ACEROLA

27
_________________________________________ 1 Aluno de graduação/UFLA 2 Aluno de Pós-Graduação em Fitotecnia/UFLA 3 Professor de Fruticultura do Departamento de Agricultura/UFLA CULTURA DA ACEROLEIRA ( Malpiglia glabra L.) Keize Pereira Junqueira 1 Rafael Pio 2 Márcio Ribeiro do Vale 3 José Darlan Ramos 3 1 Introdução A aceroleira, também conhecida como cerejeira das Anti- lhas, é uma planta rústica, de porte arbustivo. O Brasil ocupa o primeiro lugar na produção e exportação da acerola, em razão da existência de condições bastante favoráveis de clima e solo em grande área do país. Outro fator é a grande importância nutricio- nal dos frutos, que fez da acerola uma fruta altamente requisitada no mercado mundial para o preparo de sucos e consumo “in na- tura”. Entre seus componentes, destaca-se o teor de vitamina C (ácido ascórbico). Em 100 g de polpa pode haver até 5000 mg dessa vitamina, o que corresponde a até 80 vezes a quantidade encontrada em limões e laranjas.

description

Como cultivar aceroleira

Transcript of ACEROLA

Page 1: ACEROLA

_________________________________________

1Aluno de graduação/UFLA 2Aluno de Pós-Graduação em Fitotecnia/UFLA 3 Professor de Fruticultura do Departamento de Agricultura/UFLA

CULTURA DA ACEROLEIRA ( Malpiglia glabra L.)

Keize Pereira Junqueira1 Rafael Pio2

Márcio Ribeiro do Vale3 José Darlan Ramos3

1 Introdução

A aceroleira, também conhecida como cerejeira das Anti-

lhas, é uma planta rústica, de porte arbustivo. O Brasil ocupa o

primeiro lugar na produção e exportação da acerola, em razão da

existência de condições bastante favoráveis de clima e solo em

grande área do país. Outro fator é a grande importância nutricio-

nal dos frutos, que fez da acerola uma fruta altamente requisitada

no mercado mundial para o preparo de sucos e consumo “in na-

tura”. Entre seus componentes, destaca-se o teor de vitamina C

(ácido ascórbico). Em 100 g de polpa pode haver até 5000 mg

dessa vitamina, o que corresponde a até 80 vezes a quantidade

encontrada em limões e laranjas.

Page 2: ACEROLA

6

Uma das grandes vantagens do cultivo dessa frutífera é o

elevado número de safras/ano, sendo geralmente quatro/ano,

podendo chegar a 7 safras, no caso de cultivos irrigados. Em

pomares irrigados na região do Submédio São Francisco, é pos-

sível ter produção o ano inteiro.

Regiões, como o Centro Oeste e os Estados de Minas Ge-

rais e São Paulo, têm implementado de forma acentuada o plan-

tio da aceroleira, principalmente para a produção de suco e, mais

recentemente, para a indústria de refrigerantes, demonstrando,

assim, o grande potencial dessa cultura.

2 Clima e solo

Os climas que favorecem o desenvolvimento e a produção

da aceroleira são os tropicais e subtropicais. O florescimento o-

corre apenas na época em que a temperatura se eleva e as chu-

vas se iniciam; durante o período seco e frio, a planta permanece

em repouso.

As temperaturas médias ideais para o cultivo da aceroleira

são de 26°C. As geadas podem ser prejudiciais à cultura, que

não resiste a baixas temperaturas. Uma árvore adulta resiste a

uma temperatura de até –2°C por um curto período. O excesso

de chuvas durante o ano deve variar de 1200 a 1600 mm. A

quantidade excessiva de chuvas favorece o ataque de doenças e

Page 3: ACEROLA

7

provoca a formação de frutos aquosos, com menores teores de

açúcares e vitamina C.

Quanto ao solo, os mais recomendados são os argilo-

arenosos. Também deve ser observado se o solo é isento de

nematóides, já que a aceroleira é muito suscetível a essa praga.

3 Botânica

A aceroleira é uma planta ainda pouco conhecida, tanto

que há divergências quanto à sua correta classificação botânica.

A maioria dos autores supõe-se tratar de Malpighia glabra L.,

mas há aqueles que julgam que a espécie cultivada é Malpighia

punicifolia L. ou mesmo Malpighia emarginata D.C.

