Só então,

percebi que a tipografia muito provavelmente não ficará

esquecida em Caruaru.

Houve um processo comum de transição tecnológica

pelo mundo, a tipografia dominou os impressos por muito

tempo, até ser suplantada por sistemas mais modernos.

Porém, agora ela volta com seus valores e história

resgatados. O que não coincide com a realidade de Caruaru,

a tipografia dominou por muito tempo, mas ela não saiu para

dar espaço às novas tecnologias, ela permanece juntamente

com essas, ou em muitos casos sobrevive implacavelmente,

mas seu valor está degradado, hoje os gráficos que

trabalham exclusivamente com tipografia relatam serem

esses os impressos mais baratos da gráfica. Diante do

interesse mundial e de sua representação local dentro da

UFPE há uma perspectiva que esse conceito mude com o

tempo, provavelmente em um futuro muito mais próximo do

que o que se imagina.

De acordo com a cultura local, muitas gráficas que hoje

existe foram passadas de pai para filho, a tendência é que

assim continue acontecendo, e esses futuros filhos estarão

mais “ligados” ao design com a evolução do mercado e a

influência do ensino superior, podendo aplicar o conceito que

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a tipografia está trazendo, nas suas gráficas com os

maquinários existentes nelas.

A tipografia, principalmente na cidade, é um campo

amplo e pouco explorado para estudos. As dificuldades

encontradas ao longo deste projeto denunciam isto. Há

poucas referências bibliográficas acerca desse assunto.

Várias tratam quase sempre de gráficas no âmbito voltado aos

jornais e não comerciais. A maior dificuldade foi a busca pela

confirmação das datas de abertura das empresas, pois os

institutos responsáveis por essa informação como a Receita

Federal, a Prefeitura, o Sindicato dos Gráficos, ou não podem

fornecer nenhum dado sobre a empresa, ou essas datas se

perderam na passagem do processo de arquivamento manual

(fichas) para o digital (arquivos de computador).

Este trabalho vem acrescentar ao registro de uma parte

da história do design gráfico de Caruaru, que ainda precisa

ser mais bem estudada. A tipografia em Caruaru foi

grandiosa, quando se fala sobre o assunto com as pessoas,

elas citam várias outras que poderiam dar qualquer

informação, ou que viveram essa história, seja como

proprietário ou como funcionário.

Em uma conversa rápida e informal com o Sr. Luiz

Romário, irmão de Rui Chapista, o melhor gráfico de

Pernambuco (arrisca-se ele a dizer), descobri que a Tipografia

Brasil, por conta da competitividade, premiava seus

funcionários de acordo com a produção. Por isso ficou muito

endividada, e em uma certa segunda-feira seus funcionários

chegaram para trabalhar e encontraram as portas fechadas.

Não se conseguia contatar ninguém responsável pela

tipografia e logo se soube que ali nada mais existia. O dono

da tipografia fechou suas portas e sumiu com tudo o que

estava dentro no fim de semana, sem dar nenhuma

informação, para não pagar as dívidas. Histórias como essas,

abundantes na trajetória tipográfica caruaruense, precisam ser

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investigadas e contadas com mais propriedade. Este trabalho

revelou, sobretudo, que existem muitas pessoas vivas para

contá-las.

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Apêndice 1

- Nome:

- Idade:

- Como começou a se interessar e lidar com tipografia?

- Quando e como abriu sua gráfica?

- Tinha sócios?

- Quais equipamentos eram utilizados?

- Como adquiriu os equipamentos?

- Como se dava a manutenção dos equipamentos?

- Numero de funcionários?

- Quando deixou de trabalhar com tipografia?

- Quais impressoras foram adquiridas?

- Quem apontaria como concorrentes?

- Em sua opinião qual gráfica foi a primeira a trabalhar com o

sistema tipográfico?

- Quais serviços eram produzidos quando usava o sistema de

impressão tipográfico?

- Quais papéis mais usados?

- Quem era os fornecedores de insumos de produção?

- Já existia gráfica antes do sistema tipográfico?

- Como os funcionários usavam esse sistema, como

aprenderam?

- O que causou a vinda da tipografia em Caruaru

- Tinha algo relevante acontecendo em Caruaru junto com o

marco da tipografia?

- Lembra-se de algum marco da tipografia, de quando

começou a trabalhar até os dias atuais?

- Em sua opinião porque tem gráficas que ainda trabalham

com tipografia?

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Apêndice 2

Nome

Idade

Com quantos anos e como começou a lidar com tipografia?

Trajetória da empresa

- Quando e como abriu sua gráfica?

- Tinha sócios?

- Numero de funcionário?

- Como os funcionários usavam esse sistema, como

aprenderam?

- Quais equipamentos eram utilizados?

- Como adquiriu os equipamentos?

- Como se dava a manutenção dos equipamentos?

- Quais serviços eram produzidos quando usava o sistema de

impressão tipográfico?

- Quais papéis e tintas eram mais usados, e onde comprava?

Outras tipografias

- Já existia gráfica antes do sistema tipográfico?

- O que causou a vinda da tipografia em Caruaru?

- Em sua opinião qual gráfica foi a primeira a trabalhar com o

sistema tipográfico?

- Quem apontaria como concorrentes?

- Quando deixou de trabalhar com tipografia?

- Quais fins foram dados aos equipamentos tipográficos da

sua gráfica?

- Porque deixou de trabalhar com tipografia?

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Apêndice 3

Nome: Wilson Américo da Silva

Idade: 61 anos – 07 de julho de 1951

Como começou a se interessar e lidar com tipografia?

Meu pai morreu em 1957 e 1958 eu comecei a trabalhar na

estudantil com Dr. Galvão.

Trajetória da empresa

- Quando e como abriu sua gráfica?

Trabalhava na Estudantil desde 1958, 59, 60, como faxineiro.

Depois eu comecei me interessando e fui aprendendo arte

gráfica, trabalhando em encadernação, confecção depois

passei para o corte, depois passei pra ser chapista, que

naquele tempo era onde se botava os tipos, se chamava de

chapista, que se fazia as chapas para se botar nas máquinas

de imprimir, impressão. Em 1962, 63 eu comecei já. E em

1971 eu deixei de trabalhar em gráfica para os outros e botei

uma gráfica pra mim. E desde 1970 até hoje, 2012 eu ainda

tenho gráfica minha, tenho 42, 43 anos de gráfica minha.

- Quando o senhor trabalhava lá na estudantil que tipo de

serviços o senhor produzia?

Revista de Servantes, que era colunista social. Depois eu fui

trabalhar na Voz do Agreste com Tabosa de Almeida, que se

chamava a Voz do Agreste que era um jornal que saia

semanal. Depois eu fui trabalhar na Vanguarda, que saia

semanal também. Depois eu fui trabalhar no jornal A Defesa,

não me lembro a data, faz muitos anos não me recordo mais

não. Depois eu fui trabalhar em Tavares. Todas essas

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gráficas que eu trabalhei eu só fui somente aprendendo e

aumentando o ritmo das gráficas, quando eu via que não

dava mais pra mim naquele trabalho, naquele local, eu

passava pra outra gráfica, porque? Por que meu nível de

trabalho não suportava mais aquilo eu tava muito elevado. Foi

quando eu cheguei em 1970 eu botei uma gráfica pra mim,

que 1971 nasceu o primeiro filho meu.

- Tinha sócios?

Nunca teve.

- Quais equipamentos eram utilizados?

Era máquina de impressão, na estudantil, no caso, era

máquina de impressão, era máquina de corte, máquina de

vinco, máquina de bater papel, guilhotina, tipos era uma

gráfica, não era uma tipografia totalmente. Depois foi

passando para tipografia, a tipografia era uma coisa mais

elevada, é uma coisa que requer mais linotipos, é uma

máquina de fazer jornal, que se chamava lingões, era

derretido o chumbo e o chumbo agente ficava batendo feito

uma máquina de escrever, e ficava formando as letras, se

chamava lingões.

- Quando o senhor montou sua gráfica quais os

equipamentos, qual foi sua primeira impressora? Conte a

história.

