Abandono Escolar Em Adolescentes Brasileiros Do Ensino Público Estudo de Variáveis Familiares -...

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revista portuguesa de pedagogia ANO 45-1, 2011, 25-38 Abandono escolar em adolescentes brasileiros do ensino público: estudo de variáveis familiares Hilda Bayma-Freire 1 , Teresa Sousa Machado 2 & António Roazzi 3 Resumo A estrutura familiar e nível socioeconómico podem tornar-se factores signifi- cativos para o desempenho escolar dos jovens, agindo indirectamente através das práticas educativas e oportunidades de opção por uma educação mais exigente. Tal é particularmente notório em países onde existem clivagens marcadas entre grupos sociais. O objectivo deste estudo é analisar as rela- ções entre diferentes tipologias familiares de classe desfavorecida do Recife (Brasil) e o tipo de relação do pai e da mãe com os filhos em adolescentes que abandonaram a escola. Analisou-se o envolvimento dos pais (pai e mãe), segundo a percepção dos responsáveis escolares, no dia-a-dia da vida escolar de 504 alunos (entre os 15 e 17 anos) e sua relação com o abandono escolar dos filhos. Os resultados apontam que o pai (seja em famílias monoparentais, reconstruídas, ou de pai ausente), tende a apresentar um relacionamento de indiferença relativamente à vida escolar dos filhos. Esta atitude apresenta associações significativas com a estrutura familiar destes adolescentes que abandonaram os estudos. A atitude da mãe face à escola surge como calorosa/ apoiante (na maioria dos casos), apresentando também relações significativas com a estrutura da família. O abandono no ensino médio público (equivalente ao ensino secundário em Portugal) nas classes desfavorecidas brasileiras é um problema grave, de dimensões e repercussões preocupantes. Palavras-chave: Abandono escolar; Adolescentes; Família; Brasil. Introdução Todos os sistemas de ensino, nos diversos níveis de escolaridade visam – em última ins- tância – promover a igualdade de oportunidades e combater a exclusão social ao preparar 1 Aluna Pós-Doc.-FPCE-UC 2 Professora Auxiliar na Faculdade de Psicologia e de Ciências da Educação da Universidade de Coimbra [email protected] 3 Universidade Federal de Pernambuco

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Abandono escolar em adolescentes brasileiros do ensino público: estudo de variáveis familiaresHilda Bayma-Freire, Teresa Sousa Machado & António RoazziResumoA estrutura familiar e nível socioeconómico podem tornar-se factores significativos para o desempenho escolar dos jovens, agindo indirectamente atravésdas práticas educativas e oportunidades de opção por uma educação maisexigente. Tal é particularmente notório em países onde existem clivagensmarcadas entre grupos sociais. O objectivo deste estudo é analisar as relaçõesentre diferentes tipologias familiares de classe desfavorecida do Recife(Brasil) e o tipo de relação do pai e da mãe com os filhos em adolescentesque abandonaram a escola. Analisou-se o envolvimento dos pais (pai e mãe),segundo a percepção dos responsáveis escolares, no dia-a-dia da vida escolarde 504 alunos (entre os 15 e 17 anos) e sua relação com o abandono escolardos filhos. Os resultados apontam que o pai (seja em famílias monoparentais,reconstruídas, ou de pai ausente), tende a apresentar um relacionamento deindiferença relativamente à vida escolar dos filhos. Esta atitude apresentaassociações significativas com a estrutura familiar destes adolescentes queabandonaram os estudos. A atitude da mãe face à escola surge como calorosa/apoiante (na maioria dos casos), apresentando também relações significativascom a estrutura da família. O abandono no ensino médio público (equivalenteao ensino secundário em Portugal) nas classes desfavorecidas brasileiras é um problema grave, de dimensões e repercussões preocupantes.Palavras-chave: Abandono escolar; Adolescentes; Família; Brasil.