Pela grande variação encontrada na arquitetura das plan-

tas, disposição das folhas, coloração das flores e também pela

presença de acúleos urticantes nas folhas de algumas plantas

em pomares comerciais dessa frutífera, infere-se que existam

indivíduos de mais de uma espécie sendo cultivados no Brasil.

Malpighia glabra é um arbusto glabro, de tamanho médio,

com 2 a 3 m de altura, com os ramos densos e espalhados. As

folhas são ovatas a elítico-lanceoladas, com 2,5 a 7,5 cm de

comprimento, opostas, com pecíolo curto, pequenas, de colora-

ção verde-escura e brilhante na face superior e verde pálida na

face inferior. As flores são perfeitas, com pedúnculo longo e pou-

Page 4: ACEROLA

8

co mais de 1 cm de diâmetro, de coloração rosa-esbranquiçada a

vermelha. São dispostas em cachos de 3 a 5 flores nas axilas

dos ramos em crescimento.

O fruto da aceroleira é uma drupa de tamanho, forma e

peso variáveis. A forma pode ser oval ou subglobosa, com forma-

to trilobado. A casca é fina e delicada, o tamanho varia de 1 a 2,5

cm de diâmetro e o peso de 3 a 15 g. Quanto à cor, os frutos

maduros podem apresentar diferentes tonalidades, que vão do

amarelo ao vermelho intenso ou roxo. Possuem normalmente

três sementes protegidas por invólucro com consistência de per-

gaminho. O sabor varia de levemente ácido a muito ácido, sendo

a polpa conhecida pelo seu teor de vitamanina C. Análises recen-

tes feitas em São Paulo indicam, no entanto, que esses teores

variam muito de planta para planta, sendo encontradas variações

dentro dos limites de 30 a 1800 mg de ácido ascórbico por 100 g

de polpa, havendo alguns pés que produzem frutas com 2000

mg/100 g de polpa.

A aceroleira possui baixo índice de pegamento natural dos

frutos, apesar da abundância de flores, indicando falta de efici-

ência na polinização aberta (vento, abelhas, e outros insetos).

Assim, a porcentagem de pegamento é maior quando a autopoli-

nização e a polinização cruzada são feitas artificialmente.

A abertura da flor é observada aproximadamente dos 15

aos 17 dias após o aparecimento dos botões, e, no total, até o

amadurecimento dos frutos, leva-se de 22 a 32 dias.

Page 5: ACEROLA

9

4 Variedades

Com a ampla adaptação da planta em diversas regiões do

Brasil, o cultivo se estabeleceu de forma desordenada, provo-

cando excedentes de produção, frutos sem seleção e redução do

preço obtido pelo produtor.

Dessa forma, observa-se a importância da escolha do ma-

terial que será utilizado para a formação de novos plantios, sendo

necessário dispor-se de plantas selecionadas, aceroleiras matri-

zes que reúnam o maior número possível de características

desejáveis (porte, tamanho do fruto, cor do fruto, rendimento,

produtividade, além de outros atributos). Há uma grande

variabilidade de plantas com características bastante

heterogêneas. A variedade ideal para o cultivo deve propiciar um

alto nível de produtividade (mínimo de 100 Kg de

frutos/planta/ano), frutos de coloração vermelha quando

maduras, com peso superior a 6 g e teor de vitamina C acima de

2000 mg/100 g de polpa. De acordo com o sabor e teor de vitamina C existente na

polpa, a acerola é dividida em 2 grupos:

a) doce - destinadas para consumo como fruta fresca e com me-

nor teor de ácido ascórbico. Assim, entre as variedades doces

existentes, destacam-se as seguintes: 443 (Manoa); 9-68 (Rubi-

Tropical) e 8E-32 (Rainha do Havaí).

Page 6: ACEROLA

10

b) ácido - destinadas à industrialização e com maior teor de áci-

do ascórbico. No grupo ácido, destacam-se a 3B-21 (J.H. Beau-

mont), 22-40 (C.F. Rehnborg) e 3B-1 (Jumbo Vermelho).

É importante ressaltar que muitas pesquisas têm sido de-

senvolvidas no sentido de selecionar outras variedades que su-

perem as demais em qualidade, produtividade e teor de vitamina

C. Dessa forma, aconselha-se que o produtor procure sempre se

informar sobre os novos materiais lançados no mercado.

5 Tipos de mudas

A aceroleira pode ser propagada tanto com o uso de se-

mentes (propagação sexual), como pela estaquia e enxertia (pro-

pagação assexual ou vegetativa), sendo, assim, considerada

uma planta de propagação bastante simples.