Minha história é o seguinte: eu trabalhava em seu Costa,

nesse tempo eu trabalhava com ele que ele precisava de uma

pessoa para poder, melhorar a sua gráfica, a gráfica era

Ramiro e Costas, que ele tinha uma livraria: Costa e Silva.

Depois ele mudou para Ramiros e Costas que era uma

gráfica, aí eu trabalhando nela, eu tinha vários clientes que

gostava muito de mim, como inclusive o Professor Rubens do

Sete de Setembro. Foi ele que fez o seguinte: Wilson você

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vem tomar conta da minha banda marcial, que eu era instrutor

de banda também e eu lhe dou uma máquina de impressão.

Foi quando a primeira máquina de impressão, que eu comprei

uma máquina de impressão manual, eu não lembro o nome

da máquina, mas era feito uma minerva, manual.

- Como adquiriu os equipamentos?

Eu comprei à Gráfica Pontes, era um rapaz que queria

melhorar o equipamento dele e eu comprei a máquina dele.

Aí eu comprei essa máquina, era manual mesmo, não era

elétrica manual não, era manual completa, que existia a

máquina elétrica manual que você colocava e tirava o papel,

e ela imprimia. Depois veio a offset , vem a heidelberg , essas

máquinas que trabalhavam só.

- Como se dava a manutenção dos equipamentos?

Era eu mesmo que fazia a manutenção dos equipamentos,

porque desde quando eu comecei em gráfica, eu trabalhava

em gráfica e consertava as máquinas das gráficas que eu

trabalhava. Aí fui aprendendo cada vez mais, com torneiro

mecânico, era curiosidade mais. Porque essas máquinas não

eram tão difíceis, tão sofisticada, vinheram se transformar as

máquinas mais sofisticas, depois que veio a linotipo a

multilith, catu, aí começou essas máquinas automáticas que

começou a evolução de 1970 pra cá.

- Numero de funcionários?

Já cheguei ao ponto da minha gráfica ter oito funcionários.

Mas quando eu comecei eram só dois, eu e Marinho, que era

o filho de Mário Bruaca que foi quem me ensinou em gráfica,

que ele era o chefe mesmo, ele era um artista, um

profissional de mão cheia. Mário Queiroz, só chamava com

ele Mário Bruaca. E Marinho depois veio trabalhar comigo, aí

veio Maurílio, irmão dele, e sucessivamente.

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- Quando deixou de trabalhar com tipografia?

Ainda hoje eu trabalho com tipografia. Porque existe muitas

coisas que na off set não se faz, como se fazia. Existem

máquinas sofisticadas, que ela numera, imprime encaderna,

mas tem coisas muito melindrosas, como cartões de

casamento, muitas coisas mais sofisticadas que são mais

manuais, agente faz mais artesanal, muita gente gosta da

coisa artesanal.

- Quais impressoras foram adquiridas?

Aí eu fui adquirindo outras impressoras eu fui comprar uma

minerva, era semi automática, tinha máquina de cortar,

máquina de vinco e corte, off set hoje, e cada vez mais que

eu ia trabalhando eu ia aprendendo mais, que agente nunca

deixa de aprender, gráfica não, gráfica quanto mais se

aprende mais tem o que aprender. Mas antigamente, tinha o

prelo, pra tirar provas, tinha a máquina de cortar, a de picotar

de pedal, tinha várias máquina no mesmo sentido, eram tudo

máquinas iguais sendo de formatos diferentes, uma era

formato 36, outra era formato 18, outra era formato 8, que era

o tamanho da rama, que se chamava porque 36 era que dava

36 pedaços no tamanho de uma olha industrial, que uma folha

industrial de papel era 96 por 66cm.

- Quem apontaria como concorrentes?

Na época quando eu comecei existia 5 ou 6 gráficas em

Caruaru só. Era a Estudantil, Vanguarda, Defesa, Tipografia

Comercial, Costa e Silva e Gráfica Pontes que eu me lembre.

Depois foi que começou, eu botei uma gráfica, aí Bernito

botou outra, Mário Queiroz que era meu chefe botou uma

gráfica pra ele, aí começou aumentando as gráficas em

Caruaru que agora tem uma média de umas 58 gráficas.

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- Em sua opinião qual gráfica foi a primeira a trabalhar

com o sistema tipográfico?

O primeiro que chegou com gráfica em Caruaru Foi Leite e

Silva, era com Dr. Galvão (S. Galvão Cavalcanti), em 1945

mai sou menos isso se eu não estou enganado, na Estudantil,

na lateral alí começou a gráfica. Era de Leite e Silva e Dr.

Galvão comprou. A Caruaru Gráfica veio muito depois, era

funcionário de Dr. Galvão, que se chamava Tipografia

Comercial.

- Quais serviços eram produzidos quando usava o

sistema de impressão tipográfico?

Tudo. Era talão, cartão, panfleto, papel ofício, envelope cartão

de casamento, santo de luto, que naquele tempo não existia

computador, agente pegava a foto e levaria pra Recife, pra

fazer o clichê de zinco na clicheria Pecorel, na rua Pácio da

Pátria, pra poder fazer a impressão da foto, em preto e

branco, que não existia colorido naquela época,

- Quais papéis mais usados?

Papel 18 Quilo branco, papel jornal, papel super bond rosa,

amarelo, verde e azul, eram essas quatro cores que existiam,

cartolina, papel 60, papel 40, papel linho, tanto existia o papel

linho, como a cartolina linho pra fazer convite de casamento e

cartões de visita.

- Sentia alguma dificuldade para os concorrentes?

Demais até, porque eles faziam com mais rapidez e com

melhor qualidade, porque com mais qualidade? Por que se

comparava uma máquina que trabalhava com dois, três rolos

na chapa, que significava que a tinta passava três rolos, que

chamava-se cilindro, na chapa, que imprimia no papel, aí saia

com mais qualidade com mais perfeição. E na minha só tinha

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um rolo. Era coisinha pequena, agente fazia quase como se

fosse artesanal.

- As variações de tipos tinha muito?

Eu comecei com três, o que se chamava caixeta, fontes de

tipos, a gente comprava por quilo. Aí existia a formação dos

tipos, 6, o 8, o 10, o 12, significa o tamanho da letra, que isso

se chamava naquela época cíceros. Quanto ao tipo da letra,

tinha manuscrito, romano, existia uma faixa de 100, 200,

como agora existe fontes de letra 5.000, 10.000. De cada tipo

eu tinha mais ou menos umas 24 caixetas, tinha um tipo 12

mais fino, mais “grossinho”, muito grosso, estilo arial, arial

Black, como tem as fontes no computador, tinha em gráfica.

- Quem era os fornecedores de insumos de produção?

Eu comprava em Recife na Funtimod, que era em São Paulo,

mas existia um representante que era Geraldo em Recife.

Todas tintas eram de Recife, a melhor tinta que existia e é

ainda hoje era a Cromos, porque ela demorava a secar nos

rolos e secava rápido no papel. Os fornecedores manege,

leibinger, Funtimod, Catu, Minerva, tinha em Recife, mas

eram representantes das de São Paulo. Aqui em Caruaru

tinha a Estudantil, que ele comprava em São Paulo para

revender aqui, que muitas vezes agente comprava aqui mais

caro, porque não compensava agente sair daqui pra comprar

só uma resma de papel, porque o custo de transporte, como

era muito distante, não tinha a facilidade que se tem hoje, as

pistas eram precárias, eram três horas pra poder chegar a

recife, e agora não com uma hora e meia, agente ta ali em

Recife, com a duplicação.

- Já existia gráfica antes do sistema tipográfico?

Não. As impressoras foram importadas da Alemanha. O que

existia era a diferença de jornal para a gráfica comercial,

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porque os jornais tinham também os tipos mais usavam mais

linotipos, por que? Porque estragava muito a impressão, e o

linotipo renova constantemente os tipos, quase todo dia,

existiam as pessoas que faziam paginação do jornal, que era

quem pegavam os lingões e fazia a paginação, era mais

rápido, porque pra você botar de letra em letra ia demorar

muito tempo pra você compor, pra fazer uma página daquela

vamos supor que passasse uma semana, e na linotipo ele

fazia dentro de duas horas, depois era só montar. Foi

começando jornal mensal, jornal semanal e chegou ao ponto

de até de quererem colocar um jornal diário, mas não deu

certo.

- Como os funcionários usavam esse sistema, como

aprenderam?

Existia a curiosidade naquele tempo, como era fácil de se

manusear e então os que já sabiam iam ensinando, como

Mário Queiroz um dos melhores em Caruaru, também eram

Gilvan da Vanguarda, Edvaldo da Defesa, Rodrigues e Costa,

seu Luiz da tipografia Comercial. Foram os mais antigos a

começar a trabalhar com tipografia. Viram como era e

ensinavam às pessoas, eu mesmo fui um, que minha mãe me

pediu a Mário Queiroz pra tomar conta de mim e me ensinar a

profissão, e eu comecei em gráfica fazendo o que, varrendo a

casa, lavando o banheiro, fazendo recado, indo buscar

comida para os funcionários, aí comecei me interassando, ia

pra confecção, que é rápido, é uma coisa prática pra se

aprender, aí da confecção ele botava pra picotar, depois ele

botava pra ir pra chapa, botava pra cortar papel, porque tinha

os formatos tudo pronto já, como era o tamanho pra se cortar,

e eu ia fazendo e aprendendo. Aí começou se tornando difícil

porque foi modernizando, as máquinas foram se aprimorando,

como a linotipo, feito o computador, quando começou o

computador era um computador desse tamanho, agora é feito

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uma caixa de fósforos, quer dizer que tudo naquele tempo era

difícil de aprender, mais era mais fácil de lidar com as

máquinas, aí a demanda era muito pouca, quatro, cinco

funcionários já tomavam conta do mercado, porque o

comércio de Caruaru não era muito amplo.

- O que causou a vinda da tipografia em Caruaru

Eu não me lembro, porque na época que eu nasci já existia

Dr. Galvão. Teve algumas pessoas como Nebrídio Falcão,

Almirante, pessoas que já trabalhava, lidava em gráfica, aí

veio de Recife para morar em Caruaru, teve uns que eram

filhos de Caruaru, nascido aqui, aí começou aprendendo e aí

foi desenvolvendo. Mas Dr. Galvão foi muito interassado pela

cidade de Caruaru, ele queria o crescimento de Caruaru o

mais rápido possível, tão provável que muitos filhos que não

tinha onde ler, não tinha condições de comprar livros, ia pra

estudantil, tinha como se fosse uma biblioteca, agente pegava

estudava, passava o dia estudando lá. Dr. Galvão fez questão

de ajudar Caruaru.

Tinha os jornais, mas era o seguinte, o jornal Vanguarda com

Gilvan da Vanguarda, que ele trabalhava na Estudantil com

seu Lula, que depois montou uma gráfica pequena no

Salgado, e seu Lula foi trabalhar no Jornal Vanguarda e no A

Defesa no mesmo tempo, trabalhava num expediente em um

e o outro expediente no outro, pra poder formar o jornal

mensal, depois foi o jornal semanal. Teve o jornal A Voz do

Agreste do Deputado Tabosa de Almeida que foi ele quem

trouxe a faculdade ASCES pra Caruaru. Na Rua da Matriz

para a Prefeitura, era um prédio só, ele botou cursos do Jornal

do Agreste para as pessoas aprenderem a costurar, a

datilografar, junto com a amizade de Dr. Galvão, que Dr.

Galvão era quem pegava esses grandes empresários e trazia

para crescer Caruaru.

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- Tinha algo relevante acontecendo em Caruaru junto com

o marco da tipografia?

Eu era muito pequeno, e meu tempo era muito curto, do

trabalho pra casa de casa pra escola, não observei nada de

fora. Mas o que impulsionou a tipografia foi a demanda que

você teria que sair de Caruaru pra ir fazer os materiais

gráficos em Recife, como era longe e muitas vezes as

pessoas precisavam de coisas pequenas, eram cinco talões,

não compensava ir pra Recife, tinha juntar um pacote pra de

mês em mês ir pra Recife, só entregava com 30, 60 dias

depois, porque lá em Recife tinha muitas gráficas, mas em

compensação a demanda era muito grande. Naquele tempo,

tinha as pessoas que faziam esse serviço de juntar e levar pra

Recife, era Almirante, Lula da Vanguarda, aí foi quando Dr.

Galvão se interessou em colocar a gráfica comercial em

Caruaru, e daí foi crescendo.

- Lembra-se de algum marco da tipografia, de quando

começou a trabalhar até os dias atuais?

O que foi gratificante pra mim foi o seguinte: Que em 1975 ou

foi 76, eu não me lembro o ano, Servantes fez uma revista

aqui em Caruaru, que no Estado de Pernambuco, nós: a

Estudantil, tirou em primeiro lugar em paginação, em

diagramação, em confecção e no material gráfico, com as

gráficas que tínhamos em Caruaru que não eram sofisticadas

feito as de Recife, mas os funcionários que nós tínhamos

eram capacitados, eram inteligentes, e bons e fazia com

amor. Aí foi quando despertou em Caruaru e todo mundo foi

abrindo uma gráfica. Como hoje começa aprendendo e abre

um negócio em casa, que não tem encargos sociais, não paga

água, luz, aluguel e vai concorrer com você que paga seus

direitos e seus funcionários todos legais. Agora todo mundo

bota uma impressora com bulk-ink, um computador e já está

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trabalhando fazendo cartão, fazendo vários serviços, e pode

vender pela metade do preço. A gente pra rodar com

qualidade roda na off set, eles imprimem em impressora,

mesmo que borre quando o cliente pega com a mão molhada,

mas tem gente que só quer preço.

Na época de gráfica, foi um avanço muito grande pra mim,

quando eu passei da manual para a minerva, a demanda era

a seguinte: se você com a manual tirava, vamos supor, dez

serviços em uma semana, com a elétrica, semi-automática,

você tira os dez em uma dia.

- Em sua opinião porque tem gráficas que ainda

trabalham com tipografia?

O serviço de tipografia nunca vai deixar de existir, porque

existem determinadas coisas, que você mesmo pode fazer,

não dependendo de material humano, que é uma dificuldade

em todos os sentidos no mundo é material humano, que as

pessoas hoje em dia só querem emprego, não é trabalho não.

Antigamente agente queria trabalho. E as pessoas mais

antigas não sabem lidar com essas novas tecnologias, esses

novos equipamentos, e não tem dinheiro pra comprar uma

impressora como a off set, sempre viveram de gráfica, então

continuam com tipografia, porque a pessoa mesmo é quem

meche, sabe de tudo do conserto ao serviço embalado. E

você ter um funcionário muitas vezes não compensa o que é

gasto com ele e o que ele apura de retorno para a gráfica. Aí

você prefere trabalhar sozinho ou com um filho, como você,

que me ajudava, eu você, sua mãe, seu irmão, a gente era

uma equipe de casa.

Minha loucura, minha vontade era pegar aqui no Distrito

Industrial, e colocar uma gráfica feito um sindicato gráfico,

com bons funcionários, tira as despesas, e o restante divide

com os funcionários, aí todo mundo trabalhava com gosto,

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mas o que é que acontece, é cobra engolindo cobra, cada um

vai querer ganhar mais do que o outro, vai ter um que vai

trabalhar menos que os outros.

Eu amo gráfica. Eu sou apaixonado por gráfica. Minha vida é

gráfica. Eu vou morrer dentro de uma gráfica se Deus quiser,

quero ter 90, 100 anos, dentro de uma gráfica trabalhando, eu

não sei fazer outra coisa. E de mim passou pra vocês, Junior

tem uma gráfica e você sabe seguir o caminho.

Nome: Ivan José de Carvalho Galvão

Filho de: Severino Galvão Cavalcanti e Maria de Lourdes

Carvalho Galvão

Idade: 65 anos – 17 de fevereiro 1947, na Rua Duque de

Caxias, 49 – Caruaru-PE

Com quantos anos e como começou a lidar com

tipografia?

Desde os 14 anos que o meu pai disse que eu tinha que ter

alguma coisa na vida, eu gostava de jogar futebol no colégio,

e ele disse: “vai querer ser jogador de futebol então vá pra lá,

se quiser ser alguém na vida, então venha pra cá, porque

aqui no sábado é dia de feira, no dia que tinha uns moradores

do mato, ele não gostava de dizer os matutos, ele não

gostava desse nome, o pessoal vem do sítio, do mato, do

interior vem pra cidade e como a gente tem uma linha de

produto que eles procuram muito, então eles vêm aqui pra

loja, é a de você conhecê-los, e chegando pra cá não tem que

se isolar, chegando pra cá vai ter que conversar com um,

conversar com outro pra saber que você existe num é, que a

empresa existe também”. E eu ficava danado da vida porque

meus colegas, eu gostava de jogar futebol, eu não era essas

coisas todas na bola não, não era muito bom não, mas meus

colegas diziam: vamos jogar, vamos jogar. Aí eu dizia: não eu

tenho um compromisso. Dia de sábado não tinha aula mas

tinha um campeonato interno do colégio de Caruaru, acho

que ainda era Colégio de Caruaru, depois é que passou a ser

Colégio Diocesano.

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Muito bem, então desde os 14 anos eu estava na loja, fazia

os serviços de banco da loja, e da tipografia, que era anexa

no primeiro prédio. Eu era conhecido do banco, porque eu

aprendi que tinha que me relacionar com todas as pessoas,

então quando eu chegava no banco por fora tinha alguns

bancários que morava perto da casa do meu e eu morava lá

na casa do meu pai, e de manhã cedo eles acordavam, eu

também acordava cedo e ficava rondando por ali, encontrava

um encontrava outro, falava com eles, bom dia, e eles

olhavam e conversavam e tudo mais, então eu comecei a

ficar conhecido não no meio comercial, porque eu passava na

frente das residências dos funcionários do banco do Brasil e

daí então eu comecei a ter um aproveitamento maior na

minha hora comercial, porque eu naquela época é quem ia

fazer os serviços de banco aqui.

O layout da loja era o seguinte: eram seis portas de frente e

oito portas de fundo de lateral, do beco, as primeiras seis

portas de frente pertenciam ao salão da loja juntamente com

quatro portas ao lado, as duas portas seguintes eram a

gráfica, e as outras duas portas de lá de trás fizeram o

depósito onde estavam reunidos os materiais da gráfica e os

da livraria. Mas geralmente era papel. Daí aos 14 anos

quando eu chegava ao banco os funcionários do banco não

me deixavam na fila, faziam um sinal, e a entrada do banco

tinha uma porta pela lateral, e eles faziam o sinal e eu entrava

pela lateral, e do lado de fora do balcão os clientes do lado

com os funcionários, e eu estava do lado de dentro junto com

os funcionários, eu ia direto para o caixa por conta dessa

amizade que eu consegui com eles. Então naquele tempo eu

já consegui fazer alguma coisa de diferente, e continuo ainda

hoje querendo ser diferente de todo mundo, mais brabo, mais

chato, mais abusado, mais tudo. Aí acontece que naquela

época a livraria estudantil já contava cm a tipografia.

Trajetória da empresa

- Quando e como abriu sua gráfica?

A livraria estudantil foi fundada em 1942, e hoje no mês de

agosto nós estamos completando 70 anos. E mais ou menos

em 1944, entre 44 e 45, Dr. Galvão comprou uma tipografia

de um cidadão amigo dele que era em Palmares. Eram duas

ou três máquinas pequenas desse cidadão, eu não me

lembro do nome dele, e não vou me lembrar, mas ele era de

Palmares, até pouco tempo ele teve aqui na loja, pouco

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tempo que eu digo, é menos de um ano. E ele trouxe pra

Caruaru, montou a tipografia no segundo salão da loja, no

prédio aqui da livraria, então nós começamos a funcionar, nós

não eu ainda não estava no meio, a tipografia começou a

funcionar, e de repente quando eu dei por mim eu estava

também participando dos movimentos da tipografia e lembro

muito bem que no começo nós tínhamos uma máquina de

cortar, a segunda máquina era daquele tipo minerva que abre

e fecha, a terceira também, a quarta máquina chegou aqui

sem motor elétrico, era uma minerva que funcionava também

com um pedal, era uma máquina mais para aprendizes, eram

as três máquinas que tinham, a máquina de corte e as

minervas. E de repente então, a gráfica começava a funcionar

dessa maneira, os pacotes eram preparados, colocados em

um quartinho ao lado e a confecção funcionava no terceiro

salão que era o estoque. Nós imprimíamos, alguns

jornaisinhos de colégios, talões de notas fiscais, panfletos,

nós fazíamos rótulos de garrafa, tudo isso em tipografia, não

tinha nada de off set, nós imprimíamos bônus, tinha umas

lojas comerciais aqui que as pessoas compravam e

ganhavam como prêmio bônus, que era pra botar na urna, ou

juntar qualquer coisa, que era pra ganhar prêmios, uma delas

era o Armazém do Norte. Senhas para receber café, sorvete;

passagens de ônibus, tinha várias empresas de ônibus aqui

de Caruaru, guias fiscais.

- Tinha alguma coisa ligada à livraria, por exemplo,

livros?

Não naquela época não imprimia livros naquelas máquinas,

não. Porém folhetos, cordéis sim.

Daí a gente tinha, na parte de confecção, tínhamos talão de

nota fiscal, nós tínhamos outros tipos de talão também, que

vendíamos aqui na loja, inclusive na época, lembro bem que

não existia grampeadera, eram umas taxas, aquelas taxas de

sapateiro, que colocava em cima de uma mesa de ferro, batia

com um martelo aqui em cima e ela virava, acho que você se

lembra de te ter feito isso lá também, depois virava do outro

lado e batia uma taxa pra compensar, pra ficar presa de um

lado e de outro, depois é que surgiram as grampeaderas.

- Como foi que comprou a gráfica de Leite e Silva?

Vamos lá, em 1959 mais ou menos, 58 pra 59, Dr. Galvão

recebeu uma oferta dizendo que a tipografia Leite e Silva ia

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fechar, e ele disse que compraria a tipografia Leite e Silva

com máquinas, com tudo que tivesse, com papel com estoque

e tudo mais. Eu me recordo, eu não participei do negócio, mas

assisti muitas e muitas fases desse negócio, inclusive Sr.

Ariberto Torres tirando algumas coisas de documentos

pessoais, tirando algumas coisas que trabalhava e entregando

pra gente as instalações da tipografia Leite e Silva, que era na

Vigário Freire, nº 14, acho que era 14, onde hoje funciona

aquela loja de modas Drop´s. E nós transferimos as nossas

máquinas pra lá, porque a essa altura nós precisávamos de

espaço para a área comercial e a tipografia era uma área

industrial. Como nós precisávamos de um espaço aqui e o

objetivo e a visão de Dr. Galvão, foi justamente tirar uma

tipografia que estava junto da gente, que fazia concorrência e

ao mesmo tempo fazer com que arranjasse um novo espaço

para que agente disponibilizasse o nosso para o comércio.

Saiu daqui, a tipografia Estudantil e foi se instalar onde até o

dia anterior era a tipografai Leite e Silva. Da tipografia Leite e

Silva permaneceram alguns funcionários, nem todos foram

embora, eu lembro pelo menos duas pessoas que

permanecerão aqui na transição da Leite e Silva para a

Estudantil, um deles foi Antônio Cordeiro, o outro eu não me

lembro, to vendo ele na mente, mas não estou enxergando o

nome. Crescemos o número de funcionários, porque a essa

altura nós tínhamos abraçado duas tipografias. E essa de lá,

era uma casa onde as portas eram vermelhas, daquele tipo de

porta que comumente chama-se saia e blusa, eram duas

portas de frente, uma delas permanecia fechada e a outra

permanecia aberta, pelo lado de dentro da que permanecia

fechada tinha um birorzinho de atendimento e junto era o

estoque de papel. Essa casa bege com portas vermelhas

tinha o nome em cima tipografia Estudantil substituindo o

nome Leite e Silva. Daí então, como a casa era estreita as

máquinas e prelos eram todas colocadas em linha, das

primeiras até o final e no final chegava, antes de chegar nos

sanitários lá atrás, era a confecção. Era interessante, e eu

lembro muito bem, embora não participasse ativamente, mas

eu ia lá, porque as máquinas faziam um barulho muito grande

e aquele barulho eu gostava de escutar, por conta de sentir

que o maquinário produz fazendo barulho, a referência que eu

tinha era essa: só se produz fazendo barulho. E ainda hoje eu

tenho essa nossa noção, eu sinto uma vibração interior

quando eu vejo as máquinas da gráfica rodarem, mas mais

silenciosas é claro. De repente você vai perceber que a

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livraria, continua no canto que está, mas a tipografia passa da

Vigário Freire, 14, passa um pouquinho mais adiante para

uma casa bem mais larga, onde antigamente funcionava uma

sorveteria, no nº 50. Passou muito tempo lá, nós passamos

salvo engano até o final da década de 60 começo da década

de 70. Quando a gráfica passou pra lá aí meu pai me disse

você agora vai assumir a gráfica, mas eu não tenho noção do

ano que passamos pra lá, a gráfica foi pra lá, eu inclusive

participei da reforma que tinha que ser feita, modificamos

algumas coisas lá, botamos as estantes dos tipos na frente,

fizemos um pequeno salão onde o atendimento não era lá, lá

era só a revisão, e o atendimento passava a serem no centro

da livraria, as encomendas eram deixadas na livraria, e na

tipografia tinha uma pessoa, um coordenador, que recebia a

encomenda e tinha a missão de distribuir aos funcionários

que fariam o levantamento dos tipos, fariam a impressão,

fariam a confecção e deixariam as mercadorias prontas e

voltavam empacotadas para cá (livraria), e o cliente vinha

buscar aqui na data marcada.

- Tinha sócios?

Não. Aí eu comecei a mexer com a tipografia e comecei a

entender mais ou menos do processo. Eu aprendi olhando os

funcionários.

- Qual número de funcionários? Como os funcionários

usavam esse sistema, como aprenderam?

Vamos tratar do assunto funcionários agora, quando eu me

lembro da tipografia ainda aqui nos fundos da Estudantil, eu

me lembro que no corte tinha seu Luiz, me lembro que tinha

mais três impressores, tinha duas meninas na confecção,

tinha um rapaz que era o faz tudo, o varredor e tudo mais,

tinha outra pessoa que entregava as mercadorias, tinha

também mais outro cidadão irmão de seu Luiz que chamava

com ele Almirante, quando nós passamos pra lá Almirante

deixou a empresa porque foi trabalhar com outra gráfica e seu

Luiz começou a assumir,porém mais outros funcionários que

vieram de lá pra cá passaram a integrar um conjunto de

serviços, o Antônio Cordeiro era um dos que passava a ter

função dupla ou talvez tripla, ele trabalhava na confecção, no

corte e ainda fazia alguma coisa de composição tipográfica,

usando os tipos, os componedores, as galés, as bolandeiras,

aquelas coisas todas. Daí quando nós passamos para a

terceira, nós tínhamos outros funcionários, porque esses aí

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foram feitos nas instalações da Leite e Silva, aí nós

trouxemos 3 pessoas, 3 que chegaram da Leite e Silva mais

três que se integraram ao grupo, a essa altura a tipografia

estudantil crescia bem, crescia muito bem. Não éramos

pioneiras porque existiam outras anteriores, a Leite e Silva

era uma das anteriores aqui, a tipografia Brasil também era

outra anterior, a do Jornal Vanguarda que era de um dos

coronéis políticos da cidade, a tipografia era alugada ao

Jornal Vanguarda, mas já existia, eu acredito que mais rudes

do que essa daí, mas existiam 3 ou 4 tipografias anteriores

que a Estudantil, mas não me recordo o nome, vamos dizer

que era uma tipografia de cunho mais pessoal, tinham o jornal

daquele grupo político que faziam as impressões daquele

grupo, tinham trabalhos, naquela época o comércio era

pequeno, a cidade era pequena, os talões notas fiscais eram

poucos, então a quantidade era muito menor, mas existia

algumas gráficas anteriores, gráficas essas que fizeram

funcionários lá e que de repente vieram trabalhar na

Estudantil, então o aprendizado de muitos deles foram feitos

em outras gráficas daqui da cidade mesmo. De fora eu

lembro de dois ou três funcionários, a primeira automática

que nós compramos, uma máquina Mercedes holandesa, que

era máquina plana, que tinha um peso absurdo, então nós

trouxemos um técnico de Recife chamado seu Nebrídio, para

trabalhar nessa máquina, depois eu Nebrídio conseguiu

colocar o filho dele para trabalhar com agente aqui e ele se

desenvolveu, quando seu Nebrídio deixou o filho dele ficou

trabalhando na gráfica. Tinha outras pessoas de fora, tinha

um cidadão que veio de fora pra cá, já um pouco idoso com

vontade de terminar os dias dele aqui em Caruaru, o nome

dele era seu Adelino, ele era um compositor interessante,

rápido e responsável, mas outros quando derivavam para a

cachaça aí passavam um ou dois dias sem vir, em gráfica

tinha muitas pessoas que gostavam desse tipo de coisas.

- Quais equipamentos eram utilizados?

A primeira máquina Mercedes Holandesas foi a primeira

máquina que adquirimos depois da Leite e Silva, essa aí já

era uma máquina automática que tinha uma produção muito

forte, naquela época fazia 3.600 impressos por hora,

enquanto uma máquina manual só fazia, quem era prático,

umas 1.100, e olhe lá não era todo mundo não. Não tinha

Linotipo, era composição manual. Essa máquina demorou

muito tempo em utilização, até pouco tempo nós usávamos

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ela para serviços auxiliares, numeração. Mas quando nós

chegamos aproximadamente 1969, 70, quando passamos

para a outra instalação poucos tempos depois, não demorou

nem um ano, aí nós compramos essa máquina, essa

Mercedes. Era a única em Caruaru. Automáticas, a

Vanguarda comprou duas máquinas automáticas, heidelberg,

mas eram de palheta, era tipo minerva, mas ela já alimentava

tipo palheta, chamava palhetinha. Dessas máquinas aí nós

tivemos dela também, e hoje ainda temos dela funcionando,

para numeração e corte e vinco.

Passamos muito tempo lá, então depois, onde está instalada

a gráfica, aquele prédio meu pai construiu com o engenheiro,

e eu era estudante fazia admissão ao ginásio, era como um

vestibular para se passar para um curso, e um engenheiro

Dalí fazia comigo as contas, os problemas de matemática,

que tinha hora que eu não sabia. O engenheiro vinha uma

vez por semana da assistência a obra e quando chegava aqui

eu pedia a ele pra me ajudar, e ele me ensinava e eu comecei

a gostar de matemática por conta de uma das coisas era que

o banco econômico se instalava aqui e o Banco econômico

um dia sai daqui, foi alugado temporariamente para uma

fábrica de confecção, e logo em seguida procuramos ocupar

aquele espaço que era três vezes maior do que o espaço

anterior, veja só, aí nós já vamos, pela primeira, pela

segunda, pela terceira e pela quarta instalação da gráfica, e

hoje estamos preparando a quinta instalação no Distrito

Industrial, a área que vamos trabalhar com o primeiro módulo

800 metros, depois que estivemos funcionado lá

aumentaremos mais 800 metros. Aqui nós vamos centralizar

ao atendimento ao cliente, gráfica rápida, e lá a produção

gráfica. Como hoje existe a facilidade de trabalhar com meio

digital, via e-mail, então agente vai ter oportunidade de jogar

pra lá através da rede, com todas as informações tudo

direitinho, e quando sair o produto pronto pode ser tratado

direto ao cliente ou vem para aqui para ser entregue.

Eu me lembro que ainda na terceira instalação Vigário Freire,

nº 50, chegou uma pessoa dizendo aqui existia um método

novo de imprimir que não precisava de tipos, veja como era

rude o nosso conhecimento, era como se fosse um

mimeografo que as escolas usavam com álcool, mas não era

com álcool que funcionava, era uma máquina impressora

mais aperfeiçoada que o mimeografo cujo nome era Guerrá,

era uma máquina japonesa que imprimia numa rapidez maior

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do que aquele de 3.600 unidades. Essa máquina trabalhava

com alimentação automática, eram rolos de borracha, as

chapas eram gravadas, aí já era o principio da off-set, as

chapas eram gravadas através da luminosidade, em seguida

preparada com um tipo de verniz para que não oxidassem. Aí

é que nós tivemos produção. Nós tínhamos no primeiro andar

um departamento de arte, que era tudo manual, os textos

eram na base do normógrafo, já pensou um texto todinho

letrinha por letrinha em cima de um normógrafo. Depois

passou para a máquina de escrever IBM, depois um

aprimoramento, surgiu a Compuser, que se utilizava de letras

Decadir. A parte de fotografia era feita numa máquina escura

que nós tínhamos também aqui em cima junto com o

departamento de arte.

Essa primeira máquina Guerrá, nós trocamos por uma

máquina chamada Abdick, era uma máquina alemã,

desenvolvida nos E.U.A. e aumentos o funcionamento das

máquinas, mas as máquinas rodam e paravam, por conta das

matrizes que não tinham pessoas suficientes para desenhar

as matrizes. E a tipografia tava caindo, em desuso, por conta

do tipo de impressão, por conta da qualidade de impressão

que não era perfeita, se eu precisasse usar fotografia, eu

tinha que fazer um clichê. A off-set era bem mais eficaz,

embora não tenha perdido ainda, só muito depois que nós

abandonamos a parte tipográfica.

- Como adquiriu os equipamentos?

Depois da Leite e Silva, existiam importadores que por

encomenda trazia essas máquina da Europa, como o Oscar

Nunes, outro era Tejanér, vendia máquina e papel.

- Quais papéis e tintas eram mais usados, e onde

comprava?

Comprávamos papéis direto da fábrica, nós tínhamos

companhia melhoramento em São Paulo, nós tínhamos

indústria americana de papéis, todas elas de São Paulo,

apenas uma do Paraná. Aí abriu uma na saída para João

Pessoa, era a Pafisa, e a Pafisa era uma fábrica muito grande

que vendia papel mais barato do que o que vinha do Sul. Em

certa vez como nós deixamos de comprar papel do Sul para

apoiar essa fábrica que era da região, e em certa vez, veio

um dos donos de uma das fábricas do papel do sul, pra

sugerir a gente que comprasse a eles que eles faziam um

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preço mais barato do que a Pafisa, ou era a Paulista ou era a

Abreu e Lima. Aí meu pai enxergando tudo com uma visão

mais ampla, disse a ele “eu vou comprar mais caro aqui e vou

dar os pedidos complementares a você”. E o pessoal até

estranhou porque ele ia comprar papel mais caro e ele disse

um dia vocês vão entender. Passaram os tempos aí a fábrica

daqui começou em dificuldade por conta de não conseguir

distribuir os produtos que eram mais caros. E o que terminou

é que essa fábrica teve que fechar e ser transferida para um

negócio de caminho diferente. A fábrica do Sul comprou a

Pafisa e tirou daqui o maquinário todinho, botou em cima do

caminhão e levou pra lá e encostou, a partir daí esse papel

tinha um sobrepeso, de forma que se nós comprássemos para

o Sul do país ele tinha o preço tal, se fosse para o Nordeste

era o preço mais alguma coisa, chegando aqui para renovar o

cadastro, lá vem o cidadão que era o gerente que tinha vindo

naquela época, ele disse “Dr. Galvão o Sr. Foi a única pessoa

que entendeu o que agente queria fazer. Nosso objetivo era

tirar o produtor de papel daqui do Nordeste para colocar o

nosso, se a gente tava vendendo mais barato do que o daqui

era pra gente fazer com que o daqui morresse e a gente

entrar. O Sr. Foi o único que não deixou de comprar a eles,

porque o Sr. Sabia o que tava fazendo, mas agora nós

estamos aqui pra vender o papel mais barato do que todos os

outros, porque agora nós queremos o Sr. De volt como

cliente. A partir da hora em que meu pai comprava da fonte

com o preço mais barato que as outras tipografias, ou já eram

gráficas, ficamos diferenciados no mercado.

Eu disse agora tipografia e gráfica, por quê? Porque as

tipografias eram mais rudimentares, mais pequeninas. E as

gráficas já passaram a ser coisa mais importante, com

máquinas planas mais modernas.

- Como se dava a manutenção dos equipamentos?

Havia um costume aqui de trazer um mecânico de fora pra

fazer os serviços, quando eu assumi a gráfica, pouco tempo

depois eu consegui um funcionário que era bem curioso, e

que a missão dele era encostar nos mecânicos da máquinas,

que cobravam da gente o preço do conserto e mais as

despesas pessoais como estadias, transportes, meu objetivo

era acabar com isso, botei esse funcionário pra aprender, ele

tinha noções de oficina, e ainda hoje está comigo Itamar,

chegou pra trabalhar aqui com a gente com 14, 15 anos, ai a

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manutenção era feita por ele e ele ensinava aos outros, a

manutenção era feita aos sábados e cada funcionário fazia a

manutenção de sua máquina e ele depois passava revisando

todas elas, mas não era só isso ele também trabalhava

ativamente nas máquinas. Ultimamente por conta da

tecnologia, você sabe que hoje 60% das máquinas são

produzidas em cima da informática, então temos precisado

trazer técnicos de fora, para manutenção, até por conta de

garantias, obedecendo ao principio da fábrica.

Outras tipografias

- O que causou a vinda da tipografia em Caruaru?

A necessidade de publicação de semanário, o foco principal

daquela época eram os jornais, como só os jornais não

alimentam uma gráficas de forma a deixá-la natural, então é

preciso que agregue outros seguimentos, então passam a ter

uma função mais expansiva.

- Na sua opinião qual gráfica foi a primeira a trabalhar

com o sistema tipográfico?

Eu só me lembro de Leite e Silva e Vanguarda. Mas a

Vanguarda trabalhava com tipografia comercial antes de

trabalhar exclusivamente com jornal. A Vanguarda hoje

pertence à Rodoviaria Caruaruense por conta que as

passagens eram feitas lá, e daí nós estivemos a comprar a

Vanguarda, por uma questão que eu não quero lembrar, por

falta de respeito, nós não ficamos com a Vanguarda, nós

queríamos juntar com a nossa, que era nosso interesse ter

um jornal em Caruaru diário, a tipografia interessava, mas o

mais que interessava era o jornal, mas por motivos que eu

não quero lembrar, nós não tivemos a oportunidade de

agregar a gráfica ao jornal, e hoje está nas mãos de políticos.

- Quem apontaria como concorrentes, tinha algum no

mesmo patamar da Estudantil?

Não todos os concorrentes eram um poucochinho inferior à

Estudantil. O que mais se chegava era o Vanguarda. Nas

épocas antigas, nós tínhamos aqui a Leite e Silva, o jornal

Vanguarda, Tipografia Brasil, Tipografia de outro Jornal, se

eu não me engano quem tomava conta dela era o professor

Azael, se não me falhe a memória era a Voz do Agreste, além

de outros pequenas que funcionavam com prelos, que eram

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colocados até na sala do impressor. O interessante era que

quando a gente abriu a gráfica, muitos funcionários vieram

trabalhar com a gente dessas gráficas, e muitos eram feitos,

você sabe hoje 90% das gráficas de Caruaru, saíram das

oficinas da Gráfica Estudantil. Me lembro de Gena somente,

que não foi daqui.

- Quando deixou de trabalhar com tipografia?