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  • revista portuguesa de pedagogia ANO 45-1, 2011, 25-38

    Abandono escolar em adolescentes brasileiros do ensino pblico: estudo de variveis familiares

    Hilda Bayma-Freire1, Teresa Sousa Machado2 & Antnio Roazzi3

    ResumoA estrutura familiar e nvel socioeconmico podem tornar-se factores signifi-

    cativos para o desempenho escolar dos jovens, agindo indirectamente atravs

    das prticas educativas e oportunidades de opo por uma educao mais

    exigente. Tal particularmente notrio em pases onde existem clivagens

    marcadas entre grupos sociais. O objectivo deste estudo analisar as rela-

    es entre diferentes tipologias familiares de classe desfavorecida do Recife

    (Brasil) e o tipo de relao do pai e da me com os filhos em adolescentes

    que abandonaram a escola. Analisou-se o envolvimento dos pais (pai e me),

    segundo a percepo dos responsveis escolares, no dia-a-dia da vida escolar

    de 504 alunos (entre os 15 e 17 anos) e sua relao com o abandono escolar

    dos filhos. Os resultados apontam que o pai (seja em famlias monoparentais,

    reconstrudas, ou de pai ausente), tende a apresentar um relacionamento de

    indiferena relativamente vida escolar dos filhos. Esta atitude apresenta

    associaes significativas com a estrutura familiar destes adolescentes que

    abandonaram os estudos. A atitude da me face escola surge como calorosa/

    apoiante (na maioria dos casos), apresentando tambm relaes significativas

    com a estrutura da famlia. O abandono no ensino mdio pblico (equivalente

    ao ensino secundrio em Portugal) nas classes desfavorecidas brasileiras

    um problema grave, de dimenses e repercusses preocupantes.

    Palavras-chave: Abandono escolar; Adolescentes; Famlia; Brasil.

    Introduo

    Todos os sistemas de ensino, nos diversos nveis de escolaridade visam em ltima ins-

    tncia promover a igualdade de oportunidades e combater a excluso social ao preparar

    1 Aluna Ps-Doc.-FPCE-UC

    2 Professora Auxiliar na Faculdade de Psicologia e de Cincias da Educao da Universidade de Coimbra [email protected]

    3 Universidade Federal de Pernambuco

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    os jovens para o mundo do trabalho ou especializaes superiores. Porm, o problema

    das desigualdades (de cariz socioeconmico e cultural) infiltra-se sempre, e desde cedo,

    nos contextos escolares (Jung-Sook & Bowen, 2006). So vrias as investigaes que

    vem analisando variveis de carcter scio-econmico e familiares que se conjugam para

    contribuir para diferenas significativas nas atitudes face escola e nos desempenhos

    acadmicos (Bayma-Freire, 2008; Jung-Sook & Bowen, 2006; Robertson & Collerette,

    2005); estas diferenas so tambm mediadas por diferenas no desenvolvimento da

    criana que vive em condies de pobreza (Fonseca, 2004; Lipina & Colombo, 2009).

    Actualmente, as exigncias colocadas na educao surgem muito mais cedo e.g.,

    a escolha de escolas prestigiadas e programas especficos desde o pr-escolar, por

    parte das famlias com posses (National Research Council and Institute of Medicine,

    2000) e tais exigncias tendem a aumentar ao longo do percurso escolar, aumentando

    tambm as clivagens entre oportunidades ao longo do desenvolvimento. Por exemplo, o

    estudo longitudinal de Bradley e colaboradores (publicado em 1980), com 931 crianas

    e suas mes tendo avaliado as crianas aos 12, 24 e 36 meses, e tendo as mes res-

    pondido ao HOME (questionrio que avalia o ambiente familiar, incluindo estimulao

    lingustica, nmero e variedade de brinquedos, espao fsico e clima afectivo) mostra

    que as correlaes entre o ndice global do HOME e o nvel de desenvolvimento das

    crianas so reduzidas aos 12 meses (r=.25), mas vo aumentando dos 24 aos 36

    meses (r=.54); o mesmo padro de correlaes, ao longo do desenvolvimento, se

    verifica entre o HOME e o nvel socioeconmico (cit in Eme, 2001).

    Assim, parece manter-se persistentemente actual a afirmao de Janosz e Le Blanc:

    Nenhum sistema escolar soube at hoje reduzir as desigualdades sociais ou ainda

    oferecer-se sem discriminao, por forma a que nenhum subgrupo ou nenhuma subcultura

    da populao fique em posio desvantajosa (2000, p. 352). E, no entanto, a prpria

    natureza da inteligncia permitira que todos desenvolvessem esta capacidade (pelo que a

    define, no em termos de diferenas individuais, mas pelo que lhe subjaz de (...) comu-

    nalidade, isto , de habilidades compartilhadas (Roazzi, OBrien, Souza, Dias, 2008).