5.1. Propagação via sementes

A propagação via sementes ainda é a forma mais comum

no estabelecimento de plantios comerciais de aceroleiras no Bra-

sil. Os “caroços” são selecionados de plantas bem conformadas

e nutridas, extraídos de frutos senescentes (totalmente maduros)

através da maceração em peneira em água corrente ou por fer-

Page 7: ACEROLA

11

mentação. Deve-se lavar bem os “caroços” e deixar secar à

sombra por dois dias, podendo semeá-los imediatamente ou ar-

mazená-los em geladeira por até quatro meses.

Para selecionar os “caroços” ideais, deve-se colocá-los

em um balde com água limpa, descartando-se assim os “caro-

ços” que boiarem. A semeadura deve ser realizada em sulcos

distanciados de 10 cm, com profundidade de 0,5 a 1,0 cm, em

canteiros com dimensões de 1,0 m de largura e 1,5 m de com-

primento, contendo substrato constituído de terra + matéria orgâ-

nica na proporção de 2:1. Deve-se efetuar regas diárias com re-

gador, sendo que a germinação ocorre de 20 a 30 dias após a

semeadura. Em seguida, deve-se repicar as mudas para saqui-

nhos de dimensões de 16 X 25 cm (volume de 2 litros) com subs-

trato constituído de terra + matéria orgânica na proporção de 3:1,

misturando-se 600 g de superfosfato simples por m3 de substra-

to. Quando as mudas atingirem 25-30 cm de altura, elas devem

ser transplantadas para as covas.

Esse tipo de propagação tem causado prejuízos conside-

ráveis aos produtores, por causa da grande variabilidade de plan-

tas e frutos, gerando desuniformidade na produção e na qualida-

de dos frutos. Outro grande problema é a baixa taxa de germina-

ção, que normalmente varia de 25 a 30 %, em virtude da incom-

patibilidade na polinização, gerando ausência ou problemas na

formação do embrião (“caroços” chochos).

Page 8: ACEROLA

12

5.2 Propagação por estaquia

A propagação por estaca é um método que permite a ob-

tenção de plantas uniformes; porém, é mais difícil de ser execu-

tado e de custo de produção mais elevado.

Recomenda-se a utilização de estacas semilenhosas con-

tendo um par de folhas medindo de 15 a 20 cm de comprimento

e 3 a 6 cm de diâmetro. As estacas devem ser coletadas antes

do período de floração. Após a coleta, coloca-se a base da esta-

ca em solução hormonal de 6000 ppm de AIB (Ácido Indol-

butírico) em pó por 15 segundos, colocando-se as estacas para

enraizar em bandejas de polietileno com 72 células, contendo

como substrato areia lavada ou substrato comercial vermiculita.

Essa etapa deve ser realizada em casa-de-vegetação com sis-

tema de irrigação por nebulização intermitente e temperatura

controlada. Após 60 dias, realiza-se a transferência das estacas

enraizadas para saquinhos de dimensões de 16 X 25 cm (volume

de 2 litros) contendo substrato composto de terra + matéria orgâ-

nica na proporção de 3:1, misturando-se 600 g de superfosfato

simples por m3 de substrato. Quando as mudas atingirem 25-30

cm de altura, a partir do colo da planta, deve-se transplantá-las

para as covas.

Page 9: ACEROLA

13

5.3 Propagação por enxertia

Outro método que pode ser utilizado é o da enxertia por

borbulhia tipo “T normal” ou “T invertido”, que são os utilizados

nessa cultura. Os porta-enxertos utilizados são oriundos se se-

mentes, formados pelo mesmo método descrito no item 5.1.

Quando a muda no saquinho estiver com cerca de 10 a 12 me-

ses de idade ou apresentar diâmetro de 0,8 a 1,0 cm, realiza-se

a enxertia com borbulhas sadias e retiradas de plantas matrizes

contendo características agronômicas desejáveis.

A enxertia propicia como vantagens a redução do porte da

planta, o que facilita os tratos culturais e a colheita, a manuten-

ção das características desejáveis da variedade utilizada como

matriz, a precocidade no início da produção e uniformidade.

6 Implantação do pomar e tratos culturais

6.1 Preparo do solo e correção

Para o estabelecimento do pomar, as primeiras operações

a serem feitas são a roçagem, destoca, aração, gradagem e pre-

paro da rede de drenagem, quando necessário.

