Acesso à água gera mudanças positivas na vida das agricultoras

2
Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 7 • nº1385 Julho/2013 Acesso à água gera mudanças positivas na vida das agricultoras A vida de Antonia Nonato Pereira, 46, a exemplo de muitas outras mulheres rurais é marcada pelo trabalho agrícola desde a infância, pelo casamento no início da juventude, dedicação aos afazeres domésticos e cuidado com os/as filhos/as e o marido, de quem atualmente é separada. Na comunidade de Santa Tereza, município de Ibiapina-Ceará onde reside, testemunhou desde cedo a luta de sua mãe Francisca Cândida para criar sozinha oito filhos/as e com ela aprendeu a cultivar o roçado, capinar, fazer farinha, tirar leite de vaca, cortar lenha, entre outras atividades, habituando-se a uma rotina de muito trabalho. Ultimamente, exerce a função de zeladora na escola da comunidade de modo que seu dia começa às cinco da manhã quando acorda, prepara o café, e às seis já está no colégio cuidando da limpeza. Entretanto, não se desvinculou do trabalho agrícola e todo ano produz no roçado junto à família, “[...] faz parte do costume, eu gosto [...]”, afirma. Acesso à água Há três anos tornou-se beneficiária da cisterna de placas que armazena água da chuva para consumo humano. Um ano depois soube de um programa que construía outra cisterna com a finalidade de acumular água para produzir, o P1+2 (Programa Uma Terra e Duas Águas). Daí então procurou meios de adquiri-la e disseram a ela que não se adequava aos critérios por não ser agricultora. Insistentemente, buscou provar que merecia e que realmente tinha necessidade e interesse de produzir, de modo que veio a ser incluída quando um dos cadastrados desistiu. Após o recebimento, cercou a área ao redor da cisterna e mantém sua unidade produtiva cultivando uma variedade de culturas: “eu tenho a laranja, o limão, tangerina, acerola, graviola, a manga, o caju, a ata, a carambola, a pitanga, a goiaba, o milho, o feijão, a melancia, a mandioca, e abóbora, e mamão, tudo já tem lá dentro [...]”, declara entusiasmada. Antes as únicas fruteiras eram um pé de acerola e um de carambola. Produzia cheiro Ibiapina

description

 

Transcript of Acesso à água gera mudanças positivas na vida das agricultoras

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 7 • nº1385

Julho/2013

Acesso à água gera mudanças positivas na vida das agricultoras

A vida de Antonia Nonato Pereira, 46, a exemplo de muitas outras mulheres rurais é marcada pelo trabalho agrícola desde a infância, pelo casamento no início da juventude, dedicação aos afazeres domésticos e cuidado com os/as filhos/as e o marido, de quem atualmente é separada.

Na comunidade de Santa Tereza, município de Ibiapina-Ceará onde reside, testemunhou desde cedo a luta de sua mãe Francisca Cândida para criar sozinha oito filhos/as e com ela aprendeu a cultivar o roçado, capinar, fazer farinha, tirar leite de vaca, cortar lenha, entre outras atividades, habituando-se a uma

rotina de muito trabalho.Ultimamente, exerce a função de zeladora na escola da comunidade de modo que seu

dia começa às cinco da manhã quando acorda, prepara o café, e às seis já está no colégio cuidando da limpeza. Entretanto, não se desvinculou do trabalho agrícola e todo ano produz no roçado junto à família, “[...] faz parte do costume, eu gosto [...]”, afirma.

Acesso à água

Há três anos tornou-se beneficiária da cisterna de placas que armazena água da chuva para consumo humano. Um ano depois soube de um programa que construía outra cisterna com a finalidade de acumular água para produzir, o P1+2 (Programa Uma Terra e Duas Águas). Daí então procurou meios de adquiri-la e disseram a ela que não se adequava aos critérios por não ser agricultora.

Insistentemente, buscou provar que merecia e que realmente tinha necessidade e interesse de produzir, de modo que veio a ser incluída quando um dos cadastrados desistiu. Após o recebimento, cercou a área ao redor da cisterna e mantém sua unidade produtiva cultivando uma variedade de culturas: “eu tenho a laranja, o limão, tangerina, acerola, graviola, a manga, o caju, a ata, a carambola, a pitanga, a goiaba, o milho, o feijão, a melancia, a mandioca, e abóbora, e mamão, tudo já tem lá dentro [...]”, declara entusiasmada.

Antes as únicas fruteiras eram um pé de acerola e um de carambola. Produzia cheiro

Ibiapina

Articulação Semiárido Brasileiro – Ceará

verde e cebolinha em canteiros na margem de um rio próximo, mas, seus produtos eram constantemente roubados. Agora, com água próxima à casa, os canteiros são repletos de hortaliças em locais cercados e fortalecem a alimentação da família, “não falta mais verdura, quando num tem na casa dela ela vem buscar na minha, e quando falta aqui, vou buscar na casa dela” declara sua mãe, Francisca, que mora na casa vizinha.

Antonia fala com orgulho das plantas que cultiva e dos resultados que já tem obtido apesar das sucessivas secas dos últimos anos. Conforme relata, “O verão foi muito puxado para aguar as coisas e a água tem pouca, talvez tenha um metro d’água, se tiver mais é pouca coisa” mesmo assim, suas laranjeiras, pitangueiras e aceroleiras ainda pequenas, já dão frutos com os quais prepara sucos para a família.

Cuidados com a unidade produtiva

No processo de aquisição das cisternas, Antonia participou de cursos e intercâmbios que a fizeram mudar de atitude quanto ao trabalho agrícola. Antes queimava a vegetação hoje, não as queima e ainda utiliza como cobertura morta para adubar e fortalecer as outras. Também não usa agrotóxicos no combate a pragas, para esse fim, costuma usar sabão caseiro na forma líquida.

Nessa perspectiva de cuidado com o meio ambiente, recicla garrafas pet para dar forma aos canteiros.

Desde que plantou as mudas cedidas pelo programa, toda manhã antes de sair para o colégio e à tarde quando chega vai para o cercado e se volta para a capina, a adubação e a poda. Essa última prefere fazer durante a lua nova, pois acredita que favorece o desenvolvimento da planta.

Cuida de todas as etapas de sua produção, “ali eu mantenho sozinha, trabalhando ali sozinha dentro porque o menino já trabalha lá com o pai dele”, diz citando o filho que mora

em sua casa com a esposa e o neto. Contente afirma: “enquanto eu for viva, quero zelar, quero cuidar, quero ver as plantas crescer e ficar debaixo chupando tangerina [...]”.

E assim, o estereótipo da mulher incapaz de dar conta da produção, não se adequa a Antonia que, vencendo as adversidades, consegue colher os frutos do seu esforço.

Realização Patrocínio

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas