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A VIDA DO BUDA EM VERSOS( J. Palmeira Guimares - Paraba, 1977 )

A Histria que vou contar,aconteceu realmenteh quase 26 sculosem um pas do oriente.se algum quiser comprovar bastante consultaros livros de antigamente!

a vida do Senhor Buda,nascido um prncipe hindu,seu pai - era Suddhodana,rei de Kapilavastu,sua me a rainha Maya,seu reinado entre o Himalayae a montanha Sumeru.

uma narrativa verdica,mas fantstica, tambm.fala de reis, de rainhas,de amor, dio, mal e bem.tem santos, heris, viles,aventuras e emoes- como toda histria tem.

Ela simultneamentehistria humana e sagrada,tem seus instantes dramticoscomo numa luta armada,mas tem lances de ternura,de alegria e de doura,como nos contos de fada.

um episdio profanoe, ao mesmo tempo, divinocapaz de empolgar o santoe comover o assassino,terno como uma cano,doce como uma oraovibrante que nem um hino.

capaz de aproximartodos os filhos de Deus:evanglicos, catlicos,muulmanos ou judeuse at os mais renitentesque se proclamam descrentes,pensando que so ateus...

Vamos direto ao assuntoque o seu tempo preciosoe eu sei que, nessas alturas,voc j est curiosopela histria prometida,e histria muito comprida coisa de mentiroso.

540 anosAntes da Era Crist,pleno jardim do palcio,onze horas da manh.A bela rainha Mayacontempla os vus do Himalayarecostada em seu div.

Havia se completadoo tempo da gestao.A rainha, embevecidana sua contemplao,nem viu que a tarde chegarae, de seu ventre brotarao nobre filho varo!

O parto ocorreu sem dorcomo beno do Infinito.A me s se apercebeuquando ouviu do filho o gritoNasceu perfeito e, ademais,trouxe todos os sinaisdo nascimento bendito.

Em quatro palanques de ourochegara o prncipe nutrazido por quatro arcanjosda montanha Sumeru,em cujos cumes residemdivindades que presidema vida do povo hindu.

A notcia se espalhoupor toda a terra indiana,o povo foi convidadoe o grande Rei Suddhodanafestejou com pompa e brilhoo nascimento do filhodurante toda a semana.

Acorreram visitantesda ndia e de outros pases,trazendo ricos presentesdos mais diversos matizes,enquanto os pais da crianariam, cheios de esperana,imensamente felizes.

No meio dos convidadoso rei notou um asceta,sentado, pernas cruzadas,mos postas, coluna ereta,e viu naquela figuraa correo e a posturade um verdadeiro profeta.

Sentindo um impulso estranho- misto de ternura e espanto o rei pegou o menino,desnudou-o de seu mantoe pediu para a rainhaconduzir a criancinhaaos ps daquele homem santo.

O ancio que, impassvel,fitava o cu, distrado,ao ver o prncipe herdeirolevantou-se comovidofazendo, em meio a oraes,oito genuflexessaudando o recm-nascido.

Depois, pediu que a rainhapusesse o filho no coloe cumpriu, em reverncia,um estranho protocolo:Curvado, as mos estendidas,por oito vezes seguidastocou a testa no solo.

Mais tarde, o asceta explicouante a surpresa dos paisque viu naquela crianaos 112 sinaisde sua origem divina,previu toda a sua sinae ainda lhes disse mais:

- O vosso Divino filhoser muito mais do que um rei,reformar o universo,trar uma nova Leie eu no estarei presente,porque muito brevementedeste mundo partirei!

Quanto a vs, nobre senhora,cumpristes Lei Soberanadando luz a essa florde nossa rvore humana,vossa misso foi cumpridae deixars esta vidadentro de uma semana...

O olhar do sbio parado,sereno como uma praiapousou aos ps do menino,fitou a rainha Mayae o ancio diluiu-se,desapareceu, fundiu-seentre as neves do Himalaia.

Tudo que o santo previrano seu tempo aconteceu.se o rei tinha alguma dvidaesta desapareceuquando, no stimo dia,depois desta profeciasua esposa faleceu!

No outro dia, aps o sonho,convocou-se o Ministrio,o rei falou aos seus paressem revelar o mistrio,transmitindo ordens expressaspara chamarem s pressasos orculos do imprio.

O rei conduziu os sbiospara um salo reservado,depois, chamou a esposaque se sentou ao seu lado,e ela fez todo o relatosem omitir nenhum fato,tudo o que havia sonhado.

O que mais surpreendeufoi a atitude dos sbios:ouviram tudo tranquilos,com um sorriso nos lbioscomo se o que ela dissesseh muito tempo estivesseescrito em seus alfarrbios

Todo o salo era um tmulono se ouvia o menor som.Nisto, o ancio mais grisalhofalou num suave tom,com ar sereno e risonho:"Sol em Cncer ... este sonho,vosso sonho muito bom ...

"Vs, veneranda rainha,dareis luz um meninode cincia maravilhosa,com um mandato Divinoque, se quiser, num segundopoder salvar o mundoe transformar-lhe o destino!"

Por isto, o rei Suddhodanaandava to preocupado.Ele no queria um santo,profeta ou iluminado,mas um simples sucessorpara seu continuadorno comando do reinado.

E assim cada dia o reiandava mais grave e sriopensando nas profeciase em todo aquele mistrio,tramando um plano ladinopara fazer o meninose interessar pelo Imprio!

Deu ordens pra que Siddartadesde a sua tenra infnciavivesse um mundo de sonhossendo mantido distnciada pobreza, da feiura,da velhice, da amargura,da dor e da ignorncia.

Para manter o meninocercado de tais cuidados,mandou vir de toda parteos jogos mais delicados,as iguarias mais finas,as mais belas danarinase os mais saudveis criados.

Quando Siddarta atingiuos oito anos de idade,o rei chamou seus ministrose falou com seriedade:"Preciso de um instrutorque torne o meu sucessorum monarca de verdade.

"Quero um mestre que lhe ensinea governar e a viver,as Leis, os jogos, as artes,os segredos do poder,tudo o que a Cincia abarcae que um futuro monarcanecessita de saber!

Procurem por toda parteo sbio mais instrudo,o mestre mais respeitado,o Guru mais entendido.Pensem o quanto quisereme falem quando tiveremo problema resolvido.

O Conselho de Ministrosacolheu do Rei o planoe, por unanimidade,sugeriu ao soberanoum nome consideradoo sbio mais respeitadodo territorio indiano:

- S Visvamitra disseram preenche o que desejaise pode ensinar ao prncipetodas as artes manuais,as Cincias, as Escrituras,as diferentes culturasIdiomas e tudo o mais".

O rei aprovou o nomeVisvamitra foi chamado,compareceu ao palcioconfessou-se muito honradoe disse ao rei Suddhodana:"J na prxima semanacomea o aprendizado".

Para a surpresa do mestreSiddarta era obediente,humilde, falava pouco,era alegre, sorridente,respeitador, atencioso,e, o que era mais espantoso,um sbio, embora inocente!

O menino j sabialer, escrever, calcular,Cincias, Religies,a arte de comandar,era um perfeito doutorem tudo que o professorpretendia lhe ensinar.

Visvamitra ps no quadrodifcil sentena escrita:era uma estrofe sagrada,profunda e muito eruditatirada aos livros sagrados,destinada a iniciadosou gente muito erudita.

Pela complexidadeda sentena que escolheuVisvamitra estava crenteno raciocnio seuque aquele jovem rapazjamais seria capazde ler o que ele escreveu.

Siddarta olhou para o quadro,sorriu respeitosamentee, com surpresa do mestre,leu tudo corretamentee ainda pediu licenapra interpretar a sentenapormenorisadameute.

Com a permisso do mestreSiddarta analisou tudo:a prece, as suas origens,seu sentindo e o contedo,enquanto o mestre o escutavae simplesmente aprovava,surpreso, espantado, mudo.

E, como se no bastassem,essas provas eloquentesou como se algum pedissedemonstraes mais patentes,interpretou a orao luz da Religioem dez lnguas diferentes!

Mostrou, com toda humildade,que dominava a Gramtica,Geografia, Histria, Msica,a Fsica e a Matemticae, o que era mais surpreendente,conhecia intimamentea cincia da vida prtica.

Entendia tudo de Arte,lia os arcanos e as sortes,lia a linguagem dos astros,sabia tudo de Esportese, na arte de combater,era capaz de venceraos lutadores mais fortes!

Discorria facilmentesobre Pintura e Beleza,dominava a espada o arcocom invejvel destreza,era um perito em amore um grande conhecedordas coisas da Natureza!

Diante disto, Visvamitra mestre entre os mestres hindus prostrou-se aos ps do meninoe disse: "TU S A LUZ,NO SEREI MAIS TEU GURU,NO SOU TEU MESTRE E SIM TU,POIS S GURU DOS GURUS"!...