A análise do solo deve ser feita baseada em amostras ob-

tidas nas profundidades de 0 a 20 cm e de 20 a 40 cm. Com ba-

Page 10: ACEROLA

14

se nos resultados, é possível concluir sobre as necessidades de

calagem, fosfatagem ou adubações.

No caso da calagem, a aplicação do calcário deve ser se-

guida de aração e gradagem a uma profundidade de 15 a 30 cm,

para que ocorra a incorporação. Em caso de baixo teor de fósfo-

ro, recomenda-se uma fosfatagem para elevar o teor de P a um

valor acima de 12 ppm.

6.2 Espaçamento

O espaçamento recomendado é de 4 × 4 (625 plantas/ha),

pois uma alta densidade de plantas gera uma maior produtivida-

de nos primeiros anos. Entretanto, o espaçamento pode variar,

adequando-se da melhor forma às técnicas de manejo e tratos

culturais aplicados.

6.3 Marcação e abertura das covas

Deve ser feito alinhamento quadrado, marcando-se com

piquetes rústicos o local das covas. Em terrenos com declive a-

centuado, é recomendado alinhar em curva de nível.

As covas devem ser de 40 x 40 x 40 cm de largura, com-

primento e profundidade, respectivamente. Na retirada da terra

durante a abertura das covas, é necessário separar a camada

mais superficial de solo (0 a 20 cm) da mais profunda (20 a 40

Page 11: ACEROLA

15

cm). Isso é recomendado, pois, no fechamento da cova, essas

camadas de terra devem ser invertidas, sendo misturados a elas

calcário, esterco e fertilizantes químicos.

6.4 Adubação de plantio

As covas para plantio devem ser preparadas com, pelo

menos, 60 dias de antecedência, e a adubação da cova deve ser

feita de acordo com os resultados da análise de solo.

Em áreas de cerrado, devem ser adicionados, por cova,

20 L de esterco de curral bem curtido, 500 g de calcário dolomíti-

co (para solos não corrigidos) e 600 g de superfosfato simples.

Depois que a cova estiver pronta, corrigida e adubada, a

muda deve ser colocada sem a embalagem plástica que a prote-

ge, mas com o torrão. Após o plantio, fazer uma rega com 20 L

de água. Para evitar o tombamento ou quebra pela ação do ven-

to, recomenda-se o uso de tutores com cerca de 80 cm de altura.

Cada tutor deve ser colocado ao lado de uma cova, e a planta

deverá ser cuidadosamente amarrada ao mesmo (estacas de

bambus, madeira ou similares).

6.5 Podas

Quando cultivada em boas condições de manejo, a acero-

leira é uma planta de crescimento rápido. A copa deve ser con-

Page 12: ACEROLA

16

duzida visando a arquitetura semelhante a uma taça, para propi-

ciar melhor aproveitamento da luminosidade. Dessa forma, em

plantios comerciais, recomenda-se que sejam feitos três tipos de

podas: de formação, de limpeza e de limpeza drástica.

A poda de formação deve ser iniciada logo após o pega-

mento da muda. A planta deverá ser conduzida em haste única,

e todas as brotações laterais deverão ser eliminadas. Mais tarde,

quando a planta atingir uma altura de aproximadamente 70 cm,

deverá ser podada na porção apical. Esse processo irá favorecer

as brotações laterais, que definirão a copa da planta. Dessas

brotações, devem ser escolhidos os ramos laterais acima de 50

cm de altura em relação ao nível do solo, situadas em diferentes

pontos, com inserção em diferentes alturas e bem distribuídas

diametralmente.

A poda de limpeza deve ser utilizada para retirar ramos

com anomalias, secos ou que atrapalhem o arejamento da copa.

A poda de limpeza drástica deve ser feita em torno do se-

gundo ano de plantio ou de acordo com parecer técnico, quando

o diâmetro atingido pela copa dificultar os tratos culturais, fitos-

sanitários, aeração ou luminosidade. Essa poda deve retornar o

diâmetro da copa da aceroleira para 1,5 a 2 m.

Page 13: ACEROLA

17

6.6 Adubação de cobertura

Deverá ser realizada em torno da planta, na projeção da

copa. Essa distância deverá ser aumentada em função da idade

da planta e da projeção de sua copa.

