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1 Primeiro trem a chegar em Jerusalém após a proclamação do Estado de Israel em 1948 (Acervo AHJB) AHJB_nº42.indd 1 16/05/10 23:43

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Primeiro trema chegar em

Jerusalém apósa proclamação

do Estado deIsrael em 1948

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CARO LEITOR ÍNDICE

DIRETORIA: PRESIDENTE Jayme Serebrenic VICE-PRESIDENTE Bettina Lenci DIRETORES DE NúClEOS: bIblIOTECA E DOCumENTAçãO Roney Cytrynowicz

O BOLETIM DO AHJB é enviado gratuitamente aos sócios, a insti-tuições culturais do Brasil e do exterior, e é também distribuído aos visitantes e consulentes que o solicitam.Lembramos aos colaboradores que este boletim possui ISSN (Inter-national Standard Serial Number), número internacional normatiza-do para publicações seriadas. Os artigos inéditos podem ser envia-dos à Redação pelo e-mail [email protected]

editoriaL

Este nosso Boletim, atualmente denominado por mui-tos de Revista do AHJB, teve seu primeiro número com apenas três páginas e inteiramente elaborado na própria instituição, publicado a partir de julho de 1996.

Até hoje, publicamos, ao todo, 42 números; cerca de três por ano, incluindo este.

O número de exemplares de cada uma das edições ainda é reduzido, mas nos agrada muito constatar que contamos com um número representativo de excelentes colaboradores, daqui e do exterior: acadêmicos, profes-sores, doutores, mestrandos e muitos outros. Quanto ao público leitor, este é formado por um diversificado núme-ro de pessoas do nível dos colaboradores acima citados, mas também por universitários, estudantes de escola mé-dia, estudiosos e, de um modo geral, por interessados em assuntos judaicos.

Para poder oferecer ao público esta publicação, conta-mos há anos com o apoio da Construtora e Incorpora-dora ATLâNTICA Ltda. e da CIBRACON e, mais recente-mente, com o apoio também do ANGLO - SISTEMA DE ENSINO. Para dar maior sustentação a este nosso traba-lho, gostaríamos de contar com outros apoios e, assim, publicar edições com maior frequência.

Um convite que fazemos repetidamente ao leitor é que VISITE O AHJB.

Estamos estabelecidos, desde setembro de 2004, em uma casa doada pelo Sr. Henrique Brenner, que muito nos ajudou e a quem devemos respeitosamente nossa gratidão.

Gradativamente, aumentou o número de visitantes, que demostram grande interesse em conhecer melhor nosso rico Acervo Documental, a Fototeca, a Hemeroteca e a Biblioteca. O Núcleo de História Oral desperta especial interesse, pois contém um rico acervo de depoimentos que incluem entrevistas de sobreviventes e refugiados do Holocausto e que, em parceria com o projeto Arqshoa da USP, vem sendo mais conhecido e mais divulgado. Te-mos ainda o Departamento de Genealogia que desperta a atenção dos leitores.

Venha visitar-nos; seguramente encontrará entre todas essas opções citadas algo que lhe diz respeito.

Este número é dedicado ao aniversário de Israel, neste ano foi em abril, dia 20!

Resta-nos agora desejar-lhe Boa leitura!

SEMA PETRAGNANI, EDITORA

Os artigos assinados não refletem necessariamente a opinião do AHJB

ADmINISTRAçãO Mireille Barki bIblIOTECA Theodora da C. F. Barbosa DOCumENTAçãO Mireille Barki FOTOTECA Arnaldo Lev PESQuISA E PROJETO Lucia Chermont INFORmAçãO E TECNOlOGIA Ingo Bekman SERVIçOS GERAIS José Messias Ribeiro Santos REDAçãO: EDITORA Sema Petragnani CO-EDITOR Paulo Valadares REVISORAS Flora Martinelli e Suely Pfeferman PROJETO GRÁFICO Ciro Girard/satelitesmg.com.br DIAGRAmAçãO Alexandra Marchesini ImPRESSãO Northgraph Gráfica CONTATOS [email protected] ou pelo telefone 11 2157.4129

PRESIDENTE Mauricio Serebrinic VICE PRESIDENTE Carlos R. de Mello Kertész VICE PRESIDENTE Roney Cytrynovicz DIRETORES: bIblIOTECA E DOCumENTAçãO Roney Cytrynowicz COmuNICAçãO Sema Petragnani CulTuRA IÍDIChE Abrahão Gitelman DIVulGAçãO Sonia Schneider EDuCAçãO Anna Rosa Campagnano ExPOSIçõES Miriam Landa FINANCEIRO Jayme Serebrenic GENEAlOGIA Guilherme Faiguenboim hISTÓRIA ORAl Marília Freidenson múSICA E DISCOTECA Lea Vinocur Freitag PATRImôNIO Simão Frost PESQuISA E ACERVOS ESPECIAIS Samuel Belk RElAçõES INSTITuCIONAIS Paulina Faiguenboim SEçõES Carlos R. De Mello Kertész SECRETÁRIA GERAl Myriam Chansky

02 EDITORIAL E ÍNDICE

03 PALAVRA DO PRESIDENTE

04 CARTAS

05 NOTÍCIAS

10 O DIA INTERNACIONAL DOS DIREITOS HUMANOS EM VASSOURAS

13 NOTÍCIAS

14 O DIÁLOGO JUDAICO-CRISTãO: A VISITA DE BENTO XVI à SINAGOGA DE ROMA

17 VELHOS TEMPOS DE BROR CHAIL, O KIBUTZ BRASILEIRO

19 O BRASIL NA TERRA SANTA EM 1876 D. PEDRO II E SUA COMITIVA NA IMPRENSA LOCAL

23 DE JERUSALÉM PARA LISBOA, DE LISBOA PARA O SERTãO

28 BRASILIANA EM IÍDICHE

33 JOSÉ E. MINDLIN

34 RESENHA

36 DOAÇÕES

37 CONSULTA

38 PESQUISADORES

39 FOTOTECA

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O BOLETIM DO AHJB é enviado gratuitamente aos sócios, a insti-tuições culturais do Brasil e do exterior, e é também distribuído aos visitantes e consulentes que o solicitam.Lembramos aos colaboradores que este boletim possui ISSN (Inter-national Standard Serial Number), número internacional normatiza-do para publicações seriadas. Os artigos inéditos podem ser envia-dos à Redação pelo e-mail [email protected]

PaLaVra do PreSideNte

ADmINISTRAçãO Mireille Barki bIblIOTECA Theodora da C. F. Barbosa DOCumENTAçãO Mireille Barki FOTOTECA Arnaldo Lev PESQuISA E PROJETO Lucia Chermont INFORmAçãO E TECNOlOGIA Ingo Bekman SERVIçOS GERAIS José Messias Ribeiro Santos REDAçãO: EDITORA Sema Petragnani CO-EDITOR Paulo Valadares REVISORAS Flora Martinelli e Suely Pfeferman PROJETO GRÁFICO Ciro Girard/satelitesmg.com.br DIAGRAmAçãO Alexandra Marchesini ImPRESSãO Northgraph Gráfica CONTATOS [email protected] ou pelo telefone 11 2157.4129

PRESIDENTE Mauricio Serebrinic VICE PRESIDENTE Carlos R. de Mello Kertész VICE PRESIDENTE Roney Cytrynovicz DIRETORES: bIblIOTECA E DOCumENTAçãO Roney Cytrynowicz COmuNICAçãO Sema Petragnani CulTuRA IÍDIChE Abrahão Gitelman DIVulGAçãO Sonia Schneider EDuCAçãO Anna Rosa Campagnano ExPOSIçõES Miriam Landa FINANCEIRO Jayme Serebrenic GENEAlOGIA Guilherme Faiguenboim hISTÓRIA ORAl Marília Freidenson múSICA E DISCOTECA Lea Vinocur Freitag PATRImôNIO Simão Frost PESQuISA E ACERVOS ESPECIAIS Samuel Belk RElAçõES INSTITuCIONAIS Paulina Faiguenboim SEçõES Carlos R. De Mello Kertész SECRETÁRIA GERAl Myriam Chansky

Quando assumi a direção do AHJB, percebi que, apesar do verda-deiro tesouro que é o nosso acervo, poucas pessoas da nossa Co-munidade conheciam o que guardamos e conservamos com muita qualidade, ou sequer o precioso trabalho que realizamos.

Então, passei a cuidar de três aspectos no nosso mandato:• Administração Interna • Comunicação e Divulgação ao Público Externo• Parcerias e ProjetosNo primeiro item, procurei sempre cuidar das finanças, do patri-

mônio, do nosso pessoal profissional, dos voluntários e da nossa Diretoria, dando condições para que todos possam produzir com competência em suas res-pectivas áreas. Tenho contado com a participação ativa da Diretora Myriam Chanski.

Para o público externo, tenho participado ativamente de todos os eventos para os quais somos convidados, apresentando o nosso trabalho e o potencial do nosso acervo e do nosso pessoal. Acredito que, à medida que o nosso AHJB passe a ser mais reconhecido, será natural conseguirmos mais sócios e colaboradores.

Abrigamos dois Grupos ligados ao idioma iídiche; o primeiro, com o Diretor Abrahão Gi-telman e voluntários, que está organizando e catalogando a biblioteca de livros em iídiche; o outro, coordenado pelo Diretor Samuel Belk, é ligado à USP, proporciona aulas de língua iídiche e tem uma ótima frequência.

É nossa intenção abrir um setor Sefaradita, procurando dar a mesma atenção que hoje temos com o setor de Iídiche.

Conseguimos desenvolver parcerias com entidades como o Centro de Cultura Judaica (CCJ) e o Museu Judaico. Já realizamos em conjunto uma exposição sobre a imigração judaica no Memo-rial do Imigrante e, no quarto trimestre, participaremos juntos de um Festival de Música Judaica.

Uma nova parceria está formando-se com a Sinagoga do Ten Yad, com a participação ativa do Rabino David Weitman.

Estamos procurando desenvolver Projetos para conseguirmos o necessário retorno financeiro para a manutenção das atividades do AHJB. Já apresentamos um deles à FAPESP e mais alguns estão sendo preparados. Temos tido a colaboração de Henrique Stobiecki, Assessor da Diretoria.

Enfim, amigos, temos trabalhado e recebido a colaboração da Diretoria e gostaríamos de receber mais voluntários e associados.

Shalom e sejam sempre bem vindos ao Arquivo Histórico Judaico Brasileiro.

Maurício SerebrinicPresidente

PALAVRA DO PRESIDENTE

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4CartaS

Recebi o Boletim número 41, e gostaria de enviar os para-béns a toda a Equipe por tão valiosa publicação. Elie Politi - São Paulo

Quando fui doar alguns documentos antigos ao AHJB, recebi o Boletim oferecido pela Sra. Thea Joffe. Ao folhe-ar, me emocionei profundamente ao encontrar o tocante artigo sobre a Celina e saber histórias que não conhecia a respeito dos meus bisavós, Isaac e Olga Tabacow, com fotos antigas. Valeu, gostei muito! Flavio Chamis, maestro - Pennsilvannya, USA

Terminei de ler o relato sobre Celina com lágrimas nos olhos. Tive saudades daquele tempo e das pessoas que nunca mais vou ver. Felicito-a pelo texto muito bem escrito.Ruth Rejtman, tradutora e revisora – São Paulo

Fiquei emocionada ao receber o Boletim do Arquivo Ju-daico. A matéria, Lea, está linda; você derramou todo o seu coração. Maria Aparecida Schoenacker, São Paulo

Gostei muitíssimo de receber o boletim do AHJB. Por coincidência, o Chico Buarque, que vem a ser meu pri-mo (pelo lado Cesário Alvim, a minha avó materna era irmã do avô materno dele) tinha, há algum tempo atrás, me presenteado com esse mesmo número do boletim. E eu o tinha perdido durante uma viagem. E ficado com muita pena. Então, veja só que coincidência feliz foi, tem-pos depois [ter recebido] a mesma revista! Desta vez vou guardá-la imediatamente no arquivo particular onde ve-

nho juntando coisas que dizem respeito a meu avô. Ar-quivo este que está crescendo, muito rapidamente, neste ano do centenário da morte dele. Vivi Nabuco, Rio de Janeiro

Não podem imaginar quanto prazer tive quando li alguns artigos da revista AHJB – Boletim 41, particularmente in-teressante para alguém como eu, que tão logo cheguei a São Paulo vinda da Itália, frequentei bastante o ambiente judaico. O Engenheiro Polacco ajudou-nos no inicio a en-contrar uma casa (preciosa ajuda devido à crise de moradias na época); uma vizinha, Augusta Terni, me cedeu o carrinho de nenê deixado por seu último filho. Meu marido organi-zou um intercâmbio cultural/estatístico com o Prof. Giorgio Mortara, a quem o professor Gini, de Estatística de Roma, o havia endereçado. E tantos outros a quem devo uma recep-tividade inesquecível. E Enrico Librach? Conheci o Bom Re-tiro através dele e, ao ler sobre o Bar Jacob, relembrei o res-taurante Europa, aonde tantas vezes fomos com ele. Todos os artigos me interessaram e me pareceu reconhecer algum rosto nas fotos mais recentes. Cumprimentos meritórios. Gabriela Stampi - Bologna, Itália(nota da redação: a leitora não é judia)

Quiero hacer constar, en primer lugar, mi agradecimiento al Prof. Carlos Kertész por haberme permitido conocer el Boletim Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, que recibo hace anõs, interessante y erúdita publicacion en tantos temas ju-daicos de Brasil. Mi especial dedicación que profeso sobre el tema - mi apellido es judio -, son fuente de conocimentos.Rafael Picò

Faleceu em São Paulo, ETEL SARA WENGIER (06/07/1948 – 18/03/2010), colaboradora do AHJB. Ela doou não só um valioso e imenso acervo de fotos, mas fez questão de doar toda a história do movimento sionista ligado em especial ao Hashomer Hatzair, que teve um importante papel em São Paulo. Apesar das dificuldades, desenvolveu um intenso trabalho para que todas as pessoas retratadas nas centenas de fotos pudessem ser identificadas, os locais, as datas. Pelas fotos, temos uma visão de uma jovem graciosa e alegre, passando por toda a formação de uma grande ativista, atingindo todos os postos da hierarquia destes movimentos juvenis. Etel esteve várias vezes no AHJB, trazendo inúmeras listas com os nomes das pessoas que identificou. Mandou fotos para vários outros halutzim de vários estados, mobilizando todos neste trabalho de contar a historia, prin-cipalmente do Hashomer Hatzair. Enviou, também, fotos de suas viagens a vários Estados do Brasil onde havia atividades dos vários movimentos sionistas e mesmo sua estada em Kibutz de Israel. ARNALDO LEV

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5 NotíCiaS

O médico paulistano Eduardo Berger leu numa publicação sobre o aban-dono de cemitérios judaicos em Nova Iorque. Logo relacionou a notícia com o seu avô materno, o imigrante Salomão Lerner, Shlomo ben Nahum (1886-1953), oriundo de Iedenitz, na Bessarábia. Buscou o seu túmulo no bem cuidado Cemitério Israelita de Vila Mariana, onde ele repousa ao lado da esposa Sara e de uma irmã (mãe dos jornalistas Samuel Wainer e Berta Kogan) e o cunhado, e viu que podia fazer algo para homenageá-lo e também estreitar mais os laços de pertencimento entre os seus descendentes. Berger pesquisou a história do avô, um homem simples, mas extremamente generoso, que fora um dos fundadores da EZRA, da Cooperativa do Crédito Popular do Bom Retiro, dentre outras instituições.

Em 07/03/2010, comemorou-se então o centenário de sua emigração da Bessarábia para o Brasil, frente ao seu tú-mulo no Cemitério Israelita de Vila Mariana. Numa cerimônia de yurtzait oficiada por Nelson Rozenchan, iniciada com o Salmo 16, foram rezados o Kadish e o El Male Rachamim, seguido pelas falas dos netos Ronaldo Lerner Vinocur e Dilma Rozenblit e também do vereador Floriano Pesaro, que já o homenageara em 9 de fevereiro na Câmara Municipal da cidade. Estiveram na cerimônia parentes e amigos da família, como também diretores da Chevra Kadisha e também o presidente do AHJB, Maurício Serebrinic, instituição onde se encontra documentação sobre este pioneiro judeu em São Paulo. Seguiu-se um almoço em que a trajetória de Salomão Lerner foi contada para os presentes.

Destacamos este fato não apenas como uma homenagem a Salomão Lerner, imigrante e fundador de instituições, mas para que também sirva de incentivo para que outras famílias possam homenagear os avós, honrando assim os seus ancestrais.

CENTENÁRIO DE UM PIONEIRO:

SALOMÃO LERNER(1886-1953)

O Arquivo Histórico Judaico Brasileiro, AHJB, está aberto a visitantes, entre 9h e 17h, de segunda a sexta-feira. Es-ses visitantes são doadores de material histórico relativo a familiares ou são pesquisadores em busca de informa-ções sobre a comunidade judaica. São sempre atendidos com a máxima atenção e apoio.No dia 23 de fevereiro, o AHJB teve a visita da arquiteta e professora universitária Clara Levin Ant, deputada es-tadual pelo PT entre 1987 e 1991, atualmente Assessora Especial da Presidência da República, com escritório no Palácio do Planalto em Brasilia.Clara Ant tem sido também a interlocutora entre o Gover-

no e a coletividade judaica.Convidada por Mauricio Serebrinic, Presidente do Arqui-vo, ela esteve nas dependências do AHJB onde foi recebi-da por membros de sua Diretoria. Clara Ant doou alguns livros religiosos que pertenceram a seu pai, Simão Ant, e pastas com vasta e importante corres-pondência que ele manteve com grande número de amigos e também, em determinado periodo, com sua esposa. Antes de se estabelecer em São Paulo, Simão Ant, um emi-grante polonês, viveu em La Paz. Clara Ant nasceu na Bolí-via e veio com a família para o Brasil em 1958. Extrovertida e determinada, contou com entusiasmo alguns fatos de sua familia, descrevendo com emoção e alegria as reuniões que tinham quando, inspiradas por seu pai que adorava

música, cantavam canções, na lingua iídi-che, lingua essa,hoje, conhecida por pou-cos judeus. As letras dessas canções estão todas registradas em uma de suas pastas. Clara Ant declarou: “eu fui educada em uma casa onde se falava iídiche.”Ao receber o convite da presidente do Núcleo de História Oral, Myriam Chansky, para lhes dar oportunamente uma entre-vista, Clara Ant aceitou o convite.