    No Brasil, o abandono escolar no ensino mdio4 pblico onde predominam alunos

    de classe desfavorecida (pobres) atinge nveis preocupantes. Ganham rosto, neste

    contexto, afirmaes como os filhos de pais pobres, no instrudos, tm mais proba-

    bilidades de viver atmosferas negativas na famlia, na escola e acontecimentos mais

    stressantes (in Papalia, Olds, & Feldman, 2001, p. 562); afirmao que chamam a

    ateno para o acumular de factores de risco que podem caracterizar o dia-a-dia

    4 O ensino mdio corresponde, no Brasil, ao nvel do ensino secundrio em Portugal. Este nvel de estudos tambm designado, no Brasil, por ensino de segundo grau a distribuio entre ensino pblico/privado espelha as clivagens sociais.

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    de grupos significativos da populao (cf., tambm Kagan, 2010). Os estudos lon-

    gitudinais e transversais, nesta temtica, convergem ao mostrar que os alunos que

    abandonam precocemente a escolarizao provm, em supremacia, de famlias com

    elevados nveis de adversidades (pobreza, monoparentalidade, famlias numerosas)

    e famlias com prticas educativas extremas (i.e. demasiado permissivas ou extre-

    mamente rgidas) (Janosz & Le Blanc, 2000). Lautrey (cit in Eme, 2001) explicita por

    que um meio familiar estruturado e flexvel promove o desenvolvimento cognitivo

    das crianas (ao contrrio de um meio rigidamente estruturado que no possibilita

    questionamentos construtivos, ou de um meio deficitariamente estruturado que, pela

    ausncia de regras e limites no favorece a adaptao da criana).

    A classe desfavorecida do Recife (donde se extraiu a amostra do presente estudo),

    move-se num contexto bastante vulnervel, decorrente da carncia econmica,

    condies habitacionais medocres, nveis de stresse familiar elevados, associados

    usualmente a desemprego, desequilbrio emocional e baixas expectativas relativa-

    mente aos estudos dos filhos. Acresce que as reduzidas competncias interactivas

    e sociais dos adolescentes destas famlias esbarram com as exigncias sociais

    do contexto escolar. O acumular de factores de risco (pr e ps-natais) conjuga-se

    globalmente para o fracasso destes jovens (cf. Rutter, 2010, a propsito de uma

    perspectiva desenvolvimentista da psicopatologia).

    A famlia desfavorecida (do Recife) entra facilmente em confronto ou ignora os

    valores, regras e expectativas que estruturam o contexto escolar. Ora, a famlia

    (independentemente da sua organizao) geralmente considerada como um

    lugar privilegiado para a elaborao e aprendizagem de dimenses significativas

    da interaco e, como tal, como um enquadramento relacional fundamental para o

    desenvolvimento do ser humano (Alarco & Gaspar, 2007, p.90) sendo que na

    maioria destas famlias tal papel no geralmente cumprido no sentido de favo-

    recer a integrao social e escolar. Se acrescentarmos o desajuste manifesto das

    expectativas dos pais (para alm das dos prprios adolescentes) relativamente

    relevncia e utilidade do saber acadmico, compreendem-se as elevadas taxas de

    abandono escolar nestes jovens (Bayma-Freire, 2008). Compreendem-se igualmente

    os correlativos efeitos do desajuste social que passa de gerao em gerao, enre-

    dados em mltiplos factores de risco que se conjugam no mesmo sentido (Fonseca,

    2010; Gleeson, 1992; Machado, 2004; Papalia et al., 2001; Rutter, 2004; Walgrave,

    1992). Para alm deste desencontro de subculturas, a estrutura familiar5 destes

    5 No conhecido estudo do desenvolvimento da delinquncia de Cambridge, Farrington refere que os melhores preditores independentes aos 8-10 anos do absentismo escolar no secundrio eram o comportamento perturbador, o ter um irmo com problemas de comportamento, um pai nervoso ou em tratamento psiquitrico, a baixa inteligncia no-