Durante o período de produção, cada planta deve receber

cerca de 160 g de N, 160 g de P2O5 e 320 g e K2O por ano, divi-

didos em quatro parcelas e aplicados durante o período de frutifi-

cação. Em caso de adubações com os micronutrientes via solo,

recomenda-se utilizar as “fritas”, recomendando-se 50 g/cova de

F.T.E. BR-12, juntamente com os outros adubos químicos.

O esterco deve ser aplicado uma vez por ano, na razão de

20 L por planta. É importante lembrar que, com o tempo, essa

recomendação de adubação de cobertura deverá ser analisada

em função do desenvolvimento e produção da planta e níveis de

nutrientes no solo. Caso seja necessário, o produtor deverá fazer

uma análise foliar.

7 Irrigação

O manejo da água é muito importante em plantios de ace-

roleira. A variação no tamanho do fruto, por exemplo, está dire-

tamente relacionada com suprimento de água no solo. Em planti-

os comerciais, observa-se que sob irrigação abundante os frutos

Page 14: ACEROLA

18

se avolumam, chegando até a dobrar de peso. Entretanto, o ex-

cesso de água no fruto prejudica a qualidade, tornando-os aquo-

sos e reduzindo seus teores de açúcar.

Observa-se também que o volume de copa está direta-

mente relacionado com a quantidade de água colocada. As ace-

roleiras de copa globosa, volumosa e de porte mais baixo, em

torno de dois metros de altura, são consideradas ideais para o

processo de colheita, pois o mesmo é manual, gerando um maior

custo de produção.

O sistema de irrigação mais utilizado tem sido o de gote-

jamento, mas a irrigação também pode ser feita por aspersão

convencional, microaspersão ou por superfície (sulcos).

8 Controle das principais pragas

a) Pulgão

Sugam a parte final dos ramos, provocando seu murcha-

mento e morte, induzindo a brotação lateral da planta. Também é

comum os pulgões atacarem flores e frutos em formação. Esse

fato prejudica a produtividade geral da cultura, pois os frutos de-

senvolvem-se nas axilas das folhas dos ramos novos.

Como medida de controle, recomendam-se pulverizações

com inseticidas biológicos durante os períodos de frutificação.

Page 15: ACEROLA

19

Em casos de necessidade de inseticidas químicos, o produtor

deverá consultar um engenheiro agrônomo.

b) Cochonilhas

É um grupo de insetos que trazem sérios danos à produ-

ção agrícola. Também atacam brotos, ramos, folhas e frutos, su-

gando a seiva, podendo levar o tecido à morte.

Como controle, devem ser feitas pulverizações à base de

óleo mineral. Para maior eficácia, pode-se misturar um inseticida,

desde que não haja risco para o consumidor.

c) Percevejos

Atacam principalmente os frutos, alterando seu aspecto e

desqualificando-os para a comercialização.

O combate deve combinar harmonicamente os três tipos

de controle: cultural, biológico e químico. O maior problema des-

sa cultura é quanto ao controle químico, pois ocorre uma grande

desuniformidade da floração e, conseqüentemente, da colheita.

Uma mesma planta pode apresentar flores e frutos em diferentes

fases de desenvolvimento, podendo a aplicação de produtos

químicos provocar danos às flores, aos insetos polinizadores e

aos próprios frutos, por não ser possível ocorrer a degradação de

resíduos durante o curto período de tempo de sua formação e

colheita diária. Assim, o produtor deve ficar muito atento ao inter-

valo de segurança ou carência do produto químico que utilizar.

Page 16: ACEROLA

20

Sempre que possível, deve-se optar pelo controle químico no

período em que a aceroleira não esteja produzindo.

d) Vaquinhas

O período de maior ataque é de fevereiro a março, essas

no estágio adulto, fazem perfurações nas folhas, flores e frutos,

podendo atingir até o talo das plantas novas.

O controle é feito com produtos à base de carbaryl, delta-

methrina, fenthion ou malathion. Entretanto, em virtude da colhei-

ta diária e do longo período de carência dos produtos, apenas o

deltamethrina deve ser utilizado, pois seu período de carência,

apesar de ainda não ser determinado para a acerola, é curto pa-

ra algumas culturas.

e) Besouro-amarelo

É uma praga encontrada em diversas plantas hospedeiras.