VISITA DE CLARA ANT

(esq. p/ dir.) Myriam Chansky, Samuel Belk, Abrahão Gitelman, Clara Ant, Mauricio Serebrinic, Roney Cytryrowitz, Sema Petragnani, Paulina Faigenboin

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6NotíCiaS

O Dia da Memória do Holocausto é celebrado por paÍses da OSCE (Organização para a Segurança e Cooperação na Europa), a partir de 2005, quando por lei instituíram o dia 27 de janeiro como o Dia da Memória do Holocaus-to, que em verdade é comemorado TAMBÉM em outros continentes. Em outros 13 países, esse dia é celebrado em diferentes datas, que coincidem com eventos acontecidos em cada um desses paises. Há ainda paises membros da OSCE nos quais a comemoração das vítimas do Holocausto acontece em dias da memória nacional, ou seja, não são dias específicos em memória do Holocausto.Os países que comemoram a data de 27 de janeiro – data essa que também o Brasil comemora são: Al-bânia, Bélgica, Croácia, República Checa, Dinamarca, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, Grecia, Irlanda, Itália, Liechtenstein, Noruega, Espanha, Suécia, Suíça e Reino Unido.A Áustria comemora a data em 5 de maio, juntamente com o Dia da Memória para as vítimas do Nacional So-cialismo, e indica a liberação do Campo de Concentra-ção de Mauthausen em 1945.A Bulgária escolheu o dia 10 de março como o do Ho-locausto, concomitante com o do salvamento dos ju-deus búlgaros; e essa data indica os esforços feitos em 1943 pelo Parlamento Búlgaro para cessar a deporta-ção dos judeus búlgaros aos campos de concentração nacional socialistas. O Canadá e os EUA celebram a memória nacional do Ho-locausto no dia 27 do mês Nissan, do calendário judaico.A Letônia escolheu o dia em que foi incendiada a sina-goga de Riga por parte dos Nacional Socialistas e mor-reram os judeus fechados segregados entre os muros da sinagoga.A Lituânia escolheu a data de 23 de setembro como Dia

Dia da MemóriaNacional do Genocídio dos Judeus lituanos. A data indi-ca na verdade o homicídio dos prisioneiros que estavam segregados no gueto de Vilnius em 1943.Luxemburgo escolheu o dia 10 de outubro em homena-gem ao referendo de 1941.A Polônia celebra em 19 de abril o dia da Memória das vitimas do Holocausto e da Prevenção de Crimes contra a humanidade. A data indica o início da ocupação do gueto de Varsóvia.A Rumânia, no dia 9 de outubro, celebra a data que in-dica o início das deportações em massa dos judeus para a Transnístria em 1941. A Sérvia Montenegro celebra a data em 22 de abril, que indica a revolta dos prisioneiros do campo de concentra-ção de Jasenovac em 1945.A República Eslovaca celebra, em 9 de setembro, o Dia das Vítimas do Holocausto e da violência racial, data essa que indica a introdução do Código Judaico em 1941.Ex-Iugoslávia, a República da Macedônia, escolheu o dia 12 de março para quando se sucedeu a deportação dos judeus aos campos de extermínio da Nacional Socialista em 1943, por parte das forças de ocupação búlgara. A Hungria escolheu o dia 16 de abril, que indica a aber-tura do lº campo de concentração do país.Outros países filiados à OSCE, como a Armênia, Geórgia, Cazaquistão, Holanda, Eslováquia e Uzbequistão, não têm um dia especial para a comemoração das vitimas do Holocausto. Uns têm um dia de Memória Universal ou comemoram as vítimas das duas guerras mundiais, como no caso da Geórgia, ou das vítimas da repressão política, como o Casaquistão, ou das vítimas do Fascis-mo e do Nacional Socialismo, ou, ainda, como no Uzbe-quistão que comemora o Dia Nacional da Memória e da Honra das Vitimas que morreram pela independência da Pátria-Mãe em 9 de maio.

Marilia Freidenson, diretora do Núcleo de História Oral do AHJB e também co-presidente do Conselho de Fraternidade Cristão Judaica de São Paulo - juntamente com a Irmã Gisa Fonseca, a Pastora Margarida Ribeiro e a Irmã Jilva Neide dos Santos - participou do “Primeiro Encontro Latino Americano de organizações vinculadas ao Conselho Internacional de Cristãos e Judeus (ICCJ)”, realizado de 6 a 8 de dezembro de 2009, em Montevidéu, Uruguai, com o apoio da Fundação Konrad Adenauer e da B’nai Brith. O texto completo dos documentos relativos a este Encontro está disponível no site http://www.iccj.org

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7 NotíCiaS

O Rabino Leone visita o AHJBO presidente do AHJB, Maurício Serebrinic, e parte de sua diretoria receberam, no dia 19 de março último, a visita do Rabino ALEXANDRE LEONE da Sinagoga Bnei Chalutzim de Alphaville. Foi muito bem vindo e mos-trou-se muito interessado pelo Acervo da Instituição, fazendo muitas perguntas e dando boas sugestões.Nesta edição, à página 14, publicamos a matéria que nos enviou ao voltar de Roma, onde esteve como re-presentante da FISESP e da Confederação Israelita do Brasil, por ocasião da visita de papa Bento XVI à grande Sinagoga de Roma também conhecida como o Templo.

O Memorial do Imigrante, instituição ligada à Secreta-ria de Estado da Cultura de São Paulo, recebeu, do dia 27/03 a 11/04, a mostra “Imigração Judaica – Cronologia e Origens”. A abertura da exposição fez parte do Sarau Poético “Brasil & Israel”, evento que o Memorial dedica a diversas nacionalidades. Já participaram do projeto as co-lônias italiana, alemã, francesa e japonesa, entre outras.

Produzida em parceria com o Arquivo Histórico Judai-co Brasileiro (AHJB), o Museu Judaico de São Paulo e o Centro da Cultura Judaica (CCJ), a exposição trouxe oito painéis sobre a imigração judaica e vitrines com docu-mentos e pertences de imigrantes judeus que vieram ao Brasil. Entre os objetos expostos estavam: passaportes, contratos de casamento (ketubá), livros de registro de entrada no Porto, pertencentes a EZRA, entidade benefi-cente da comunidade Judaica, shofar (um chifre de car-neiro), uma mezuzá (pergaminho religioso pregado ao umbral direito das portas) e uma chanukiá (candelabro de nove braços). A mostra trouxe também uma Meguilat Esther, livro que conta a trajetória da rainha Esther. O exemplar pertenceu à Sinagoga de Corfu, na Grécia.

SOBRE O MEMORIALO Memorial do Imigrante, membro fundador da Rede

Internacional de Museus de Migração da UNESCO e IOM (International Organization for Migration), é responsável pela preservação, estudo e divulgação de importante acervo histórico referente à imigração no Estado de São Paulo nos últimos 120 anos. O Memorial está sediado no local em que a história por ele preservada também ali foi cons-truída: a Hospedaria de Imigrantes. Localizada entre os tradicionais bairros do Brás e Mooca, em um complexo de prédios que eram destinados a abrigar os recém–chegados de diversos países nos seus primeiros dias em São Paulo.

Memorial do Imigrante recebe a exposição“Imigração Judaica - Cronologia e Origens”

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8NotíCiaS

Quando recebi a incumbência do nosso então presiden-

te Jayme Serebrenic de coordenar o V ENCONTRO NA-

CIONAL do AHJB em maio de 2009, muitos dos nossos

diretores presentes à reunião, disseram que seria mais prudente

realiza-lo no primeiro semestre de 2010 por conta da exiguida-

de de tempo.

Após algumas ponderações, na reunião de junho, escolhe-

mos os dias 27, 28 e 29 de novembro de 2009, depois de re-

cebermos a confirmação da Hebraica São Paulo, cedendo-nos

os locais que havíamos solicitado. Este evento coincidia com

o término da gestão anterior, que pretendíamos encerrar com

chave de ouro.

Reunimos os membros da Comissão de Encontros Nacionais,

todos envolvidos na organização dos quatro Encontros anterio-

res e começamos a trabalhar, juntamente com o novo presiden-

te Maurício Serebrinic, que trouxe sua experiência e disposição

para a Comissão.

Nem foi preciso dividir as tarefas, pois cada um sabia exata-

mente o que fazer e que teríamos que correr contra o tempo.

O que mais me impressionou, como Coordenador, foi o entro-

samento de nossa Comissão e o entusiasmo com que trabalha-

mos meses a fio, sem discussões ou atritos tão comuns quando

se trabalha com um grupo de voluntários.

V ENCONTRO NACIONAL DO AHJB

Os dias das reuniões eram sagrados e, entre a decisão tomada

e o início do V ENCONTRO, ninguém faltou ou deixou de fazer

seu trabalho. Foi gratificante ver “jovens” de 60, 70 anos e até

mais se empenhando com garra para que tudo corresse bem e

isto aconteceu. Nosso V ENCONTRO NACIONAL foi o maior su-

cesso e este mérito pertence a todos aqueles que se esforçaram,

diretores, funcionários, patrocinadores e prestadores de serviço

unidos neste ideal comum.

O início informal do V ENCONTRO NACIONAL foi na quinta-

feira dia 26 de novembro à noite, quando o casal presidente

Tatiana e Jayme Serebrenic recebeu as delegações estaduais

com um jantar em sua residência, promovendo uma noitada de

entrosamento muito agradável.

Na manhã de sexta-feira, foi realizado na sede do AHJB um Se-

minário de Instrução com a Comissão de Encontros Nacionais e

diretores do Arquivo, contando com as presenças de diretores do

Instituto Judaico Marc Chagall de Porto Alegre, do Instituto His-

tórico Israelita Mineiro de Belo Horizonte, do Instituto Bernardo

Schulman de Curitiba, além dos diretores das Seções Amazonas,

Bahia e Brasília, numa troca de experiências e conhecimentos

muito importantes para os projetos atuais e futuros do AHJB.

A abertura oficial de V ENCONTRO NACIONAL deu-se numa

concorrida e solene cerimônia na sexta-feira à noite, dia 27 de

NotíCiaS

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9 NotíCiaS

V ENCONTRO NACIONAL DO AHJB

novembro, na Sala da Plenária do Clube A Hebraica São Paulo,

prestigiada por um seleto público que lotou a sala.

Atuando como Mestre de Cerimônia, convidei o “chazan” Isa-

ac Dahan da Comunidade de Manaus para iniciar o “Kabalat

Shabat” entremeado de orações e canticos liturgicos os quais

foram acompanhados pelos presentes.

Em seguida, a mesa diretora dos trabalhos foi composta pe-

los engenheiros Jayme Serebrenic e Mauricio Serebrinic (novo

presidente), coronel Edison Rosa e o palestrante oficial, jorna-

lista Jaime Spitzkovsky.

O jornalista Jaime Spitzkovsky fez sua palestra abordando a

atualidade mundial e seus reflexos no Estado de Israel, receben-

do muitos aplausos da platéia.

Terminada a parte oficial, convidei o engenheiro Samuel Belk

para conduzir a homenagem ao escritor Scholem Aleichem,

lembrado pelos 150 anos do seu nascimento e que constou

de uma apresentação da atriz Silvia Lohn e da cantora Regis

Karlik. Em seguida, foi oferecido um coquetel de boas vindas

aos convidados.

Nos dias 28 e 29 (sábado e domingo), foram feitas apresen-

tações simultâneas em duas salas sobre os mais interessantes

temas ligados à memória, história e imigração judaica para o

Brasil, assim como uma apresentação da cantora baiana Rosa

Fingergut, com canções em iídiche.

Muitos pesquisadores e professores prestigiaram o V ENCON-

TRO e, entre eles, podemos citar os professores Henrique Sa-

met, Luiz Benyosef e Israel Blajberg do Rio de Janeiro, Berta

Waldman, Maria Luiza Tucci Carneiro, Nancy Rosenchan, Eva

Blay, Rachel Mizrahi, Reuven Faingold, Boris Schnaiderman, Ál-

varo Cunha, Paulo Valadares e Guilherme Faiguenboim de São

Paulo, Jacques Levy, Maria Antonieta e Aba Cohen de Belo Ho-

rizonte, Ieda Gutfreind e Anita Brumer de Porto Alegre, Isaac

Dahan de Manaus e Boris Sitnik de Curitiba.

Nossa diretoria se fez representar por Samuel Belk, Marília

Freidenson, Myriam Chansky, Abrahão Gitelman e Anna Rosa

Campagnano, apresentando trabalhos que despertaram gran-

de interesse do público.

O rabino David Weitman nos trouxe uma comunicação à res-

peito do Rabino Rafael Moshe de Aguilar de Recife, contempo-

râneo de Isaac Aboab da Fonseca.

Durante os dias de palestras, cerca de 550 ouvintes prestigiaram

nosso evento e demonstraram a satisfação que sentiram pelo alto

nível das comunicações e pela organização do Encontro. Y

Carlos Kertesz – professor adjunto da Escola de Administração da Universidade Federal da Bahia, aposentado, engenheiro civil – 1º vice presidente do AHJB

NotíCiaS

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Vassouras, uma peque-na cidade do interior fluminense, surgiu na transição dos séculos XVIII e XIX. Seu inicio

deu-se à beira de uma rota que ligava o porto do Rio de Janeiro a Minas Gerais e Goiás, no perí-odo do chamado ciclo do ouro. Na época, a corte portuguesa preo-cupada com o expressivo contraban-do do minério em pontos específi-cos da rota, enviou desbravadores destemidos para coibir esta prática. Com o esgotamento do ouro, gran-de parte desses exploradores ficaram na região coberta por mata virgem e ocupada por índios coroados. A terra fértil proporcionou um gran-de desenvolvimento na agricultura, especialmente na região ora deno-minada Vale do Rio Paraíba do Rio de Janeiro, onde se situa Vassouras, que tem seu território cortado pelo rio Paraíba do Sul. Assim, no início do século XIX, surgiram vastas e esplêndidas fazendas e teve inicio o rico ciclo do café na região que fez do Brasil, durante muito tempo, o seu maior produtor mundial. Com a riqueza abundante, naquele perío-do imperial, títulos de nobreza eram distribuídos com fartura. Vassouras era conhecida como a “cidade dos barões”. Os negócios prosperaram e as fazendas, carentes de mão de obra, tornaram-se repletas de escra-vos negros vindos da África. Estes, em grande parte, vinham de Ango-la, Congo e Moçambique, sendo, em grande parte, embarcados no por-to de Luanda para serem vendidos

O Dia Internacional dos Direitos Humanos em VassourasLUIZ BENYOSEF *

como escravos no mer-cado do Valongo, situa-do nas imediações da re-gião portuária do Rio de Janeiro. Vendidos como animais para os fazen-deiros do Vale do Paraíba fluminense, seguiam em uma longa caminhada, a pé, até o destino final nas plantações de café.

Um caso notório acon-teceu nos primeiros dias de novembro de 1838, quando o escravo Camilo Sapateiro de uma fazenda foi morto ao ten-tar entrar, clandestinamente, em outra próxima e de propriedade da principal autoridade da comarca, o Capitão-Mor Manoel Francisco Xa-vier, que teria relações parentais com Joaquim José da Silva Xavier, o Tiradentes. Uma rebelião sem prece-dentes teve inicio e uma dúvida per-siste. Seria aquele assassinato o ver-dadeiro motivo para o levante ou já haveria um plano em curso e Camilo Sapateiro estaria indo para a outra fazenda apenas para acertar os de-talhes finais?

A notícia se espalhou. Liderados pelo escravo Manoel Congo, de uma das fazendas do Capitão-Mor, a fa-zenda da Freguesia, um grupo com-posto por três centenas de escravos marchou para outra fazenda do Capitão-Mor Xavier, de nome Mara-vilha, à procura do proprietário. Es-tavam cansados e revoltados com os constantes enforcamentos injustos, o trabalho escravo, a fome e a misé-ria que passavam. Não o encontran-

do, rumaram para a fazenda Santa Catarina, formada em grande parte por densas matas virgens. Nela, os fugitivos, homens, mulheres e filhos, encontraram o local ideal para cons-tituir uma comunidade. Organiza-ram um quilombo que ficou conhe-cido como Santa Catarina ou Manoel Congo. Nele, foram coroados como rei e rainha Manoel Congo e Maria (ou Mariana) Crioula.

O quilombo teve pouco tempo de existência, pois imediatamente as autoridades de Vassouras participa-ram ao Coronel Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, futuro barão de Paty do Alferes e chefe da Guarda Nacional, uma organização paramili-tar, da sua existência e exigiram uma punição severa para os líderes. Após uma incursão de ataque mal suce-dida, o Coronel Werneck solicitou a presença de tropas do Exército Im-perial que chegaram sob o comando do então jovem capitão Luiz Alves de Lima e Silva, o futuro Duque de Caxias. O político carioca Carlos La-cerda (descendente de antiga família

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tradicional vassourense), quando jo-vem e sob o pseudônimo de Marcos, escreveu sobre a destruição do Qui-lombo Manoel Congo: ”... os negros resistiram como puderam. A unha, a faca jogando com astúcia e com a vida.” O quilombo não suportou o poderio do exército imperial e foi totalmente aniquilado.

O chefe da rebelião, Manoel Con-go, foi condenado e morreu enfor-cado no centro de Vassouras em 06 de setembro de 1839. Os outros líde-res, Afonso Angola, Antonio Magro, Bellarmino, Canuto Moçambique, Justino Benguela, Miguel Creolo e Pedro Dias, foram condenados com a pena de seiscentas e cinquenta chi-batadas e gargalheira por três anos. Mariana Crioula e os outros foram liberados e devolvidos para os seus proprietários.

O primeiro registro da presença judaica em Vassouras aconteceu um ano depois da execução de Mano-

O Dia Internacional dos Direitos Humanos em Vassouras

el Congo e envolve diretamente os mesmos personagens. Benjamim Be-natar, de ascendência marroquina, nascido em Gibraltar em 1809, che-gou ao Brasil por Salvador - BA, em 1829. Em seguida, transferiu-se para o Rio de Janeiro onde abriu um es-critório comercial na rua da Cadeia, atualmente Assembléia, em que ven-dia casas e chácaras. Saiu da capital fluminense, em 1838, em direção ao sul do país mas é encontrado, nos re-gistros, na cidade de Vassouras, em 1840, onde teve grande participação na sociedade local. Em outubro de 1841, contraiu matrimônio, na igre-ja e por procuração, pois não estava presente, com Brites Gavião, filha de um oficial do Exército Imperial. O casal teve oito filhos e todos foram batizados, tendo por padrinhos vá-rias pessoas importantes da cidade. Foram seus compadres: Francisco Peixoto de Lacerda Werneck, barão de Paty do Alferes; Laureano Correa e

Castro, barão do Campo Belo e o ca-sal Joaquim José e Ana Esméria Teixei-ra Leite, ricos comerciantes de café e pais de Eufrásia Teixeira Leite, perso-nagem de destaque na história regio-nal. Eufrásia ainda jovem foi para a Europa, onde multiplicou sua fortuna adquirindo várias propriedades em Paris, Bruxelas. Como mulher empre-endedora, foi sócia dos banqueiros Rotschild. Depois de sua morte, doou todos os seus bens para instituições de caridade em Vassouras.

Benjamin Benatar ficou conhecido por seu caráter de justiça e fraterni-dade. Uma ocasião, foi o primeiro a defender, com todo vigor, um es-trangeiro, alemão, que estava sendo injustamente condenado por um cri-me e que somente depois foi escla-recido ainda a tempo de provar sua inocência. Na condição benemérita, mesmo sendo judeu, tornou-se mem-bro da Irmandade da Santa Casa de Misericórdia de Vassouras, uma ins-tituição profundamente católica que ajudava as pessoas mais carentes da região. Bem relacionado com a elite social, foi um dos fundadores, em ju-nho de 1852, da Loja Maçônica Estre-la do Oriente.

Um fato curioso relativo à presen-ça judaica em Vassouras, na primei-ra metade do século XIX, pode ser constatado na relação dos fundado-res da citada Loja Maçônica. Nela, junto com Benatar, consta um outro nome supostamente judeu, Daniel Haas, cuja chegada e trajetória em Vassouras é completamente desco-nhecida. Naquele período, teria ou-tro judeu residindo na cidade?

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Memorial Judaico de Vassouras

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Em junho de 1858, Benjamin Be-natar foi acometido por uma grave moléstia que tiraria sua vida em 23 de abril de 1859. Prevendo seu fim, confessou ao padre da cidade, seu amigo particular, que era de religião hebraica e que gostaria de ser sepul-tado segundo seus ritos. O padre, ciente do problema em enterrá-lo no único cemitério pertencente a uma ordem católica, tentou convencê-lo para que fizesse conversão ao catoli-cismo. Benatar mostrou-se inflexível e, quando faleceu, gerou um gran-de problema por não saberem onde enterrá-lo. Seu corpo aguardou em-balsamado, pelo período de uma semana, até que fosse encontrada uma solução para o sepultamento. No final, decidiram enterrá-lo no jar-dim da Santa Casa de Misericórdia, da qual era benemérito.