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    adolescentes propiciar, em vrios casos, o desenvolvimento de condutas desviantes

    que culminam no abandono escolar (Farrington, 2004; Fonseca, 2004; Pronovost

    & LeBlanc, 1979/1980; ). Convir ainda salientar que as escolas pblicas brasileiras

    (Recife) esto ainda desfasadas do esprito de interdisciplinaridade de saberes que

    move o sujeito do sc. XXI (Bayma-Freire, 2008). Estes diversos desencontros entre

    jovens da classe pobre brasileira e as exigncias escolares parecem conjugar-se para

    favorecer a inadaptao na escola, o acumular de experincias negativas a vividas e

    as reprovaes sucessivas que induzem stresse e sentimentos de incompetncia e/ou

    culpabilizao (Elliot & Voss, 1974). Ora, sentimentos de incapacidade, associados a

    pais permissivos e que no se envolvem nem valorizam a realizao escolar, induzem

    facilmente uma profecia auto-realizada, desencorajando qualquer tentativa de

    sucesso (Papalia et al., 2001, p. 560).

    A importncia da famlia no desenvolvimento e comportamento dos filhos no hoje

    considerada de relevo apenas nos anos da infncia, reconhecendo-se o seu papel

    fundamental ao longo da adolescncia (Gu, Wei & Yawkey, 2010; Machado, 2007;

    Reitmen, Gross & Messer, 1995) se esta falha, provvel que o adolescente se

    ressinta. O estudo desenvolvimental de Pepler e colaboradores (2008), por exemplo,

    destaca, entre outros factores de risco para o desenvolvimento de trajectrias de

    agressividade nos adolescentes, trs elementos da relao com os pais (superviso,

    confiana e conflitos).

    Os pais das classes desfavorecidas do Brasil, em termos gerais, no apoiam ou

    incentivam o progresso acadmico dos filhos; podendo dizer-se que a maioria per-

    manece indiferente vivncia dos filhos (algo que parece ocorrer desde o ensino

    fundamental, Bayma-Freire (2008)). Outros, mais do que indiferentes, desejam

    sobretudo que os filhos tenham, o mais cedo possvel, uma actividade remunerada,

    pois a sobrevivncia imediata que os move (Carreher & Carraher, 1982). Verifica-se

    ainda que a famlia nuclear pobre, mesmo nas situaes nas quais no existe o risco

    acrescido de se ter desmembrado, tem dificuldade em manter os filhos adolescentes

    na escola (Papalia et al., 2001; Reitmen et al., 1995). Tal no alis especfico do

    Brasil, mas das situaes desvantajosas em que vivem estas famlias (Blondal &

    Adalbjarnardottir, 2009); por exemplo, no Qubec, Violette (1991), apresentou dados

    que realam o grau significativo de abandono escolar em adolescentes de famlias

    nucleares intactas, mas de baixos recursos econmicos. Note-se que os factores

    que interferem no (in)sucesso escolar dos alunos pobres no so forosamente os

    mesmos que interferem no (in)sucesso dos alunos de classes favorecidas; sendo que

    -verbal, a separao de um dos progenitores, o baixo interesse dos pais na educao do filho, o baixo rendimento escolar e a ousadia ou atrevimento (2004, p. 99).

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    existem diferenas significativas de valores, objectivos e oportunidades entre classes

    muito dspares (Roazzi, 1991). Para alm do referido, sabemos que a pobreza extrema

    aumenta a probabilidade da exposio da criana a riscos biolgicos e psicossociais

    que afectam o seu desenvolvimento e oportunidades sociais; e, mesmo nas naes

    mais desenvolvidas, os nveis de pobreza na infncia variam entre 3% a mais de 25%

    (Lipina & Colombo, 2009) tratando-se de facto de um flagelo contemporneo (de

    certa forma, paradoxal).

    A famlia monoparental de classe desfavorecida do Brasil (i.e. Recife), congrega

    assim uma srie de factores de risco associados aos baixos recursos econmicos,

    culturais, qualidade das relaes afectivas; riscos que se associam entre si, culmi-

    nando facilmente em comportamentos desviantes e abandono escolar (Kagan, 2010;

    Le Blanc, Janosz & Langelier-Biron, 1993; Reitmen et al., 1995; Sanderfur, Mclanahan,

    & Wojtkiewicz, 1992). O abandono escolar na adolescncia pode ser visto, nestes

    casos, como o continuar expectvel do percurso desenvolvimental destes jovens.

    O contexto monoparental destas famlias brasileiras (do Recife) traduz-se essencial-

    mente na ausncia do pai, recaindo sobre a me toda a responsabilidade familiar,

    de sustento e educao dos filhos. A Constituio Brasileira (1988) prev, entre

    diversos tipos de famlia (e.g., concubinato, unio estvel, famlia paralela), a famlia

    anaparental (Constituio Brasileira, art. 69), que designa a relao que possuindo

    vnculo de parentesco, no possui vnculo de ascendncia e descendncia (e.g. dois

    irmos que vivam juntos): nem sempre o vnculo afectivo advindo da verticalidade

    suficiente e nico para se constituir uma famlia (...). A convivncia entre parentes

    ou entre pessoas, ainda que no parentes, dentro de uma estruturao com identi-

    dade de propsito, impe o reconhecimento da existncia de uma entidade familiar

    a merecer o nome de famlia anaparental (Gomes, 2007). Porm, muitas vezes,

    este tipo de famlia constitui-se sobre laos (mais) vulnerveis e os seus elementos

    assumem, no raras vezes prematuramente, papeis de responsabilidade e.g., um

    irmo mais velho com irmos a cargo. Berthoud (1997) refere que o nmero de

    famlias reconstrudas no Brasil bastante representativo, devendo considerar-se

    como factor de risco particularmente nos meios socioeconmicos mais carentes.

    Em sntese, no Brasil, as relaes dos diversos tipos de famlia de classe pobre com a

    escola so muito frgeis e, na verdade, estas famlias tendem a permanecer arraigadas

    a um conformismo social que prejudica o desenvolvimento escolar dos seus adoles-

    centes. Ora, famlia e escola no podem funcionar em dessincronizao, sendo ambas

    contextos estruturantes fundamentais para o adolescente. Importa assim analisar

    os factores familiares que mais chocam com os propsitos do sistema educativo,

    nestas famlias brasileiras de baixos recursos, para que se possam planear medidas

  • 30

    direccionadas aos obstculos relevantes e que sejam passveis de interveno. Foi

    nesse sentido que se questionou o tipo de relaes (ou sua ausncia) entre os pais

    e vida escolar de adolescentes que abandonaram o ensino mdio pblico.

    Mtodo

    Os dados analisados neste artigo foram recolhidos no ano 2008, com o objectivo

    de registar informaes referentes famlia e adolescentes que abandonaram os

    estudos no ensino mdio pblico recifense (1, 2 e 3 anos). Os dados foram reco-

    lhidos junto dos dirigentes escolares responsveis pelos alunos a partir dos dados

    registados na sua ficha individual.

    Participantes

    Os sujeitos sobre os quais recaiu a recolha de informaes foram os pais de 504

    alunos desistentes do ensino mdio pblico (do Recife Brasil), com idades entre os

    15 e os 17 anos. Destes, 297 so raparigas e 207 so rapazes. As escolas escolhidas

    so o que se designa, no Brasil, de escolas de grande porte pelo nmero elevado

    de alunos que as frequenta. Aquando o tratamento dos dados alguns sujeitos foram

    excludos por falta de informao necessria.

    Instrumentos

    Os instrumentos utilizados para a recolha dos dados foram dois guies. Guio I

    composto por 15 questes relativas a questes sciodemogrficas e variveis indivi-

    duais (e.g., sexo, idade, naturalidade, nvel escolar no momento do abandono, notas

    escolares, nmero de reprovaes, motivo de eventual expulso, pares com problemas

    de comportamento) e o Guio II por 8 questes (e subitens) para registar dados da

    famlia e do processo relacional aluno-escola-famlia (e.g., nvel de escolaridade dos

    pais, estado civil dos pais, nvel socioeconmico, situao profissional dos pais, ati-

    tude dos pais relativamente escola/dificuldades de aprendizagem contemplando

    esta ltima questes relativas ao envolvimento dos pais na vida escolar, actividades

    escolares e atitude relativa a dificuldades de aprendizagem dos filhos. Estes Guies

    foram preenchidos pelos responsveis escolares dos alunos.