E assim a todos os mestresSiddarta rendia preitode carinho, de amizade,de gratido e respeito,mas em matria de estudoele conhecia tudo,j era um mestre perfeito.

Participava de jogos,brincadeiras, distrao.Geralmente, era o primeiroem qualquer competio,mas o que mais lhe agradavaera quando se isolavasozinho, em meditao...

Tratava do mesmo jeitoprncipes e serviais,via a todas as pessoascomo se fossem iguais,respeitava a todo mundoe tinha um amor profundopelas plantas e animais.

Nas competies de caaque era obrigado a fazerdeixava escapar as avespara no v-las morrerou pra no tirar do amigoque competia consigoa alegria de vencer.

Embora consideradocavaleiro sem igual,perdia corridas ganhassimulando passar mal,para poupar energiaao cavalo em que corriae no forar o animal!

Certa feita um de seus primos,que era o prncipe Dewatta,atirou num cisne brancoque passava pela mata,acertou-o em pleno peitoe ficou bem satisfeito,rindo de sua "bravata".

Siddarta que assistiu tudo

sentado junto lagoa,quando viu tombar a avesaiu correndo, apanhou-a,tirou- lhe a flecha do peitoe a tratou com tanto jeitoque ela logo ficou boa.

Dewata exigiu que o cisnefosse a ele devolvido,porque segundo o costumeh muito estabelecidoe j por todos aceitoo atirador tem direitoa qualquer bicho abatido.

Mas Siddarta recusou-see lhe disse: "No, senhor,o cisne agora est vivoe seja l como forser minha propriedadepor direito de piedadee onipotncia do amor.''

Por incrvel que pareaesse caso to banalfoi levado decisodo Conselho Imperialque discutiu todo um diapra decidir quem teriadireito ao cisne, afinal.

Aps muito discussoe opinies divergentes,quando os ministros da cortej estavam impacientes,um vulto em forma de Luz,veio, envolto num capuze falou para os presentes:

" SE A VIDA POSSUI VALORCABE A TODOS PRESERV-LA.NO CASO, UM SALVOU A AVEE O OUTRO TENTOU MAT-LA.A AVE SER MANTIDACOM QUEM LHE SALVOU A VIDAE NO COM QUEM QUIS TIR-LA"!...

Com essa sentena, o vultoencerrou todo o litgio.O rei quis dar lhe um presente,como prova de prestgio,buscou o desconhecido,mas ele havia sumidosem deixar qualquer vestgio!

Siddarta beijou o cisnecomo numa despedida,depois, alou-o ao espaoem suave arremetida.A ave partiu em paz,agradecendo ao rapazpor ter salvo a sua vida

Dewatta se desculpoupor ter causado a discrdia,os dois primos se abraaramtudo voltou concrdia,Siddarta entrou no Budatocumprindo o primeiro atode pura misericrdia..Para ele, esse incidenteteve um profundo valor:foi sua primeira chancede praticar o amore a primeira vez, por certo,que ele poude ver de pertona dor do pssaro A DOR!.O amor e a dor se tornarama partir daquele diasentimentos sobre os quaisSiddarta meditariae, em poca futura,serviriam de estrutura sua Filosofia...

A estratgia do reiconsistia em convidarSiddarta para um passeioem que pudesse mostrartoda a extenso do reinadoe faz-lo interessadonas terras que iria herdar...

Pensava que quando o filhovisse a vastido do impriopassasse a encarar o tronocomo um assunto mais srioe perdesse o interessepor meditaes e precee todo aquele mistrio..O rei mandou preparara mais bonita carruageme deu ordens pessoalmenteaos sditos e vassalagempara que a comitivafosse saudada com VIVAdurante toda a passagem.

Feitos os preparativos,aguardou com espertezaum dia de primaveracheio de sol e beleza,de modo que o itinerriotivesse como cenrioo esplendor da Natureza..

Ao receber o convite,Siddarta que s viviatrancado em seus aposentose raramente saa,beijou o pai com ternurae partiu para a aventurana inocncia da alegria..Havia um clima de festaso reino todo enfeitado,o povo aplaudia o prncipe,o rei estava empolgadoe sorria satisfeito,pois tudo estava do jeitoque ele havia planejado.Siddarta se deleitavacontemplando a Natureza:rios, terras, campos, florese toda aquela beleza,mas enquanto contemplavaseu corao mergulhavanuma profunda tristeza!.

que o jovem via as coisasalm de sua aparncia,procurando penetr-lasno fundo de sua essncia,vendo com outra viso:olhava com o corao,via com a conscincia..

No rosto dos camponesesvia um riso encomendado,nas suas mos calejadase no seu corpo alquebradoSiddarta enxergava a dorde seu irmo lavradorpobre, oprimido e explorado ..Nas mulheres desdentadas,magras do pouco comer que punham as mos na bocapara o sorriso esconder via legies suicidasque davam as prprias vidaspara o reinado crescer....Nas mos magras das crianas,inocentes, puras, calmas,que, passagem do cortejo,tremiam, batendo palmas,via protestos, reclamos,clamando aos cus por seus amos,rogando por suas almas!

Via o pescoo dos boisna canga, arando arrozais.Viu a explorao reinandosobre filhos, mes e pais,alimentando os tiranos,escravizando os humanose humilhando os animais! ...

Siddarta pediu ao reipra interromper a excursoavistou uma mangueira,sentou-se sombra, no choe ficou ali, parado,totalmente mergulhadoem longa meditao..

O rei ainda o esperoudurante mais de uma hora,depois, impacientou-sedevido a grande demora,recomendou-o aos vassalos,atrelou os seus cavalos,despediu-se e foi embora..Ali, Siddarta bebeuSabedoria na fonte.Vieram anjos do espaoiluminaram-lhe a frontee ele s se levantoudepois que o sol se ocultoul nos confins do horizonte..Durante a meditaoum fato estranho ocorreu.Se foi acaso ou milagreningum garante nem eu :durante uma tarde inteirano deu sol sob a mangueira,a sombra no se mexeu!....

Assim, o rei SuddbodanaViu se frustarem os planosde interessar o meninopelos tesouros profanos,enquanto o tempo passavae Buda se aproximavade atingir dezoito anos..Foi quando o rei teve a idiade apelar para a emoo.J que o filho no mostravapelo reinado ambio,planejou ento cas-loe, quem sabe, conquist-loatravs do corao..Convocou de novo a Cortee confessou-se assustadopois, conforme as profecias,Buda era um predestinadoe abandonaria o Imprioa no ser que algo mais srioo prendesse no reinado.

Siddarta j est na idade(disse o rei com sutileza)em que no h quem resistaaos encantos, belezade um rosto jovem, formosoe ao sorriso graciosode uma bonita princesa...."Por isto, estou pretendendo,como manda a tradio,escolher entre as donzelasde toda nossa nao,uma que seja capazde provocar no rapaza mais violenta paixo"..Os ministros, como sempre,acharam que o soberanotinha pensado um esquema"genial" e "sobrehumano",S um deles o mais velho pediu licena ao Conselhopara completar o plano.. "Eu sugiro a Vossa Altezaque convoque esta semanaas mais prendadas donzelasde toda a terra indiana,e Siddarta escolherdentre elas a que sera futura soberana".O rei achou magnficaa idia do conselheiroe, aps o endosso realao plano do cavalheiro,os ministros concordarame todos cumprimentaramseu "ilustre companheiro"....Espalharam-se editaisdivulgando o grande diaem que o prncipe Siddarta,numa festa, escolheriadentre as princesas mais belasa mais prendada entre elas,com quem depois casaria.

.No dia do grande eventoos jardins palacianosregurgitavam de moasem seus trajos indianos,cada uma mais bonitaaguardando a hora benditade concretizar seus planos..O rei tinha convidadoa plebe e a realeza,foi a festa mais bonitaque se viu na redondeza.Nunca em Kapilavastunem no territrio hindureuniu-se tanta beleza..

De seu palanque real,Siddarta a tudo assistia,cumprimentava as princesascom natural cortesia,a todas dava um presente,sorria amistosamentee o desfile prosseguia..Dezenas de senhoritasj haviam desfiladosem que o jovem se mostrassepor nenhuma interessado.Eram todas muito belas,porm por nenhuma delassentira-se apaixonado..Quando a ltima princesapisou sobre a passarelafoi logo reconhecidacomo de fato a mais bela,e o prncipe estremeceuto logo a reconheceue se dirigiu a ela..Todos queriam saberQuem era essa jia raraque impressionou a Siddartade maneira assim to clara.Esclareceu-se afinal:era de sangue real,seu nome era Yasodhara.

Veio a se saber, mais tarde,relendo os livros sagrados,que Yasodhara e Siddartah muito estavam ligadospor laos superiorese, em vidas anteriores,j tinham sido casados.