Um segundo judeu, também de origem marroquina e de nome Mor-luf Levy, faleceu em Vassouras em 03 março de 1878. Sobre sua chegada e estadia, não há nenhum registro. Suspeitamos que sua ida para a ci-dade tenha motivos de doença; pro-vavelmente era residente na cidade do Rio de Janeiro e precisou ir para outra região de clima mais frio, nas montanhas da região, para se tratar de alguma moléstia, talvez tubercu-lose, muito comum naquele período. É possível que tenha falecido no en-tão único hospital da cidade e, como já havia um precedente, foi permiti-do o seu sepultamento ao lado de Benjamin Benatar.

Para referenciar a presença judaica na cidade no século XIX, em 1992, foi criado o Memorial Judaico de Vassou-ras por um grupo de idealistas com-posto por Frieda Wolff, Luiz Benyo-sef, José Kogut e Alberto Salama. Sua história pode ser conhecida no site www.memorialjudaico.org.br.

Pouco tempo depois, no ano de

1996, a Prefeitura Municipal de Vas-souras inaugurou o Memorial Mano-el Congo, exatamente no local onde o líder da rebelião do século XIX foi enforcado, a não mais de 300 me-tros do Memorial Judaico. Desta ma-neira, a cidade de Vassouras conta com dois memoriais referenciando minorias que historicamente sofre-ram discriminação.

Considerando a condição histó-rica da cidade de Vassouras no pe-ríodo do ciclo do café e a presença dos dois memoriais, a diretoria do Memorial Judaico decidiu convidar, para realizar eventos em comum, os dois movimentos negros da cidade que surgiram nos últimos anos, com o objetivo de conhecer o passado, valorizando a memória e criar digni-dade para seus descendentes. A su-gestão para uma comemoração con-junta do Dia Universal dos Direitos Humanos foi proposta em reunião de diretoria, do Memorial Judaico, por um de seus membros Jayme Léo Uryn. Convidamos ainda dois idea-listas em prol da valorização cultural dos afro-descendentes, a ex-deputa-da Jurema Batista e o Coronel Luiz Carlos Barreto, que aderiram à nossa proposta e passaram a colaborar de maneira intensiva para a realização de projetos comuns envolvendo as culturas judaica e afro-descendente.

O resultado desta parceria acon-teceu em 10 de dezembro de 2009, quando, pela primeira vez, foi come-morado o Dia Universal dos Direitos Humanos na cidade de Vassouras. O evento foi coordenado pelo Memo-rial Judaico, que o realizou em con-junto com a Prefeitura e a Câmara Municipal. Este evento reuniu ainda as seguintes instituições: Conselho dos Direitos do Negro (CEDINE), Fe-deração Israelita do Estado do Rio de Janeiro (FIERJ), Universidade de Vassouras, Instituto São Fernando,

Associação Afro-Cultural Iêda Fáti-ma, Associação dos Movimentos de Folclore e Cultura e a Ordem dos Ad-vogados do Brasil (OAB-Vassouras).

Em um final de dia inesquecível, re-alizado no auditório da Universidade de Vassouras, a proposta foi realiza-da. A cerimônia de abertura foi feita pelo Presidente da Câmara de Verea-dores e pelo Reitor da Universidade, que passaram a palavra para uma das diretoras do Memorial Judaico, Sofia Débora Levy que, secretariada por Jurema Vitorino, conduziu a so-lenidade. Foi o início de uma grande parceria entre as comunidades negra e judaica, com a presença do poder público e acadêmico local. Um dos lemas do evento foi o de destacar a “Luta contra a Discriminação”.

É importante destacar que a ci-dade de Vassouras foi um dos últi-mos redutos escravagistas do país. Portanto, a realização de atividades desta natureza, especialmente para a comunidade afro-descendente, tem um sentido simbólico de grande importância. Y

BIBLIOGRAFIA: Rocha, Isabel. Benjamin Benatar Um Pouco da Vida Social em Vassouras, Graficarte Editora, Vassouras, 2002.Raposo, Ignácio. História de Vassou-ras. Fundação 1º de Maio, Vassou-ras, 1935.Scisinio, Alaôr E. Dicionário da Escra-vidão. Léo Christiano Editorial Ltda, Rio de Janeiro, 1997.Wolff, Egon e Frieda – Fatos e Mitos da História dos Judeus no Brasil, Xe-non Editora, Rio de Janeiro, 1996.Gomes, Flávio – Histórias de Quilom-bolas, Companhia das Letras, São Paulo, 2006.

* Luiz Benyosef. Pesquisador Titular do Ministério da Ciência e Tecnologia e Presi-dente do Memorial Judaico de Vassouras e diretor do Conselho Sefaradita.

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Faleceu em Cornish (27/01/2010), o romancista americano J. D. (Jerome David) Salinger, que nascera em Nova Iorque (01/01/1919). Autor do livro O apanhador no campo de centeio (The catcher in the rye, 1951), que registrou ficcionalmente a entrada como protagonista do adolescente na vida contemporânea. O personagem Holden Caufield, 16, discute o narcisismo, a hipocrisia e a superficialidade dos mais velhos. Ele tem muito do autor, que, mesmo nascido numa família rica, combateu na II Guerra Mundial, no Dia D e na batalha de Bulge. Depois do sucesso do livro, tornou-se recluso, recusando entrevistas e fotografias. J. D. Salinger era de origem judaica pelo lado paterno, neto e bisneto de rabinos:

1. JEROME DAVID SALINGER, J. D. SALINGER, 1919-2010.

PAIS:2. SOLOMON SALINGER, Chicago, 1887- NYC, 1974, comerciante de alimentos casher.

AVÓS PATERNOS:4. DR. SIMON F. SALINGER, Taurogen, Lituânia, 1860 – Chicago, 1960, rabino.5. FANNIE COPLAND, 1860 - 1929.

BISAVÓS PATERNOS:8. HYMAN JOSEPH SALINGER, Sudargas, Lituânia, 1828 – 1910.9. DORA (“Doris”) SHERESHEVSKY, 1833 – 1899.10. RABINO MORRIS KAPLAN, de Mariampol (vide foto).11. IDA ............

TRISAVÓS PATERNOS:16. SOLOMON SALINGER, natural de Taurogen, Lituânia.17. BERTHA ..............18. DAVID SHERESCHEVSKY, natural de Taurogen, Lituânia.19. FANNIE……………

O APANHADOR NO CAMPO DE CENTEIO

Rabino Morris Kaplan

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NotíCiaS

Ciutadella, Mallorca - O testamento do milionário maiorquino Juan Ignácio Ba-lada Llabrés (1940-2009) trouxe algu-mas indagações sobre a personalidade e as motivações do testador. Ele deixou uma fortuna avaliada em 8,6 milhões de euros em propriedades e investi-mentos na Bolsa para oito netos do Rei da Espanha. Com uma ressalva: se os Borbón não aceitarem a doação, o pa-trimônio irá para o Estado de Israel. Por

que ele escolheu estes beneficiários? Tinha ascendência judai-ca? Pouco se sabe dele, além de que era um homem solitário, filho de Ramón Balada Matamoros e de Catalina Llabrés Piris. Não se encontrou em sua genealogia nada próximo aos chue-tas locais. Porém, as lendas já começaram a se formar em volta de sua biografia. Para alguns, era um estudioso do Ocultismo e seguidor de Eliphas Lévi (1810-1875) e, em lembrança dele, colocou Israel como beneficiário.

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Os eventos históricos, muitas vezes quando acontecem, passam despercebidos do gran-de público e sua importância só é compre-endida muito tempo depois. Um evento de

importância histórica na relação entre o povo judeu e o mundo cristão aconteceu no início deste ano. No dia 17 de janeiro de 2010, o papa Bento XVI foi recebido com grande protocolo e pompa na Grande Sinagoga de Roma, conhecida por aquela comunidade judaica italia-na de Tempio Magiore. Bento XVI repetiu desse modo a visita feita vinte e quatro anos antes, em 1986, por seu antecessor, o papa João Paulo II. Pela segunda vez, um papa visitou, num espírito de respeito e fraternidade, a sinagoga de Roma, que foi erguida um século antes como um símbolo de emancipação e libertação dos ju-deus das restrições, que vigoravam antes da unificação italiana, de 1870, quando Roma ainda era a capital dos Estados Papais e os judeus eram obrigados a viver no bairro ainda hoje conhecido como Il Guetto. Muita coisa se passou desde então. Agora, em 2010, pela primeira vez, um papa prestou homenagem às vítimas do Holo-causto junto à placa localizada fora do templo que lem-bra a deportação de muitos judeus romanos pelos nazis-tas durante a Segunda Guerra. Isso certamente foi uma tentativa de contemporizar com aqueles que criticam a dubiedade de algumas autoridades do atual pontifica-do. Reforçando o gesto feito fora, o Papa levantou-se do seu lugar na sinagoga para cumprimentar os sobreviven-tes dos campos que eram inúmeros no evento.

Tudo isto significa que estamos caminhando para fren-te na direção de relações de respeito mútuo entre ambas as comunidades religiosas. E isso politicamente sinali-zou, tanto por parte da cúpula do Vaticano quanto por parte do mainstream da comunidade judaica mundial, um gesto contra as posições mais ortodoxas de ambos os lados. Sim, porque se, por um lado, o Papa visitou a sinagoga de Roma; por outro, rabinos e líderes das mais importantes comunidades judaico-européias, america-nas, israelenses, e mesmo de nossa comunidade brasi-leira, estavam lá para recebê-lo. O diálogo inter-religioso oficialmente iniciado cerca de quarenta anos atrás foi

O Diálogo Judaico-Cristão:A Visita de Bento XVI à Sinagoga de Roma

RABINO ALEXANDRE LEONE *

mais uma vez legitimado, o que é positivo, pois aponta na direção correta, do ponto de vista da construção de uma civilização global multi-étnica e multi-religiosa, na qual a paz e o respeito sejam a norma entre os diversos grupos, religiões e povos.

Lembremos que, no passado, judeus e cristãos tinham grande dificuldade de travar um diálogo fraterno. Em vez do diálogo, o que ocorria era a disputa teológica ou as discussões em tribunais inquisitoriais e das famigeradas acusações de libelo de sangue. Raramente ocorria um diálogo mais construtivo como, por exemplo, a menção feita por Tomás de Aquino, em sua obra, a rabi Moisés (Maimônides) e, no século XV, os contatos entre os filóso-fos Eliah Delmedigo e Picco Della Mirandolla. Mas essas eram exceções à desconfiança e à deslegitimação que re-presentava a regra em ambos os lados.

A mudança desta situação está ligada à tragédia da Shoá, o genocídio perpetrado contra judeus, ciganos e outros grupos pelos nazistas e seus colaboradores na Eu-ropa. Em meio ao horror daquela época, alguns cristãos, protestantes e católicos – laicos, padres e monges – sal-vavam a vida de seus vizinhos judeus, crianças e adultos, acolhendo-os e estendendo-lhes as mãos, mesmo ao cus-to de suas próprias vidas. Foi ali, naquele primeiro gesto de reconhecimento de uma humanidade comum, que começou o diálogo entre judeus e cristãos. Interessan-te que o diálogo tenha sido travado entre pessoas antes que entre as instituições.

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Nas décadas que se seguiram à guerra, o diálogo judai-co-cristão começou então a se desenvolver e se aprofun-dar. Nos Estados Unidos, destacaram-se, como exemplo de um diálogo inter-religioso humanista e objetivo, as figuras do rabino e filósofo Abraham Joshua Heschel e do pastor e ativista dos direitos civis Martin Luther King. Os dois, lado a lado, rabino e pastor, prestaram-se ao papel de liderança simbólica e ombudsmen éticos em movimentos de renovação e crítica à desumanização e à eclipse da razão de nossos tempos. O diálogo prático dos dois chegou ao ápice no Civil Rights Movement, em prol dos direitos civis dos afro-americanos, cujo objetivo cen-tral era manifestar-se pelo direito de votar e pelo fim da segregação. Também participaram no movimento contra a Guerra do Vietnã e em prol dos judeus na URSS.

Na Europa, um grande passo para o aprofundamento do diálogo ocorreu durante o Concílio Vaticano II (1962 - 1965), que procurou renovar espiritualmente a Igreja Católica, preparando-a para novos tempos. O mais im-portante documento da Igreja voltado para o diálogo inter-religioso foi a declaração “Nostra Aetate” sobre as relações da Igreja Católica com as religiões não-cristãs, na qual um destaque específico é dado às relações com o povo judeu. Em prol do diálogo, a Igreja renunciava ao objetivo missionário secular de converter os judeus, possibilitando assim que fossem criadas condições para surgirem em muitos países comissões oficiais de diálogo católico-judaico, como a que existe há várias décadas em nosso país.

O povo judeu não é uma igreja e não há, portanto, um corpo de rabinos que tenham autoridade reconhecida sobre todas as comunidades. Desse modo, a resposta ju-daica à Nostra Aetate apareceu na forma de documentos assinados por grupos de rabinos e estudiosos. Uma pri-meira tentativa ainda tímida, já nos anos sessenta, foi fei-ta sob iniciativa do rabinato ligado ao consistório francês de tendência ortodoxa moderada. Entretanto, um docu-mento de maior importância só foi elaborado e costurado no ano 2000. Esse documento é a declaração chamada Dabru Emet (Dizei a Verdade) que foi publicado em mui-tos jornais internacionais como o New York Times. Ela é assinada por mais de uma centena de rabinos e eruditos de várias correntes judaicas, desde a ortodoxia modera-da, passando pelos massortim (conservativos) até os libe-rais e seculares. Só ficaram de fora os setores ultra-orto-

doxos, que não reconhecem nenhuma forma de diálogo interno ou externo, com outros movimentos judaicos ou com outras religiões. O texto de Dabru Emet é uma com-posição de várias teses que, resumidamente, reconhecem a necessidade do diálogo fraterno com o mundo cristão, na base da mútua legitimação, baseado na ideia de que todos adoram o mesmo Deus de Abrahão e de Noé.

Recentemente, no entanto, algumas situações ligadas a decisões tomadas pelo papa atual contribuíram para difi-cultar o diálogo com a Igreja Católica, fazendo com que muitos nos meios judaicos ficassem desconfortáveis e desi-ludidos com a possibilidade de prosseguir com um diálogo fraterno. Alguns exemplos recentes foram a revogação da excomunhão por parte do papa Bento XVI do bispo es-cocês Richard Williamson, ligado à ultra-fundamentalista Sociedade Pio X, que negou publicamente o Holocausto. Diante do desconforto geral de judeus, de muitos cristãos e da opinião publica, o Vaticano declarou publicamente que declarações de Williamson “são inaceitáveis”, enfati-zando que o antissemitismo “não é objeto de discussão” para um católico. Em sua imprensa oficial, o Vaticano indi-cou ainda que a declaração “Nostra Aetate”, adotada em 1965 ao término do Concílio Vaticano 2°, é um documento rejeita a idéia de que os judeus podem ser acusados de “deicídio”, pela morte de Jesus. Outra ação controversa foi a introdução, na liturgia da missa da Sexta-Feira Santa, de um trecho que pede a conversão dos judeus e, recen-temente, os arranjos e passos que a cúpula do Vaticano está a dar para a beatificação e possível canonização de Eugenio Pacelli, o papa Pio XII. O problema com Pio XII é que, durante a Segunda Guerra Mundial, mesmo sabendo das atrocidades nazistas, ele não condenou publicamente o genocídio. Riccardo Pacifici, o atual presidente da Co-munidade Judaica de Roma, declarou, durante a visita do papa à sinagoga, que se uma condenação papal do geno-cídio tivesse sido feita, esta poderia, naquele momento, ter um efeito de desqualificar o regime nazista e, quem sabe, salvar inúmeras vidas.

Justamente estes acontecimentos quase impediram os esforços daqueles que, dos dois lados, trabalham pela continuação e aprofundamento do diálogo, cujo símbolo maior foi a visita feita pelos papas João Paulo I, em 1986, e Bento XVI, em 2010, à sinagoga de Roma. Alguns do lado judaico, porém, se desiludiram e ficaram descrentes de uma real efetividade desses esforços. Como exemplo, o

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presidente da Assembléia Rabínica Italiana, o rabino Giu-seppe Laras, recusou-se a participar do evento. A enor-me maioria, o mainstream do mundo judaico, apostou no diálogo. Assim, quando o papa entrou na sinagoga, rabinos e lideranças laicas de todo o mundo judaico, com exceção dos ultra-ortodoxos, estavam lá para recebê-lo. Interessante é que, desta vez, estavam também presentes como convidados líderes muçulmanos moderados euro-peus, o que deu uma dimensão ainda mais importante àquele momento.

Em seu artigo “Nenhuma Religião é uma Ilha”, publi-cado nos anos sessenta, Abraham Joshua Heschel, um dos iniciadores do diálogo entre judeus e cristãos, con-siderado um importante rabino e filósofo do judaísmo no século XX, escreveu que o “pré-requisito mais im-portante para o diálogo inter-religioso é a fé; isto é, a coincidência de estarmos todos nós, judeus, cristãos e muçulmanos, voltados para a busca do que ele descre-veu como o Deus de Abrahão. Esta raiz abrahâmica co-mum é certamente uma importante ponte entre nossas diferentes tradições. No entanto, Heschel afirmava: “A fé e o poder da introspecção e da devoção só podem crescer na intimidade. Expor nossa intimidade pode ge-rar o perigo da profanação, da distorção e da confusão. Segundo Heschel, o sincretismo é um risco permanente, pois, em um mundo de conformismo, o nível das religi-ões pode ser facilmente reduzido a um mínimo deno-minador comum. Isso, no entanto, não deve impedir o diálogo, pois a “comunicação é tão necessária quanto a separação”. O diálogo, como bem descreveu Lévinas, só é possível entre alteridades. Querer o diálogo não signi-fica desvalorizar a diversidade religiosa, mas sim superar o antagonismo em prol da mútua responsabilidade para com os destinos da Humanidade.

Constituímos, enquanto judeus e cristãos, enquanto Israel e a Igreja, duas comunidades diferentes, duas al-teridades. É por isso que praticamos o diálogo inter-reli-gioso e não o ecumenismo. Nossa proposta no diálogo é trabalharmos juntos; não a fusão em qualquer meio ter-mo que diluiria nossas identidades. Aliás, é somente na condição de alteridades, uma em frente à outra, que po-demos iniciar o diálogo no campo da inter-subjetividade religiosa. Não somos um sujeito só, coletivo, o mesmo; somos alteridades em franca comunicação, percebemos dignidade uns nos outros. É por isso que o diálogo é

nossa responsabilidade permanente. O problema a ser sempre enfrentado é como combinar fidelidade a nossas tradições e o respeito profundo pela tradição do outro. O propósito da comunicação religiosa entre pessoas de diferentes compromissos é o enriquecimento mútuo e o aumento do respeito e apreciação, ao invés da desquali-ficação do outro, no que diz respeito às suas convicções com relação à sua percepção do sagrado.