Não se utiliza nenhuma medida de controle, apesar dessa praga

causar alguns danos significativos. Geralmente o surto dessa

praga ocorre imediatamente após as primeiras chuvas, podendo

ocorrer também em fevereiro.

f) Mosca-das-frutas

Seu dano é causado pela fêmea adulta e pela larva, uni-

camente em frutos. Causa um apodrecimento interno, ficando a

área atacada decomposta, úmida e escurecida. Como a mosca-

Page 17: ACEROLA

21

das-frutas é uma praga nômade, seu controle fica difícil e restrito

a uma diminuição no pico da praga, o que pode ser feito median-

te medidas de controle cultural, biológico e químico. Dentre as

medidas de controle cultural, destaca-se a coleta de frutos ata-

cados e posterior eliminação, como, por exemplo, o enterrio ou a

queima. Como controle químico, o uso de armadilhas ou iscas

tem sido o mais eficiente, que consiste no uso de frascos caça-

moscas. O controle biológico ainda não é uma medida ampla-

mente conhecida e explorada; entretanto, sabe-se que ocorre o

controle da mosca-das-frutas pela mortalidade causada por pa-

rasitóides, predadores e patógenos.

9 Controle das principais doenças

a) Mancha de cercosporidium

É uma doença que deprecia totalmente o fruto na sua a-

parência. Provoca lesões profundas, regulares e com coloração

escura, atingindo frutos de qualquer idade. O controle deve ser

feito com fungicidas à base de oxicloreto de cobre a 250g/100 L

ou benomil a 60g/100 L de água, a cada dez dias. É importante

lembrar que, na opção por benomil, o período de carência deve

ser respeitado.

Page 18: ACEROLA

22

b) Podridão seca dos ramos

É uma doença muito comum em plantios não irrigados. Os

fungos podem penetrar nos tecidos através de aberturas naturais

(axilas dos ramos) e, principalmente, por ferimentos provocados

por ventos, chuva de pedras, enxadas, facões, tratores e outros.

Os sintomas são, inicialmente, lesões escuras sob a casca do

tronco e ramos, levando ao secamento de galhos e à morte da

planta.

A forma de controlar a doença é a eliminação de ramos e

plantas mortas. Em seguida, deve-se tentar descobrir a causa

primária da doença, fornecendo às plantas os tratos culturais a-

dequados.

c) Antracnose

É uma doença que ataca principalmente os frutos, provo-

cando nesses lesões profundas e regulares. Os frutos atingidos

apodrecem rapidamente após a colheita. O controle é feito com

aplicações semanais de oxicloreto de cobre.

d) Verrugose

É uma doença bastante comum, e pode atacar botões

florais, flores e frutos. Os frutos atingidos tornam-se inviáveis pa-

ra o mercado, pois o fungo provoca deformações e a formação

de um tecido corticoso na casca. O controle deve ser feito com

pulverizações à base de oxicloreto de cobre.

Page 19: ACEROLA

23

10 Controle de plantas daninhas

As plantas daninhas prejudicam o crescimento e desen-

volvimento dos pomares, comprometendo a qualidade e a quan-

tidade de frutos. Além disso, favorecem o desenvolvimento de

pragas e doenças, já que, na presença dessas plantas invasoras,

há dificuldades de serem realizadas as práticas fitossanitárias.

Como controle, pode ser utilizada a capina manual, quími-

ca ou mecânica. Quando se optar pelo cultivo mecanizado, deve-

se tomar o cuidado para que as raízes das aceroleiras não sejam

danificadas. O controle químico com a aplicação de herbicidas é

recomendado, procurando assistência técnica especializada. A-

lém disso, o produtor deve ter conhecimento minucioso não só

da população invasora, como da especificidade do herbicida a

ser aplicado.

No primeiro ano, recomenda-se a aplicação do Paraquat

(Gramoxone) a 100 ml por 20 litros de água nas linhas de plantio,

mantendo a roçagem nas entrelinhas. Em plantas adultas que

não estejam no período de frutificação, podem ser usados herbi-

cidas à base de glifosate a 200 ml por 20 litros de água, cuidando

para que o produto não atinja as folhas. Recomenda-se, portan-

to, a aplicação em horas de menor intensidade de vento, e com

protetor de derivas, colocando no bico do pulverizador uma bacia

de plástico com 40 a 50 cm de diâmetro ou o chapéu-de-

napoleão.

Page 20: ACEROLA

24

11 Produção e produtividade

Plantas obtidas a partir de sementes começam a produzir

cerca de 2 a 2,5 anos após o plantio, frutificando 3 a 4 vezes por

ano. Em contraste quelas produzidas por estacas produzem pela

primeira vez com cerca de 1 a 1,5 ano de idade, também produ-

zindo de 3 a 4 vezes por ano. No entanto, em algumas regiões

do Nordeste brasileiro com alta temperatura, disponibilidade de

luz e sob irrigação, essas plantas advindas de sementes ou esta-

cas têm começado a frutificar com menos de um ano e produzido

praticamente o ano inteiro.