Naquele instante, porm,s ela e ele sabiam.Por isto, os dois se entreolharam,se abraavam, se sorriam,os demais olhavam tudocheios de um espanto mudo,porm nada compreendiam..Quando terminou a festaque foi um deslumbramentoSuddhodana no cabiaem si, de contentamento,e foi ao rei Suprabudapedir pro seu filho, Buda,Yasodhara em casamento..Suprabuda convocoua Corte, amigos, parentes,e recebeu Suddhodanacom honras e com presentes,mas mostrou a Sua Altezaque Yasodhara a princesa j tinha trs pretendentes..Eram trs prncipes jovens,famosos no imprio inteiro:Ardjuna um mestre da esgrima,Dewadatta um grande arqueiro,e Ananda, o mais respeitado,por todos considerado,como exmio cavaleiro!.Se Siddarta pretendesseYasodhara por consorteteria que demonstrarser de todos o mais fortee em trs duelos formaisderrotar seus trs rivais,cada um no seu esporte!

Suddhodana agradeceu,mas regressou ao castelobastante desanimado,achando aquilo um flagelopensando que o seu rapazque era um amante da pazno aceitasse o duelo..Quando explicou tudo ao filhoseu mau humor se desfez,Siddarta disse ao seu paimarque a data de uma vez,embora eu deteste luta,travarei essa disputa,tentarei vencer os trs..No dia, tudo ocorreucomo em casos semelhantes:os suspiros da princesa,os lances emocionantes,Siddarta foi quem ganhoue o povo comemorouentre aplausos delirantes...

No vou descrever; aquio baile monumental,nem tampouco os rituaisou o cerimonialque deram ao casamentoum tom de acontecimentode dimenso nacional..Para o casal residiro rei mandou levantarao lado do seu palciomanso espetacularcom jardins, piscinas, grutas,cascatas, flores e frutas,em meio a um grande pomar..Por fora era um paraso,por dentro era um santurio.Os mais suntuosos tapetes,riqussimo mobilirio,tudo do mais alto nvel,de um bom gosto indiscutvele um conforto extraordinrio.

A manso toda era um sonho,mas o quarto nupcialfoi decorado a caprichopara envolver o casalna atmosfera poticade uma priso magnticaprpria para o. amor real..Naquele mundo de luzes,encantamento e poesiadias e noites passavamcomo se fossem o diaentre o afeto e o carinhoo amor construiu seu ninhoe a paz sua moradia..Mas... tudo tem face e dorso,todo verso tem reversoe, para no ser perfeitaa paz daquele universoo rei tinha concebidoe fez ser obedecidoum plano muito perverso:.Mandou fazer trs portesque isolavam a manso,em cada porto, um guardacom rigorosa instruopra vigiar noite e dia,ningum entrava ou saasem ter do rei permisso..Apesar das precauese de todo o isolamento,Siddarta ouvia mensagenstrazidas na voz do ventoe, sem sair da manso,voava pela amplidonas asas do pensamento...

Certa noite, ele acordoudurante um sonho profundoe ouviu uma voz dizer-lhe:"SOU O VENTO VAGABUNDO,VEM COMIGO. POR FAVOR,DEIXA O TEU NINHO DE AMOR,VAMOS VER A DOR DO MUNDO!

"OUVE, EU SOU A VOZ DO VENTOQUE VIVE SEMPRE A SOPRAR,SUSPIRANDO POR REPOUSO,MAS SEM NUNCA REPOUSAR.A VIDA TAMBM ASSIM:UMA TORMENTA SEM FIM,UM SOLUO SEM CESSAR.."QUE PRAZER PODES SENTIRNESSA CADEIA DE AMORTU QUE FOSTE O ESCOLHIDOPARA SER O SALVADOR?!COMO FICAR PRISIONEIRODE UM SONHO QUE PASSAGEIROCOMO TUDO, EXCETO A DOR?."DESPERTA, FILHO DE MAYA,SAI DO TEU ESQUECIMENTO,V QUE O CAMINHO DA VIDA IGUALZINHO AO DO VENTO:SOLUOS, SUSPIROS, LUTA,GUERRAS, TORMENTOS, DISPUTA,MISRIA, DOR, SOFRIMENTO!."ENQUANTO DORMES TRANQUILO,PRESO A SUPOSTAS RAZES.H TRISTEZA EM TODA PARTE,GUERRAS EM DIVERSOS PASES,FOME EM TODOS OS LUGARES,DOENA EM TODOS OS LARES,MILHES DE HOMENS INFELIZES!."TUA HORA SE APROXIMA!ABANDONA ESSA PRISO,RENUNCIA A HIERARQUIA,ROMPE OS GRILHES DA ILUSO,VAI DESCOBRIR A VERDADEE DAR PRA A HUMANIDADEA PAZ E A LIBERTAO!.COMO PODES DESCANSARENTRE APARENTES PODERESE TE DEIXAR SEDUZIRPOR ESSES FALSOS PRAZERES,TU QUE VIESTE PRA SALVARE, PELO AMOR, LIBERTARDA DOR A TODOS OS SERES?!"

Quando o vento silenciouSiddarta teve a certezade sua nobre missoe, com toda a sutileza,comeou a imaginarum modo de no magoaro corao da princesa.

Sempre que os dois conversavamEle lhe dava a entenderque embora a amasse bastanteera bom ela saberque ele j fora avisadode que seria chamadopara um mais alto dever!.Apesar de ele falarcom todo jeito e cuidadoe faz-lo em pleno leito,no momento apropriado,Yasodhara chorou tantoque inundou com seu prantoo peito do bem-amado..Siddarta acordou-se um diadecidido a caminhar,chamou seu criado Channa mandou-o ao rei avisarque queria ir cidade,ver gente, andar vontade,respirar um outro ar..O rei pensou em negar,mas sentiu que no devia,concordou com o passeioembora sem alegria.Deu instrues ao criadoe tudo foi combinadopara a manh do outro dia..Antes, mandou que enfeitassemos caminhos e a cidade.para que o filho s vissebeleza e felicidadee no pudesse encontrarnada capaz de magoarsua sensibilidade..Recolheram-se mendigos,pobres, cegos, aleijados,as ruas foram varridas.os prdios todos lavados.Doentes, feridos, leprosose at os homens idososforam todos retirados..Siddarta saiu com Channano outro dia bem cedinho,aplaudido pelo povodurante todo o caminho.De todas as direesvinham manifestaesde entusiasmo e carinho..As ordens de Suddhodanaeram sempre respeitadas:as casas estavam limpas,as avenidas lavadas,as pessoas bem vestidas,as ruas todas varridas;e as praas embandeiradas.

Tudo transcorria bem,Siddarta estava contentequando, de forma imprevista,surgiu bem na sua frenteum mendigo esfarrapado,velho roto, esclerosado,- um arremedo de gente!.O velho saiu aos gritospulando de entre a folhageme prostrou-se em.plena estrada.na frente da carruagem,chamando a ateno de Buda,implorando a sua ajuda,interrompendo a passagem..Siddarta desceu do carro,conversou com o ancio,contemplou o seu estadocom profunda compaixo,deu-lhe o dinheiro que tinhae, como a noite j vinha,regressou para a manso..

Trancou-se em seus aposentoschamou Yasodhara e dissepara no ser perturbadoe, sem que ningum o visse,meditou por vrios diassobre a dor, as agoniase a Solido da Velhice..Saiu da meditaobastante transfigurado,no se alimentava bem,nada era de seu agrado.Seu desejo era partir,desaparecer, sumir,abandonar o reinado!.Quando o rei soube de tudoatravs de um seu criado,ficou bastante abatido,sentiu-se desmascarado.Sonhava todos os diaspensando nas profecias,cada vez mais preocupado.Siddarta, ento, disse ao rei:"Abra os portes, um por um,quero sair amanhcomo um cidado comum,sem pompas, sem carruagem,sem guardas, sem vassalageme sem aviso nenhum.".Embora contra a vontadeo rei lhe deu permisso,Siddarta saiu com Channamisturou-se multido,conversou com lavradores,ladres, sbios, mercadores,como homem, como irmo.

