A vivência da morte e do luto na infância e adolescência...PARTE 2 Sobre a morte e a esperança...

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A vivência da morte e do luto na infância e adolescência: recortes psicanalíticos Agalma_CPC_Luto_Miolo.indd 1 10/2/20 3:04 PM

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  • A vivência da morte e do luto na infância eadolescência:recortes psicanalíticos

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    03 6 COLEÇÃO

    PSICANÁLISE DA CRIANÇA

    A vivência da morte e do luto na infância eadolescência:recortes psicanalíticosRosa Maria Marini MariottoAllan Martins Mohr(organizadores)

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  • © Ágalma para a língua portuguesa, 20201a edição: outubro, 2020

    EditorMarcus do Rio Teixeira

    Diretoras da ColeçãoAngela Baptista

    Julieta Jerusalinsky

    Projeto gráfico da capa e primeiras páginasHomem de Melo & Troia Design

    RevisãoSolange Fonseca

    Depósito legal Impresso no Brasil / Printed in Brazil

    Todos os direitos reservados

    Av. Anita Garibaldi, 1815Centro Médico Empresarial, Bloco B, sala 401

    40170-130 Salvador-Bahia, Brasil Tels: (71) 3245-7883 (71) 3332-8776

    [email protected] www.agalma.com.br

    agalmabebesecriancas

    Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)

    A111 A vivência da morte e do luto na infância e adolescência: recortes psicanalíticos. / organizadores: Rosa Maria Marini Mariotto, Allan Martins Mohr. - Salvador: Ágalma, 2020.

    310 p. : 14x21cm.Vários autores.ISBN 978- 65-86488-03-6. (Broch.).

    1. Morte – aspectos psicológicos. 2. Luto – aspectos psicológicos. 3. Psicanálise. I. Mariotto, Rosa Maria Marini. II. Mohr, Allan Martins.

    CDD-150.195CDU-159.964

  • Então, viva!V iva um d i a nub l ado, v iva um pneu fu rado, v iva uma briga ridícula, viva um mar revolto, viva um coração partido, viva a morte que chega, viva os que já se foram. Viva a vida que a cada dia te sopra no ouvido: vai...

    Rosa Mariotto

    ... aos que já foram e deixaram suas marcas...

    ... aos que permanecem e reorganizam os traços...

    ... aos que chegam fazendo novos rastros...

    ... meus agradecimentos, sempre incompletos e cheios de reticências...

    Allan Martins Mohr

  • Sumário

    9 PrefácioLeda Mariza Fischer Bernardino

    PARTE 1Sobre lutos e lutas particulares

    17 Morte e luto na criança: a história de apenas um adeusRosa Maria Marini Mariotto

    37 Com quantas mortes se faz uma vida?Michele Kamers

    61 Crianças e adolescentes refugiados: vida, morte e lutos (im)possíveisMariana Bassoi Duarte

    90 A pluralidade significante na dor psíquicaMaria Carolina Oliveira Serafim

    100 A morte para o renascimento: uma narrativa do adolescerLuciana Mara FingerPaulo José da Costa

    126 A morte entre a criança e os outrosCarla Martins de Carvalho Góes

    138 Abordagem psicanalítica do sofrimento na experiência de adoecimento e iminência de morte na infância: a sutil diferença entre cuidado e violênciaMaria Lívia Tourinho Moretto

  • PARTE 2Sobre a morte e a esperança organizadora de vidas

    159 As crianças niilistas não existemAlfredo Jerusalinsky

    176 O adolescente e um tempo para a-mor(te)Andrea Rossi

    196 A Teoria do Apego de John Bowlby diante da morte e do luto vivenciados na infância e na adolescênciaMaria Helena Pereira Franco

    208 Concepções sobre luto e morte na infânciaFauzy Araujo

    225 Desalinhos na escuta familiar diante do morrerSheyna Cruz VasconcelosDenise Moraes

    243 O que é de viver e o que é de morrer nessas crianças hiperativas?Luiz Felipe Oliveira AndradeEdilene Freire de Queiroz

    269 Vida e morte precoces: desafios da prática de cuidados paliativos em UTI NeonatalAngelita Wisnieski da SilvaMário Antônio Sanches

    287 A liberdade de morrer: um ensaio sobre eutanásia infantilAllan Martins Mohr

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    Prefácio

    Em tempos de pandemia, um livro sobre morte e luto na infância e adolescência é mais do que oportuno. Percorrê-lo é contar com mais uma chance de simbolizar este real que se instalou peremptoriamente em nossas vidas, sem aviso prévio.