Vou deixar em branco.

Quando viemos para as instalações atuais a tipografia já

estava em segundo plano, não morreu mais vamos dizer que

era 40% tipografia o restante off-set, tinha a Mercedes, uma

heidelberg, uma grafopress e uma minerva manual.

- Porque deixou de trabalhar com tipografia?

Qualidade.

- Quais fins foram dados aos equipamentos tipográficos

da sua gráfica?

Parte dos tipos foram vendidos para outras tipografias

pequenas fora de Caruaru, outra parte nós vendemos para

derreter, as estantes nós tocamos fogo em tudo, dos

maquinários nós vendemos algumas coisas para fora de

Caruaru, e para ex-funcionários, seu pai mesmo comprou uma

ou duas máquinas da gente. Vendemos maquinário para Belo

Jardim, Caruaru, talvez Lajedo.

- Sonhos?

Um dos nossos sonhos era o jornal da cidade, tentamos

alguém botou a pá. Fazer com que no interiro de Pernambuco

nós tivéssemos a melhores instalações em equipamentos

gráficos, durante muitos e muitos anos nós tivemos na

dianteira. Desbravar o comércio no interior de Pernambuco

em termos de abastecimento gráfico que não fosse somente

Caruaru, mais também ao redor, nós nos estendíamos até o

sertão, um pedaço da Paraíba, e um pedaço de Alagoas.

Fazer as coisas bem feitas que fizessem inveja aos outros.

Agregar a gráfica a uma agência de publicidade, essa eu não

consegui, eu me desviei dessas metas porque tive que me

dedicar mais a livraria.

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Seu Diva acho que foi um dos percussores daqui de Caruaru.

Eu não me recordo onde ele ficava, nem em que época era.

Ele fazia o seguinte, desenho, ele tirava um pedaço da

bateria de carro ou da borracha, e ele cordelzinho com as

letras de borracha e depois colocava aquela matriz na

máquina tipográfica, agora tudo preto e branco.

E porque ele não tinha os tipos?

Porque ele era uma pessoa muito pobre, e os tipos eram

muito caros, nem toda gráfica tinha condições, tinha gráfica

que comprava usada uma da outra, vamos dizer a Estudantil,

que era uma das gráficas mais famosa de Caruaru, ela tinha

várias caixetas, pelo volume de trabalho que ele tinha, vamos

dizer que ele tivesse 5 caxetas todos tipos 6 de um só fonte,

pra poder dar pra fazer todos os trabalhos, porque eles não

faziam um trabalho e desmanchavam pra fazer outro não,

eles iam fazendo, fazendo, aí os tipos iam esgotando, as

chapas ficavam tudo em “pé”, tinha que distribuir para voltar,

e com esse desgaste, ele pegava e vendia para não perder.

Vendia para uma gráfica que era mais pobre, que queriam

aproveitar com cálcio. E eles repunham em seu estoque

outros tipos novos. E assim ia girando, aí depois chegou a

linotipo.

Nome: Luiz Gonzaga de Pontes Filho (Gráfica era do Pai:

Luiz Gonzaga de Pontes)

Idade: 61 anos

Com quantos anos e como começou a lidar com

tipografia?

Eu vivi na tipografia, mas comecei com 13 anos, eu estudava

um período e o outro eu travalhava. A partir de 1970 eu

comecei a trabalhar os dois expedientes.

Trajetória da empresa

- Quando e como abriu sua gráfica?

Meu pai é natural de São Caetano, ele veio para Caruaru, que

existia família dele aqui, com 7 anos de idade, e começou a

trabalhar na Caruá, que antigamente existia uma fábrica de

cordão, chamada Caruá, onde hoje é aquele prédio do

Espaço Cultural. Só que ele tinha mais dois irmãos, que

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começaram a trabalhar em gráfica, e puxaram ele para o

ramo também. Aí ele começou a trabalhar com jornal, que

antigamente a gráfica era só jornal, mas tinha o jornal A

Defesa, o Vanguarda. Mas existia também as gráficas

menores como existe ainda hoje, e tinha a Estudantil, aí papai

começou a trabalhar na Estudantil que era ali na Vigário

Freire, e passou 10 anos trabalhando, então ele comprou

duas máquinas minervas manuais. E naquela época Caruaru

só tinha energia até tal hora da noite, seis, sete horas da

noite, e quem queria trabalhar, na própria máquina tinha roda

assim, que era um encaixe e tinha uma peça que você

manuseava. Era uma pessoa imprimindo e outra rodando

aquela peça, como no engenho, num tem aquelas máquinas

de fazer caldo de cana, que os homens passavam vendendo

na rua, pronto, era estilo uma peça daquela. Aí quando tinha

energia não, a máquina era elétrica, aí funcionava sem

precisar rodar.

Quando ele saiu da gráfica em 1960, 62, ele começou a

trabalhar no ponto da Porto Alegre, de domingo a domingo.

- Tinha sócios?

Não

- Numero de funcionário?

8 pessoas trabalhando. Porque tinha o cortador, os

impressores, a parte de confecção, tinha ele, tinha a parte de

entrega.

- Como os funcionários usavam esse sistema, como

aprenderam?

Muitos dos funcionários foram feitos na própria gráfica. Por

exemplo, chegava um garoto, 13, 14, 15 anos, que nunca

tinha trabalhando, aí agente colocava ele para varrer a

gráfica, lavar o banheiro, levar recado, levar um talão em tal

lugar e com a continuação ia ensinando a eles como era fazer

uma chapa, começava distribuindo até aprender pra ser um

chapista, e na impressão, quando tinha pouco trabalho, aí

botava ele pra ir aprendendo manualmente, um negócio mais

devagar, até ele ficar confiante, e a própria firma confiar

naquela criatura.

- Quais equipamentos eram utilizados?

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Nós tínhamos essas duas máquinas manuais, uma trabalhava

com o braço e a outra com pedal, depois agente comprou a

minerva, que já era mais avançada, depois começou aparecer

a bicolor. Tinha uma máquina de cortar manual.

- Quais papéis e tintas eram mais usados, e onde

comprava?

Os papéis eram cortados normamente em tamanhos exatos, a

folha era 66 por 96cm, se chamava corte exato, quer dizer

tinha o tamanho 30, 32, 36, 18, 16, 21, 24, 9 e assim ia,

dependia do trabalho. Quando você pegava um trabalho de

tamanho personalizado, que agente chamava trabalho

bitolado, você tinha que cobrar mais caro, porque ia

desperdiçar papel, às vezes agente aproveitava aquela sobra

de papel, mas para o dono do trabalho não ia servir pra nada.

Agora existiam várias marcas de papel, e várias gramaturas: o

jornal, o 14, o 16, o 20, o 24, o 32 e assim ia... E as cores,

eram azul, amarelo, rosa e verde. Só o que mudava eram as

tonalidades, por exemplo, de um fabricante era um tom de

verde, de outro era um verde mais escurinho, mas era tudo

verde, é como carro cada marca num tem modelos diferentes

de carro. Então no papel era a cor diferente, a gramatura era

a mesma, e existia firma que tinha o papel melhor. Existia o

papel chamado apergaminhado, e acetinado, o acetinado era

bem lisinho e o apergaminhado era meio crespento, que era

como a gente chamava. Existia a capa de resma, que a gente

chamava a cartolina AG, que era aquela capa que cobria o

talão em cima e em baixo. Existia o papel ficha, era aquele

que agente usava pra fazer cartão, fichário, porque

antigamente nos consultórios os médicos não tinham

computadores, os pacientes eram cadastrados por fichas.

Quando começou as gráficas, os papéis mais usados eram o

branco e o jornal. Aí passou a ter 3 vias nos talões, e passou

a usar-se a terceira via de cor. Aí começou as encomendas

de fichas, e usava-se o papel ficha., que existia o amarelo e o

ouro. A cartolina existia de várias cores, mas de tamanho

metade da folha de papel industrial, aí depois que chegou no

tamanho industrial.