Sem as insgnias reaispercorreu toda a cidadefalou com pobres e ricosdiscutiu com a mocidade.Quanto mais se aprofundavamais sentia que ansiavapor conhecer a Verdade

Foi a templos, hospitais,prises, asilos, escolas,viu milhares de mendigosexibindo-lhe as sacolas,viu a dor e a ignornciae chorou de ver a infnciafaminta, pedindo esmolas..Ao se afastar das muralhasda cidade, rumo ao Norte,Siddarta ia depararuma emoo bem mais forte:viu, sem poder fazer nada,a luta desesperadaentre um moribundo e a morte.Channa e o prncipe andavamquando surgiu, no caminho,todo coberto de chagasum campons bem velhinho.A peste o tinha atacadoe o povo o tinha largadopra morrer ali, sozinho..Quase morto, j sem foras,o ancio suplicava:queria morrer em casaonde a famlia o esperava.S encontrava indiferena,porque a sua doena,alm do mais, contagiava.Ante o protesto de todosinclusive seu criado,Siddarta pegou o velho,ps nos ombros com cuidado,levou-o casa, correndo.O velho acabou morrendo,mas antes foi confortado,.Siddarta viu, transtornado,sem nada poder fazer,a luta do homem com a mortee a morte, por fim, vencer.Quando tudo consumou-sechamou Channa e retirou-sesem nada mais querer ver.

Recolheu-se em seu palcionum sofrimento profundo,meditou sobre a angstiae a morte do moribundo,vendo no acontecimentoa dor e o sofrimentodos homens todos do mundo..Viu que a morte torna iguaiso pobre e o potentadoe o sofrimento nivelao analfabeto e o letradoque a riqueza acaba em runae que o prprio amor terminana perda do ser amado!.Viu que o homem vem ao mundonum grito de sofrimento,sofre a doena, a velhice,sofre da morte o tormentoe volta em outra existncia,para cumprir a sequnciade dor e padecimento....Depois de meditar muitochegou a uma concluso:no lhe era mais possvelpermanecer na manso,resolveu que iria embora,sair pelo mundo afora,cumprir a sua misso!.Renunciou ao reinado,hierarquia, propriedade,esposa, fortuna, luxo,para buscar a Verdadee as origens da dor,dedicar-se ao puro amor,libertar a humanidade!.Chamou, ento, Yasodharaapertou-a ao corao,explicou-lhe as razes todasde sua resoluodisse-lhe o quanto sentia,mas que no mais poderiapermanecer na iluso.

- "VOC ME TEM DE DIREITO,MAS DE FATO NO ME TEM.SAIBA QUE EU LHE AMO BASTANTELHE DESEJO TODO O BEM.EU REGRESSAREI POR CERTO,MAS S VOLTAREI LIBERTO,PARA SALV-LA TAMBM.".A princesa tentou tudopara o fazer desistir,por fim, falou-lhe do filhodos dois, que estava por vir.Siddarta ouviu comovido,mas j estava decididoe ento tratou de partir.

Todos dormiam na Corte,era uma noite estrelada.Ele beijou Yasodharae saiu sem dizer nada,mandando Channa o vassalo preparar o seu cavalopara aquela madrugada..O criado ainda lhe disse: "Deixai parentes e amigos,prazeres, riquezas, trono,para viver com mendigospelas montanhas geladas,entre as feras esfomeadase mil outros inimigos?!."Vs que tendes a fortunae o privilgio do trono,largais toda essa riquezapara viver no abandono,sem ter nem sequer direitoao terno calor de um leitonas vossas noites de sono?."Pensai na angstia do reiao notar vossa partida,refleti no desesperode vossa esposa queridaque vos deu o seu amor!E ns, teus servos, Senhor,que ser de nossa vida?!".Siddarta abraou o amigoe, sem querer ser severo,olhou-o dentro dos olhose disse num tom sincero:"PODES FICAR DESCANSADO,TUDO ISTO J FOI PENSADO, ISTO MESMO QUE EU QUERO.."O AMOR QUE, POR COMODISMO, CAPAZ DE SE PRENDERS CRIATURAS A QUE AMAPRA DELAS TIRAR PRAZER, UM SENTIMENTO EGOSTA,FALSO, IMPURO, EXCLUSIVISTA,QUE DEVEMOS COMBATER!.CULTIVAR UM TAL AMOR SIMPLES HIPOCRISIA.AMO MEU PAI E A PRINCESAMAS DO QUE A MINHA ALEGRIAJUSTAMENTE POR AM-LOSVOU PARTIR, PARA SALVA LOS,QUANDO EU VOLTAR ALGUM DIA"..O criado, banhado em pranto,mostrava o quanto sofria.Siddarta ento lhe falou:"PREPARA OUTRA MONTARIA,J QUE S TO LEAL AMIGO,CAMINHA UM POUCO COMIGO,VEM ME FAZER COMPANHIA".

Montado no seu cavalo,deu uma ltima olhada,despediu-se dos jardinsde sua priso dourada,fazendo um aceno mudo,num gesto de quem diz tudosem precisar falar nada..Fitou o cu estrelado,as mos sobre o corao,saudou a lua e as estrelascomo a pedir proteo.L longe, os astros brilharam,num sinal de que aprovarama sua resoluo....Channa seguia ao seu ladosem entender o mistrio.Siddarta bastante alegreo criado calado e srio.Cavalgaram noite aforaat que, ao romper da aurora,chegaram no fim do imprio..Ali mesmo na fronteirado que fora o seu reinado,Buda desceu do cavalo,despediu-se do criadoe lhe pediu, com amor,um derradeiro favor:levar ao rei um recado..Despiu-se de sua tnicae do cinturo real,cortou toda a cabeleiracom a espada imperiale recomendou a Channaque entregasse a Suddhodanacom seu amor filial:. - LEVA TODAS ESSAS COISASDE QUE NO PRECISO MAIS,MEU CAVALO, MINHAS JIAS,E AS MINHAS VESTES REAIS,DIZ SUA MAJESTADEQUE EU VIREI COM A VERDADEOU NO VOLTAREI JAMAIS!

Em torno de Rajagriha- terras do rei BimbisaraExistem cinco montanhas,So: Bipula, Baibhara,Tapovan, SailagiriE, ao leste, Ratnagiri.Nesta, Siddharta ficara..No dorso dessa montanhade penhascos escarpadosdescobriu uma cavernaonde ps seus ps sagrados,fez muitas meditaesentre trridos verese crepsculos gelados..Passava os dias e as noitesem meditao tranqilapossua o manto amarelo,a marmita e uma mochila.Quando a comida acabavaele vinha e mendigavanos arredores da vila..Brincava com as crianas,conversava alguns momentos,retribua as esmolascom mil agradecimentos,voltava ao seu santurio,na caverna, solitrio,entregue aos seus pensamentos..Geralmente ao meio diasentava-se a meditar,ficava at meia noiteem viglia, sem parar,levantava, olhava a lua,deitava na relva nuaat o sol acordar..Quando a aurora comeavaa despontar no horizonte,Siddharta saudava o sol,descia correndo o monte,at chegar ao baixio,tomava banho de rioe bebia gua da fonte..Junto s montanhas viviamuns estranhos ermites,faquires fanatizadosque, entre horrveis contorses,seu prprio corpo aoitavame assim se auto-mutilavamcom mil mortificaes..Certo dia, o Senhor Budatomado de compaixo,foi ao chefe dos faquirese quis saber a razodaquela exibio ftil,daquele flagelo intil,e ouviu esta explicao:

"Segundo o que est escritoem nosso livro sagrado,quem mortifica seu corpoat ficar mutiladoe encontra, na dor, a morte,modifica a sua sortee se livra do pecado"..Buda, ento, lhe replicou:"VS ESSA NUVEM, IRMO?VEM DO MAR FEITO DE ROS,VIRA GOTA, VOLTA AO CHO,SER RIO, SER MAR,E TORNAR A VOLTARAO SEIO DA CRIAO ....V, POIS, MEU CARO ERMITO,QUE O QUE SEMPRE SER...ESSA MORTIFICAOEM NADA TE MUDAR.E AGORA PEO QUE FALES:PORQUE JUNTAR TANTOS MALESA VIDA QUE J M"?!."NOSSO CORPO NOSSO TEMPLOQUE DEVE SER PRESERVADO,MORADA DE NOSSA ALMAE SEU REFUGIO SAGRADOPOR ONDE OLHAMOS P'RA FORA.COMO AGUARDAMOS A AURORA,SE O CORPO FOR MUTILADO?!".O velho ermito lhe disse:"Poupai, pois, o corpo vosso.Eu j escolhi meu caminho,mud-lo agora no posso.Deixai que eu siga sozinho,segui o vosso caminho,ns seguiremos o nosso"..Buda voltou cavernacom mais esse ensinamento:cada homem faz de sua vidasua glria ou seu tormento,e escreve a prpria sentenaconforme o modo que pensae o grau de discernimento!

Depois, em meditao,Buda pode percebereste estranho paradoxo:o desejo de viverfaz do homem um suicida,ou seja, o apego vidaque faz o homem morrer..Era o fio-da-meadaesta nova concluso,querendo penetrar maisno fundo dessa questo,recolheu se novamente,voltou-se para o nascentee entrou em contemplao.