  • 31ANO 45-1, 2011

    Procedimentos

    Aps os contactos necessrios com os rgos directivos da Secretaria da Educao

    e Cultura do Recife/PE e das escolas pblicas de Gerncia Regional Recife Norte,

    foram seleccionadas 8 escolas pblicas de ensino mdio, nas quais se registavam

    elevados ndices de abandono escolar. Houve um primeiro momento de esclareci-

    mento, junto dos dirigentes escolares, dos objectivos da investigao. Registaram-se

    inicialmente os dados sobre os alunos (recolhidos da sua ficha individual) e, num

    segundo momento, os guies foram completados pelos responsveis escolares com

    informaes referentes ao aluno e famlia.

    O tratamento estatstico dos dados foi realizado recorrendo verso 17. do SPSS,

    sendo que, nas anlises relativas a diferenas entre variveis se recorreu ao teste

    Pearson Qui-quadrado (p

  • 32

    A leitura do Quadro 1 sugere que a maior percentagem dos Pais desta amostra de alunos

    que abandonaram o ensino mdio pblico recifense apresenta uma atitude de indiferena

    com os filhos, no que diz respeito sua vida escolar, isto independentemente de se

    tratarem de famlias nucleares (53,1%), famlias monoparentais/pais ausentes (78,2%),

    ou famlias reconstrudas (70,2%). As menores percentagens referem-se a um tipo de

    relao agressiva com os filhos (relativamente sua vivncia acadmica), isto tambm

    independentemente da estrutura familiar respectiva (i.e., pertencer a uma famlia nuclear,

    monoparental/pai ausente ou reconstruda). Destaca-se assim nestes adolescentes

    que abandonaram os estudos no ensino mdio, uma relao indiferente da parte do Pai,

    relativamente ao percurso escolar dos filhos em qualquer um dos trs tipos de famlia.

    Entretanto, apesar da atitude de indiferena do pai apresentar as maiores percen-

    tagens nos trs tipos de estruturas familiares, a mesma bem menor nas famlias

    nucleares, tendo em conta que nas famlias nucleares se observa maior percentagem

    da relao calorosa (37.7%), comparativamente aos outros dois tipos de estruturas

    familiares: reconstitudas (23.1%) e monoparental/pai ausente (16.3%). Devido a

    estas diferenas, a relao entre as duas variveis (i.e., estrutura familiar e qualidade

    da relao que o Pai estabelece) mostrou-se bastante significativa (2 = 23.42, (4), p< .001) cf. Quadro 1.

    Tipo de famlia e atitude da Me com os filhos no dia-a-dia da vida escolar

    Apresentam-se no Quadro 2. os dados relativos atitude que as Mes destes ado-

    lescentes (que abandonaram os estudos mdios) estabelecem com seus filhos, no

    que diz respeito sua vida escolar. Distinguem-se igualmente trs tipos de estrutura

    familiar subjacente (i.e., nuclear, monoparental/pai ausente e reconstruda). A maioria

    das famlias desta amostra so, como temos vindo a ver, famlias monoparentais.

    Quadro 2. Estrutura familiar e atitude da me com o(a) filho(a) no dia-a-dia da vida escolar

    Tipo de relao Calorosa Indiferente Agressiva Total

    Estrutura familiar

    Nuclear N

    %

    94

    71,8

    36

    27,5

    1

    ,8

    131

    100

    Reconstituda N

    %

    60

    57,1

    41

    39,0

    4

    3,8

    105

    100

    Monoparental/Pai

    ausente

    N

    %

    120

    49,4

    113

    46,5

    10

    4,1

    243

    100(2 = 19.64, g.1.4, p< .001)

  • 33ANO 45-1, 2011

    A leitura dos dados sugere que a qualidade da atitude da me em relao vida

    escolar dos filhos (desistentes do ensino mdio) tende a ser predominantemente

    calorosa, independentemente da estrutura familiar. Assim, encontramos maiores

    percentagens de atitude calorosa por parte das mes de famlia nuclear (71.8%),

    relativamente s famlias reconstrudas (57.1%) e s famlias monoparentais/me

    ausente (49.4%). As percentagens relativas a uma atitude agressiva (relativamente

    a questes do foro acadmica) so extremamente reduzidas, independentemente

    da estrutura familiar.