Um dos discursos que mais mobilizou as pessoas pre-sentes à visita do papa, foi proferido pelo rabino chefe de Roma, Riccardo Di Segni, um homem ao mesmo tem-po gentil e circunspeto, dotado de profunda erudição, pois é talmudista e médico, um intelectual e um repre-sentante da ortodoxia moderada. Em certo momento, o rabino Di Segni lembrou que um dos temas centrais na mensagem do Livro de Gênesis, da narrativa do Bereshit, é o recorrente tema da rivalidade entre irmãos. Temos Caim e Abel, os pastores de Abrahão e os pastores de Lot, Itzchak e Ishmael, Iaakov e Essav. Em cada uma des-sas narrativas, é respondido e exposto um outro aspecto da pergunta que HaShem endereçou a Caim: Onde está o teu irmão? É, porém, na última narrativa, a história de José e seus irmãos, onde esta temática chega a seu auge e conclusão: É quando um se percebe responsável pelo outro, mesmo depois de tantas mágoas, que a reconci-liação pode ser alcançada.

A religião é uma resposta humana a Deus; desse modo, ela espelha o que o ser humano tem de bom e de ruim. Assim, se as religiões têm grandes profundidades espiri-tuais, éticas e humanas, elas também possuem um lado obscuro, que é violento, autoritário e preconceituoso. A construção do diálogo inter-religioso tem, como um de seus sentidos profundos, a realização de uma cultura de paz, que seja uma alternativa real ao fundamentalismo religioso, que é um dos grandes problemas da religião e de sua expressão na atualidade.

É importante que atitudes claras sejam tomadas no sentido de condenar o fundamentalismo e de promover em nossas comunidades, ações de respeito mútuo e de compaixão de uns pelos outros. Y

* Alexandre Leone – pesquisador Centro de Estudos Judaicos da USP – professor da Escola Dominicana de Teologia – doutor em Língua Hebraica, Literatura e Cultura Judaica e pós doutorando em Filosofia , ambos da FFLCH – USP - Atua como rabino da Comuni-dade Judaica de Alphaville

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Nessa época de mais um aniversário do Esta-do de Israel, este ano comemorado em 20 de abril (5 de Íar), vem à memória Bror Chail, o kibutz tão caro ao Brasil que, em setembro, já

vai completar sessenta e dois anos.Situado em Ashkelon, a noroeste do Néguev, Bror Chail

foi fundado antes da independência de Israel, em abril de 1948, por jovens judeus do Egito, empenhados no traba-lho em grupo, que é o significado de kibutz (coletivo). Desde 1952, muitos brasileiros foram estabelecendo-se e estreitando novos laços culturais. Entre os pioneiros, está o santista Dov Tzamir, um dos fundadores do movimento sionista “Dror”, que chegou a secretário do primeiro mi-nistro Itzchak Rabin, do Partido Trabalhista. Grande líder com atuação política, Dov Tzamir dedicou-se também à fábrica de cerâmica em Bror Chail, que exportava o pro-duto para o mundo inteiro.

Érico Veríssimo, no livro “Israel em Abril”, captou essa atmosfera brasileira, na sua visita de 1966: “Quando vol-tamos para o nosso apartamento, a noite está saturada do perfume de flores e ervas. Anda no ar uma discreta mordi-da de inverno. As estrelas lucilam sobre campos dobrados, que bem podiam ser os de Passo Fundo ou Cruz Alta.”

Sua animada palestra para duzentas pessoas, na época áurea dos kibutzim, também foi evocada nesse livro: “Ter-minada a conferência, vamos para a casa de Arão Talenberg que, com sua senhora, nos oferece sua cálida hospitalida-de, além de cachaça com mel e suco de limão. Estão conos-co os outros líderes do kibutz e a conversa que se segue, e em que se fala de tudo um pouco, me dá uma idéia do excelente nível intelectual e ideológico desses próceres.

Muitos anos depois, quando visitamos Bror Chail em 1990, por ocasião do Décimo Congresso de Estudos Ju-daicos da Universidade Hebraica de Jerusalém, fomos recebidos por Léa e Arão Talenberg (Árale). Pudemos observar que diariamente ele ia muito cedo para o Né-guev, onde dirigia uma universidade rural, aberta às mais diversas áreas. Mantinha estreito contato com o Brasil e vinha periodicamente para dar cursos ou par-

ticipar de congressos. Léa também era ativa no kibutz e dedicava-se a projetos educacionais. De acordo com os princípios da vida kibutziana, Árale entregava seu salário à comunidade e vivia modestamente, como os demais mem-bros de Bror Chail.

De fato, os pioneiros deixaram sólidas raízes nos pri-meiros anos da implantação de Bror Chail. O dramaturgo Guilherme Figueiredo, em “Deus sobre as Pedras” (1965), documenta a experiência em Israel e menciona um rapaz“ de olhos verdes e comunicativa alegria”. Referia-se a Tzvi Chazan (Henrique), que chegou a cônsul de Israel em São Paulo. Guilherme Figueiredo comenta ainda o livro de Chazan, “Uma criança está chorando”, com prefácio de Diná Silveira de Queiroz, “grito de dor e de piedade ante as perseguições nazistas.”

Assim como Érico Veríssimo, o dramaturgo Guilherme Figueiredo documenta com carinho a vida dos amigos de Bror Chail, fiéis ao sistema de conciliar vida intelectual e agrícola: “A idéia de fabricar cebolas secas é de Erwin Sem-mel, casado com a brasileira Mitzi. Meu amigo Emanuel Corinaldi deve fabricá-las com o mesmo talento com que atuava no teatro. Henrique Chazan adiministra-as com o talento com que escreveu seu comovente livrinho.” Mitzi Machado Costa, no fim dos anos 50, em São Paulo, era um exemplo de jovem idealista e pioneira e optou, com o marido, pela vida dura nos primeiros tempos de Bror Chail. Pude encontrá-la, nos anos 90, como assessora dedicada à Embaixada do Brasil em Tel-Aviv.

Sábato Magaldi, o grande professor e crítico teatral, nos contou que Emanuel Corinaldi foi um dos seus alunos mais

VELHOS TEMPOS DE BROR CHAIL,O KIBUTZ BRASILEIRO

LÉA VINOCUR FREITAG *

Um dos estábulos Galinheiro, produção de 60 toneladas por ano

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Kibutz Bror Chail

brilhantes na Escola de Arte Dramática, em São Paulo. De família judia italiana, originária de Veneza, era irmão de Vit-torio Corinaldi, arquiteto inovador, que já esteve em Bror-Chail e agora trabalha em Tel-Aviv, planejando há muitos anos moradias funcionais. Quando vem a São Paulo, man-tém sempre o contato com o engenheiro Oswaldo Aranha David Wolff, antigo companheiro de Dror. Desse tempo é também Jochanan Dekel, que vive em Israel.

Já nos anos 90, Bror Chail era famoso pela pizza muito saborosa, congelada e consumida em todo o país, além do arroz-feijão, caipirinha e doces brasileiros. Até hoje, os israelenses apreciam música brasileira, principalmente o samba. No refeitório de Bror Chail, havia uma placa de agradecimento a Moysés Kauffmann, líder da comuni-dade paulista, que sempre apoiou Israel. Entre os qua-dros, destacam-se obras oferecidas por Portinari e Darcy Penteado, em visita ao kibutz. O Centro de Computação, muito bem instalado, preparava programas agrícolas e pecuários, além de prestar serviços fora do kibutz.

A educação das crianças sempre foi um ponto de honra e as creches atingiram ótimo nível, supervisionadas pelos melhores profissionais, o que permitia aos pais tranqui-lidade no trabalho. Havia ainda a sinagoga, apesar de Bror Chail não ser um kibutz religioso, o Centro Cultural Osvaldo Aranha e o Centro de Estudos Bror Chail.

A instituição kibutz floresceu principalmente nos anos posteriores à independência de Israel, em 1948, e a crise do modelo se agravou a partir de 1980, quando a ex-periência socialista inicial não se sustentou. Surgiram ki-butzim de diferentes tendências – religiosos, socialistas, além daqueles identificados com um capitalismo moder-no. Os jovens tornaram-se individualistas e sentiam-se li-mitados nas realizações pessoais - não mais aceitavam o dirigismo em suas carreiras. Entretanto, apesar das mu-

danças aceleradas, o kibutz continua sendo uma base importante da sociedade israelense, celeiro de políticos, artistas e escritores.

Recordando os velhos tempos de Bror Chail, com a am-plidão dos campos e a alegria das plantações e colheitas, pode-se melhor compreender o presente que Érico Ve-ríssimo recebeu do kibutz – um bolo em forma de livro, com o título de sua obra: “ Olhai os lírios do campo”. Y

*A autora é professora titular pela USP (Escola de Comunicações e Artes) e doutora em Ciências Sociais. Escreveu o livro “Momentos de Música Brasileira”, produziu e interpretou CDs de música brasileira (canto). Em 2009, participou do XV Congresso Mundial de Estudos Judaicos em Jerusalém.

O grupo da batucadaResidências Biblioteca

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A COMITIVA RUMOÀ TERRA SANTANo dia 14/11/1876, às 4 horas

da madrugada, um navio com o estandarte do Império brasileiro, comandado por Pedro II e uma comitiva de 200 pessoas, ancorou no cais do porto de Beirute para uma visita de 24 dias na Palestina turco-otomana.

Ansiedade, curiosidade e devoção pairavam no ar. O roteiro seria bas-tante longo e a travessia demorada. O “Diário de Viagem à Terra Santa” é lacônico e pouco preciso em relação ao percurso escolhido. Ainda assim, informa que a marcha seria feita a pé, e as damas seriam transportadas em “tarantuas”, espécie de liteiras conduzidas pelos “mucres” ou cria-dos de caravana.

Longe do conforto e da mordo-mia de Petrópolis e do Rio de Janei-ro, ocupavam as seis liteiras a dama de honra da Imperatriz na Câmara Imperial dona Josefina da Fonseca Costa, e sua criada de quarto dona Joaninha; a Imperatriz Dona Thereza Cristina Maria, e os amigos próximos do Imperador D. Pedro II (Sr. Luiz Pedreira de Couto Ferraz Visconde de Bom Retiro, o Dr. José Ribeiro de Souza Fontes, mais tarde nomeado Visconde de Souza Fontes).

O BRASIL NA TERRA SANTA EM 1876D. PEDRO II E SuA COmITIVA NA ImPRENSA lOCAl

PROF. REUVEN FAINGOLD *

“Amo a Bíblia, a leio todos os dias, e quanto mais a leio, mais a amo. Há alguns que não gostam da Bíblia. Não compreendo tais pessoas; mais eu a amo. Amo sua simplicidade e suas retrações e repetições da verdade.”

D. Pedro d´Alcântara

Longe de sua cidade natal, Drams-tadt, o professor de hebraico Karl Henning, 33 anos, embarcava rumo a Europa e Oriente ao lado do Im-perador. Além das damas, as liteiras transportariam aqueles membros da expedição que adoecessem duran-te a travessia. Isto aconteceu com o Visconde de Bom Retiro e com o Dr. Souza Fontes. O primeiro sofria de gota no joelho (morreu em 1886) e o segundo sentia dores atrozes no abdômen, mas logo se restabeleceu.

As liteiras eram inseguras e ins-táveis nos ombros humanos, prin-cipalmente nas trilhas em relevos acidentados e montanhosos. Quase sempre as liteiras caíam, os cavalos e burros escorregavam e as quedas eram frequentes. Para os cavalos, era difícil galopar. D. Pedro II cavalgava uma égua branca que não gostava de chuva e se espantava com facili-dade. Nas proximidades do monte Tabor (próximo do Lago Tiberíades), Pedro e Lamare, dois membros da expedição, caíram de seus cavalos, sem se machucarem. Depois, foi a vez do criado Romã, também sem sofrer maiores consequências.

Durante a viagem, a comitiva rea-lizou várias paradas. No século XIX, a locomoção de pessoas era tarefa árdua, exigindo uma programação

minuciosa de logística. Se o cansa-ço era grande, a vontade de con-tinuar o passeio era maior ainda. Saudades, entusiasmo e alegria se apoderavam da delegação em ple-no acampamento.

Uma noite estrelada criava o clima perfeito para melodias. Momento para organizar um charivari, festa com algazarra. Os criados de cara-vana preparavam brincadeiras após o jantar. Dois deles fantasiados de burros de liteiras dançavam ao som da flauta e de cornetas. Depois, brin-cavam o jogo do alforje, equivalen-te ao jogo da cabra cega. Seguia-se uma dança cantada ao redor da fo-gueira com muito sapateado. Final-mente, traziam quatro criados em pé sobre os ombros de outros, forman-do um templo circular, também can-tando, girando e pulando uns nos ombros dos outros. Todos sapatea-vam e cantavam em linha avançando e recuando. D. Pedro II admirava-se com a agilidade e a força dos cria-dos durante a noite, mesmo depois de carregarem as liteiras por mais de cinco horas.

O Imperador se aquecia na fo-gueira e assistia ao espetáculo. Já cansado, deitava-se, após traduzir algumas passagens bíblicas junto ao mestre Karl Henning.

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A PAIXÃO PELA BÍBLIA D. Pedro II era um estudioso da

Bíblia. Desde sua juventude, acalen-tava o desejo de conhecer a língua hebraica, o idioma bíblico. Aguarda-va com ansiedade a hora de poder lê-la no original. Este sonho de de-voto cristão o acalentou a vida toda. Desde que começou a ter aulas de hebraico em Petrópolis com seu pri-meiro mestre Leonhard Akerbloom, verteu trechos dos Salmos, Cânticos dos Cânticos, Provérbios Eclesiastes, Lamentações, dos profetas Isaías e Jeremías, Gênesis, Livro de Ruth e do controverso Livro de Jó.

A biblioteca particular de Pedro II guardava várias Bíblias ilustradas em quase todas as línguas. Dentre elas, destacava-se uma Bíblia em francês de dois volumes, com belas gravuras do Novo Testamento, intitulada Les Saints Evangiles, publicada em Pa-ris em 1873, um ano antes que Karl Henning chegasse ao Brasil.

Traduzir passagens da Bíblia virou uma verdadeira obsessão do Impera-dor. Durante sua visita à Terra de Israel em 1876, quase todos os dias avan-çava nas traduções. O mestre Henning o estimulava e a tarefa era feita em horários imprevistos e lugares histó-ricos que inspirassem o monarca. A primeira tradução durante essa via-gem incluiu os “Atos dos Apóstolos” às margens do arroio Dhirani.

D. Pedro II gostava de examinar cuidadosamente todos os lugares mencionados na Bíblia, porém, às vezes, lamentava não ter naquele momento o texto para traduzir de-terminadas passagens. Isto ocorreu na região das aldeias de Naïm e En-dor, lugar onde Síssera foi derrotado pelas tropas da juíza Débora, cujo “Canto de Débora” não foi possível recitar. Obstinado, queria traduzir este canto de glória oferecido a Deus por Débora. Sua Majestade começou a tradução na pequena aldeia de Djenine (Jenin) e a concluiu em Na-

blus, com o comentário de “que ti-nha esquecido bastante o hebraico”.

Geralmente, o soberano traduzia antes de dormir, depois de uma ár-dua jornada. Em todos os lugares, D. Pedro II demonstrava vasto conhe-cimento sobre o “Livro dos Livros” e, certas vezes, ensinava digressões filológicas baseadas na onomástica bíblica. Sua Majestade também cos-tumava relacionar a leitura e a inter-pretação da Bíblia a obras de arte apreciadas nas viagens. Em Gabaon, enquanto revivia o episódio em que Josué fez o sol parar (primeiro eclipse

corre nos campos de Moab, na pla-nície de Jericó. Foi ali que D. Pedro II olhou para essas montanhas e se emocionou ao lembrar desta como-vente história, texto traduzido por ele mesmo do hebraico.

O livro “Juízes” também foi lem-brado pelo Imperador do Brasil. Du-rante seu retorno de Jerusalém ao porto de Jafa, em tom de despedida da Terra Santa, contemplando a pla-nície de Sharon, D. Pedro II relembra Sansão, o juiz que venceu os filisteus amarrando 300 raposas com fachos acesos nas caudas.

D. PEDRO II NOSJORNAIS HEBRAICOSA visita de D. Pedro II à Terra de

Israel foi uma visita não-oficial, pois o monarca não foi convidado do go-verno turco-otomano. Trata-se de um passeio, uma marcha de peregri-nação de um simples cidadão brasi-leiro, certamente o mais importante de todos: Pedro d´Alcântara.

O “Diário de Viagem à Terra San-ta”, como documento de época, não apresenta um único perfil do Impe-rador. Há nele numerosos Pedros de Alcântara: o arqueólogo, o orienta-lista, o educador, o misericordioso, o tradutor bíblico, o devoto peregrino, e assim por diante.

Os jornais da Terra Santa também se preocuparam com o ilustre Impe-rador, uma vez que Pedro II exercia grande fascínio sobre as comunida-des judaicas do mundo.

Em 20 de setembro de 1876 (an-tes da chegada do monarca), o jor-nal “Há-Tzefirah” (A Aurora) publicou extensa reportagem, atribuindo-lhe o conhecimento de várias línguas e uma imensa curiosidade em visitar bibliotecas e museus, e destacava-se ainda o seu forte interesse por inscri-ções hebraicas antigas e peças de ex-posições referentes à cultura judaica.

Um outro jornal da Palestina oto-mana, o “Há-Maguid” (O Narrador),

A visita de D. Pedro II à Terra de Israel foi

uma visita não-oficial, pois o monarca não foi convidado do governo turco-otomano. Trata-se de um passeio, uma

marcha de peregrinação de um simples

cidadão brasileiro, certamente o mais

importante de todos: Pedro d´Alcântara.

registrado na história), lembrava ter visto na Filadélfia um quadro repre-sentando essa mesma cena.

Traduzir, traduzir e traduzir! Esta era a paixão que tomou conta do es-pírito de D. Pedro II. Uma das mais bonitas traduções é a tradução he-braica do Salmo 122: “Vamos subir à Casa do Eterno”, descrevendo o es-tabelecimento da Casa de David e a união fraternal dos peregrinos vindos a Jerusalém. Atendendo a esta obri-gação, o monarca brasileiro verteu para o português este belo Salmo.

Um outro livro sagrado que fasci-nou o nosso Imperador desde sua mocidade foi o “Livro de Ruth”, um romance pastoril lido pelos judeus na festa de Shavuot. A ação trans-

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publicou em 1876 a biografia resu-mida de Pedro II, enfatizando seu conhecimento do hebraico. Segun-do o autor da matéria Jacob Haim Halevi de Lwow, o valor do Impera-dor é ainda maior por se tratar de uma língua santa e esquecida pelos próprios filhos de Israel, todos espa-lhados em vários países. Maravilha-do com a figura do soberano, Haim Halevi termina sua matéria dizendo:

“Há poucos dias visitou o Im-perador a cidade de Viena, e ouvi muitos populares que não conhe-cem o hebraico, por considerarem tal estudo pura perda de tempo, e comentarem entre si acerca dos conhecimentos do Imperador nes-sa língua difícil e estranha para eles; transmitindo secretamente uns aos outros que Ele [S.M.D. Pe-dro II] descenderia dos marranos da Espanha e Portugal, os quais mantinham seu Judaísmo e presta-vam seu culto a Deus em segredo.”

Estas opiniões fizeram com que a visita de D. Pedro II à Terra de Israel despertasse forte interesse entre a

população local. “Há-Tzefi-rah” noticiou a chegada e a estada da comitiva impe-rial na Terra Santa, sendo recebida por ilustres auto-ridades locais, uma cente-na de soldados perfilados e até uma banda musical.

D. Pedro II adentrou em Jerusalém pelo Portão de Siquem [Schechem], e o Pachá despachou 20 cava-leiros e soldados de infan-taria para acompanhá-lo no caminho. Sua Majesta-de chegou junto com sua esposa a Imperatriz Tereza Cristina, alguns ministros, suas respectivas mulheres e criados.

O articulista de “Há-Tzefirah” faz da figura e da personalidade do

dignitário tema de sua reportagem, e ressalta o fato de ser uma pessoa despreocupada com honras e home-nagens. Ele chegou a cavalo e as mu-lheres sentadas em carros atrelados a mulas dos dois lados. A orquestra militar quis tocar música em sua ho-menagem, mas “ele fez sinal de que dispensava quaisquer honras reais”.

Para a imprensa local, a visita não conseguiu satisfazer a todos. Estu-dando jornais hebraicos publicados na Palestina otomana, tomamos co-nhecimento da tristeza e desapon-tamento dos judeus de Jerusalém, ao saber que D. Pedro II não visitaria suas sinagogas, como era seu costu-me; prestigiando apenas a antiga si-nagoga dos samaritanos.

As últimas linhas do jornal “Há-Tzefi-rah” manifestam surpresa e decepção pelo fato do Imperador não ter feito contato com a comunidade judaica de Jerusalém. Assim escreve o colunista:

“Por todo o tempo que permane-ceu na nossa cidade, ... nenhum con-tato manteve com os nossos irmãos [judeus], nem visitou as sinagogas

de nossos irmãos, embora se falasse dele que conhecia muito bem e até perfeitamente a língua hebraica.”

A tristeza dos judeus jerusalemitas com a atitude de aparente indiferen-ça do Imperador D. Pedro II era tanto maior, porque seus membros se ha-viam preparado para lhe prestar uma solene recepção. Numa das sinagogas locais, o rabino e poeta Ben Zion Sch-lez compôs um poema que seria entre-gue ao monarca. Este poema inédito, que enaltece as qualidades de hebraís-ta do soberano, está sob a guarda dos descendentes do rabino-poeta.

Outra publicação bilíngue da épo-ca, o “Shaaré Zion” (Portas de Sion), noticia o fim da visita de D. Pedro II e sua partida rumo ao Brasil. Depois de citar os lugares visitados na Terra Santa, a matéria conclui dizendo que “somente as sinagogas de nossos irmãos não visitou, para o espanto de todas as pessoas justas”.

Não sabemos a que atribuir esta estranha atitude do Imperador que não visitou os judeus de Jerusalém. Esquecimento? Negligência? Não é fácil concluir. Quem sabe o segundo Imperador do Brasil estivesse mara-vilhado pelas belas noites de luar na Terra do Eterno? Talvez tenha ficado concentrado na tradução do Salmo 122, canto que exprime os senti-mentos dos peregrinos cristãos que subiam até Jerusalém? Pode ser que nada disso tenha acontecido e sim-plesmente o cansaço da viagem es-gotou suas forças e seu tempo. Seja qual for o motivo, fica muito difícil dar uma resposta convincente. Resta apenas registrar o descontentamen-to dos judeus da Palestina turco-oto-mana por sua inexplicável atitude.

Apesar de tudo, a intimidade en-tre o Imperador e a cultura judaica desencadeou, por parte dos judeus, manifestações de pesar por sua mor-te em 5 de dezembro de 1891. Em 10/12/1891, o “Há-Magid” trazia a seguinte notícia de Paris:

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“No sábado passado faleceu um dos grandes justos dentre as nações do mundo em nossos tempos, ‘o primeiro entre dez mil’ (Cântico dos Cânticos 5:10), Dom Pedro, Impera-dor do Brasil; que além de suas gran-des ações em benefício de seu Reino, cujo prestígio elevou ao abolir a es-cravatura, tornou-se famoso por seu amor aos judeus e a língua hebraica, a cujo estudo se dedicou, destacan-do-se no conhecimento dela.”

D. PEDRO IIPOR NACHUM SOKOLOWUm dos maiores admiradores de D.

Pedro II foi o escritor judeu e sionista Nachum Sokolow (1859-1936). Seu filho Florian, na sua obra “My Father Nachum Sokolow” publicada em 1975, comentava que seu falecido pai, nas suas memórias, mostrou um verdadeiro fascínio pela cultura do Imperador do Brasil, “tanto por seus dotes em matérias hebraicas como por sua modéstia de caráter”.

Por ocasião do falecimento de Sua Majestade, Nachum Sokolow publicou no jornal “Há-Tzefirah” um extenso ne-crológico. Depois de colocar detalhes relevantes sobre a vida do Imperador, salientou seus pendores para a lite-ratura e ciências. Sokolow descreveu também o espanto e o entusiasmo dos judeus reunidos numa sinagoga de Londres, com a perfeita leitura da Torá em hebraico feita pelo monarca duran-te o ofício religioso. Deixando de lado a bagagem cultural de D. Pedro II e voltando novamente ao tema político, Sokolow escreve o seguinte:

“Desde o tempo em que foi expul-so, D. Pedro II, um dos mais célebres e mais generosos monarcas que já houve na História, foram destruídas as bases da monarquia na América; não se sabendo se tal regime ainda poderá levantar-se.”

Sokolow faz aqui referência ao exí-lio de Sua Alteza em 1891. Este ad-mirador do dignitário brasileiro mal

pode imaginar que, passado mais de um século, com descendência impe-rial ainda em Petrópolis, um projeto monarquista seria aprovado na As-sembléia Constituinte em 1988.

Podemos afirmar que o mito mo-nárquico em torno da figura de D. Pedro II na imprensa hebraica, tanto na Palestina turco-otomana como na Europa, revelaria sinais de renas-cimento político somente um século depois. O texto da Constituição de 05/10/1988 continha uma emenda que previa um plebiscito, destinado a devolver ao povo brasileiro o direi-to de escolher qualquer forma de re-gime, inclusive o monárquico.

PALAVRAS FINAISPodemos afirmar que o relaciona-

mento amigável mantido por Sua Ma-jestade D. Pedro II com o Judaísmo se apresentou nas mais variadas formas:

Primeiramente, no seu profundo amor e total dedicação à língua he-braica, mesmo se tratando de uma língua litúrgica, ainda em fase em-brionária atravessando um verdadei-ro renascimento.

Em segundo lugar, por sua paixão pelo “Livro dos Livros”, estudado sem-pre na versão original, subsidiado com traduções européias diversas, espe-cialmente aquelas vertidas ao francês.

Não menos importante, seu per-manente desejo de contextualizar diferentes trechos bíblicos in loco, durante sua viagem de peregrinação à Terra de Israel em 1876.

Finalmente, seu profundo respeito pela antiga cultura judaica, fato que o impulsionou a convidar personali-dades israelitas para participarem e contribuirem na corte brasileira.

Em 05/12/1891, num modesto quarto do Hotel Beldford em Paris, morria Pedro d´Alcântara, o monar-ca-estudante; aquele que mais pa-recia um poeta ou um sábio do que um Imperador, mas se lhe tivesse sido dada a oportunidade de concretizar

seus vários projetos, sem dúvida teria feito do Brasil um dos países mais ri-cos e avançados do Novo Mundo. Y

BIBLIOGRAFIABesouchet, D. Pedro II e o século XIX. Edi-

tora Nova Fronteira. Rio de Janeiro 1993.Calmon, P., O Rei-Filósofo. Companhia

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Editora e Livraria Sêfer. São Paulo 1999.Faingold, R., Luzes do Império: D. Pedro II

e o mundo Judaico. Exposição iconográfi-ca apresentada pelo SESC e CASA DE CUL-TURA DE ISRAEL em São Paulo, Petrópolis e Rio de Janeiro em 2000. Catálogo com 44 págs. e ilustrações.Faingold, R., D. Pedro II: Fascínio pelo

Judaísmo. KOL NEWS No. 28 (dezembro 1999), págs. 49-56.Faingold, R., D. Pedro II visita os samarita-

nos em 1876. ERETZ IAVNE, Ano 4, edição 4, São Paulo 2007, págs. 26-27.Haramati, Sh., Keissar Brasil medaver ivrit

[O Imperador do Brasil fala o hebraico]. ET-MOL 15, fasc.2, kislev 1990, págs. 17-18.Jornal Ha-Tzefirah (A Aurora). Varsóvia

1862. [Jornais de 1876 e 1891].Lipiner, E., Faleceu um dos grandes justos

entre as nações: o primeiro entre dez mil. D.O LEITURA No. 110 (SP, 10/07/1991), págs. 12-13.Livros de Contas da Receita da Casa Impe-

rial. Acervo Museu Imperial de Petrópolis. Anos 1876-1877.Mosse, B., Dom Pedro II Empéreur du Bré-

sil. Firmin-Diderot. Paris 1889.Torá que foi do Imperador D. Pedro II é

tombada no Rio. FOLHA DE S. PAULO (10/11/1998) pág. 16.Valadares, P., A viagem do orientalista

D. Pedro II a Israel. O BOÊMIO No. 102 (20/03/1998) pág. 11.Wolff, E., O Imperador e o Rabino. HERAN-

ÇA JUDAICA 42 (junho 1980), págs. 15-18.

* O Prof. Reuven Faingold é historiador e educador; Doutor em História Judai-ca pela Universidade Hebraica de Jeru-salém. Professor no Colégio Iavne e no departamento de Artes Plásticas da FAAP em São Paulo e Ribeirão Preto. É também sócio-fundador da Sociedade Genealógi-ca Judaica do Brasil.

HiStÓria

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O Império Romano foi extenso, uma ponta dele estava na Ásia, enquanto a outra chegava às margens do Atlântico, na Lusitânia, onde hoje é Portugal. Havia circulação de pessoas

dentro deste império, através de funcionários e soldados da metrópole, comerciantes que buscavam novos mer-cados e transferências de populações por problemas po-líticos. Algumas destas razões mencionadas levaram os habitantes da Judéia (nome romano de Eretz Israel) che-garem a esta outra ponta do império; para eles, judeus, o ponto geográfico mais distante que conheciam e a que deram o nome de Sefarad (limite).

Eles traziam os seus costumes peculiares e principal-mente a religião. Este grupo foi tolerado como uma mi-noria, necessária para as atividades comerciais, confina-da em áreas residenciais separadas, até o final do séc. XV, quando então a Península Ibérica sofreu uma reorgani-zação geopolítica, com a queda do último reino islâmico em 1492. Ao derrotá-los, o vencedor castelhano expul-sou os judeus de todo o reino e os que ficaram obrigou a se cristianizarem, seguindo o princípio “cujos regio, ejus

PAULO VALADARES *

religio” (tal a religião do príncipe, tal do país), no que foi seguido pelo vizinho português. Logo depois, os dois reinos ibéricos, assustados com a fratura protestante dos estados germânicos, transformaram-se numa reserva da ortodoxia católica.

Os judeus que ficaram no mundo ibérico tiveram que se converter ao catolicismo. Isto não era apenas trocar de religião, mas também assumir novas posturas, desde a onomástica até a gastronomia. Abraham virava Antó-nio, o azeite era substituído pelo toucinho e o Monote-ísmo era invadido pela Trindade. Tinham que trocar o universo mental modelado pela Torá (os cinco primeiros da Bíblia) e Talmude pelos Evangelhos. Mesmo as auto-ridades perceberam que não era fácil esta troca. Tanto que deram um prazo de alguns anos em que eles não se-riam fiscalizados pela nova autoridade religiosa – a Igreja Católica e o Tribunal da Inquisição. Eles receberam um nome jurídico, cristãos-novos. Os vizinhos os chamaram ofensivamente de marranos (de porco) e, finalmente os historiadores contemporâneos, de criptojudeus.

Este prazo de adaptação foi entendido pelos cristãos-novos como tolerância ou afrouxamento das leis de conversão. Muitos deles passaram a usar uma estra-tégia que os islâmicos xii-tas chamavam de “taqiyah” (guardar-se), a dissimula-ção religiosa para enfrentar a repressão; assim, eles se tornam católicos estatísticos e judeus no seu interior. É uma condição espontânea; nenhum rabino ou teólogo judeu forneceu subsídios pra enfrentar esta situação. Percebendo a força cultural da antiga crença, começou a repressão a estas pessoas

O professor José Nunes Cabral (de cabeça descoberta) em pesquisas arqueológicas no interior do RN.

DE JERUSALÉM PARA LISBOA,DE LISBOA PARA O SERTãOFrase do cineasta Glauber Rocha (1939-1989) descrevendo o percurso de sua família

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que insistiam nos velhos costumes. A memória material judaica já fora apagada: sinagogas foram transforma-das em igrejas, cemitérios e livros judaicos, destruídos, e mesmos as telas em que apareciam judeus desaparecem convenientemente. O Tribunal do Santo Ofício começou a fiscalizar a sinceridade de suas conversões, estimulan-do a delação e utilizando a tortura em larga escala como prova jurídica.

A perseguição foi tão intensa que provocou uma rea-ção. Para escapar, a saída era a fuga para o exterior. Quem tinha mais recursos, notadamente comerciantes, busca-vam refúgios como Amsterdã, Livorno, Bordéus, Londres, dentre tantos outros lugares, para alí reconstruírem as suas vidas como judeus. Este movimento durou até o co-meço do século XIX. É interessante lembrar que persona-gens contemporâneos como o segundo judeu a ser nome-ado para a Suprema Corte americana, Benjamin Nathan Cardozo (1870-1938), era descendente destes foragidos ibéricos; o ator inglês Peter Sellers (1925-1980) vinha dos Mendoza, e Arthur Ochs Sulzberger (1926), dono do N.Y. Times, das famílias Mendes Seixas e Maduro Peixoto. Os mais modestos que não tinham recursos para uma fuga mais longa, procuravam o México, a Argentina, o Peru e, claro, o Brasil.

Era difícil sair de Portugal, porém, chegando ao Brasil, distanciava-se dos rigores do Tribunal do Santo Ofício, tanto pela inexistência de uma estrutura mais eficiente na repressão, quanto também pelo interesse governamental

em criar uma base de-mográfica branca. Isto, contudo, não significava que ele ficava livre; mui-tos foram denunciados, outros, processados, e alguns foram até quei-mados ou garroteados pelo crime de “judaizar”, sendo católicos nominal-mente. Não se sabe com certeza o tamanho desta participação, porém o comerciante Diogo Lo-pes Ulhoa, que viveu em Salvador, disse para a In-quisição: “que se nesta terra houvera liberdade de consciência fora ela uma segunda Palestina.” Todavia, em nenhum momento, eles tiveram

consciência de formar um grupo com interesses comuns a defender, tal a heterogeneidade de fortunas e culturas, o que facilitou a integração na população brasileira.

A ascensão de Sebastião José de Carvalho e Melo (1699-1782), futuro Marquês de Pombal, para Secretário de Es-tado de D. José significou a escolha de um projeto dife-rente para o Império Português. Preparando a mudança, ele racionalizou a administração pública, patrocinou leis para modernizar as estruturas arcaicas, incluindo esta gente que, por herança histórica e biológica, estava fora dos quadros decisórios. O Marquês de Pombal acabou com a distinção entre cristãos-novos (descendentes de judeus) e velhos, destruiu as listas das fintas (impostos especiais cobrados a eles), abrindo caminho para a sua entrada nos cargos dirigentes da nação. Mesmo com es-tas leis, muitos continuaram viver a sua biculturalidade. Como não eram mais registrados nos processos inquisi-toriais, pensou-se que eles tinham acabado.

Na década de vinte passada, descobriu-se que, em al-deias isoladas das Beiras e Trás-os-Montes, viviam des-cendentes de cristãos-novos que, pela endogamia cons-tante, mantinham-se sem mestiçagem. Possuíam orações próprias, respeitavam dois jejuns do calendário judaico, praticavam algumas regras alimentares, eram hostis ao Catolicismo e se consideravam judeus. Um deles, o capi-tão Artur Carlos de Barros Basto (1887-1961) criou um movimento para a inserção deste grupo ao judaísmo contemporâneo chamado “Obra do Resgate”, com uma

Ivan Pereira de Souza e João Medeiros na ala judaica do Cemitério de Natal, RN

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sinagoga no Porto, a Sinagoga Kadoorie Mekor Haim, e uma revista, “Ha-Lapid”, que circulou por mais de duas décadas. O reaparecimento destes judeus ocultos des-pertou uma hostilidade contra eles e eles, temerosos das represálias, refluíram à condição anterior.

No Brasil repetiu-se o mesmo fenômeno. A partir da década de setenta, surgiram vários personagens buscan-do a integração na comunidade judaica. O perfil destas pessoas era semelhante. Eram quase todos oriundos de famílias sertanejas nordestinas, de áreas geográficas onde a presença de imigrantes extra-ibéricos era quase inexisten-te. Ligavam-se ao passado por certos costumes familiares, crenças divergentes do Cristianismo, opções alimentares peculiares e uma memória realimentada pelas genealogias.

Esta presença causou estranheza nas comunidades ju-daicas que não conheciam o fenômeno histórico e o con-fundiam com as novas seitas neopentescostais, que, por razões mercadológicas, se apropriaram do discurso deste grupo minoritário. A reação foi recusá-los como fenôme-no coletivo e aceitar alguns casos individuais. O principal motivo da recusa era a impossibilidade destes candidatos provarem a sua matrilinearidade judaica, já que, segundo a Halachá (lei judaica), só é judeu o filho de mãe judia ou convertido por um tribunal rabínico. Há casos inte-ressantes, dentre muitos outros, como o do matogros-sense Francisco de Assis Oliveira, conhecido como Yaacov Mordechai, que vive como judeu ortodoxo em Israel e foi soldado em tropas de elite israelense, ou do mara-nhense Josué Bezerra, renomeado Yehoshua Maor, que é um bem sucedido cientista israelense, galardoado com o

Prêmio Kaye de Inovação em 2006.Mesmo com estas dificuldades, surgiram

algumas comunidades, como a de Natal, em que o professor da UFRN, José Nunes Cabral de Carvalho (1913-1979), e o en-genheiro João Fernandes Dias Medeiros (Yohanan ben Abdiah Yedidiah), ambos riograndenses, fundaram em 1979 a Co-munidade Israelita do Rio Grande do Nor-te (CIRN) voltada aos oriundos do Seridó, que ambos acreditavam ter sido uma área de refúgio dos judeus após a derrota ho-landesa. Na ata da reunião de fundação, registraram a presença de “17 judeus, des-cendentes e candidatos à conversão”.

O professor José Nunes Cabral, um ex-aluno do folclorista Luís da Câmara Cas-cudo (1898-1986), afirmava que o seu judaísmo viera pelo seu pai, o capitão Abdon que o doutrinara desde criança.

Em Niterói, onde estudou Odontologia encontrou a famí-lia Cudisevici, que o incentivou a ingressar no judaísmo rabínico. Já o seu colega, João Medeiros, também vivera no Rio de Janeiro, onde ouvira o rabino Henrique Lemle (1909-1978) e resolveu praticar por inteiro a religião de seus ancestrais. Homem essencialmente místico, desde os anos setenta, se mantêm, ele e a família, como judeus praticantes e dirige os serviços desta comunidade. Ele já visitou Israel, escreveu um livro sobre a sua trajetória e luta pelo reconhecimento dos que se identificam como descendentes de cristãos-novos e pretendem reintegrar-se ao judaísmo rabínico.

André Fitousie no Tzahal (Exército de Defesa de Israel)

Yaacov Mondechai de Oliveira que vive em Israel

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Ambos são os fundadores desta comunidade.Foi a primeira comunidade, depois da repressão inquisito-

rial, fundada por descendentes de cristãos-novos no conti-nente americano. Mesmo não sendo plenamente reconheci-da pelos organismos comunitários judaicos, a sua existência estimulou o surgimento de outras similares em São Paulo, Fortaleza e Recife, que também não foram reconhecidas. Elas são vistas apenas como um anacronismo na vida brasileira.

Como os descendentes de cristãos-novos não possuem nenhum sinal que os distinga da população geral, eles de-sapareceram no cadinho da mestiçagem brasileira e não deixaram traços de sua passagem, a não ser em algumas genealogias quando escritas. Porém, não se deve esquecê-los, é mais um dos povos que participaram da formação do povo brasileiro ainda que muitas vezes seja ignorado.

CRONOLOGIA1492 (31 de março) - Os judeus são expulsos da

Espanha. Muitos migram para o nordeste de Portugal onde se estabelecem.

1496 (5 de dezembro) – Decreto de expulsão dos ju-

deus de Portugal.1497 – Os judeus que preferem ficar em Portugal conver-

tem-se ao catolicismo. É o nascimento da minoria etnocul-tural cristã-nova delimitada pela legislação governamental.

1536 (23 de maio) – Bula do papa Paulo III criando a Inquisição em Portugal.

1591 (9 de junho) – Chega a Salvador, Heitor Furtado de Mendoça, Visitador do Santo Ofício. Vários cristãos-novos são delatados à autoridade inquisitorial.

1606 – Nasce em Castro Daire, o cristão-novo Simão da Fonseca que, ao emigrar para a Holanda, tomou o nome de Isaac Aboab da Fonseca e, mais tarde, foi rabino em Recife. Compôs o tribunal rabínico que excomungou o filósofo Baruch Espinoza (1632-1677). Morreu em 1693.

1622/1628 – O cristão-novo lisboeta Duarte Gomes So-lis (1562? -1632) defende a ideia de que o Brasil deveria ser destinado aos cristãos-novos, já que todo progresso até aquela data, devia-se a eles. Não seria melhor, eles por aqui cristianizados, do que na Holanda, judaizando e desenvolvendo o inimigo?

1724 (17 de novembro) – Morre em Toledo, o padre santista Bartolomeu Lourenço de Gusmão, que fugia da

BRASILEIROS EXECUTADOS COMO JUDAIZANTES

VÍTIMA EXECUÇÃO NATURALIDADE PROFISSÃO DOMICÍLIO

Gaspar Gomes 1644 Portugal Soldado e sapateiro Bahia

José de Liz (Isaac de Castro Tartas) 1647 Tartas (França) Estudante Salvador

Teotônio da Costa Mesquita 1686 Lisboa Lavrador São Paulo

Rodrigo Álvares 1709 Avis Boticário Salvador

João Dique de Souza 1714 Lisboa Senhor de Engenho Rio de Janeiro

Mateus de Moura Fogaça 1720 Rio de Janeiro Soldado e mineiro Rio de Janeiro

Teresa Pais de Jesus 1720 Rio de Janeiro Esposa de professor Rio de Janeiro

Manuel Lopes de Carvalho (*não era cristão-novo) 1726 Lisboa Sacerdote Bahia e Minas

Gerais

João Tomás de Castro 1729 Rio de Janeiro Médico Rio de Janeiro

Félix Nunes de Miranda 1731 Almeida (Portugal) Comerciante Salvador

Guiomar Nunes 1731 Pernambuco Esposa de latoeiro Paraíba

Miguel de Mendonça Valadolid 1732 Valadolid (Espanha) Comerciante São Paulo

Diogo Correia do Vale 1732 Vila Real Médico Ouro Preto

Domingos Nunes 1732 Freixedos Comerciante Minas Gerais

Luis Miguel Correia 1732 Viseu Lavrador Ouro Preto

Fernando Henriques Álvares 1733 Vila Moura Lavrador Rio São Francisco

Manuel da Costa Ribeiro 1737 Celorico da Beira Comerciante Ouro Preto

Luis Mendes de Sá 1739 Coimbra (nasceu numa prisão inquisitorial) Comboeiro Rio das Contas

António José da Silva, o Judeu 1739 Rio de Janeiro Advogado e teatrólogo Rio de Janeiro

João Henriques 1748 S.Vicente da Beira Boticário Paracatu

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Inquisição, acusado de judaizar e declarar-se o “Messias”. Está sepultado na cripta da catedral paulistana.

1773 (25 de maio) – D. José I (1714-1777) promove, por inspiração do Marquês de Pombal, uma legislação que abole a distinção entre cristãos-novos e velhos, rein-terpretando as leis anteriores de D. Manuel I (1507) e de D. João III (1524), referentes ao tema.

1876 – D. Pedro II (1825-1891), que lia e escrevia em hebraico, orientado que fora nestes estudos pelo descen-dente de cristãos-novos, o ex-padre Francisco dos Santos Saraiva (1831-1900), visita a Terra de Israel.

1800 (21 de dezembro) – O escultor Antonio Francisco Lisboa, Aleijadinho (1730-1814), oriundo de Ouro Preto (ou Vila Rica), cidade de importante presença cristã-nova, recebe o pagamento pelo conjunto, único do mundo ca-tólico, formado por estátuas de doze profetas em Congo-nhas do Campo.

1889 (17 de maio) – O engenheiro negro André Rebou-ças (1838-1898), neto de um português visto como desta ascendência, apresentou a D. Pedro II um projeto para o estabelecimento de um estado judeu no Paraná, antes de Theodor Herzl (1860-1904) formular o Sionismo político.

PRIMEIRO RETRATO DOS CRISTÃOS-NOVOS BRASILEIROS

Quando os holandeses foram derrotados e expulsos da Bahia, o ar-tista espanhol Juan Bautista Maino (1581-1649) pintou uma alego-ria registrando a façanha. É uma vista do litoral baiano depois dos combates. Nela, aparece o general vencedor D. Fradique de Toledo (1580-1634) “recebendo” os cumprimentos do rei Felipe IV (1605-1665), e o seu valido, o Conde-Duque de Olivares (1587-1645), bisneto do cristão-novo Lope Conchillos. Ambos nunca estiveram no Brasil. Na mesma cena, é visto um cristão-novo baiano reconhecível pelo gorro vermelho, que eles não usavam, mas o artista baseou-se em legislação antiga. Mesmo sendo pura imaginação do pintor, é o primeiro e único retrato coletivo dos cristãos-novos brasileiros retratados como tal. Y

PARA SABER MAIS

EIGER, Elaine; VALENTE, Luize. A estrela oculta do sertão, 2005 (vídeo). MEDEIROS, João F. Dias. Nos passos do retorno. Descendentes dos Cristãos Novos descobrindo o judaísmo de seus avós portugueses. Natal: Nordeste, 2005.RAMAGEM, Sonia. A fênix de Abraão: um estudo sobre cristãos-novos retornados ao judaísmo de seus ancestrais. Brasília: UNB, 1995.VALADARES, Paulo. A presença oculta. Genealogia, identidade e cultura cristã-nova brasileira nos séculos XIX e XX. Fortaleza: Fundação Ana Lima, 2007.

Colaborações são muito bem vindas e artigos inéditos podem ser enviados à Redação por e-mail ou CD, em arquivos de extensão “doc” ou “txt”.As referências bibliográficas obedecem as disposições normativas da ABNT-NBR-6023. Fotos ou ilustrações devem ser escaneadas em 300 dpi.

Apreciamos sugestões e aceitamos também críticas, se construtivas. Essas devem ser enviadas a [email protected] ou [email protected]. Se preferirem enviar cartas, o endereço é Arquivo Histórico Judaico Brasileiro - Rua Estela Sezefreda, 76 - CEP 05415-070, São Paulo - SP.

* Paulo Valadares, historiador.

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28reSeNHa

BRASILIANA EM IÍDICHE ABRAHãO GITELMAN *

Legenda das abreviaturas: SP= São Paulo; RJ= Rio de Janeiro; BA= Buenos Aires;TA= Tel Aviv; Pol.= Polônia

A presente lista, baseada nos exemplares existentes na Bi-

blioteca do AHJB, engloba: a- livros editados no Brasil; b- livros

editados no exterior por autores que viviam no Brasil, ou com

temática brasileira; c- excepcionalmente, algumas revistas (as

encadernadas em formato de livros, existentes na Biblioteca

do AHJB). Pretendemos futuramente realizar trabalho similar,

usando o acervo da Hemeroteca (jornais e revistas).

A relação não é completa, nem pretende ser definitiva, uma

vez que a catalogação dos livros está em andamento, novos

lotes continuam chegando e, volta e meia, nos deparamos com

informações de que não dispúnhamos.

Este trabalho foi elaborado com a convicção de que pesquisas

sérias sobre uma comunidade não podem prescindir das fontes pri-

márias, na própria língua majoritária dos seus primeiros imigrantes.

Existe a alegação de inacessibilidade das novas gerações à

língua iídiche.

Ora, aquela primeira geração de imigrantes da Europa Orien-

tal chegou ao Brasil, sem dinheiro, sem diplomas, não conhe-

cendo nada do país ou da língua (sabiam somente o iídiche

e algumas rezas em hebraico). No entanto, estas pessoas, em

poucos anos, criaram a coletividade, estabilizaram as suas pró-

prias vidas, formaram famílias e tornaram-se, assim, o que se

convencionou chamar de “vencedores” ou “vitoriosos”.

Recusamo-nos a acreditar que seus descendentes não con-

sigam, com muito mais facilidade, trilhar o caminho inverso,

dados os meios de que dispõem, como a experiência, os recur-

sos da informática, a escolaridade. Muitos sabem hebraico e

a maioria, cremos, conhece o alfabeto. Meio caminho já está

andado. Além do mais, o AHJB, coloca, à disposição dos consu-

lentes, um arsenal de manuais, dicionários e também um corpo

de voluntários para auxiliar na tarefa.

Realmente, não há escusas.

APELBAUM, Malka (Pol.,1908-Brasil, 2007)- Fun Harts tsu Harts: De um coração a outro, RJ, 1957, (método de educação infantil). BARIACH, Baruch (Pol.,1897-Israel,1955); Diretor da Escola Israelita Brasileira de Curitiba entre 1933 e 1946)- - Elementare Gueshichte fun der Idisher Literatur Vol I e II: Elementos da História da Literatura em iídiche, Curitiba, 1942.

BECKER, Idel (Médico e professor-Argentina 1910- Brasil 1994). Atuou como médico, no Sanatório Ezra, m São José dos Campos. Mais tarde dedicou-se ao magistério (ensinava espanhol). Chegou a dirigir o Colégio Renascença em SP (vide bibliografia nº 7) - Idisher Folklor: Folclore Hebreu (sic), SP, 1942.

BERGMAN, Aron (Lituânia,1890- RJ, 1954?); Fundador e editor do jornal Idishe Presse (Imprensa Israelita), que funcionou desde a década de 30 até 1988. Ver perfís biográficos em Rollansky e Karakushanski, vol. I)

BORENSTEIN, Itzchak (Pol.1899-SP-1984); Jornalista da velha guarda, sobreviveu à 2a G.M. Vindo para o Brasil em 1950, tornou-se redator-chefe de “O Novo Momento” SP. - Varshe fun Nechtn: Varsóvia de Ontem, SP, 1967- (Crônicas).

BRANSKI, Henrique (Pol.,1913-Brasil,1978)- Di Tsurikguekumene Chvalie: A onda que retorna, SP, 1959, (romance da vida judaica no Brasil).

BRENER, Abrão (Rússia, 1897-RJ,1980?); O autor consta do livro (nº 2 da bibliografia) e em Rollansky.

BUSZEWSKI, Rachel Kaplan (Pol.1909-Curitiba ?) - Main Shtetele Pinsk : Minha cidadezinha Pinsk, S/D (Poesia).

CHARMATZ, Konrad (Pol., 1910, Israel, 1983) Jornalista; Foi proprietário do jornal “O Novo Momento” SP. - Koshmarn: Pesadelos, S.P., 1975 (relatos sobre o Holocausto).

Em 1914, nove anos antes de ter um cemitério, a pequena coletivi-dade já contava com uma biblioteca

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29 reSeNHa

CHASIN, A. poeta: ver Karakushanski, vol. I e Unzer Baitrog.

DER POILISHER ID (O judeu polonês - Revista literária editada pelo Comitê Central dos Judeus Poloneses no Brasil, a partir de 1950, no Rio de Janeiro).

FATER, Issaschar (O Autor, maestro, viveu por vários anos no RJ, dirigindo o coral do Instituto Eliezer Steinberg) - Idishe Musik in Polin Tsvishn Beide Welt Milchomes: Música judaica na Polônia no período entre-guerras, TA, 1970 - (partituras e biografias).

FENSTER, Tobias (Pol.,1864-SP,1959- No Brasil desde 1950, era escritor e ilustrador) - Gueklibene Shriftn: Ensaios selecionados, RJ, 1961; redigido e editado por Nelson Vainer.

FRANKENTHAL, Marcos - Jormalista e editor em SP. Diretor do San Pauler Idishe Tsaitung, na década de 30. Editou e imprimiu grande parte dos livros em iídiche nas décadas seguintes (vide Karakushanski, vol. II ).

GOLOMB, Abraham (Pol. 1885-México-1982 - Era um conhecido pedagogo. professor do Seminário de Vilna; viveu muitos anos no México; este é seu único livro editado no Brasil). An Halber Iorhundert Idisher Dertsiung (Meio século de educação iídiche, RJ, 1957).

GROS, Eliahu - ver Unzer Baitrog (colaborou com um ensaio).

GRUN, Samuel (Pol.,1894- SP,1973). Foi diretor da escola com o nome de Scholem Aleichem, que existiu por poucos anos na década de 30 em SP, da linha CYCHO [Tsentral Idishe Shul Organizatsie], de Varsóvia, voltada para o iídiche - 50 Ior Baobachtunguen fun der Socialistishe Velt - A transformação do socialismo no mundo, nos últimos 50 anos, 1915-1965) SP, 1967.

GUTERMAN, Itschac (Pol., 1907-Brasil,1988). Outro jornalista e escritor, que sobreviveu à 2a G.M. - Di Mame iz nisht Choser Deye -A mamãe ainda está lúcida- TA, 1981; -In a Puster Shtot -Numa cidade vazia-Lodz, 1949; - ver também Rollansky.

HALPERN, Menashe (Ucrânia,1871- SP,1960; autor de renome internacional). – Parmetn- SP, 1952

Pergaminhos (memórias e ensaios); -Oisn Altn Brunem- Ao redor da velha fonte, RJ, 1934 (contos); -Lider - Poesias, SP, 1959; -ver também Rollansky, Unzer Baitrog e Karakushanski, vol II

HOROVITZ, Eduardo (líder comunitáro no RJ a partir dos anos 20) -ver Unzer Baitrog e Karakushanski, vol. II.

IKUF do Brasil (Idisher Kultur Farband; IKUF, Associação de Cultura Judaica, de tendência “progressista”. Este livro foi editado por seu Comitê Central no Brasil) –Zamlung fun Shafunguen fun Idishe Shraiber un Dichter in Ratnfarband.- Coletânea de escritores judeus na URSS, RJ,1956.

IUCHT, Betzalel (Professor e Diretor por muitos anos da Escola Jacob Dinezon da Bahia); ver Unzer Baitrog e Karakushanski, vol II.

IUSSIM, Henrique e Ruth (Henrique Iussim –Bessarábia, 1916-Israel, 1986); O casal viveu muitos anos no Brasil, como jornalistas e editores; Henrique também assinava Tzvi Iusim e Zvi Iotam. Era autor de um “léxico” de ativistas sociais no Brasil, que permaneceu praticamente inédito. - Shir Hashirim: Cântico dos Cânticos (tradução do hebraico para o iídiche por Naftali Gross); –Shavuot: A História de Ruth; -Kinderland: O país das criança s (revista infantil- publicação do “Círculo das Mães” do Ginásio Hebreu-Brasileiro, RJ, 1948; ver Karakushanski, vol. II.

JACOBOVITCH, Marcos (Pol., 1897-Israel,1976; Viveu no Rio de Janeiro e em Porto Alegre). –Tsurik: De volta, BA, 1959/1960 (romance da vida judaica na Polônia, Alemanha, Brasil e Israel); ver Rollansky.

KAHAN, Dr. Moisés (Ucrânia,1908- SP,1972) Ativista de São Paulo desde os anos 1940 - Idn in der Anshteiung fun Brazil: Judeus nos Albores do Brasil (sic) SP, 1955.

KARAKUSHANSKI, Shabatai (Ucrânia,1905-Brasil,1965; Jornalista e escritor).-Aspectn Funem Idishn Lebn in Brazil , vol. I: As instituções israelitas no Brasil, RJ, 1956. Vários ensaios sobre a sociedade judaica, economia, literatura, política sobre o tema: “polacas” e curiosidades; perfis biográficos de Shloime Guelman, Mendl Koslovski, Aron Bergman , Samuel Iurkevitch, Maxim Sztern, Nathan Huliak, Haim Vainer, Dr. Moishe Rabinovitch, Abraham Chasin, Jacob Nachbin, Iossef Lifshitz, Sima Hoineff;- Aspectn Funem Idishn Lebn

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in Brazil, vol. II, idem, RJ,1957. O aspecto evolutivo: linguístico, social, familiar, profissional, recreativo, religioso, da juventude, moral, das “landsmanshaftn” (associações de conterrâneos) e gerais: perfís biográficos de Ihushe Din; Efraim Shechter; Dr. Bentsion Zilber; Moishe Pintchevski, L. Melech, Eliezer Steinberg, o professor Blotshtein, Wolf Vipman, Ladislau Vinhaes, “Leon Russo”, Wolf Reich (fotógrafo), Marcos Frankenthal, Elias Lipiner, Menashe Halpern, Vittorio Camerini, Leizer Levinson, Leon Shmelzinguer, Leon Minces, Naftali Iaffe, Jacob Schneider, Betzalel Iucht, Dr. Moishe Fridman, Eduardo Horovitz, Jacob Politchuk, Dr. David Perez, Zvi Iotam, Artur Vainer, Natan Beker. No tema “curiosidades”: os irmãos Bloch (grupo Manchete) e o Pletzale (vide ensaio sobre o mesmo tema de I. Guterman em Rollansky, em que o próprio Karahushanski também colaborou; Der Turist:O Turista, RJ, 1964- romance sobre a vida judaica no Brasil; ver também Unzer Baitrog.

KISHINIEVSKI (KISHINHEVSKI), Adolpho (Rússia, 1890-Brasil, 1936. O primeiro autor de um livro em iídiche impresso no Brasil) - Naie Heimen Novos lares, Nilópolis, RJ, 1932 (contos), traduzido para o português v. bibliografia nº 6; ver tambem Rollansky.

KLAIMAN, Chaim (redator) - Far Idish: A Favor do Iídiche (Revista do “Grupe far Idish in Rio de Janeiro”) - 1961.

KUCINSKI (KUTCHINSKY), Meier (Pol., 1904-SP, 1976- Escritor e professor de literatura ídiche; vários de seus contos e crônicas foram traduzidos para o português , vide bibliografia nº 4. Vide também bibliografia nº 8. -Nussech Brazil: Estilo Brazil, TA, 1963; -Di Palme Benkt tsu der Sosne: A palmeira sente saudades do pinheiro, TA, 1985; ver também Unzer Baitrog e Rollansky.

LANDA, Joseph (Bessarábia,1912- Brasil, 2000) -Lichtike Kaiorn: Madrugadas Iluminadas, RJ, 1959; poesias e contos.

“Rabi Chanina, um dos grandes sábios talmudis-tas, ilustração de Lasar Segall, para o livro “As letras contam histórias...” de Elias Lipiner, 1941

LIPINER, Elias (Bessarábia, 1916-Israel, 1998 - Importantíssimo historiador, principalmente no tema de “cristãos- novos”. Escrevia fluentemente em iídiche, português e hebraico. Por ocasião de sua morte, lhe foi dedicado um livro: “Em Nome da Fé” bibliografia nº 5 - Oissies Dertseiln: As letras contam histórias..., SP, 1941; Editor H. Iussim (Livraria Mosaik, ilustrações de Lasar Segall; - Bai di Taichn fun Portugal: Junto aos rios de Portugal- BA, 1949 (estudo sobre o tema “cristãos-novos”, editado pelo YIVO argentino-Subtítulo: Samuel Usque, seu tempo e suas “Consolações aos sofrimentos de Israel”); - Ideologuie fun Idishn Alefbeis: Ideologia do alfabeto hebraico- BA,1967; - Tsvishn Maranentum un Shmad: Entre tornar-se marrano e a conversão- TA,1973 - ver também Rollansky, Unzer Baitrog e Karakushanski, vol II.

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LOKIETSH (LOKIEC), Moishe (Pol. 1911- Brasil?) poeta-ver Rollansky e Unzer Baitrog.

MALACH, Leib (Leib Zalcman, Pol., 1894-Paris,1936; escritor que passou na década de 20 por Argentina e Brasil, escrevendo sobre diversos aspectos da vida dos judeus). - Bleter tzum ondenk fun Leib Malach: Páginas in memoriam de Leib Malach, ?, 1936; Don Domingos Kreitzweg: A encruzilhada de D. Domingos, TA,1969 (1ª edição: Vilna,1930); ver Rollansky.

MALAMUD, Samuel (Ucrânia,1908- Brasil, 2000; Em 1949 foi nomeado Cônsul Honorário de Israel no Brasil) -In Ondenk fun Praça Onze: Lembranças da Praça Onze RJ, 1981(3 volumes).

MISHKIS, Itzhak (Bessarábia,1870-SP,1948; Professor em várias cidades brasileiras) -Fun Idishn Folklor Oitzer: Do tesouro do folclore judaico, SP, 1942.

NACHBIN, Jac (Jacob) (Pol.. ,1896 - ?) Um pioneiro no jornalismo e na historiografia judaica no Brasil. Existe uma biografia sobre Jacob Nachbin, em português, v. bibliografia, nº 3; -Der Letzter fun di Groisse Zacutos: O ultimo dos grandes Zacutos, Paris,1929 (Estudo sobre Zacuto Lusitano, 1576-1642); ver também Karakushanski , vol. I.

NOMBERG, Hersh David (Pol.1876- Pol.1927)- escritor e jornalista. Participou com Peretz, Raizen, Asch, e outros na célebre Conferência de Czernovitz de 1908, que se tornou um marco nas diretrizes para a língua e literatura iídiches -Dos Buch fun Felietonen: O livro dos folhetins (feuilletons, que era como se denominavam as crônicas), Varsóvia, 1924. Uma preciosidade; viagem de Nomberg à América do Sul, em 1922. Duas crônicas dedicadas ao Brasil. No Rio, assistiu às comemorações do Centenário da Independência.

OPATOSHU, Iossef (Pol.1886-EUA,1954). É um clássico da literatura iídiche, da mesma forma que Pinski. -Idish un Idishkait: A língua e a cultura iídiche, RJ, 1952 (único livro do A. , editado no Brasil).

PALATNIK, Pinie (Pol., 1903-RJ,1972). Prolífico escritor, colaborava com jornais e revistas. Seu único livro foi editado postumamente, por amigos. Era casado com a escritora Rosa Palatnik. - Oisgueklibene Shriftn: Escritos selecionados (poesias e ensaios), BA, 1975; ver também Rollansky e Unzer Baitrog.

PALATNIK, Rosa (Pol.,1904-RJ, 1975; anteriormente Rosa Shafran) - 13 Dertseilunguen: 13 Contos, RJ, 1961; - Gueklibene Dertseilunguen: Contos escolhidos, RJ,1966; -Krasnik-Rio: Krasnik (cidade natal da autora) - Rio de Janeiro, RJ, 1953; - In Guereish fun Atlantik: No rugido do Oceano Atlântico-RJ, 1957; v.Rollansky e Unzer Baitrog.

PESKIN, Abrão-In Kamf farn Idishn Kium: Na luta pela persistência da cultura iídiche, RJ,1957.

PINSKI, David (Rússia,1872- EUA,1959)-Zamlbuch,: Coletânea- RJ, 1952 (Homenagem ao Autor, editado no Brasil, organizado por Bernardo Shulman.

RAIZMAN, Isaac (Pol.,1901-Israel,1976; atuou com jornalista e editor em Porto Alegre e São Paulo) - Gueshichte fun di Idn in Brazil: História dos israelitas no Brasil (do Descobrimento à Invasão Holandesa)- SP, 1935;- Lebns in Shturm: Vidas em tormenta, TA,1965 (romance baseado na sua experiência brasileira); -A Fertl Iorhundert Fun di Idishe Presse in Brazil: Um quarto de século de imprensa em iídiche no Brasil (1915-1940)-Sfat, Israel, 1968; - Idishe Sheferishkeit in Lender fun Portugalishn Loshn: Criatividade judaica em países de língua portuguesa- Sfat, Israel,1975: ver Rollansky.

RAPOPORT, Haim (Pol., 1915-SP,1986) -In di Labirintn fun Goirl: Nos labirintos do destino - TA, 1983; ver Rollansky.

ROLLANSKY (ROJANSKY), Samuel (Pol.1902-Argentina 1994- Grande incentivador da cultura iídiche, organizador da coleção de 100 livros sobre literatura iídiche, editada em BA, de 1950 a 1984- Brazilianish: “Brasileiro”- Antologia da literatura iídiche no Brasil- BA, 1973 (um dos “100 livros”, o de nº 58). Constam da antologia, através de poesias, contos e fragmentos literários, os seguintes autores: Moishe Lokietch, Hersh Schwartz, Shabatai Karakushanski, Bernardo Shulman, Pinie Palatnik, Clara Steinberg, Isaac Raizman, Rosa Palatnik, Leib Malach, Menashe Halpern, Abrão Brener, Meier Kucinski, Marcos Jacobovitch, Isaac Guterman, Adolpho Kishinhevski e Haim Rapoport. Há ainda três ensaios importantes. 1- Elias Lipiner: Idn in Brazil zint der Andekung biz Unzere Teg: Judeus no Brasil- desde o Descobrimento até os dias atuais; 2- Leon Schmelzinguer: Biografia de Aron Bergman; 3- I. Guterman: Dos “pletzl” oif Reder, O “pletzel” sobre rodas (era a “pracinha”, confluência de três ruas do Bom Retiro, onde judeus se reuniam aos domingos pela manhã, para discutir política e os mais variados assuntos).

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SCHATZKI, Dr. Jacob ( Pol., 1893/EUA-1956- Importante pesquisador do YIVO- Institute of Jewish Research sediado em Nova Iorque) -Idishe Ishuvim in Latain Amerike: Comunidades judaicas na América Latina, BA, 1952.

SCHMELZINGUER, Leon-(Pol. ,1901-Brasil,1971; Professor, um dos fundadores da Escola A. Liessin, RJ) -Fartzeichnte Schmussn: Palestras anotadas- RJ, 1966 (uma delas, sobre Aron Bergman, consta em Rollansky; ver também Unzer Baitrog e Karakushanski, vol. I.

SCHWARTZ, Hersh-(Bessarábia, 1906- Brasil,1995)-Der Onhaib: O início, RJ, 1954; -Heim Grin-Goldene: - O lar verde-dourado, RJ, 1960 (contos); ver também Rollansky e Unzer Baitrog.

SEGALL, Lasar- (Lituânia, 1891-SP,1957)- famoso pintor; escreveu várias matérias na imprensa iídiche e ilustrou alguns livros de temática judaica no Brasil. Vide Elias Lipiner.

SHENKER, Aron (Ucrânia,1896 -RJ,1958; dirigente do IKUF) -Vort un Tat: Palavra e ação- RJ, 1959 (obra póstuma, reunindo matérias que publicou na imprensa).

SHEPSELEVITCH, Hersh (Lituânia, 1895- Brasil,1964)-Tsunoifguezamlte Líder: Coletânea de Poesias, SP, 1957.

SHOSHKES, Dr. Chaim (Pol.1891-EUA,1964. Jornalista e estudioso, escreveu dezenas de livros, sendo dois deles editados no Brasil. Reb Chaim Maissies; As histórias de Reb Haim- Viagens ao redor do mundo- RJ, 1957; capítulos sobre o Brasil; -Durch Unbakante Lender: Através de países desconhecidos- RJ, 1954; capítulos sobre o Brasil.

SHULMAN (SCHULMAN), Bernardo (Boruch) (Rússia, 1887, Brasil,1971) –Zamlbuch: Coletânea de David Pinski (Shulman atuou como organizador); ver Unzer Baitrog.

STEINBERG, Clara-(Bessarábia, 1898-RJ, 1973) - Oif Brazilianish Bodn: Em terras brasileiras- RJ, 1957 (contos); ver Rollansky.

SZTERN, Maxim (Lituânia, 1884- RJ,1955) Ativista do Bund, colaborou na imprensa judaica do Rio, onde chegou em 1940. Citado por Karakushanski, vol I.

UNZER BAITROG: Nossa contribuição, RJ, (Círculo dos Escritores em Iídiche do Rio de Janeiro), 1956 1-Contos: Rosa Palatnik, Meier Kucinski, Bernardo Shulman e Hersh Schwartz; 2- Poesias: Menashe Halpern, Moishe Lokietsh, A. Chasin, S. Karakushanski e Pinie Palatnik ; 3-Ensaios: Elias Lipiner (Der Alefbeit fun der Moderner Idisher Literatur- O abc da moderna literatura iídiche), Meier Kucinski (Sociale Dinamishkait un Literarishe Statishkait- Dinamismo social e imobilismo literário), Menashe Halpern (Meluches in Galut-Profissões na diáspora), Eliahu Gros (Ruth un Ester- Ruth e Ester), Eduardo Horovitz (Idn in Brazil- An Aingartiker Ishuv- Judeus no Brasil, uma comunidade peculiar), Nelson Vainer (Antonio José da Silva- O Judeu), L. Schmeltzinguer (Di Shtume Farshverung- A conspiração silenciosa), Betzalel Iucht (Rambam, Moré Nvuchim- Maimônides e sua obra “O Guia dos Perplexos”), S. Karakushanski (Oifn Ratn fun der Tsait- Nas ponderações do tempo).

VAINER, Nelson (Bessarábia- Brasil; jornalista e escritor em iídiche, romeno e português);-ver Fenster, Tobias e Unzer Baitrog.

ZINGUER, Leibush- (Ucrânia, 1906- SP,1939)- Poeta, seu livro foi editado por amigos, numa homenagem póstuma -Acordn in der Shtil: Acordes no silêncio- SP, 1939.

Bibliografia em português1-Literatura Iídiche no Brasil-Nachman Falbel- Editora Humanitas-SP-2009.2-O conto iídiche no Brasil- Hadasa Cytrynowicz e Genha Migdal (organizadoras), Humanitas, SP, 2007.3-Jacob Nachbin- Nachman Falbel, Editora Nobel, SP,1985. 4-Imigrantes, Mascates e Doutores-Rifka Berezin, Genha Migdal e Hadasa Cytrynowicz (organizadoras), Ateliê Editorial, SP, 2002.5-Em Nome da Fé –Estudos In Memoriam de Elias Lipiner-Nachman Falbel, Avraham Milgram, Alberto Dines (organizadores)-Editora Perspectiva, SP,1999.6- Novos Lares- Adolpho Kishinhevsky; trad. de Nachman Falbel e Sara Morelenbaum, Editora Cultura, SP, 2008.7-“As Memórias de Israel Becker”, por Regina Igel, in Boletim Informativo do AHJB, nº 24-1º trim de 2002.8- “O Conto Iídiche”, seleção e notas de J. Guinsburg-Coleção Judaica, Editora Perspectiva, SP, 1966. Introdução de

Meier Kucinski, com uma panorâmica magistral sobre a literatura iídiche (46 páginas). Y

* Abrahão Gitelman, Engenheiro e Diretor do Depto. de Cultura Iídiche do AHJB.

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Faleceu em São Paulo (28/10/2010), o industrial, líder comunitário e bibliófilo JOSÉ EPHIM MIN-DLIN, cidade onde nascera (08/09/1914), filho do dentista Ephim Henrique Mindlin (1886 - 1939) e Fanny Zlatopolsky (1886 - 1962),

oriundos de Odessa, Império russo. A família pertencia à pequena colônia dos judeus russos formada no começo do século pelos Abramovitch, os Klabin, os Novinsky, os Wainstein, dentre outros.

A sua forte identidade judaica e formação ética levou-o a par-ticipar ativamente da comuni-dade paulistana em momentos cruciais – o seu pai foi um dos fundadores do Lar dos Velhos e a mãe, da Sociedade Benefi-cente das Damas Israelitas. Nos anos difíceis da II Guerra, ele foi presidente da Congregação Israelita Paulista (1944-7), fun-dada por judeus alemães.

José Mindlin casou-se com a sua colega na faculdade de Di-reito, Guita Kaufmann (1916 - 2006), filha do comerciante, originalmente em Campinas e depois em S. Paulo, José Kauff-mann e de sua primeira esposa Betty Herzberg. O securoner José Kauffmann (1872-1953) foi um pioneiro e ativista, lem-brado como primeiro presidente da Sociedade Israelita Amigos dos Pobres (EZRA) e que consta entre os funda-dores do Templo Beth El e do Colégio Renascença. O casal José-Guita teve os filhos: Betty, Diana, Sérgio e Sônia, que lhe deram farta descendência.

Formado em Direito na faculdade do Largo de S. Fran-cisco (1936), inicialmente trabalhou como repórter e tra-dutor no jornal O Estado de S. Paulo. Depois, incorpo-rou-se à Metal Leve S.A., fundada em 1949, fabricante de pistões e bronzinas para a indústria automobilística e aeronáutica, que foi considerada uma ilha de excelên-cia na tecnologia de ponta. A empresa pertenceu a José Mindlin, ao ex-banqueiro vienense Adolfo Buck, Ludwig Gleich, Abraão Jacob Lafer (pai do ministro Celso Lafer),

JOSÉ E. MINDLIN(1914 – 2010)

Aldo Baptista Franco da Silva e Santos, alto funcionário do Banco do Brasil e dois membros da família Klabin. Ela foi vendida para a concorrente alemã Mahle em 1996.

Foi também membro dos conselhos da FIAT, do UNI-BANCO e da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), por muitos anos, vice-presidente da Federação das Indústrias do Estado de S. Paulo (FIESP) e, por um curto período, Secretário de Cultura, Ciência

e Tecnologia do Estado de S. Paulo, renunciando ao cargo em protesto ao assassinato pela repressão política do jornalista Vladimir Herzog (1937-1975).

Amante dos livros desde a ju-ventude, ele criou uma biblio-teca pessoal, mas aberta a pes-quisadores, sempre citada como uma referência intelectual, que doou para a Universidade de S. Paulo. O historiador inglês Pe-ter Burke só encontrou similares com duas outras bibliotecas par-ticulares, a de John Carter Brown (1797-1874) e a de Manoel de Oliveira Lima (1867-1928), que também foram incorporadas a universidades. Quando pronto, o empreendimento receberá o nome de “Biblioteca Brasiliana Guita e José Mindlin” e ocupará um prédio de 20 mil m2 no cam-

pus do Butantã, onde serão abrigados os 40 mil livros e documentos reunidos por ele (v. www.brasiliana.usp.br). O coordenador-geral deste projeto foi o historiador István Jancsó (1938 – 2010).

O Sr. Mindlin articulou as bolsas da Fundação Vitae para projetos culturais. Editou também edições de obras de Carlos Drummond de Andrade e Renina Katz.

Foi eleito em 1999 para ocupar a cadeira nº 30, cujo patrono é o Padre Feijó, da Academia Paulista de Letras; e em 2006, para a cadeira nº 29, cujo patrono é Martins Pena da Academia Brasileira de Letras.

Recebeu o prêmio Juca Pato, como “Intelectual do Ano” em 1998. Escreveu três livros, com destaque para Uma vida entre livros. Reencontros com o tempo (1997). Y

José Mindlin quando secretário de Cultura do Estado de São Paulo (anos 70)

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Vários são os caminhos passíveis de serem percorridos para estudar a história da imigração dos judeus em suas diferentes diásporas. Paulo Valadares, Guilherme Fai-guenboim e Niels Andreas escolheram contar a história dos judeus da cidade de São Paulo através do Cemitério Israelita de Vila Mariana. Com essa escolha, eles tangen-ciam uma questão fundamental, ancorada nas formas de comportamento do homem frente à morte.

Phillipe Ariès, em seu livro História da Morte no Oci-dente1, estuda desde a Idade Média até os nossos dias as mudanças da atitude do homem frente à morte. Primei-ramente, ele aponta um sentimento muito antigo, dura-douro e intenso de familiaridade com a morte, que não é medo, nem desespero, mas um meio-termo entre a resignação passiva e a confiança mística. Essa atitude exprimia o abandono ao destino e a indiferença às formas muito particulares e diversas de individualidade. O homem foi, durante milênios, o senhor soberano de sua morte e das circunstâncias da mesma. Ele sabia que ia morrer, seja devido a sua própria percepção, seja por ter sido advertido. Hoje, o homem perdeu essa soberania. O que antes devia ser conhecido, hoje é dissimu-lado. O que era solene, hoje é escamoteado: tanto a família como o médico sentem como um dever dissimular a um doentre condenado a gravidade de seu estado. A ignorância da própria morte não é apenas um hábito introduzido nos costumes, tornou-se uma regra moral. Ter-se-ia faltado com essa regra até o século XX, quando a obrigação era a de informar o doente? Com essa oposição, temos a medida da extraordinária inversão dos sentimentos e, em seguida, das idéias, durante os séculos. Como se produziu essa inversão? Em que medida essas transformações se aplicam aos judeus que têm outro ritual religioso nos serviços relacionados à morte? Ainda que o entendimento dos conceitos relacionados a corpo, alma, espírito no judaísmo varie conforme as épocas e os gru-pos judaicos, ainda que parte das correntes do judaísmo acredite na ressurreição no mundo vindouro (Olam Habá),

Os primeiros judeus de São Paulo:um relato sobre vida e morteBERTA WALDMAN *

enquanto outra parte acredite na reencarnação, sendo o sentido de ambos variável, o modo de agir diante da morte atinge o Ocidente como um todo, variando os rituais, as posições filosóficas e as crenças.

Enveredando pelo livro dos autores acima menciona-dos2, observa-se que, embora se refiram à morte, eles ele-gem questões mais concretas para estudo. Quais são os objetivos propostos pelos pesquisadores e quais os pas-sos para alcançá-los?

O principal objetivo do livro é levantar, através dos tú-mulos do Cemitério de Vila Mariana, dados sobre a imi-gração dos judeus a São Paulo. Para chegar a esse resul-tado, os autores pesquisaram:

1. como surgiram os cemitérios, que ine-xistiam na Antiguidade. As pessoas eram sepultadas em túmulos ou mausoléus iso-lados ou da família. Os túmulos já são re-feridos na Bíblia. Até a época de Herodes, usavam-se cavernas, grutas ou escavava-se um jazigo-poço, em cujas paredes abriam-se nichos nos quais os mortos eram deposita-dos. Como os hebreus não embalsamavam os mortos, o enterro era em geral realizado no dia seguinte à morte. As disposições fúnebres constam dos textos de Maimônides (1138-1204), como no Talmude.

2. Chevra Kadisha: É a sociedade funerária que cuida dos mortos. As primeiras surgiram no século XIV, na Espanha e na Alemanha, com o propósito de cuidar de seus próprios membros. Só no século XI, as CKs passaram a ter o caráter comunitário, mantido até hoje. Outra fun-ção importante dessa sociedade é o preparo do corpo do morto, de acordo com as tradições e leis judaicas. Como a lei judaica proíbe gerar lucro material com os mortos, o que se ganha deve ser usado para o enterro de pobres.