Agora, se contemplava,j no meditava mais,totalmente abstradodos sentidos materiais,liberto das sensaes,dos sonhos, das emoes,livre das ondas mentais....Muitas vezes se deixavapermanecer nesse estadodias e noites seguidos,alheio ao mundo extasiado,entregue a contemplao,sem ter a menor nooque o tempo tinha passado!.Um dia, Ele caminhavana plancie, aps o banho,viu uma nuvem de pque acompanhava um rebanhoseguido de seus pastores,e escutou uns estertores,um certo balido estranho..Seguiu, de perto, as ovelhas,apurou bastante o ouvidoat poder descobrirde onde partira o gemido,e notou um cordeirinhodesviado do caminho,muito causado e ferido..Ao lado do borreguinhosaltitava um seu irmo,enquanto sua me berravana mais tremenda aflio,sofrendo pelo destinodo filhote pequeninoque agonizava no cho..Diante daquele imprevistoBuda se apiedou tantoque pegou o cordeirinhoenrolou-o no seu manto,ps no colo, de mansinho,e o conduziu com o carinhode quem conduzisse um santo!.Despediu-se da montanhae seguiu em romaria,disposto a ir com o cordeiroaonde o rebanho iria,a ovelha a fazer-lhe festa,correndo pela floresta,dando pulos de alegria....Siddarta pode sentirnessa gratido materna,que valia muito maisuma atitude fraternade amor e compreensoque um ano de reclusono fundo de uma caverna...

Ao meio-dia os pastorespararam para almoarOs carneiros, estrupiados,trataram de se deitar.Siddharta olhava os caprinostemendo por seus destinos,e resolveu perguntar:."RESPONDEI-ME IRMOS PASTORES,ONDE IDES E ONDE LEVAIS,EM MEIO AO SOL INCLEMENTEESSES POBRES ANIMAISNESSES CAMINHOS POEIRENTOS?VEDE, ELES ESTO SEDENTOSE J NO SUPORTAM MAIS!". "O nosso rei, Bimbisaramandou-nos arrebanhar100 cabras e 100 carneirosque ele ir sacrificarhoje noite, aps o ofcio,e ofertar em sacrifcioaos deuses, no p do altar".Siddarta pensou e disse:"NO TENDES CULPAS, EU SEI.ESTAIS APENAS CUMPRINDOAS ORDENS DE VOSSO REI.IREI CONVOSCO CIDADE,VEREI SUA MAJESTADE.EU VOS ACOMPANHAREI!".Quando o sol baixou um poucoamenizando o mormao,o rebanho foi tangido,Siddarta seguiu lhe o passo,percorreu todo o caminhoconduzindo o carneirinhoferido, embaixo do brao..Atingiram a cidadena hora do sol se pr.A populao inteiraquis ver o estranho pastorem cujos olhos brilhavauma luz que irradiavacompreenso, paz e amor..Os soldados que faziamsentinela, no porto,olharam para Siddartacomo a uma apario.No s lhe deram passagem,mas renderam-lhe homenagem,tal era a sua expresso..As mulheres e as crianasentraram correndo atrse perguntavam: QUEM ESSE HOMEM, E QUE FAZ?CAMINHA COM TANTA GRAAE DEIXA POR ONDE PASSAUMA SENSAO DE PAZ!"

Diziam uns: " UM PRNCIPEQUE ABANDONOU SEU IMPRIOE EMBRENHOU-SE NAS MONTANHAS,DEDICADO AO MONASTRIO."Outros diziam: UM SANTO,e tocavam no seu manto,com ar respeitoso e srio..Siddarta nada escutavadaquela especulao,andava altivo e serenoem plena meditao,at que um guarda o pegoupelo brao e o afastouda pequena multido..Ele ainda saudou todoscom um gesto de carinho,acompanhou o soldadoe, quando se viu sozinho,foi seu primeiro cuidadobuscar um canto isoladoe tratar do borreguinho..Foi ele mesmo cozinha,conseguiu gua fervida,tratou bem do ferimento,deu ao bicho gua e comidae o deixou-o em companhiada ovelha que tudo viasatisfeita e agradecida..Um pastor falou ao reique um homem desconhecido,habitante da montanha,tinha o rebanho seguido.Tipo estranho meigo e fortee que salvara da morteum cordeirinho ferido..

Na sala dos holocaustoshavia um grande bulcio:Brmanes cantavam mantrasiniciava-se o ofcio,as ovelhas alinhadas,de cabeas amarradas,prontas para o sacrifcio..Quando o rei entrou na salacomeou o ritual:um sacerdote, que orava,parou, pegou o punhale foi para a cabra presa,atada, inerme, indefesa,ia sangrar o animal!.Nisto, Buda entra correndoe se interpe, circunspectoentre o sacerdote e a cabra!To grave era o seu aspectoque o sacerdote estacou,e o prprio rei o encarouante o espanto de seu squito!

Um silncio indescritveltomou conta da platia.Voc que l esta histriapode lazer uma idiado horror generalizadoque esse gesto inesperadocausou naquela assemblia!.O rei olhou pra Siddartado alto de sua nobrezae viu, alm da coragem,da bravura e da franquezadaquele mendigo pobre,um porte sereno e nobre,um toque de realeza!.Depois, voltou a sentar-sej mais tranquilo e refeito.A, Siddarta curvou-se,as mos postas frente ao peito,pleno de serenidade,saudou sua Majestadecom o mais profundo respeito..O rei no s respondeudo prncipe a saudao,mais ainda lhe fez um gestoem que dava permissopra que Siddarta falassee assemblia explicasseas razes da intromisso.. "PERDOAI-ME MEU NOBRE REIPOR INTERROMPER O OFICJO,MAS NO PUDE PRESENCIARO RITUAL DESDE O INCIO.SEI QUE NO AGI DIREITO,MAS EU NO TINHA OUTRO JEITODE EVITAR O SACRIFCIO.."VS SABEIS QUE A VIDA FRGILTODOS A PODEM TIRAR,EMBORA NENHUM DE NSTENHA O PODER DE A CRIAR.A VIDA UM DOM PRECIOSO,DIVINO, MARAVILHOSO,QUE TODOS QUEREM GOZAR...."ESSES CARNEIROS NOS OLHAMA VS, A MIM, AOS PASTORES,COMO A SANTOS, COMO A DEUSES,COMO A SERES SUPERIORES.NO ENTANTO, QUANDO OS MATAMOSNS TODOS NOS COMPORTAMOS .COMO SERES INFERIORES!."O HOMEM QUE, NA AFLIODE SEUS MOMENTOS CRUCIAIS,SUPLICA AOS DEUSES CLEMNCIAE JURA NO PECAR MAIS.MATA ANIMAIS. IRMOS SEUS,ELE - QUE IGUAL A UM DEUSAOS OLHOS DOS ANIMAIS!

"PROCEDEM DESSAS OVELHASA L E O PLO MACIOQUE AQUECEM OS NOSSOS CORPOSNAS LONGAS NOITES DE FRIO,SEU LEITE SALVA AS CRIANAS,QUE CHORAM. SEM ESPERANAS,COM O ESTMAGO VAZIO ...."NOSSO SANGUE, MAJESTADE,TEM A MESMA COR VERMELHAE SE NUTRE, E SE ALIMENTADA MESMA ETERNA CENTELHAQUE ANIMA E NUTRE IGUALMENTEO SANGUE PURO E INOCENTEDE UMA CABRA OU DE UMA OVELHA!

"A MESMA CHISPA DIVINAQUE HABITA O MEU CORAOHABITA O DESSE CARNEIRO,MEU SEMELHANTE E IRMO.FAZER. UM BICHO MORRER O MESMO QUE INTERROMPERO CICLO DA CREAO!...."EST NOS LIVROS SAGRADOS(E TODOS VOS O SABEIS)A LEI DE CAUSA E EFEITOQUE A MAIS SBIA DAS LEISPRECONISA EM SEUS ANAIS:REIS J FORAM ANIMAISE ANIMAIS J FORAM REIS!.NO SER COM O SACRIFCIODE UM ANIMAL IMOLADOQUE OS DEUSES-VIRO SALVARA NINGUM DE SEU PECADO.UM DEUS QUE JUSTO E CLEMENTENO PODE FICAR CONTENTEVENDO SANGUE DERRAMADO!."A JUSTIA UNIVERSALV TODOS NOSSOS MOMENTOSE SUMAMENTE IMPLACVELEM SEUS SBIOS JULGAMENTOS,PREMIANDO A MAUS E BONSCONFORME AS SUAS AESPALAVRAS E PENSAMENTOS!."SEGUNDO ESSA LEI DIVINATODOS OS SERES CRIADOSDARO CONTA, PESSOALMENTE,DOS ATOS CERTOS E ERRADOSSEJAM PUROS OU IMPUROSE, ASSIM, TODOS OS FUTUROSSO O FRUTO DOS PASSADOS!."SE NINGUM SACRIFICASSEESSES POBRES INFELIZES,SE TODOS COMESSEM FRUTOS,GROS, FOLHAS, ERVAS, RAZES,NO HAVERIA MAIS GUERRA,REINARIA PAZ NA TERRATODOS SERIAM FELIZES".