Quanto a tinta a mais usada era a preta. Comprávamos em

São Paulo quando era demanda grande, mas normalmente

comprávamos em Recife, íamos buscar pra não gastar com

frete, ou a própria firma mandava entregar, ou mandava por

empresa de ônibus. Quando você comprava constante na

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firma, como uma maneira de cativar o cliente, eles mandavam

os produtos e o frete ficava por conta deles, já era uma

vantagem para a gráfica. Quando agente não tinha papel

aqui, agente comprava na Estudantil, quando agente

começou a gráfica, não tínhamos condição de comprar em

Recife, então agente comprava na Livraria Estudantil, como

papai era empregado de lá, antes de montar a própria gráfica,

aí seu Galvão disse a ele que tinha um crédito pra comprar

papel e depois pagava. Quer dizer estávamos comprando

ferro a ferreiro, porque ele comprava pelo preço de são Paulo

e revendia ainda mais caro do que o de Recife. Aí depois de

um certo tempo que a gente começou a comprar em Recife.

Papai trabalhava muito, fazia serão todos os dias, todo o dia

trabalhava até 10 horas da noite, e o pior de tudo era que a

máquina era manual. Só com a chegada da offset que

adiantou muito o trabalho, não tinha falhas do tipo, e

melhorou o serviço.

- Quais serviços eram produzidos quando usava o

sistema de impressão tipográfico?

Todo tipo de trabalho. Cartão de visita, receituário, papel

timbrado, talão fiscal, talão de balcão, panfleto, cartazes, tudo

se fazia em gráfica.

- Como adquiriu os equipamentos?

Em dinheiro. Comprada a Estudantil, era o seguinte, que até

hoje é assim, ela trabalhava até um certo tempo com uma

máquina, quando começa a ficar desgastada, eles raramente

gastava dinheiro para consertar, então vendiam para os

menos favorecidos. As duas primeiras foram compradas a

Estudantil, as outras foram compradas em Recife, pessoas

que negociam ainda hoje com máquinas, tinham os próprios

representantes de máquinas. E muita gente de São Paulo

tinha representação em Recife. Mas comprar uma máquina

zero, diretamente da fábrica, agente nunca comprou, nunca

teve condições.

- Como se dava a manutenção dos equipamentos?

Olhe, esse pessoal que vinha pra Recife, eles tinham um

mecânico, só que o mecânico não vivam em Recife, eles

viviam em São Paulo, e muitas vezes, agente tinha que pagar

esse mecânico pra vir de São Paulo, às vezes era feito um

contrato, as vezes era por hora, por dia, dependendo do

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material que ele ia usar. Mas com o passar do tempo a gente

começou a ver como eles trabalhavam, desmontavam e

montavam as máquinas, e coisas pequenas, como um

parafuso, agente mesmo conseguia fazer, e eu tinha um tio lá

que era muito curioso que às vezes até quando era um

defeito grande ele conseguia resolver. Antigamente os rolos

da máquina eram comprados direto da fábrica, mas agente

fazia em casa mesmo, existia uma borracha grossa,

cortávamos bem picadinho, como quando vai fazer um

sarapateu, colocava numa lata pra ferver, e ela ficava aquele

caldo, quando terminava existia um tubo de ferro do tamanho

do rolo, então pegava um varão que ficava no meio do rolo,

raspava ele bem raspadinho, porque com o desgaste do

tempo, aquele n do numerador ele ia marcando o rolo aí

quando passava a tinta ali não melava naquele canto, aí você

colocava a chapa pra lá, pra cá, pra livrar aquela falha, e com

o tempo o rolo ressecava, não prestava mais. Então voltando

pra o varão, o varão era maior do que o rolo, lixava ele

todinho e amarrava ele com o barbante pendurando ele pra

ele ficar na posição dentro de uma forma, depois enchia a

forma com aquele caldo da borracha e deixava secar, então

ficava maior do que o rolo original. Aí cortava o que passava

e montava na máquina. Às vezes passava o dia fazendo um

rolo, e em Recife não era só pedir pelo o tamanho. Outras

vezes agente comprava usado, porque tinha uns usados que

ainda dava pra usar um certo tempo. Porque quem tava

começando tinha que se virar com o que tinha, às vezes

tomava emprestado.

- Como se deu a divisão da gráfica?

Depois que papai faleceu, a outra família que papai tinha

ficou com a gráfica que era a Comercial e eles pagaram uma

mixaria pra cada um dos filhos e ficaram com a gráfica. Aí eu

tinha uma irmã que trabalhava no Banco do Brasil que

conseguiu comprar uma gráfica que hoje é a Caruaru, que

funcionava ali perto da coletoria e depois se mudou para a

Rua do Sertanejo. Daí já começou na offset.

Outras tipografias

- Já existia gráfica antes do sistema tipográfico?

Eu não lembro, eu lembro quem começou aqui em Caruaru

eram os jornais e a Estudantil. Mas os jornais antigamente só

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imprimiam jornal. O jornal a Defesa era na Rua 15 de

Novembro, ele começava lá e saia do outro lado, era

comandado pela Diocese. Com o passar do tempo o jornal A

Defesa foi que começou fazendo outros trabalhos, porque

tava se vendo que só o jornal não dava pra cobrir as

despesas. As principais eram o Jornal A Defesa, o Jornal

Vanguarda e a Estudantil. As outras surgiram dessas, mas

tinham muitas que eram clandestinas, que funcionavam em

casa mesmo. Tem a gráfica de Lula, a de Wilson, Estudantil,

Comercial, a de Breno e assim saiu aparecendo mil e uma

gráfica, a Pontual, Gráfica Pontes.

- O que causou a vinda da tipografia em Caruaru?

Caruaru começou a desenvolver, começou a aparecer gente

de visão e começou a optar por trazer as gráficas para

Caruaru. Mas acredito que como você sabe Caruaru era uma

fazenda, e os fazendeiros ricos, viviam em política e se

interessaram em trazer as gráficas. Influência política, porque

tudo hoje é política, qualquer coisa ou cresce ou apaga-se

politicamente, você pode olhar não existia farmácia eram os

curandeiros, os homens do mato fazendo com raízes, daqui a

pouco de pessoas ricas, aparecia um doutor, que fazia de

tudo a arrancar uma unha a um parto, ia pra o Sul do país

estudar pra voltar. Eu acredito que nos outros ramos tinha

sido a mesma coisa.

- Em sua opinião qual gráfica foi a primeira a trabalhar

com o sistema tipográfico?

Eu acredito que a Estudantil. Marcos da Pontual trabalhou na

Estudantil, papai trabalhou na Estudantil, seu pai, Berg, Bosco

que montou uma livraria pra ele, trabalhava na Estudantil.

- Quem apontaria como concorrentes?

Depois da Estudantil, tinha Marco, as maiores. Mas papai

ensinou a gente que não existia concorrência, se alguém

chegasse lá errado perguntando onde era a gráfica estudantil,

a gente não tomava cliente, ensinava, as gráficas

trabalhavam juntas, uma precisava da outra e não existia uma

concorrência visível.

- Quando deixou de trabalhar com tipografia?

A gente deixou e não deixou, porque ainda hoje agente

imprime a numeração numa máquina de tipografia. Mas

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acredito que há uns 20 anos atrás já tínhamos mudava para a

offset.

- Quais fins foram dados aos equipamentos tipográficos

da sua gráfica?

Foi vendido para outras pessoas menos favorecidas, que

estão começando. Veja, ainda hoje tem pessoas em Caruaru

que trabalham com tipografia, porque dá menos trabalho,

menos dor de cabeça, o investimento é menor, é só no que

sabem trabalhar. Você mesmo concerta aquela máquina, já a

offset tem que ser um técnico.

- Porque deixou de trabalhar com tipografia?

Foi o avanço das máquinas, ou você acompanhava ou você

afundava. O computador também contribuiu para que muitas

gráficas fechassem, faz muitas coisas que o cliente consegue

imprimir no seu próprio estabelecimento, sem precisar mais

encomendar às gráficas. Máquinas de Xerox também

prejudicou demais as gráficas, gráficas que eu falo tipografia.