    Para as crianças, a realidade do COVID-19 e suas consequências as obrigam a produzir significantes, montagens imaginárias, e até mesmo sintomas, para fazer bordas nesse enigmático fato.

    Para os adolescentes, essa confrontação escancarada com a morte não deixa de funcionar – potencializando sua crise adolescente – como uma injunção para criar suas próprias teorias sobre a finitude, isto é, se possuírem os recursos simbólicos para tal. Senão, a angústia pode abrir caminho para sintomas, acting out ou mesmo passagens ao ato, como temos observado na clínica.

    Para Lacan, a morte é a crença que torna a vida suportável, já que vivemos com a certeza de que a morte virá. A morte, na visão de Freud, comparece como a castração mais radical e inexorável, aquela em que a substituição do objeto é impossível.

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    A vivência da morte e do luto na infância e adolescência

    Mas haveria uma especificidade no tratamento desse tema quando se trata de crianças e adolescentes?

    Refletir sobre morte e luto na infância e adolescência, tempos gerúndio, em que o inacabamento da vida adquire particular relevo, é tarefa para corajosos. Evidência dessa dificuldade é que encontramos, estranhamente, pouca produção escrita sobre este tema em psicanálise.

    Enquanto a trajetória da vida humana, em seus primórdios, é marcada constantemente por lutos e pequenas mortes, tendo por corolário a castração simbólica, ao final do complexo de Édipo, o enfrentamento da morte da própria criança ou de seus próximos exige uma elaboração que será sempre precária, já que o alcance da noção de finitude é inexistente nesse momento. Cabe ao entorno encontrar fórmulas que ajudem a nomear este real último, permitindo à criança o trabalho de construir significações próprias. Isso nem sempre é fácil, muitas vezes o silêncio ou palavras falsas dominam a cena, dificultando o acesso da criança a um saber próprio. Daí a importância da escuta psicanalítica da criança e de seus familiares, permitindo o encontro das palavras necessárias para o trabalho de nomeação e de elaboração psíquica.

    Na adolescência, a castração é reeditada, são inúmeras as tarefas do adolescente para deixar morrer a criança que foi e permitir o surgimento do adulto que um dia será. Nesse percurso marcado por lutos, temos sujeitos já com capacidade simbólica para entender o que morrer significa, tanto que correr riscos ou testar os últimos limites fazem parte da dita “psicopatologia normal” do adolescente. Nem por isso vai ser menos desafiador enfrentar a morte de pessoas queridas ou ter de se confrontar pessoalmente com uma doença, com o risco de morte anunciado. Encontrar interlocutores que não recuem diante do tema nesse momento é fundamental.

    Este livro, que conta com a primorosa organização de Rosa Mariotto e Allan Mohr, propõe várias e imprescindíveis reflexões

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    Préfacio

    sobre a morte, o morrer, o luto e o que pode a escuta psicanalítica nesse terreno tão árido.

    A PARTE 1, intitulada Sobre lutos e lutas particulares, inicia com o artigo de Rosa Maria Marini Mariotto, “Morte e luto na criança: a história de apenas um adeus”, em que a autora afirma: “a criança não teme a morte, teme é ficar só”, mostrando o que aprendeu, análise de uma criança, a partir de uma vivência de desamparo, sobre a morte e o luto.

    Em seguida, temos o artigo “Com quantas mortes se faz uma vida?”, de Michele Kamers, que discute um caso de hospitalismo doméstico, a partir do qual aborda a questão do luto e da melancolia, quando não é possível para os pais suportarem a separação em relação a um filho-objeto.

    No artigo “Crianças e adolescentes refugiados: vida, morte e lutos (im)possíveis”, Mariana Bassoi Duarte aborda os efeitos das migrações e da experiência de ser refugiado para o psiquismo de crianças e adolescentes, falando do seu não reconhecimento, em suas imagens corporais, quando o que ficou para trás não dá lugar a um novo acolhedor, mas a uma perda de referências essenciais.

    Maria Carolina Oliveira Serafim, em “A pluralidade significante na dor psíquica”, partindo de sua experiência em um Hospital Geral Infantil, relata os efeitos de sua escuta dos sujeitos crianças e adolescentes em sofrimento, na produção de significantes para lidar com o real dos corpos que padecem.

    No artigo “A morte para o renascimento: uma narrativa do adolescer” Luciana Mara Finger e Paulo José da Costa propõem pensar a morte mais além de um fato biológico, mas como inscrição simbólica na constituição do sujeito adolescente. A partir de um caso de uma adolescente infratora, abordam o adolescer fora da lei, em situações-limite de sobrevivência, em que mania e melancolia se revezam no confronto com a morte.