Quando o prncipe Siddartainterrompeu seu sermo,toda a assemblia, em silncio,tributou-lhe aprovao.Ento, o rei levantou-sejuntou as mos e curvou-sesaudando-o como a um irmo..Nesta altura, os sacerdotescurvaram-se envergonhados,derrubaram um por umseus altares inflamadosjogando fora os punhaiscom que h pouco os animaisestavam sendo sangrados..No outro dia, Bimbisaraque era um rei muito corretomandou sua assessoriaelaborar um projetoque ele transformou em Lei.Eis o que dizia o reino texto de seu decreto:.FICA, A PARTIR DESTA DATA,DECRETADA A PROIBIONOS ESTADOS E PROVNCIASDE TODA NOSSA NAO,DE SE MATAR ANIMAIS,SEJA PARA RITUAISOU PARA ALIMENTAO..Querendo dar a Siddartaprova de agradecimentos,Bimbisara ofereceu-lheos melhores aposentose mais a sua amizade,pra ele ficar na cidadetransmitindo ensinamentos..Siddarta agradeceu muitoas ofertas imperiais,mas disse que o seu destinono era as pompas reaisnem as luzes da cidade.Ia em busca da Verdade,precisava saber mais.

Disse-lhe o rei: No nascestepara viver no abandono,mendigando pelas vilaspobre como um co sem dono.Ters o meu reino inteiro,pois como eu no tenho herdeiroTu herders o meu trono".. "J que insistis disse Buda com a maior humildade Eu tambm tive o meu reino,trono, esposa, propriedadee a tudo renunciei,para conhecer a Leie procurar a Verdade.

"As montanhas so meu Lar,a natureza o meu tto.Um dia, se eu descobrira Luz do Saber Correto,virei por aqui de novopara ensinar vosso povoe resgatar vosso afeto"..Vendo que a sua insistnciade nada lhe adiantasse,o rei abraou o prncipe,deps-lhe um beijo na face,despediu-se sorridentedesejando ardentementeque Siddarta triunfasse..J se passaram seis anosde pesquisas incessantes,de viglias, de jejunse meditaes constantes.Siddarta permaneciabuscando a Sabedoriae com a mesma sede de antes!.Na .sada da cidadesoube, de fontes diretas,que nos bosques da montanhahavia sete profetas,homens de cincia rara,que eram Udra e Alaracom cinco outros ascetas.

Foi conversar com os sbios,ponderou suas verdades,discutiu seguidamentecom as sete celebridadessobre a parte exotricae toda a cincia esotricados Vedas e Upanixades..Achou bastante profundoo que esse grupo ensinava,mas no era, essencialmente,o que Siddarta buscava.Despediu-se dos ascetassem as resposta concretasque a sua alma procurava.A cada instante sentiaque a busca no era v.Atingiu o rio Gangesum dia pela manh.as guas se misturavam,pois dois rios se encontravam o Mohana e o Vilajan..Tomou um banho e seguiusem destino, a caminhar,at que uma intuiolhe apontou para um lugare ele partiu confiante:era o ponto culminanteda montanha Barabar.

Ali, ficou alguns mesesmeditando noite e dia.Entre a viglia e os jejunso seu tempo dividia,dormia uns poucos minutose s comia alguns frutosque a terra lhe oferecia.Certa tarde adormeceuto fraco e to abatidoque permaneceu no sol,prostrado, desfalecido.To magro o seu corpo estavaque quem o visse pensavaque ele tivesse morrido..Foi salvo por um pastorvindo das bandas do Norte,que lhe deu leite de cabrae o retirou do sol forte.Se no fosse aquela ajudacertamente o Senhor Budateria encontrado a morte..Quando o prncipe acordouo pastor tinha partido,viu que o tiraram do sol,sentiu que tinha comido,estendeu o olhar de monge,viu seu salvador l longee o saudou, agradecido..De outra feita, meditavasob uma rvore, sentado,no mais completo silncioquando se viu despertadopor acordes musicaisque eram como madrigaisao seu ouvido apurado..Olhou e viu que era um grupode msicos e bailarinascom seus vestidos bordadose meias de sedas finas:uma verdadeira festa,um bailado na floresta,um sonho em meio s colinas.Adiante, o grupo paroude tocar e de danare uma das danarinasveio ao msico avisar:afina a citara pra nsna altura de nossa voz,que agora vamos cantar..A danarina insistiapara que a afinaono fosse alta nem baixa,mas em um diapasoem que existisse harmoniaentre o que a ctara diziae o que falava a cano.

Quando o grupo foi-se emboraenvolto em sua alegria,Siddarta ps-se a pensarsobre o que a moa dizia:"HARMONIA, AFINAO...O QUE FALAVA A CANO...O QUE A CTARA DIZIA"....Contemplou seu corpo magrosobre a pele ressequida,fitou o cu e falouda forma mais decidida:devo ter exagerado,talvez eu tenha esticadodemais as cordas da vida...."Os meus olhos esto turvos,embora eu veja a Verdade,sinto que no vou ter forasna hora da necessidade.Vou poupar a minha vidapara entreg-la em seguida causa da Humanidade!.Na cidade de Senanificou uma temporada,quando sentiu que a sadej estava recuperadapartiu dali para Bearonde, enfim, iria achara meta to almejada.Nesta altura, era to forteo seu poder de vidnciaque ao avistar uma rvoreteve plena conscinciaque aquela copa frondosaera a ficus religiosaou a rvore da Cincia....Dirigiu-se para a rvorenum passo determinado,olhou para o firmamentoe fez seu voto sagrado:"AGORA, EU ME SENTAREIE DAQUI S SAIREIOU MORTO OU ILUMINADO!".Aqui, meu caro leitor,ns vamos ter que parar.Voc vai respirar fundo,eu tambm vou respirar,pra ver se a gente consegueextrair do que se segueo que h para assimilar....Talvez me faltem palavrasporque a linguagem humana pobre para expressarqualquer coisa soberana,quanto mais para exprimiro que algum possa sentirao penetrar no NIRVANA!

Como expressar em palavrasde modo a ser entendido,o estado em que a gente ouvesem utilizar o ouvido,enxerga sem a viso,sente toda sensaosem usar nenhum sentido?!.Como descrever a vozaparentemente mudado silncio absolutoque escutava o Senhor Buda?,o som que ningum escuta,a luta que no luta,a mudana que no muda?!.Como explicar uma Luzque est sempre a iluminar,envolve a todos os seres,clareia em todo lugar,brilha em todos os sentidos,mas somente aos escolhidos dado v-la brilhar?!.Vejamos at que pontopoderei, leitor amigo,sem falsear a verdadenem vacilar no que digomostrar o que o Buda viu,percebeu, ouviu sentiue o que se passou consigo:.Logo que Ele se sentouum sol imenso o envolveu,todo o cu iluminou-se,a terra inteira tremeu.Riram-se os santos e os Devasporm Mara o rei das trevas l no inferno estremeceu..Mara que quer dizer diabono idioma dos hindus quando viu Buda sentar-seconvocou seus belzebuse ordenou lhes sem rodeiopra evitar por qualquer meioque o Mestre encontrasse a Luz!.Mara sentia estar prximoo final de seu reinado,pois sempre que um Avatarse torna um Iluminado,prova que o diabo ilusoe, ao vencer a tentao,desmoraliza o pecado.Por isto, o interno de Maratornou-se um Deus-nos-acuda:chamou todos os demniose exigiu-lhes sua ajuda,mandou que se disfarasseme a todo custo evitassema Iluminao de Buda!

Primeiro, veio o egosmodisfarado de bomzinhoe disse ao Buda: Est bemvou te mostrar o caminhodesde que tu te ilumines,mas a ningum mais ensines Sejas Buda tu sozinho"!.Mas Buda, reconhecendo-orechaou-o com firmeza:"NO CONSEGUES ME ENGANAR,CONHEO A TUA ESPERTEZA,S ILUDES AOS QUE TE AMAM E A SI MESMOS SE PROCLAMAMCOMO DONOS DA CERTEZA"..E assim desfilaram todosos mais temveis pecados:o orgulho, a concupiscncia,os prazeres desvairados,o dio o mais triste deles Buda venceu todos eles,foram todos derrotados..Nessa primeira vigliavieram raios e tufes,relmpagos, tempestades,tremor de terra, troves,tudo isto Mara mandava,mas Buda continuavaentregue as meditaes..J na segunda vigliafoi enviada por Maraaquela que, para Budaera a lembrana mais cara:mandou-lhe uma bailarina,linda, esplndida, divina,disfarada em Yasodhara..Na viso ela dizia:"Vem, me beija, s o meu dono,no vs, prncipe, que morrodevido ao teu abandono?Vem, nosso leito te espera,deixa toda essa quimerae volta pro nosso trono"..Mas Buda identificounaquela viso to claraque procurava envolv-lona forma de Yasodhara,mais um fruto da iluso,mais uma maquinao .da astcia incrvel de Mara..Quando Siddarta venceuos pecados capitaisrecolheram-se aos abismosas legies infernaise Ele viu que inferno e cusno so mais que simples vus,sonho, iluso, nada mais!