Em plantios comerciais, a produção varia de 20 a 100

kg/planta/ano. Caso o produtor esteja interessado em abastecer

os grandes centros consumidores internos e, principalmente, o

mercado externo, ele deverá estabelecer, juntamente com a sua

meta de produção, um programa rígido e sistemático de controle

de qualidade dos frutos produzidos, no sentido de conquistar es-

ses centros e de assegurar sua permanência num mercado ex-

terno altamente exigente e competitivo. Assim, é importante ga-

rantir alta produtividade e outras características qualitativas dese-

jáveis, visando também à produção de frutos com o maior conte-

údo possível de vitamina C.

Page 21: ACEROLA

25

12 Colheita, classificação, processamento e emba-

lagem

É muito difícil determinar o ponto de colheita da acerola, já

que a desuniformidade na floração provoca a presença de flores

e frutos em diversos estádios de desenvolvimento. Assim, o prin-

cipal critério utilizado para estimar o grau de maturação do fruto é

a coloração externa.

O ponto exato da colheita depende do destino do fruto.

Caso sejam posteriormente congelados, devem ser colhidos com

coloração vermelha, mas ainda firmes para suportar o manuseio.

Nesse estádio, o fruto apresenta alto teor de açúcar e baixa aci-

dez (máximo de qualidade ). Quando o fruto vai atingindo a colo-

ração vermelho-intensa, seu teor de vitamina C diminui. Em pro-

dutos em que a quantidade de vitamina C é a característica mais

importante (a exemplos dos remédios, cápsulas, concentrados

para enriquecimento em pó), os frutos podem ser colhidos no

início da maturação.

Quando os frutos forem destinados a sucos ou consumo

como fruta fresca, a colheita deve ser bem criteriosa, pois o su-

cesso comercial depende dessa operação. Recomenda-se que a

colheita seja efetuada, sempre que possível, em horas com tem-

peraturas mais amenas.

Em período de produção plena, a colheita deve ser feita

duas a três vezes por semana, podendo até ser feita diariamente,

Page 22: ACEROLA

26

dependendo do pique de produção. Assim, evita-se que os frutos

caiam depois de atingirem determinado ponto de maturação.

Também é importante observar que durante o processo, os frutos

não sofram pancadas ou ferimentos, o que acelera seu processo

de deteriorização.

O processo de colheita é a operação mais delicada e de

maior custo na cultura da aceroleira. Uma pessoa adulta colhe,

no auge da produção e em pomares em produção plena, cerca

de 90 a 110 kg de fruta/dia.

A classificação diz respeito à qualidade dos frutos, e en-

globa fatores como cor, danos permitidos ou não, diâmetro e pe-

so da fruta. Esse critério de classificação geralmente é aplicado

para os produtores que têm contrato com indústrias.

O processamento dos frutos é feito quando se visa aomer-

cado de polpas, muito receptivo no caso da acerola. Nesse pro-

cesso, geralmente utiliza-se um despolpador. Se a produção for

pequena, o produtor pode adaptar um liquidificador comum para

esse fim. Nesse caso, basta retirar a hélice central do mesmo e

substituí-la por uma peça simples, utilizando-se um ralo de pia

inóx (Figura 1).

Page 23: ACEROLA

27

A B

C FIGURA 1: Adaptação da hélice central de um liquidificador comum para uma des-polpadeira doméstica. (A) Base normal do liquidificador (B) Ralo de pia que irá substi-tuir as lâminas da base normal (C) Base modificada para despolpa dos frutos.

Page 24: ACEROLA

28

Após a retirada das sementes, a polpa deve ser embalada

em sacos de plástico, congelada e comercializada.

No que se diz respeito à embalagem dos frutos, o produtor

pode utilizar caixas de PVC de tamanho pequeno (ex: caixas pa-

ra transporte de sacos de leite pasteurizado), que permitam colu-

na de frutos de até 15 cm. Esses tipos de caixas necessitam de

uma adaptação (suporte), para que o colhedor possa andar com

ela e substituí-la quando estiver cheia. A adoção desse tipo de

caixa por algumas empresas exportadoras previne danos aos

frutos no manuseio, tendo em vista que o fruto é colhido e trans-

portado para o armazém (Packing House), sem a necessidade de

passar para outro recipiente. Deve-se evitar ao máximo a exposi-

ção dos frutos colhidos em pleno sol, protegendo-os com cober-

turas escuras ou colocando-os em caixas de isopor com tampas

e pequenos orifícios. É importante lembrar que em caso de co-

lheita de frutos verdes ou “de vez”, pode-se utilizar caixas maio-

res, tendo em vista que os frutos são bastante firmes.