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    A vivência da morte e do luto na infância e adolescência

    Em “A morte entre a criança e os outros”, Carla Martins de Carvalho Góes encontra-se com o medo de ficar doente de uma criança, que conduz ao significante morte como lugar de onde o sujeito busca o reconhecimento do Outro. Destaca como a relação das crianças com a falta se dá a partir da fala dos pais, de modo que “o que a boca não diz o sintoma diz”.

    Finalizando esta parte, temos o artigo de Maria Lívia Tourinho Moretto, “Abordagem psicanalítica do sofrimento na experiência de adoecimento e iminência de morte na infância: a sutil diferença entre cuidado e violência”, com uma rica experiência clínica institucional que discute a questão ética crucial do que significa cuidar, respeitando e dando lugar e voz ao sujeito, nos casos de adoecimento grave.

    Na PARTE 2, intitulada Sobre a morte e a esperança organizadora de vidas, temos primeiramente o artigo de Alfredo Jerusalinsky, “As crianças niilistas não existem”, no qual o autor aponta como a relação das crianças com a morte não as expõem a um discurso sobre a morte, resgatando do niilismo a não distinção entre verdade e ato. A partir desta discussão, questiona o momento atual do Brasil, de um “culto “à morte” que inviabiliza a infância enquanto espaço de criação.

    Andrea Rossi, em “O adolescente e um tempo para a-mor(te)”, discute a questão da morte enquanto finitude para o adolescente, relacionando-a com os três tempos lógicos propostos por Lacan.

    Maria Helena Pereira Franco, em “A Teoria do Apego de John Bowlby diante da morte e do luto vivenciados na infância e na adolescência”, como o título explicita, retoma a teoria do apego para estabelecer uma relação entre os estilos de apego constituídos entre o bebê e seu cuidador e a vivência de morte na infância e na adolescência.

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    Préfacio

    Em “Concepções sobre luto e morte na infância”, a partir de sua experiência em um Instituto que trata de crianças com câncer, Fauzy Araujo indaga-se: como falar de morte às crianças quando é um tema tabu para todos, apesar da onipresença do tema na vida cotidiana, na mídia? Enfatiza, nesse sentido, a importância da oferta de um lugar para a palavra em todas as suas expressões.

    No artigo “Desalinhos na escuta familiar diante do morrer”, Sheyna Cruz Vasconcelos e Denise Moraes discorrem sobre a escuta psicanalítica no momento em que a certeza da morte se apresenta para as famílias, discutindo a questão da autonomia do doente nesses momentos de cuidados paliativos, observando que “não se trata de salvar vidas, mas salvar histórias”.

    Em “O que é de viver e o que é de morrer nessas crianças hiperativas?”, Luiz Felipe Oliveira Andrade e Edilene Freire de Queiroz constroem uma relação entre experiências que colocam em risco a vida e a questão da hiperatividade. Ressaltam a importância de falar de morte enquanto perda para fazer com que essas crianças parem, trazendo exemplos clínicos em que isso se produziu.

    No artigo “Vida e morte precoces: desafios da prática de cuidados paliativos em UTI Neonatal”, Angelita Wisnieski da Silva e Mário Antônio Sanches relatam situações dramáticas que envolvem bebês que chegam ao mundo já com a certeza de que não resistirão com vida, apontando a inquietude que se apresenta no bebê, nos pais e também nos membros da equipe hospitalar, enfatizando a importância do trabalho de simbolização a ser realizado.

    Fechando o volume temos o artigo de Allan Martins Mohr, “A liberdade de morrer: um ensaio sobre eutanásia infantil”, situando historicamente a questão da eutanásia, para formulá-la na infância a partir de uma comparação com a discussão sobre gênero na infância e de uma diferenciação quanto ao suicídio.

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    A vivência da morte e do luto na infância e adolescência

    Que o leitor possa usufruir dessas ricas proposições e delas extrair significantes para elaborar, mais uma vez ainda, e sempre de modo insuficiente, uma significação para este real último que nos aguarda a todos.

    São Paulo, 5 de setembro de 2020.

    Leda Mariza Fischer Bernardino

    Psicanalista, analista membro da Associação Psicanalítica de Curitiba, pesquisadora FAPESP, doutora em Psicologia Escolar e do Desenvolvimento Humano (IPUSP), com pós-doutorado em Tratamento e Prevenção Psicológica pela Université Paris 7.