Veio a terceira viglia:liberto das tentaes,Siddarta viu claramentesuas peregrinaes(lutas, vitrias, tormentas)era um total de quinhentase cinquenta encarnaes..Nas vidas anterioresviu seus bons e maus auspcios,florestas, pntanos vales,cavernas e precipcios,prazeres, vicissitudes,e o triunfo das dez virtudessobre a escravido dos vcios..Viu como, em cada existncia,colhia implacavelmenteo que havia semeadona existncia precedente,e a Justia que o cu dno boa nem m,Mas Justia....simplesmente!.Na altura da meia noiteveio a mais bela viso:Buda entrou noutras esferasonde sis em profusoiluminavam as vidasde galxias escondidas,numa quarta dimenso....Viu satlites girandode maneira invarivelem torno de seus sistemas,cada um mais formidvel,tudo obedecendo a um planoinfinito, soberano,preconcebido e imutvel!.Milhes de mundos rodando extrema velocidade,se formando e se extinguindocom uma regularidadecapaz de causar espanto,separados, e, entretanto,Integrando uma Unidade!....Transps cimos, profundezas,desvendou estratosferas,viu atrs das aparncias,ouviu alm das esferas,foi aos abismos mais fundos,habitou todos os mundos,viveu em todas as eras....Ele, que j tinha vistoa Lei de Causa e Efeito,viu a Lei da Evoluomelhorando o que est feito,Fazendo o Grande MAIOR,Tornando o Bom no MELHOR,fazendo o Melhor PERFEITO!

Viu que a mo do Absoluto essa Lei sempre imutvel constri, conserva, destride maneira inexorvel,depois, volta a construir,conservar e destruircumprindo um ciclo infindvel..Durante a quarta viglia,j com sua alma libertae a super conscinciainteiramente desperta,Siddarta perceberiao que, por certo, seria,sua maior descoberta:.As QUATRO NOBRES VERDADESque iriam ser a sementede sua Filosofiavieram simultaneamentepuras, claras, cristalinas,como emanaes, Divinaspousadas na sua mente!.Primeiro, ele percebeuque A DOR A SOMBRA DA VIDAe, a, pode ver a DORclaramente refletidana face da Humanidade.Era a Primeira Verdadeque ficava esclarecida..Pensou na CAUSA DA DORe percebeu num lampejoe, ao perceber, proclamou:""Sim, claro, agora eu vejo,as dores que ao mundo afligem,todas elas tm origemnas sensaes, no DESEJO!.Estava assim descobertasua Segunda Verdade:Sensao gera desejo,desejo gera ansiedade,ansiedade dor, conflito,e assim at o Infinitoe por toda a Eternidade!.Aprofundou ainda maisa sua meditao,viu a Terceira Verdadebrotar no seu coraovinda da Fonte da Vida,pode bem ser resumidanesta simples equao:.Sabendo que A VIDA DORe A DOR VEM DA SENSAO,quem perceber que os sentidosno passam de uma iluso,sublima a existncia humanaentra na paz do Nirvanae alcana a libertao...

A Quarta Nobre Verdadeaponta o caminho ou Viade Oito etapas, que resumeo cerne e a Filosofiado Budismo original profundo manancialde pura sabedoria!.Essa Estrada de Oito Viasnem sempre bela e florida,tem desvios, precipcioscomo os caminhos da vida exige muita prudncia,retido e pacinciapra poder ser percorrida.. o caminho tortuosopontilhado de aflio,mas, como tudo o que durotem sua compensao: a Estrada que conduz Paz, Verdade, Luze Verdadeira Unio..Finalmente, a Grande Viapela qual a Raa Humanalivre das superstiescaminhar soberana,encontrar Liberdade,vislumbrar a Verdadee atingir o Nirvana!.As primeiras Quatro Viasso mais simples, mais diretas,visam todas as criaturas cultas ou analfabetas.Seus quatro preceitos so:CRENA, PALAVRA, INTENOe mais CONDUTA corretas!.As segundas quatro viasmais difceis, mais completasdestinam-se mais aos monges,aos discpulos e ascetasConstam de: MEDITAO,PENSAMENTO, SOLIDOE a pureza corretas!.Neste ponto, o Senhor Budafoi voltando aos seus sentidos.Apalpou o prprio corpocom seus dedos doloridos,experimentou o tato,provou o gosto e o olfatoe apurou bem os ouvidos..Por ltimo, abriu os olhossob a rvore benditavivendo uma sensaoto Divina, to bonita,to forte, to colorida,que poder ser vivida,mas no pode ser descrita!

Ergueu-se, respirou fundo,caminhou pelo deserto.Agora, sim, era O BUDA,o DUAS VEZES DESPERTO,Liberto dos sofrimentos,da roda dos Nascimentose Mortes, enfim LIBERTO!.Atravessou a montanhapregou em vrios lugaresEscolheu cinco discpulosda cidade de Benares,Falou-lhes seguidamentee os instruiu verbalmentenas verdades basilares..Depois, no parque dos Gamoscinquenta e quatro senhorese mais o prncipe Yasadtornaram-se seguidoresdo mestre amado e singelo,vestiram o manto amareloe foram ser pregadores..Aos sessenta novos mongesBuda entregou com carinhoas Verdades e os Princpiosescritos num pergaminhoe pediu-lhes que viajassempregando aos que desejassemsobre as Vias e o Caminho..J fazia sete anosque Siddarta se ausentaradas terras de Suddhodana,de Channa e de Yasodara.Era tempo de voltar,mas, antes, quis visitaro reino de Bimbisara..Na cidade florestalpermaneceu alguns diaspregando as QUATRO VERDADESe o Caminho de OITO VIAS.Enquanto Buda pregavaa cidade fervilhavaem constantes romarias..Como fruto imediatodessa rpida passagem,mais 900 discpulosapreenderam a mensagem,fizeram suas opes,receberam instruese empreenderam viagem..Nessa altura, Suddhodanaj tinha sofrido horrores:mandara nove recadospor diversos portadores,mas seus homens no voltavamouviam Buda e ficavamtornavam-se seguidores.

Na mesma situaose encontrava Yasodhara:mandou vrios emissrios,diversas cartas mandara.Nem emissrios nem carta,todos acharam Siddarta,mas nenhum s regressara..Por fim, o rei Suddhodanabotou numa carruagemo seu ministro Udaiye instruiu o personagem,solicitando-lhe ajuda:entregar em mos de Budasua dcima mensagem..Junto ao Jardim dos Bambusuma grande multidocontemplava o Senhor Budasentado em meditao.O ministro aproximou-se,sentou-se aos seus ps, curvou see ps-lhe a carta na mo..Na hora em que o Senhor Budavoltou novamente a si,leu a mensagem do reie falou para Udaiy:"Ide e anunciai ao reique irei, certamente, ireilogo que eu partir daqui..Quando o rei anunciouque Siddarta voltariahouve em Kapilavastuuma exploso de alegriadesde a cidade floresta,todo o povo entrou em festaa partir daquele dia..Deixo a critrio, leitor,de sua imaginao,ver a pompa, o luxo, o brilho,o requinte, a ostentaocom que o rei se preparoue a cidade engalanoupara aquela recepo!.Ergueu pavilho de floresno porto Sul do reinado,o caminho at o palciofoi todo ele atapetadode rosas, cravos, jasmim,sndalo, lrio e alecrim era um den perfumado.Para tornar o percursomais enfeitado e mais belo,escolheu 100 bailarinasque, vestidas de amarelo,danariam num bailadodesde o pavilho douradoat o porto do castelo!