O ato de rasgar a roupa da família do morto vem da manifestação de desespero de Jacó, que rasgou suas ves-tes ao ver a túnica ensanguentada de seu filho José. Os enlutados devem recitar o kadish e lavar as mãos sem secá-las à saída do cemitério.

3. Muitas são as normas que regem os cerimoniais fúne-

1. Philippe Ariès, História da Morte no Ocidente. (trad. Priscila Vianna de Siqueira). Rio de Janeiro: Francisco Alves, 1977.

2. Uma breve história contada através do Cemitério Israelita de Vila Mariana Rio de Janeiro: Fraiha, 2009.

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bres: por exemplo, os Cohanim estão proibidos de tocar nos cadáveres; em muitos cemitérios homens e mulheres são enterrados em setores separados; também apósta-tas, judeus batizados, criminosos e suicidas são sepulta-dos em setor separado, entre outros. O luto é de sete dias (shivá) , conforme prática de José, por ocasião da morte de seu pai Jacó (Gênesis, 50:10). O ciclo termina com a colocação de uma lápide (matzeivá). As inscrições na lá-pide servem para identificar o sepultado: nome, local e data de nascimento, local e data de morte.

Na segunda metade do século XIX, estrangeiros come-çam a imigrar para o Brasil, para substituir a mão de obra escrava na lavoura do café; entre eles, vieram os judeus. Vieram da Bessarábia, da Rússia, da Alsácia, e a preocupa-ção que surgiu foi: “com nossa morte, onde seremos sepul-tados?”. Cada um que morria era sepultado no cemitério municipal. Havia uma antiga proibição de inspiração positi-vista contra cemitérios confessionais, mas descoberta uma brecha jurídica que permitiu a construção de um cemitério dos protestantes, pensou-se em construir o cemitério israe-lita junto a um cemitério municipal, como anexo. Devia-se, para isso, comprar um terreno e doá-lo à prefeitura com essa finalidade. Havia algumas opções, mas o local escolhi-do foi a Vila Mariana, porque o industrial Maurício Klabin tinha o terrreno e estava disposto a doá-lo para esse fim. Muita burocracia teve que ser vencida, e passaram-se anos até que o Cemitério foi finalmente fundado. Uma vez fun-dado, alguns problemas que surgiram eram do tipo, “se o cemitério é judaico, apenas judeus podem ser nele sepulta-dos?” “Quem é judeu?” “Como proceder com os “impuros” e “indesejáveis”?” “Como lidar com as diferenças entre os judeus de procedências e hábitos diversos?” Cabia à direto-ria e aos rabinos debater e resolver esse tipo de problema.

Grande parte do livro é dedicada ao levantamento e à reprodução da relação de todas as sepulturas, em forma de verbetes, por ordem alfabética.

O cemitério da Vila Mariana continua ativo, embora seu espaço esteja já bem reduzido. Por isso, o Cemitério Israelita do Butantã foi inaugurado em 22 de fevereiro de 1952, para dar conta de novas sepulturas.

A morte mudou de lugar: deixou a casa pelo hospital; está cada vez mais ausente do mundo familiar do dia a dia. Como não se vê a morte de perto e, com frequên-cia, nós a esquecemos, podemos ter a impressão de que somos imortais. Foi uma boa idéia estudar a imigração a partir do levantamento de mortos, do cemitério, do en-terro, pois, quem sabe, isso ajude a nos aproximarmos da morte, sem pânico, nem preconceito. Y

LIVROS INDICADOS

Or Gadol – Comentá-rios sobre a Torá e as Festas Judaicas, de Isaac Dahan* Editora e Livra-ria Sêfer, 266 páginas.“Coletânea de comentários sobre as porções sema-nais da Torá”, “cerca de 1.000 famílias emigraram do Marrocos para nossa região até aproximadamente metade do século XX”, “a cada sábado ou data litúrgica espe-cial, em todos os lugares onde haja uma comunidade judaica, é lida exatamente a mesma parashá – porção semanal da Torá – numa fantástica cadeia ininterrupta de mais de 600 gerações. Em Manaus, nossa rotina é exatamente a mesma. Os componentes do ishuv são estimulados a ler a porção integral de cada semana, pois só assim é psossível familiarizar-se com a Torá”.Autor: Isaac Dahan (Alenquer, 1948), Médico e major. Hazan e Shaliach Tsibur da Comunidade de Manaus, descendente das famílias Dahan, Fima e Toledano. Y

RESENHA

* Professora Titular de Literatura na USP e professora colaboradora na UNICAMP. Pesquisadora do CNPq e autora de, entre outros títulos, O Teatro Iídiche em São Paulo (2010).

Ismael Viñas: ideografia de un mestizo, de Pilar Roca* Editorial Dunken, 136 páginas. Biografia do jornalista argentino Ismael Viñas Porter, expatriado em Israel. “Un nuevo estilo social que continúa una corriente cultural nacida em la península ibérica y que recorre América Latina envuelta en un discurso que o bien se asimila o se hace crítico a través de los meandros de una historia donde los discursos totalitarios se esparcen y se hacen fuertes cultivando la cultura Del miedo. Obligado a abandonar Argentina en 1976, Ismael Viñas continúa su exilio como ejercicio de la única postura ética posible y como punto final de un ela-borado y honesto discurso crítico”. Autora: Pilar Roca (Cádiz, 1964), professora de Língua e Literatura Espa-nhola na UFPB, Doutora pela Universidade Autônoma de Madrid, foi estudante na Universidade Hebraica de Jerusalém e professora na Universidade do Cairo. Y

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DOAÇÕES RECEBIDAS DE NOVEMBRO 2009 A MARÇO 2010Clara Levin AntPasta com letras de canções manuscritas, transcritas por Si-mão Ant. Pasta com cartas em iídiche de parentes e do casal Ant, anos 40 e 50. Ceclia SztutmanCD – 4 imagens do Dror de 1947/48 e 1 imagem dos funda-dores da Comunidade Judaica de Passo Fundo.Clara BlackRevistas Nascente, Caderno Cultural da Na´amat, Kol News, Wizo Flash e 1 DVD Projeto Maaman EstherCléa Bergmann DickerDiploma do sócio benemérito do Centro Cultural Religioso do Sr. Salomão Gaz de 25 de setembro 1942. Campinas. Carta de agradecimento do Centro Israelita “Beth Jacob” de Campinas de 1942.Foto de Eliza Gaz, esposa de Salomão Gaz. Foto de um pi-quenique do Cadima de 1930 com Clara Gaz. Foto com Elisa Gaz. Foto de um piquenique da Escola Beth Jacob, com Eliza Gaz, de 1936. Consulado de IsraelCD da visita do Presidente de Israel Shimon Peres no Brasil em Novembro de 2009. Estella SahmBoletim 40 anos da Construtora Arão Sahm, história e rea-lizações.Esther Wajskop TerdimanLivros: “Assim nasceu Israel” e “To Jerusalém and back”, Oc-tober Earthquake, Hollow Glory”.Ester SteingiesserLivro Fotográfico sobre a comunidade judaica na Jamaica e fotocópia de um artigo: “The Jews in Old Jamaica”, de 1955.Imprensa OficialLivro: “Roupa de Artista- O Vestuário na obra de Arte”. Instituto Histórico Israelita MineiroRevista de Estudos Judaicos n. 4,5,e 7.Instituto MorashaLivro: “Raízes de uma Jornada”. Rabino Jacob GarzonLivros: “Fale me de Deus”, “Lendas da Bíblia” e Hagadah de PessachJayme KupermanLivro: “O sabor da Goiabada”Izio e Fany WeisbergLivro Izkor “In Memoriam dos Chalutzim que morreram em ataques árabes na Palestina”, editado por Poalei Tzion, em Nova Iorque de 1934.Kathe WindmüllerAlguns exemplares da Revista Herança JudaicaLea Vinocur FreitagFotocópia do simpósio “A trajetória de Lea Vinocur Freitag”, promoção da Escola de Comunicação e Artes da USP.

Aaron e Adélia GlikasLivro com registro familiar da cidade de Hebloch de 1816Alain BigioFac-simile do documento assinado pelos sócios na ocasião do lançamento da Pedra Fundamental da Sinagoga Beit Yaacov.Recortes de jornais encadernados sobre a Guerra dos 6 dias. Vários livros. Livreto: “Tesouros da Comunidade de Alepo”, “Jews of Syria” uma publicação da B´nai B´rith. Genealogia da Família Picciotto, final do século 17, encadernado.Correspondência em francês de Emilio Picciotto para Alain Bigio de 1996 e 1997. Enciclopédia Britânica e outros livros. Alberto MilkewitzVários livros, várias revistas, Boletins dos Ciclo Trienal de lei-tura da Parashat de 1985 a 1986, fitas cassete em hebraico.Boletins da FISESP, comunicações, encadernados do n. 1 até 129, de 1992 até 2005.Anna Rosa Campagnano35 listas fotocopiadas de nomes de pessoas que emigraram da Itália entre 1939 e 1940. Fotocópia sobre a família Franco de Livorno até Londres séculos XVII, XVIII e XIX. Fotocópia da revista Cronache D´Altri Tempi de 1976. Bella HersonLivros: “Das trevas à Alvorada” e “Belzec”, livros traduzidos por ela do Polonês.Carla BrenderLivro: “Nosso Legado”Carlos Eduardo BartelDissertação “Os Emissários Sionistas e o nacionalismo judai-co no Rio Grande do Sul (1945-1952)” Carlos KerteszAtas manuscritas da Primeira Assembléia Geral da Soc. Israelita da Bahia de 1947 até 1950, restaurado em Outubro de 1994.Atas manuscritas da 1ª. Reunião do “Grêmio Israelita de Ser-gipe” até 6/10/1945, restaurada em maio 1995.Livro de Despesas, de 1934 até 1939.Livro de Atas da Diretoria da S.I.B, de 1960 até 1964, restau-rada em julho de 1996.Livro de Atas da S.I.B, de 1969 até 1975, restaurada em fe-vereiro de 1997.Livro de Atas da S.I.B, de 1959 até 1960, últimas páginas em iídiche, restaurada em julho 1996.Livros de Atas da S.I.B, de 1958 até 1959, primeiras páginas com nomes e endereços dos sócios, últimas páginas em iídi-che, restaurada em julho 1996.Livros de Atas da S.I.B, de 1964 até 1966, restaurado em julho 1996.Livro de Atas da Escola Israelita Brasileira, de 1962 até 1965, restaurada em fevereiro 1997.Livro de Atas da Escola Israelita Brasileira, de 1952 até 1972 com nomes de alunos.

DOAÇÕES

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Lucia ChermontLivro: “a memória coletiva”, fotcópia de um álbum de símbolos judaicos, convite da Comunidade Shalom para colocação da pedra fundamental da nova sede.Luis S. Krauszdocumentos oficiais da família Sternberg, correspondências em alemão, francês e português de 1935 a 1939. Boletim escolar em alemão. Corres-pondências de albert graupe e Werner em alemão, de 1937 a 1941, do Uruguai, alemanha e Brasil. 2 cartões postais e 1 foto. Profa.Luiza Tucci CarneiroLivros: “de cara al futuro” e “el legado de los Salvadores”Mauro KauffmanCarta de cocheiro da Prefeitura de São Paulo, matrícula de conductor em nome de isaac Kauffman de 1937, passaporte russo de 1922, passagem de navio de 1922, atestado de vacinação de 1922, titulo de eleitor, carta endereçada ao Sr. Nathan Kauffman de 1946, Certificado autenticado de extinção de obrigações de 1946. Naturalização de isaac Kauffman de 1951 assinado pelo Presidente getulio Vargas de 1951. Foto de Jacob Kauffman, filho de isaac.Miriam Sapir Landaalbum de foto das famílias Burlman e Sapir (Colcha de retalhos)Nelson TkaczCarteira de identidade, passaporte, carteira da Soc. amigos de Ponte Pe-quena e Ponte grande, CiC, Carteira entidade Cultural livre recreativa e esportiva, todos pertencentes a Chaim Wajnsztejn, e Carteira das Classes Laboriosas e do Círculo israelita de São Paulo, pertencendo a Sara Wajns-tejn. Foto emoldurada de um rabino, foto emoldurada da família de Chaim Wajnsztejn e 43 fotos da família Chaim Wajnstein. 1 Bíblia em hebraico. Paulo ValadaresLivro: “os Primeiros Judeus de São Paulo- Uma breve história contada através do Cemitério israelita de Vila mariana”. Salomão Borenstein2 livros de rezas, Sidur e machzorSamuel BelkLivro: “o conto iídiche no Brasil”, 3 exemplares. Sarina Roemerrevistas “Nahair misraim”, revista de História com artigo sobre os judeus de Paraná. artigo “remembering their flight from egypt, de dezembro 2009. Saul KirschbaumPeriódicos: Cadernos de língua e literatura hebraica N.3,4,5,6,7 e translitera-ção do hebraico para leitores brasileirosTV Shalom BrasildVd: reportagem sobre o aHJB na tV Shalom BrasilVerena KaelLivro: “o Lupanar de Ferreira da rocha” Videcom-Video Comunicações do Brasil353 dVd referentes a material dos programas mosaico e cerca de 300 rolos de filmes de 16 mm. do acervo do Programa mosaico, 4 cópias dVd do documentário “Senhor mosaico”. Yara Pereira dos Santostrabalho de conclusão de curso e 1 Cd “São Paulo que veio de longe, documentos da imigração Judaica”.

TEmAS PESQuISADOS Imprensa judaicaBom RetiroGenealogia familiarSionismoTeatro iídicheImigração judaica para o Brasil/ Rio Grande do SulImigração russo-judaicaLar dos VelhosKashrutMulher no judaísmoConflito no Oriente MédioIdentidade judaicaEra Vargas

FOTOS VENDIDASOu CEDIDASMuseu Virtual Aristides de Souza Dantas

Imagens da revista Crônica Israelita e docu-mentos FI 0014 CIP Congregação Israelita PaulistaGilka CarraroImagens da Colônia da Quatro Irmãos para revista do Instituto Estevam CarraroPrograma da TV Le HaimImagens para matéria dos 50 anos da Câ-mara Brasil-Israel de Indústria e ComércioEduardo BergerImagens do 1º Livro de Atas da EZRA para a homenagem do centenário da imigração de Salomão LernerBerta WaldmanImagens para publicação de livroTV CâmaraImagens para reportagem sobre o bairro do Bom RetiroEdições SM LtdaImagem para livro didáticoNachman FalbelImagens para publicação de livroHenrique RoysenParticular

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Aline Moreira DuarteGraduanda Relações Internacionais / PUC-SPAna Mara AbreuPesquisa cenográficaAndréa Soares T. CruzGraduanda História / Universidade Nove de JulhoAnia CavalcanteProfessora / FFLCH-USPAnita PinkussExposição “Shoá”Aurélie LeLievreDoutoranda / Paris III – Sorbone NouvelleBerta WaldmanProfessora / FFLCH-USPCarlos Eduardo BartelDoutorando / Universidade Federal do Rio Grande do SulDaniel DuekMestrando Centro de Estudos Judaicos / FFLCH-USP Edith Gross HojdaDoutora FFLCH-USPEdson Luiz P. CalciolariGraduando Gastronomia / HOTECEduardo BergerPesquisa particularElaine P. RabinovichPós Doutoranda / Universidade Católica da BahiaEstela Zajac ZiskindGraduanda Jornalismo / Universidade Anhembi MorumbiFabio Pereira AmorimGraduando Ciências Sociais / Universidade Cruzeiro do SulFariz WenteinPesquisa particularGilka CarraroJornal Voz RegionalHertz UdermanPesquisa particularIlda KlajmanPesquisa particularJacob MurakovsckiPesquisa particularKarina C. de Matos MarquesParis 3 SorbonneLívia Gotis KuboGraduanda ECA/USPLucia SandlerPesquisa Pessoal

PESQuISADORES DE AGOSTO 2009 A mARçO 2010Lucimara B. de LimaGraduanda História / Universidade Nove de JulhoLucy Gabrielli Bonifácio da SilvaMestranda História / PUC-SPLuiz Henrique SoaresEditora PerspectivaMarcio Mendes LuzMestrando Historia / UNICAMPMarcio PitliutPublicitárioMarcus Vinicius da Silva SoaresRede RecordMaria Inês Rivaben RicciInstituto Moreira SallesMariana ZanatoEdições SM LtdaMathilde TaggerPesquisa particularMônica CohenParnassá Recursos HumanosMônica FernandezEstilista / Reinaldo LourençoNewton de C. DodePesquisa particularNoemi CastellazzoGraduanda / Universidade Metodista de PiracicabaPedro BretasGraduando História / Universidade Nove de JulhoRenan Fernandes MacedoGraduando História / Universidade Cruzeiro do SulRita de Cássia A. PereiraPesquisa particularRob VergerProfessor Letras / Universidade Columbia NYSara SchulmanInstituto Cultural Judaico-Brasileiro Bernardo SchulmanStamatia KoulioumbaPós-doutoranda FAU-USPTomoko OuraRevista PindoramaValmir Lourenço da SilvaGraduando de História / Universidade de GuarulhosVera FrankTen YadViviane CarvalhoPrograma Le HaimWilson JecovProfessor de História

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BRASILEIROS EM ISRAELMostramos em número anterior (Revista do AHJB nº 41, novembro de 2009) fotografias de dirigentes israelenses em visita ao Brasil. Agora, trazemos, brasileiros em Israel. Uma relação bem antiga, basta ler o que escreveu o padre pernam-bucano Joaquim Pinto de Campos (1819-1887), que visitou Eretz Israel em 1869: “Cada christão tem na terra duas patrias: aquella onde viu a luz, e a patria commum, Jerusalem. Se a peregrinação até essas paragens era outr´ora árduo commetti-mento, hoje tornou-se uma digressão de recreio, fácil, rápida e cheia de encanto (...)”. Logo ele seria seguido pelo próprio monarca brasileiro, D. Pedro II (1826-1891), que visitou a terra de Israel em 1876. Escolhemos, da farta documentação iconográfica que a Fototeca do AHJB possui, algumas imagens bem representativas. • A primeira registra (da esq. para a dir.) o encontro entre João Fernandes Café Filho (1899-1970), líder sindical, que as-sumiu a Presidência da República com o suicídio de Getulio Vargas e ficou no cargo entre 1954 a 1955; Chagas Freitas (1914-1991), jornalista e depois governador do RS; Samuel Malamud (1908-2000), cônsul de Israel no RJ; Abraham Danom (Drapkin), diretor do Departamento Latino-Americano do MRE Israel e o Ministro David Ben-Gurion (1886-1973), um dos pais da pátria.• No alto da contra-capa, foto da inauguração da representação diplomática em Israel em 29 de março de 1952. Estão na foto, a funcionária Sonia Wainer, o ministro José Fabrino de Oliveira Baião (1892-1971), primeiro representante brasileiro e Joseph Sprinzak (1885-1959), o primeiro presidente da Knesset (parlamento israelense).• Ainda na contra-capa, à esquerda, foto do encontro entre o comandante Francisco Vicente Bulcão Viana e o presidente Yitzhak Ben-Zvi (1884-1963), segundo presidente de Israel.• Finaliza esta seleção, a foto à direita do Cardeal Agnelo Rossi (1913-1995), prefeito (uma espécie de ministro da Curia Roma-na) da Congregação para a Evangelização dos Povos (Congregatio pro Gentium Evangelizatione, 1970-1984), em Jerusalém.

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