    Note-se que, apesar da atitude calorosa das mes com os filhos apresentar as maio-

    res percentagens nos trs tipos de estruturas familiares, a mesma bem menor nas

    famlias monoparentais/me ausente, tendo em conta que neste tipo de famlia se

    observa a maior porcentagem da atitude de indiferena (46.5%), comparativamente

    aos outros dois tipos de estruturas familiares - reconstituda (39.9%) e monoparental/

    me ausente (27.5,3%). Devido a estas diferenas a relao entre as duas variveis

    (i.e., estrutura familiar e qualidade da atitude materna) mostrou-se altamente sig-

    nificativa (2 = 19.64 (4), p< .001).

    Concluses

    As investigaes sobre relaes familiares, condies socioeconmicas associadas

    famlia e percurso acadmico dos jovens tm chamado a ateno, como vimos, para

    a existncia de factores de risco que se multiplicam nas famlias de baixos recursos,

    num sentido que facilita a excluso escolar, desistncia ou reprovaes sucessivas

    (Berthoud, 1997; Carraher & Carraher, 1982; Papalia et al., 2001; Reitmen et al.,

    1995). No Brasil, pas de clivagens extremas em termos sociais, tais factores de risco

    so particularmente visveis nas famlias pobres e traduzem-se marcadamente, por

    exemplo, na (des)valorizao que pais e jovens fazem do ensino mdio, no trabalho

    precrio dos pais, violncia na vizinhana, condutas anti-sociais por membros da

    familiar e disfuncionamento familiar; por outro lado, poucos sero os factores pro-

    tectores do meio envolvente que , tambm ele, marcado pela marginalidade. As

    instituies de ensino frequentadas pelos jovens espelham tambm as distncias

    sociais entre grupos j que usual a distino marcada entre as instituies fre-

    quentadas por uns e outros, perpetuando-as (Bayma-Freire, 2008; Gonalves, L. A.,

    & Santo, S. R., 2000; Roazzi, 1991).

    O abandono escolar dos adolescentes, de classes desfavorecidas, que frequentam

    o ensino mdio pblico recifense extremamente representativo e so muitos os

  • 34

    factores que parecem conjugar-se para perpetuar esta situao. Se o presente estudo

    focou prioritariamente na explorao da relao entre estrutura familiar e qualidade

    da relao que Me/Pai estabelecem com o dia-a-dia escolar dos filhos, reconhece-se

    que se trata apenas de uma nfima parcela das variveis envolvidas num percurso

    desenvolvimental que exigiria investigaes mais complexas e sistemticas. Porm, a

    nfase nas interaces familiares justifica-se (para alm dos fundamentos tericos j

    referidos) pelo facto de ser uma varivel sobre a qual se poderia intervir (em termos

    de planos direccionados de interveno precoce). Muitas outras variveis envolvidas,

    como, por exemplo, as que sobrevm de riscos biolgicos para os filhos (e.g. malnu-

    trio pr e ps-natal, carncia nos cuidados de sade bsicos, exposio a drogas

    muito precocemente, ausncia de estimulao, alcoolismo ou dependncia de drogas

    pelos progenitores), estaro presentes em inmeros casos, mas so de acesso difcil

    ao investigador. Recordamos assim a necessidade de integrar os dados com uma viso

    multidimensional da pobreza e desenvolvimento das crianas nessas circunstncias

    (Lipina & Colombo, 2009; Shonkoff, & Marshall, 2000): Considerando que tanto a

    pobreza como o desenvolvimento da criana so fenmenos multifactoriais, torna-se

    difcil para os investigadores determinarem e analisarem os efeitos subjacentes

    pobreza. Explorar os efeitos mediadores importante, (...), particularmente quando

    o aumento dos rendimentos no possvel (in, Lipina & Colombo, 2009, p. 63).