Yasodhara preparou-secom todo esmero e cuidadovestiu seu vestido de ouroque h muito estava guardado,Chamou seu filho Raul e foi para o porto sulesperar seu bem-amado!.Mandou ocultar o carropor detrs de um arvoredoe ali deixou-se ficarescondida, desde cedo,os olhos fixos na estrada,tremendo, descontrolada,com alegria e... com medo!.Passava do meio diaquando ela viu um ermitopedindo esmolas nas casas,passos firmes, ps no cho,a tnica amarelada,com a cabea raspadae uma marmita na mo..Notou que dois outros mongeslhe faziam companhiaos trs caminhavam juntos,porm s ele pedia,viu que as casas se fechavame as pesssoas se juntavam multido que os seguia..Quando Ele se aproximou frente do povaru,a princesa, ainda em dvida,levantou-se, ergueu o vureconheceu-o e, por fim,prostrou-se e ficou assimcomo quem entra... no cu!.Abraou-o e, nesse abraopercebeu um novo encanto,uma sensao diversada que antes sentira tanto:no era o abrao do homema quem as paixes consomem,era o abrao do Santo..Em vez da ardncia e calordaquela paixo vorazque envolvia os seus abraosh sete anos atrs,agora, apenas sentiaemanaes de alegria,vibraes de pura paz..Num relance, Yasodharasentiu que sua ansiedadetransformou-se em um estadode plena serenidade.Naquele abrao to castosentiu um amor bem mais vastoporque era amor de verdade.

Quando o rei soube que o filhochegou feito um ermitopedindo esmolas aos pobres,deu trinta murros no chodecidido a espinafr-lo,esporeou seu cavaloe foi para o pavilho..Mas seu dio foi cedendoquando viu a multido.Era uma avalancha humanavindo era sua direo.Tratou de ir-se desmontandoe foi a p, caminhando,no rumo da procisso..Quando Siddarta o avistoulanou-lhe um olhar to plenode bondade, de ternura,to divino, to sereno,com tanto amor o abraouque ali mesmo o rei paroude destilar seu veneno..Mesmo assim, ainda lhe disse:"Por que fizeste isto, filho?Eu engalanei teu reinocom toda essa pompa e brilhopara goz-lo contigoe voltas feito um mendigopobre, roto, maltrapilho?!.Buda caminhava altivocomo em estado de Graa.Parou, contemplou o povocomprimido em meio praae disse ao rei: "ESCUTAI,ESTE MEU TRAJO, MEU PAI, O TRAJO DE MINHA RAA!".O rei, porm, retrucou:"Tua raa menos modesta!Pertences a uma linhagemque teve cem reis testa!Cem tronos te precederam,cem reis nos antecederam!No! Tua raa no esta"!

NO VOS REFIRO, MEU PAI,MINHA LINHAGEM MORTAL,MAS A MINHA DESCENDNCIAINVISVEL, MAS REAL,DOS BUDAS ILUMINADOS OS ANTIGOS E OS PASSADOS,A MINHA ESTIRPE IMORTAL!."NO PRETENDO VOS MAGOARNEM CAUSAR QUALQUER DESDOURO,MAS ESTE MANTO AMARELO QUE MEU NICO TESOURO O TRIUNFO DA PUREZASOBRE AS POMPAS E A RIQUEZADE QUALQUER IMPRIO DE OURO!

"O IMPRIO QUE EU VOS TRAGO O IMPRIO DA HUMILDADE,DO AMOR, DO BEM, DA VIRTUDE,DA PAZ. DA FRATERNIDADE,DA RENUNCIA, DA ALEGRIA,DA F, DA SABEDORIA,- O IMPRIO DA VERDADE!.IMPRIO DE QUEM TRIUNFOUSOBRE TODAS AS PAIXES,TRIUNFOU SOBRE SI PRPRIO,SEUS DESEJOS E AMBIES,SOBRE O DESTINO E A SORTE,SOBRE A VIDA, SOBRE A MORTEE TODAS AS ILUSES!.Quando Buda silenciounotou com toda clarezalgrimas de compreensonos olhos de sua Alteza.Caminhou transfiguradoConduzindo o rei, de um lado,e, do outro, o filho e a princesa..Na fronte do Senhor Budabrilhava uma aura lils.E assim entrou no palcio,seus parentes logo atrse a partir daquele diatodos entraram na Viado Amor, da Luz e da Paz!.

Depois de ficar uns diasjunto aos seus familiares,pregou a uma multidoque se contava aos milhares.Foi uma noite de glriaque permaneceu na Histriacomo o SERMO DE BENARES!.Contam os livros antigosque a noite era enluaradae que a Cidade dos Templosestava superlotadaj h mais de uma semana.Toda a nao indianal estava representada..Buda curvou se ante e povo,depois, sentou-se no solo.O rei sentou-se esquerdasem pompa, sem protocoloe Yasodhara direitafeliz, em paz, satisfeita,com o seu filho no colo..Buda comeou falandodas QUATRO NOBRES VERDADESseu sentido, seus valores,suas generalidadese explicou uma por umasem se esquecer de nenhumaas suas finalidades.

Explicou como aplic-laspara vencer as paixes,como possvel vencersofrimentos e aflies,como encontrar a Verdade,a Paz e a Felicidadedominando as sensaes..Esclareceu com exemplosa Lei de Causa e Efeito,mostrou como o homem recebeconforme o que tiver feitonoutras vidas, no passado:colhe o mal se agir errado,colhe o bem se agir direito..

Segundo essa Lei to sbiaCada um o seu juiz:no pode dizer que pobreou mau porque Deus o quis.Conforme AGE, FALAl e PENSAter sua recompensa,ser feliz ou infeliz....Mostrou como funcionaa Lei da Evoluo:como tudo que criadose encontra em transformao,cresce, se expande, evolui,murcha, contrai-se, involui,volta ao seio da Criao!.Dissertou sobre os pecados:o orgulho, a intolerncia,a gula, a inveja, o dio,luxria, apego, arrognciae mostrou que todos eles,sem excluir nenhum delesresultam da ignorncia..Mostrou, depois, que a Virtudefunciona do mesmo jeito,ou seja, o ignoranteda Lei de Causa e Efeitovive num emaranhadoentre a virtude e o pecadosem saber o que direito....Explicou em termos simplesteis para o dia-a-diao Caminho de Oito Etapasmostrando via por viade maneira que a assistnciaentendesse toda essnciada sua Filosofia..Encerrou o seu discursoensinando a multidoos cinco preceitos-chavepara a purificao,um verdadeiro tesouro so as cinco regras de ouropra atingir-se a perfeio.

A primeira dessas regrasse resume simplesmenteem: NO MATAR OU FERIRA QUALQUER SER VIVENTE.Plantas, pedras e animaistm existncias iguaisas existncias da gente..A segunda : NO TOMARCOISA ALGUMA A SER ALGUMPOR FRAUDE OU POR VIOLNCIA,NO ROUBAR A HOMEM NENHUM.Se s possuis um pouco de dinheiro,os milhes do mundo inteirovalem menos que o teu UM ...A regra nmero trspara o homem evoluir: FALAR SEMPRE A VERDADE,no caluniar ou trairjamais a pessoa algumasob hiptese nenhuma.em resumo: NO MENTIR!..A regra nmero quatropreceitua e especifica:EVITAR TODAS AS DROGASE TUDO QUANTO INTOXICA.O corpo um templo sagrado:se ele est purificadoa alma se purifica..Finalmente, a quinta regraprev com toda a clareza:RESPEITO A MULHER ALHEIApara viver em purezano cometendo jamaisquaisquer pecados carnaiscontra as Leis da Natureza!.Durante uma noite inteiraa sua voz cristalinapregou o amor e a renncia bases de sua Doutrina.Nem seu filho cochilavacomo a dizer que aceitavaaquela herana Divina...

Nunca, na histria do mundose ouviu discurso mais belo!Quando ele acabou, o reibeijou-o de modo singelo,fez-se um de seus companheirose quis ser um dos primeirosa usar o manto amarelo..Depois dessa noite histricadespediu-se de Benarese por quarenta e cinco anospregou em templos, altares,vilas, fazendas, cidades,levando as Quatro Verdadesaos mais diversos lugares.

Aos 77 anosBuda o exemplo da Virtude estava em Kusinagara,mesmo na Provncia de UDHe previu seu desenlacemuito embora ainda gozassede absoluta sade!.Uma certa madrugadado Ano 620,Buda chamou um discpuloque foi seu nico ouvintee, num tom de voz bem suave,naquele momento gravelhe transmitiu o seguinte:."Cumpriu-se a minha misso.Dentro em pouco partirei.Vs e os vossos companheirosSabeis tudo o que ensinei.Tomai meus ensinamentose pregai aos quatro ventosA Estrada, a Verdade, a LEI"!?.O monge saiu correndopara avisar aos demais,mas a'alma do Senhor Budaj no era entre os mortais,pairava em pleno Nirvana,livre da cadeia humana,nas regies siderais!

Passados vinte seis sculos,um tero da Humanidadeem todos os Continentescultua com humildadenas mesquitas e nos templosos seus & imortais exemplosde ETERNO AMOR VERDADE!.Desculpe, amigo leitor,as falhas do meu relato.entrou por perna-de-pinto,saiu por perna-de-pato,O Rei mandou-me dizerpra nunca mais me meterNos mistrios do Budato....OM! Shanti, Shanti, Shanti!.FIMParaba, Brasil, 1977