Pelo fato de serem bastante perecíveis, recomenda-se

que os frutos sejam levados ao seu destino logo após a colheita.

Caso a distância seja longa, os frutos devem ser congelados e

embalados em caixas de isopor e transportados em câmaras

frigoríficas.

Page 25: ACEROLA

29

13 Comercialização

A acerola pode ser explorada comercialmente na forma de

produtos processados ou “in natura”. Por causa de sua perecibili-

dade, os frutos não têm sido normalmente comercializados como

produto fresco. Entretanto, o mercado tem crescido cada vez

mais para os processados, que podem ser utilizados na fabrica-

ção de polpa, purê, concentrado, geléia, suco, xarope, compota,

conserva, cápsulas de vitamina C pura e produtos liofilizados.

Dentre outros. O suco é utilizado principalmente para acrescentar

vitamina C aos sucos de outras frutas. Os principais produtos

obtidos da acerola são: polpa/suco congelado e fruta congelada.

Os países produtores de acerola que, juntamente com o

Brasil, disputam o mercado internacional são a Colômbia, Vene-

zuela, Ilhas do Caribe, Filipinas, Vietnã e EUA.

Pelo grande número de formas de aproveitamento da ace-

rola, prevê-se para um prazo muito longo, o equilíbrio entre a o-

ferta e a demanda do produto.

Page 26: ACEROLA

30

14 Referências Bibliográficas

ALVES, R. E. Cultura da acerola. In: DONADIO, L. C.; MARTINS, A. B. G.; VALENTE, J.P. ed. Fruticultura tropical. Jaboticabal: FUNEP/FCAV/UNESP, 1992. p. 15-37. ARAÚJO, P. S. R. de; MINAMI, K. Acerola. Campinas: Fundação Cargill, 1994. 81 p. BATISTA, F. A. S.; MUGET, B. R. R.; BELTRÃO, A. E. S. Com-portamento e seleção da aceroleira na Paraíba. In: CONGRES-SO BRASILEIRO DE FRUTICULTURA, 10, 1989, Fortaleza. A-nais... Fortaleza: SBF, 1989. p. 26-40. GONZAGA NETO, L.; SOARES, J. M. Acerola para exportação: aspectos da produção. Brasília: EMBRAPA-SPI, 1994. 43 p. (Sé-rie Publicações Técnicas FRUPEX, 10). GONZAGA NETO, L.; SOARES, J. M.; CHOUDHURY, M. M.; LEAL, I. M. Coleção plantas: acerola. Brasília: EMBRAPA, 1995. 101 p. JUNQUEIRA, N. T. V.; URBEN, A. F.; RAMOS, V. H. V.; OLIVEI-RA, M. A. S. Doenças da aceroleira e de seus frutos nos cerra-dos da região Centro-Oeste e Minas Gerais. In: EMPRESA BRA-SILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Centro de Pesquisa Agropecuária dos Cerrados. Relatório Técnico Anual do Centro de Pesquisas dos Cerrados, 1991-1995. Brasília, EMBRAPA-CPAC, 1997. p. 202. MARINO NETTO, l. Acerola: a cereja tropical. São Paulo: Nobel, 1986. 94 p. OLIVEIRA, J. R. P. de; SOARES FILHO, W. dos S.; CUNHA, R. B. da. A cultura da acerola no Brasil. Cruz das Almas: EM-BRAPA-CNPMF,1993. 35 p. (EMBRAPA-CNPMF. Documen-to, 85).

Page 27: ACEROLA

31

SILVA, J. M. de M.; JUNQUEIRA, N.T.V. Cultura da aceroleira.

In: _______. Incentivo à fruticultura no Distrito Federal: ma-

nual de fruticultura. 2. ed. rev. Brasília: OCDF/COOLABORA,

1999. p. 79-86.

SIMÃO, S. Cereja das Antilhas. In: ______. Manual de fruticul-tura. São Paulo: Agronômica Ceres, 1971. cap. 15, p. 477-485.