    O apoio dos pais no sentido de incentivar o prolongamento e sucesso nos estudos

    seria, pensamos, um importante factor protector neste meio; de facto, a famlia tem sido

    considerada como a influncia primria para o sucesso escolar das crianas (Blondal &

    Adalbjarnardottir, 2009). Os nossos dados sugerem porm que a qualidade calorosa

    da relao das Mes com os adolescentes, no que se refere ao interesse pela vida esco-

    lar dos filhos, (observada na maioria dos casos, quer se tratasse de famlias nucleares

    intactas ou reconstrudas) no basta para prevenir o abandono escolar no ensino mdio.

    Na verdade, este tipo de relao predomina na amostra destes alunos que abandonaram

    os estudos. Quanto qualidade da relao com o pais, no que se refere vida escolar,

    esta predominantemente indiferente (particularmente nas famlias de pai ausente e/

    ou famlias reconstrudas) sendo que a figura paterna no se envolve nem incentiva o

    prosseguimento dos estudos dos filhos. Mas convir admitir que a presena ou envolvi-

    mento do pai pudesse no ser benfica; ao considerar a dialctica entre factores de risco

    e factores de proteco, Rutter comenta: existe considervel literatura sugerindo que

    benfico para o desenvolvimento psicolgico das crianas que o pai esteja activamente

    envolvido nos seus cuidados. Porm, parece provvel admitir que o envolvimento parental

    ser um efeito protector ou de risco consoante as caractersticas do pai e as qualidades

    que estas trazem para o ambiente educativo da criana (2005, p. 5).

  • 35ANO 45-1, 2011

    Seria interessante analisar a percepo e valor que os filhos atribuem s diferentes

    atitudes da Me e Pai, quanto relevncia da escolarizao no seu futuro, no sentido

    de planear intervenes promotoras da consciencializao das vantagens de maior

    formao para estes jovens j que esta avaliao foi feita por terceiros (respon-

    sveis escolares) um dos limites do estudo.

    O que sabemos que os adolescentes sem estudos tero menos oportunidades

    de trabalho, menores probabilidades de voltar escola ou de procurar formaes

    especializadas, o que contribui para aumentar a sua vulnerabilidade social (Blondal

    & Adalbjarnardottir, 2009). Neste contexto de famlias pobres do Brasil, a descrena

    no papel da escolarizao e o elevado nmero de abandono escolar no ensino mdio

    pblico perpetua as distncias entre classes sociais extremas.

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  • 38

    RsumLinfluence de la famille tout au long du dveloppement se rpercute aussi dans

    la performance scolaire des fils et, particulirement, dans lattitude globale

    quils auront face lcole. Leffet, indirect, du niveau socio-conomique et

    culturel des parents, sur les pratiques ducatives et les exigences places

    aux enfants, sera modr pour des divers facteurs tout au long du parcourt

    scolaire des jeunes. Cette tude analyse les relations entre lengagement des

    parents des classes dfavorises du Recife (Brsil) et labandon scolaire de

    leurs fils adolescents. Lchantillon se compose des parents de 504 lves

    (gs de 15 17 ans) qui ont abandonn les tudes secondaires. Lattitude

    absente/manque du Pre (le mme pour la Mre) dans la vie scolaire, et

    la typologie de la famille prsentent des associations significatives. Il faut

    dire que labandon scolaire chez les jeunes pauvres du Brsil est encore trop

    significatif, tant un grave problme social.

    Mots-cls: Dcrochage scolaire; Adolescents; Famille; Brsil

    AbstractThe family structure and socioeconomic level may be a significant variable in

    scholastic behavior and achievement, acting through parental practices and

    educational opportunities to incentive and choose a more demanding educa-

    tion. This is particularly noticeable in countries with marked gaps between

    social levels. The main aim of this study is to analyze the relationship between

    family structure from disadvantaged level in Recife (Brazil) and dropout of

    their teenage children. We analyzed the relationship between involvement of

    parents (father and mother), of 504 students (15 to 17 years), in daily school

    activities and their dropout, accordingly with the school managers perception.

    The data suggest that the father (whether in single-parent families, recon-

    structed, or absent father) tend to have a indifferent attitude about school

    life of their children. This attitude has significant associations with family

    structure. Mother attitude toward school life tend to be warm/supportive and

    is related to family structure too. Dropout in public high schools (equivalent

    to secondary school in Portugal) in the disadvantaged classes in Brazil is a

    serious problem, of alarming dimensions and repercussions.

    Key-words: Dropout; Adolescents; Family; Brazil